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sábado, 5 de outubro de 2013
COISAS DE FRANCISCO: Papa almoça com os Pobres.
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A PALAVRADO FREI PETRÔNIO, Nº 432. Fé e Fidelidade
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A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 431. São Benedito.
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27º Domingo do Tempo Comum: Fé e fidelidade
Dom Paulo Mendes Peixoto, Arcebispo de
Ubereaba-MG.
Estas
duas palavras estão em crise de identidade. Passam por um processo de
esvaziamento e perda de sentido. Fé é adesão firme em Deus, que é fiel. É um
fato que supera toda nossa compreensão humana, mas não afeta a liberdade ao
tomar decisão. Pelo contrário, livremente a pessoa age com atitude de
fidelidade.
Fidelidade
é a prática de quem é fiel ao que faz e tem compromisso sério no cumprimento do
que assume e é confiável, é constante. Há um texto bíblico que diz que “o justo
viverá por sua fidelidade” (Hab 2, 4). A infidelidade é descumprimento de um
compromisso de fidelidade e ruptura com consequências desastrosas.
Fé
e fidelidade são dons de Deus, mas também frutos de decisão consciente e
responsável. Ambas fazem parte da estrutura natural das pessoas, mas precisam
ser trabalhadas com sinceridade para que sejam um bem para a sociedade. A falta
de fidelidade, em determinadas circunstâncias da vida, pode ser também ameaça à
fé.
Não
podemos agir apenas por fantasia, sem profundidade, despidos de
responsabilidade. A fé e a fidelidade do outro depende do testemunho que lhe
for proporcionado. Não ter uma fé como fundo de garantia, sem fidelidade, mas
como firmeza na adesão aos princípios que contam e que nos levam à realização
de vida com dignidade.
Toda
pessoa deve estar a serviço do Reino de Deus. É um caminho de construção, que
supõe desapego, desprendimento e atenção ao que é mais importante para o bem
comum. Em vez de ser servido, a fé e a fidelidade, como condição de vida digna,
fazem de nós servidores da comunidade com determinação e coragem.
Estamos
numa mentalidade que busca compensação para tudo que se faz numa mentalidade
totalmente calculista e muito marcada pelo materialismo, onde o ter passa a ser
mais importante do que o ser. Para ser diferente, devemos ter dedicação total
no servir, mas com o coração aberto e sem interesses puramente vazios. Não é
saudável a ambição de poder, de aparecer e de compensação.
Fonte:
http://www.cnbb.com.br
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SENHORA APARECIDA-2013: Convite.
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sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Testemunho ad gentes em Moçambique: CNBB.
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20:23
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27º Domingo do Tempo Comum - Ano C: Reflexão. (Lc 17, 5-10)
Na
Palavra de Deus que hoje nos é proposta, cruzam-se vários temas (a fé, a
salvação, a radicalidade do “caminho do Reino”, etc.); mas sobressai a reflexão
sobre a atitude correta que o homem deve assumir face a Deus. As leituras
convidam-nos a reconhecer, com humildade, a nossa pequenez e finitude, a
comprometer-nos com o “Reino” sem cálculos nem exigências, a acolher com
gratidão os dons de Deus e a entregar-nos confiantes nas suas mãos.
Na
primeira leitura, o profeta Habacuc interpela Deus, convoca-o para intervir no
mundo e para pôr fim à violência, à injustiça, ao pecado… Deus, em resposta,
confirma a sua intenção de atuar no mundo, no sentido de destruir a morte e a
opressão; mas dá a entender que só o fará quando for o momento oportuno, de
acordo com o seu projecto; ao homem, resta confiar e esperar pacientemente o
“tempo de Deus”.
O
Evangelho convida os discípulos a aderir, com coragem e radicalidade, a esse
projeto de vida que, em Jesus, Deus veio oferecer ao homem… A essa adesão
chama-se “fé”; e dela depende a instauração do “Reino” no mundo. Os discípulos,
comprometidos com a construção do “Reino” devem, no entanto, ter consciência de
que não agem por si próprios; eles são, apenas, instrumentos através dos quais
Deus realiza a salvação. Resta-lhes cumprir o seu papel com humildade e
gratuidade, como “servos que apenas fizeram o que deviam fazer”.
A
segunda leitura convida os discípulos a renovar cada dia o seu compromisso com
Jesus Cristo e com o “Reino”. De forma especial, o autor exorta os animadores
cristãos a que conduzam com fortaleza, com equilíbrio e com amor as comunidades
que lhes foram confiadas e a que defendam sempre a verdade do Evangelho.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir das
seguintes coordenadas:
A
“fé” é, antes de mais, a adesão à pessoa de Jesus Cristo e ao seu projeto.
Posso dizer, de facto, que é a “fé” que conduz e que anima a minha vida? Jesus
é o eixo central à volta do qual se constrói a minha existência? É Jesus que
marca o ritmo e a cor das minhas opções e dos meus projetos?
O
“Reino” é uma realidade sempre “a fazer-se”; mas apresentam-se, com frequência,
situações de injustiça, de violência, de egoísmo, de sofrimento, de morte, que
impedem a concretização do “Reino”. Como é que eu – homem ou mulher de fé –
ajo, nessas circunstâncias? A minha “fé” em Jesus conduz-me a um empenho
concreto pelo “Reino” e entusiasma-me a lutar contra tudo o que impede a
concretização do “Reino”? A minha “fé” nota-se nos meus gestos? Há algo de novo
à minha volta pelo facto de eu ter aderido a Jesus e pelo facto de eu estar a
percorrer o “caminho do Reino”? Quais são os “milagres” que a minha “fé” pode
fazer?
Nós,
homens, somos, com frequência, muito ciosos dos nossos direitos, dos nossos
créditos, daquilo que nos devem pelas nossas boas ações. Quando transportamos
isto para a relação com Deus, construímos um deus que não é mais do que um
contabilista, que escreve nos seus livros os nossos créditos e os nossos
débitos, a fim de nos pagar religiosamente, de acordo com os nossos
merecimentos… Na realidade – diz-nos o Evangelho de hoje – não podemos exigir
nada de Deus: existimos para cumprir, humildemente, o papel que Ele nos confia,
para acolher os seus dons e para O louvar pelo seu amor. É nesta atitude que o
discípulo de Jesus deve estar sempre.
De
certas pessoas diz-se que “não dão ponto sem nó”, para descrever o seu egoísmo
e as suas atitudes interesseiras. Porque é que fazemos as coisas? O que é que
motiva as nossas ações e gestos: o amor desinteressado, ou o interesse pela
retribuição?
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Pastor pede R$ 21 milhões aos fiéis para pagar dívida de TV
Com
voz chorosa, desesperançoso e cabisbaixo, o apóstolo Valdemiro Santiago, líder
da Igreja Mundial do Poder de Deus, iniciou nesta semana uma campanha para a
arrecadar ao menos R$ 21 milhões para pagar dívidas da igreja, especialmente as
referentes ao aluguel de horário do canal 21, do Grupo Bandeirantes.
A
igreja arrendou a emissora praticamente por 24 horas por dia e agora está com
dificuldades em cumprir a obrigação...
ALÉM DISSO...
Valdemiro
afirma que há vários templos com aluguéis atrasados, além de atrasos no
pagamento de outros horários locados em rádios e TVs Brasil afora. Um
especialista em igrejas, ouvido por esta coluna, que pede para não ser
identificado, afirma que dois fatores prejudicaram substancialmente a Igreja
Mundial, e que esses fatores ameaçam até a existência da linha evangélica:
Motivo- 1
A
tentativa de crescer rápido demais e sem controle algum sobre a contabilidade;
ou seja, a igreja contou que podia crescer mais rapidamente até que a Igreja
Universal, mas confiou demais na generosidade dos fiéis; acontece que os fiéis
(classes C e D, principalmente) já estão com outras dívidas e pararam de
colaborar tanto. A Igreja Mundial quis crescer mais e mais rapidamente do que o
possível.
Motivo- 2
A
guerra deflagrada pela Igreja Universal contra a Mundial, no ano passado. Por
meio da Record, a Universal exibiu reportagens que acabaram com a saúde
contábil da Mundial, que acabou investigada pelo Ministério Público e,
principalmente, pela Receita Federal. A Igreja teve de vender propriedades,
gado, se desfazer de templos... Enfim, entrou num verdadeiro gargalo
financeiro. Esse gargalo está agora se apertando ainda mais.
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quinta-feira, 3 de outubro de 2013
A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 430. Os dois Franciscos.
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Em memória de Frei Caneca
Pedro Pomar -
1974
A 13 de janeiro de 1825 - faz exatamente 150
anos - morria fuzilado em Recife, por ordem terminante de Pedro I, Frei Joaquim
do Amor Divino Caneca, grande herói da luta do povo brasileiro pela
independência do jugo colonial português, eminente figura de nossa
intelectualidade revolucionária, nacionalista.
As classes dominantes
relegaram-no ao esquecimento. Chegaram mesmo a escarnecê-lo como fez o ditador
Médici, em 1972, ao mandar passear pelas ruas das capitais dos Estados os ossos
de Pedro I. Nossos pseudo-liberais temem falar sobre ele. Em contraste, o proletariado
revolucionário exalta a sua memória como um dos mais admiráveis exemplos de
combatente da causa da libertação nacional e da soberania popular. São raras as
pessoas que, como ele, revelaram tal grau de rebeldia militante contra os
opressores do país e do povo, tanta intransigência em face dos inimigos,
tamanho destemor perante a morte. As lições de sua vida e de sua luta são
fontes perenes de inspiração para todos os patriotas e democratas, conservam
bastante atualidade.
Frei Caneca nasceu na capital pernambucana,
em 1774, quando no mundo feudal surgiam e se desenvolviam as idéias burguesas
de emancipação política, os conceitos de pátria e de nação e, quando em terras
brasileiras, sob o domínio de Portugal, brotavam os fermentos da autonomia. Era
de origem humilde. O apelido que o honrava adveio do fato de, na infância, ter
ajudado o pai, um tanoeiro, vendendo canecas. Certamente, por vocação religiosa
e pelo desejo de estudar, ingressou na Ordem dos Carmelitas.
Naquele tempo, e
durante dezenas de anos depois, a Igreja Católica monopolizava a cultura na
Colônia. Para instruir-se e ascender socialmente, os moços das camadas mais
pobres da oprimida e acanhada sociedade colonial deviam ordenar-se frades ou
padres. Outro recurso era ir estudar em Coimbra, o que só os filhos dos grandes
proprietários e senhores de escravos podiam fazer. No entanto, não foi a
confissão religiosa que converteu, desde os albores do século XIX, o jovem Frei
Caneca num ardoroso partidário da independência do Brasil e dos direitos do
povo. Ao contrário, a Igreja, como instituição reacionária, além de possuir
muitas propriedades e riquezas, sempre esteve umbilicalmente ligada às classes
dominantes, sustentou-as por todos os meios.
A verdade histórica é que, nas
jornadas de 1817 e 1824 - as primeiras gloriosas tentativas de nossa revolução
nacional e democrática - Frei Caneca e a brilhante falange de seus
companheiros, a maioria de procedência igualmente humilde, não representavam na
revolução, de maneira alguma, o clero, e sim as forças radicais da sociedade
brasileira.
Pertenciam à intelectualidade revolucionária, camada mais avançada
da luta libertadora. Eles sentiram, como ninguém, o quanto era intolerável o
domínio da metrópole portuguesa, o quanto pioravam as condições de vida do
povo. Simultaneamente, recebiam a influência das novas idéias revolucionárias e
tomavam conhecimento da vitória da Revolução Francesa de 1789, dos movimentos
emancipadores dos Estados Unidos, da América espanhola, do Haiti. Daí a decisão
de empunhar com valentia a bandeira da autonomia nacional e das reivindicações
liberais burguesas. De modo coerente, passaram a integrar a ala radical do
"Partido Brasileiro", da união das correntes patrióticas favoráveis à
independência, ala que pregava a liquidação da dinastia dos Bragança, sem
regateios nem conciliações prejudiciais à nação.
Em 1822, depois do famoso grito do Ipiranga e
do acordo que permitiu a Pedro I aparecer à frente do novo Estado Nacional, a
linha da intelectualidade nacionalista, oriunda do clero pobre, chocava-se com
a da Igreja oficial. Enquanto esta, já aderida à situação criada, acusava Frei
Caneca de indisciplina e sustentava que a autoridade de Pedro I tinha origem
divina, ele respondia, denunciando as manobras traidoras do régulo, seu absolutismo
e proclamando que a única e verdadeira fonte do poder é o povo.
Não apenas como
pensador, mas também por suas qualidades políticas e organizativas, Frei Caneca
destacou-se dentre todos os seus companheiros e contemporâneos. Junto com os
padres João Ribeiro, Roma, Miguelinho, Mororó e dezenas de outros, foi um dos
dirigentes da Revolução de 1817, quando pela primeira vez esteve em mãos de
patriotas brasileiros o poder no país.
Ao sobrevir a derrota, se bem que não
tivesse sido enforcado ou arcabuzado, como alguns daqueles dirigentes, padeceu
inomináveis torturas e ficou encarcerado na Bahia até 1821, sob a acusação de
ter conclamado o povo à guerra revolucionária e organizado guerrilhas.
Efetivamente, assim procedeu, expressando opiniões como as que seguem:
"Quando a pátria está em perigo, todo cidadão é soldado, todos devem se
adestrar nas armas para rebater o agressor. Não é bastante, que na ocasião do
aperto maior, saiam de suas casas com algumas pistolas ou facas, ou outras
quaisquer armas, sem disciplina, sem ordem, sem chefe hábil nos negócios da
guerra; tal estado de coisas só pode causar a confusão e a desordem. O tempo é
de atropelo, devem vosmecês atropelar também a economia de suas ações?"
Não sem motivo, tornou-se conhecido, desde então, como o "frade
guerrilheiro".
As posições combativas, revolucionárias, nortearam toda a
sua vida. Libertado, voltou logo a Pernambuco para participar da deposição das
autoridades coloniais e da instauração de um governo provisório provincial até
que, no plano nacional, a Assembléia Constituinte, já convocada, indicasse os
verdadeiros rumos do novo Estado e da nação.
Ao saber que Pedro de Bragança se
entronizava como Imperador do Brasil, condicionou seu apoio a esse governante à
exigência de que prevalecesse, na Constituição que se elaborava, a vontade
soberana do povo. Com tal objetivo, fundou, em fins de 1823, o jornal Tifnis Pernambucano. Defendia a
instituição de um regime constitucional, representativo, capaz, segundo ele, de
assegurar a independência recém-conquistada. Afirmava que a unidade nacional
devia ser baseada na autonomia das províncias, de acordo com as tradições
brasileiras e como demonstrava a experiência positiva dos Estados Unidos da
América do Norte. Considerava indispensável que o Brasil se constituísse numa
federação, unida pelos interesses e pelos sentimentos do povo de todo o país.
Percebia que a nação, apesar de jovem, já possuía fortes laços de solidariedade
e condições para sobreviver e progredir, percepção que, ainda hoje, certos
elementos ditos progressistas não alcançaram. Embora jamais tivesse acreditado
no liberalismo de Pedro I, mostrou-se disposto a aceitar o regime monárquico,
contanto que a autonomia das províncias fosse preservada, assim como respeitada
a soberania popular. Por isso, a dissolução pela força da Assembléia
Constituinte encontrou de sua parte firme repulsa. E ao ser informado da
imposição da Carta Constitucional, elaborada nos corrilhos palacianos,
conferindo todos os poderes a Pedro I, escreveu, indignado, a um amigo:
"Não admitimos mais imposturas, conhecemos o despotismo, vamos
decepá-lo".
A Confederação do Equador, de 2 de julho de
1824, teve em Frei Caneca seu principal cérebro, seu autêntico fundador. A
República sonhada englobaria as províncias do Norte, as quais ficariam unidas
por uma Constituição, cujas bases ele publicara em seu jornal, na véspera da
Revolução. Nesse projeto de Lei Magna, propôs enfaticamente a liberdade
política, a igualdade civil, todos os direitos inalienáveis do homem.
Estabeleceu itens relativos à liberdade de imprensa e de opinião. Destacou,
especialmente, a abolição da escravatura nos seguintes termos: "Todo homem
pode entrar a serviço de outro pelo tempo que quiser, porém não pode vender-se,
nem ser vendido".
O conteúdo de seu ideário era nitidamente burguês,
democrático. Não obstante, pareceu muito radical, bastante avançado para aquele
período.
Mas a Confederação do Equador só conseguiu o apoio das províncias da
Paraíba e do Rio Grande do Norte. Sem a adesão das demais, sobretudo da Bahia,
cujo movimento popular revelara pujança e combatividade na luta contra as
tropas do general português Madeira, a nova República duraria pouquíssimos
meses. De seu lado, o governo imperial tomara incontinenti medidas para debelar
a revolução a ferro e fogo. Cercado por terra e por mar, o governo confederado
não pôde manter-se. A derrota deveu-se, fundamentalmente, a certas condições
internas adversas da época, ao profundo atraso do país. Diferentemente dos
Estados Unidos, onde vencera a Revolução da Independência com sentido
democrático, no Brasil existia ainda um forte sistema feudal-escravista, que
não deixou surgir nem florescer um núcleo numeroso de colonos livres. Os
centros urbanos brasileiros eram então bastante débeis, distantes e dispersos.
Além disso, a revolução não interessou direta e profundamente ao grosso da
massa de escravos.
Posto que condenasse formalmente a escravidão, não pretendia
aboli-la imediata e radicalmente, mas sim de modo gradual. Em suma, por não
terem compreendido a importância da participação da grande maioria da população
escrava na luta pela independência, os líderes do movimento emancipador de 1817
e 1824 fatalmente seriam esmagados pela reação feudal e escravocrata.
Frei
Caneca não cedeu facilmente. Julgou encontrar no interior de Pernambuco
condições políticas e topográficas propícias à continuação da luta. Como não
podia deixar de ser, enveredou pelo caminho da resistência armada, recorrendo
ao método da guerra de guerrilhas. Mas quase tudo lhe foi hostil. Até uma
tremenda seca contribuiu para obstar-lhe os planos. Suas colunas rarearam cada
vez mais diante das dificuldades. Havia defecções dos que não tinham igual
confiança na vitória. Mesmo sem recursos, passando fome, rompeu diversos
cercos, travou alguns combates com vantagens e penetrou no sertão do Ceará, em
busca de apoio. Só a 29 de novembro, em decorrência da situação insustentável
em que se achava, aceitou a proposta de rendição formulada pelo comandante das
tropas imperiais, em troca do respeito pela vida dos guerrilheiros e do
compromisso de que o governo não faria vinditas.
Dessa forma, veio a cair nas
mãos de Pedro I o mais intrépido defensor da causa emancipadora e democrática,
o patriota que a reação mais temia e odiava.
A Justiça Militar, nomeada a
propósito pelo Imperador, empreendeu de imediato seu julgamento sumário. Frei
Caneca não procurou justificar-se, pessoalmente; sustentou com bravura suas
idéias, seu direito à promover a revolução; não claudicou nem se prestou a
qualquer compromisso com os inimigos da pátria e do povo. Compreendia que Pedro
I queria vê-lo rápida e severamente castigado para exemplo dos que se
atrevessem a levantar-se contra a tirania. Seu comportamento altivo e digno,
contribuiu para desmascarar o não cumprimento da promessa de que os
prisioneiros teriam suas vidas poupadas. O desassombrado lutador deveria morrer
na forca - tal a decisão dos juízes militares, antecipadamente tomada.
Longe de
ficar abatido, Frei Caneca, em virtude de sua fibra moral e de suas profundas
convicções, revelou-se mais animoso do que nunca. O desprezo pela morte, a
consciência de cumprir em qualquer circunstância seu dever de patriota, de
sacrificar a vida pelo bem comum, forjaram nele um dos mais belos e íntegros
caracteres de homens públicos populares que registra a história brasileira.
Cantou tais sentimentos em versos como estes:
"O Patriota não morre:
Vive além da
eternidade;
Sua glória, sem renome.
São troféus da humanidade."
Pouco antes de ser fuzilado, ainda compôs
outro poema que diz:
"Tem fim a vida daquele
Que a pátria não
soube amar;
A vida do patriota
Não pode o tempo acabar"
O episódio final do seu suplício mostra até
que ponto ia a sanha da repressão. A agonia arrastou-se praticamente por três
dias, nos quais sua figura se agigantou pela coragem, ao passo que a dos seus
verdugos se amesquinhou pela crueldade. Desde o dia 10 de janeiro se haviam
iniciado os preparativos para o enforcamento. Mas, nesse instante, a Igreja
resolveu interceder junto a Pedro I em favor da vida do condenado, solicitando
que a pena capital fosse comutada em prisão. O Imperador, além de recusar,
ameaçou.
A Igreja desistiu. Dia 13, pela manhã, já no patíbulo, ele foi submetido
à degradação canônica, isto é, despido de seus hábitos religiosos e da condição
de frade. Entretanto, o preso comum destinado a colocar-lhe o laço no pescoço,
negou-se a fazê-lo. Ali mesmo foi pisoteado, surrado. Outros dois presos comuns
convocados para a mesma bárbara função, também não a aceitaram. Diante disso, o
representante de Pedro I, brigadeiro (como então se chamava ao general) Lima e
Silva, optou pelo fuzilamento. Entrementes, Frei Caneca, que fora despertado do
sono em que estava mergulhado para subir ao patíbulo, continuava sereno,
procurando falar ao povo e auxiliar os carrascos a terminarem com a execução.
Até que o ato infame se consumou.
Há 150 anos do holocausto do grande herói
popular, cumpre às forças revolucionárias não apenas homenageá-lo como
compreender o sentido de suas idéias e de sua luta, assim como continuá-la nas
novas condições históricas. Nesse período, ocorreram enormes transformações no
mundo e em nosso país. O socialismo venceu em alguns países e avança vitorioso,
enquanto o capitalismo está apodrecendo. As contradições sociais e políticas se
aguçaram. No Brasil, as forças que se opõem ao progresso, à democracia e à
independência nacional já não são senhores de terras e escravistas junto com o
colonialismo português, mas sim os latifundiários e a grande burguesia
associada ao imperialismo, sobretudo ao norte-americano. Por outro lado, as
forças interessadas na revolução são outras, muito mais poderosas. O papel que
representam é também diverso do daquele tempo. Agora, apenas uma parte da
burguesia, a não-ligada aos interesses estrangeiros e à reação, pode participar
da revolução, mas não encabeçá-la. Tampouco a intelectualidade progressista,
inclusive a provinda do clero, tem condições de ser a vanguarda revolucionária.
A direção da revolução cabe ao proletariado, através de seu Partido
marxista-leninista. Nessas circunstâncias, o caráter nacional e democrático da
revolução, embora permaneça formalmente o mesmo, ganhou um novo conteúdo. Sob a
liderança da classe operária e na base da aliança operário-camponesa, ela será
inevitavelmente vitoriosa e abrirá caminho para o socialismo.
Todavia, muitas
das idéias e das medidas expostas e propugnadas por Frei Caneca têm atualidade,
estão na ordem-do-dia. Igualmente, o caminho revolucionário, a luta armada, e a
intransigência que preconizou e revelou são fundamentalmente os mesmos que hoje
devemos trilhar e praticar no combate para pôr abaixo a ditadura militar e
varrer com a dominação do imperialismo estadunidense.
Honra e glória eternas ao
grande precursor da luta do povo brasileiro pela independência e pela
democracia!
(Artigo de Pedro Pomar publicado no jornal A Classe Operária, 1974.)
On line: < http://www.vermelho.org.br/pcdob/80anos/docshists/1974.asp
> (13/03/2007)
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Shalôm!
Frei Ildo Perondi
Quando eu estava em Roma escrevendo
a minha tese, devia fazer uma análise do termo hebraico “Shalôm”. Não estava
contente com as explicações dadas pelos dicionários, que em geral traduziam o
termo por “Paz”. Por isso, fui procurar um rabino hebreu, que muito
carinhosamente me recebeu.
- Falar de Shalôm é algo muito
importante... – disse-me ele. Talvez seja um dos termos hebraicos mais
carregados de sentido e força que temos em nossa língua. É certo que traduzir
simplesmente por “Paz” empobrece muito o sentido da palavra original.
Enquanto ele falava, calmamente,
pegou um copo e tomando uma jarra de água, foi colocando no copo muito devagar,
deixando soar o borbulhar da água. O copo foi enchendo, e quando mais chegava
perto da borda ele ia cuidadosamente derramando ainda água...
- Veja bem, não cabe mais nada. Nem
uma gota de água neste copo. Se eu colocar mais, vai derramar, vai transbordar.
Está me entendendo?
Balancei a cabeça em sentido
negativo, olhando para o copo cheio de tal modo que não coubesse mais nada.
- O Shalôm é isso, irmão meu. É o
máximo que pode caber. Quando eu desejo um Shalôm a alguém, eu desejo todo o
bem, tudo de bom, tanto bem que mais do que isso é impossível desejar. Estás
entendendo?
- Sim, agora entendi o que é o Shalôm!
- Não ainda, irmão meu. Para
entender bem o sentido do Shalôm é preciso receber o Shalôm; é preciso ter o
Shalôm... Posso ver em você perturbações, conflitos internos... Para você ter o
Shalôm é preciso que você tenha a harmonia interna, que você equilibre dentro
de você as forças, que se sinta bem, que você esteja em harmonia consigo mesmo,
que esteja em paz...
- Agora entendi...
- Ainda não... Você não está sozinho
neste mundo. Você convive com pessoas. As pessoas são importantes na nossa
vida. E devemos estar em relação de harmonia com elas. Harmonizar-se com as
pessoas que estão perto de nós; harmonizar-se com as pessoas que amamos e
queremos bem; harmonizar-se com as pessoas que não gostamos e que às vezes nos
fazem mesmo o mal; harmonizar-se com as pessoas que estão longe; harmonizar-se
com as pessoas que necessitam de paz, de ajuda, que vivem em dificuldades, que
são excluídas, que passam fome, dor, solidão... Quando nos harmonizamos com as
pessoas então sim temos o Shalôm.
- Entendi...
- Mais um pouco... Não estamos
sozinhos no mundo. Vivemos rodeados pelas criaturas de Deus. Você está sentindo
a cadeira onde está sentado? Sente o chão onde firma os seus pés? Sente o ar
que está respirando? Escute! Aposto que não está ouvindo a beleza do canto do
passarinho, o cachorro que late, o grito da vida e da natureza, a suavidade do
vento... Estar em harmonia com a Criação, com as criaturas, com a vida... Isso
é também ter o Shalôm.
- Agora estou entendendo...
- Tenha ainda um pouco de paciência.
Irmão meu, você é uma criatura, não o Criador. Como um ser criado, você deve
estar em harmonia constante com Deus. O Deus que te amou, e que pensou em ti no
momento da Criação. Para ter o verdadeiro Shalôm, você deve estar em sintonia e
em plena harmonia com Deus, nosso Criador... Harmonize a tua vida com Ele,
deixe que Ele guie os teus passos. E então terás o Shalôm.
- Acho que nunca vou entender o que
é o Shalôm...
- Não, agora você começou a entender
o verdadeiro sentido desta expressão hebraica. Nenhuma palavra das línguas
modernas pode traduzir toda a força e o conteúdo do Shalôm da nossa língua mãe.
Mas só quando conseguirmos harmonizar dentro de nós estas quatro dimensões é
que poderemos dizer que temos o Shalôm; só então é que poderemos desejar verdadeiramente
um Shalôm. Estar como um copo cheio onde não cabe mais nada; deixar o outro
como um copo repleto.
E me abraçando, olhando-me nos
olhos, e então me desejou Shalôm...
Para Meditação
Depois de ter retornado ao Brasil,
continuei refletindo muito sobre esta conversa com o rabino. Nas minhas
reflexões pessoais, na oração meditada, superando a depressão, procurei levar a
sério esta questão. E por isso, aos poucos, fui trabalhando dentro de mim estes
quatro pontos que aprendi com toda a beleza da mística e da espiritualidade
hebraica. Tentei incorporar alguns elementos importantes da espiritualidade
cristã e também da experiência de São Francisco de Assis.
Quando vou à Capela, quando me deito
na cama ou quando estou na natureza, procuro criar estas harmonias necessárias.
Importante estar em uma posição confortável. Respirar profundamente, deixar o
ar entrar dentro de nós, sentir a respiração, sentir a vida dentro de vós, ao
nosso redor.
Buscar primeiro a harmonia interna,
comigo mesmo... Talvez o mais difícil dos quatro passos. Dentro de nós temos
esses nossos conflitos, essa bipolaridade, marcadas por aquilo que fomos e que
somos. Medos e tensões provocadas pelo cansaço, pelo stress da vida moderna...
Mas pouco a pouco, recomeçando sempre, no fim se chega a criar essa harmonia,
esta paz interior.
Harmonizar-se com as pessoas com as
quais convivemos. Perdoar falhas nossas, aquilo que fazemos contra nós mesmos,
contra a harmonia da nossa vida. Perdoar os outros a quem fizemos mal ou sem
querer magoamos. Perdoar aqueles que pensamos que nos fizeram o mal. Manter
sintonia com as pessoas que queremos bem. Recordar as pessoas que precisam de
nossa ajuda, aquelas que sofrem, que estão doentes, nos cárceres, quem está na
luta, pessoas perseguidas e maltratadas. Manter a solidariedade, enviar às
pessoas mensagens de energia positiva, de Shalôm....
A harmonização com o mundo ao nosso
redor é fundamental. Sentir o que nos cerca, o chão onde pisamos, sentir nossos
apoios, o canto da vida, os sons da natureza. Perceber a grandeza do universo
criado, olhar para o infinito, sentir a luz e a energia dos astros... sentir-se
parte deste grande universo, onde somos tão pequenos e tão importantes.
E harmonizar a nossa relação com o
Deus Criador, do qual recebemos tudo, sobretudo o dom precioso da Vida. Reatar
a relação com o Deus Comunidade, com o Deus Trindade: com o Pai, com Jesus
nosso Salvador, com o Espírito nosso Consolador e que nos guia e conduz...
Rezar, louvar, agradecer... Serenar diante de Deus, reconciliar-se, abrir-se ao
seu projeto, deixar-se conduzir por Ele, colocar-se a serviço da Vida e
daqueles que mais precisam de nós. Enfim, deixar que seja feita a sua vontade,
como nos lembrou Jesus (Mt 6,10; 26,42).
(OBS. Não é necessário seguir esta
ordem, ou seja os quatro momentos. Às vezes pode ser melhor criar paz e
harmonia primeiro com a Criação; ou com as pessoas; ou então começar pelo nosso
relacionamento com Deus Criador).
Depois é importante recordar
passagens bíblicas que falam de Shalôm, como:
- “O Shalôm é fruto da justiça” (Is 32,17);
- “Justiça e Shalôm se abraçarão...” (Sl 85,11)
- “O Shalôm esteja convosco!” (Jo 20,19.21.26)
- “Graça e Shalôm da parte de Deus nosso Pai e de Jesus Cristo” (cf.
Rm 1,7 e no início da maioria das Cartas paulinas).
- “Deixo-vos o Shalôm; o meu Shalôm eu vos dou...” (Jo 14,27).
É certo que esta proposta não exclui
a oração comunitária, antes necessita dela, e também da vida em comunidade,
pois é só na comunidade que podemos viver e sentir o verdadeiro Shalôm. Mas se estivermos
em paz e se pudermos transmitir paz aos outros, com certeza seremos
instrumentos de libertação para o nosso povo. Quando estamos com paz e em paz,
com o Shalôm, seguramente seremos mais solidários e faremos muito mais e
ajudaremos melhor na luta para a construção de uma sociedade mais fraterna e
mais justa que tanto sonhamos e buscamos. Uma sociedade nova, sinal do Reino,
bela e cheia de paz, cheia do Shalôm de Deus!
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quarta-feira, 2 de outubro de 2013
Jovem Missionário sempre solidário: CNBB.
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Juventude em Missão: Mensagem do Projeto Missionário-2013.
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terça-feira, 1 de outubro de 2013
A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 428. Eu conheci dois Anjos
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A PALAVRA, Nº 427. Santa Teresinha: Devoção ou Alienação?-02
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09:56
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A PALAVRA, Nº 427. Santa Teresinha: Devoção ou Alienação-01?
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05:48
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segunda-feira, 30 de setembro de 2013
A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 426. Sta. Teresinha e o Carmelo.
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01 de outubro, dia de Santa Teresinha do Menino Jesus: "A Minha vocação é o amor".
Por Frei Gianfranco Maria Tuveri O.Carm.
"A minha vocação é o
amor!" Não é o clarão rápido de uma estrela, que desliza pela noite, mas o
final lúcido de uma vida inteira, profundamente marcada pelo selo do amor. Com
toques rápidos iremos relembrar algumas passagens da vida de Teresa, como a
"Subida da Montanha do Amor".
O Manuscrito B compõe-se de 5 fólios
recobertos, na frente e no verso, por uma escrita fina, muito apertada. É à sua
irmã Maria do Sagrado Coração que devemos este escrito, como por outro lado o
Manuscrito A, coletânea das recordações da infância, foi dedicado à sua irmã Paulina.
A Irmã Maria deve muitas vezes ter pedido oralmente a sua irmã (Teresa) para
deixar-lhe por escrito algo da seu "pequenino caminho" de confiança e
de amor. Quando Teresa está fazendo o seu retiro pessoal, a Irmã Maria
lembra-lhe este pedido por meio de um bilhete, que lhe envia no dia 13 de
setembro. Nele a Irmã Maria transmite-lhe que alcançou da Madre Priora não
somente a licença de lhe escrever, mas também a de Teresa mandar-lhe a
resposta. Teresa redige rapidamente o que será chamado Manuscrito B, composto
de duas partes: a primeira traz a data de setembro de 1896 (sem o dia), e a
segunda foi (pós-) datada de 8 de setembro do mesmo ano (data da profissão).
Teresa acolhe com alegria este pedido
que lhe permite falar sobre o Amor, a Ciência do Amor. Tal expressão, palavra
de Nosso Senhor a Santa Margarida Maria, encontra-se num livro da época
conservado no Carmelo, do qual Teresa se serviu.
Esta longa oração, que é o facho de
luz do Manuscrito B, é a obra-prima de Teresa, uma das jóias mais belas da
literatura cristã. Compõe-se de duas partes, o sonho de 10 de maio e a doutrina
da pequenina via. A passagem de uma para a outra é também a passagem do
"vós" para o "tu". Passagem que marca uma intensificação de
comunhão com Jesus, um crescendo do amor, que se traduz na materialidade da
escrita. Na leitura do autógrafo de Teresa podemos constatar a transformação da
escrita, em particular, quanto às letras, que evidentemente se engrandecem
quando chegamos ao coração desta prece, onde fala sobre a descoberta da sua
vocação: "A minha vocação é o Amor".
Teresa, em sonho, vê três
carmelitas. Numa delas Teresa reconhece a Venerável Madre Ana de Jesus, que a
toma debaixo do seu véu e lhe mostra o seu rosto celestial iluminado por uma
luz inefável. "Vendo-me tão ternamente amada, tive a coragem de pronunciar
estas palavras: «Ó minha Mãe! Eu vos suplico, dizei-me se o Bom Deus me deixará
por muito tempo na terra!... Ele virá buscar-me logo?...» Sorrindo com ternura,
a Santa murmurou: «Sim! logo, logo... Eu vo-lo prometo» - «Minha Mãe -
acrescentei eu - dizei-me ainda se o Bom Deus não me está pedindo algo mais do
que as minhas pobres açõezinhas e os meus desejos. Ele está contente comigo?»
As feições da Santa tomou um expressão incomparavelmente mais carinhosa do que
da primeira vez que me havia falado. O seu olhar e as suas carícias eram a mais
doce das respostas. Contudo me disse: «o Bom Deus não exige de vós nenhuma
outra coisa. Ele está contente, muito contente!...» Após ter-me acariciado com
muito amor mais do que o tenha feito alguma vez ao seu filhinho a mais terna
das mães, eu a vi afastar-se..."
A segunda parte desta oração
introduz-nos na exposição da sua pequena doutrina, sob o tema dos seus grandes
desejos: "Oh meu Bem-Amado! Esta graça não era mais do que o prelúdio da
graças maiores, com que tu querias cumular-me: deixa-me, meu Amor único,
relembrá-las a ti hoje... hoje o sexto aniversário da nossa união. Ah!
Perdoa-me, Jesus, se falo desarrazoadamente ao querer redizer os meus desejos,
as minhas esperanças, que tocam ao infinito; perdoa-me e cura a minha alma,
concedendo-lhe o que ela está esperando!"
Este amor propriamente infinito está
no coração, não apenas da finitude, mas da pequenez e do nada. Teresa serve-se
de duas parábolas para enunciar esta pequenez. A primeira apresenta-nos uma
criança que vai lançando flores, expandindo os seus perfumes e com voz
argentina cantando o cântico do Amor. Este Amor, que tem um valor infinito,
dará valor infinito a todas as coisas pequeninas. É desta maneira que ela pode
visualizar que o Amor é a alegria dos eleitos, a consolação dos sofredores, a
força dos combatentes.
Irmã Maria do Sagrado Coração devora
admirada estas páginas da sua irmãzinha. Fica seduzida por um tal amor, mas
também ainda distante de compreender e
aceitar o seu dinamismo. Sente-se atraída por este fogo, que arde no coração de
Teresa. É envolta nestes sentimentos que escreve outra carta à sua irmã,
contando-lhe a sua alegria, mas também a sua pena de se ver muito distante
destes "desejos infinitos", que habitam no coração de Teresa.
No mês de fevereiro de 1895, Teresa
havia escrito uma poesia, que brotou de um só jacto durante os longos momentos
de adoração diante do Santíssimo Sacramento, antes da sua entrada na Quaresma.
Trata-se de uma declaração de amor, que preludia o seu Ato de Consagração ao
Amor Misericordioso, mas contém ainda o anúncio da sua morte próxima. A palavra
"Amor" retorna aí 35 vezes, é o estribilho dos 120 versos da poesia.
Encontramos aí a sua convicção de ser chamada para o amor e reconhecer no Amor
a vocação que Deus lhe deu para a vida como para a morte e, ouso dizer, para
depois da morte. Teresa recebeu de Deus a missão de Amar e de fazer amar o
Amor, de ensinar isto aos outros por meio do seu pequenino caminho. Devemos-lhe
o título de "Doutor do Amor". Desejamos que este título de Doutor lhe
seja enfim reconhecido pelo magistério da Igreja, no ano centenário da sua
morte. Gostaria de terminar este encontro convosco, lendo os últimos versos da
poesia "Viver de Amor". Nela, não somente a vida, mas a morte também
é um ato de amor. A morte não escapa à sua Vocação de Amor, a morte é o seu
feliz coroamento.
Durante este ano muito se há de
falar sobre Santa Teresinha do Menino Jesus. Um pouco por toda parte preparam-se
celebrações numerosas, pelo mundo afora, para festejar o Centenário da sua
morte acontecida no dia 30 de setembro de 1897. Teresa do Menino Jesus, na
história deste século, mas sobretudo no coração de tantas pessoas de todas as
classes, é tão importante que seria injusto não celebrar esta Centenário. Tais
celebrações e iniciativas procurarão pesquisar toda a riqueza da personalidade
e da mensagem da Santa de Lisieux.
Com muita simplicidade apresento
aqui um apanhado da sua vida e da sua mensagem, recorrendo à leitura de um
texto redigido há cem anos e que conserva intactas toda a sua força e sua luz,
um cimo culminante da literatura cristã de todos os tempos, cuja ponta é a
expressão: "A minha vocação é o Amor!"
1.
Uma vida sob o signo do Amor
Desde a sua chegada a este mundo,
Teresa foi cercada de um amor assinalado pela maior ternura. Ela própria o
reconhece: "Toda a minha vida o Bom Deus teve o prazer de cercar-me de
amor: as minhas primeiras lembranças estão repletas de sorrisos e das mais
ternas carícias! Mas se colocou junto a mim muito amor, Ele pôs também no meu
coração muito amor, fazendo-o amoroso e sensível e, por isso, eu amava demais a
Papai e Mamãe e lhes testemunhava a minha ternura de mil maneiras, pois eu era
muito expansiva".
O dia da sua Primeira Comunhão é um
dia de inesquecível amor. Sobre este dia escreverá: "Oh! Como foi doce o
primeiro beijo de Jesus à minha alma! Foi um beijo de amor: sentia-me amada e
dizia por minha vez: «Amo-vos e entrego-me a vós para sempre». Não houve
pedidos, não houve lutas, não houve sacrifícios. Há muito tempo Jesus e a pobre
Teresa haviam-se entreolhado e se haviam entendido... Naquele dia já não era
mais um entreolhar-se e sim uma fusão, não eram mais dois: Teresa desaparecera
como a gota d' água que se perde no seio do oceano".
Pelo Natal de 1886, Teresa
experimentou a força transformante do Amor divino. Eis como ela fala a respeito
desta graça: "Num instante o trabalho, que não consegui fazer durante dez
anos, Jesus o fez, contentando-se com a minha boa vontade, que nunca me faltou.
Como os seus Apóstolos eu podia dizer-lhe: «Senhor, pesquei durante toda a
noite e não peguei nada». Mostrando-se mais misericordioso para comigo do que
para com os seus discípulos, Jesus mesmo apanhou a rede, lançou-a e a retirou
cheia de peixes. Ele fez de mim «pescador de almas», senti um grande desejo de
trabalhar na conversão dos pecadores, desejo que não tinha sentido antes tão
vivamente. Senti, numa palavra, a caridade entrar no meu coração, a necessidade
de esquecer-me de mim mesma para dar prazer, e desde esta hora fui
feliz!..."
No Carmelo, é sobretudo ao pé da
cruz que Teresa prossegue na "Subida da Montanha do Amor". A sua
correspondência com Celina durante o seu tempo de noviciado traz ressonâncias
da dolorosa provação da doença do seu pai e, ao mesmo tempo, ressonâncias do
crescimento da sua sede de amor. Qualquer uma das passagens das suas cartas
estão inflamadas de amor. Citemos um texto apenas, uma passagem da carta de 15 de
outubro de 1889: "Façamos da nossa vida um sacrifício contínuo, um
martírio de amor, para consolar Jesus; ele não quer senão um olhar, um suspiro,
mas um olhar, um suspiro, que sejam somente para ele! Que todos os instantes da
nossa vida sejam somente para ele, que as criaturas não toquem em nós a não ser
de passagem... Durante a noite não há nada a fazer senão uma só coisa, na única
noite da vida que não virá a não ser uma só vez: e é amar, amar Jesus com todas
as forças do nosso coração e salvar almas para ele, para que ele seja
amado".
No seu último retiro, de 7 a 18 de
setembro de 1896, Teresa escreve o Manuscrito B. A 8 de setembro, ela comemora
na solidão o sexto aniversário do dia em que professou. Parece-me importante
ler uma passagem da oração que ela compôs no dia da sua profissão e foi escrita num bilhete que ela trazia
sempre sobre o coração: "Ó Jesus, meu Divino Esposo! Que nunca eu perca a
segunda veste do meu batismo. Arrebata-me antes que eu cometa a mais leve falta
voluntária. Que não procure e não encontre nunca senão a ti somente; que as
criaturas não sejam nada para mim e eu não seja nada para elas, mas tu, Jesus,
sejas tudo!... Que as coisas da terra nunca possam perturbar a minha alma, nada
perturbe a minha paz; Jesus, eu não te peço senão a paz, e também o amor, o
amor infinito, sem outro limite além de ti, o amor que já não seja mais eu
mesma e sim tu, meu Jesus!"
Os anos, em que Paulina foi Priora,
foram um período de desabrochamento espiritual e humano para Teresa. "Ó
minha Mãe! Foi sobretudo desde o dia abençoado da vossa eleição que eu voei
pelos caminhos do amor!"
Em 1893, Teresa escreveu novamente
cartas ardentes de amor à sua irmã Celina: "O meu Diretor, que é Jesus,
não me ensina a contabilizar os meus atos; ele me ensina a fazer tudo por amor,
a não lhe recusar nada, a estar satisfeita quando me oferece uma ocasião de
provar-lhe que eu o amo; mas é na paz, no abandono que isto acontece: é Jesus
quem faz tudo e por mim eu não faço nada".
E em 1895, no Manuscrito A, é assim que
Teresa fala dos seus desejos: "Agora não tenho mais nenhum desejo, a não
ser o de amar Jesus até à loucura..." Foi no Priorato da sua irmã Paulina
e com a permissão dela que Teresa pronunciou o "Ato de Consagração ao Amor
Misericordioso". É nos seguintes termos que ela fala a respeito, alguns
meses mais tarde: "Este ano, no dia 9 de junho, Festa da Santíssima
Trindade, recebi a graça de compreender mais do que nuca quanto Jesus deseja
ser amado. Eu pensava nas almas, que se oferecem como vítimas à Justiça de
Deus, a fim de desviar, atraindo sobre si, os castigos reservados aos culpados;
esta oferta parecia-me grande e generosa, mas eu estava longe de me sentir
levada a fazê-la. «Ó meu Deus!» - clamei do fundo do meu coração - «não
existirá nada mais do que a vossa Justiça para receber almas que se imolem como
vítimas? O vosso Amor Misericordioso não tem ele também necessidade delas?...
Por todas as partes ele é desconhecido, rejeitado; os corações, dentro dos
quais vós quereis derramá-lo prodigamente, voltam-se para as criaturas,
mendigando-lhes a felicidade com a sua mísera afeição, em lugar de se lançarem
nos vossos braços e aceitarem o vosso Amor infinito... Oh! Meu Deus! O vosso
Amor desprezado vai permanecer só no vosso Coração? Acho que se encontrásseis
almas que se oferecessem a vós como Vítimas de holocausto ao vosso Amor,
haveríeis de consumi-las rapidamente, acho que ficaríeis feliz a ponto de não
poderdes absolutamente reprimir as ondas de ternuras infinitas que em vós se
encontram. Se a vossa Justiça gosta de descarregar-se, ela que não se estende a
não ser sobre a terra, quanto mais o vosso Amor Misericordioso está desejoso de
abrasar as almas, visto que a vossa Misericórdia se eleva até os Céus. Oh! Meu
Jesus! Seja eu esta vítima feliz, consumi o vosso holocausto com o fogo do
vosso Divino Amor!».
Minha Mãe querida, vós que me haveis
concedido a licença de assim oferecer-me ao Bom Deus, sabeis dos rios, ou
antes, dos oceanos de graças que vieram inundar a minha alma... Ah! Depois
daquele dia feliz, parece-me que o Amor me penetra e me envolve, parece-me que
a cada instante este Amor Misericordioso me renova, purifica a minha alma e
nela não deixa traço nenhum de pecado de tal modo que não posso ter medo do
purgatório. Sei que por mim mesma não mereceria nem sequer entrar neste lugar
de expiação, visto que somente as almas santas podem ter acesso a ele, mas
também sei que o Fogo do Amor é mais santificador que o do purgatório, sei que
Jesus não pode desejar para nós sofrimentos inúteis e me não inspiraria os
desejos que sinto, se não quisesse realizá-los".
O Ato de Consagração ao Amor
Misericordioso é uma forma diversa, implícita ainda, mas não menos expressiva,
da descoberta do mês de setembro de 1896: "A minha vocação é o Amor".
Aí encontramos, de um lado, os mesmos desejos infinitos; de outro lado, o
reconhecimento da pequenez e da impotência, o ato de se apropriar de todos os
merecimentos de todos os santos do céu e da terra, o ato de esperança em Deus,
que o suscita e lhe dá a segurança de que será atendida. Encontramos aí também
a coexistência da possibilidade da experiência do pecado junto à confiança de
que bastará um só Olhar do Bem-Amado para que seja transformada em Deus.
Podemos repassar brevemente o
itinerário deste Ato. Teresa começa por falar dos seus desejos infinitos, que
não são eliminados pela experiência dos seus limites, mas confirmados pela
certeza de que é o próprio Deus quem os suscitou. Então já não fala mais de
desejos; baseando-se sobre a ação de Deus, ela daí em diante vai falar de
esperança. O amor infinito de Deus não é mais um desejo, mas uma esperança: o
que é uma virtude teologal, sinal da ação de Deus na alma, antes de ser
movimentação da alma para Deus. Da esperança ela passa enfim para o ato de
oferecimento, para a ação, para a expressão de uma vontade que se faz inteiro
acolhimento da vontade de Amor de Deus, vontade que a ela se manifestou:
"«Quero revestir-me de Jesus Cristo», de sua Justiça e de seu Amor. Não
quero nada mais além de vós". E enfim o quer para sempre. É a conclusão do
seu Ato de Oferecimento: "Quero renovar este Oferecimento um número
infinito de vezes", por toda a extensão do tempo e pelo depois do tempo,
pela eternidade. Teresa não quer sair mais deste Amor. É verdade que o Ato,
ainda que repetido, é limitado no tempo e no espaço. Mas o Amor que ele encerra
é eterno; como Oferecimento ao Amor Infinito este Ato é prelúdio e posse da
Eternidade.
2-O
Manuscrito B
Associadas estreitamente a este
"tesouro", duas cartas datadas de 17 de setembro seguinte iluminam o
Manuscrito B. A primeira apresenta a reação maravilhada de Maria diante da
leitura destas páginas, exprimindo a sua alegria, mas também o seu pesar. Do
mesmo dia é a resposta de Teresa.
2.1 A
Carta de introdução
Esta ciência não se encontra nos
livros, encontra-se na sua fonte que é Deus. Somente Jesus comunicou-a à sua
esposa. Esta ciência não se adquire por meio de grandes obras, mas unicamente
pelo abandono e pela gratidão. Está aí a misteriosa escolha da Misericórdia de
Deus, que faz o Coração de Jesus exultar de alegria: "Eu vos bendigo, Pai,
Senhor do céu e da terra, porque escondestes isto aos sábios e entendidos e o
revelastes aos pequeninos" (Mt 11,25//Lc 10,21). É neste desígnio divino
que Teresa reconhece a sua graça: "Porque eu era pequena e fraca, ele se
inclinava sobre mim, instruía-me em segredo sobre coisas do seu amor. Ah! Se os
sábios, tendo passado a vida nos estudos, viessem interrogar-me, sem dúvida
teriam ficado admirados ao ver uma
criança de quatorze
anos compreender os
segredos da perfeição, segredos
que toda a ciência deles não lhes foi capaz de
revelar, pois para possuí-los
é necessário ser pobre de espírito!"
Teresa vai então responder à
pergunta de Maria, concretamente,
falando sobre dois assuntos: o sonho, que Maria já deve conhecer, e a pequena
doutrina, da qual Teresa vivia e que, em particular, comunicava às suas
noviças, há mais de três anos, estando encarregada do acompanhamento delas.
Teresa fala do profundo do seu
coração estabelecido numa calma e paz profundas, apesar das trevas densas que a
rodeiam, às quais faz alusão no início da sua carta: "Não creiais que eu
esteja nadando em consolações, - oh não! - a minha consolação é a de não ter
nenhuma sobre a terra". Sem dúvida, ela usa de expressões que a Maria
poderão parecer exageradas: que Maria não se engane; elas não são exageradas,
exprimem a realidade do Amor infinito, que está nela, Amor infinito como o fogo
do Espírito Santo.
Para melhor se expressar sobre estas
coisas, Teresa não se dirigirá mais a Maria, vai dirigir-se diretamente a Jesus
numa oração ardente. Trata-se de um movimento natural, pois Teresa não vai
fazer um discurso abstrato, vai lembrar a Jesus com gratidão o louco amor, do
qual pela sua parte é ela o objeto, este amor que arde dentro dela: esta
labareda de amor não pode ser nem considerada nem atingida a não ser na oração,
que em Teresa nada mais é do que amor. Não há nenhum outro caminho para se
chegar ao Amor senão o Amor: é para este caminho que Teresa quer arrastar
Maria, sua irmã, e todos nós.
2.2 A
oração de 8 de setembro
Esta passagem do "vós"
para o "tu" é o sinal de que Teresa, mais do que nunca, se sente dona
de si nesta oração. O "vós" era obrigatório segundo o uso da época.
Mas nas suas poesias e nos seus textos mais pessoais, como o bilhete de sua
profissão, é o "tu" que prevalece. De um modo espontâneo Teresa
tratava a Jesus de "tu" na sua oração. O uso de "tu" neste
texto o diferencia claramente dos outros, onde ela sempre usa o
"vós".
É caracterizada pelo amor esta
oração do Manuscrito B, um amor cheio de audácia, um amor que não tem outro
objeto senão a Pessoa de Jesus, pois é dele que ela recebe o amor. "Duma
parte ela sempre pede a Jesus o dom do seu amor, mas ao mesmo tempo este amor é
por ela recebido, por ela possuído, ela o diz muitas vezes apaixonadamente...
Ousa declarar seu amor a todo instante, dizendo a Jesus "Eu te amo",
"Meu Bem-Amado", "Meu único Amor", "Tu a quem amo
unicamente" etc. Este ato de amor, este "Eu te amo" é profundeza
de toda a prece de Teresa".
No seu "Porque te amo, ó
Maria" Teresa dirá as razões do seu amor por Maria. "Na sua oração a
Jesus, a teologia de Teresa vai além: tudo se detém num puro e simples "Eu
te amo", sem que seja necessário descer ao "Porque te amo" nem
ao expor as razões do amor".
2.3 O
sonho
No sorriso e no gesto da Madre Ana
de Jesus há uma superposição teologicamente exata entre o sorriso de Maria e o
sorriso da Igreja do Céu. Nos dias da infância de Teresa, Maria tinha vindo
sorrir-lhe e curou-a da sua misteriosa doença. Nos dias da sua paixão, da sua
noite na provação de uma nova doença associada às tentações contra a fé, a
Igreja do Céu vem sorrir-lhe e encorajá-la na sua caminhada, dando-lhe a
consoladora segurança de que Deus está muito contente com ela.
O Céu, objeto das tenebrosas
tentações contra a fé, ilumina-se de amor. Teresa compreende assim que o amor
dos habitantes do Céu é muito grande, compreende que é amada mais do que
poderia pensar; a revelação
deste amor faz com que o seu coração se derreta de amor. Vem
a conclusão desta primeira parte: "Oh Jesus! A tempestade não trovejava
ainda, o céu estava calmo e sereno... Eu cria, sentia que existe um Céu e que
este Céu está povoado de almas que me querem bem, que olham para mim como sua
filhinha..."
2.4 A
pequena doutrina: Os desejos infinitos
A palavra "infinito",
censurada pelo teólogo, no seu Ato de Consagração ao Amor Misericordioso,
retorna aqui com toda força. No que vem depois Teresa ainda se esforçará por
utilizar outras expressões, como "desejos maiores que o universo";
consideramos como um esforço para exprimir com outras palavras as realidades do
seu coração, que somente a palavra "infinito" podia satisfazer.
O outro termo que Teresa utiliza
para exprimir o caráter extremo destas realidades é a palavra
"loucura", loucura de Teresa e loucura de Jesus: "Ó meu Jesus! a
todas estas minhas loucuras que é que tu vais responder?... Haverá uma alma
menor, mais impotente que a minha!... Contudo, por causa mesmo da minha
fraqueza, tu te comprouveste, Senhor, em realizar os meus desejinhos infantis,
e hoje queres satisfazer a outros desejos maiores do que o universo..." E
mais adiante: "Ó Jesus, deixa-me dizer-te que o teu amor vai até à
loucura..."
"Assim os desejos infinitos de
Teresa, fundamentalmente, não são nada mais do que o multiforme desejo de amar
Jesus totalmente, infinitamente. Nós o vimos, era a oração de Teresa no dia 8
de setembro de 1890, dia da sua Profissão. Seis anos mais tarde, esta louca
oração foi atendida ao pé da letra; para darmos conta disto é preciso
considerar agora a extraordinária descrição que Teresa faz deste desejo de amar
Jesus de todas as maneiras possíveis".
Leiamos agora este texto admirável
que todo mundo conhece: "Ser tua esposa, ó Jesus, ser carmelita, ser pela
minha união contigo, mãe das almas, deveria ser suficiente para mim... não é
assim, porém... Sem dúvida, estes três privilégios bem que são a minha vocação,
Carmelita, Esposa e Mãe, contudo sinto em mim outras vocações, sinto-me a
vocação de Guerreiro, de Padre, de Apóstolo, de Doutor, de Mártir, enfim, sinto
a necessidade, o desejo de executar por ti, Jesus, todas as obras mais
heróicas... Sinto na minha alma a coragem de um Cruzado, de um Zuavo
Pontifício, quereria morrer no campo de batalha pela defesa da Igreja. Sinto em
mim a vocação de Sacerdote: com que amor, ó Jesus, eu te carregaria nas minhas
mãos, quando, à minha voz, tu descesses do Céu. Com que amor dar-te-ia às
almas!... Mas - pobre de mim! - por mais que deseje ser Padre, admiro e invejo
a humildade de São Francisco de Assis e sinto em mim a vocação de imitá-lo,
recusando a sublime dignidade do Sacerdócio.
Oh!
Jesus! Meu amor, minha vida...
como aliar estes contrastes? Como realizar os desejos da minha pobre
pequenina alma? Ah! Apesar da minha pequenez, eu gostaria de iluminar as almas
como os Profetas, os Doutores, tenho a vocação de ser Apóstolo... gostaria de
percorrer a terra, pregar o teu nome e plantar no chão infiel a tua Cruz
gloriosa, mas, ó meu Bem-Amado, uma missão sozinha não me seria suficiente, eu
quereria num mesmo tempo anunciar o Evangelho nas cinco partes do mundo e até
às ilhas mais afastadas. Eu quereria ser missionária não apenas durante alguns
anos, mas quereria tê-lo sido desde a criação do mundo e o ser até à consumação
dos séculos... Mas eu quereria acima de tudo, ó meu Bem-Amado Salvador,
quereria derramar o meu sangue por ti até à última gota... O Martírio, eis o
sonho da minha juventude, sonho que veio crescendo comigo sob os claustros do
Carmelo... Mas ainda
aí eu sinto
que o meu sonho é uma loucura, pois não conseguiria
limitar-me a desejar um gênero único de martírio. Para satisfazer-me precisaria
de todos... Como tu, meu Esposo Adorado, eu quereria ser flagelada e
crucificada. Quereria morrer esfolada como São Bartolomeu. Como São João
(Evangelista) eu quereria ser mergulhada no óleo fervendo, eu quereria sofrer
todos os martírios infligidos aos mártires... Com Santa Inês e Santa Cecília eu
quereria apresentar o meu pescoço à espada e como Joana d' Arc, minha irmã
querida, eu quereria em cima da fogueira murmurar o teu nome, ó Jesus. Ao
imaginar os tormentos que serão a sorte dos cristãos no tempo do Anticristo,
sinto estremecer o meu coração e eu quereria que estes tormentos fossem
reservados para mim... Jesus, Jesus, se eu quisesse escrever todos os meus
desejos, seria necessário tomar emprestado o teu Livro da Vida: nele estão
relatados todos os atos de todos os Santos e estes atos quereria eu tê-los
praticado todos por ti".
"Os desejos infinitos de
Teresa, rigorosamente falando, são impossíveis: como mulher é impossível que
ela seja padre; como carmelita enclausurada, é impossível que ela seja
missionária no exterior. Mas há também uma impossibilidade metafísica naquilo
que ela deseja: é o seu desejo de transcender os limites do espaço e do tempo,
de transcender a distinção entre o um e o múltiplo. Teresa não deveria
contentar-se com um lugarzinho bem pequenino na História da Salvação, no espaço
e no tempo? Estar contente por não ter senão uma parte pequena na santidade de
todos os outros Santos? Desejando ser missionária «nas cinco partes do mundo»
ao mesmo tempo, tê-lo sido «desde a criação do mundo» até «a consumação dos
séculos», Teresa deseja propriamente o infinito tal como se exprime através dos
divinos atributos de imensidão e eternidade. Os seus desejos são literalmente
«maiores do que o universo», posto que abarcam na dimensão de Deus, para lá do
espaço e do tempo, a totalidade do universo, a totalidade do universo da
santidade".
"Ó meu Jesus, que é que vais
responder a todas as minhas loucuras? Haverá uma alma mais pequenina, mais
impotente do que a minha?!...
Contudo, por causa
mesmo da minha
fraqueza te comprouveste, Senhor,
em cumprir os meus desejinhos infantis e queres hoje realizar outros desejos
maiores do que o universo... Durante a minha oração, quando os meus desejos me
faziam sofrer um verdadeiro martírio, abri as epístolas de São Paulo a fim de
procurar alguma resposta. Os Capítulos 12 e 13 da primeira Carta aos Coríntios
caíram debaixo dos meus olhos. Li aí, no primeiro, que não podem todos ser
apóstolos, profetas, doutores etc... que a Igreja se compõe de membros
diferentes e que o olho não poderia ser ao mesmo tempo a mão".
"Se Teresa não tivesse sido
animada pela força do seu amor, ter-se-ia contentado com esta primeira resposta
da fé; a sua busca não teria ido mais longe. Ora o amor a obriga a continuar na
sua busca... A tensão extrema
da busca é
admiravelmente evocada quando Teresa se compara a Maria Madalena na
manhã da Páscoa; Teresa não procura a não ser o próprio Jesus e, nesta primeira
fase da sua procura, nada encontrou ainda a não ser o túmulo vazio. Mas, por
amor, como Madalena, Teresa insiste na sua procura. Assim como Madalena se
inclinava junto ao túmulo, é preciso que Teresa se abaixe totalmente num derradeiro
ato de humildade, que é ato supremo de amor, pois «o Amor, para que seja
plenamente satisfeito, é necessário que se abaixe, que se abaixe até o
nada»".
"A resposta era clara, mas não
satisfazia aos meu desejos, não me dava a paz. Como Madalena, inclinando-se
sempre junto ao túmulo vazio, acabou por encontrar aquele que procurava, assim,
abaixando-me até às profundezas do meu nada, elevei-me tão alto que consegui
alcançar a minha meta... Sem perder a coragem, continuei a minha leitura, e
esta frase me deu alívio: «Procurai ardorosamente os dons mais perfeitos, mas
vou mostrar-vos ainda um caminho mais excelente». E o Apóstolo explica de que
modo todos os dons, mesmo os mais
perfeitos, nada são sem o Amor. Que a Caridade é o caminho excelente que conduz
até Deus com segurança. Enfim havia eu encontrado o repouso...
Contemplando o Corpo Místico da
Igreja, não me reconhecera em nenhum dos membros descritos por São Paulo, ou
antes, pretendi reconhecer-me em todos... A Caridade entregou-me a chave da
minha vocação. Compreendi que, se a Igreja tinha um corpo composto de membros
diferentes, o mais necessário, o mais nobre de todos não lhe faltaria,
compreendi que a Igreja tinha um Coração e que este Coração era ardente de
Amor. Compreendi que somente o Amor fazia agir os membros da Igreja, que se o
Amor viesse a se extinguir, os Apóstolos não anunciariam mais o Evangelho, os
Mártires se recusariam a derramar o seu sangue. Compreendi que o Amor encerrava
todas as Vocações, que o Amor era tudo, que ele abraçava todos os tempos e
todos os lugares... numa palavra, que o Amor é eterno!...
Então, no excesso da minha alegria
delirante exclamei dentro de mim mesma: «Ó Jesus, meu Amor, a minha vocação
encontrei-a enfim, a minha vocação é o Amor!... Sim, encontrei o meu lugar; ó
meu Deus, fostes vós que o destes a mim... no Coração da Igreja, minha Mãe,
serei o amor... assim serei tudo... assim o meu sonho será
realizado!!!...»"
Podemos entender agora a
profundidade desta expressão de Teresa: "A minha Vocação é o Amor!"
Não se trata de um vago sentimento ou de uma atitude de benevolência universal.
Este Amor é a Caridade Teologal, como, aliás, no texto de São Paulo, onde
Teresa foi haurir. Este Amor é o próprio Deus em nosso coração. Este Amor, que
é o próprio Deus em nosso coração, é a vocação de Teresa. É nele que Teresa
pode aspirar ao Infinito, ultrapassar todos os limites para deixar transbordar
o Amor por todos os tempos e por todos os lugares.
2.5 As
duas parábolas da pequenez
A segunda parábola sobre esta
desproporçãao entre aquela imensidão do Amor e a pequenez da criatura humana é
a imagem da avezinha débil, que tem em si os olhos e o coração da águia, mas
não tem as suas asas poderosas. Não consegue impelir o seu vôo até às alturas,
mas os seus olhos e o seu coração nem por isso deixam de permanecer fixos no
Sol Divino. E se por um instante se esquece de exercer o seu "ofício de
amor", pouco depois o retoma e se apressa em contar a sua miséria, pois,
graças ao seu abandono e confiança, acha que pode atrair plenamente o Amor
daquele, que não veio para os justos e sim para os pecadores. A avezinha sabe
que sozinha nunca poderá elevar-se até às regiões das águias, contudo não cessa
de esperar por isso. Apaixonada de um louco amor, encontra o meio de chegar até
lá: "A minha loucura consiste em
suplicar às Águias, minhas irmãs, que me alcancem o favor de voar até o Sol do
Amor com as próprias asas da Águia Divina".
"Detenhamo-nos nesta última
frase: (...) a perfeição do amor que Teresa deseja atingir, a caridade teologal
no seu ponto culminante, não será ela quem vai realizá-la, Teresa vai deixar
agir as próprias asas da Águia Divina, isto é, as forças, o poder, o amor do
próprio Deus. O amor que está em Deus, que é Deus, coloca-se no lugar do amor
de Teresa, toma o seu lugar, ama no seu lugar". Mais tarde Teresa usará de
uma imagem menos poética, a imagem do elevador, para enunciar a mesma
realidade: a poderosa ação de
Deus em nós.
"As duas imagens concordam no essencial: tentam fazer-nos
compreender o que Teresa quer dizer, e que constitui a sua vida: o seu louco
amor por Deus, a caridade que deve ser uma amizade entre ela e Jesus, não é
Teresa quem a gera, é Deus! Para voar rumo ao Sol do Amor, são as asas da Águia
que agem. Teresa não é apenas ajudada; ela, por assim dizer, é substituída,
nada mais faz do que deixar-se levar, ela deixa a grande ave agir em seu lugar.
Para subir a escada, o elevador não faz mais do que ajudar Teresa a subir os
degraus, como outrora pôde fazê-lo a sua mãezinha: o elevador sobe no lugar
dela ou, se o quisermos, ela toma lugar nele.
Em linguagem teológica - se é
permitido traduzir os textos de Teresa para ver neles uma "doutrina"
- pode-se dizer: "Quando a caridade atinge o seu ponto culminante de
perfeição, já não é mais o coração humano que age para amar, é Deus mesmo, e
como é Deus mesmo quem é amado, pode-se concluir que numa alma humana, que
pratica um ato de caridade perfeita, Deus está amando a Deus. A alma então
deixa Deus agir, como se Deus lhe dissesse: «deixa-te agir» ou «deixa-me
agir". O ato de caridade não é mais unicamente um ato criado por Deus
assim como todos os outros nossos atos, é um ato que participa da divina
atividade, é um ato que é Deus quem faz.
Que pode então a alma fazer? O
caminho que permite o amor infinito é o caminho da pequenez. Por isto, "é
preciso que eu permaneça pequena, que me torne pequena cada vez mais",
escreverá Teresa no Manuscrito C. Mas não nos enganemos!... A pequenina via
nada tem de um tranqüilo passeio. "Deixar-se fazer por Deus não se parece
em nada com o «deixar ir» dos preguiçosos. Deixar o lugar todo para Deus numa
vida representa um «trabalho», de que poucos são capazes. O esforço interior,
que se deve fazer para deixar Deus agir, para abandonar-se totalmente em vez de
se enrijecer, muitos sabem que não é fácil. Só o amor, com a fé, pode acabar
com o orgulho. E só um amor grande pode levar a consentir afinal na pequenez.
Teresa um dia confessa: «Não me recordo de lhe ter recusado nada de tudo quanto
ele me pediu»".
A expressão extrema desta pequenez é
o holocausto, a hóstia sacrificada e reduzida ao nada: "Sim, para que o
Amor se satisfaça inteiramente, é necessário que se rebaixe até o nada e que
transforme em fogo este nada". Esta pequenez extrema atrai irresistivelmente
o Coração de Jesus, visto que ela reside em criaturas que se abandonam com
inteira confiança à infinita misericórdia.
Teresa termina estas páginas com uma
derradeira intercessão; solicita a Jesus uma legião de pequeninas almas,
vítimas de amor, com a mesma vocação universal igual à sua. Sendo o Amor a
vocação delas, essas pequeninas almas terão elas também de amar o Coração de
Jesus sedento de Amor. E assim como Teresa, elas podem encher de alegria as
almas do Céu, aliviar o sofrimento das almas do Purgatório e reconfortar no seu
combate as almas da terra.
Entregar-se como vítima de amor é fazer um ato
de perfeito amor, pois é um ato de amor a Deus e de amor ao próximo ao mesmo
tempo, segundo a medida do Coração de Deus, que nos concede desejar e poder pôr
em prática estas diligências sobre o amor. "Suplico-te inclinar os teus
olhos divinos sobre um número enorme de pequeninas almas... Eu te suplico que
escolhas uma legião de pequeninas vítimas dignas do teu AMOR!..."
3. A
objeção da sua irmã Maria e a resposta de Teresa
"Irmãzinha querida, li as
vossas páginas ardentes de amor por Jesus; a vossa madrinhazinha está muito
feliz por ser dona deste tesouro e muito agradecida à sua filhinha querida, que
lhe abriu assim os segredos da sua alma. Oh! Bem que eu teria muito a vos dizer
a respeito destas linhas marcadas com o selo do amor. - Uma palavra
apenas no que
me diz respeito. Como do jovem do
Evangelho, um certo sentimento de tristeza apoderou-se de mim diante dos vossos
desejos extraordinários de martírio. Eis aí bem clara a prova do vosso amor;
sim, vós o possuís, o amor, mas eu! Nunca, de maneira nenhuma; vós não me
fareis crer que eu possa atingir a esta meta desejada. Pois eu temo tudo isto
que vós amais.
Eis que está aí uma boa prova de que
não amo Jesus como vós. Ah! Vós dizeis que não fazeis nada, que sois uma pobre
avezinha mirrada, mas os vossos desejos por que coisa os calculais? O Bom Deus
os olha como obras.
Não posso falar disto convosco mais
prolongadamente: comecei estas palavrinhas esta manhã e não tive um minuto para
terminá-las; são cinco horas. Gostaria muito que dissésseis por escrito a vossa
madrinhazinha se ela pode amar a Jesus como vós. Mas duas palavras somente,
pois o que tenho comigo é bastante para a minha felicidade e meu tormento. Para
minha felicidade, ao ver a que ponto sois amada e privilegiada; para meu
tormento, ao pressentir o desejo que tem Jesus de colher a sua florzinha
querida! Oh! Bem que eu tinha vontade de chorar quando li estas linhas que não
são da terra, mas um eco do Coração de Deus... Quereis que vos diga? Pois bem!
Vós estais possuída pelo Bom Deus, mas possuída como se diz... não
absolutamente como os maus são possuídos pelo vilão. Gostaria muito de ser
possuída eu também pelo Bom Jesus. Mas eu vos amo tanto que me alegro mais do
que tudo vendo-vos mais privilegiada do que eu. Uma pequena palavrinha para a
sua madrinhazinha".
No mesmo dia Teresa responde à sua
irmã. Faz-lhe o convite para ler com mais atenção "a história da sua
avezinha". Esta carta de Teresa é um dos textos mais potentes sobre a
pequenez como pobreza espiritual.
"Minha Irmã querida, não me
sinto embaraçada em vos responder... Como podeis perguntar-me se é possível
amar o Bom Deus como eu o amo?... Se tivésseis compreendido a história da minha
avezinha, vós não me faríeis esta pergunta. Os meus desejos de martírio não são
nada, não são eles que me dão a confiança ilimitada que sinto no meu coração.
São as riquezas espirituais, para dizer a verdade, que fazem alguém injusto,
quando nelas se repousa complacentemente e quando se crê que elas são alguma
coisa de grande... Estes desejos são uma consolação, que Jesus às vezes concede
às almas fracas como a minha (e tais almas são numerosas), mas quando ele não
dá esta consolação é uma graça de privilégio - lembrai-vos destas palavras do
Padre (Pichon): «Os Mártires sofreram com alegria, mas o Rei dos Mártires
sofreu com tristeza». Sim! Jesus disse: «Meu Pai, afastai de mim este cálice!»
Irmã querida, como podeis falar depois disto que os meus desejos são a marca do
meu amor?... Ah! Bem sinto que não é nada disto que na minha alma agrada ao Bom
Deus: o que lhe agrada é me ver amar a minha pequenez e a minha pobreza, é a
esperança cega que deposito na sua misericórdia... Eis aí o meu único tesouro.
Madrinha querida, por que não seria vosso também este tesouro?...
Vós
não estais pronta
a sofrer tudo
quanto o Bom Deus quiser?
Sei bem que
sim: então, se desejais sentir
alguma alegria, ter atração pelo sofrimento, é a vossa consolação que
estais procurando, pois quando se ama alguma coisa o sofrimento desaparece.
Asseguro-vos que se caminhássemos juntas para o martírio com as disposições em
que nos encontramos, vós teríeis um grande merecimento e eu não teria nenhum, a
menos que praza a Jesus mudar as minhas disposições.
Ó minha irmã querida, eu vos rogo
isto: «Compreendei a vossa filhinha, compreendei que para amar Jesus, ser a sua
vítima de amor, quanto mais alguém for fraco, sem desejos nem virtudes, tanto
mais estará preparado para as operações deste Amor Devorador e
Transformante»... Um único desejo de ser vítima basta, mas é preciso consentir
em permanecer sempre pobre e sem forças e aqui está o difícil, pois «O verdadeiro
pobre de espírito onde encontrá-lo? É preciso procurá-lo bem longe», disse o
salmista... Não disse ser preciso procurá-lo entre as grandes almas, mas «bem
longe», quer dizer, na baixeza, no nada... Ah! Fiquemos bem longe de tudo o que
brilha, amemos a nossa pequenez, gostemos de não sentir nada, então seremos
pobres de espírito e Jesus virá buscar-nos: por mais longe que estejamos
transformar-nos-á em chamas de amor... Oh! Como gostaria de poder fazer-vos
compreender o que eu sinto!... É a confiança e nada mais do que a confiança que
nos deve levar até o Amor..."
A resposta de Teresa é de uma
clareza surpreendente. Não é o desejo do Martírio que faz a grandeza do Amor de
Teresa, isto não é senão uma consolação que Jesus concede às almas fracas como
a sua. O que faz ser grande o amor é unicamente o abandono, é a confiança cega
em Jesus e nada mais, é isto que nos leva ao Amor. Por isso os grandes desejos
podem tornar-nos injustos, podem ser um obstáculo, pois próprio do amor é
humilhar-se.
É importante nada ter: quanto mais
formos fracos, sem desejos nem virtudes, tanto mais estaremos preparados para
as operações do Amor. Tenhamos gosto de permanecer pequenos. Jesus virá
buscar-nos e transformar-nos em chamas de amor, por mais distantes que
estejamos. Cheios de confiança, não teremos mais do que expor-nos aos seus
raios benéficos, deixar-nos dourar pelo seu fogo divino, firmes na confiança,
quando não o estamos vendo, quando o sentimos arder e quando em qualquer lugar
nos acontece o mal.
Conclusão
"Morrer de Amor,
eis a minha esperança:
Quando vir quebrados os
laços meus
Será meu Deus a Grande
Recompensa.
Outros bens não quero
possuir,
No seu Amor abrasada
quero estar,
Quero vê-lo, a ele
sempre unir-me.
Eis o meu Céu... Eis o
meu destino:
Viver de
Amor!!!..."
Artigo publicado em Près de la Source Les Grands Carmes en France Bourges
Janvier - Février - Mars 1997 / nº 4
Postado por
Artigos do Frei Petrônio de Miranda
às
11:17
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