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sábado, 21 de março de 2015

Via Sacra: as meditações de Francisco

Algumas meditações sobre a Via Sacra, compostas por Jorge Mario Bergoglio antes e depois da sua eleição a bispo de Roma foram publicadas agora em um livro em italiano, intitulado La logica dell'amore (Ed. Rizzoli). Um trecho da obra foi publicada no jornal Corriere della Sera, 19-03-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Primeira Estação
Jesus é condenado à morte

A cruz de Jesus é a palavra com que Deus respondeu ao mal do mundo. Às vezes, parece-nos que Deus não responde ao mal, que permanece em silêncio.
Na realidade, Deus falou, respondeu, e a sua resposta é a cruz de Cristo: uma palavra que é amor, misericórdia, perdão. Também é juízo: Deus nos julga amando-nos. Lembremo-nos disto: Deus nos julga amando-nos. Se eu acolho o Seu amor, sou salvo; se o rejeito, sou condenado, não por Ele, mas por mim mesmo, porque Deus não condena, Ele só ama e salva.
Queridos irmãos, a palavra da cruz também é a resposta dos cristãos ao mal que continua agindo em nós e ao nosso redor. Os cristãos devem responder ao mal com o bem, tomando sobre si a cruz, como Jesus.

Quarta Estação
Jesus encontra a sua mãe

Não estamos sozinhos, somos muitos, somos um povo, e o olhar de Nossa Senhora nos ajuda a olharmos para nós de modo fraterno. Olhemo-nos de modo mais fraterno! Maria nos ensina a ter aquele olhar que busca acolher, acompanhar, proteger. Aprendamos a nos olhar uns aos outros sob o olhar materno de Maria!
Há pessoas que, instintivamente, consideramos menos e que, ao contrário, mais precisam: os mais abandonados, os doentes, aqueles que não têm do quê viver, as crianças de rua, aqueles que não conhecem Jesus, que não conhecem a ternura da Virgem.
Em Maria, "muitos encontram a força de Deus para suportar os sofrimentos e os cansaços da vida" (Evangelii gaudium, n. 286). Frase textual: "Lá encontram a força de Deus para suportar os sofrimentos e os cansaços da vida".

Quinta Estação
Jesus é ajudado por Simão de Cirene a carregar a cruz

Somente quem se reconhece vulnerável é capaz de uma ação solidária. De fato, comover-se ("mover-se-com") e compadecer-se ("padecer-com") com quem jaz à beira da estrada são atitudes de quem sabe reconhecer no outro a própria imagem, mistura de terra e tesouro, e, por isso, não a rejeita.
Ao contrário: ama-a, aproxima-se dela e, sem querer, descobre que as feridas que cuida no irmão são bálsamo para as suas próprias. […]

Por isso, falamos da dignidade da pessoa, de cada pessoa, para além do fato de que a sua vida física seja apenas um frágil início ou esteja prestes a se apagar como uma vela. Quanto mais as suas condições de vida são frágeis e vulneráveis, mais a pessoa merece ser reconhecida como preciosa.
E deve ser ajudada, amada, defendida e promovida na sua dignidade. Sobre isso, não se pode negociar.

Oitava Estação
Jesus encontra as mulheres de Jerusalém

Nas lágrimas de uma mãe ou de um pai que chora pelos seus filhos, esconde-se a melhor oração que se possa fazer sobre esta terra: a oração de lágrimas silenciosas e mansas, que é como a de Nossa Senhora aos pés da cruz, que sabe ficar ao lado do seu Filho sem estrépitos e escândalos, acompanhando, intercedendo.
"Interceder não nos afasta da verdadeira contemplação, porque a contemplação que deixa de fora os outros é uma farsa. […] Poderíamos dizer que o coração de Deus se deixa comover pela intercessão, mas, na realidade, Ele sempre nos antecipa, pelo que, com a nossa intercessão, apenas possibilitamos que o seu poder, o seu amor e a sua lealdade se manifestem mais claramente no povo" (Evangelii gaudium, nn. 281, 283).

Décima-segunda Estação
Jesus morre na cruz

Esta é a atitude do coração de Cristo. O abandono nas mãos de Deus, sem pretender controlar os resultados da crise e da tempestade. Abandono forte, mas não ingênuo... Abandono que implica confiança na paternidade de Deus, mas não se exime do sofrimento da agonia: de fato, esse abandono não tem resposta imediata, e até Ele próprio é posto à prova pelo silêncio de Deus, que pode levar à tentação da desconfiança... é grito dilacerado no ápice da prova: "Pai, por que me abandonaste?".
Na cruz, é preciso perder tudo para ganhar tudo. Esse é o lugar onde se vende tudo para comprar a pedra preciosa ou o campo com o tesouro escondido.

Perder tudo: quem perder a sua vida por mim, encontra-la-á... Ninguém nos obriga, é um convite. Um convite ao "tudo ou nada". Fonte: www.ihu.unisinos.br

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