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sábado, 22 de junho de 2013

12º Domingo do Tempo Comum - Ano C. Afinal, quem é Jesus para você?

“Jesus Cristo não é apenas doce de coco”. Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita da Ordem do Carmo.


Evangelho de Lucas 9,18-24

A liturgia deste domingo coloca no centro da nossa reflexão a figura de Jesus: quem é Ele e qual o impacto que a sua proposta de vida tem em nós? A Palavra de Deus que nos é proposta impele-nos a descobrir em Jesus o “messias” de Deus, que realiza a libertação dos homens através do amor e do dom da vida; e convida cada “cristão” à identificação com Cristo – isto é, a “tomar a cruz”, a fazer da própria vida um dom generoso aos outros.

O Evangelho confronta-nos com a pergunta de Jesus: “e vós, quem dizeis que Eu sou?” Paralelamente, apresenta o caminho messiânico de Jesus, não como um caminho de glória e de triunfos humanos, mas como um caminho de amor e de cruz. “Conhecer Jesus” é aderir a Ele e segui-l’O nesse caminho de entrega, de doação, de amor total.

ATUALIZAÇÃO

O Evangelho de hoje define a existência cristã como um “tomar a cruz” do amor, da doação, da entrega aos irmãos. Supõe uma existência vivida na simplicidade, no serviço humilde, na generosidade, no esquecimento de si para se fazer dom aos outros. É esse o “caminho” que eu procuro percorrer?

Na sociedade em geral e na Igreja em particular, encontramos muitos cristãos para quem o prestígio, as honras, os postos elevados, os tronos, os títulos são uma espécie de droga de que não prescindem e a que não podem fugir. Frequentemente, servem-se dos carismas e usam as tarefas que lhe são confiadas para se autopromover, gerando conflitos, rivalidades, ciúmes e mal-estar. À luz do “tomar a cruz e seguir Jesus”, que sentido é que isto fará? Como podemos, pessoal e comunitariamente, lidar com estas situações? Podemos tolerá-las – em nós ou nos outros? Como é possível usar bem os talentos que nos são confiados, sem nos deixarmos tentar pelo prestígio, pelo poder, pelas honras? Tem alguma importância, à luz do que Jesus aqui ensina que a Igreja apareça em lugar proeminente nos acontecimentos sociais e mundanos e que exija tratamentos de privilégio?

Quem é Jesus, para nós? É alguém que conhecemos das fórmulas do catecismo ou dos livros de teologia, sobre quem sabemos dizer coisas que aprendemos nos livros? Ou é alguém que está no centro da nossa existência, cujo “caminho” tem um real impacto no nosso dia a dia, cuja vida circula em nós e nos transforma com quem dialogamos com quem nos identificamos e a quem amamos?

É na oração que eu procuro perceber a vontade de Deus e encontrar o caminho do amor e do dom da vida? Nos momentos das decisões importantes da minha vida, sinto a necessidade de dialogar com Deus e de escutar o que Ele tem para me dizer?


 
A PALAVRA DO FREI PETRNÔNIO

SALMO RESPONSORIAL. Salmo 62 (63)

“A minha alma tem sede de Vós, meu Deus”.

 Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita da Ordem do Carmo, São Paulo. E-mail: missaodomgabriel@bol.com.br. Twitter: www.twitter.com/freipetronio  Facebook:  www.facebook.com/freipetronio2. Site: www.olharjornalistico.com.br Blog: www.mensagensdofreipetroniodemiranda.blogspot.com Youtube: www.youtube.com/olharjornalistico

 Neste 12º do Tempo Comum nós queremos rezar com o salmista: “A minha alma tem sede de Vós, meu Deus”. Sim, a nossa alma tem sede de um Deus que ouviu o clamor do povo e desceu para salvá-lo. Ele protegeu os famintos e desvalidos ao longo da história da salvação. Este Deus se encarnou no seio da Virgem Maria, nasceu no relento, cresceu na família pobre de Nazaré, sem nome ou prestígio, anunciou a Boa Nova, foi condenados, crucificado e morto em uma cruz, e no terceiro dia acrescentou uma nova página na história da salvação vencendo a morte.  
Sim, é este mesmo Deus que hoje nos interroga, joga-nos contra a parede e nos faz perceber à luz dos fatos e acontecimentos bíblicos que o seu olhar sempre esteve voltado para aqueles e aquelas que padeciam. Impossível confessar o seu nome e esquecer o lado negro, sofrido e corrompido dos milhares de seres humanos no esgoto social da discriminação, da fome, das prisões e dos porões da miséria étnica, sexual ou política.
Sim, este nosso Deus nos impulsiona para uma adesão radical na transformação das pessoas. Impossível confessar o seu nome e abandonar a sua compaixão, o seu sorriso acolhedor, o seu coração bondoso, o seu olhar sincero e a sua palavra amiga para todos que o procuravam.
O Jesus que nos interroga hoje é aquele da prostitua Madalena, do pecador Zaqueu, do teimoso Pedro, do traidor Judas, do soldado romano, do indeciso jovem rico, das crianças simples, do bom ladrão, das santas mulheres junto ao túmulo, dos amedrontados discípulos de Emaús, dos apóstolos tristes do cenáculo e da primeira comunidade fervorosa na oração, na fraternidade e na partilha dos bens.
O Jesus que nos interroga hoje não o conhecemos em grandes obras teológicas, nas tradicionais doutrinas, nas grandes reflexões ou nos luxuosos templos. Não, o Jesus de hoje e o Deus do Salmo de Meditação caminha nas vidas sem vida, nos sonhos interrompidos, no olhar triste das crianças passando fome, nos jovens protestando nas ruas, nas comunidades clamando por dignidade, ética e justiça social.
Meu caro. Você encontrou Jesus ou um passatempo? Você encontrou Jesus um alívio para a sua consciência? Você encontrou Jesus ou um suco de maracujá. Lembre-se, Jesus Cristo não é apenas um doce de coco. Ele também é jiló.  Você quer encontrá-lo?

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 356. O Grito da Favela.

Nota da CNBB: "Ouvir o clamor que vem das ruas"

Os bispos manifestam "solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas, que têm levado às ruas gente de todas as idades, sobretudo os jovens". A presidência da CNBB apresentou a Nota em entrevista coletiva e o documento foi aprovado na reunião do Conselho Permanente concluída na manhã desta sexta-feira, 21 de junho.
Leia a Nota:
Ouvir o clamor que vem das ruas
Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunidos em Brasília de 19 a 21 de junho, declaramos nossa solidariedade e apoio às manifestações, desde que pacíficas, que têm levado às ruas gente de todas as idades, sobretudo os jovens. Trata-se de um fenômeno que envolve o povo brasileiro e o desperta para uma nova consciência. Requerem atenção e discernimento a fim de que se identifiquem seus valores e limites, sempre em vista à construção da sociedade justa e fraterna que almejamos.
Nascidas de maneira livre e espontânea a partir das redes sociais, as mobilizações questionam a todos nós e atestam que não é possível mais viver num país com tanta desigualdade. Sustentam-se na justa e necessária reivindicação de políticas públicas para todos. Gritam contra a corrupção, a impunidade e a falta de transparência na gestão pública. Denunciam a violência contra a juventude. São, ao mesmo tempo, testemunho de que a solução dos problemas por que passa o povo brasileiro só será possível com participação de todos. Fazem, assim, renascer a esperança quando gritam: “O Gigante acordou!”
Numa sociedade em que as pessoas têm o seu direito negado sobre a condução da própria vida, a presença do povo nas ruas testemunha que é na prática de valores como a solidariedade e o serviço gratuito ao outro que encontramos o sentido do existir. A indiferença e o conformismo levam as pessoas, especialmente os jovens, a desistirem da vida e se constituem em obstáculo à transformação das estruturas que ferem de morte a dignidade humana. As manifestações destes dias mostram que os brasileiros não estão dormindo em “berço esplêndido”.
O direito democrático a manifestações como estas deve ser sempre garantido pelo Estado. De todos espera-se o respeito à paz e à ordem. Nada justifica a violência, a destruição do patrimônio público e privado, o desrespeito e a agressão a pessoas e instituições, o cerceamento à liberdade de ir e vir, de pensar e agir diferente, que devem ser repudiados com veemência. Quando isso ocorre, negam-se os valores inerentes às manifestações, instalando-se uma incoerência corrosiva que leva ao descrédito.
Sejam estas manifestações fortalecimento da participação popular nos destinos de nosso país e prenúncio de novos tempos para todos. Que o clamor do povo seja ouvido!
Sobre todos invocamos a proteção de Nossa Senhora Aparecida e a bênção de Deus, que é justo e santo.

Brasília, 21 de junho de 2013
Cardeal Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís
Vice-presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB

‘Cura Gay’


Jardel Santana

          Hoje (18/06), infelizmente (ou será felizmente?) foi aprovado na Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, o projeto popularmente conhecido como "Cura Gay”, o qual visa sustar dois trechos da resolução 001/99 do Conselho Federal de Psicologia (CFP). O primeiro afirma que "os psicólogos não colaborarão com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades" e o segundo determina que "os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica".
          Confesso que fiquei surpreso, não com a aprovação em si, pois isso já era esperado, considerando que a CDHM é composta, majoritariamente, por fundamentalistas religiosos. O que me deixou surpreso foi a votação ter ocorrido hoje, após as manifestações de ontem (17/06).
           Sinceramente, até gostei da notícia (algumas pessoas pensarão que sou favorável à "Cura Gay”, não sou! Mesmo porque não há cura para o que não é doença). Gostei, pois somente assim o projeto sai da CDHM (comissão que já há alguns meses deixou de representar verdadeiramente os Direitos Humanos e as Minorias) e, portanto, poderemos pressionar para que não passe nas demais comissões (Seguridade Social e Constituição e Justiça) e muito menos no plenário.
           Outro ponto positivo que percebo na aprovação, é o fato de que agora o presidente da CDHM, provavelmente, não estará tanto na mídia, quanto vinha estando (é óbvio que devemos esperar algumas estratégias dele e é por isso que agora devemos lutar ainda mais para sua saída da CDHM). Ele colocar o projeto em pauta e em cima da hora retirar, como vinha fazendo, era estratégia para chamar atenção, estratégia que foi ficando desgastada, tanto que para ele voltar a ter visibilidade, usou de artimanhas regimentais irregulares para colocar a matéria em discussão, conforme afirmou um dos deputados da CDHM. Exemplo de que essa era uma estratégia de Feliciano para manter-se na mídia, é a afirmação do deputado Simplício Araújo (PPS-MA), o qual afirmou que "Esse projeto é eleitoreiro, não atinge o clamor das multidões que tomam as ruas".
       Fazendo alusão a um texto publicado aqui no Miraculoso (http://www.miraculoso.com.br/brasil/378-agradeco-pelo-aumento), espero futuramente agradecer a aprovação do projeto na CDHM. Espero que com essa aprovação, assim como ocorreu com o aumento da passagem em São Paulo e que desencadeou uma onda de protestos país afora, as entidades de Direitos Humanos e de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTTT) se mobilizem ainda mais, não apenas virtualmente e nem protestando somente na porta do Plenário da CDHM, mas que intensifiquem ainda mais os atos/protestos, principalmente nas ruas, que voltemos a nos mobilizar nacionalmente contra o fundamentalismo religioso, nas ruas e nas praças.
Fonte: http://www.adital.com.br/

A pedagogia do medo na formação dos padres

José Lisboa Moreira de Oliveira

          O que vou narrar inicialmente não aconteceu na Idade Média e nem na primeira metade do século passado, antes da realização do Concílio Vaticano II. Aconteceu há poucas semanas atrás, em pleno século XXI, no ano da graça do Senhor de 2013.

Um seminarista, meu conhecido, pediu-me para ser seu amigo no Facebook. Como eu o conhecia, não tive problemas para adicioná-lo. Desde então comecei a receber mensagens dele. Logo notei a pobreza de tais mensagens ou, pior dizendo, o monte de baboseiras que era postado porele, que dizia estar cursando o segundo ano de teologia. Comecei, então, a fazer alguns comentários ao que ele postava. Na última postagem o seminarista colocou uma charge com a qual justificava a necessidade(notem bem o vocábulo!) do uso da batina. Na charge um padre, estando num lugar, sem batina, vestido como o comum dos mortais, recebia uma bela cantada de uma mulher.

Percebendo o absurdo, fiz um comentário no qual chamava a atenção para algumas coisas. Antes de tudo a presença da pedagogia do medo da mulher. Dizia para o seminarista que esse medo denotava insegurança vocacional e de identidade. Em segundo lugar, mostrava que tal posição estava carregada de preconceito contra a mulher, vista como a sedutora, aquela que induz ao "pecado da carne”. Além disso, mostrei-lhe que, pela minha experiência de mais de quarenta anos de convivência direta com os eclesiásticos, nem sempre é a mulher que seduz o padre. Na maioria absoluta dos casos são padres, afetivamente carentes e psicologicamente despreparados, os sedutores das mulheres. São constantes, ainda hoje, os casos de padres que engravidam mulheres e que, inclusive, as forçam a praticar o aborto. Na Itália existe uma ONG que cuida de filhos abandonados de padres. Por fim, lembrava ao ilustre seminarista queencontrei em vários seminários casos escabrosos que aconteciam na calada da noite, apesar do uso frequente da batina. Casos de pedofilia, de casais "estáveis” de seminaristas homossexuais, os quais eram defensores ferrenhos do celibato e do uso da batina até para dormir. Concluía, então, meu comentário dizendo que a batina, por si só, não funciona, se faltar ao seminarista e ao padre aquela maturidade psico-afetiva-sexual da qual tanto falam os documentos da Igreja sobre a formação dos presbíteros. O resultado do meu comentário você já deve ter deduzido: o seminarista me excluiu da sua lista de amigos no Facebook.

O caso me fez refletir sobre o que estaria acontecendo com a formação dos padres. O que leva um seminarista do segundo ano de teologia a ter uma visão tão desequilibrada e tão medrosa do celibato? E não tive alternativa a não ser me convencer, mais uma vez, de que a maioria absoluta dos seminaristas não está sendo preparada para encarar o celibato com naturalidade. E isso por uma simples razão: a maioria absoluta deles não é portadora desse dom do Espírito. Fingem tê-lo e os formadores e bispos, mais preocupados com a quantidade do que com a qualidade, continuam fazendo de conta que não estão vendo nada. Insistem em manter a lei obrigatória do celibato, mas se recusam a afastar do ministério presbiteral todos aqueles que não são portadores desse carisma. Toda opção tem consequências sérias. E a principal consequência séria da opção da hierarquia pelo celibato obrigatório é, sem dúvida alguma, a exclusão (esta é a palavra exata), através de um bom discernimento, de todos aqueles que não possuem este dom. E tal exclusão precisa ser realizada antes de tudo para o bem dos próprios seminaristas e depois para o bem da Igreja.

E ao dizer que estou convencido de que a maioria dos seminaristas não possui o dom do celibato, estou falando a partir de experiências concretas. Várias vezes, em diversos momentos e lugares, numa simples conversa, aberta e franca, aquela do tipo "olho no olho”, isso ficou muito claro para mim. Eles não conseguem esconder seus disfarces. É claro que os seminaristas não são culpados disso. A responsabilidade é da hierarquia da Igreja que insiste em fazer de conta que tudo vai muito bem; uma hierarquia que não é capaz de ler os sinais dos tempos e repensar a questão do celibato obrigatório.

De tudo isso, podemos deduzir duas consequências. A primeira é de termos padres distantes das pessoas; padres que colocam barreiras, como a batina, para não se aproximarem do povo e para que o povo não se aproxime deles. Padres que, diferentemente de Jesus, não se misturam com as pessoas, não assumem "em tudo a condição humana” (Hb 4,15). Padres incapazes de compaixão e de misericórdia porque não vivem como vive o povo, especialmente como vivem aquelas pessoas prostradas e abatidas, sem consolação, sem esperança, sem vida e para as quais eles deveriam ter um carinho especial (Mt 9,36). Por mais que se esforcem, estarão sempre distantes, uma vez que não há como ser próximo quando se usa de artimanhas para "passar adiante, pelo outro lado” (Lc 10,31-32), longe de quem está caído. Enquanto o Concílio Vaticano II pedia aos padres para mergulharem profundamente na vida do povo, convivendo com todas as pessoas (PO,6), a formação dada nos seminários, verdadeiros "redomas de vidro”, distancia o pastor das ovelhas.

A outra consequência grave é a constatação de uma profunda fragilidade desses futuros padres. A necessidade de usar escudos de proteção, como a batina, revela uma personalidade doente, imatura, carente e psicologicamente enfraquecida. Não se trata de pensar nos padres como super-heróis, mas de ajudá-los a serem, o quanto possível, pessoas normais, sem grandes amarras e humanamente acessíveis. Como podem padres assim ser sinais sacramentais do Cristo Pastor se são incapazes de "dar a vida” (Jo 10,11) pelas pessoas? Porque o dar a vida não se reduz ao martírio, mas implica um gastar-se, um consumir-se pela humanidade (Mc 6,31). E só é possível doar-se totalmente quando não se possui nenhum tipo de "reserva”, nenhum tipo de amarra, nenhum tipo de medo da outra pessoa (Mc 2,15-17).

Estudos sérios afirmam que o homem sempre teve medo da mulher inclusive do ponto de vista sexual. Giacomo Dacquino em sua obra Viver o prazer (Paulinas, 1992) chama a atenção para este aspecto, lembrando que esse medo se exasperou nas últimas décadas em razão da progressiva emancipação da mulher. Dacquino lembra que medos cultivados em relação à mulher podem revelar que o homem não superou o complexo de Édipo, mantendo certo vínculo edípico com a mãe e rejeitando a heterossexualidade, ou seja, qualquer relação ou aproximação afetiva com as outras mulheres (pp. 147-150).

O Concílio Vaticano II, no documento sobre a vida e o ministério dos presbíteros, afirmou que a missão do padre é ajudar as pessoas a conseguirem a maturidade cristã. Diz, sem meios-termos, que de nada adiantam cerimônias bonitas, "rebanhões”, procissões, curas, movimentos eclesiais florescentes se os cristãos e as cristãs não atingem a maturidade na fé. E para realizar essa tarefa os padres devem acolher todas as pessoas: jovens, casais, famílias etc. (PO, 6). O documento conciliar sobre a formação dos padres chega a dizer que para cumprirem fielmente essa missão os seminaristas devem ser educados sobre o valor e a dignidade do casamento e sobre o que significa realmente a renúncia ao matrimônio, a qual não é renúncia ao amor (OT, 10).

Causa, pois, enorme espanto que, cinquenta anos depois, ainda se dê uma formação que estimula o medo e o cultivo de barreiras na relação dos padres com as pessoas. Nico Dal Molin, em seu belíssimo livro sobre o amadurecimento psicoafetivo, intitulado Itinerário para o Amor (Paulinas, 1996), afirma que o amor maduro tem a coragem de derrubar barreiras, uma vez que as barreiras impedem a transparência e distorcem o modo de viver o amor (pp. 144-162). O amor, como sabemos, é o distintivo por excelência do discípulo e da discípula de Jesus (Jo 13,34-35). E "no amor não existe medo; pelo contrário o amor perfeito lança fora o medo, porque o medo supõe castigo. Por conseguinte, quem sente medo ainda não está realizado no amor” (1Jo 4,18). Tenho pena das comunidades que irão receber esses futuros padres, modelados na "fôrma”da lei do temor e não educados na pedagogia do amor.

domingo, 16 de junho de 2013

11º- DOMINGO DO TEMPO COMUM. ANO-C: Violência Policial em São Paulo.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 353. 11º Domingo do Tempo Comum.

11º Domingo do Tempo Comum. Ano- C.

A liturgia deste domingo apresenta-nos um Deus de bondade e de misericórdia, que detesta o pecado, mas ama o pecador; por isso, Ele multiplica “a fundo perdido” a oferta da salvação. Da descoberta de um Deus assim, brota o amor e a vontade de vivermos uma vida nova, integrados na sua família.

A primeira leitura apresenta-nos, através da história do pecador David, um Deus que não pactua com o pecado; mas que também não abandona esse pecador que reconhece a sua falta e aceita o dom da misericórdia.

Na segunda leitura, Paulo garante-nos que a salvação é um dom gratuito que Deus oferece, não uma conquista humana. Para ter acesso a esse dom, não é fundamental cumprir ritos e viver na observância escrupulosa das leis; mas é preciso aderir a Jesus e identificar-se com o Cristo do amor e da entrega: é isso que conduz à vida plena.

O Evangelho coloca diante dos nossos olhos a figura de uma “mulher da cidade que era pecadora” e que vem chorar aos pés de Jesus. Lucas dá a entender que o amor da mulher resulta de haver experimentado a misericórdia de Deus. O dom gratuito do perdão gera amor e vida nova. Deus sabe isso; é por isso que age assim.

EVANGELHO – Lc 7,36 – 8,3

MENSAGEM

           A personagem central é a mulher a quem Lucas apresenta como “uma mulher da cidade que era pecadora”. Não há qualquer indicação acerca de anteriores contactos entre Jesus e esta mulher, embora possamos supor que a mulher já se tinha encontrado com Jesus e tinha percebido n’Ele uma atitude diferente dos mestres da época, sempre preocupados em evitar os pecadores notórios e em condená-los.

A ação da mulher (o choro, as lágrimas derramadas sobre os pés de Jesus, o enxugar os pés com os cabelos, o beijar os pés e ungi-los com perfume) é descrita como uma resposta de gratidão, como consequência do perdão recebido (vers. 47). A parábola que Jesus conta, a este propósito (vers. 41-42), parece significar não que o perdão resulta do muito amor manifestado pela mulher, mas que o muito amor da mulher é o resultado da atitude de misericórdia de Jesus: o amor manifestado pela mulher nasce de um coração agradecido de alguém que não se sentiu excluído nem marginalizado, mas que, nos gestos de Jesus, tomou consciência da bondade e da misericórdia de Deus.

A outra figura central deste episódio é Simão, o fariseu. Ele representa aqueles zelosos defensores da Lei que evitavam qualquer contato com os pecadores e que achavam que o próprio Deus não podia acolher nem deixar-Se tocar pelos transgressores notórios da Lei e da moral. Jesus procura fazê-lo entender que só a lógica de Deus – uma lógica de amor e de misericórdia – pode gerar o amor e, portanto, a conversão e a vida nova. Jesus empenha-se em mostrar a Simão que não é marginalizando e segregando que se pode obter uma nova atitude do pecador; mas que é amando e acolhendo que se pode transformar os corações e despertar neles o amor: essa é a perspectiva de Deus. O perdão não se dá a troco de amor, mas dá-se, simplesmente, sem esperar nada em troca. A reação de Jesus não é um caso isolado, mas resulta da missão de que Ele se sente investido por Deus – atitude que Ele procurará manifestar em tantas situações semelhantes: dizer aos proscritos, aos moralmente fracassados, que Deus não os condena nem marginaliza, mas vem ao seu encontro para libertá-los, para dar-lhes dignidade, para os convocar para o banquete escatológico do Reino. É esta atitude de Deus que gera o amor e a vontade de começar vida nova, inserida na lógica do Reino.

O texto que nos é proposto termina com uma referência ao grupo que acompanha Jesus: os Doze e algumas mulheres. O facto de o “mestre” Se fazer acompanhar por mulheres (Lucas é o único evangelista que refere a incorporação de mulheres no grupo itinerante dos discípulos) era algo insólito, numa sociedade em que a mulher desempenhava um papel social e religioso marginal. No entanto, manifesta a lógica de Deus que não exclui ninguém, mas integra todos – sem excepção – na comunidade do Reino. As mulheres – grupo com um estatuto de subalternidade, cujos direitos sociais e religiosos eram limitados pela organização social da época – também são integradas nessa comunidade de irmãos que é a comunidade do Reino: Deus não exclui nem marginaliza ninguém, mas a todos chama a fazer parte da sua família.

 ATUALIZAÇÃO

 Considerar, na reflexão, as seguintes questões:

 1º-Em primeiro lugar, o nosso texto põe em relevo a atitude de Deus, que ama sempre (mesmo antes da conversão e do arrependimento) e que não Se sente conspurcado por ser tocado pelos pecadores e pelos marginais. É o Deus da bondade e da misericórdia, que ama todos como filhos e que a todos convida a integrar o seu família. É esse Deus que temos de propor aos nossos irmãos e que, de forma especial, temos de apresentar àqueles que a sociedade trata como marginais.

 2º- A figura de Simão, o fariseu, representa aqueles que, instalados nas suas certezas e numa prática religiosa feita de ritos e obrigações bem definidos e rigorosamente cumpridos, se acham em regra com Deus e com os outros. Consideram-se no direito de exigir de Deus a salvação e desprezam aqueles que não cumprem escrupulosamente as regras e que não têm comportamentos social e religiosamente correctos. É possível que nenhum de nós se identifique totalmente com esta figura; mas, não teremos, de quando em quando, “tiques” de orgulho e de auto-suficiência que nos levam a considerar-nos mais ou menos “perfeitos” e a desprezar aqueles que nos parecem pecadores, imperfeitos, marginais?

 3º- A exclusão e a marginalização não geram vida nova; só o amor e a misericórdia interpelam o coração e provocam uma resposta de amor. Frequentemente fala-se, entre nós, no agravamento das penas previstas para quem infringe as regras sociais, como se estivesse aí a solução mágica para a mudança de comportamentos… A lógica de Deus garante-nos que só o amor e a misericórdia conduzem à vida nova.

4º- Na linha do que a Palavra de Deus nos propõe hoje, como tratar esses excluídos, que todos os dias batem à porta da “fortaleza Europa” à procura de condições mínimas para viver com dignidade? E os moralmente fracassados, que testemunho de amor e de misericórdia encontram nas nossas comunidades?

 5º- Ultimamente, fala-se muito do papel e do estatuto das mulheres na comunidade cristã. Este texto diz-nos que, ao contrário do que era costume na época, as mulheres faziam parte do grupo de Jesus. Que significa isso: que elas devem ter acesso aos ministérios na comunidade cristã? Seja qual for a resposta, o que é importante é que não façamos disto uma luta pelo poder, ou uma reivindicação de direitos, mas uma questão de amor e de serviço.

 ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 11º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(Em parte adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

 1- ABERTURA DA CELEBRAÇÃO.

 A força dos textos deste domingo merece que nos preparemos desde o início da celebração para bem os acolher. Podemos realçar a palavra do salmo, mesmo antes do início do cântico de entrada: “perdoai, Senhor, minha culpa e meu pecado”. A fim de nos colocarmos em atitude de ser perdoados, um tempo de silêncio permitirá tomar consciência disso antes de serem proclamadas as primeiras palavras da saudação inicial: “a graça de Nosso Senhor…” O rito penitencial pode ser introduzido pelas palavras do salmo: “Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de iniquidade e em cujo espírito não há engano”.

 2- BILHETE DE EVANGELHO.

 O fariseu que recebe Jesus à mesa pára o seu olhar sobre o que se vê: uma pecadora introduziu-se na sua casa; para ele, ela não é senão uma pecadora. Quanto a Jesus, lança o seu olhar sobre a mulher procurando ver, através do seu comportamento, tudo o que se passa no seu coração: se ela chora, é porque é infeliz e lamenta o seu passado; se ela molha com as suas lágrimas e limpa com os seus cabelos os pés de Jesus, se ela os beija e sobre eles derrama perfume precioso, é para manifestar o seu grande amor. Não é preciso mais nada para Jesus: Ele perdoa, não porque ela pecou muito, mas porque amou muito, mesmo se ela amou mal; sobretudo, é a sua fé que a salva. Ela faz a experiência do Amor louco de Deus que perdoa, experiência que o fariseu ainda não fez. Porque o fariseu e os convidados se ficam pelas aparências, encerram a mulher no passado. Porque Jesus olha para além das aparências, abre-se à mulher um futuro diferente, e ela parte em paz.

 3- À ESCUTA DA PALAVRA.

 Espantoso encontro na casa de Simão! O fariseu queria, sem dúvida, ver de mais perto este jovem rabino que dizia vir da parte de Deus. Falava bem, irradiava bondade. Porém… Tudo se desmorona! Eis que Jesus Se presta a uma cena no mínimo chocante, mesmo escabrosa. Esta mulher que se aproxima d’Ele é conhecida por ser da má vida, uma pecadora. Os seus gestos, ambíguos, dizem o que ela é. Mas o escândalo vem, sobretudo, da falta de reacção de Jesus. Simão pensava ter convidado um homem de Deus. E eis que está diante dele um homem como todos os outros, talvez mesmo um futuro “cliente” da mulher. Se ao menos Jesus tivesse retirado os seus pés, se tivesse protestado, colocado a mulher no seu devido lugar! Mas não! Segundo a Lei, deixar-se tocar por uma mulher impura tornava-o cúmplice do seu pecado. O paradoxo é grande! Cremos que Jesus é o Filho de Deus feito homem, totalmente santo, sem qualquer pecado.

Também para nós, a cena é incompreensível: de um lado, a pureza, a presença mesmo do Deus três vezes santo, o fogo ardente do seu amor; do outro, a impureza, o pecado, a água suja das nossas misérias. Como vai terminar este encontro? Jesus vai cumprir uma divina alquimia. Jesus dá a esta mulher um amor que transfigura os seus gestos ambíguos. Faz deste encontro uma ocasião para manifestar a maneira de agir de Deus para com os pecadores. Jesus não aprova o seu pecado. Mas acolhe esta mulher tal como ela é. Aceita o que ela é capaz de Lhe dar. Se Ele a tivesse afastado, tê-la-ia encerrado no seu pecado. Deixando-a fazer, quer fazer-lhe compreender que não quer tomá-la para Si, como os outros homens que ela encontrava. Dá-lhe um amor que ela nunca tinha recebido, um amor gratuito, para a fazer nascer ela própria. Ele transforma a água suja dos seus pecados em fonte purificadora, transfigurada pelo fogo do amor divino. Porque a pecadora recebeu um perdão infinito e gratuito, pôde, por sua vez, mostrar um grande amor, e nascer para a vida. É isso que Jesus nos convida a viver quando vamos até Ele!

4- PALAVRA PARA O CAMINHO.

A página do Evangelho deste domingo pode facilmente dar lugar a uma partilha. Porque não aproveitar para visitar uma pessoa um pouco isolada no seu sofrimento, e propor-lhe para falar à volta deste Evangelho? Isso poderia ajudá-la a se sentir amada e a “ir em paz”.

5- VIVER AS ATITUDES DO CORAÇÃO DE JESUS.

Estamos no mês do Coração de Jesus, cuja Solenidade celebrámos na passada sexta-feira. Podemos acolher a Palavra deste domingo sob essa luz, tentando descobrir as atitudes bem presentes no Coração de Jesus: pensar nas atitudes que recebemos do Coração de Jesus, tão presentes na liturgia da Palavra deste domingo: Amor, Misericórdia, Perdão, Bondade… (cada um pode continuar a lista); rezar essas atitudes em ambiente de adoração e vivê-las sempre com empenho, em particular ao longo deste mês. Mãos à obra! Continuação de fecundo mês do Coração de Jesus!
Fonte: http://www.dehonianos.org/