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quarta-feira, 13 de maio de 2015

O Deus da esperança e o nosso futuro

Jürgen Moltmann, teólogo protestante alemão.

Nesta noite, às 20h45, junto ao Centro de Congressos João XXIII de Bergamo, o teólogo protestante alemão dará uma palestra sobre o tema.
“Pensar a esperança. Crer no futuro para viver no presente” foi o tema de uma conferência proferida por Jürgen Moltmann em Bergamo, na Itália, no dia 9 de maio.
Moltmann é um dos mais conhecidos teólogos da segunda metade do século vinte, discípulo de Ernst Bloch e famoso por sua obra “Teologia da esperança” (Queriniana, 1970). Aqui publicamos um extrato de sua lectio, publicado pelo jornal Avvenire, 09-05-2015. A tradução é de Benno Dischinger.

Eis o artigo.
Os cristãos são capazes de futuro. Mas, de qual futuro? Como se pode, afinal, falar de futuro, se nem sequer teve início? Como se podem narrar os acontecimentos que se aproximam, mas que de fato ainda não aconteceram? Não se trata de infundados desejos ou de visões angustiadas e igualmente infundadas? Não é melhor dizer, com Albert Camus: “Pensar lucidamente e não esperar em nada?”
Não, na esperança cristã não falamos dos nossos desejos e das nossas angústias, e nem mesmo do futuro em si. Falamos de Jesus Cristo e de seu futuro. Nós recordamos a história de Jesus Cristo: sua vinda a este mundo, sua alegre novidade do Reino de Deus para os pobres, os enfermos e as crianças, o seu sofrimento e sua morte na cruz – e sua gloriosa ressurreição, com a plenitude da vida eterna que ele revelou.
A esperança cristã no futuro de Deus tem sua sã ancoragem no tornar presente sua história e sua ressurreição. E, no meio dia história está a sua cruz. A cruz, na comunidade de Cristo, é a pedra do escândalo para todos os espíritos utópicos e apocalípticos. Somente quem tem consistência ante o vulto do Cristo crucificado é esperança cristã.
Com o sinal da cruz são de fato expulsos também os espíritos enfermos e malignos dos por eles possuídos. Somente por trás da cruz sobre o Gólgota surge o sol da ressurreição. Somente além da cruz de Cristo desponta a aurora do novo mundo de Deus. A esperança cristã não é, de fato, otimismo que promete às pessoas de sucesso dias melhores. A fé em Cristo difunde esperança aonde de outro modo não há mais nada a esperar.
Com os braços da esperança cristã abraçamos o mundo inteiro e não damos nada nem ninguém por perdido. Assim como o Cristo ressurgido tem o seu futuro em Deus, ele não é somente o Redentor das nossas almas, mas também o Reconciliado do cosmos. De sua vinda esperamos, por isso, a grande transformação do mundo “do corpo corruptível à incorruptibilidade e do corpo mortal a imortalidade”, como anuncia o apóstolo Paulo segundo o exemplo do profeta Isaías. Cristo há de vir, mas nós fazemos a experiência de sua presença já aqui e agora na palavra do Evangelho e no Espírito que nos torna vivos; nós fazemos a experiência de sua presença já no batismo e na comunhão: nós fazemos a experiência de sua presença em companh9ia de quem crê e em companhia dos pobres e dos enfermos. Mais intensamente, fazemos a experiência do fato de que Jesus vive e então clamamos “Maranata, vem Senhor Jesus”, vem rapidamente (Ap 22, 20).
Resistência e antecipação são virtudes daqueles que esperam. No sofrimento, nas desilusões, nas dores e nas preocupações a esperança cristã mostra a sua força confortadora e resistente. Resistência e antecipação são virtudes daqueles que esperam. No sofrimento, nas desilusões, nas dores e nas preocupações a esperança cristã mostra a sua força confortadora e resistente. É confortador resistir nas dores e nas preocupações sabendo que este não é o fim, mas que precisamente ali ainda existe algo que vem. É encorajador não capitular diante do irrevocável, mas resistir sadios no protesto. Em força da esperança não nos rendemos, mas permanecemos inquietos e insatisfeitos num mundo injusto e violento. Nenhuma reconciliação com o mal! Nas situações de sofrimento a grande tentação é render-se. Eu mesmo corri este risco como prisioneiro de guerra da Segunda Guerra mundial. As promessas de Deus que despertam a nossa esperança nos colocam frequentemente em contradição com as experiências do nosso ambiente. O novo mundo de Deus tão esperado e o velho mundo do qual temos experiência, no qual vivemos e sofremos, se contradizem. Em tais situações, a sombra da cruz desce sobre nós.
Começamos a sofrer por um mundo injusto e violento, porque nos colocamos contra a injustiça e a violência. Se não esperássemos em nada, então nos adaptaríamos: o mundo é no fundo aquilo que é. O fato que não nos adaptamos é fruto da inextinguível fagulha da esperança que habita em nós. Pela força da esperança no novo mundo de Deus os hebreus e os cristãos oprimidos se contaram contra histórias sobre o decurso deste mundo. Trata-se das histórias de ressurreição do profeta Ezequiel, no capítulo 37: veja, aqui está a planície que estava repleta de ossos estorricados dos povos passados – mas, escuta, ali vem o espírito de Deus que os despertará e reconduzirá os mortos à vida. Por isso, não te rendas: a morte não tem a última palavra.
Existem as contra imagens apocalípticas, na revelação de João, da ‘grande prostituta da Babilônia’, que em breve cairá, e todos sabiam que com isto se entendia Roma e o império romano que perseguia hebreus e cristãos. A imagem da ‘Jerusalém celeste’ que descerá sobre a terra e terá duração eterna é uma contra imagem da Roma imperial que se fazia celebrar como ‘cidade eterna’. O próprio título de Senhor, na confissão ‘Senhor é Jesus Cristo’, é um contra título adverso aos poderosos imperadores romanos que se faziam exaltar como ‘senhores do mundo’.
O anúncio de Deus em nome de Cristo crucificado é, nestas condições, um discurso subversivo de Deus. Muitos dominadores perceberam que a Bíblia, para eles, é um livro perigoso porque chama à resistência, como o fizeram os cristãos na Coréia em 1919. “Senhor, nosso Deus, outros patrões, diversos de ti, nos tem dominado, mas nós a ti somente, o teu nome invocaremos” (Is 26,13): assim dizia o povo prisioneiro na Babilônia dirigindo-se ao Deus de Israel. Esta passagem foi muito apreciada pela Igreja professante durante a resistência contra a ditadura nazista na Alemanha.
Todavia, na vida da esperança não fazemos somente experiência de contradições e sofrimentos, mas também de sinais premonitórios de antecipações. Não podemos permitir-nos dizer que este modo é malvado e retirar-nos à vida privada, enquanto pudermos “vencer o mal com o bem”, como aconselhava Paulo na Epístola aos Romanos 12, 21. Por isso, devemos intervir na vida política e social do nosso povo e lutar pela verdade na política e pelo direito dos pobres; não com violência, mas com métodos não violentos, como ensina a teologia Minjung (na Coréia do Sul). Esta era a esperança do Movimento social Gospel na América, esta era a esperança da teologia da libertação na América Latina, esta era a esperança do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos e esta é a esperança do movimento ecológico na Europa: “Outro mundo é possível”.

Mas, antes de poder mudar algo em direção do bem, devemos estar dispostos a mudar-nos a nós mesmos. O Espírito da vida nos desperta do nosso egoísmo, da nossa indiferença com os outros. Sentimos a paixão pela vida e abrimos o nosso espírito e as nossas mãos à vontade de Deus. “Os pródigos do mundo futuro”, dos quais fala a Carta aos Hebreus 6,5, nos convida a agir. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

A PALAVRA... Nº 879. Fátima e a minha vocação.

terça-feira, 12 de maio de 2015

ORDEM TERCEIRA: Missão em Taubaté.

Influenciada pelo papa, Opus Dei muda cúpula em busca de carisma.

           
         
A Opus Dei se soma à onda renovadora que o papa Francisco promove na Igreja Católica. Pela primeira vez em quase um século de existência, a poderosa prelatura deixou aberta a porta para a possibilidade de que sua direção seja ocupada por alguém que não tenha trabalhado lado a lado com Josemaría Escrivá de Balaguer, o fundador santificado, ou que não tenha nascido na Espanha, onde estão as raízes de uma organização implantada em mais de 60 países. Assim se projeta a era pós-Escrivá nos tempos de Jorge Mario Bergoglio.
Em dezembro de 2014, o prelado Javier Echevarría, que aos 82 anos é a autoridade máxima da organização, nomeou vigário-auxiliar o franco-espanhol Fernando Ocáriz, e vigário-geral o argentino Mariano Fazio. A decisão insinua uma ordem sucessória da qual ficaria desalojado o influente arcebispo peruano Juan Luis Cipriani e coloca a prelatura diante de um cenário inédito. Na direção da Obra, fundada em 1928, nunca haviam convivido um prelado e um vigário-auxiliar.
"Será um momento histórico", descreve um porta-voz do escritório de informação da Opus. Na direção da organização se sucederam até agora três espanhóis: o fundador; o beato Álvaro del Portillo, que foi seu braço-direito durante 40 anos; e Echevarría, que por sua vez também foi colaborador de Balaguer por mais de 20. "Que chegue o momento em que o prelado não tenha conhecido nem trabalhado com o fundador é algo natural, e será uma nova demonstração da maturidade desta instituição da igreja."
Os analistas viveram a ascensão de Ocáriz ("um cargo é uma carga", matizam na Opus) como um ponto de inflexão na trajetória da instituição. E também como um gesto ao papa, que é jesuíta, prega com verbo fresco, nem sempre compartilhou as opiniões de Cipriani - excluído, por enquanto, do núcleo executivo - e trata com intimidade seu compatriota Fazio, o novo vigário-geral da Opus Dei.
        No segundo ano de seu pontificado, o papa Francisco mostrou que continua decidido a abrir várias frentes para reformar a igreja, imprimindo ao papado um novo estilo, mais próximo dos fiéis, e seguindo de perto tudo o que ocorre no mundo. Este álbum mostra a variedade de interesses e a frenética atuação de Jorge Mario Bergoglio ao longo de 2014. É de tirar o fôlego. 
"Efetivamente, o papa Francisco está promovendo uma forte renovação na igreja", disse José María Gil Tamayo, secretário-geral da Conferência Episcopal. "Não se trata de esperar que venham à igreja, mas sim de sair ao encontro das pessoas, e isso nos convida a renovar nossa forma de trabalho pastoral", continuou o porta-voz, que acrescentou sobre o caso específico da Opus: "A renovação que nos pedem afeta a todos na missão comum evangelizadora, na qual a especificidade de cada carisma de congregações, movimentos e associações deve ser posta a serviço dessa missão compartilhada sob a orientação de nossos bispos. Só estando unidos seremos verossímeis, como aponta o Evangelho".
            A prelatura tem cerca de 90 mil seguidores, distribuídos por mais de 60 países. Fortemente implantada na América Latina e na Europa, e com presença na África, dá agora seus primeiros passos no Casaquistão e no Vietnã e está pronta para iniciar seu trabalho em Cuba quando as circunstâncias políticas permitirem, segundo fontes consultadas. Em suas estruturas há mais mulheres que homens, segundo a organização. A idade média de seus integrantes aumentou na última década. Em sua maioria são laicos de classe abastada, com capacidade para influir nos gabinetes mais importantes; dedicados ao princípio de "santificar o trabalho"; e sempre cercados de críticos, alguns deles ex-membros da organização, que opinam que esta promove o conservadorismo, limita as leituras de seus integrantes e exerce o proselitismo.
Na Espanha, uma centena de colégios, a Universidade de Navarra e a escola de administração Iese têm relação com a Obra, que, segundo um porta-voz, lhes dá orientação espiritual. Essa radiografia resume a grande capacidade de influência e mobilização da Opus Dei, que durante a beatificação de Portillo, realizada em Madri em 2014, reuniu mais de 100 mil pessoas, entre elas dois ministros do governo e 40 mil jovens chegados de todos os recantos do planeta. Esses números refletem sua força para influir nas instituições e, em consequência, a importância das mudanças em sua cúpula.
"Com estas decisões sobre a quarta geração de dirigentes, se demonstra que não há medo de mudanças, que podem ser tutelados por alguém que não tenha estado em contato com o secretário-geral anterior", opinou José Manuel Vidal, formado em teologia e sociologia pela Universidade Pontifícia de Salamanca e diretor de Religião Digital. "Uma aproximação clara do papa, assim como fizeram os salesianos ao eleger reitor-maior um espanhol [Ángel Fernández Artime], que, entre outras coisas, conhece bem Francisco de sua estada em Buenos Aires", acrescentou sobre o cargo privilegiado que o argentino Fazio ocupa desde dezembro.
"O núcleo espanhol e mais velho quer ter o controle, mas chega um momento em que não pode. É a lei da vida", argumentou o sociólogo Alberto Moncada, autor de obras de tom crítico à instituição. "Fora da Espanha, a Opus é variada e plural, uma organização internacional."
Talvez não haja lugar fora da Espanha em que a Opus tenha mais força que na América Latina. Lá, Juan Luis Cipriani, o primeiro cardeal da organização, ficou afastado, por enquanto, da possibilidade de alcançar a prelatura. Quando Jorge Bergoglio, hoje o papa Francisco, presidiu a comissão de redação do documento final da 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (2007), Cipriani mostrou-se pouco chegado a sua tese, segundo fontes consultadas, e Fazio as compartilhou plenamente.
          Um porta-voz da Opus Dei negou que isso tenha a ver com o fato de Echevarría não ter contado com Cipriani para suas nomeações de dezembro, e salientou a relação "imelhorável" da instituição com o papa. Fontes consultadas afirmaram que Bergoglio veria com bons olhos que Cipriani estivesse em Roma. Monsenhor Lombardi, o porta-voz do Vaticano, declinou fazer comentários sobre o assunto. Assim, em silêncio, a Opus Dei continua projetando seu futuro. Fonte: http://brasil.elpais.com