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sábado, 8 de dezembro de 2012

PROFISSÃO SOLENE: Convite.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 217: Dom Jairo e Santo Ambrósio.

2º Domingo do Advento: Preparai o caminho!

 Domingo passado, as leituras nos remetiam ao fim dos tempos: Cristo virá! Hoje e no domingo próximo, levam-nos à nossa vida de cada dia: Cristo vem hoje! Se, de verdade, (pomos) mãos à obra e preparamos o caminho do Senhor, Deus passará pelo coração dos homens.
A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 2º Domingo de Advento (9 de dezembro de 2012). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.

Eis o texto.
Referências bíblicas:
1ª leitura: Br 5,1-9
Salmo 125
2ª leitura: Fl 1,4-6.8-11
Evangelho: Lc 3,1-6
João, modelo de transparência
Os dois primeiros capítulos do Evangelho de Lucas contam a infância de Jesus. Formam como que um Evangelho especial. Já este terceiro capítulo inicia um novo relato, comparável ao Evangelho de Marcos. Lucas começa enumerando os potentados que governavam a região e, também, o Império. O contraste é marcante: a palavra de Deus, que faz o universo existir, não se dirige a nenhum destes importantes personagens, mas sim ao filho de Zacarias, de quem sequer se diz ser sacerdote, nem mesmo um dentre tantos, em Israel. Este João que Mateus e Marcos descrevem como um asceta é, de qualquer modo, uma pessoa transparente. Voz que clama no deserto é a voz de Outrem, pois o que é falado por ele é a palavra de Deus. Assim, João desaparece diante d’Aquele que anuncia. Com seu dedo apontado, não atrai os olhares e a atenção de todos para si mesmo, mas para quem (ele) está indicando.
Em nossos desertos de ausência de Deus, podemos encontrar o Cristo através de qualquer desconhecido, seja ele quem for, e não necessariamente através dos que, em nossas sociedades, são pessoas importantes. O Cristo nos alcança através de todos estes de quem nos tornamos o próximo, através d’ "o menor desses pequeninos" de que fala Jesus, em Mateus 25. Deus não economiza a sua Palavra. Ele nos fala sempre, através de todos os nossos irmãos. Assim, João Batista não desapareceu, mas encontra-se revivido em cada um de nós, desde que renunciemos a atrair para nós mesmos o olhar dos outros e orientemos a sua atenção para Aquele que vem; ou seja, desde que, para eles, abramos um futuro.
Atualidade de João Batista
E João, mesmo assim, conserva toda a sua personalidade histórica. O papel que desempenha foi comunicado a muitos homens, sem que neles se desfaça. Encarnada em João está toda a primeira Aliança. João, desta Antiga Aliança, é de qualquer forma o resultado e a recapitulação. Por isso sem dúvida, a respeito dele, os evangelistas citam Isaías. Porém o texto escolhido anuncia o retorno do exílio da Babilônia, mas com imagens que, vindas do Êxodo, referem-se à libertação da servidão no Egito. Será agora, com o Cristo, que irá produzir o verdadeiro retorno do exílio: o Êxodo definitivo.
Outro paradoxo é que este "agora" está no futuro: João anuncia alguém que vem depois de si próprio. Este que vem é que vai dar valor ao nosso presente, conforme vimos no domingo passado. O Cristo nos possui já, enquanto esperamos a sua vinda. Sua vinda é permanente, mas está sempre por se fazer, até que seja “tudo em todos". Daí ser necessário que, de nossa parte, nos mantenhamos sempre abertos, constantemente, sem cessar. Sempre completos, mas nunca satisfeitos; esta é a nossa situação. Podemos estar certos de que, aconteça o que acontecer, por pior que seja, Cristo virá nos alcançar através disto mesmo. De qualquer tipo de madeira(,) Deus faz as suas flechas. Para nos conduzir até a terra prometida, usa tudo quanto a Ele nós mesmos impomos. João Batista está, portanto, sempre atual, uma vez que (nós) estamos sempre aquém de uma nova vinda de Deus. Temos necessidade de que nos seja indicado Quem, com certeza, está no meio de nós, mas que não (o) reconhecemos.
Abrir-nos à alegria
Não gostamos muito de ouvir falar em conversão, penitência, perdão dos pecados. Preferimos as metáforas de Isaías que são menos desagradáveis: preparar o caminho, endireitar as veredas, aterrar os vales... De que se trata? De abrirmo-nos para Deus, deixar que Ele nos crie à sua imagem, deixar sermos gerados. Mas temos medo de ter que mudar. Não gostamos de pontos de interrogação: preferimos ficar sentados no conforto de nossas certezas. Conversão consiste em nos interrogarmos sobre os nossos hábitos, sobre o valor de nossos desejos; consiste em sair de nosso sono para voltar os nossos olhos para Aquele que vem; sempre novo. Só então ficaremos curados de nossas paralisias, ao ouvir o Cristo nos dizer: "Levanta-te e anda". Vem andando até mim, vem me seguir.
O batismo que João propõe, "em remissão dos pecados", significa um novo nascimento, um novo começo de vida; em direção à vida. De fato, o "pecado" não é a princípio transgressão a alguma proibição ou alguma lei, mas é o que se atravessa frente à nossa criação, à nossa verdade. O batismo de João não nos oferece a plenitude da vida nova, mas nos leva a fazer o deserto dentro de nós mesmos: a ‘tabula rasa’ de tudo (o) que nos impede de dar lugar, por inteiro, àquele que vem. Devemos notar que as três leituras nos anunciam a boa nova: temos certamente que superar as nossas ilusões e a vida errante, mas para nos abrirmos à alegria (Baruc 5,9; Filipenses 1,11; Lucas 3,4-6). Depois de atravessar o deserto, a Terra prometida.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Contemplação na experiência dos grandes místicos.


"Toda contemplação verdadeira nos leva ao encontro com o Cristo pobre, rasgado, cuspido, violentado, ensanguentado e abandonado na zona rural, nos viadutos, nas ruas e nas portas das nossas Igrejas". Frei Petrônio de Miranda (Foto), Padre Carmelita e Jornalista. Convento do Carmo, Lapa, Rio de Janeiro. www.olharjornalistico.com.br

RAFAEL CHECA CURI

            A Igreja vive da contemplação que lhe permite peregrinar na trajetória da história humana, pendente de Deus e de sua palavra. O Espírito Santo ilumina seu roteiro, descobrindo-lhe, cada vez mais profundamente, o mistério de Deus, do homem e do mundo. O próprio Deus não é uma abstração ou, apenas, uma esperança. Sua presença, a de Cristo ressuscitado e glorioso, é uma consoladora experiência. Jesus Cristo vive em seu corpo místico. A comunidade o compreende e o sente. A Igreja experimenta um crescimento gradual, na ordem do conhecimento sapiencial do mistério de Deus, da esperança ativa que a impele a transformar a sociedade humana, da caridade e do amor que faz presente o Senhor no mundo, como pai e como irmão dos homens.
           Esta experiência de que goza a Igreja se concretiza em seus membros, que participam desse dom contemplativo, na medida em que Deus lhos outorga gratuitamente e eles se dispõem a recebê-lo. O Concílio Vaticano II fez-se consciente desta realidade, quando considerou a necessidade de conservar e aumentar no homem as "faculdades da contemplação e da admiração que levam à sabedoria" (G.S. 56). Com isso o homem, "mais livre da escravidão das coisas, pode ser elevado com maior facilidade ao próprio culto e à contemplação do Criador" (G.S. 57).
            Todos nós levamos, ao recebermos o batismo, o germe da contemplação. Nossa inserção em Cristo, como cepas na videira (Jo 15,15), permite-nos viver sua vida de união com o Pai e de docilidade face à ação do Espírito. Essa vida é Vida de fé, de esperança e de caridade. Em São João da Cruz, "contemplar", mais do que grau de oração mística, é vida teologal em exercício, comunicação de Deus transcendente, acolhido em fé e amor. E a vida teologal é patrimônio do cristão e do homem a quem Deus a conceder.
            É claro que, se é vida e dinamismo da pessoa, está sujeita ao imperativo do crescimento gradual. Este crescimento supõe uma meta, a que Deus chama, ainda nesta vida e que, obviamente, amplia indefinidamente na glória. Do mesmo modo, todos os humanos estamos chamados à maturidade da vida, mesmo se alguns morrem na infância, na adolescência ou na juventude.
            A contemplação, Vida de face a face com Deus, passa por essas diversas idades: infância, adolescência, juventude e plena maturidade. Os grandes santos percorreram todas as etapas, ou, melhor dizendo, foram impelidos pela ação de Deus e por seu livre concurso, através de todas elas, até a comunhão plena do amor.
            Esses cristãos são os que chamados místicos, isto é, homens ou mulheres que viveram e experimentaram o mistério de Deus e de suas relações.
      A trajetória desses gigantes do espírito pode sintetizar-se assim: a contemplação cristã é obra do Espírito Santo, este intervém desde a arrancada inicial e prossegue através de cada uma das etapas: sua presença e sua ação, a medida que são mais intensas, potenciam qualitativa e quantitativamente as capacidades de crescimento espiritual da pessoa; esse desenvolver-se identificada ;mais e mais a pessoa com Cristo e abre-a para uma consciência de sua proximidade, de sua presença, de seu amor e de sua ação a partir de um momento querido por Deus, sua experiência começa a ser mais consciente e mais explícita: quando a presença divina e seu amor e influência se fazem mais lúcidos e relevantes, a obra de transformação e de união divino-humana adquirem uma expressão mística.
            Esses grandes místicos que atingiram o ponto mais algo do cimo da comunhão com Deus estão presentes em toda a história cristã.

OLHAR O PASSADO COM OS PÉS NO PRESENTE: DOM CARLOS DE SÃO JOSÉ E SOUZA, CARMELITA.

D. Felipe Condurú Pacheco

            O 16º Bispo do Maranhão - DOM CARLOS DE SÃO JOSÉ E SOUZA, nascido em Recife a 4 de novembro de 1777, professou na Ordem Carmelita a 4 de dezembro de 1797. - Sacerdote, ocupou diversos cargos, entre os quais o de professor de filosofia e teologia em seu convento, mestre de noviços, examinador sinodal, Visitador Geral da Ordem e Governador da Diocese de Olinda. - O governo o nomeou Diretor do Colégio dos Órfãos de Olinda, após Professor de Filosofia, Diretor e Reformador do Liceu do Recife, sendo muito estimado pela juventude pernambucana. - Cultura, pois, e prática de governo não lhe faltavam.
            Também provecto em anos, nomeado Bispo do Maranhão por Decreto Imperial de 13 de maio de 1843, foi apresentado à S. Sé por S. Majde. a e de outubro, confirmado pelo Papa Gregório XVI a 24 de janeiro de 1844 e sagrado a 2 de julho desse mesmo ano, na igreja do Carmo do Recife. Sua aceitação foi celebrada em S. Luis com Te Deum  na Catedral pelo Cabido, e iluminação festiva da Cidade.
            Ainda apenas Bispo eleito, a 25 de novembro de 1843, o Vigário Capitular já lhe escrevia lastimando o estado do Paço (pág. 168 )
Episcopal. - Obtenha o Prelado do Governo Geral verba para sua reparação. Minguados os recursos da Mitra. As despesas com o Culto passaram, por lei,para o Governo Imperial, retardado nos pagamentos, achando-se em sérios apertos os Cônegos e Vigários.
            Já a 4 de janeiro de 1844, em carta ao Presidente da Província “dá seu parecer sobre a pretensão de Frei Lino da Anunciação, carmelita, o qual deseja candidatar-se à cadeira de francês, de Caxias. Sujeito à obediência, não apresenta o religioso licença do seu Superior, está sujeito à residência em seu convento, onde é o único sacerdote. Há muitos civis aptos ao cargo.
            A 7 de fevereiro do mesmo ano, opina, com as próprias razões de D. Marcos, contra a criação prematura do Bispado do Piauí, sobre a qual seja ouvido o novo Bispo eleito. Consultado pelo Ministro, a 23 de janeiro de 1843, dirigia-se ao Visconde da Parnaíba, já agora Presidente o Piauí, requisitando informações a respeito. A 21 de novembro, ainda desse ano, responde-lhe o Presidente vizinho, por ofício, cuja cópia envia ao Sr. Ministro.
            Também a D. Frei Carlos escreve o Vigário Capitular com as mesmas pondereções e lhe remete cópia do Ofício do Visconde da Parnaíba. - No Piauí há 15 paróquias, com 94.107 habitantes aproximadamente. Se as rendas atuais dificilmente bastam “para decente e parca sustentação do Prelado diocesano, o que será tirando-se-lhe a Província do Piauhy, cujos dízimos são de fácil remessa?”
            “V. Excia., com pleno conhecimento de causa, providenciará como em sua alta sabedoria achar mais consentâneo ao serviço de Deus e utilidade desta Egreja”.
            Razões humanas - pensamos  nós - a retardar a ação divina!
            Em seu Ofício da Parnaíba focaliza as dificuldades de recurso dos párocos do Piauí à Cúria de São Luis.
            A paróquia mais próxima, a de Parnaíba, está distante 40 e tantas léguas; São Raimundo Nonato dista 270 léguas, de caminhos dificílimos. “A creação de hum Bispado nesta Província he de summa utilidade para prover de prompto as necessidades espirituais, administrando o pasto a todos os fiéis, e afervorando o zello pela Religião, de que pende a Prosperidade da Igreja, e a segurança do Estado”. (pág.169)
             Em apêndice, o mapa das 15 paróquias com o número de fogos e de habitantes de cada uma.

            35º quesito: COMO DECORREU A ADMINISTRAÇÃO DE D. FREI CARLOS DE SÃO JOSÉ?
             Resposta: D. Frei Carlos, a 28 de julho de 1844, tendo-se paramentado na matriz da Conceição, veio processionalmente para a Catedral, onde tomou posse da sua Diocese e concedeu 40 dias de indulgência.
            “Não obstante a sábia administração do saudoso D. Marcos, D. Frei Carlos - informa o piedoso D. Francisco - “encontrou a diocese em estado precário: egrejas matrizes em ruína e sem ornamento; clero, sem subsídio; a cathedral, sem verba em lei; o seminário sem recursos; o Recolhimento, com dívidas”. E explica o historiador, em parte, a causa desse regresso. A lei nº 105, de 12 de maio de 1840, declarára os ministros do cultos “empregados geraes” e, como tais, devendo receber congruas dos “cofres geraes”. Entretanto, a “Assembléia Geral” em 1842 ainda não havia criado verba orçamentária para esse fim, tendo já a Assembléia Provincial cancelado a verba com que mantinha o culto. Nessa situação difícil veio D. Frei Carlos encontrar a Egreja do Maranhão”.
            Logo a 25 de fevereiro de 1845 houve de apresentar ao Governo da Província um “Relatório” em que pinta ao vivo o lamentável quadro. “Os Ministros da Religião necessitam de recursos para viver com decência inherente ao Sacerdote, mormente os Cônegos que não recebem emolumentos, com que remediar as necessidades da vida”. Em algumas freguesias não têm os párocos onde celebrar, senão em casas particulares.  O Seminário vai prosperando, com alguns reparos “e accomodações feitas pelo Vice-Reitor Cgo. José Gonçalves da Silva; mas ainda precisa de novas construcções, que só com a ajuda da Província poderão fazer”. Ainda não fora possível “extrahir a loteria autorisada pela Assembléia para o Recolhimento”.
            Em abril de 1845, Frei José do Sepulcro, Guardião do convento de S. Antonio, enfermo, embarcou para Portugal, a fim de tratar de sua saúde. D. Frei Carlos, como Delegado da S. sé, nomeou D. Joaquim Nazareth administrador interino do convento, tomando um auxiliar para os cuidados materiais. (Carta de 17/1/1845) - A 21 de agosto o Pre- (pág. 170)
 Presidente da Província oficía ao Diocesano, pedindo informações sobre o convento, que lhe constava estar abandonado. Tal “consta” já tinha sido comunicado à Côrte, que mandára logo ordens ao Inspetor da Fazenda, para arrecadar o convento e tudo quanto pertencia aos frades.
            Contristado, o Sr. Bispo teve de provar ao Ministro da Justiça que o convento de S, Antonio - propriedade bissecular dos franciscanos - nunca fora abandonado. “Se houvessem abandonado os frades por algum tempo, logo teriam sido gravemente punidos pelo Prelado Diocesano, como era seu dever. Ali estão servindo a Igreja e o Estado cinco religiosos brasileiros e um portuguêz”. (Carta de 7/9/1845)
            A 28 de junho de 1846, D. Joaquim, velho e achacado, foi substituido por Frei Simeão da Rainha dos Anjos, Guardião interino.
            “Um esbulho violento - afirma D. Carlos - importa em flagrante transgressão do art. 199, § 22; da Constituição do Império”. O Inspetor já tinha vendido os escravos e sequestrado os bens do convento. graças, porém, à intervenção de D. Carlos, tudo foi  de novo entregue aos franciscanos.
            As insistentes reclamações do Pastor conseguiram também normalizar a situação financeira do culto e de seus ministros.
            Outra manifestação lamentável do regalismo. O Prelado diocesano visita canônica à Irmandade de S. João Batista, em sua Igreja. determina após que lhe sejam prestadas contas do movimento espiritual e do material. A Irmandade, à frente do Tte.-Coronel Comandante do 5º Batalhão de Fuzileiros apela para o Monarca que com o Alvará de 16 de abril de 1845, transfere a Irmandade para a jurisdição do Ouvidor, a fim de prestar contas. Os Irmãos declaram-se isentos do Bispo, também no espiritual. Não se conformando com isso o Pároco, que é o da Conceição, recorrem eles agora ao Presidente da Província, o qual manda todos os papéis a D. Carlos, pedindo o seu parecer. Responde o Antístite que não pode ser esbulhado de sua jurisdição “ordinária e espiritual por Autoridade alguma secular, sem offensa e quebra das Leis da Egreja e de todo o Direito”. O Capelão da Irmandade de S. João não pode exercer funções paroquiais; pois, está sujeito à jurisdição do Pároco da Conceição. (pág. 171)
Os sodalícios seculares continuariam a ser as rémoras da S. Igreja no Brasil!
            A 7 de setembro de 1845 D. Frei Carlos datou sua “Carta Pastoral de Saudação e Dever de Pregação”. A 11 de junho de 1847, outra sobre o “Jubileu concedido pelo S. Padre Pio IX”.
             36º quesito: QUE DIZER AINDA DO CLERO, ESPECIALMENTE DO CABIDO, NA ADMINISTRAÇÃO DE D. FREI CARLOS?
             Resposta: Em 1844 havia uma “pendência da Câmara com o Vigário de Viana”. No mesmo ano o Vigário de Caxias (?) é autorizado a crismar. Algumas nomeações curiais e eleições capitulares fizeram-se nesse período.
            A 12 de maio de 1846, D. Carlos censura o Pároco colado do Brejo - Pe. Jerônymo Antônio Proença - porque se recusára a empossar o Coadjutor nomeado pelo Sr. Bispo. Como pai exorta-o a não mais assim proceder.
            A 4 de janeiro de 1847, dirige o zeloso Antítite sensato Ofício ao Imperador. O Arcipreste João Ignácio de Moraes Rêgo passára a Arcediago. Comparecem agora dois “opositores! ao cargo vacante. - O Cônego Antônio Lobato de Araújo, alcantarense (?), vigário de S. Helena por dois anos e por um, de Alcântara. Embora provisionado para pregar, “não exercita tão santo e útil ministério”. É catedrático desde 1838. - O Cônego Joaquim José da Silva Sardinha, português, catedrático apenas desde 1842, é professor de latim, retórica, teologia dogmática e moral no Seminário e membro da Junta Administrativa do mesmo, examinador sinodal com frequente exercício, orador sacro de largos recursos, estando impressos diversos discursos seus. Procurador do Cabido e “recommendavel por sua conduta, lettras e valiosos serviços à Diocese. - O Concílio de Trento, sess. 24 De Reformatione, cap. 12, recomendo que para as 4 Dignidades sejão escolhidos Doutores ou ao menos Licenciados ou lido em Teologia ou direito Canônico, o que está também claramente expresso no Alvará de 17 de Abril de 1739. - A escolha do Cgo. Sardinha é reclamada pela indefectível Justiça de V. Magde. Imperial, e pela utilidade, e dignidade desta Igreja”.
            O Decreto Imperial de 9 de fevereiro de 1847 elevou o Cgo. J. J. da S. Sardinha às honras de Arcipreste do Cabido. (pág. 172)
             Apenas empossado, o Sr. D. Carlos pede ao Cabido informações a respeito da tabela de congruas de todos os serventuários da Catedral. São incumbidos de redigir a resposta os Revdos. Arcediago J.C. Gomes de Castro e Mestre-Escola Dr. Antônio Bernardo da Encarnação e Silva.
            A 21 de novembro de 1845, 1º Centenário da instalação e posse do Cabido da Catedral do Maranhão, depois de solene Missa Pontifical o Exmo. Sr. Bispo Diocesano, no altar-mór da Catedral de Nsa. Sra. da Vitória, em ação de graças, reune-se na Sala das Sessões o Corpo Capitular do Maranhão. Compunham-no, e todos subscreveram a ata da sessão, os M. Revdos. .......... (pág. 173)
  
            37º quesito: COMO DECORRERAM OS ÚLTIMOS ANOS DA VIDA DE D. FREI CARLOS DE SÃO JOSÉ E SOUZA?
             Resposta: Ainda em S. Luis, D. Frei Carlos escreve, em julho (?) de 1846, ao Vice-Presidente da Província - Ângelo Carlos Moniz - discordando do excessivo fracionamento das paróquias pelas Leis Provinciais, visto serem “tão pobres e faltas de matrizes e alfaias, que não pequeno trabalho hei tido em encontrar Sacerdotes que de sua administração queiram encarregar-se”.
            A 3 de maio de 1844, dois meses antes de sua sagração, escrevia o piedoso Pastor a S. Majde. Imperial, reclamando - “hua ajuda de custo para me transportar àquelle Bispado, porque sou Religioso pobre”.
            Agora (com indicação de 1847, posterior e protocolar) dirige D. Frei Carlos ao Imperador nova súplica, três anos após sua posse em sua sede. Requer 4 a 6 meses de licença, para tratar-se em Pernambuco ou Paraíba, de “huma affecção cutanea, de que sou atormentado à mais de hum anno”.
            O Dr. Paulo Saulnier de Pierrelevée, formado pela Faculdade de Medicina de Paris e sócio de diversas Academias da Europa, em S. Luis, aos 12 de março de 1847, atesta que D. Frei Carlos está atacado “de uma enfermidade caracterizada por dartros vivos, manchas avermelhadas multiformes, disseminadas por diversas partes do corpo; affeição sempre exasperada pela influência climatérica da Província. Sem a mudança para um clima mais benigno, os tratamentos não dão resultado”. (pág. 174)
             Ainda sem data, mas já em Pernambuco, onde se encontrava “desde julho deste anno” (1847), afirma “experimentar melhoras”, mas “ não poder regressar, para não peorar”. Por isso, requer mais 6 meses de licença. Assim, novamente a 11 de novembro de 1848 e a 12 de janeiro de 1849. Os Drs. Francisco José de C. Leal e José Eustáquio Gomes atestam hemiplegía esquerda.
            A 12 de junho de 49, apenas pode assinar nova petição de licença. No Rio, “J. M. Campos” opina que “S. Magde., de accordo com as Leis, visto o estado suplicante, pode conceder a licença com as côngruas integrais”. (Arquivo Nacional.)
            No convento do Carmo, em Recife, cercado de seus irmãos de hábito, rendeu sua bela alma a Deus, a 3 de abril de 1850, D. Frei Carlos de S. José e Souza. Em seu testamento legou sua livraria e 4 contos de réis para o Seminário de sua Diocese. Seus despojos foram inumados na capela-mór da igreja do Carmo, onde professara e fora sagrado.
            “Bello talento - afirmou um de seus cronistas - cultivou seu espírito nas lettras e o seu coração nas virtudes. Sabia conciliar a autoridade com amor e brandura. Um dos principaes oradores do seu tempo, eloquente, arrebatador. a si mesmo inflamava e o auditório”. (Pe. Carlos Augusto Peixôto de Alencar: Roteiro dos Bispados do Brasil.)
             38º quesito: QUE HOUVE NO GOVERNO DA DIOCESE DURANTE A AUSÊNCIA E APÓS A MORTE DE D. FREI CARLOS?
             Resposta: Antes de embarcar para Pernambuco D. Frei Carlos nomeou três Vigários Gerais, a sucederem-se por impedimento ......... (pág. 175)
CONDURÚ PACHECO, D. FELIPE - “História Eclesiástica do Maranhão” - S.E.N.E.C., Departaamento de Cultura, Maranhão, 1969.
Carlos de S. José, bispo de Maranhão, p. 118:
Natural de Recife. Eleito bispo de Maranhão por decreto de 13 de maio de 1843, foi confirmado pelo papa Gregório XVI, a 24 de janeiro de 1844? Sagrado pelo bispo de Olinda D. João da Purificação Marques Perdigão, a 2 de Junho do mesmo ano, fez no dia 28 a sua entrada solene em S. Luiz de Maranhão. Rege a diocese até 3 de abril de 1850, data em que faleceu com 73 anos de idade. Este prelado foi um dos primeiros oradores do seu tempo.
Manuel de Alvarenga, O Episcopado Brasileiro. Subsídio para a história da Egreja Catholica no Brasil, S. Paulo, A. Campos, 1916.
Sebastião de Vasconcellos Galvão, Diccionário Chorographico histórico e estatístico de Pernambuco, Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, S-Z, 3ª ed., 1927.

p. 117-118: Frei Carlos De S. José e Suza, bispo.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 216: Quem se salva?


quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

CARMELITAS: Um caráter Profético.

John Welch, O. Carm (Foto).
Whitefriars Hall , Washington

Um escritor sugeriu que a vocação carmelita é estar suspenso entre o céu e a terra, sem encontrar apoio em nenhum dos lugares.  Esta é uma forma dramática de dizer que no fundo  nossa fé, nossa esperança e nossa confiança em Deus tem que ser seu próprio apoio e Deus nos conduz mais além de nossos feitos mundanos e espirituais.   No final de sua vida Teresa de Lisieux achou  que a esperança pelo céu sustentada em toda sua vida se esvaía.  João da Cruz nos lembrou as observações de São Paulo: se já temos aquilo que esperamos, já não é esperança; a esperança está naquilo que não possuímos. .A espiritualidade de João da Cruz tem sido descrita como uma contínua interpretação da natureza de Deus .
Será que esta suspeita que temos quanto às intenções e as construções humanas nos converte, a nós carmelitas, em uns eternos estressados?  Ou, ao contrário, nos permite fazer uma avaliação inteligente do coração humano e de sua tendência a criar ídolos? Não será isto realmente um exercício de libertação que vai nos libertando de todas as formas em que nos escravizamos e nos entregamos aos ídolos?  Não é a crítica carmelita um desafio para não nos apegarmos a nada, para que nada seja o centro de nossa vida, além do mistério que a envolve.  E nessa pureza de coração, somente conseguida pela ação do Espírito de Deus, somos capazes de amar aos outros e viver neste mundo sabiamente.  O desafio carmelita é cooperar com o amor de Deus, algumas vezes obscuro, que nos  vivifica e nos cura .
Esta contínua escuta para aproximar-nos de Deus, por meio de todas as palavras e estruturas que conseguimos, é a tarefa profética do Carmelo.  Que Deus seguimos? O deus de nossas afeições? O deus das ideologias ou das teologias ilimitadas? Os deuses opressores dos sistemas econômicos e políticos? Os deuses de todos os “ismos” de nosso tempo? Ou é nosso Deus o Deus que transforma , cura , liberta  e vivifica?
O arcebispo Oscar Romero foi um clérigo tradicional, cuidadoso e estudioso.  Era um bom homem , reservado, piedoso, orante.   Mas sua conversão chegou quando viu no outro o rosto de Cristo, um rosto diferente  do Cristo  de sua piedade e de sua oração, um rosto  diferente de sua teologia, um rosto diferente do Cristo familiar  à hierarquia de El Salvador. Era o rosto de Cristo no rosto do povo de El Salvador; era o rosto de Cristo verdadeiramente encarnado  na história e nas lutas do povo.  Romero disse:

Aprendemos a ver o rosto de Cristo – o rosto de Cristo que é também  o rosto do ser humano que sofre, o rosto do crucificado, o rosto do pobre, o rosto do santo e o rosto de cada pessoa – e amamos a cada um com o critério pelo qual seremos julgados: “tive fome e me deste de comer”.
Os ídolos de nosso tempo não são somente os amores pessoais e as possessões, mas especialmente  os ídolos do poder, do prestígio, do controle  e o domínio que deixam a maior parte da humanidade fora do banquete da vida.   Romero comentou:

A pessoa pobre é aquela que se converteu a Deus e põe toda a sua fé NELE, e a pessoa rica é aquela que não se converteu a Deus  e põe sua confiança nos ídolos: dinheiro, poder, bens materiais... Nosso trabalho deve procurar converter-nos a nós mesmos e a todo povo para este autêntico significado da pobreza.       
Muitas de nossas províncias tem participado na confrontação com os ídolos de nosso tempo através dos movimentos de libertação em muitas  regiões do mundo, que incluem Filipinas, América Latina, América do Norte, África, Indonésia e o Leste da Europa. Hoje em dia as diferenças entre o norte e  o sul apontam para os ídolos dos “ismos” que mantém a maioria do mundo em uma condição de marginalização.

 Resumo

A fome do nosso coração nos lança ao mundo em busca de alimento. De muitas formas perguntamos ao mundo. Viste aquele que fez isto em meu coração e o deixou chorando? Nosso coração vai se dispersando sobre a terra enquanto vamos perguntando a cada pessoa, a cada objeto de posse e a cada atividade que nos diga mais a respeito do Mistério que está no centro de nossas vidas.
A alma apaixonada pelos mensageiros de Deus, confunde-os com Deus mesmo. Tomamos as coisas boas de Deus e lhes pedimos que sejam deuses. O coração, cansado de sua peregrinação, tenta assentar-se  e construir um lar para si. Coloca seus desejos mais profundos nas relações, posses, planos, atividades, metas e pede a tudo isto que sacie sua fome profunda.  Pedimos muito e como nada pode corresponder às nossas expectativas, começam a desmoronar-se.  Mais e mais os santos carmelitas nos lembram que só Deus é o alimento que pode saciar a fome do nosso coração.

Perguntas para refletir:

1-Quais são os ídolos, os não-negociáveis, que se transformam em parte da minha vida?  Quais são essas coisas  sem as quais não posso passar?  Eu as estou prejudicando com meu apego?
2-Onde e como tenho me tornado  uma pessoa sem liberdade na vida?  Sinto-me livre para seguir meus desejos mais profundos?   Sou livre para escutar as necessidades da minha comunidade?
3-Tenho estado inconscientemente construindo meu próprio reino no lugar de estar preocupado pelo reino de Deus? Sem perceber, tenho tirado Deus do centro da minha vida e tenho colocado nesse centro meus objetivos, meu trabalho profético, minha compreensão das exigências do reino? Ao longo dos anos tenho me esquecido de perguntar:  o que é que Deus quer?
3-As paixões que me trouxeram ao Carmelo têm sido domesticadas ou vão se desvanecendo?  Tenho me transformado  numa pessoa compulsivamente ativa, talvez sentindo-me mais como um funcionário de uma instituição do que como um discípulo do Senhor?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 213: Primeira Missa do Frei Eduardo.


CHAMADOS - PARA ESTAR COM ELE - E SER ENVIADOS

     Vários chamados: para a vida, para tal família, para a Igreja, para o tal Instituto, para tal casa, tal lugar, tal trabalho.

     MA 2 "(...) Abrindo o Santo Evangelho, os meus olhos caíram sobre as seguintes palavras: «Jesus, tendo subido a uma montanha chamou para junto dele quem Ele quis; e vieram até Ele»" Trata-se de Mc 3,13, que continua: "e constituiu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar" (Mc 3,14). Ser Jesus pela vida, pela pregação. Seguir, mas na plenitude do sentido: transformar-se em Cristo Jesus. "Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e estabeleci para irdes produzir fruto" (Jo 15,16)
     3 "Aqui está o mistério da minha vocação, da minha vida inteira e, sobretudo, o mistério dos privilégios de Jesus pela minha alma..." (MA)

     1Sm 3,1-21; 4,1

     A Igreja é a nossa família convocada.

     Mt 4,18-22; Mc 1,16-20  X  Lc 5,1-11

     "A Vida Consagrada manifesta a sua dimensão de louvor à Trindade no sentido de que o início da vocação à Vida Consagrada é um chamado de Deus Pai a quem a pessoa se entrega totalmente". (VC cap. I; n. I).

     "Aliás, nós sabemos que tudo concorre para o bem dos que amam a Deus, que são chamados segundo o seu desígnio. Aqueles que de antemão conheceu também os predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, a fim de que este seja o primogênito de uma multidão de irmãos; os que predestinou também os chamou; os que chamou justificou-os; e os que justificou também os glorificou" (Rm 8,28-30).

     Sacerdotes, Reis, Profetas. Chamados - com Ele - Enviados
     Missão do Religioso = Missão de Jesus - Para todos os homens
para o homem todo - A obra encomendada pelo Pai: a Salvação de todos.
     Eu Te glorifiquei na terra, concluí a obra que me deste para fazer (Jo 17,4).
     Ninguém jamais viu a Deus; Deus Filho Único, que está no seio do Pai, no-Lo revelou (Jo 1,18). Geração
     Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele (Jo 3,17). Missão
     Estar com Ele - Conhecê-Lo intimamente - Revelá-lo (pela vida e pela palavra) Que pensamos sobre nós? Quem espera o povo que nós sejamos? Com Ele, como Ele, para Ele - Estar com Ele para ser por Ele transformado - Convivência, Amizade, Intimidade - Conhecimento íntimo -
     Não sou eu quem vive: é Cristo quem vive em mim, pois minha vida presente na carne vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim (Gl 2,20).
     Estar com Ele que sempre está vivo - Estar pelo amor - Tudo com Ele, como Ele e para Ele -
     Para Ele e para os outros como Ele
     Esta é a vontade do Pai
     Que os outros sejam para Ele, para o Pai no Espírito Santo.

     Como o Pai me enviou assim também eu vos envio (Jo 20,21).

     Ser sinal - ter uma vida significante - Significar Jesus, dar sentido de Jesus ao que fazemos e ao que vivem os outros e a história. Apóstolo = enviado para ser Jesus. Pelo Espírito Santo
Na conversão, em união com o Espírito na oração, na contemplação.

     Pedro (NT); Elias, Jonas (VT) - Nova oportunidade: Elias, Jonas, Pedro.

     ELIAS - Veio-lhe a palavra do Senhor: «Elias, que vieste fazer aqui?» (...) Veio-lhe uma voz: «Que vieste fazer aqui, Elias?» (...) Vai, retoma o caminho em direção ao deserto de Damasco (1Rs 19, 9. 13. 15).

     JONAS - A palavra do Senhor veio a Jonas, filho de Amitai: «Levanta-te e vai para Nínive, a grande cidade, e profere contra ela um oráculo, porque a maldade dos seus habitantes subiu até mim». Jonas se pôs a caminho mas para fugir para Társis (Jn 1, 1-2).
     A palavra do Senhor veio uma segunda vez para Jonas: «Levanta-te e vai para Nínive, a grande cidade, e profere contra ela o oráculo, que eu te comunicarei». Jonas levantou-se e partiu, mas, desta vez, para Nínive, conformando-se com a palavra do Senhor (Jn 3,1-3).
     Deus viu a reação deles: voltaram atrás do seu caminho e Deus voltou atrás da sua decisão de fazer o mal que anunciara; não o fez... (Jn 3,10) Reação de Jonas
     PEDRO - Ver Jo 20, 15-19