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sábado, 29 de agosto de 2015

A Ordem do Carmo e a Revolução Francesa

Recordando a História da Ordem do Carmo, os séculos XVI e XVII foram séculos de grande expansão da Ordem através da devoção Mariana propagada pelos escritos da Espiritualidade Carmelitana e também pela atuação das Ordens Terceiras e Confrarias do Escapulário de Nossa Senhora do Carmo. No início so século XVI havia 30 Províncias 693 Conventos, 12.000 Religiosos e 75 Mosteiros femininos com 1500 Monjas de Clausura.
No fim do século XVIII irrompeu o furacão da Revolução Francesa quando a Ordem do Carmo estava com 15.000 Religiosos. A Revolução Francesa partiu para as perseguições contra a Igreja e as Ordens Religiosas, então o número de Religiosos Carmelitas foi reduzido a 757 e a sua recuperação só aconteceu no início do século XX.
Outro fator que abalou os alicerces da Igreja e das Ordens Religiosas foi o aparecimento de Napoleão Bonaparte que, depois da Revolução Francesa, apossou-se do governo francês, criou um consulado de três membros e ele foi eleito o Primeiro Cônsul, tornando-se vitalício no cargo e Ditador.
Com a Revolução Francesa e o despotismo de Napoleão, a Igreja sofreu horrores e dizia-se que Pio VI seria o último Papa. Faleceu Pio VI (1799), e, com muita dificuldade realizou-se um conclave (eleição) de um novo Papa, não em Roma, mas em Veneza/Itália, e foi eleito o Cardeal Barnabé Chiaramonti, que tomou o nome de Pio VII e governou a igreja de 1800 a 1823. Pio VII era Monge Beneditino, homem profundamente religioso e capaz, sofreu por demais no relacionamento com o Imperador Napoleão Bonaparte. O desfecho final de tanto sofrimento para o Papa e para a Igreja só terminou quando em 1814 Napoleão foi obrigado a abdicar, passando a residir na Ilha de EIba, e em compensação recebeu o título de Imperador. Mas em 1815 retornou a França, retomou o governo, mas foi derrotado em Waterloo a 18 de junho de 1815, foi desterrado para a Ilha de Santa Helena, onde veio a falecerem 1821.

Em 1814, Pio VII pode retornar a Roma, reorganizou o Estado Pontifício, as relações da Santa Sé com a França e outros países da Europa melhoraram, o Papa recuperou o seu prestígio e passou a ser aceito como centro inabalável do governo da Igreja. Pio VII faleceu em 1823. Encerra-se aqui a história da Revolução Francesa e do Imperador Napoleão Bonaparte e nesse período de 1789 a 1815, portanto 26 anos, as Ordens e Congregações Religiosas foram sensivelmente abaladas em seus quadros e a Ordem do Carmo na Europa e no Brasil, não passou ilesa durante esse período. No fim do século XIX a Ordem do Carmo no Brasil ficou reduzida a uns poucos Religiosos, mas Nossa Senhora do Carmo, que sempre esteve presente em nós e na vida de sua Ordem acorreu em nosso auxílio, enviando-nos alguns Religiosos Carmelitas da Espanha, primeiro, e depois, da Holanda, que receberam de Nossa Mãe do Carmo a Missão de restaurara Ordem do Carmo no Brasil!

O CORAÇÃO DA REGRA DO CARMO, QUAL É? (1ª Parte)

Frei Bruno Secondin, O. Carm.

A vocação do Carmelo à oração
              Toda a Regra toda propõe logicamente um itinerário em direção à maturidade. Já o demonstramos no próprio esquema, mas há também expressões que mais diretamente se referem a esta perspectiva: as palavras, por exemplo, meditare, vigilare, de corde puro, placere Deo, in obsequio Jesu Christi, pie vivere in Christo, æternæ vitæ mercedem, quæcumque(...) agenda(...) in verbo Domini fiant.
              A tradição dos séculos delineou a fisionomia do Carmelita segundo o capítulo 7º: oração e solidão. Somos definidos assim como homens e mulheres da espiritualidade, da vida interior, da oração. Hoje se diz freqüentemente que as nossas comunidades são fraternidades orantes. Como vamos conseguir pôr este dado da tradição de acordo com a nossa explicação da Regra, que desloca o centro para o capítulo 10º, orientando para lá o valor de todo o projeto, inclusive o capítulo 7º ?
              Temos de dizer que é ótima coisa a ênfase que a tradição põe no capítulo 7º, interpretando-o como prescrição de solidão, de meditação e oração, mas não corresponde com rigor ao sentido literal do texto e, ainda menos, ao sentido que tem aquele capítulo no dinamismo ideográfico da Regra na sua totalidade. É um capítulo que permanece fundamental, mas por causa da Palavra, que deve ser absolutizada na vida a ponto de encher a solidão e o tempo, por inteiro: die ac nocte meditantes; a ponto de vir a ser transmudada em sede e desejo veemente, pois vigilantes é de um sentido forte. Porém, o máximo grau da força e da potência da Palavra e o fundamento da verdade de tudo quanto Ela anuncia e comunica estão na Eucaristia, que faz participar da vitalidade do Cristo Ressuscitado. E o projeto de vida está regulado e modelado justamente pela "sacramentalidade" eucarística, muito mais do que pela solidão ou pela oração e meditação.
              É pena que a tradição materializou na solidão-isolamento e no rezar, em sentido genérico, uma prescrição que põe a sua força na meditação da Palavra e nas conseqüências que daí derivam, como oração, comunhão fraterna, celebração do Mistério e mais práticas decorrentes. Concentrar-se de maneira especial sobre o estar sós e sobre um conceito "vago" ou fraco de oração, no qual de fato a  meditação da Palavra não goza realmente do primado que lhe cabe, mas está ao par com outras modalidades de "oração", inclusive "devoções", isto levou a uma oração de solitários mais do que de solidários, a uma espiritualidade individualista mais do que a uma Igreja-comunhão.
              A oração, à qual deve o Carmelita dedicar-se, é descrita na Regra como um vigilare in orationibus (c.7), quer dizer, como uma resposta existencial à Palavra meditada e assimilada. Rezar é, então, penetrar nos segredos do coração de Deus, que a Palavra nos revela; é estender-se, por meio das várias modalidades de respostas - vamos dizer oração e práxis -, em direção de Alguém, que habita na Palavra e, contudo, é também algo a mais e nos atrai. Vigiar torna-se olhar atentamente com todo o seu ser e com toda a sua alma para Deus, na prece solitária, na oração dos salmos, assim como na fraternidade dos bens e dos corações, no trabalhar e no calar-se, no jejuar e no servir, no discernir e no observar. Tudo isto se resume e se completa na celebração da Páscoa de cada dia, que é síntese das intenções e da fecundidade histórica da Palavra, fermento de unidade e Boa Nova das futuras realidades.
              Na Comunidade Primitiva o rezar dos que acreditaram, um elemento fundamental e freqüentemente trazido à lembrança (At 1, 14-24; 2,42; 4,24-30; 6,6; 8,15; 9,40; 10,2; 13,3; 21,5 e mais), nasce da escuta da Palavra em comum, está unido à celebração do culto e é consolidado e coroado na vida, ao se tornarem "um só coração e uma só alma" (At 4,32). Assim deve ser o "rezar" dos Carmelitas: deve ser experiência de Igreja, um completar e animar com a oração uma edificação (Ef 4,16; Cl 2,19), uma oikodomé de koinonia entre irmãos, um viver a expectativa do povo de "ver" o seu Deus, de encontrar o seu rosto, de senti-lo "no meio" como o seu Guia e o "seu Senhor".
              Quando se fala dos Carmelitas como de "chamados para a oração", dever-se-ia fazer o possível para não se identificar o chamado com um chamado para uma experiência individualista, para uma seqüência de gestos religiosos a circular em redor da própria pessoa, acorrentados em espaços e tempos rígidos. Não é nem mesmo uma espécie de ascensão para o divino por estradas solitárias e únicas. Isto conduziria a formas de narcisismo espiritual e a uma oração próxima do psicologismo introspectivo. Preferiria que se falasse de um chamado a fazer viver a Igreja, a fazê-la vibrar como Corpo de Cristo.
              Orar para o Carmelita, segundo a Regra, não é tanto dedicar-se a fazer alguma coisa, a pensar de uma determinada maneira, por um certo tempo; isto também faz parte do orar, mas são elementos variáveis e secundários, segundo culturas e segundo pessoas. Rezar deve tornar-se um fazer própria a forma Ecclesiæ, isto é, deve levar a deixar-se convocar e amar, julgar e salvar pelo Senhor da Comunidade. Diante da ação e da presença d'Ele se reage com a palavra e com a vida, com os gestos e com a solidão, com a luta e com a deliberação, com o louvor e com a súplica, com o silêncio e com a memória, com a invocação e com a espera e com a vigilância. Daí deriva que o itinerário do Carmelita rumo à maturidade, através da oração, é autêntico, quando sabe respeitar os princípios da eclesialidade e se conforma com as exigências de uma autêntica experiência eclesial.
              Até a vida ascética e penitente, tão exaltada pela tradição do Carmelo, deve ser vivida, não como ascetismo individualista, mas como caminho eclesial: fidelidade trabalhosa, coerência sofrida para vivere pie in Christo (cf. 2Tm 3,12), num contexto de Igreja que conhece a fragilidade humana, que lhe obscurece o rosto, mas procura só no Senhor (c.14) a sua libertação e o seu esplendor (cf. LG 48).
              Para que se possa ser capaz de vigilare in orationibus, (c.7), como Ecclesia orans, é preciso ser ao mesmo tempo Igreja da reconciliação e do serviço, Igreja discípula e testemunha da Palavra, Igreja do Pão-Partido e repleta da consolação do Espírito: somente assim a oração será autêntica.
              Aquele lugar a se construir no meio das celas, que na Regra está arquitetonicamente no centro do espaço e do próprio texto (c.10), tem um poder de evocação de valores e razões de vida que supera qualquer outro elemento e os atrai todos para junto de si como ao seu ápice e medida. Dá realmente ao todo uma polarização nesta direção, isto é, rumo ao que aí se celebra e se exprime, num quotidiano "vir-juntos" (con-venire) carregado de emoções e de intencionalidades simbólicas. E este con-venire reclama um "arredar-se" longe da separação e do perigo da autarquia numa "cela isolada e pessoal" (c.3), para caminhar "ao encontro" dos irmãos até o lugar onde o "Senhor mora com o seu Mistério", chama para a escuta (ad audienda - c.10) e fermenta a comunhão rumo a uma total unidade.

              Podemos recorrer a uma idéia que encontramos no texto de espiritualidade carmelitana mais antigo, que conheçamos, a Ignea Sagitta de Nicolau, o Francês (1270). Referindo-se ao trecho da 1ª Carta de Pedro em 1Pd 2,4-5, ele informa que somos chamados a ser como pedras vivas lavradas pela graça, para construção do gloriosum ædificium cælestis civitatis Jerusalem. E, aplicando a idéia ao projeto carmelita, podemos dizer que o nosso itinerarium cordis, que com Teresa podemos chamar de Caminho da Perfeição ou com João da Cruz, de Subida do Monte Carmelo, só alcançará a sua autenticidade quando "a adesão a Cristo, Pedra Viva" (o obsequium do prólogo) e o "crescimento do gérmen da Palavra de Deus" (o die ac nocte in lege Domini meditantes do c.7 e o Verbum Dei abundanter habitet in ore et in cordibus do c.14) nos transformarem "como pedras vivas para a construção em casa do Senhor" (cf. 1Pd 1,23; 2,4-5).

FREI PETRÔNIO: Pensamento do Dia. (Sábado, 29).

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A PALAVRA... Nº 974. De quem Jesus tinha raiva?

FREI PETRÔNIO Pensamento do Dia (Quarta, 26) - Vídeo Dailymotion

FREI PETRÔNIO Pensamento do Dia (Quarta, 26) - Vídeo Dailymotion

OLHAR CARMELITANO: MASS MEDIA E ESPIRITUALIDADE

Frei Henk Husktra, O. Carm

Desenvolvimento da comunicação e da cultura

Visão geral
A comunicação sempre acontece através de um meio, meio e comunicação estão sempre ligados. A revolução na comunicação significa também revolução na cultura: nos costumes, na fé, etc.

Cultura oral
Comunicação Oral = comunicação interpessoal, com os sujeitos presentes um ao outro, podem reagir um com o outro diretamente. É a comunicação das pequenas comunidades, garantia para a continuidade da vida, centro da comunidade. Nesta nasceu e se desenvolveu a cultura cristã (passando da cultura oral - judia - para a cultura escrita - grega). É a comunicação através da presença física  de emissor e receptor.

Cultura Literária
Comunicação Literária =  não tem necessidade de presença física, não é uma comunicação face a face. Criação do alfabeto, primeira revolução cultural.
A mensagem fixa nos sinais visíveis do alfabeto permitiu conservar esta mensagem ao longo dos tempos e também distribuir esta mensagem. Começou com a escrita à mão. Os manuscritos são determinantes daquilo que se transmite, por isso a comunicação escrita é considerada mais importante do que a comunicação oral.
Logo que se começou a usar a escrita começou a haver uma reflexão mais elaborada: se reflete mais quando se escreve do que quando se fala, porque o que se escreve é conservado e distribuído.
Os manuscritos passam a ser mais importantes do que a comunicação interpessoal, direta, porque podia ser controlada e perdurava no tempo.
A cultura escrita teve mais influência do que a cultura oral.

Imprensa:
A situação mudou radicalmente com a imprensa. A máquina reforçou a linguagem escrita e a cultura literária. Deu-se a produção em massa de livros, com a possibilidade de fornecer textos idênticos. Era o inicio da cultura literária, a criação da biblioteca.
O primeiro livro impresso foi a Bíblia, produzido em massa e colocado à disposição de muitas pessoas. A maquina impressora possibilitou a distribuição em massa da Bíblia, e também a possibilidade de ler, reler e apropriar-se do texto.
A imprensa foi à primeira forma de comunicação de massa. Criou-se um modo novo de sentir, de pensar, de expressar-se, de comunicar, de crer. O alfabeto muda os relacionamentos interpessoais, a religião, a ética, etc., produz uma cultura nova. Criou a cultura literária.
Uma revolução dos MCS significa também uma revolução na cultura, em todos os relacionamentos humanos. A imprensa criou a cultura literária e esta significou uma revolução na fé e na Igreja.
O crescimento da Igreja protestante coincidiu com a imprensa. A imprensa possibilitou as diferentes correntes de pensamento e sua difusão, deu lugar à revolução do pensamento. Provocou mudanças na Igreja, na sociedade, na fé. Era o fim do monopólio da fé e da unidade da igreja. Foi o fim do monopólio da Igreja Católica sobre a educação e sobre a verdade. A Igreja teve medo destes meios e os combateu a imprensa, sublinhou sempre mais a uniformidade da fé e a racionalidade da fé católica.
Roberto Belarmino colocou a imprensa a favor da Igreja, favoreceu a imprensa na Igreja e promoveu a doutrina e a própria Igreja. Foi o inicio de uma nova forma de educação e de formação, nas escolas, nos colégios. Causou uma revolução na comunicação, na fé, na Igreja, na ética e na sociedade em geral.
Deu-se a transição entre a cultura dos manuscritos à cultura impressa.
Esta foi à segunda revolução na comunicação.

Cultura audiovisual
Terceira. Revolução na comunicação =  transição entre a cultura de imprensa para a cultura tecnológica.
Audiovisuais : comunicação de pessoas com os olhos, os ouvidos e a boca. Usa dois binários: áudio (ouvidos) e  visual (olhos).
È a combinação da linguagem, dos olhos, dos ouvidos e da boca com os meios eletrônicos e a tecnologia. Esta foi a terceira revolução na comunicação - informação por meio da tecnologia: TV, computador, Internet, etc.
A Internet è a combinação, a conexão dos vários computadores dispersos em todo o mundo via linha telefônica, cabos e satélites.

Linguagem na qual se pode ver, ouvir e falar.
Novo matrimonio entre palavras e imagens, sob a presidência dos meios eletrônicos.
A cultura literária é uma cultura de cérebro, è lógica, racional, reflexiva, cognitiva, é mais abstrata, è mais polêmica.  A cultura audiovisual è mais afetiva, emotiva, mais fantasiosa, é a linguagem do coração. A cultura literária é a linguagem do cérebro. A comunicação literária é mais conceptual,  a comunicação audiovisual  è mais perceptiva.
Existe enorme diferença entre cultura literária e cultura audiovisual. A linguagem audiovisual e uma nova forma de comunicação. O povo é enamorado deste tipo de comunicação.
Devemos refletir sobre o uso destes meios:
- O que significa os meios audiovisuais para a fé, para a Igreja e para a Ordem?
- Qual deve ser a contribuição da fé, da Igreja e da Ordem para os Mass Media?
A transição da cultura literária para a audiovisual é uma mudança profunda e com muitos efeitos e       tendências, uma verdadeira revolução.
È uma transição da cultura da palavra à cultura da imagem. A palavra escrita era o centro da nossa comunicação e agora vivemos em uma época onde o elemento dominante é a imagem. Não significa que a palavra já não seja  importante, porém a ênfase é sobre a imagem, combinada com a palavra. Nas estradas, nas cidades, nos MCS a imagem domina sobre a palavra, vivemos em uma cultura da imagem, mundo altamente simbólico: temos o mundo natural, o mundo da sociedade e o mundo simbólico. A Igreja vive também neste mundo.
Na cultura literária o elemento mais importante era a racionalidade, os silogismos, levava a tirar conclusões. Na cultura audiovisual o elemento mais importante é a narrativa, contar a vida como drama e não mais com silogismos. É uma mudança extremamente importante. O processo da razão era domínio de uma elite social, o qual requer uma formação, enquanto a cultura da narrativa faz parte de qualquer ambiente. Os meios audiovisuais criaram esta transição do processo racional para o mundo da narrativa. Mudança da verdade para a credibilidade. Na cultura literária a verdade era o elemento mais importante, na AV. o mais importante é a credibilidade.
A verdade requer correspondência entre os fatos e a credibilidade fala mais de quem conta estes fatos. A pessoa é verdadeira se é aceita se é acreditada, se não é aceita, se não é acreditada, não è verdadeira. Na cultura AV. a verdade depende da credibilidade, na cultura literária a credibilidade depende da verdade. A verdade depende da coerência de vida. A pessoa è importante pela coerência de vida e não pelos conceitos que formula.
Este é um ponto de suma importância para a Igreja.
O que é mais importante para a catequese, quem dá catequese ou o que diz na catequese?
A verdade do conteúdo ou a credibilidade da pessoa que o apresenta? A doutrina ou o testemunho? A mesma coisa acontece na pregação.
É a tendência da racionalidade rumo à irracionalidade.  A cultura literária è intelectual, abstrata, a AV. é mais um fato de coração, o que conta não é tanto o elemento intelectual.
Este momento da história è crucial para determinar o equilíbrio entre estes elementos.
Na TV são tantos os programas que se baseiam nas emoções humanas: ódio, amor, expressões de aspecto emotivo.
È a tendência revolucionária de passagem do dogma ao drama, da doutrina para à vida, da palavra à imagem, do conceito à narrativa, da racionalidade à emotividade, da verdade à credibilidade. Devemos explorar estes pontos e ver como criar o equilíbrio. Há. o perigo de valorizar demais um elemento em detrimento do outro.
Neste campo existe os pessimistas e otimistas: há quem diz que estamos nos divertindo rumo à morte, que a diversão é suicídio, que a TV não é boa, que é preciso eliminá-la.
O MCS são uma criação humana, utilizados por humanos, tem traços humanos positivos e negativos, é ambíguo, depende do uso que deles fazemos. Em vez de perder tempo em condenar o que não é bom, devemos promover o que bom, mas não podemos nos iludir que podemos mudar todo o mundo do Mass Media.
Estes podem ser uma ajuda para contarmos nossa história, para nossa cultura de fé, para celebrar, fonte de espiritualidade, de interioridade, expressão ativa da vida, como experiência espiritual, como sabedoria de vida. Devemos mudar nossa mentalidade, andar em direção das possibilidades positivas para nosso ministério espiritual e pastoral, na formação, para celebrar, etc. São fontes de espiritualidade e novas formas de tecnologia que nos podem ajudar a compreender nossa época, exercer nosso papel de líderes na Igreja.
 O Papa disse que “O Mass Media são os areópagos da nossa época”. Devemos olhar e escutar o MM, estes nos mostram a vida de hoje, contam as historias de ânsias e esperanças e o destino da nossa gente. Se formos receptivos com relação a eles, compreenderemos sua mensagem e compreenderemos também qual pode ser a contribuição que podemos dar à nossa época. Como S. Paulo poderemos ser representantes do Deus Desconhecido ao MM. Devemos aprender do MM e depois dar a estes nossa contribuição.

A Espiritualidade dos filmes
Os audiovisuais têm hoje um papel predominante sobre a linguagem escrita, sobre a impressa.
O desafio para nós carmelitas hoje è expressar nossa espiritualidade por meio dos audiovisuais.
Existe muitos estudos sobre a espiritualidade hoje e muito interesse sobre este assunto.

A linguagem dos filmes.
A comunicação por meio de filmes, é um modo de contar a vida, de contar a própria história.
A vida está à procura de um narrador. A vida deve ser contada. Se contamos nossa história podemos começar a viver de um modo mais humano. A vida sem ser contada não é vida verdadeira.  Na nossa época, mais que nunca, a história está no centro de nossas vidas, ajudada pelos meios audiovisuais. Está procurando um narrador. Os filmes e a TV são aqueles que narram a história de hoje. Tantos programas de TV se dedicam a contar a história. Um “super star”  conta sua história para que o povo possa reconhecer-se nela. E isto ajuda a encontrar a própria identidade, a própria história.  Um dos motivos porque o povo assiste TV é justamente este. Não é só um fato de cérebro, mas é um fato de coração, falam das emoções humanas de base: sobre a vida e sobre a morte; sobre o ódio e sobre o amor, sucesso e falência, etc. O poder dos meios audiovisuais é justamente a capacidade de contar a história, apresentar o drama da vida. A vida humana se expressa em todas as suas direções. O povo é fascinado por este tipo de programas, assiste com prazer estas entrevistas. Na tradição católica aprendemos a amar as coisas celestes e a desprezar as coisas da terra. Podemos tornar fascinantes também as coisas terrenas, sentir prazer nas coisas terrenas, sem cultivar, naturalmente, uma cultura egoísta. Se é possível divertir sem esperar as coisas do céu. A cultura audiovisual trouxe precisamente a cultura do prazer, sem esperar pelo céu. Os meios audiovisuais não influem somente nas emoções de base, mas são agradáveis também do ponte de vista estético. A linguagem audiovisual possui muito mais possibilidades do que a imprensa de dar uma forma à mensagem. Tem a possibilidade da música, dos sons, cores, movimento, palavra falada,  palavra escrita: o binário áudio e o binário visual, imagens que se movem, combinações que permitem expressões detalhadas e ricas do pensamento.

Como descobrir a espiritualidade de um filme?
Questões Fundamentais para a formação sobre os filmes:
1. Que relação há entre filme e espiritualidade?
2. Como a espiritualidade é expressa na linguagem dos filmes?
3. Como podemos despertar a sensibilidade para a espiritualidade dos filmes?
4. Como preparar-nos para coordenar encontros, cursos e seminários sobre filme e espiritualidade?

Linguagem audiovisual e espiritualidade
A linguagem audiovisual é um matrimônio entre imagem e palavra, sob a presidência dos meios eletrônicos.  É uma combinação do que vemos e ouvimos: imagens, cor, movimento, sons, musica, palavras, canções, postos juntos para contar uma história, para dar uma mensagem.

Perguntas Fundamentais:
1. O que è espiritualidade?
2. Como a espiritualidade pode ser expressa na linguagem dos filmes e TV?
3. Como podemos tornar-nos mais sensíveis à espiritualidade dos filmes?
4. Como podemos coordenar encontros e seminários sobre a espiritualidade dos filmes?

O Instituto Tito Brandsma, de Nimega, Holanda, pode ser um modelo de pesquisa sobre a espiritualidade dos filmes.

Palavras Chaves na espiritualidade dos filmes:
1. Spiritus = respiro.
Sem respiro não existe vida.
Aspiração = motivação, força que motiva, que inspira.
Descobrir o spiritus, a motivação do protagonista do filme.

2. Experiência.
Todos nós temos experiências: experiências quotidianas, pequenas experiências, mas também grandes experiências, de dimensões mais profundas.
Como podemos definir nossa vida a partir destas experiências? Como podemos experimentar o mistério da vida através destas experiências?  Como fazer a experiência do santo, do sacro, do mistério, dos Santos, de Jesus Cristo, e do próprio Deus.
Temos tantas experiências e precisamos criar uma certa unidade em nossa vida. A criação da unidade è necessária para o nosso espírito em um tempo de fragmentação, de incoerências, de pluralismo.
A experiência è o ponto central na espiritualidade. Podemos explorar esta dimensão nas histórias dos filmes, descobrindo como os protagonistas tratam e integram suas experiências.
Descobrir quais são as experiências quotidianas do protagonista do filme e comparar com as nossas.
3. Contexto sociocultural. Ninguém vive no vácuo, no vazio, todos nós vivemos numa certa época, em um certo lugar. Temos um contexto sócio -  cultural - religioso.
Podemos indagar em que contexto vive o protagonista e este contexto nos fornecerá muitas informações sobre o protagonista.
O contexto constrói a pessoa e a pessoa reage de acordo com o contexto. Este è um ponto chave na espiritualidade. O protagonista, no filme, critica o contexto em que vive com a posição que toma. Esta è a espiritualidade do filme.
4. Processo. A espiritualidade implica um processo mais ou menos explicito. A vida humana è um processo, processo de mudança, de desenvolvimento, de crescimento. Um processo consciente faz parte da espiritualidade. Podemos perguntar como os protagonistas do filme dão forma a este processo, com as decisões que tomam. É um processo consciente. Podemos perguntar qual è o processo explicito do protagonista e não podemos menosprezar este ponto.
Estudos revelam que o telespectador muitas vezes se identifica com o protagonista do filme, mesmo se é um caráter malvado. Isto é importante para a espiritualidade.
5. Perspectiva ou ponto de vista. Nós sempre temos um ponto de vista, uma tomada de posição, da qual vemos a realidade. Pode ser um ponto de vista global, religioso, de fé. È uma visão que forma sobre a realidade, sobre a vida, sobre o mundo, sobre a sociedade, também sobre a Igreja. Hoje temos tantas formas de espiritualidade precisamente por causa destes pontos de vista.
A palavra Espiritualidade hoje tem um significado muito amplo: Espiritualidade da Nova Era, da Mulher, etc., e é usada de acordo com os diferentes pontos de vista.
Pode haver um dialogo entre a espiritualidade cristã e a espiritualidade secular?
Nós carmelitas podemos descobrir a espiritualidade secular dos filmes?  O que significa isto? È possível um dialogo entre a minha espiritualidade e a espiritualidade do Mas Media? Pode ser uma experiência de enriquecimento? Podemos contribuir para o desenvolver isto? São questões sobre as quais devemos refletir.

 6. Transformação.  A espiritualidade implica uma mudança, uma transformação na vida, no sentido de integração, unidade, realização, humanismo, cristianismo.
Podemos notar que os personagens no final do filme não são iguais a antes. Que processo sofreram, que tipo de transformação tiveram?

7. Modelos Místicos. Todos os fenômenos da vida são conexos,  têm uma origem comum. Misticismo é um fenômeno que se encontra em todas as religiões e culturas. As formas de expressão são diversas mas a chave é igual em qualquer lugar. Escritores dizem que muitas pessoas em nossa época tem experiências místicas. É possível que o protagonista de um filme tenha experiência mística? Devemos ser abertos a esta possibilidade.

Devemos usar estas palavras chaves para construir um modelo, “spiritus”, de experiência. Com estas podemos explorar e definir a espiritualidade. Podemos usar este modelo para explorar o fenômeno espiritual nos vários filmes.
Quando falamos sobre  filme e espiritualidade, não falamos só dos filmes ou só de nós, devemos comparar nossas experiências com a do filme. Em um encontro ou seminário a coisa mais importante não é o filme, mas a reflexão ou debate que se faz sobre o filme. O filme è um ponto importante, mas é somente um ponto, outro ponto é nossa reflexão comum sobre a espiritualidade que se quer descobrir no filme, que se deve construir juntos.
1. Espiritualidade é o cultivo do espírito, do ponto de vista cristão,  carmelita.
2. Filme é a linguagem audiovisual, com seus dramas e histórias, com as emoções, afetos, fantasias, todas as emoções humanas básicas: amor, ódio, ternura, etc. contadas de forma concentrada, reduzida, . Existe momentos cruciais do protagonista que são expressos no filme, momentos de transformação, por isso é uma linguagem excelente para a espiritualidade.
3. A linguagem do filme pode expressar muito bem o contexto em que vive o protagonista. O filme usa uma linguagem especial que toca as emoções. A primeira possibilidade que usa é o drama, a  segunda é a concentração, muito necessária na vida, e a terceira é o contexto, encarnado em pessoas vivas. Mais que reflexões, o comportamento das pessoas tocam as sensibilidades. A espiritualidade è incarnada em uma pessoa. A linguagem do filme é um meio excelente para apresentar a vida espiritual como uma viagem, como uma peregrinação, como caminhada, como desenvolvimento.
4. A experiência de vida do protagonista  - è  uma comunicação não verbal - revelada nos gestos, na expressão do rosto, nas reações. A linguagem audiovisual pode revelar a vida no espírito de uma pessoa, na qual acontecem transformações  emotivas: A alma se transmite pelo rosto.
5. Relação entre a historia do filme e o telespectador. O telespectador pode entrar em dialogo com a historia do filme. Partilhando com outros suas emoções, torna-se uma espiritualidade dialógica. A linguagem do filme pode estimular muita gente a falar, criando possibilidades amplas para exprimir os fenômenos espirituais e enriquecer-nos.
Com ajuda dos filmes, podemos tomar consciência do fenômeno central da espiritualidade em nossas vidas com seus dramas. Pode-se tomar consciência que os vários processos de purificação, os dramas, a noite escura, podem mudar nossas vidas, é um desafio para o qual não encontramos todas as respostas.
É necessário explorar as possibilidades dos filmes para a espiritualidade. O que nós carmelitas podemos fazer a respeito desse fenômeno da espiritualidade?

Filmes e espiritualidade
Depois um pouco de discussão se pode integrar os vários significados, devemos ter confiança no público, que tem a capacidade de compreender juntos, na sua partilha,  o que significa o filme para eles sem violar o sentido da fé.
È importante também à direção do animador, que tenha a capacidade de centralizar alguns pontos.
O dialogo feito a partir do filme é mais importante do que o próprio filme.
1. O filme pode oferecer um maior conhecimento cristão
2. Externar um processo de partilha.
3. Dar uma orientação à nossa experiência, nossa visão, nossa expectativa.
4. Desenvolver o significado espiritual.
5. O uso do filme na espiritualidade oferece enorme possibilidades para o ministério pastoral em uma cultura audiovisual.

Nem todos os filmes tem a mesma importância para a espiritualidade.
Os filmes são fontes de uma experiência forte, a historia do filme conta uma reorganização da vida, com seus momentos de felicidade, crises, de rupturas, etc.
Na coordenação de estudos, encontros e seminários sobre filme e espiritualidade é importante ter bem presente os critérios para a seleção dos filmes.
O grupo deve tornar-se uma comunidade de interpretação, desenvolve um senso de espiritualidade à luz do Evangelho, criando uma nova forma de ministério pastoral, nos grupos de jovens, nas paróquias, nas casas de formação religiosa.
É um campo muito importante que deve ser explorado, apresenta muitas possibilidades para conhecer melhor a cultura na qual vivemos.
Podemos criar na Ordem uma política de comunicação em um mundo em transformação.
  Relacionamento entre regista e consumidor - técnica do mercado
Pensamos que estamos comprando aquilo de que temos necessidade, mas na realidade è que compramos aquilo que a propaganda quer que eu compre.
O relacionamento entre regista e telespectador é o mesmo - o regista
Devemos fazer com que o publico seja mais autônomo com relação à TV
Devemos perguntar: - que uso faz o publico faz da mensagem?  Deve-se construir o significado.
Devemos fazer com o MM como se faz nas CEBs, onde as pessoas se reúnem para refletir a Bíblia, que è um livro que se lê sem exaurir o significado.
Pode-se formar comunidades que sejam capazes de interpretar o filme.

Publicidade
Vejamos por exemplo uma publicidade de tinta segundos que apresentam uma mensagem fascinante, convencem as pessoas só em 30 segundos.
Embora empregue muito tempo para preparar, a estética tem uma função muito importante: preparar o telespectador para receber a mensagem. Cria interatividade entre quem transmite a mensagem e quem a recebe e os usuários podem determinar o uso destes, podem ser ativos ou inativos.

A publicidade usa dois tipos de meios:
-  audiovisual: prepara o telespectador  à mensagem
- parte verbal: que é a verdadeira mensagem.
È uma mensagem agradável, porque é acompanhada de cor,  música, sons, movimento,  è uma história dramatizada, de fácil compreensão,

Pode ser analisada a partir de 3 critérios de avaliação:
-  Econômico : custa muito
- Ético :  aspecto moral da vida. Os meios audiovisuais são abertos às dimensões humanas e
espirituais. È importante explorar e descobrir a dimensão religiosa, moral e espiritual dos mesmos.
- A estética é utilizada para criar espaço no telespectador para receber a mensagem.

Às vezes em uma publicidade de 25”, só nos últimos 5” se revela a mensagem. 20” para criar expectativa, preparar para a recepção da mensagem, criar tensão, abrir  o telespectador ao acolhimento. A mensagem vem só no fim. È uma mensagem atraente, com belas imagens. Usa da estética para atrair o telespectador.
Para nós, Igreja, é importante refletir sobre esta utilização dos audiovisuais na publicidade.
Usamos muito a imprensa, mas a expressão audiovisual, que são os meios principais de hoje, ainda não. O povo hoje é audiovisual. Nos arrependeremos se não os usarmos. Devemos perguntar-nos como transmitir o nosso carisma através destes meios.  Passamos da cultura impressa à cultura audiovisual. Por muito tempo estas meios foram vistos com suspeita, mas hoje sabemos que eles são interativos. Além do mais, o telespectador pode escolher o que assistir. Pensou-se que estes eram contra a vida religiosa, mas os tempos são mudados e estes meios mudaram nossa vida.
Nós que somos da cultura literária temos dificuldades em compreender a cultura tecnológica. Mas as novas gerações está domesticada nesta cultura, mais envolvida nela, comeu e bebeu da mesma. Mas também nos devemos aprender a apropriar-nos desta cultura.
Como expressar nossa tradição com os meios audiovisuais?

Apresentação de filmes

Foret Gamp:
 Filme popular. Ponto central: A vida humana tem um destino. Porque estamos sobre a terra? Qual é o nosso destino?
Toca as diversas sensibilidades de milhões de pessoas. As questões de destino da Providencia são simbolizados no início e no fim do filme por uma pluma branca que desce e sobe.
Um jovem, um pouco retardado mentalmente, com um Q.I. de 75%, conta sua vida. Em uma série de flashs, cenas, imagens, mostram como as pessoas reagem com relação a ele, o consideram um tolo, um bobo. Se de uma parte é considerado bobo, por outra é alguém que faz esforços sobre-humanos, é considerado um herói, honrado por diversos presidentes dos USA. Ama muito Jane, sua esposa. È uma pessoa muito simples e é orientado pelos sábios provérbios d sua mãe.
Jane è uma jovem inquieta, sempre insegura, olha sempre para o alto, quer transformar tudo em céu, longe da realidade cruel. É difícil para os dois viverem juntos. Quando se esforçam por conviverem, Jane o abandono imprevistamente e então ele começa uma maratona pelos USA, corre por 3 anos, 2 meses, 14 dias e 6 horas.  Depois, Forest vai à casa de Jane. Ela tem um filho, Forest Gamp Júnior,  e está muito mal de saúde. Ele a leva para sua casa, cuida dela até à morte.
No fim do filme, Forest fala com Jane no túmulo. Depois leva seu filho à escola, como sua mãe fazia com ele, e aquela pluma sobe dos seus pés para o alto. Forest evoca associações e compreende o que é essencial na vida humana.
Com sua amabilidade, Forest nos apresenta um mundo de amizade, de amor, de honestidade, de caridade. Tudo isso é ressaltado nas suas atitudes. Portanto, o filme é uma lição de realidades eternas, é um mito sobre as origens e o destino da raça humana. Tem um direcionamento moral, espiritual e também humorista.
Porque este filme? Porque feito nos USA em tempos de racionalismo e eficiência técnica?

Para os Grupos:
1. Refletir sobre: como o filme trabalha a imagem, a música, o drama e identificar cenas, música, frases que mais tocam sua sensibilidade.
2. Quais valores espirituais  pode-se encontrar e experimentar no filme?

Os últimos passos de um Homem
O filme gira em torno do tema Vida & Morte.
Feito em 1995, nos USA. Uma freira americana escreveu um livro sobre seu trabalho com 2 condenados à morte e este foi transformado em filme. È um filme sobre a pena de morte.
O protagonista, com outro companheiro, matou uma moça e um rapaz e foi condenado à morte. O papel central é ocupado pela freira, Ir Helena. O filme mostra o lado desumano da pena de morte.

Para os grupos:
1. Que experiência você fez sobre a direção espiritual da Ir Helena: imagens, palavras, expressões...
2. Fazer relação entre a direção da freira e a conversão do assassino.
Devemos ser prudentes ao utilizar a arte na espiritualidade. Saber fazer a diferença entre: o que o filme mostra em si e aquilo que percebemos com nossa sensibilidade. Aquilo que percebemos está no filme ou está em nós? Às vezes vemos no filme nossas projeções mentais. Não interpretar no filme aquilo que o autor não quis dizer, estar atentos às nossas projeções. As experiências subjetivas referentes ao filme depende da historia pessoal.

O filme pode ser interpretado em dois níveis:
- O que o filme mostra em si
- O que o telespectador percebe a partir da sua vivência, a partir de sua experiência.
Depois integrar os dois aspectos.
Como fazer um grupo de pessoas tornar-se uma comunidade de interpretação, que descubram juntos o que o filme quer dizer? Saber descobrir sinais de vida expressos nos filmes.

Meios de Comunicação e Evangelização
Pierre Babin
Como usar os MCS para aumentar nosso impacto na sociedade, para comunicar nossa mensagem? 
Como superar nossos preconceitos?
Um conceito – “Os meios de comunicação ajudam a tornar a mensagem aceitável”
São ajudas.  – Este conceito não é correto.  É uma concepção instrumental.  Devemos passar a uma concepção cultural. Se mudar o nosso modo de comunicar, mudará a sociedade.
Taizé não usa meios, todo o conjunto celebrativo  constitui os meios.
Nós consideramos o que Cristo disse como a mensagem, em vez, a mensagem é o próprio Cristo, seu relacionamento com as pessoas.
Se evangeliza quando se une ao povo que se quer evangelizar, não transmitindo doutrinas, mas criando laços.
A Redemptoris Missio diz que “não basta usar os meios,  é necessário integrar a mensagem na nova cultura”. Não só conhecer o aspecto técnico dos MCS, mas conhecer e integrar-se na nova cultura.
Nesta nova cultura o conteúdo é a pessoa que evangeliza. Eu leio a Bíblia, ela me converte, eu me torno seu conteúdo.
A chave desta nova cultura é a vibração  =  modulação.

Os cinco aspectos desta nova cultura:
Modulação – ( impacto )  linguagem fundamental:
Para evangelizar é necessário despertar a interioridade.  Para entrar nesta cultura devo ser receptivo, é uma linguagem que exerce um impacto, que não é intelectual. Não precisa pensar, só receber o impacto no sistema nervoso (ex: uma visita do Papa) .
 Se entramos nesta cultura compreenderemos como as novas gerações vivem esta modulação.
Há 5 séculos vivemos na cultura intelectual, hoje devemos adotar a pastoral da modulação.
Qual é o papel da pregação?
- Devemos estar atentos para que nossa modulação desperte a interioridade.

Os ouvintes – ocupam o primeiro lugar.
O ouvinte torna-se o elemento mais importante quando se torna parte do comunicador.
Partilha – é o método  ( admirável comércio entre quem emite e quem recebe a mensagem)
A Evangelização é uma conversação na praça do mundo para transmitir uma mensagem.
O centro não é Deus como Verdade, mas Deus como um bem. A evangelização mais do que troca de opiniões é troca de bens.  É como no comércio, a primeira coisa a se fazer é estimular desejos.  A evangelização é oferecer uma experiência. O que toca mais em uma visita do Papa é sua presença, oferece uma experiência.
O método não é dar uma quantidade de doutrina, mas levar a um relacionamento, fazer experiências juntos, viver juntos.
Em vez de apresentar a figura de Cristo, levar a fazer experiência de Cristo, despertar o eu como pessoa humana, ligado a Cristo, entrar em contato consigo mesmo, é uma intuição.

O ambiente ( terreno)
Criar ambiente de silêncio ( música, canto) para  despertar o desejo de Deus. Deve ser pastoral do terreno, em vez de ser pastoral de palavras. Um pouco de música, luzes, uma frase da Bíblia, diz mais do que muitas palavras. Tem necessidade de um pouco de sombras, um pouco de luz, silêncio, para despertar o sentimento interior. Modificar o tom de voz, preparar o ambiente, o terreno, despertar o silêncio.
Na cultura literária a figura ( palavra) é mais importante do que o terreno, na cultura audiovisual o terreno é mais importante.

Turbulência – (ondulações) leva à interioridade
Muitas vezes as pessoas têm necessidade de espiritualidade e não as tem. Ser testemunha é levar o outro a escutar a voz interior. Se não despertarmos o senso do mistério, de ser si mesmo, não evangelizamos. Uma mistura de mistério e necessidade.
O cristão do futuro ou será mistério ou não será cristão.

Quem trabalha com os jovens deve fazer crítica de modo positivo, viver com atitude positiva diante da nova cultura. O perigo é querer seguir  a moda para ser como os jovens, fazer tudo o que eles fazem.
Adotar uma nova cultura não significa desprezar a anterior, mas dar mais  atenção a uma nova mentalidade, a uma nova cultura e tentar relacionar as duas.
*Síntese do Curso sobre Comunicação, promovido pela Ordem Carmelita em Sassone, Roma, 1998.

FREI PETRÔNIO: Pensamento do Dia. (Quarta, 26).

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

FREI PETRÔNIO: Pensamento do Dia. (Segunda, 24).

PROTESTO EM FRENTE DA PETROBRÁS- 01

PROTESTO EM FRENTE DA PETROBRÁS- 02

A ESPIRITUALIDADE LITÚRGICA CARMELITANA (3ª Parte)

Frei James Boyce, O.Carm.

Espiritualidade Litúrgica Carmelitana Medieval

Introdução
Uma discussão sobre a espiritualidade litúrgica carmelitana medieval responde a pergunta: “O que os carmelitas medievais consideraram importante em sua herança e como a celebraram liturgicamente?” O objetivo deste capítulo é discutir os aspectos principais da herança carmelitana, o modo com que os carmelitas medievais a viam e examinar como eles a celebravam liturgicamente. Estes elementos são:

1)      A herança da Terra Santa
2)      A devoção à Maria
3)      Novos santos acrescentados à liturgia, refletindo sua inserção no Ocidente.

São significativos também os aspectos litúrgicos ausentes, pelo menos, dos manuscritos medievais até o século XV.[i]  Eles incluem festas carmelitanas próprias, cuja existência antes do Concílio de Trento não se pode provar: as liturgias para Santo Elias e Santo Eliseu, que começaram a ser celebradas apenas no período Tridentino; e um ofício padronizado para a festa de Nossa Senhora do Monte Carmelo, que não aparece em nenhum manuscrito antes de 1500.

A Herança da Terra Santa
Várias festas litúrgicas proeminentes no Rito do Santo Sepulcro continuaram no rito carmelitano e se distinguiram de outras observâncias litúrgicas:

a)      A Celebração da Ressurreição, celebrada no último Domingo do ano litúrgico;
b)      As festas dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, celebrada em 06 de outubro;
c)      A festa da Transfiguração, celebrada em 06 de agosto;
d)     Santa Maria Madalena;
e)      A tradição Petrina e Paulina.

A Celebração da Ressurreição
A própria raison d’etre para o Rito do Santo Sepulcro era o túmulo do Senhor, do qual recebeu seu nome. Dificilmente podemos imaginar o esforço que deve ter sido para os cruzados atingirem o local verdadeiro onde acreditavam que o Senhor tinha sido sepultado. Dentro do contexto da Terra Santa, o local deste túmulo era a meta para todos os peregrinos, desde o tempo de Constantino até o período medieval e servia como a única razão para Jerusalém ser o principal local de peregrinação.[ii]  A festa da Celebração da Ressurreição revive assim, mais uma vez, o evento único, intimamente vinculado com o próprio local sagrado e que, como nos lembra São Paulo, define nossa própria salvação: “se Cristo não ressuscitou, a fé que vocês têm é ilusória” (1Cor 15,17).[iii]  Enquanto a própria Páscoa é central para todo rito litúrgico, a celebração da ressurreição é uma festa distinta, restrita a costumes relacionados com a Terra Santa. Esta festa praticamente herdava da festa da Páscoa todos os seus cantos e orações, mas ela era uma celebração que, feita imediatamente antes do início do Advento, mostrava-se como a culminação de todo o Ano Litúrgico. Teologicamente isto significa uma segunda celebração da experiência da Páscoa. Ela também ocorre em novembro, um tempo quando a Igreja universal, incluindo este Rito, celebra as festas de Todos os Santos e de Todas as Almas, aqueles que na fé se foram antes de nós. Portanto, a Celebração da Ressurreição reforça o significado dos efeitos da ressurreição na humanidade num tempo quando a igreja celebra a morte. Isto tem um impulso teológico positivo e uma reafirmação de esperança em meio à aflição.
Toda Eucaristia por definição celebra a morte e a ressurreição do Senhor. Através da Eucaristia diária, prescrita aos primeiros eremitas no Monte Carmelo e, subseqüentemente, observada através da Ordem, o mistério Pascal era um fenômeno constante para os carmelitas. Pela festa da Celebração da Ressurreição o que era celebrado em um único dia, agora prolonga-se em uma estrutura mais ampla, por todo o ano litúrgico. A localização da festa, no último domingo do ano litúrgico, prolongava consideravelmente o evento em seu aspecto litúrgico. Enquanto a época da Páscoa termina em Pentecostes, seu reforço pouco antes do Advento tinha o efeito de mantê-la em primeiro lugar na mente até o começo do próximo ciclo principal, aquele do nascimento do Senhor começando com o primeiro Domingo do Advento. Tal visão do ano litúrgico é peculiar ao Rito do Santo Sepulcro e nas observâncias que derivam dele e é explicado por sua estrita associação com o túmulo do próprio Senhor.

A Festa dos Patriarcas Abraão, Isaac e Jacó
A celebração de personagens do Antigo Testamento como uma festa, igual aos personagens do Novo Testamento, é certamente notável. Ela mostra que os patriarcas foram aceitos como santos na liturgia, apesar da convicção da ressurreição e da designação associada de santidade não serem necessariamente uma parte da vida espiritual deles como judeus observantes. O fato de Nosso Senhor ter se referido aos patriarcas como presentes no reino (Lc 13,28) e citado a referência a Deus de Êxodo 3,15: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó” (Mc 12,26; também cf. Mt 22,31-32 e Lc 20,37-38), usando deliberadamente o tempo presente como uma prova para os saduceus de que há uma ressurreição, legitimaria a festa que os venerava como santos. Mas tal festa é, sem dúvida, digna de nota.
A festa dos patriarcas fornecia um elo entre os carmelitas e a própria Terra Santa, da mesma maneira que o Rito do Santo Sepulcro. Os carmelitas veneravam os heróis do Antigo Testamento, pessoas que foram especialmente escolhidos por Deus e a quem Deus se revelou de um modo único e pessoal. A versão carmelitana desta festa é muito mais completa do que a sua versão complementar do Santo Sepulcro (pelo menos nas fontes existentes), geralmente restrita à uma única oração, ainda que em sua versão carmelitana a festa seja particular.[iv]
A compilação dos textos para este ofício é particularmente interessante: os responsórios vêm de textos que são específicos aos profetas enquanto que as antífonas são mais gerais. Os responsórios, tirados do domingo antes da Quaresma (conhecida na liturgia medieval como “Domingo da Qüinquagésima” porque caía cinqüenta dias antes da Páscoa), se inspiram nas passagens do Antigo Testamento que os menciona pelos nomes. As antífonas são tiradas da comunhão de vários santos e também do próprio da festa de Todos os Santos. Os textos se referem repetidamente a santos ou a homens santos em geral, mas afirma claramente a santidade dos patriarcas. Ainda que esta referência seja feita presumivelmente, em respeito à estima deles dentro do contexto do Antigo Testamento, também pode ser encarada como alguma forma política, já que nenhum deles foi oficialmente reconhecido como um santo pela Igreja. A natureza incomum desta festa provavelmente encorajou os carmelitas a enfatizarem a santidade deles impondo uma festa ao rito católico.
A veneração dos patriarcas como homens santos no ritual carmelitano é significativa, já que a busca pela santidade é uma parte intensa da vocação carmelitana. Por isso, eles escolhem os patriarcas não apenas para enfatizar a santidade destes heróis do Antigo Testamento, mas para assumirem também a santidade deles. Assim, a festa lembra, no seu primeiro impulso, a sermos pessoas de oração acima de qualquer coisa. A ausência de um fundador específico permitiu aos carmelitas adotar exemplos de santidade onde quer que se encontrem.

A Festa da Transfiguração
A Festa da Transfiguração, que revive uma experiência única na vida de Nosso Senhor, bem como seu relacionamento com alguns discípulos escolhidos, foi identificada pela tradição numa localização específica da Terra Santa: o Monte Tabor.[v]  A associação óbvia da festa com este local da Terra Santa justificou sua inclusão, numa data bem antiga, na liturgia do Santo Sepulcro e, posteriormente, no Rito carmelitano. No entanto, sua celebração não está absolutamente restrita ao Santo Sepulcro e à tradição carmelitana. De fato, o monge cluniacense Pedro, o Venerável, é reconhecido como o escritor de um ofício para a Transfiguração.[vi]  Alguns dos textos do rito carmelitano são semelhantes à versão de Pedro, mas existem discrepâncias claras entre os dois ofícios. Todas as orações e cantos para esta festa são tirados do próprio relato das Escrituras, que serve como modelo para a vida contemplativa e ajusta-se adequadamente ao ideal carmelitano. Pedro, Tiago e João foram escolhidos pelo Senhor para acompanhá-lo até o monte onde, através da contemplação, sua compreensão do Senhor e o seu significado crescem imensuravelmente. Entrando neste relacionamento privilegiado com o Senhor, eles não apenas o vêem transfigurado, mas a própria fé deles também é transformada.
A festa da Transfiguração serve de inspiração para todo carmelita que busca a transformação pela oração. A intimidade dos discípulos com o Senhor serve como um modelo para todos que buscam um relacionamento com Jesus através da vida de oração. Como Pedro, Tiago e João, cada carmelita foi escolhido por Deus para caminhar com o Senhor buscando uma consciência mais profunda de Deus e de si mesmo. A ascensão do Monte Carmelo, como aquela do Monte Tabor, leva os participantes à presença de Deus, numa união mais profunda com o Senhor.

Santa Maria Madalena
A festa de Santa Maria Madalena se destaca na liturgia carmelitana medieval, fazendo parte de um amplo conjunto que enfatiza todo o Mistério Pascal. Sendo a primeira testemunha da ressurreição, Maria Madalena goza de grande importância na vida da Igreja, incluindo a liturgia. A organização carmelitana da festa foi diretamente recebida do ritual do Santo Sepulcro. A observância da Terra Santa, por sua vez, baseava-se numa tradição francesa, o que também explica a proeminência de Santa Maria Madalena, já que o mosteiro beneditino francês de Vezelay foi de muita influência na propagação de seu culto.[vii]  Por extensão, qualquer liturgia associada a do Santo Sepulcro também venerava Maria Madalena com grande solenidade. A liturgia carmelitana seguiu a tradição do Santo Sepulcro com fidelidade tal, que até herdou a típica confusão na qual Maria estava envolvida. Assim, um dos responsórios, Optimam partem, refere-se à Maria, que ao contrário de sua irmã Marta, escolheu a melhor parte, isto é, a contemplação. A confusão entre Maria de Betânia e Maria Madalena na liturgia carmelitana refletiu a confusão geral, bíblica e medieval, sobre ela.[viii]  Por outro lado, esta antífona permitiu aos carmelitas darem expressão ao valor da vida contemplativa que eles abraçaram dentro de um contexto litúrgico. Desse modo, a idéia de que “ela escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” reforçou, para o carmelita medieval, o valor duradouro da vocação contemplativa que escolheram.
O papel teológico central de Maria Madalena como anunciadora da ressurreição também estabeleceu o relacionamento entre ela e o evento da Páscoa, fato de grande importância na vida de cada cristão e, particularmente, celebrado dentro da liturgia carmelitana. A história de sua ida ao túmulo com perfumes e aromas, para ungir o corpo do Senhor, recontada na palavra e cantada no ofício de Santa Maria Madalena, servia para os carmelitas como outra lembrança do poder permanente do evento da Páscoa. Esta história também lembrava ao carmelita que seu objetivo na vida, como o de Maria Madalena, era servir às necessidades do Senhor e, por extensão, às da Igreja. Assim, a vida de Maria Madalena serviu como um excelente exemplo para o carmelita medieval de como combinar eficazmente a contemplação e os estilos de vida ativa dentro de uma única vocação.
Maria Madalena, como a pecadora arrependida, também serve de modelo para o carmelita que, através da vida de oração e de penitência, busca a transformação para a santidade. A busca contemplativa de Deus é afastar-se das tentações mundanas para viver na presença de Deus. Assim como a Regra detalhou a armadura espiritual a ser usada enquanto o carmelita combate o fogo do mal, o exemplo de Maria Madalena, passando do pecado à santidade também serve como um modelo eficaz para o carmelita cuja vida é de conversão contínua.

A Tradição Petrina e Paulina

Nunca é demais ressaltar o significado dos santos Pedro e Paulo na vida litúrgica da Igreja Cristã. O primado de São Pedro, aquele que foi encarregado de presidir a Igreja pelo próprio Senhor, sempre foi de grande significado litúrgico. A conversão de São Paulo, de um vigoroso perseguidor dos cristãos a um apóstolo entusiasmado, espalhando a mensagem cristã por muitos lugares do mundo antigo, foi provavelmente o evento mais importante na vida da Igreja primitiva. Os carmelitas, a exemplo do rito do Santo Sepulcro, celebravam as festas da Conversão de Paulo, da Cátedra de São Pedro, dos santos Pedro e Paulo e a Celebração de São Paulo. Além disso, nas festas carmelitanas Petrinas e Paulinas a ordem das partes, especialmente para o ofício, divergia consideravelmente de outras tradições e seguiam fielmente o rito do Santo Sepulcro.
A importância de festas em memória dos santos Pedro e Paulo na liturgia carmelitana servia de recordação das vidas heróicas daqueles dois importantes líderes, assim como o estabelecimento da Ordem na vida da Igreja. Quando se incorporaram nas estruturas da Igreja, os carmelitas floresceram como uma Ordem e a autoridade eclesiástica, sugerida pela festa da Cátedra de São Pedro, foi algo que eles acolheram com alegria. O exemplo corajoso e o zelo pelo Evangelho, exemplificados de formas diferentes por Pedro e Paulo, serviam de modelo para os carmelitas, especialmente quando eles adotaram a estrutura mendicante.

A devoção mariana
Desde o começo da Ordem os carmelitas dedicaram-se à Virgem Maria. A tradição diz que o oratório no Monte Carmelo foi dedicado em honra a Maria,[ix]  e que a identificação dos carmelitas como “Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo” foi adotada já em 1252.[x]  Os carmelitas observaram as festas marianas comuns à toda a Igreja: a Purificação em 02 de fevereiro, a Anunciação em 25 de março, Nossa Senhora das Neves em 05 de agosto, a Assunção em 15 de agosto, a Natividade em 08 de setembro e a Concepção da Virgem em 08 de dezembro. O Capítulo Geral de Frankfurt em 1393 acrescentou duas novas festas: a Visitação em 02 de julho e a Apresentação de Maria em 21 de novembro.
As cinco antífonas para as primeiras Vésperas em todas as festas marianas são as mesmas na liturgia carmelitana e coincidem exatamente com suas correspondentes na liturgia do Santo Sepulcro. Até a música é a mesma em todas as ocasiões, de modo que eles foram muito cuidadosos em preservar intacto este aspecto de sua herança da Terra Santa. Esta associação das antífonas marianas preservou o elo entre os carmelitas espalhados por todo mundo e a observância original no Monte Carmelo, se é que os carmelitas realizaram conscientemente este feito. As antífonas são as seguintes:
Hec est regina virginum que genuit regem velud rosa decora virgo dei genitrix per quam reperimus deum et hominem alma virgo intercede pro nobis omnibus.
Eis a rainha das virgem que gerou o rei; verdadeiramente uma bela rosa, a virgem mãe de Deus, através de quem nos aproximamos de Deus e do homem; ó virgem bela intercede por nós.
Te decus virgineum virgo dei genitrix maria te solem inter omnes virgines castissimam ex oramus ut pro salute nostra apud dominum intercedere digneris.
Tu és o esplendor das virgens ó virgem Maria, mãe de Deus; somente tu dentre todas as virgens sois a mais casta; assim, rezamos para que tu possas dignar-te a interceder por nossa salvação diante do Senhor.
Sub tuum presidium confugimus dei genitrix nostras deprecationes ne despicias in necessitatibus sed a periculis libera nos semper virgo benedicta.
Sob vosso trono nos reunimos ó mãe de Deus; não ignoreis nossas súplicas em tempos difíceis, mas livrai-nos sempre do mal ó bem-aventurada virgem.

Sancta Maria succurre miseris iuva pusillanimes refove flebiles ora pro populo interveni pro clero intercede pro devoto femino sexu.
Santa Maria socorrei os pobres, ajudai os fracos, consolai os tristes, rogai pelo povo, protegei o clero, interceda por todas as mulheres.
Beata Dei genitrix maria virgo perpetua templum domini sacrarium spiritus sancti tu sola sine exemplo placuisti domino ihesu christo ora pro populo interveni pro clero intercede pro devoto femino sexu.
Bem-aventurada mãe de Deus, Maria, sempre virgem, templo do Senhor, receptáculo do Espírito Santo, somente vós sem exemplo fostes agradável ao Senhor Jesus Cristo; orai pelo povo, intervenha pelo clero, interceda por todas as mulheres.
Todas estas antífonas têm como tema comum Maria como intercessora, o que era parte integral da devoção mariana carmelitana. Pela postura do suplicante, pequeno e humilde, que não quer nada mais além de ser agradável a Deus, o carmelita implora o favor da intercessão de Maria. Ela, como o receptáculo do sagrado (“templo do Senhor e receptáculo do Espírito Santo”), oferece a razão para venerá-la. A idéia de Maria como aquela que nos protege do perigo, predominante na terceira antífona, encoraja o carmelita a nela confiar. Isto é especialmente tocante quando consideramos que na Terra Santa a segurança na prática da fé não era dada como certa e que os últimos frades no Monte Carmelo foram mortos em 1291. O uso das mesmas partes para todas as festas marianas deu um senso de consistência e de unidade à devoção litúrgica carmelitana à Maria e manteve uma ligação permanente com a primeira experiência que eles tiveram no Monte Carmelo. A festa da Concepção da Virgem é importante para a liturgia carmelitana já que os carmelitas, junto com os franciscanos, fizeram uma ativa campanha para sua aceitação pela Igreja.[xi]  Para os carmelitas a festa representava uma extensão de sua já forte devoção mariana. Os cantos foram tirados da festa da Natividade de Maria em vez de serem composições novas, incluindo as antífonas padrões das primeiras Vésperas. Assim, eles foram capazes de acrescentar uma nova festa ao seu repertório, ajustada ao modelo de sua devoção mariana, sem interferir com suas obrigações para com a observância do Santo Sepulcro. A festa foi adotada na liturgia em 1306,[xii]  pouco antes da promulgação da Rubrica de Siberta que, posteriormente, consagrou seu uso por todo o período medieval.
Nestas festas marianas, onde orações e cantos padrões foram adaptados para a festa individual, a ordem das partes dentro de cada festa dá a celebração seu caráter especial. Deste modo, a liturgia carmelitana tinha uma ordem peculiar de cantos para cada festa, mas os cantos e as próprias orações eram tradicionais. A devoção carmelitana a Maria os impelia a adotar um grande número de festas marianas e a celebrá-las num estilo uniforme.
A festa da Visitação incluía um ofício, parcialmente rimado, que era comum no ocidente e entrou na liturgia carmelitana no Capítulo de Frankfurt em 1393.[xiii]  A festa só havia sido promulgada no ocidente pelo papa Bonifácio IX, em sua bula Superni benignitas conditoris e desde o princípio era observada em 02 de julho.[xiv]  Depois que o dominicano Raymond de Capua escreveu o ofício rimado para a festa,[xv]  os carmelitas seguiram o ofício apresentado pelo papa em sua bula. Os textos para a festa da Visitação derivam do relato de Lucas, incluindo partes do Magnificat adaptadas para o uso no ofício. Além do aspecto da devoção mariana, a festa da Visitação era particularmente importante para os carmelitas, já que ela celebra a visita de Maria a sua prima Isabel e a mútua alegria que elas tiveram pela ação de Deus em suas vidas. O(A) religioso(a) carmelitano(a) acolhe a ação de Deus em sua vida através da vida comunitária. Assim como Maria e Isabel ganharam novo discernimento sobre o mistério do plano de Deus em suas vidas através do diálogo, assim, também, o carmelita cresce na consciência da presença de Deus através da oração pessoal e da vivência comunitária.
A festa da Apresentação da Virgem foi introduzida no Ocidente pelo cruzado Philippe de Mezieres, chanceler do ducado de Chipre, que escreveu um ofício para ela. Este ofício foi primeiramente apresentado na igreja franciscana em Avignon em 21 de novembro de 1372, na presença da corte papal.[xvi]  Os carmelitas o aceitaram em sua liturgia em 1393.[xvii]  A festa é interessante, já que Philippe de Mezieres era um amigo pessoal do carmelita São Pedro Thomas e até escreveu a primeira biografia completa deste santo carmelitano.[xviii]  No entanto, apesar desta amizade, o ofício que Philippe compôs não era usado na liturgia carmelitana.[xix]
Os textos para a festa, em vez de se referirem à apresentação de Maria no Templo, baseado no Evangelho apócrifo de Tiago, fazem uma reflexão sobre a experiência da apresentação com abundantes referências a Maria relacionadas ao Carmelo. Embora nenhuma referência no manuscrito indica que tenha sido um carmelita quem compôs os textos, eles são tão específicos que podemos quase certamente chegar a esta conclusão. A maior parte da música foi adaptada de outros ofícios, principalmente o de São Tomás de Cantuária. Provavelmente por causa da popularidade do culto e da alta estima devotada a seu compositor, Bento de Peterborough.[xx]  O grande número de festas marianas na liturgia carmelitana assegurava que a presença dela fosse invocada num esquema sistemático. A devoção popular da Missa da Bem-aventurada Virgem no sábado manteve presente, dentro de uma rotina semanal, tudo o que era celebrado nas muitas festas ao longo do ano.
Ao considerarmos o conjunto das festas marianas na liturgia carmelitana, percebemos que a veneração da santa mãe de Deus era uma parte integral da vida de fé e da experiência do culto que eles tinham. As várias festas simplesmente deram expressão contínua à profunda devoção que os carmelitas tinham por Maria e ao compromisso deles em viver como discípulos de Jesus Cristo. Os carmelitas aceitaram todas as festas marianas regulares aprovadas pela Igreja e as tornaram suas. Eles viam Maria como uma intercessora diante de Deus, como o esplendor do Carmelo, a epitomia de virtude e aquela cuja santidade e fidelidade eles buscavam imitar em sua própria jornada humana.

Novos santos acrescentados à liturgia carmelitana
Os novos santos acrescentados à liturgia carmelitana durante o período medieval refletem seu vínculo com a Terra Santa, assim como sua adaptação à vida na sociedade ocidental.

Santa Ana
A festa de Santa Ana, mãe da Virgem Maria, foi um destes acréscimos posteriores à liturgia e é uma extensão lógica da devoção carmelitana à Maria. Os textos e a música são de um ofício rimado[xxi]  que não é próprio da liturgia carmelitana. A presença de Santa Ana na Terra Santa, assim como seu importante relacionamento com Maria e Jesus, serviram de justificação para que adotassem esta festa na liturgia. A festa se relaciona intimamente com a da Apresentação, já que Ana e Joaquim foram os pais que levaram Maria ao templo. Esta festa também está ligada a das Três Marias, que obviamente não seria possível sem sua contribuição. Como Santa Ana era uma parte integrante da vida de Maria, ela aparece como uma parte integrante da liturgia carmelitana.
Ana e seu esposo Joaquim representam para o carmelita os fiéis que confiaram em Deus e em quem Deus realiza grandes coisas. Apesar de sua idade avançada, Ana recebeu o privilégio de gerar a mãe do Redentor. Contudo, como uma anciã que pode conceber, ela é semelhante à prima de Maria, Isabel, assim como a Ana e a outras mulheres santas do Antigo Testamento. Para o carmelita, bem como para Santa Ana, a fidelidade silenciosa aos caminhos de Deus pode gerar muitos frutos espirituais.

As Três Marias
A festa das Três Marias, muito popular em Provença, entrou na liturgia carmelitana no Capítulo Geral de Lion em 1342.[xxii]  A festa das Três Marias está intimamente ligada à de Santa Ana, já que ela é tradicionalmente a mãe das três: da mãe de Jesus, por Joaquim e de uma segunda Maria, por Cléofas. Esta gerou outra Maria que, por sua vez, casou-se com Alfeu e gerou São Tiago Menor, São Simão, São Judas e São José, o Justo. Após a morte de Cléofas, Ana casou-se com Salomas e gerou uma terceira Maria, que foi mãe de São Tiago Maior e de São João Evangelista. Esta festa baseia-se na lenda onde Lázaro, Maria Madalena e seus companheiros foram deixados à deriva, num barco sem remos, que foi milagrosamente transportado para o sul da França, aportando perto da vila conhecida hoje como Saintes-Maries-de-la-Mer. De lá, a devoção às Três Marias espalhou-se rapidamente, assim como o culto a Santa Maria Madalena propagou-se a partir da abadia beneditina de Vezelay.[xxiii]
A festa não apenas trata dos personagens que viveram na Terra Santa, mas ela também diz respeito a um carmelita em especial, Jean de Venette, que escreveu esta Crônica das Três Marias em 1357.[xxiv]  Jean de Venette tornou-se prior do Carmelo de Paris em 1339 e, mais tarde, foi provincial da França. Como tal, esteve inegavelmente presente no Capítulo Geral de Lion que adotou a festa em 1342. Seu interesse pessoal é evidente nesta devoção e ele possivelmente influenciou os carmelitas a aceitarem tal festa em sua liturgia. A festa foi acrescentada ao complemento das festas marianas, celebrada em 25 de maio. Ela também demonstra a influência de uma devoção local numa área muito mais ampla: embora a festa das Três Maria estivesse restrita ao sul da França e a regiões da Itália,[xxv]  uma vez aceita na liturgia carmelitana ela gozou de observância universal dentro da Ordem.
A festa das Três Marias está relacionada ao evento da Páscoa, já que as mulheres santas descobriram o túmulo vazio do Senhor ressuscitado. Ela está intimamente ligada à festa de Santa Maria Madalena que as acompanhou ao túmulo e é muitas vezes confundida com estas Marias. Esta festa celebra aqueles que descobriram a ressurreição e ajudaram a anunciar aos outros o evento da Páscoa. Ela também enfatiza a devoção delas a Jesus cujo corpo elas foram ungir. Os carmelitas homenagearam as irmãs de Maria em sua liturgia como aquelas que seguem as pegadas do Senhor. A fidelidade à pessoa de Jesus determinou o curso de suas vidas e determina também a vida de cada carmelita.

Reflexões sobre a liturgia carmelitana
Os manuscritos medievais que examinamos geralmente são anteriores a 1450. Eles não preservam um ofício e uma Missa próprios nem para Elias nem para Eliseu, o que é surpreendente. Embora o ofício e a Missa para estes santos tenham sido estabelecidos antes do Concílio de Trento, se tal observância ocorreu ou não no período medieval permanece uma questão aberta. Evidentemente, se foi observado, nenhum texto uniforme ou música sobreviveu a este período.
A liturgia carmelitana medieval permaneceu intimamente ligada ao ritual do Santo Sepulcro, seguindo-o detalhadamente na maior parte do ano. O mistério Pascal, incluindo as festas da Celebração da Ressurreição, de Santa Maria Madalena e das Três Marias, permaneceu central na sua observância. Os cantos e as orações usadas para a liturgia formal foram claramente definidos pela Rubrica de Sibert de Beka, mas considerável liberdade foi permitida quando se tratou do detalhe musical. Os santos relacionados com a própria Terra Santa tiveram algum destaque na liturgia, tanto aqueles com celebrações relativamente pequenas como aqueles que gozavam de uma observância bem desenvolvida, como a festa dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó.
A devoção à Maria permaneceu destacada na observância litúrgica carmelitana medieval, caracterizando-o especialmente pelas antífonas das Vésperas nas quais o frade implorava pela intercessão da Virgem Maria. O número de festas marianas especiais era suficiente para assegurar uma devoção  periódica  a Maria, dentro de um esquema regular, enquanto as orações e as celebrações da Bem-aventurada Virgem asseguravam sua veneração   durante a semana. Assim, o carmelita permanecia fiel a seu  título de  “irmão  da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo” e modelava diretamente sua vida na vida da mãe de Deus.
A forte devoção aos santos Pedro e Paulo pode ter sido parte da incorporação dos carmelitas na tradição mendicante da Igreja ou pode vir de sua busca por um modelo diante da aprovação oficial de Elias e de Eliseu. No entanto, as festas principais destes dois santos proeminentes foram claramente celebradas com grande solenidade dentro da tradição carmelitana e os detalhes da observância dos carmelitas associou-os à tradição do Santo Sepulcro em vez de a qualquer outra na Europa ocidental. A devoção carmelitana aos Santos Pedro e Paulo também caracterizou a lealdade que tinham pela Igreja. Este é um reconhecimento de que o papel distinto dos carmelitas como eremitas e mendicantes foi exercido dentro de um contexto da Igreja ao qual permaneceram comprometidos. Como modelos, Pedro e Paulo simbolizam as dimensões administrativas e carismáticas da Igreja, nas quais os carmelitas participam.
(Veja na 4ª Parte: Os Carmelitas e o Concílio de Trento)




[i]  Por exemplo, as fontes musicais mais recentes do século XV são os códices carmelitanos de Mainz, datados de 1430 e 1432 respectivamente; cf. Boyce (1984, 1986 e 1987).
[ii]  Richard, NCE; Baldi, NCE.
[iii]  Todas as traduções são da Bíblia Edição Pastoral (Paulus).
[iv]  Por exemplo, um antigo breviário do Santo Sepulcro e depois adaptado para o uso carmelitano (Paris, BN lat 10478) tem um arranjo muito mais simples da festa do que o rito carmelitano plenamente desenvolvido.
[v]  Guyot, NCE, Horvath, NCE.
[vi]  Este ofício está preservado no manuscrito Paris, BN lat. 17716; cf. Leclercq (1946), p. 17.
[vii]  Saxer (1975) fez um estudo profundo e altamente valioso sobre o culto a Santa Maria Madalena.
[viii]  Haskins (1993) discute a confusão sobre Maria Madalena nas Escrituras assim como a compreensão dela no período medieval.
[ix]  Smet (1988), Vol. I, p. 8.
[x]  Smet (1988), Vol. I, p. 8.
[xi]  Cf. Bouman (1958), Forcadell (1954) e Van Dijk (1954) para uma discussão sobre esta festa.
[xii]  Forcadell (1954), 184.
[xiii]  Wessels (1912), Vol. I, pp. 109-110.
[xiv]  Pfaff (1970), p. 40.
[xv]  Bonniwell (1945), pp. 231-32.
[xvi]  Os textos da apresentação original foram publicados em Coleman (1981). Os dois manuscritos originais estão hoje em Paria, BN lat. 17330 e 14454. Discuto as variantes entre estas duas versões em Boyce (1993).
[xvii]  No Capítulo Geral de Frankfurt; cf. Wessels (1912), Vol. I, pp. 109-110.
[xviii]  Smet (1954).
[xix]  Discuto as diversas celebrações da festa nos manuscritos litúrgicos carmelitanos em Boyce (1991).
[xx]  M. J. Hamilton, NCE: o ofício de São Tomás provou ser popular para adaptação a outros ofícios. Edwards (1990) mostrou o relacionamento íntimo entre o ofício de São Tomás de Canterbury e o de São David de Wales.
[xxi]  Um ofício rimado é aquele que contém textos poéticos cujas linhas seguem um esquema rimado e cuja música é original e normalmente bem elaborada.
[xxii]  Zimmerman (1907), Vol. I, p. 141.
[xxiii]  Cf. Driscoll (1973 e 1975), Boyce (1989).
[xxiv] Driscoll (1975); Coville (1949).
[xxv]  A devoção a Santa Maria Salomé na Itália baseava-se em Veroli; cf. minha edição deste ofício de Boyce (1988b).