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sábado, 28 de dezembro de 2013

MISSA DO GALO: Taboão da Serra/SP-04.

MISSA DO GALO: Taboão da Serra/SP-04.

A PALAVRA... Nº 503. Festa da Sagrada Família.

PE. WELITON: Festa da Sagrada Família.

Sínodo dos Bispos sobre a Família

III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família
Tema: "Os desafios da família no contexto da evangelização".
Data: Outubro de 2014. Local: Roma.

O Vaticano enviou às dioceses do mundo o documento preparatório da III Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Família, com o título "Os desafios da família no contexto da evangelização", convocada pelo Papa Francisco para outubro de 2014. As respostas devem ser devolvidas até o final de janeiro do próximo ano.

Questionário do Sínodo
As seguintes perguntas permitem às Igrejas particulares participar ativamente na preparação do Sínodo Extraordinário, que tem a finalidade de anunciar o Evangelho nos atuais desafios pastorais a respeito da família.

1 - Sobre a difusão da Sagrada Escritura e do Magistério da Igreja a propósito da família
a) Qual é o conhecimento real dos ensinamentos da Bíblia, da Gaudium et Spes, da Familiaris Consortio e de outros documentos do Magistério pós-conciliar sobre o valor da família segundo a Igreja católica? Como os nossos fiéis são formados para a vida familiar, em conformidade com o ensinamento da Igreja?
b) Onde é conhecido, o ensinamento da Igreja é aceite integralmente. Verificam-se dificuldades na hora de o pôr em prática? Se sim, quais?
c) Como o ensinamento da Igreja é difundido no contexto dos programas pastorais nos planos nacional, diocesano e paroquial? Que tipo de catequese sobre a família é promovida?
d) Em que medida – e em particular sob que aspectos – este ensinamento é realmente conhecido, aceite, rejeitado e/ou criticado nos ambientes extra-eclesiais? Quais são os fatores culturais que impedem a plena aceitação do ensinamento da Igreja sobre a família?

2 - Sobre o matrimônio segundo a lei natural
a) Que lugar ocupa o conceito de lei natural na cultura civil, quer nos planos institucional, educativo e acadêmico, quer a nível popular? Que visões da antropologia estão subjacentes a este debate sobre o fundamento natural da família?
b) O conceito de lei natural em relação à união entre o homem e a mulher é geralmente aceite, enquanto tal, por parte dos batizados?
c) Como é contestada, na prática e na teoria, a lei natural sobre a união entre o homem e a mulher, em vista da formação de uma família? Como é proposta e aprofundada nos organismos civis e eclesiais?
d) Quando a celebração do matrimônio é pedida por batizados não praticantes, ou que se declaram não-crentes, como enfrentar os desafios pastorais que disto derivam?

3 - A pastoral da família no contexto da evangelização
a) Quais foram as experiências que surgiram nas últimas décadas em ordem à preparação para o matrimônio? Como se procurou estimular a tarefa de evangelização dos esposos e da família? De que modo promover a consciência da família como “Igreja doméstica”?
b) Conseguiu-se propor estilos de oração em família, capazes de resistir à complexidade da vida e da cultural contemporânea?
c) Na atual situação de crise entre as gerações, como as famílias cristãs souberam realizar a própria vocação de transmissão da fé?
d) De que modo as Igrejas locais e os movimentos de espiritualidade familiar souberam criar percursos exemplares?
e) Qual é a contribuição específica que casais e famílias conseguiram oferecer, em ordem à difusão de uma visão integral do casal e da família cristã, hoje credível?
f) Que atenção pastoral a Igreja mostrou para sustentar o caminho dos casais em formação e dos casais em crise?

4 – Sobre a pastoral para enfrentar algumas situações matrimoniais difíceis
a) A convivência ad experimentum é uma realidade pastoral relevante na Igreja particular? Em que percentagem se poderia calculá-la numericamente?
b) Existem uniões livres de fato, sem o reconhecimento religioso nem civil? Dispõem-se de dados estatísticos confiáveis?

c) Os separados e os divorciados recasados constituem uma realidade pastoral relevante na Igreja particular? Em que percentagem se poderia calculá-los numericamente? Como se enfrenta esta realidade, através de programas pastorais adequados?
d) Em todos estes casos: como vivem os batizados a sua irregularidade? Estão conscientes da mesma? Simplesmente manifestam indiferença? Sentem-se marginalizados e vivem com sofrimento a impossibilidade de receber os sacramentos?
e) Quais são os pedidos que as pessoas separadas e divorciadas dirigem à Igreja, a propósito dos sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação? Entre as pessoas que se encontram em tais situações, quantas pedem estes sacramentos?
f) A simplificação da praxe canônica em ordem ao reconhecimento da declaração de nulidade do vínculo matrimonial poderia oferecer uma contribuição positiva real para a solução das problemáticas das pessoas interessadas? Se sim, de que forma?
g) Existe uma pastoral para ir ao encontro destes casos? Como se realiza esta atividade pastoral? Existem programas a este propósito, nos planos nacional e diocesano? Como a misericórdia de Deus é anunciada a separados e divorciados recasados e como se põe em prática a ajuda da Igreja para o seu caminho de fé?

5 - Sobre as uniões de pessoas do mesmo sexo
a) Existe no vosso país uma lei civil de reconhecimento das uniões de pessoas do mesmo sexo, equiparadas de alguma forma ao matrimônio?
b) Qual é a atitude das Igrejas particulares e locais, quer diante do Estado civil promotor de uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, quer perante as pessoas envolvidas neste tipo de união?
c) Que atenção pastoral é possível prestar às pessoas que escolheram viver em conformidade com este tipo de união?
d) No caso de uniões de pessoas do mesmo sexo que adotaram crianças, como é necessário comportar-se pastoralmente, em vista da transmissão da fé?
6 - Sobre a educação dos filhos no contexto das situações de matrimônios irregulares
a) Qual é nestes casos a proporção aproximativa de crianças e adolescentes, em relação às crianças nascidas e educadas em famílias regularmente constituídas?
b) Com que atitude os pais se dirigem à Igreja? O que pedem? Somente os sacramentos, ou inclusive a catequese e o ensinamento da religião em geral?
c) Como as Igrejas particulares vão ao encontro da necessidade dos pais destas crianças, de oferecer uma educação cristã aos próprios filhos?
d) Como se realiza a prática sacramental em tais casos: a preparação, a administração do sacramento e o acompanhamento?

7 - Sobre a abertura dos esposos à vida
a) Qual é o conhecimento real que os cristãos têm da doutrina da Humanae Vitae a respeito da paternidade responsável? Que consciência têm da avaliação moral dos diferentes métodos de regulação dos nascimentos? Que aprofundamentos poderiam ser sugeridos a respeito desta matéria, sob o ponto de vista pastoral?
b) Esta doutrina moral é aceite? Quais são os aspectos mais problemáticos que tornam difícil a sua aceitação para a grande maioria dos casais?
c) Que métodos naturais são promovidos por parte das Igrejas particulares, para ajudar os cônjuges a pôr em prática a doutrina da Humanae Vitae?
d) Qual é a experiência relativa a este tema na prática do sacramento da penitência e na participação na Eucaristia?

e) Quais são, a este propósito, os contrastes que se salientam entre a doutrina da Igreja e a educação civil?
f) Como promover uma mentalidade mais aberta à natalidade? Como favorecer o aumento dos nascimentos?

8 - Sobre a relação entre a família e a pessoa
a) Jesus Cristo revela o mistério e a vocação do homem: a família é um lugar privilegiado para que isto aconteça?
b) Que situações críticas da família no mundo contemporâneo podem tornar-se um obstáculo para o encontro da pessoa com Cristo?
c) Em que medida as crises de fé, pelas quais as pessoas podem atravessar, incidem sobre a vida familiar?

9 - Outros desafios e propostas
a)Existem outros desafios e propostas a respeito dos temas abordados neste questionário, sentidos como urgentes ou úteis por parte dos destinatários?

Para onde enviar as respostas:
O questionário respondido pode ser enviado para os seguintes endereços:

Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB
SE/Sul Quadra 801 Conjunto “B”
70.200-014
BRASÍLIA – DF

Nunciatura Apostólica no Brasil
SES Avenida das Nações quadra 801 lote 1
CEP: 70.401-900 - Brasília / DF
Caixa Postal 153 CEP: 70.359-970
E-mail: nunapost@solar.com.br

Secretaria da Diocese
O questionário com as respostas também pode ser entregue na secretaria de sua diocese.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

OLHAR O PASSADO COM OS PÉS NO PRESENTE: FREI SILVÉRIO E O BEATO FREI TITO BRANDSMA

Jornalista com diploma, Frei Silvério (Foto), demonstrou sempre admiração pelo Beato Tito Brandsma, Jornalista Mártir; o artigo que vamos ler foi escrito em março de 1960.  E Imprensa vem sempre com maiúscula.

ATUALIDADE DE UM EXEMPLO
Frei Silvério de Lucena Ruas, Convento do Carmo, Belo Horizonte-MG. 1960.

"Amei aqueles que foram tão fortes e tão iluminados que pareciam criar ao seu redor um mundo novo". (Alain Fournier)
                                                        
            Avaliar alguém? Nada mais difícil! Os elementos apresentados, às vezes, são tão aparentes, inúmeras as contingências de errar que julgamentos precipitados são inevitáveis. Conhecer seu caráter, analisá-lo nas suas diversas facetas, estimar seus propósitos, aquilatar suas ações é algo que exige estudo profundo e prudência esmerada. Mais ingrata é a tarefa quando falta o original, quando se apresenta apenas o retrato (e onde encontrar um retrato fiel?), quando minguados são os testemunhos.
            Tais considerações nos surgem à mente ao trazer a lume a figura de Frei Tito Brandsma. Apenas pálidos reflexos de sua pessoa chegam até nós. Sabemos somente que "é um pedaço de homem magricela", sob cuja capa aparece o carmelita autêntico, o professor cativante, o poeta inspirado, o autor fecundo, o jornalista combativo, o prisioneiro de Dachau...
            Eis Tito Brandsma! Conhecimento tão superficial será suficiente para traçar-lhe o perfil? Indubitável que não! Algo, contudo, não requer maiores pormenores: apresentá-lo como exemplo. E isto limitado a um ângulo especial. Pode não ser o mais característico; não é, por certo, o mais sublime; desconhecer, porém, seu interesse atual é desprezar a realidade. O jornalista em Frei Tito merece ser focalizado. A importância da Imprensa (e mormente na sua forma mais difundida de jornalismo) é fato inegável e exemplos no seu exercício são indispensáveis. Alguns esclarecimento tirarão as dúvidas.
                         * * *
            Veículo das ideias, numa época em que elas medram, crescem avolumam-se de maneira vertiginosa, desponta a Imprensa como uma das conquistas vanguardeiras do progresso humanos. Meio aliciante atinge todas as camadas sociais. É o pão cotidiano de pobres e ricos. Sua influência é geral, sua penetração ostensiva.
            A Igreja, Tesoureira da Verdade, não pode deixar de acompanhar-lhe os passos. Não menospreza seu valor como não ignora os males que pode causar e o bem que pode promover. Eco de tal solicitude são as inúmeras advertências oriundas da Cátedra de Pedro. Citar documentos seria supérfluo. Basta reviver a figura saudosa de Pio XII. Não era este um dos pontos mais visados em seu pontificado no turbilhão de problemas que sua visão ampla descortinava? Patentear a importância da Imprensa, determinar os deveres do jornalista, indicar-lhes como bússola a Verdade, eram ítens constantemente agitados. E justamente por compreender seu papel preponderante na época presente estava compenetrado de sua necessidade para o Apostolado da Igreja. De fato nada mais eficaz... para promover uma ação intensa entre os fiéis, transmitir-lhes a doutrina da Igreja, alertar os espíritos contra as idéias insidiosas dos inimigos da verdade, evitar torne-se o homem semelhante a "caniços agitados pelo vento"... Esclarecer, alimentar, elevar os espíritos e os corações, eis a honra e a glória da Imprensa católica!
            Diante de tão nobre missão como não admirar os apóstolos abnegados da pena no seu labutar cotidiano para melhor servir à causa de Cristo? Como não apresentá-los como modelos nestes tempos tormentosos? Pio XII está aí a nos incitar: "Voltemos o nosso pensamento para tantos homens grandes, honra e glória do jornalismo e da Imprensa católica nos tempos modernos. Há mais de um século eles se erguem diante de nós como modelos de atividade espiritual; mais ainda: de suas fileiras têm saído verdadeiros mártires da boa causa, confessores valentes entre as dificuldades espirituais e temporais da existência. Abençoada seja a sua memória"!
            Frei Tito não pode ser esquecido. Nas suas veias corria sangue de jornalista e tal aptidão ele desenvolveu para defender os princípios cristãos. Não lhe era empecilho a sua debilidade física: uma vontade tenaz supria esta deficiência. Não lhe era contrário seu ideal carmelitano: no carmelita contemplação e ação formam uma simbiose de resultados fecundos. Não lhe eram óbices outras atividades: era antes fruto sazonado das mesmas.        Jornalista militante e adestrado conhecia a eficácia da arma que empunhava. E quando mais premente se lhe tornou o manejo, o jornalismo no incansável frade apareceu em toda a sua fortaleza: 1940. Holanda submergia no caos da ocupação nazista. Frei Tito, Assistente dos jornalistas católicos... A senda que ele trilhou nestes tempos seria digna de uma epopéia com a ressalva de que o fantástico ali não se imiscuíra, a realidade se apresentava nua e crua. Seguir-lhe os passos não é nosso intento. Mostrar-lhe o denodo seria supérfluo. Queremos apontar apenas um exemplo, o exemplo do jornalista católico que, em última análise, se reduz a esta fórmula lapidar e apostólica: "Non póssumus!" ("Não podemos!)
            Contra as idéias anticristãs do nacional-socialismo, frente às ardilosas manobras dos subvertedores da ordem, diante da coação imposta aos jornalistas católicos, o "Non póssumus" do pequeno monge é o sinal de alerta onde o silêncio é uma deserção: "Não, meus amigos, não podemos mais ceder. Já chegamos ao limite". Reflexo de tal atitude é a corajosa declaração dos bispos holandeses na carta de 16 de janeiro de 1942: nada de colaboração com os nazistas, é a ordem emanada das autoridades eclesiásticas.
            O "Non póssumus" de Frei Tito triunfara. Esta locução mágica, proferida pelos apóstolos e de que a Igreja jamais abdicou... invocada sempre com o mesmo timbre diante de imperadores, reis, governos, ideologias perniciosas... plasmadora de heróis e prenúncio do martírio ... o humilde carmelita sustentara e as conseqüências decorreram numa lógica implacável.
            Há um nexo íntimo, profundo entre este "Non póssumus" e Dachau, entre a intrepidez do frade jornalista e o Calvário. O defensor da Imprensa católica na Holanda não se intimidou ante a cruz. Morreu o homem, mas o exemplo permanece vivo nos nossos tempos. Abençoada seja a sua memória!
                         * * *
            No desencadeamento dos males que pesam sobre a humanidade erguem-se os espíritos e lançam-se à iniciativa: construir um Mundo Novo, eis a meta dos seus objetivos. É o ideal que acalentam os fortes quando se vêem envolvidos na catástrofe que cai sobre o seu "pequenino mundo". Idéia peculiar de tal fenômeno dá-nos P.H. Simon no seu dramático livro, "Os Homens não querem morrer": Expulsos do seu "pequenino mundo" da Iugoslávia, reduzidos à miséria, corações despedaçados, acantoam-se num pedaço de terra da Alemanha, esta mesma Alemanha que chorava sobre as ruínas de um sonho falaz. Unidos, enlaçados pelo mesmo ideal, esquecidos das rixas pessoais e ideológicas lutam todos para edificar um mundo novo que compensasse aquele que perderam. E fica-nos na memória a confissão de um destes entusiastas ao indicar a causa dos insucessos inevitáveis: "Não temos santos entre nós..."
            Construir um Mundo Novo... e nada mais necessário para tanto do que homens devotados a Deus, homens de oração. São almas cuja coragem incute estímulo aos que se deixam arrastar pela caudal do desânimo. São corações que pulsam para o alto e convidam os outros a elevar-se: "Sursum corda!".
            A pequenina Holanda, quando se viu amordaçada na sua liberdade, diante o esboroamento de seu "pequenino mundo", encontrou em Tito Brandsma o homem providencial, o exemplo de vigor na luta contra os grilhões que a  acorrentavam.
            Não se confina, porém, à pequena nação o seu exemplo. Tais exemplos de fortaleza e destemor são universais: destinam-se a todos e são postos à imitação de todos. Sob a égide da Igreja esta universalidade atinge o máximo grau: nela há uma estreita união, uma solidariedade íntima entre seus membros que os faz pairar acima dos limites estreitos de uma nação e os coloca num âmbito internacional.
            É sob este prisma que o exemplo de Frei Tito se apresenta. Ainda mais numa época em que profunda é a aversão contra os cerceadores dos direitos essenciais da pessoa humana, contra o jugo totalitário dos acorrentadores da liberdade. E foi justamente contra este jugo que os seus esforços se dirigiram em sua Pátria. E aí o jornalista, na sua pessoa, desempenhou um papel preponderante que o transforma num exemplo, exemplo de uma necessidade incontestável para um intuito por muitos proclamado, mas que só a Igreja possui os meios de realizá-lo: construir um Mundo Novo, aspiração cujo significado surge espontâneo - "Instaurare omnia in Christo" (Em Cristo renovar o Universo inteiro).

MISSA DO GALO: Taboão da Serra/SP-03.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

NÃO PROMETA: Mensagem de Natal e Ano Novo.

NÃO PROMETA: Mensagem de Natal e Ano Novo.

4º DOMINGO DO ADVENTO. ANO-A: Homilia do Frei Petrônio

Coerência na Ordem Terceira

Frei Pedro Caxito, 0. Carm. In Memoriam

Não pareça estranha a denominação escolhida para lição moral desta Santa. Ver-se-ha que exprime comuníssima conduta de quem quer que se aliste, bem intencionado, num sodalício religioso.
Convidado ou não, todo aquele que ingressa numa Ordem Terceira, só o faz por um ato livre de sua vontade no pleno gozo de plena liberdade. Além disso, é lhe dado um ano de noviciado, durante o qual verificará quais as obrigações inerentes a esse passo, e si lhe é possível cumpri-las integralmente.
Assim sendo, segue-se naturalmente que prevarica quem, após essas provas, se conduz em desacordo com o sim que deu ao respectivo Padre-Comissário que o recebeu e o investiu do hábito de terceiro.
Não se alegue que, sobrevindo uma impossibilidade material qualquer, esta ou aquela dispensa é concedida, de um ou vários deveres.
Essa dispensa prova o contrário. Esse caso, ocorrendo por circunstâncias imperiosas e acatáveis, e imprevistamente surdindo, reclama o aplicar-se uma exceção que não derroga a regra geral, antes a confirma, como todas as exceções.
E tenha-se bem em vista que tais dispensas são, de ordinário em troca de condições que constituem a comutação, isto é, a comutação que representa o suprimento por onde uma ordem estabelecida nada sofre na sua integridade.
Isto posto, evidencia-se a importância da coerência na Ordem Terceira, e que virtude seja. Coerência é harmonia entre o dito e o ato. Si os atos não se harmonizam com o que se disse, solenemente e aos pés de um altar, que se estava resolvido a fazer, incorre-se numa prevaricação.
Nada existe, justificando ou contestando a pretensão de terceiro que se arrogue o direito de aceitar uns, e rejeitar outros, dos deveres que assumiu ao professar; e ao mesmo tempo pretendendo ter os mesmos direitos, e todos, os que são concedidos ao terceiros, cuja conduta seja de inteira coerência com a sua qualidade de terciário.
A única hipótese que o explicaria, não justificando nem contestando, contudo, fora ausência de humildade.
Ora, esta, nem ao católico, de nome apenas, é lícito valer-se dela, porquanto, a tal respeito, já nos desenganou o Divino Mestre, quando nos avisou de que não entrará no reino dos céus quem não se fizer pequenino, qual a criança que, na hora daquele grave ensinamento, ao nosso Redentor, serviu de pretexto àquela lição de indispensável humildade. E esse episódio não nos vem à mente, sem que logo nos acuda o, não menos grave, que o nosso amado Salvador ilustrou no tocante ao escândalo. É que escândalo causa, irmão ou irmã-terceira, no meio dos seus pares, destoando deles no cumprimento de deveres que a todos compete total e igualmente praticar.
E quanto maior a sua posição social e a sua cultura, tanto mais séria a responsabilidade de que terá de prestar contas a Deus, desse escândalo.
Encarados os deveres para com uma Ordem Terceira, à luz deste raciocínio, que supomos inatacável, estamos certos de que se reputará virtude digna de apreço a coerência na Ordem Terceira, e nunca se considerará impertinência ou demasia uma determinação ou advertência de seus superiores relativa ao bom frutuoso e exemplar desempenho desses deveres.

A PALAVRA... Nº 499. A Espiritualidade do Natal.

NOITE DE NATAL: Convite.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

OLHAR O PASSADO COM OS PÉS NO PRESENTE: O VENERÁVEL PADRE MIGUEL DE LA FUENTE O. CARM.

(Os dados que seguem foram colhidos em dois livros do Pe.Balbino Velasco Bayón O.Carm.: "MIGUEL DE LA FUENTE O. CARM. (1573-1625) - ensayo critico sobre su vida e su obra" - (Roma  1970), e um resumo deste: "VIDA DEL VENERABLE P.MIGUEL DE LA FUENTE" (Valdelaguna  1990). Consultamos também "LAS TRES VIDAS DEL HOMBRE" do próprio Pe.Miguel - Ediciones Carmelitanas - Madri  1959, edição do Pe.Garrido O.Carm.)

VALDELAGUNA
            Miguel de la Fuente nasceu na Espanha, a uns 50km de Madri, em Valdelaguna, apenas um pequeno povoado, que na sua tranqüilidade vivia da agricultura e da criação dos seus rebanhos. Como ainda, hoje os seus   habitantes eram gente simples,mas católicos sinceros, fervorosos, capazes de transmitir fé e fibra e bons exemplos.
            Assim foram os seus pais, Francisco de la Fuente e Da.Catarina Fernández, de quem nasceu no dia 2 de março de 1573. Francisco foi alcaide e corregedor. Alguém testemunhou: "Foram os seus pais mui servos de Deus e, em particular, Francisco de la Fuente era de tanta virtude e tão humilde que levava carne às viúvas e pobres caridosamente e defendia pobres e viúvas com grande caridade, porque a sua caridade era notável".
            Cinco, ao menos, foram os irmãos de Miguel, e o mais velho, chamado João, foi carmelita como Miguel bem mais tarde. A sua infância e adolescência foram felizes na sua pobreza; como os meninos da sua idade já freqüentava a escola,ajudava à missa e gostava mesmo de ensinar a doutrina aos mais pequenos.

MADRI
            Aos 15 ou 16 anos foi a Madri, para estudar Gramática no Colégio dos Jesuítas que, além de lhe ensinar gramática, latim e castelhano, composição e declamação, cultivaram principalmente a sua fé e piedade e estimularam a sua devoção maior para com Maria, Mãe de Deus, convidando-o a entrar para a Congregação Mariana e dedicar-se ao apostolado entre os jovens como bom congregado de Nossa Senhora. Haveria isto de ajudá-lo muito, mais tarde.

VALDEMORO
            Depois de terminar os estudos em Madri, Miguel pediu a sua entrada para os Carmelitas de Valdemoro, onde vivia já o seu irmão João; era um convento, que "estava em estritíssima observância, contínua oração e coro    dia e noite"
            Ótima foi a sua formação carmelita, de acordo com a Regra de Santo Alberto de Jerusalém e o Livro da "Instituição dos Primeiros Monges", bases da espiritualidade do Carmelo e auxílio inestimável para Miguel na continuidade da vida ascética e mística e na sua Pastoral de escritor e diretor de almas. Fez a Profissão Religiosa no dia 29 de março de 1594 dentro dos seus 21 anos de idade.

          
SALAMANCA
            De Valdemoro foi enviado para Salamanca e na Universidade fez os seus estudos de Artes e Teologia. O convento era de boa e rigorosa observância. Teve ótimos mestres, entre os quais o carmelita Bartolomeu Sánchez, catedrático de Lógica Maior, e o dominicano famoso, Domingos Báñez. Em casa estudava os autores da Ordem. Mas o ambiente universitário não contribuiu muito para o seu progresso espiritual, pelo menos por aqueles dias; como aluno, porém, foi muito aplicado, pois tornou-se excelente e bem aproveitado. No curso de 1597-1598, matriculou-se já como "presbítero-teólogo".

VALLADOLID e ÁVILA
            Aos 28 anos de idade encontra-se no convento de Valladolid como mestre dos estudantes e passante (encarregado de repetir e "passar" as lições aos mais jovens). Com os mesmos encargos foi transferido para Ávila em 1603, e se a ciência o havia inchado, Deus aí se encarregou de murchá-la de uma maneira bem simples: seria um sermão muito esperado pelo povo e muito bem preparado de acordo com todas as exigências e regras da retórica; mais ainda, em louvor de Nossa Senhora. Mas perdeu o fio e foi perdendo as cores e... Triste e abatido retirou-se para a sua cela. Com a humildade recuperou o fervor antigo; agora é outro ou o mesmo de antigamente. Quer ser carmelita, quer ser apóstolo dos mais pobres e discriminados.

SÃO PAULO DE LA MORALEJA E SEGÓVIA
            Em São Paulo, no primeiro convento carmelita de Castela, recebe a obrigação de ser pároco de um pobre e pequeno povoado, onde rememora e reaprende as lições de simplicidade e humildade do seu Valdelaguna.
            Em Segóvia já é a pastoral entre os noviços, os congregados e... entre as prostitutas, que depois viverá em Toledo plenamente. Toledo será o campo escolhido por Deus para o seu apostolado desde 1609 até à morte.

TOLEDO
a) apostolado entre meretrizes         
            Toledo, cidade mourisca, de muitas mulheres lindas e muitos homens de muita pouca-vergonha. Comovia-se Frei Miguel com tanta perdição. Já não lhe faltava mais o fio aos seus sermões e freqüentemente mulheres das zonas  vinham procurá-lo arrependidas e se convertiam. Diz o seu biógrafo que a sua audácia e atrevimento foram incríveis: se elas não vinham, lá ia ele para o lugar do trabalho delas, à procura das suas ovelhas desgarradas. A natureza não o fez bonito e as penitências e jejuns, disciplinas e mortificações da carne, que lhe haviam tirado o pouco, que restava de beleza, o ajudavam; mais ainda, a oração, a graça e a confiança na Virgem. Isto, porém, não deixou de lhe custar muitas calúnias e injúrias, muito espancamento e maus tratos por parte de amantes ciumentos... e talvez a própria canonização. Não esmoreceu, porque os frutos e a consolação vinham vindo e elas também; com dificuldades no início; e eram recolhidas nas moradas das beatas do Carmo que, a princípio renitentes, com ele procuravam para elas trabalho honroso, sustento, animação e até mesmo entrada para a vida religiosa. Escutem o testemunho de uma delas: "Por ter esta testemunha na sua fraqueza e pouca idade caído na miséria de estar na casa pública, este Servo de Deus, vendo-a tão criança, que seria coisa de 15 anos, disse-lhe com muito amor que fosse vê-lo no Carmo". Com muito custo ela foi e ele lhe deu a absolvição e a consolou, dando lhe apenas uma penitência pequena em honra de Nossa Senhora do Bom Parto, que as mais pesadas ele faria por ela. Esta chamava-se Antônia da Penha e depois se fez freira de clausura com o nome de Teresa de Jesus.
            O cozinheiro do convento, o sacristão das clarissas, já certamente mais idosos, mas um tanto envergonhados, todos deviam ajudá-lo: eram exigências do Amor.

b) entre os noviços e almas piedosas
            O nosso Convento de Toledo bem conhecido de São João da Cruz - ao menos numa parte - estava num ponto muito bonito, ás margens do Tejo, e era habitado por uns 60 religiosos. Frei Miguel foi logo encarregado da formação dos noviços: rigoroso consigo, foi muito compreensivo com os seus jovens, que o amavam e nele confiavam. Dizia um: "Só com três dias de práticas, que fazia e mandava, todos se achavam tão contentes por prosseguir naquela vida espiritual, que claramente se reconhecia o dom de magistério, que ele tinha de Deus". Isto não impedia que fosse firme nos princípios e nas exigências. Foi por dez anos formador das gerações dos excelentes religiosos carmelitas do século XVII.
            Pessoas ansiosas por uma vida espiritual mais profunda o procuravam: padres, religiosas de clausura, recolhidas e beatas. A Bem-Aventurada Maria de Jesus, carmelita descalça chamada por Santa Teresa de Jesus "meu letradinho", foi dirigida por ele. É dela este testemunho do ano de 1631:  "Havia como dez anos, pouco mais ou menos, que de ouvido teve notícias do grande padre Frei Miguel de la Fuente da Ordem de Nossa Senhora do Carmo, que tinha tanta fama de santidade e virtude que desejava dirigir-se com ele. Veio a este convento, onde teve com ele direção e pareceu-lhe, após a direção, que era maior a sua virtude e perfeição do que o povo lhe atribuía (...)". Daí em diante grande amizade e afeto os uniram, como desde o Divino Mestre aconteceu muitas vezes na história da Igreja, entre irmãos ou não, quando mulheres santas ansiavam também pelo alimento do coração: São Pedro e Maria, mãe de João Marcos, a empregada Rosa e a viúva Talita; São Paulo e tantas santas mulheres por ele lembradas nas suas cartas: Lídia, Prisca ou Priscila, Síntique, Evódia, Lóide, Eunice, Febe, Júnia, Júlia, Cláudia, Trifosa e Trifena; o diácono São Filipe e as quatro filhas virgens; Santo Antão e sua irmã; São Pacômio e Maria, sua irmã; Santa Macrina, a jovem, com a mãe Santa Amélia e os três irmãos, São Basílio, São Gregório de Nissa e São Pedro de Sebaste: Macrina (quer dizer Grandinha) ficou nos pés deles até se fazerem monges; São Cesário de Arles e a sua irmã Santa Cesária; o poeta Venâncio Fortunato e a rainha Santa Radegundes; Rufino e Santa Melânia, a antiga; o bispo Donato, monge de São Columbano e a própria mãe, Santa Flávia; Santo Ambrósio e sua irmã, Santa Marcelina; São Jerônimo e a santa mulher Paula com as filhas santas virgens Leta e Eustóquia; Santo Agostinho e Santa Perpétua, sua irmã; São Bento com a mãe de leite e a irmã, Santa Escolástica; São Francisco de Assis e Santa Clara; São Domingos, a Beata Joana de Aza, sua mãe e a irmã, que lhe deu três filhos para a Ordem, e ainda as irmãs do Mosteiro de Prula (Tolosa) e do Convento de Santa Sabina (Roma); o Beato João Soreth e a Beata Francisca de Ambósia, duquesa da Bretanha; Beato João Batista da Conceição e Madre Francisca Romero; São João da Cruz e Santa Teresa de Jesus; São Francisco de Sales e Santa Joana Francisca de Chantal; São Vicente e Santa Luísa de Marillac Le Gras; o Ven. Miguel de Santo Agostinho e a Ven. Maria de Santa Teresa Petit; São João Bosco e Santa Domingas Mazzarello; o Pe.Lourenço e Madre Crucifixa; e só Deus sabe quantos outros pares santos Ele uniu no amor a Jesus Crucificado e à Igreja, a Esposa, que o seu Filho veio conquistar, purificar e redimir, banhando-a com o batismo da água e da palavra.


            Voltando ao nosso Pe.Miguel de la Fuente, é interessante observar que ele, como São João da Cruz, gostava de mandar bilhetes e apontamentos aos seus dirigidos, padres ou religiosas e até mesmo convertidas, animando a todos, ensinando-os a rezar e suprindo assim a sua ausência.

c) no meio rural - Confrarias do Carmo
            Foi um apostolado gratificante para o seu espírito e para o seu coração amante dos pobres e simples, mas pesado para o seu corpo fraco e sem saúde. Foi dispensado do seu ofício de Mestre de Noviços, mas não se dispensou deste apostolado nos "Montes de Toledo", isto é, no meio da população campestre. Os meios empregados, além da oração e costumeiras penitências pessoais, foram a pregação dos mistérios da Paixão e Morte do Senhor e das verdades fundamentais da nossa fé, assim como a Consagração a Nossa Senhora por meio do santo escapulário. Semeou de Confrarias do Carmo o chão das províncias de Toledo, Madri, Badajoz e Cidade Real.
            Ele que sempre procurou reconhecer as exigências dos homens do campo, respeitando os seus horários e as situações melhores para eles, caminhando de choupana e choupana, escolheu a devoção do escapulário, por ser mais simples e compreensível e de prática acessível: amor à Mãe de Deus e uso da sua veste por amor. Para as Confrarias escreveu o "Compêndio historial de Nossa Senhora do Carmo" e procurou um estilo bem claro para afastar qualquer tipo de superstição: o que é preciso é fuga do pecado, para não padecer o fogo eterno, correspondência aos merecimentos da Sagrada Vida, Paixão e Morte do Redentor, às dores, lágrimas e intercessão da Virgem, Mãe do Nosso Deus e Senhor Jesus Cristo e ao valor dos sacramentos, das indulgências e da tão confortadora Comunhão dos Santos. O Sábado do Céu é o Descanso Eterno do Senhor Deus e abraça qualquer dia das semanas desta nossa terra: com o seu carinho de mãe Maria há de conseguir que lá, quanto antes, mergulhem todos depois da morte.
            Não lhe faltaram injúrias de pessoas maldosas nem injúrias do tempo: "grandes calores e sóis", "tempo mui terrível de águas e frios", e "neves" e "chuva sem parar durante noites inteiras", noites sem dormir e dias sem comer; perdas pelos caminhos, "caminhos ásperos e compridos", queda dos cavalos, pousadas e vendas superdesconfortáveis e brincadeiras bobas de bêbedos. E sede. Muita sede até! Este é o universitário de Salamanca... sedento da salvação dos pobres camponeses a distancias da grande cidade.

c) Terceiros e Beatas Carmelitas
            Preocupando-se com as Confrarias do Escapulário, Pe.Miguel preocupou-se também com as Ordens Terceiras e a instituição das Beatas Carmelitas: tudo o que puxasse para perto de Nossa Senhora do Carmo. Digamos assim: muitíssimos beatérios e ordens terceiras foram fundados por ele. Clérigos, leigos, mulheres e homens pediam o hábito de terceiros carmelitas. Fala-se de 400 a 500 numa cidade e de 600 em outra. Como a estas pessoas se pedia um vida mais dedicada à oração e vida espiritual, Pe.Miguel as acompanhava de perto ou de longe, pessoalmente ou com a ajuda de outros sacerdotes;  compôs para elas um livro, que chamou de "Regra e modo de vida dos Irmãos Terceiros e Beatas de Nossa Senhora do Carmo" e um complemento deste com o nome de "Exercícios de Oração Mental".
            Explica-lhes como concordam e como diferem as várias maneiras de ser carmelitas: frades, freiras, terceiros e beatas, além dos simples leigos e confrades. Freiras e frades fazem os três votos de castidade, pobreza e obediência; as beatas, principalmente virgens e solteiras, fazem os dois votos de castidade e obediência, e os terceiros, casados ou não, professam castidade segundo o seu estado, de acordo com o 6º mandamento e até podem fazer o voto sob conselho do confessor. Insiste sobre a freqüência dos sacramentos, jejum e abstinência, oração mental e prática de mortificações voluntárias, caridade para com os irmãos, principalmente os doentes e os defuntos, e recolhimento: de maneira especial, por parte do sexo feminino.
            Porque deve cada carmelita "meditar dia e noite na lei do Senhor", ele apresenta um "Exercício para durante o dia" e outro "Exercício para durante a noite". Insiste sobre as aspirações de amor e até compôs, como era moda, um ABC para suscitá-las:

                         Amor imenso, abrasa-me no teu fogo.
                         Bem meu, penetra minhas entranhas.
                         Concede-me morrer por te amar.
                         Desnuda-me de todo amor terreno.
                         Embriaga minha alma com tua graça.
                         Força de amor, transforma-me em ti.
                         Gozo inefável, sejas gozo em mim.
                         Hás de ferir-me com teu amor, Amado meu.
                         Inflama-me de modo a todo me abrasares.
                         Juntos fiquemos num vínculo indissolúvel.
                         Lança-me a força do teu amor, que todo me abrase.
                         Minha alma, absorta em ti, esqueça-se de si.
                         Nada mais quero senão amar-te.
                         Oh! Se intimamente a ti tu me unisses!
                         Penetra-me com um amor suave.
                         Quisera amar-te sem nem um pouco cessar.
                         Recolhe-me, ó meu Bem, nestes teus braços.
                         Sol divino, ilumina-me e eu te enxergarei.
                         Transforma-me em ti agora e descansarei.
                         Une-me a ti com laços de amor.
                         Vivo ou morto todo teu serei.
                         Zelo meu será amar-te e não viver.

d) Congregação de Nossa Senhora do Carmo
            Vimos como na juventude, entre seus 15 ou 16 anos até os 21, Miguel de la Fuente inscreveu-se na Congregação Mariana do Colégio dos Jesuítas de Madri e freqüentou-a com muito amor e fidelidade. Agora que é Carmelita todo de Maria e Diretor espiritual muito procurado, funda a sua Congregação de Nossa Senhora do Carmo, certamente inspirado pela outra. Para a sua escreve um pequeno livro: "Ordenanças e modo de se governarem os irmãos da Congregação de Nossa Senhora do Carmo". Os seus primeiros congregados eram da Confraria e eram, portanto, um grau entre terceiros e confrades. A sua insistência recaía sobre a freqüência aos sacramentos, a devoção a Nossa Senhora, ao seu escapulário e aos mistérios da Paixão principalmente, para melhor se conformarem com o Cristo sofredor. A cada congregado se desse no Domingo de Ramos um ramo e um ramalhete espiritual com um passo da Paixão para ser recordado e meditado durante o ano e ajudar a viver o propósito de não ofender o Senhor. Um padre, o Pe. Moya, "se enternecia", ao ver 500 homens de todos os estados e condições, "desde o mais principal e ilustre de cidade", que baixavam ao Convento do Carmo com frio, vento e chuva para assistirem à meditação e aos exercícios mensais de penitência.
            Miguel se cuidou da ascese, cuidou também da maior de todas as asceses, os exercícios da caridade: "atenção aos doentes, aos presos nas cadeias e qualquer outra prática de assistência social". "O intento desta santa Congregação é que se exercitem os irmãos em obras de misericórdia". Os seus congregados muito tiveram de ajudá-lo no apostolado entre as meretrizes. Era norma, que lhes deu o Padre, "de noite levar e recolher aos hospitais ou às próprias casas os pobres que, por não terem onde, iam dormir nos cemitérios ou ruínas e outras partes". E foi assim que o Pe. Miguel muito contribuiu para reforma dos costumes no seu século e futuros.

ESCRITOR E MÍSTICO
            Pe. Miguel provou quanto o Senhor é suave e tudo o que realizou foi com a intenção de fazer com que todos também o experimentassem e por estradas angustiosas e ásperas caminhassem até chegarem à união íntima com Deus, se assim Ele fosse servido. Todos?! Eram todos, que ele desejava conduzir, como vimos, desde as mulheres necessitadas de amor até as mais ansiosas pelo Divino Amor.
            Por isso falou e escreveu. Já foram citados alguns escritos seus, mas o mais explícito se chama "Livro das Três Vidas do Homem", "sobre o homem exterior ou corporal; sobre o homem interior ou racional e sobre o homem íntimo ou espiritual". E confirmava: "A intenção principalíssima de todo este livro é ensinar às almas de oração o caminho verdadeiro do espírito puro e desnudo."
            Procura firmar-se nas experiências místicas e espirituais da sua própria vida e das pessoas, que dirigia, porque estas experiências, além de se firmarem sobre a inspiração de Deus, firmavam-se também nos ensinamentos dos místicos santos que o precederam, de modo especial os carmelitas São João da Cruz e Santa Teresa; para não errar e não cair no iluminismo.
            Age como psicólogo, conhecedor dos espíritos e usa de um estilo puro e ao mesmo tempo singelo, "claro, fácil e fluente". As três vidas são aquelas mesmas três vias chamadas purgativa, iluminativa e unitiva: dos principiantes, dos proficientes e dos perfeitos, conforme prevaleça mais a força da graça, do espírito e do amor (unitiva) ou a força da razão e capacidade discursiva (iluminativa) ou a força dos sentidos (purgativa); a primeira deve prevalecer sobre a segunda e as duas sobre a última e todas precisam de ser purificadas.
            O "Livro", além da sua introdução, é subdividido em três livros, de acordo com cada "vida", que é - pois é do "Homem" que se trata - explicada antropologicamente no que é, nos meios que exige e nos bons resultados, doces ou amargos, que irá conseguindo até à união íntima, essencial, afetiva e amorosa com o próprio Deus, mas só depois de ter mergulhado no conhecimento de Jesus Cristo, Jesus Cristo Crucificado, e na união íntima de amor com Ele, "que me amou e se entregou por mim" (Gl 2,20).
            Sobre Miguel de la Fuente escritor, nos diz Efrém de la Madre de Dios que ganhamos dele "uma jóia de literatura" e sobre Miguel de la Fuente místico, Marcelino Menéndez y Pelayo afirma: «Entre os filósofos do amor e da escola coloca-se a opinião intermédia, ou melhor eclética, que com grande aparato de autoridades defende o iluminado e extático varão, Frei Miguel de la Fuente carmelita, no seu Livro das três vidas do homem: corporal, racional e espiritual, que é o melhor tratado de "psicologia mística", que temos em castelhano, ao menos entre os que eu conheço». E é este mesmo Menéndez y Pelayo quem coloca Frei Miguel entre os maiores representantes da Escola Carmelita de Espiritualidade, ao lado de São João da Cruz, Santa Teresa e Frei Jerônimo Graciano.

VIDA E MORTE DE FREI MIGUEL DE LA FUENTE
            Graças a Deus já estamos na pós-modernidade e ficamos alegres e satisfeitos por não ter de negar tudo, mas reconhecer que também no século XVII um irmão nosso, carmelita, já exerceu a pastoral rural, carcerária, dos pobres de rua, das prostitutas e com muito sacrifício da sua própria pessoa, mas principalmente com muita ternura e muito amor. É um exemplo! Diziam: "É um santo!"
            As testemunhas do seu processo de beatificação confirmam para nós hoje as suas virtudes de sempre. A Fé o conduzia às boas obras. "Este servo de Deus foi homem de grande fé, que demonstrou com obras e palavras quantas vezes se apresentaram as ocasiões".     
            Foi sempre animado pela Esperança, graças à qual empreendeu e suportou coisas ardorosas: "andava sempre incitando a esta testemunha assim como a outras pessoas a que amassem a Deus e pusessem a esperança em Sua Majestade, desprezando o daqui de baixo em vista do celestial".
            Tudo o que empreendeu foi por instigação do Amor, da Caridade. Uma testemunha conservou felizmente a sua "Profissão de Amor": "Eu, Frei Miguel de la Fuente, desde hoje faço a minha profissão e prometo a Cristo Jesus e à sua Mãe Santíssima amar a Deus e à Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo; ocupar-me todos os dias da minha vida em Deus e nos meus próximos e não deixar obra de caridade, que sou capaz de realizar, sem realizá-la puramente por amor de Deus". Conversava com Deus. No terceiro livro das "Três vidas do Homem" deixa escapar este ato de amor: "Oh! Mestre Soberano, (...) fala-me Tu ao meu coração mais intimamente, para que em paz, quietude e silêncio Te ame sem cessar e sinta meu gozo junto de Ti". De Nossa Senhora sempre fala com afeto filial e apresenta Maria como modelo e exemplo do "homem racional", pois viveu intimamente os mistérios do seu amantíssimo Filho e, depois da Ascensão do Senhor, gostava de visitar em espirito ou mesmo corporalmente os lugares santificados pela presença de Jesus: Belém, Egito, o deserto, o Sinai, Nazaré, o Jordão, Genesaré, Jerusalém, Betânia etc. Maria seja também objeto da contemplação do "Homem/Mulher racional" que terá com Ela filiais conversas cheias de carinho. Garante-nos Maria Hernández que "foi ele das pessoas mais enamoradas da Virgem".
            As testemunhas confirmam a sua fidelidade aos três votos de Castidade, Pobreza, Obediência e nos asseguram que foi senhor da prudência, da fortaleza, da justiça e da temperança, paciente, humilde, zeloso, mortificado. "Um Santo!..."  Era a voz do povo.
            Agora podia morrer. Depois de três meses de doença, assistido pelo sobrinho padre do mesmo nome, o Mestre Miguel de la Fuente, o pobre Frei Miguel carmelita partiu para junto de Deus no dia 27 de novembro de 1625, dentro dos 53 anos de vida sobre a terra.

            "Neste sentido (isto é, que é pura ignorância todo altíssimo conhecimento que possamos ter de Deus aqui na terra) explicou S.Gregório aquela maravilhosa visão do nosso grande Pai, o Profeta Elias, quando em oração na sua cova no Monte Horeb viu Deus passar e cobriu o rosto com a capa, como dando a entender, diz S.Gregório, que todo conhecimento humano (...) não tem proporção nenhuma com quem é Deus e quem quiser conhecê-lo há de ser trancando os olhos como fez o nosso Pai Elias e confessando a própria ignorância". (Cfr. "As Três Vidas", L.III  5,4)

▶ A PALAVRA... Nº 498. Violência e Morte no Trânsito. - Vídeo Dailymotion

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