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sábado, 25 de abril de 2015
A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 864. O Bom Pastor.
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Artigos do Frei Petrônio de Miranda
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MENSAGEM DO SANTO PADRE PARA O 52º DIA MUNDIAL DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES.
(6 de Abril de 2015 - IV Domingo de
Páscoa)
Tema: “O êxodo, experiência fundamental
da vocação”
Amados
irmãos e irmãs!
O IV Domingo de Páscoa apresenta-nos o
ícone do Bom Pastor, que conhece as suas ovelhas, chama-as, alimenta-as e
condu-las. Há mais de 50 anos que, neste domingo, vivemos o Dia Mundial de
Oração pelas Vocações. Este dia sempre nos lembra a importância de rezar para
que o «dono da messe – como disse Jesus aos seus discípulos – mande
trabalhadores para a sua messe» (Lc 10, 2). Jesus dá esta ordem no contexto dum
envio missionário: além dos doze apóstolos, Ele chamou mais setenta e dois
discípulos, enviando-os em missão dois a dois (cf. Lc 10,1-16). Com efeito, se
a Igreja «é, por sua natureza, missionária» (Conc. Ecum. Vat. II., Decr. Ad
gentes, 2), a vocação cristã só pode nascer dentro duma experiência de missão.
Assim, ouvir e seguir a voz de Cristo Bom Pastor, deixando-se atrair e conduzir
por Ele e consagrando-Lhe a própria vida, significa permitir que o Espírito
Santo nos introduza neste dinamismo missionário, suscitando em nós o desejo e a
coragem jubilosa de oferecer a nossa vida e gastá-la pela causa do Reino de
Deus.
A oferta da própria vida nesta atitude
missionária só é possível se formos capazes de sair de nós mesmos. Por isso,
neste 52º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, gostaria de reflectir
precisamente sobre um «êxodo» muito particular que é a vocação ou, melhor, a
nossa resposta à vocação que Deus nos dá. Quando ouvimos a palavra «êxodo», ao
nosso pensamento acodem imediatamente os inícios da maravilhosa história de
amor entre Deus e o povo dos seus filhos, uma história que passa através dos dias
dramáticos da escravidão no Egipto, a vocação de Moisés, a libertação e o
caminho para a Terra Prometida. O segundo livro da Bíblia – o Êxodo – que narra
esta história constitui uma parábola de toda a história da salvação e também da
dinâmica fundamental da fé cristã. Na verdade, passar da escravidão do homem
velho à vida nova em Cristo é a obra redentora que se realiza em nós por meio
da fé (Ef 4, 22-24). Esta passagem é um real e verdadeiro «êxodo», é o caminho
da alma cristã e da Igreja inteira, a orientação decisiva da existência para o
Pai.
Na raiz de cada vocação cristã, há este
movimento fundamental da experiência de fé: crer significa deixar-se a si
mesmo, sair da comodidade e rigidez do próprio eu para centrar a nossa vida em
Jesus Cristo; abandonar como Abraão a própria terra pondo-se confiadamente a
caminho, sabendo que Deus indicará a estrada para a nova terra. Esta «saída»
não deve ser entendida como um desprezo da própria vida, do próprio sentir, da
própria humanidade; pelo contrário, quem se põe a caminho no seguimento de
Cristo encontra a vida em abundância, colocando tudo de si à disposição de Deus
e do seu Reino. Como diz Jesus, «todo aquele que tiver deixado casas, irmãos,
irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por causa do meu nome, receberá cem vezes
mais e terá por herança a vida eterna» (Mt 19, 29). Tudo isto tem a sua raiz
mais profunda no amor. De facto, a vocação cristã é, antes de mais nada, uma
chamada de amor que atrai e reenvia para além de si mesmo, descentraliza a
pessoa, provoca um «êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua
libertação no dom de si e, precisamente dessa forma, para o reencontro de si
mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus» (Bento XVI, Carta enc. Deus
caritas est, 6).
A experiência do êxodo é paradigma da
vida cristã, particularmente de quem abraça uma vocação de especial dedicação
ao serviço do Evangelho. Consiste numa atitude sempre renovada de conversão e
transformação, em permanecer sempre em caminho, em passar da morte à vida, como
celebramos em toda a liturgia: é o dinamismo pascal. Fundamentalmente, desde a
chamada de Abraão até à de Moisés, desde o caminho de Israel peregrino no
deserto até à conversão pregada pelos profetas, até à viagem missionária de
Jesus que culmina na sua morte e ressurreição, a vocação é sempre aquela acção
de Deus que nos faz sair da nossa situação inicial, nos liberta de todas as
formas de escravidão, nos arranca da rotina e da indiferença e nos projecta
para a alegria da comunhão com Deus e com os irmãos. Por isso, responder à
chamada de Deus é deixar que Ele nos faça sair da nossa falsa estabilidade para
nos pormos a caminho rumo a Jesus Cristo, meta primeira e última da nossa vida
e da nossa felicidade.
Esta dinâmica do êxodo diz respeito não
só à pessoa chamada, mas também à actividade missionária e evangelizadora da
Igreja inteira. Esta é verdadeiramente fiel ao seu Mestre na medida em que é
uma Igreja «em saída», não preocupada consigo mesma, com as suas próprias
estruturas e conquistas, mas sim capaz de ir, de se mover, de encontrar os
filhos de Deus na sua situação real e compadecer-se das suas feridas. Deus sai
de Si mesmo numa dinâmica trinitária de amor, dá-Se conta da miséria do seu
povo e intervém para o libertar (Ex 3, 7). A este modo de ser e de agir, é
chamada também a Igreja: a Igreja que evangeliza sai ao encontro do homem,
anuncia a palavra libertadora do Evangelho, cuida as feridas das almas e dos
corpos com a graça de Deus, levanta os pobres e os necessitados.
Amados irmãos e irmãs, este êxodo
libertador rumo a Cristo e aos irmãos constitui também o caminho para a plena
compreensão do homem e para o crescimento humano e social na história. Ouvir e
receber a chamada do Senhor não é uma questão privada e intimista que se possa
confundir com a emoção do momento; é um compromisso concreto, real e total que
abraça a nossa existência e a põe ao serviço da construção do Reino de Deus na
terra. Por isso, a vocação cristã, radicada na contemplação do coração do Pai,
impele simultaneamente para o compromisso solidário a favor da libertação dos
irmãos, sobretudo dos mais pobres. O discípulo de Jesus tem o coração aberto ao
seu horizonte sem fim, e a sua intimidade com o Senhor nunca é uma fuga da vida
e do mundo, mas, pelo contrário, «reveste essencialmente a forma de comunhão
missionária» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 23).
Esta dinâmica de êxodo rumo a Deus e ao
homem enche a vida de alegria e significado. Gostaria de o dizer sobretudo aos
mais jovens que, inclusive pela sua idade e a visão do futuro que se abre
diante dos seus olhos, sabem ser disponíveis e generosos. Às vezes, as
incógnitas e preocupações pelo futuro e a incerteza que afecta o dia-a-dia
encerram o risco de paralisar estes seus impulsos, refrear os seus sonhos, a
ponto de pensar que não vale a pena comprometer-se e que o Deus da fé cristã limita
a sua liberdade. Ao invés, queridos jovens, não haja em vós o medo de sair de
vós mesmos e de vos pôr a caminho! O Evangelho é a Palavra que liberta,
transforma e torna mais bela a nossa vida. Como é bom deixar-se surpreender
pela chamada de Deus, acolher a sua Palavra, pôr os passos da vossa vida nas
pegadas de Jesus, na adoração do mistério divino e na generosa dedicação aos
outros! A vossa vida tornar-se-á cada dia mais rica e feliz.
A Virgem Maria, modelo de toda a
vocação, não teve medo de pronunciar o seu «fiat» à chamada do Senhor. Ela
acompanha-nos e guia-nos. Com a generosa coragem da fé, Maria cantou a alegria
de sair de Si mesma e confiar a Deus os seus planos de vida. A Ela nos
dirigimos pedindo para estarmos plenamente disponíveis ao desígnio que Deus tem
para cada um de nós; para crescer em nós o desejo de sair e caminhar, com
solicitude, ao encontro dos outros (cf. Lc 1, 39). A Virgem Mãe nos proteja e
interceda por todos nós.
Vaticano,
29 de Março de 2015.
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Um olhar sobre a Festa de São Jorge-05.
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sexta-feira, 24 de abril de 2015
CARMELITAS: Encontro Vocacional em Belo Horizonte.
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Frei João Carlos: O Mundo Real X O Mundo ideal.
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A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 862. O Papa e os Mendigos.
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Um olhar sobre a Festa de São Jorge-04.
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CNBB divulga nota sobre o momento nacional
Os bispos reunidos na 53ª Assembleia
Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada de 15 a 24
de abril, em Aparecida (SP), avaliaram a realidade brasileira, “marcada pela
profunda e prolongada crise que ameaça conquistas, a partir da Constituição
Cidadã de 1988, e coloca em risco a ordem democrática do País”. Leia, na
íntegra, a nota:
Nota
da CNBB sobre o momento nacional
“Entre vós não deve ser assim” (Mc
10,43).
A Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil – CNBB, reunida em sua 53ª Assembleia Geral, em Aparecida-SP, no período
de 15 a 24 de abril de 2015, avaliou, com apreensão, a realidade brasileira,
marcada pela profunda e prolongada crise que ameaça as conquistas, a partir da
Constituição Cidadã de 1988, e coloca em risco a ordem democrática do País.
Desta avaliação nasce nossa palavra de pastores convictos de que “ninguém pode
exigir de nós que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas,
sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a
saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os
acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG, 183).
O momento não é de acirrar ânimos, nem
de assumir posições revanchistas ou de ódio que desconsiderem a política como defesa
e promoção do bem comum. Os três poderes da República, com a autonomia que lhes
é própria, têm o dever irrenunciável do diálogo aberto, franco, verdadeiro, na
busca de uma solução que devolva aos brasileiros a certeza de superação da
crise.
A retomada de crescimento do País, uma
das condições para vencer a crise, precisa ser feita sem trazer prejuízo à
população, aos trabalhadores e, principalmente, aos mais pobres. Projetos, como
os que são implantados na Amazônia, afrontam sua população, por não ouvi-la e
por favorecer o desmatamento e a degradação do meio ambiente.
A lei que permite a terceirização do
trabalho, em tramitação no Congresso Nacional, não pode, em hipótese alguma,
restringir os direitos dos trabalhadores. É inadmissível que a preservação dos
direitos sociais venha a ser sacrificada para justificar a superação da crise.
A corrupção, praga da sociedade e pecado
grave que brada aos céus (cf. Papa Francisco – O Rosto da Misericórdia, n. 19),
está presente tanto em órgãos públicos quanto em instituições da sociedade.
Combatê-la, de modo eficaz, com a consequente punição de corrompidos e
corruptores, é dever do Estado. É imperativo recuperar uma cultura que prima
pelos valores da honestidade e da retidão.
Só assim se restaurará a justiça e se plantará, novamente, no coração do
povo, a esperança de novos tempos, calcados na ética.
A credibilidade política, perdida por
causa da corrupção e da prática interesseira com que grande parte dos políticos
exerce seu mandato, não pode ser recuperada ao preço da aprovação de leis que
retiram direitos dos mais vulneráveis. Lamentamos que no Congresso se formem
bancadas que reforçem o corporativismo para defender interesses de segmentos
que se opõem aos direitos e conquistas sociais já adquiridos pelos mais pobres.
A Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) 215/2000, por exemplo, é uma afronta à luta histórica dos povos indígenas
que até hoje não receberam reparação das injustiças que sofreram desde a
colonização do Brasil. Se o prazo estabelecido pela Constituição de 1988
tivesse sido cumprido pelo Governo Federal, todas as terras indígenas já teriam
sido reconhecidas, demarcadas e homologadas. E, assim, não estaríamos
assistindo aos constantes conflitos e mortes de indígenas.
A PEC 171/1993, que propõe a redução da
maioridade penal para 16 anos, já aprovada pela Comissão de Constituição,
Cidadania e Justiça da Câmara, também é um equívoco que precisa ser desfeito. A
redução da maioridade penal não é solução para a violência que grassa no Brasil
e reforça a política de encarceramento num país que já tem a quarta população
carcerária do mundo. Investir em educação de qualidade e em políticas públicas
para a juventude e para a família é meio eficaz para preservar os adolescentes
da delinquência e da violência.
O Estatuto da Criança e do Adolescente,
em vigor há 25 anos, responsabiliza o adolescente, a partir dos 12 anos, por
qualquer ato contra a lei, aplicando-lhe as medidas socioeducativas. Não
procede, portanto, a alegada impunidade para adolescentes infratores. Onde
essas medidas são corretamente aplicadas, o índice de reincidência do
adolescente infrator é muito baixo. Ao invés de aprovarem a redução da
maioridade penal, os parlamentares deveriam criar mecanismos que
responsabilizem os gestores por não aparelharem seu governo para a correta
aplicação das medidas socioeducativas.
O Projeto de Lei 3722/2012, que altera o
Estatuto do Desarmamento, é outra matéria que vai na contramão da segurança e
do combate à violência. A arma dá a falsa sensação de segurança e de proteção.
Não podemos cair na ilusão de que, facilitando o acesso da população à posse de
armas, combateremos a violência. A indústria das armas está a serviço de um
vigoroso poder econômico que não pode ser alimentado à custa da vida das
pessoas. Dizer não a esse poder econômico é dever ético dos responsáveis pela
preservação do Estatuto do Desarmamento.
Muitas destas e de outras matérias que
incidem diretamente na vida do povo têm, entre seus caminhos de solução, uma
Reforma Política que atinja as entranhas do sistema político brasileiro.
Apartidária, a proposta da Coalizão pela Reforma Política Democrática e
Eleições Limpas, da qual a CNBB é signatária, se coloca nessa direção.
Urge, além disso, resgatar a ética
pública que diz respeito “à responsabilização do cidadão, dos grupos ou
instituições da sociedade pelo bem comum” (CNBB – Doc. 50, n. 129). Para tanto,
“como pastores, reafirmamos ‘Cristo, medida de nossa conduta moral’ e sentido
pleno de nossa vida” (Doc. 50 da CNBB, Anexo – p. 30).
Que o povo brasileiro, neste Ano da Paz
e sob a proteção de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, supere esse
momento difícil e persevere no caminho da justiça e da paz.
Aparecida, 21 de abril de 2015.
Cardeal
Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida
Presidente da CNBB
Dom
José Belisário da Silva, OFM
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Vice Presidente da CNBB
Dom
Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB
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quinta-feira, 23 de abril de 2015
Um olhar sobre a Festa de São Jorge-03.
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OLHAR CARMELITANO: Os Carmelitas e o Concílio de Trento
Frei
James Boyce, O. Carm. In Memoriam (1949- 2010)
O Concílio de Trento (1545-63) foi uma tentativa de estabilizar e de
regulamentar a vida dos fiéis depois dos efeitos devastadores da Reforma
Protestante. Tendo isto em mente, todos os textos litúrgicos questionáveis, até
mesmo as festas, foram eliminados do calendário. Desse modo, a festa das Três
Marias foi proibida aos carmelitas. Todas as festas, com seus textos
litúrgicos, tiveram que receber aprovação individual da Santa Sé, antes de
serem incluídas no ritual de uma Ordem religiosa ou de uma diocese. De forma semelhante, a música tinha que se
ajustar às normas estabelecidas pela Santa Sé.
Na época do Concílio de Trento, a Ordem
Carmelita estava bem estabelecida e contava com um número de santos próprios em
suas fileiras. Na reformulação da liturgia carmelitana, a herança que receberam
da Terra Santa tornou-se cada vez mais remota, mas o ritual revisado permitiu
que eles celebrassem liturgicamente seus confrades que alcançaram a santidade.
Novas
festas carmelitanas
Eliseu
e Elias
Por causa do relacionamento próximo
entre Elias e Eliseu, as duas festas são consideradas como uma só. O
relacionamento dos carmelitas com estas duas figuras proeminentes do Antigo
Testamento já estava bem estabelecida espiritualmente, muito antes de ser celebrada
liturgicamente. Uma afirmação, um tanto comovente, das Constituições do
Capítulo de Londres de 1281, demonstra a importância de Elias e de Eliseu
dentro da auto-compreensão carmelitana. Apresentamos a seguir uma tradução de
Joachim Smet daquelas Constituições:
Declaramos, dando testemunho da verdade,
que desde o tempo quando os profetas Elias e Eliseu habitavam devotamente no
Monte Carmelo, Pais santos tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, cuja
contemplação das coisas celestiais os conduziu à solidão do mesmo monte, eles
sem dúvida guiaram suas louváveis vidas lá, junto à fonte de Elias, numa
penitência sagrada, contínua e eficazmente mantida.
Foram estes mesmos sucessores que
Alberto, o patriarca de Jerusalém no tempo de Inocêncio III, uniu numa comunidade,
escrevendo uma regra para eles que o papa Honório, o sucessor do mesmo
Inocêncio, e muitos de seus sucessores, aprovando esta ordem, confirmaram-na
devotamente por seus decretos. Na profissão desta regra, nós, seus seguidores,
servimos o Senhor em várias partes do mundo até hoje.
Esta afirmação demonstra que os
carmelitas medievais viam a continuidade entre o povo do Antigo e o do Novo
Testamento, os que habitavam à sombra da presença de Elias no Monte Carmelo, os
primeiros eremitas reunidos pelo patriarca Alberto, e eles mesmos, em várias
partes do mundo. O lugar do Monte Carmelo, a imagem do profeta Elias e a
jurisdição de Alberto ajudaram a incutir nos carmelitas, ao longo dos séculos,
a santidade de suas vidas e a importância de seu trabalho como religiosos. Além
da identificação com a tradição de Elias, tanto Santo Antão quanto São Jerônimo
fazem uma associação explícita entre Elias e aqueles que seguem o modo de vida
eremítico.
Apesar da importância de Elias e de
Eliseu na auto-compreensão carmelitana, sua celebração litúrgica é um fenômeno
posterior. Elias é claramente a mais proeminente das duas figuras, apresentado
como um modelo potencial. O fato de Elias ter ido para o céu sem morrer,
significava que como ele não tinha um dies natalis, ou data de morte, ele não
poderia ser venerado como um santo.
Assim, o carmelita John Bale escreveu um ofício para a Assunção de
Elias. Este é certamente um ofício
único, de um indivíduo empreendedor, em vez de uma festa carmelitana medieval
padronizada. Posteriormente a festa foi aceita, apesar da ausência de uma data
de morte ou dies natalis. A evidência mais antiga da festa de Elias é a Missa
votiva dos missais do século XVI (1551 e 1574), contemporânea do Concílio de
Trento. Embora a veneração de Eliseu
não tenha envolvido os mesmos problemas, seu ofício e missa também são um
fenômeno medieval tardio ou mesmo pós-tridentino. De qualquer modo, não temos
nenhum indício substancial da veneração, tanto de Elias quanto de Eliseu, que
tenha sobrevivido do período anterior ao Concílio de Trento.
A mais antiga evidência Tridentina da
festa de Santo Elias é encontrada num suplemento carmelitano Florentino, com a
antífona compilada por Fr. Archangelus Paulius, prior de Carmine, no ano de
1627, assim como em antigos manuscritos
do século XVIII de São Martino ai Monti e de Santa Maria em Transpontina.
Também nos manuscritos mais recentes que estão guardados no Colégio
Sant’Alberto em Roma. Um processionário de 1593 do convento da Encarnação, em
Ávila, contém vários cantos para Santo Elias onde ele é chamado tanto de
nuestro Santisimo Padre Elias quanto de nuestro Glorioso Padre Elias.
Apesar da veneração de Elias como santo
ser bem conhecida nas liturgias do rito oriental, tal observância no ocidente é
inteiramente peculiar aos carmelitas. As festas de Elias e de Eliseu deram aos
carmelitas a oportunidade de recontar a história dos dois homens cujas vidas
modelaram as suas. Como o próprio Monte Carmelo tornou-se cada vez mais
distante da experiência de vida carmelitana, a celebração da festa das duas
proeminentes figuras do Antigo Testamento permitia aos carmelitas refletir
pessoalmente sobre sua herança e a moldar suas próprias vidas no exemplo
corajoso de seus antepassados no Monte Carmelo. A celebração destas festas
equiparava-se à celebração de uma liturgia para um fundador em outras
tradições, já que permitia aos carmelitas explorar as raízes de sua
espiritualidade de uma forma litúrgica.
A primeira antífona das primeiras
Vésperas para o ofício de Santo Elias é Zelo zelatus sum pro domino deo
exercituum, [O zelo pelo Senhor, o Deus dos exércitos, me consome] de 1Reis 19,
10 e repetido em 1Reis 19,14, palavras que são fundamentais na auto-compreensão
de cada carmelita. O zelo por Deus caracteriza a vida e o ministério do
profeta, assim como do carmelita, exercido sem compromissos. A primeira
antífona para as Laudes, uma reconstrução do texto das Escrituras, afirma:
Elias dum zelat zelum legis receptus est in celum [Elias, enquanto estava
consumido pelo zelo, foi recebido no céu], insistindo no zelo por Deus que
caracteriza a vida do profeta. Ele manteve este zelo por toda sua vida
associando-o à sua assunção ao céu. A antífona do Benedictus cita a carta de
Tiago que recorda Elias: Elias homo erat similis nobis passibilis et oratione
oravit ut non plueret super terram et non pluit annos tres et menses sex et
rursum oravit et celum dedit pluvium et terra dedit fructum suum (Elias era
homem fraco como nós. No entanto, ele rezou bastante para que não chovesse e
não choveu sobre a terra durante três anos e meio. Depois ele rezou de novo e o
céu mandou chuva e a terra produziu seu fruto).
É importante enfatizar a semelhança
entre Elias e todos aqueles que escolhem a vida de oração. A oração de Elias é
poderosa. Deus a escuta e, assim, intensifica a força da oração de cada um dos
carmelitas. O responsório das primeiras Vésperas lembra Elias caminhando
“quarenta dias e quarenta noites para o Horeb, o monte de Deus” enfatizando a
importância da jornada carmelitana pela vida, em direção ao monte sagrado, para
experimentar a presença de Deus. Elias brigou com os profetas de Baal, devolveu
a vida da viúva de Sarepta e rezou por chuva em meio à seca. Pela profundidade
de sua oração, sua vida foi preservada no Monte Carmelo e, em seus últimos
dias, ele foi aceito na vida eterna de Deus. A escolha de Elias como modelo de
vida, na antiga liturgia medieval, se compara à ênfase na dimensão masculina da
oração na regra. A falta de um fundador no início da Ordem a ser imitado,
permitiu que os carmelitas escolhessem um, num estágio posterior de
desenvolvimento. A escolha de Elias como modelo de oração sugere que a própria
oração, se for seguida tanto por homens quanto por mulheres carmelitas, é uma
ocupação ativa, vibrante e poderosa. Os carmelitas não precisam se preocupar
com a eficácia da oração, já que o exemplo de Elias demonstra claramente seu
poder e ligação direta entre a oração do pedinte e a ação de Deus. Como a
própria palavra poderosa de Deus, a oração pode levar Deus a agir em favor de
Seu povo. Portanto, os carmelitas estão seguros do significado, da força e do
valor da vida de oração que abraçaram em sua vocação.
Nossa
Senhora do Monte Carmelo
Ainda que possam ocorrer referências à
festa da Solene Celebração de Nossa Senhora do Monte Carmelo nas fontes
medievais, a liturgia tridentina deu plena expressão à sua celebração. Como se
poderia esperar, as cinco primeiras antífonas das Vésperas características de
todas as festas marianas medievais, também foram usadas aqui. Numa das leituras
para as Matinas recorda-se a história de Maria aparecendo ao papa Honório,
inspirando-o a permitir o estabelecimento da Ordem Carmelitana. Isto é muito significativo, já que as
primeiras batalhas da Ordem visando sua aceitação passaram a ser claramente
situadas dentro da estrutura da intercessão de Maria. Ela não é apenas
celebrada como a padroeira da Ordem, mas é lembrada na sua intervenção direta
possível a fundação da Ordem. Mediante esta festa os carmelitas veneram Maria
como aquela que abençoa a Ordem e os esforços individuais de seus membros. A
festa dava plena expressão à união perpétua entre a Virgem Maria e a Ordem. O
relacionamento dos carmelitas com ela era visto tanto na perspectiva da Ordem
quanto individualmente, onde cada frade busca forças para viver a vida
carmelitana contando com sua intercessão na oração.
São
Simão Stock
Apesar da figura um tanto evasiva de São
Simão Stock ter sido de grande importância na adaptação dos carmelitas à vida
no Ocidente, sua festa surge apenas no tempo do Concílio de Trento. Neste caso,
os textos para o ofício vêm de sua vita em vez da Escritura e a música se
adapta à pauta imposta pelo Concílio de Trento. Os textos do ofício oferecem
uma reflexão sobre a santidade de São Simão Stock como religioso e sobre seus
dons para a Ordem. Assim, uma das antífonas das Matinas diz que Desiderium
cordis eius tribuit ei Dominus cum Carmelitarum institutum vidit in Europa propagatum
alleluia [Deus deu a ele o desejo de seu coração quando ele viu o instituto dos
Carmelitas espalhado pela Europa] e realmente ele é geralmente associado com a
adaptação da Ordem na sociedade ocidental. Os textos da Missa são tirados de
cantos comuns tais como os iusti meditabitur sapientiam [A boca do justo fala
com sabedoria (Sl 37,30)] e o verso do Aleluia, Justus germinabit sicut lilium
[O justo “florescerá como o lírio” (Os 14,6)]. Simão é o homem justo e o
carmelita leal que serve de modelo de vida religiosa para todos que celebram
sua festa. Liturgicamente a festa visava renovar nos participantes o zelo pelos
caminhos do Carmelo.
Santa
Teresa d’Ávila
A grande reformadora da Ordem Carmelita,
Santa Teresa d’Ávila, morreu dentro da Ordem dos Carmelitas em Alba de Tormes,
perto de Salamanca, em 1582. Os textos para sua liturgia referem-se a seu zelo
por Deus e à sua sede pela sabedoria, enfatizando apropriadamente suas
qualidades místicas e intelectuais. A antífona de abertura para seu ofício, Zelo
zelata sum pro honore sponsi mei Jesu Christi [Com zelo sou dedicada à honra de
meu esposo, Jesus Cristo] é um complemento feminino ao texto para o ofício de
Santo Elias: “sou muito dedicado ao Senhor, o Deus dos exércitos”, indicando
que, para os carmelitas, Teresa exemplificou o ideal de Elias na sua sede
apaixonada por Deus. Outra antífona fala de seu coração sendo perfurado pela
lança ardente do amor de Deus (que posteriormente levaria à uma festa separada,
a da Transverberação ou perfuração do coração de Santa Teresa). Outra ainda se
refere a ela recebendo sabedoria e prudência. Os textos litúrgicos enfocam os
atributos significativos de Santa Teresa e constituem uma meditação sobre suas
notáveis virtudes. Recitá-los é rever as qualidades essenciais de sua vida e
ser renovado por elas. As virtudes que a liturgia recomenda foram vividas de
modo extraordinário por Santa Teresa d’Ávila, e servem como um modelo de
imitação por todo carmelita.
Santo
Alberto da Sicília
O ofício de Santo Alberto da Sicília é
um daqueles raros, onde todas as linhas do texto rimam. Este é o único ofício
rimado que sobreviveu intacto ao Concílio de Trento. Como o primeiro santo
propriamente carmelitano, Alberto goza de preeminência na veneração litúrgica e
o texto rimado para o ofício sugere a estima com que era considerado. A
antífona de abertura O Alberte norma munditie, puritatis et continentie [Ó
Alberto, modelo de integridade, de pureza e de continência] nos lembra que
Alberto é o modelo de integridade de vida e sugere que, para o carmelita, a
busca pela santidade deve predominar sobre tudo mais.
Santo
Ângelo
Como o primeiro mártir carmelitano,
Santo Ângelo corresponde ao Bem-aventurado Pedro, mártir para os dominicanos. O
cerne da história de Ângelo ocorre na antífona do Magnificat: Quinque plagis
lethalibus transfossus Angelus crucifixum deprecabatur ut suis persecutoribus
ad poenitentiam conversis veniam peccatorem concederet et diei obitu sui
memoriam a gentibus optatam omnem gratiam largiretur alleluia [Tendo sido
ferido com cinco feridas mortais, Ângelo implorou pela cruz de modo que seus
perseguidores pudessem receber a graça de ir do pecado à penitência e no dia de
sua morte ele rezou para que a graça pudesse ser dada ao povo que celebrou sua
memória, aleluia].
Santo
André Corsini
Santo André Corsini, o carmelita
florentino que se tornou bispo de Fiesole, gozou de forte veneração,
especialmente em Florença. Mas sua festa foi observada liturgicamente por toda
a Ordem. Tanto sua importância como bispo e nobre, assim como sua santidade
pessoal contribuíram para que tivesse um ofício e uma Missa próprios, cujas
evidências mais antigas ocorreram após o Concílio de Trento.
Reflexões
sobre a liturgia carmelitana tridentina
O período após o Concílio de Trento foi
para os carmelitas, como para a Igreja em geral, um tempo de adaptação para
estabelecer as novas práticas diante da Reforma. Embora de algumas forma
repressivo, o Concílio de Trento deu aos carmelitas a oportunidade de venerar
seus próprios santos de um modo que não foi possível durante o período
medieval.
Apesar de os carmelitas continuarem a
cultivar suas origens do Santo Sepulcro, agora eles também podiam venerar
alguns carmelitas que foram aprovados pela Igreja como santos. Cada uma destas
figuras ajudou a modelar o ideal carmelitano: Elias e Eliseu simbolizam a
dimensão profética da Ordem, bem como a sede de Deus; Maria é mais do que nunca
a padroeira e a protetora da Ordem; Santo Alberto é o modelo de pureza e de
vida na presença de Deus; Santo André Corsini é o exemplo do carmelita agindo
como um bom religioso e também participando da vida administrativa da Igreja;
São Simão Stock representa a necessidade de manter a santidade da vida
religiosa enquanto concilia as necessidades da Igreja e da sociedade; e Santa
Teresa d’Ávila simboliza a contínua sede pelos caminhos de Deus, em especial a
sabedoria.
A liturgia carmelitana fala mais e mais
da espiritualização do Monte Carmelo. Hoje fala menos da montanha física e mais
do caminho da perfeição espiritual. O crescente número de santos carmelitanos
próprios, cujas virtudes e fidelidade ao modo de vida carmelitano fez com que
merecessem um lugar no Reino, serve agora como inspiração e exemplo ao
carmelita que se empenha em viver sua própria vocação. Enquanto em outras
tradições a forte presença de um fundador em especial foi sentida através dos
séculos e que outros membros da Ordem alcançaram santidade por se adaptarem a
um modelo em particular, na tradição carmelitana a ausência de um fundador
permitiu uma grande flexibilidade na interpretação e na vivência do ideal
carmelitano. A diversidade se reflete nos diversos santos do Carmelo no período
tridentino e em sua tradição litúrgica de alguma forma bastante eclética.
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MISSÕES CARMELITAS: Um novo Instituto de Irmãs Missionárias Carmelitas.
*Padre Lorenzo van den Eerenbeemt, O. Carm.
Pelos fins de setembro, na graciosa
cidadezinha de S. Marinella (Roma), nota-se um curioso movimento. Todos
accorreram para assistir a uma comovente cerimônia na igreja das Vitórias, que
a princesa Ginetti, duquesa de Valmy, mandara construir em 1919 como recordação
da vitória das nossas armas. No novo Instituto das Missionárias Carmelitas,
posto sob a proteção de S. Teresa do Menino Jesus, - obra nascida por
iniciativa da Rev. da Madre Crucifixa Cúrcio, coadjuvada pelo subscrito –
receberam o hábito religioso, depois de três meses de postulantado, as
senhoritas Francisca Boi (Irmã Maria Assunta), Maria Musio (Irmã Maria
Anunziata), Josefina Scodini (Irmã Maria Teresa do Menino Jesus) e Júlia Aironi
(Irmã Maria Carmela).
Celebrou a Missa o Padre Lourenço o
qual, depois do Evangelho, apresentou em breves palavras a finalidade do
Instituto que é o de preparar almas que desejam consagrar-se à obra das Missões
e dedicar-se à educação dos filhos do povo[1].
Depois da Missa houve a comovente cerimônia da vestição religiosa, na presença
dos Superiores da Ordem e do povo que enchia a igreja. Estavam presentes também
uma ampla representação das Reverendas Irmãs do Calvário e as Irmãs da Caridade
com suas jovenzinhas, as quais tornaram a cerimônia mais solene com belos
cantos religiosos.
***
Damos aqui alguns traços acerca
da origem do novo Instituto.
Na cidade de Spaccaforno, na província de
siracusa, há dezesseis anos atrás, algumas jovenzinhas, movidas por sentimentos
de profunda fé religiosa e pelo desejo de consagrar-se à conversão das almas,
uniram-se com o santo propósito de dedicar-se ao apostolado missionário. Mas
nas amenas vilas da Sicília, onde o povo é eminentemente religioso, não era
fácil encontrar algum pagão a ser convertido; por isso, as piedosas jovenzinhas
concentram toda a sua atividade em
educar os filhos do povo, que por elas eram instruídos na religião.
A alma de todo este movimento era a
piedosíssima jovem Rosa Cúrcio, hoje Irmã Maria Crucifixa, superiora do novo
Instituto S. Teresa do Menino Jesus.
Consagrada a Deus desde a idade de doze anos na Ordem Terceira
Carmelita, seu grande ideal foi sempre o Carmelo e por este sofreu humilhações
e sacrifícios de toda sorte. Nem as adversidades serviram para desviá-la do seu
firme propósito, tendo grande confiança Naquele que lhe inspirou tão ardente
amor pela Ordem de Maria.
Em 1909 a Cúrcio reuniu na casa paterna as mais
entusiastas e fiéis companheiras que espontaneamente já haviam se colocado sob
sua guia. Alí, se reuniu pela primeira vez a nascente comunidade carmelitana.
Mas o demônio não dormia: raivoso com tanto fervor, desencadeou na calma
Spaccaforno uma violenta borrasca contra as piedosas jovenzinhas, algumas das quais
foram a toda força arrancadas da paz religiosa e literalmente arrastadas pelas
ruas até suas casas. Em defesa delas, porém, velava o anjo da diocese de Noto,
o Venerável Bispo Dom Blandini.
Um homem de grande fé apostólica e profundo
conhecimento das almas ele, extraordinariamente, assumiu de coração a pequena
comunidade e orientou-a com suas palavras e com seus escritos. Conservam-se
ainda muitas cartas[2] do piedoso e douto
prelado, dirigidas à M. Cúrcio. No mesmo ano 1909, Dom Blandino propôs às coirmãs
Terceiras, como protetora uma jovem Irmã
Carmelita, morta poucos anos antes em odor de Santidade, Irmã Teresa do Menino
Jesus, a qual deveria atrair a si, em breve tempo, todo mundo. “Vocês trinfarão
junto com ela”; assim predisse em tom profético o ilustre Bispo: e agora, que
depois de quinze anos de lutas sua profecia se realiza, nós agradecemos ao
Senhor e bendizemos a venerada memória de Bom Blandini, cujas palavras foram,
para as bondosas Terceiras, como uma tocha ardente de iluminada confiança na
Divina Providência.
A vestição da Madre Cúrcio como Terceira
Carmelita, foi feita em Catânia, pelos Padres Pappalardo e Faro. Este último
deu-lhe o nome de Irmã Maria Crucifixa, quase como um presságio das amarguras
que ela deveria suportar. De fato, quando em 1911 Dom Blandini, de acordo com o
prefeito de Módica, Jorfe Frasca Papanno, confiou às nossas Terceiras o
orfanato de Módica, fundado pela piedosa tia da cúrcio, Carmela Polara, uma
gravíssima pneumonia no espaço de poucos dias raptou dos vivos o santo Bispo.
Os achaques da velhice despedaçaram a forte fibra do Venerado Pastor, quase
octagenário, o qual, não podendo cumprir sua obra, deixou que a Providência
completasse o plano que ele em grandes linhas havia traçado.
Seja-nos lícito expressar aqui o vivo desejo de
ver uma tão nobre figura de Bispo evocado por algum bom escritor que queira
transmitir à posteridade sua vida ilibada, sua douta e eloquente palavra que
atraia as multidões, seu trato gentil que aproximava de si os humildes e os
grandes, os amigos e até mesmo os inimigos da Igreja.
Os quinze anos que se seguirai à morte de D.
Blandini foram anos de grandes sofrimentos e de amarguras para as piedosas
Terceiras Carmelitas. Nem podemos aqui falar das tristes peripécias e dos danos
sofridos. Só constatamos agora com verdadeira alegria que se realizaram as
palavras do anjo da diocese de Noto: Vocês triunfarão junto com S. Teresa do
Menino Jesus!”. E, no mesmo ano em que a Igreja decretou o completo triunfo da
Pequena Flor do Carmelo, despontou uma aurora de paz para as nossas Coirmãs.
Assim o novo Instituto das Terceiras Missionárias, com a fundação da nova casa
em Santa Marienella, começou a florescer
e o pequeno grupo de Irmãs já constitue a vanguarda de um grande
exército que - assim esperamos – avançar-se-á pelo mundo à conquista das
almas.
A população de S. Marinella acolheu com entusiasmo a vinda das Missionárias Carmelitas, que nestes primeiros meses de permanência
puderam um atelier e uma pré-escola; e pessoas da mais alta classe social
mostraram a mais viva simpatia pelo novo Instituto.
Mas o maior
interesse foi demonstrado pela gentil senhora Maria Angelelli Galassi e pela
nobre família Astuto, aos quais dirigimos os mais vivos agradecimentos.
Que a querida Santa Teresa do Menino Jesus proteja o novo Instituto, a
fim de que as Terceiras da Rainha do Carmelo se tornem dignas do seu apostolado
em favor da religião e da civilidade.
*Artigo publicado em: Il Monte Carmelo, outubro
de 1925 – pp. 311-314.
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A PALAVRA... Nº 861. Os nossos dragões e São Jorge.
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Um olhar sobre a Festa de São Jorge-01.
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Um olhar sobre a Festa de São Jorge-02.
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quarta-feira, 22 de abril de 2015
Frei Petrônio: Uma conversa com São Jorge.
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Manifesto 50 anos da TV Globo: Vamos "descomemorar"!
Entidades e Organizações publicam
Manifesto de (des)comomerização dos 50 anos da TV Globo.
Eis
o Manifesto.
A TV Globo festejará os seus 50 anos de
existência no dia 26 de abril. Serão promovidos megaeventos e lançados vários
produtos comemorativos. No mesmo período, porém, muita gente está disposta a
promover a “descomemoração” do aniversário do império global, um ato de repúdio
ao papel nocivo desse grupo de mídia na história do país. Uma palavra-de-ordem
que se destaca em todo o Brasil em manifestações recentes é: “O povo não é
bobo. Fora Rede Globo”. E motivos não faltam para esta revolta.
A emissora é filha bastarda do golpe
militar de 1964. O então diretor do jornal “O Globo” Roberto Marinho foi um dos
principais incentivadores da deposição do presidente João Goulart, dando
sustentação ideológica à ação das Forças Armadas. Um ano depois, foi fundada a
sua emissora de televisão, que ganhou as graças dos ditadores. O império foi
construído com incentivos públicos, isenções fiscais e outras mutretas. Os
concorrentes no setor foram alijados, apesar do falso discurso global sobre o
livre mercado.
Nascida da costela da ditadura, a TV
Globo tem um DNA golpista. Apoiou abertamente as prisões, torturas e
assassinatos de inúmeros lutadores patriotas e democratas que combateram o
regime autoritário. Fez de tudo para salvar o regime dos ditadores, inclusive
omitindo a jornada das Diretas Já na década de 80. Com a democratização do
país, ela atuou para eleger seus candidatos – os falsos “caçadores de marajás”
e os convertidos “príncipes neoliberais”. Na fase recente, a TV Globo militou
contra toda e qualquer avanço mais progressista, atuando na desestabilização
dos governos que não rezam integralmente a sua cartilha. Nas marchas de março
desse ano, ela ajudou a mobilizar o anseio golpista e garantiu a ele todos seus
holofotes.
A revolta contra a Globo que ganha corpo
está ligada também à postura sempre autoritária diante dos movimentos sociais
brasileiros. As lutas dos trabalhadores ou não são notícia na telinha ou são
duramente criminalizadas. A emissora nunca escondeu o seu ódio ao sindicalismo,
às lutas da juventude, aos movimentos dos sem-terra e dos sem-teto. Através da
sua programação, não é nada raro ver a naturalização e o reforço ao ódio e ao
preconceito. Esse clima de controle e censura oprime jornalistas, radialistas e
demais trabalhadores da empresa, que são subjugados por uma linha editorial que
impede, na prática, o exercício do bom jornalismo, servidor do interesse
público, em vez da submissão à ânsia de poder de grupos privados.
Além da sua linha editorial golpista e
autoritária, a Rede Globo – que adora criminalizar a política e posar de
paladina da ética – está envolvida em inúmeros casos suspeitos. Até hoje, ela
não mostrou o Darf (Documento de Arrecadação de Receitas Federais) do pagamento
dos seus impostos, o que só reforça a suspeita da bilionária sonegação da
empresa na compra dos direitos de transmissão da Copa do Mundo de 2002. A falta
de transparência do império em inúmeros negócios é total. Ela prega o chamado
“Estado mínimo”, mas vive mamando nos cofres públicos, seja através dos
recursos milionários da publicidade oficial ou de outros expedientes mais
sinistros.
Essas e outras razões explicam o forte
desejo de manifestar o repúdio à TV Globo em seu aniversário de 50 anos. Assim,
vamos realizar em torno do dia 26 de abril uma série de manifestações, em todo
o país, para denunciar a emissora como golpista ontem e hoje; exigir a
comprovação do pagamento de seus impostos; e reforçar a luta por uma mídia
democrática no Brasil.
Sem enfrentar o poder e colocar limites
à maior emissora do Brasil – e uma das cinco maiores do mundo – não será
possível garantir a regulamentação dos artigos da Constituição que proíbem o
monopólio para levar a cabo a democratização do país. Por isso, vamos às ruas
contra a Globo e convidamos todos os brasileiros comprometidos com a
democracia, a liberdade de expressão, a cultura nacional, o jornalismo livre e
a soberania popular a participar das manifestações em todo o país.
Assinam
(em ordem alfabética):
ANPG – Associação Nacional de
Pós-Graduandos
Associação Franciscana de Defesa de
Direitos e Formação Popular
Blog da Cidadania
Blog Maria Frô
Blog O Cafezinho
Blog Viomundo
Brasil de Fato
Campanha por uma Constituinte Exclusiva
e Soberana do Sistema Político
Centro de Estudos Barão de Itarare
Consulta Popular
Contracs – Confederação Nacional dos
Trabalhadores no Comércio e Serviços
CTB- Central dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil
CUT- Central Única dos Trabalhadores
Enegrecer- Coletivo Nacional de
Juventude Negra
FNDC- Fórum Nacional pela Democratização
da Comunicação
Fora do Eixo
FUP - Federação Única dos Petroleiros
Intersindical Central da Classe
Trabalhadora
Intervozes
Jornal Página 13
Juventude do PT
Juventude Revolução
Levante Popular da Juventude
MAB- Movimento dos Atingidos por
Barragens
Marcha Mundial das Mulheres
Movimento JUNTOS!
MST- Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra
MTST- Movimento dos Trabalhadores Sem
Teto
Nação Hip Hop Brasil
Sindicato dos Professores de Campinas
(Sinpro)
Sindicato dos Jornalistas Profissionais
no Estado de São Paulo
UBM- União Brasileira de Mulheres
UJS- União da Juventude Socialista
UNE- União Nacional dos Estudantes
Uneafro-Brasil
Vermelho.
Fonte:
http://www.ihu.unisinos.br
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VIVER O CARMELO: Comentário da Regra do Carmelita secular.
VOCAÇÃO À SANTIDADE
*Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam.
Recentemente
recebi carta de uma pessoa amiga. Fiquei matutando sobre uma frase que nela
estava escrita: “Descobri que eu não tenho vocação para ser santo”. Se tivesse
dito: “Sinto que não tenho vocação para o ministério sacerdotal ou para a vida
religiosa”, eu até poderia concordar porque se trata de vocações especiais a
serviço da santidade da Igreja. Mas a vocação à santidade é universal, como o
Concílio Vaticano II nos ensina com muita insistência, dedicando um capítulo
inteiro a essa temática no documento sobre a Igreja (Lumen gentium). Além
disso, parece que o nosso amigo tem uma idéia, não digo completamente errada,
mas pelo menos insuficiente, do que a vem a ser santidade. Aliás, é uma idéia
bastante difundida entre os cristãos que vêem a santidade como conquista nossa,
fruto extraordinário de esforços humanos, até heróicos, impossíveis para a maioria
dos cristãos. É verdade que o exercício heróico das virtudes, é sinal de
santidade e por isso é um ponto obrigatório nos processos de beatificação e
canonização que a Igreja exige para declarar que uma pessoa cristã já falecida
pode ser considerada e invocada como santa.
É importante que a Igreja nos
apresente oficialmente modelos de santidade de várias origens, raças, culturas,
estados de vida e contextos históricos para conscientizar-nos da nossa própria
vocação à santidade. Neste sentido santa Teresinha se manifesta uma mestra. No
seu terceiro manuscrito autobiográfico, a jovem carmelita escreve que sempre
desejou ser santa, mas que, comparando-se com os grandes santos, constatou que
lhe era impossível chegar a tais alturas. Mas não desanimou, dizendo a si
mesma: “Deus não poderia inspirar desejos irrealizáveis, portanto posso, apesar
da minha pequenez, aspirar à santidade”. Daí, lembrando-se do elevador
elétrico, invenção nova na época dela, Teresinha faz uma comparação: “Eu também
quisera encontrar um elevador para me elevar até Jesus, pois sou demasiado
pequena para subir a íngreme escada da perfeição”. Na Bíblia (Is 66,12) ela
encontra uma passagem que justifica a comparação: Sereis levados ao colo, sobre
os joelhos sereis acariciados. Assim ela chega a formar a sua maneira de ser
santa: “O elevador que deve me elevar até o céu, são vossos braços, ó Jesus!
Para isso, eu não preciso crescer, pelo contrário, preciso que eu fique
pequena, que eu me torne pequena cada vez mais”. A linguagem da Teresinha, a
gosto do ambiente religioso da sua época, talvez não agrade à nossa mentalidade
moderna, mas não deixa de colocar o segredo da sua pequena via numa perspectiva
teológica muito sólida e profunda: Deus mesmo é a fonte da nossa vocação à
santidade.
Santidade
não é mérito, mas é dom.
Em última
análise, só Deus é santo. É uma afirmação paradoxal para quem quer refletir
sobre a nossa vocação à santidade. Mas é isto mesmo que a liturgia da missa na
aclamação ao final do prefácio insiste em dizer: Santo, Santo, Santo, Deus do
universo! Como dizer uma palavra sensata sobre a santidade de Deus, se Ele
“habita em luz inacessível” como reza o prefácio da oração eucarística IV?
Todos os nossos conceitos e categorias para definir uma realidade são humanos,
forjados pela nossa inteligência a partir das nossas experiências sempre
fragmentadas no tempo e no espaço. O conhecimento adquirido pela razão pode ser
profundo e abrangente, mas nunca é exaustivo, não consegue penetrar até o fundo
daquilo que existe e é. Como criaturas estamos sempre em caminho, inclusive na
procura e no crescimento da nossa identidade mais profunda. Balbuciando uma
possível descrição da santidade de Deus, podemos dizer que Deus é santo porque,
em todo o seu ser e fazer, é perfeitamente idêntico a si mesmo, à sua
majestade, à sua justiça e à sua bondade.
Se não temos
acesso a Deus e à santidade dele, como podemos nos dirigir a Ele chamando-o de
Pai que estais no céu? Subir até a sua
glória nas alturas, nem pensar! E como, Ele mesmo viria até nós sem descer? Não
há nenhuma maneira de representar-se um relacionamento entre Deus e o ser
humano que seja tão paradoxal e fora do alcance da nossa razão, que a
Encarnação. No entanto, também não há maneira mais concreta de pensar essa
descida impossível. Toda a liturgia do tempo de Natal fala deste admirável
intercâmbio entre o céu e a terra pelo qual o Criador da humanidade, feito
homem, nos doou sua própria divindade. Podemos agora falar de Deus-Trindade
falando da história, e falar da história falando da Trindade. São Paulo fala
disto na sua carta a Tito, cristão convertido do paganismo e companheiro dele:
“Quando se manifestou a bondade de Deus,
nosso Salvador, e o seu amor pela humanidade, ele nos salvou, não por causa dos
atos de justiça que tivéssemos praticado, mas por sua misericórdia, mediante o
banho da regeneração e renovação do Espírito Santo. Este Espírito, ele o
derramou copiosamente sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador” (Tt 3, 4-6).
Creio
na Igreja santa católica.
Deus convocou
por meio de seu Filho, feito carne e história humana, um novo povo. A santidade
da Igreja não tem sua origem na própria Igreja, mas nessa iniciativa de Deus:
“Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de santificar pela palavra
aquela que ele purifica pelo banho da água” (Ef 5,25-26). Por isto, a santidade
da Igreja também não é fruto da santidade dos seus membros. A pergunta que se
faz aos catecúmenos: você quer ser batizado? equivale a: você quer fazer-se
santo? Isto faz entender melhor por que
Paulo ao escrever uma carta à comunidade dos cristãos em Corinto, se dirige
“aos que foram santificados no Cristo Jesus, chamados a ser santos” (1Cr 1,2).
A santidade da
Igreja não é um toque de espiritualidade ou um enfeite, mas é uma dinâmica que
lhe é intrínseca e qualificativa. Por isto a Igreja não seria ela mesma se não
fizesse da vocação universal à santidade uma urgência da sua pastoral
permanente. Na sua carta programática para o terceiro milênio, o Papa João
Paulo II escreve: “Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para
que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade”.
Mas, também é
bom reconhecer que a história da Igreja, inserida na história dos homens, não é
sempre, sob muitos aspectos, uma narração gloriosa. Já no século III falava-se
da Igreja como um corpo misturado de santos e pecadores. São Cipriano, bispo e
mártir, dizia que para a Igreja a santidade é um dom, para seus membros uma
tarefa. Por isso a santidade doada por Cristo à sua Igreja, não é anulada,
embora não deixe de ser turvada pela infidelidade à vocação à santidade por
parte de seus membros.
Restaurar
todas as coisas em Cristo.
A santidade
encontra sua origem em Deus: “Só vós sois o santo” como diz hino de louvor no
início da missa dominical. Deus revelou a sua santidade no Filho que assumiu a
nossa humanidade. A nossa santidade consiste na nossa união com Cristo. É um
dom que nos foi feito através do batismo. Mas, o dom gera, por sua vez, uma
tarefa, um dever: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Ts 4,3). A
união com Cristo em que consiste a santidade incide no nosso ser para
transformá-lo. É muito significativo o gesto do sacerdote na hora do ofertório
quando derrama um pouco de água no cálice com vinho enquanto reza baixinho:
“Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da divindade do
vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade” A transformação do nosso
ser deve envolver também o nosso agir, isto é a santidade deve atingir a
dimensão moral da nossa vida. É o terreno em que atuam a nossa consciência e a
nossa liberdade. Neste campo da moral não podemos dizer-nos: a minha união com
Deus ou seja a minha vocação à santidade vai até certo ponto. É na vida de cada
dia que a santidade vai se apropriando, num dinamismo contínuo, do nosso agir
com todas as características pessoais de cada um. A união com Cristo não
acontece em pessoas que vivem numa redoma, num espaço esterilizado, mas em
pessoas reais inseridas em histórias concretas. Em última análise, na sua
vocação à santidade elas refletem o movimento mesmo da encarnação.
Isto nos faz
entender que a vocação à santidade é um chamado para “ajudar” Deus a restaurar
todas as coisas em Cristo. A obra da redenção não visa apenas cada pessoa como
indivíduo, “O que esperamos, de acordo com sua promessa, são novos céus e uma
nova terra”. (2 Pd 3,13). A santidade tem tudo a ver com isto. A vocação à
santidade não passa por cima dos problemas, múltiplos e intrincados, que
afligem o mundo de hoje, repercutindo fortemente na sociedade, nas famílias e
na vida de cada pessoa. São Paulo diria:
“Toda a criação espera ansiosamente a revelação dos filhos de Deus ... e não
somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito” (Rm 8,19.23).
Não existe nenhuma fórmula mágica para solucionar os problemas que envolvem a
humanidade.. Aliás, formulas mágicas (apresentadas também por certas
ideologias) jamais podem revelar ao ser humano quem ele é. Não será uma fórmula
a salvar-nos, mas Alguém que nos infunde uma certeza: Eu estarei convosco!
O
Carmelo e a vocação à santidade
A Ordem do Carmo nasceu de um grupo
de homens, provavelmente leigos na sua maioria, que queriam “viver em obséquio
de Jesus Cristo e servi-lo fielmente com coração puro e reta consciência”. É
assim que se encaixavam na Igreja cuja missão é refletir a luz de Cristo. Para
realizar esse imperativo da sua vocação, foram estabelecer-se na Terra Santa no
Monte Carmelo. Mas para viver em obséquio de Jesus Cristo era preciso que se tornassem
contemplativos do seu rosto, a fim de que a luz desse rosto pudesse refletir na
vida deles. A Regra de Alberto, patriarca de Jerusalém, ofereceu-lhes
orientações básicas para realizar o objetivo que tinham em mente. A Regra
apresenta uma pedagogia de santidade em
que a oração ocupa um lugar de destaque. Esta tradição carmelitana, como
carisma suscitado pelo Espírito Santo, é uma das expressões da santidade da
Igreja. Através dos tempos houve sempre pessoas e grupos de pessoas,
freqüentemente reunidas em forma de instituições, que descobriram na tradição
do Carmelo um espaço acolhedor para a sua aspiração a um encontro com Deus,
experimentando que a Graça dele nos precede para realizar a vocação à
santidade. Também o carmelita secular deve ser alguém que busca a Deus, pisando
com os dois pés neste mundo de criaturas humanas, vulneráveis e vulneradas, com
as quais vive e celebra, movido a partir de dentro pela Misericórdia com que
Deus o envolve.
Eremitério
Fonte de Elias, 13.01.2006.
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Jacques de Vitry e os Monges Carmelitas: Um olhar de Dom Vital.
*Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam.
Às vezes
gostaríamos de saber mais detalhadamente o que movia aquela turma de leigos que
se estabeleceram no Monte Carmelo e pediram ao Patriarca de Jerusalém, Alberto
de Avogrado, que lhes escrevesse uma fórmula de vida de acordo com o projeto
que caracterizava a vida deles. Jacques de Vitry que visitou os eremitas,
escreve na sua Historia Orientalis: “Eles viviam seguindo e imitando o exemplo
do grande solitário, o profeta Elias, como eremitas na serra situada acima da
cidade de Porfírio e Haifa, junto à fonte que é chamada fonte de Elias, não
longe do mosteiro da beata Margarida... Eles viviam na solidão, cada um por si
em pequenas celas, como em colmeias, nas quais como abelhas juntavam o mel de
Deus de doçura espiritual”. As expressões
do autor podem cheirar para nós certa devoção sentimental que choca com o nosso
pretendido ‘realismo”. O teológico nunca existe sem o antropológico, que, nos
dias de hoje, nutre pouca simpatia por
símbolos e parábolas.
Se os carmelitas
queriam viver seguindo os passos de Jesus Cristo, isto implicava que eles
acolhiam e assumiam a compreensão da realidade que teve Jesus Cristo. Pode ser
que isto nos dê às vezes a impressão de que somos estranhos no ninho. Mas o
religioso, se não for a dimensão em profundidade da própria realidade, ele não será
outra coisa que uma superestrutura acrescentada àquilo que é e nada mais. Quem
sabe, poderá ser uma instituição que eventualmente pode ajudar-me, ou então
será uma coisa que me perturba ou me chateia.
*Reflexões
apresentadas na Assembleia Extraordinária da Província Carmelitana de Santo
Elias. Ribeirão das Neves, 24 de fevereiro-2011.
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Artigos do Frei Petrônio de Miranda
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O carmelita na América Latina.
*Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam.
A nova Ratio da Ordem que trata da
formação no Carmelo descrevendo-a como um processo de transformação, coloca a
contemplação no coração do carisma carmelitano. É precisamente o segredo da
viagem que continua, pois ninguém se põe em caminho se o objetivo final da
caminhada não estivesse de alguma maneira presente desde os primeiros passos.
A viagem é feita dentro da história em
que nos encontramos inseridos, no meio do povo. A própria viagem toma-se
missão. A dificuldade que muitos sentem é como ligar este cerne do carisma que
é a contemplação ou experiência de Deus com os desafios dessa história, no
nosso caso, com a realidade da América Latina. Continua persistente, também
entre nós, um certo dualismo. Mesmo fazendo uma leitura sócio-pastoral da
Igreja tropeçamos em fenômenos que fazem perceber a dificuldade de ligar fé e
vida, revelação e experiência humana, Esta dificuldade provém em grande parte
da imagem de Deus que não passa pelo filtro do nosso tempo. É preciso reconhecer
que muita coisa de positivo foi feito para desfazer essa mentalidade dualista,
principalmente através da pastoral bíblica (círculos bíblicos), pela teologia
de libertação, na prática das comunidades de base, para mostrar que não se pode
separar a revelação de Deus da caminhada do povo. O povo de Israel descobriu a
presença de Deus na libertação da escravidão do Egito. E os profetas sempre
insistem nessa manifestação de Yahweh quando o povo se torna infiel a essa
aliança estabelecida com Ele.
"Como nós carmelitas deveríamos
situar-nos frente à realidade que nos envolve na América Latina?" Faço
minha esta pergunta feita na carta de quem me convidou para participar deste
encontro. A resposta pode parecer simplista ou até um círculo vicioso: fazer
com que a questão de Deus permaneça central na nossa existência. Não se trata
em primeiro lugar da questão sobre um Ser supremo. A questão de Deus está
ligada à questão da realidade. Se a questão de Deus deixa de ser central, ela
será substituída pela problemática que nos envolve. A questão que se coloca é
do sentido da vida, do destino da terra, da necessidade ou não de um
fundamento. Perguntamos simplesmente qual é para cada um de nós a última
questão, ou por que esta questão não é colocada. Mas para poder admitir a
questão e refletir sobre ela, há necessidade de um silêncio interior, ou como
diz a Regra de uma pureza de coração. Sem esse preliminar nem se percebe de que
se trata. Já na Idade Média falava-se da necessidade do olho da fé É o órgão da
faculdade que nos dá acesso a uma
dimensão que transcende, sem negar o que captam o olho dos sentidos e o olho da
inteligência.
O discurso sobre Deus é radicalmente
diferente de outros discursos, pois Deus não é um objeto. Do contrário ele
seria um ídolo. Nenhum instrumento pode localizar Deus, nem a teologia
acadêmica. Pode haver especialistas em teologia ou mesmo, em espiritualidade e
mística. Não há, porém, cursos de especialização em Deus. A única mediação
somos nós mesmos. Santo Tomás já dizia: "A criatura é a mediação entre
Deus e o nada". Jamais podemos colocar Deus do nosso lado contra os
outros. Talvez um texto de São Bernardo possa ilustrar o que acabamos de
afirmar. Num sermão sobre o Cântico dos Cânticos ele confessa que recebeu com
certa freqüência a visita do Verbo, mas que não soube explicar como Ele entrou.
Por onde entrou? Ou será que Ele não
entrou, visto que não vem de fora? Pois Ele não é nenhuma das coisas que estão
fora de nós. Também é certo que não veio de dentro de mim, porque Ele é
bondade, e bem sei que em mim não existe nada de bom. Daí eu me elevei acima de
mim mesmo, mas o Verbo está mais além. Intrigado, sondei o que está abaixo de
mim, mas Ele está em maior profundidade. Olhando para fora de mim, concluí que
está além de tudo o que do lado de fora fica o mais longe de mim. E olhando
para dentro de mim, que a sua presença é mais interior que o meu íntimo. E
assim compreendi a verdade daquilo que eu tinha lido: "Nele vivemos, nos
movemos e somos" (At 17,28).
Não é possível falar de um Deus puramente
transcendente. Seria inclusive uma coisa supérflua, e mesmo, contraditória. Por
isso o deísmo, herança recebida do Iluminismo, não nega a existência de Deus
como Ser supremo, mas não admite a sua revelação porque é o próprio homem que
determina o lugar que Deus pode ocupar. Aos poucos Deus vai se tornando uma
hipótese inútil.
Mas Deus se revelou e, portanto, se
engajou na história dos homens. A revelação é essencialmente Deus que se doa a
nós. É o acontecer de um encontro. E neste encontro não atingimos algo de Deus,
um aspecto ou um segmento do seu mistério. O que Deus revela é o seu
"coração". Ao mesmo tempo, porém, Deus permanece sempre maior do que
o nosso coração, Ele será sempre um Deus escondido, Ele é mais do que a sua
revelação. Esse mais não deve ser pensado em termos quantitativos, mas
significa que Deus não se torna objeto da revelação. Deus permanece o sujeito
da revelação e como tal transcende a sua revelação, é anterior a ela. Deus é o
mistério maior que não se esgota na sua relação reveladora. Além disso, não
podemos aduzir nenhuma razão que explica ou justifica a revelação de Deus. É o
seu "desígnio secreto" (Ef 1,9). "Ele nos amou primeiro" (1
Jo 4,10). A gratuidade do amor de Deus deixaria de ser gratuidade se pudéssemos
explicá-la. Vale aqui a declaração de P. Evdokimov, teólogo ortodoxo: "Não
é o conhecimento que ilumina o mistério, é o Mistério que ilumina o
conhecimento".
Nenhuma linguagem humana é capaz de
descrever o mistério de Deus. O que faz entender porque a Regra fala em dois parágrafos
sobre o silêncio, não só como exercício ascético para chegar à pureza do
coração, mas também como matriz de toda palavra autêntica. O que faz pensar no
que escreveu santo Ireneu: "Do silêncio primordial surgiu o logos".
No silêncio se entrelaçam o tempo e a eternidade. Uma vida de silêncio não é a
mesma coisa que o Silêncio da Vida. O mesmo santo Ireneu escreve sobre essa
Vida: "A glória de Deus é a Vida do homem, e a vida do homem é conhecer a
Deus". A primeira parte deste texto foi muito citada em ambientes de
pastoral social: a glória de Deus é a vida do homem. Omitindo a segunda parte
surge de novo um certo dualismo entre fé e vida, entre revelação de Deus e
caminhada do povo. Neste caso a opção pelos pobres, aos excluídos corre o
perigo de ser reduzida a uma mera obrigação ética. "Tudo o que vocês
fizerem ao menor de meus irmãos, e a mim que o fizestes". É uma afirmação
ontológica da presença de Cristo no outro. Jesus manifesta nessa tomada de
posição parcial, a universalidade do desígnio de Deus. Cristo não é símbolo
para a realidade, mas da realidade. A evangélica opção preferencial se situa no
nível do que Raimon Panikkar chama de cristofania. Por Cristo, com ele e nele,
todas as dimensões da realidade se juntam: "Tudo foi feito por meio dele e
sem ele nada foi feito de tudo o que existe" (10 1,2). O universo inteiro
é chamado a participar da vida trinitária em Cristo e por Cristo. O que dá uma
perspectiva profunda ao "viver em obséquio de Jesus Cristo" da Regra.
. Volta aqui a contemplação como cerne do nosso carisma. Penso que sem esse
cerne não encontramos uma resposta à pergunta que me foi feita na carta
mencionada: "Como nós carmelitas deveríamos situar-nos frente à realidade
que nos envolve na América Latina?"
A questão de uma vida de silêncio e do
Silêncio da Vida pode parecer uma espécie de fuga do mundo, um viver no
abstrato. Neste sentido ouve-se freqüentemente a crítica: basta de belas
teorias, precisamos da prática. Cabe fazer aqui uma distinção entre o que é
urgente e o que é importante. O urgente com suas características de imediato
desvia a nossa atenção daquilo que é importante. Se o urgente não é importante
nós nos lançamos numa prática contraproducente. Se o importante não é urgente
mergulhamos numa teoria errônea: o importante será uma simples abstração. No
urgente destacamos o fator do tempo, no importante acentuamos o fator do peso.
A sabedoria conste em combinar o urgente com o importante. É a arte de fazer
calar as atividades da vida que não são a Vida. Não são as atividades que
produzem o ativismo, mas a falta de silêncio interior. Ativismo é como a
gravidez psicológica: seus efeitos visam o presente. A gravidez real se dá no
presente mas, não para o presente. Freqüentemente agimos a partir de atributos
que configuram a nossa personalidade: sou professor, diretora de um colégio,
empresário, operário, pároco, superior, etc. É assim que somos identificados, é
assim que os olhos dos outros se fixam em nós. Quem se identifica
exclusivamente a partir dessas atribuições, estas freqüentemente começam a
sufocar-lhe a identidade profunda. De certa maneira deveria haver um
despojamento do conjunto dessas atribuições para poder chegar ao Silêncio da
Vida. Enfocando o relacionamento que deve existir entre o prior e os irmãos,
Alberto ofereceu aos eremitas do Monte Carmelo uma pista para chegar a esse
despojamento.
Tu, irmão B. e seja quem for indicado
Prior depois de ti, tenhais sempre em mente e cumpram na prática o que o Senhor
diz no evangelho: Todo aquele que entre vós quiser tornar-se o maior, seja o
vosso servidor, e quem quiser ser o primeiro, seja o vosso empregado.
E vós, os demais irmãos, honrai
humildemente o vosso Prior, pensando, mais do que nele, em Cristo que o colocou
acima de vós, e que diz aos que estão à frente das igrejas: Quem vos ouve, é a
mim que ouve; quem vos despreza, é a mim que despreza, a fim de que não sejais
julgados como réus por menosprezo, mas possais merecer por obediência a
recompensa da vida eterna.
Seria empobrecer o conteúdo do texto
citado fosse reduzi-lo a uma exortação piedosa ou moral. Como em toda a Regra
do Carmelo, também aqui aparece a tensão que existe entre o urgente e o
importante, entre prática e teoria. Já no primeiro parágrafo da sua exposição,
em que fala da eleição do Prior, Alberto insiste na obediência que cada um dos
irmãos deve prometer ao que tiver sido eleito, e no empenho de cumprir na
verdade da prática o que prometeu. É claro que na prática podem surgir abusos e
comportamentos imaturos de ambas as partes. O que, porém, não invalida a
perspectiva cristocêntrica que a Regra abre também para o relacionamento mútuo
entre o Prior e os demais irmãos. O essencial é a obediência ao que ressoa além
do meu horizonte. Trata-se da "salvação no Senhor" que Alberto deseja
aos carmelitas já no início da sua carta. Salvação é "participar da
natureza divina"(2 Pd 1,4) por Cristo. É precisamente nisto que consiste o
mistério envolvido em silêncio desde sempre, mas agora revelado em Jesus (Rm
16,25) que veio para que todos tenham Vida, e a tenham plenamente (Jo 10,10).
Muitas vezes identificamos a Vida com as
atividades da vida e nos alienamos da nossa própria fonte estabelecendo uma
dicotomia entre o fundamental ou essencial e o relativo. O essencial não seria
essencial se não o descobríssemos a partir do relativo. O fato de vivermos no
tempo, a nossa vida se desenvolve ao longo de uma linha temporal. A própria
consciência que temos das coisas é marcada pelo tempo. Além disto, pelo fato de
vivermos no espaço a nossa consciência é atingida pelo parcial e pelo distante
que supõe o caráter material da realidade. Isto faz com que tudo em nós tenda
para algo mais que não se estenda pelo tempo e pelo espaço. Surgem assim as
interrogações fundamentais: de onde viemos e aonde vamos? São questões que
sempre permanecem abertas, pois nenhuma resposta nossa é capaz de exauri-Ias. O
desconhecido permanece e não se deixa manipular. E ao inverso, o relativo só
pode ser relativo porque existe uma relação a partir do essencial. Teresa de
Ávila o diz às suas filhas: Deus se faz encontrar também na cozinha no meio das
panelas. E outro escritor que compara o homem e a mulher casados às duas
margens de um mesmo rio. Não se trata, portanto de negar a importância das
atividades e ocupações da vida. Não podemos viver sem sentir, sem amar, sem comer,
sem trabalhar. Os parágrafos que a Regra dedica à refeição e ao trabalho, não
são apenas de natureza disciplinar: apontam para o essencial. Agora sem o
silêncio dos sentidos e do intelecto, o olho dá fé fica atrofiado e não
conseguimos nos abrir à Vida que é anterior às suas expressões nas nossas
diversas atividades. Lembro-me aqui de Tito Brandsma que sabia combinar o
urgente com o importante e abrir-se ao Silêncio da Vida. Era um homem que se
situava junto à Fonte. Sabia unificar-se por dentro e por isso estava
inteirinho na sua cela, no atendimento aos humildes, aos estudantes, aos
jornalistas, aos nazistas que o interrogavam e o maltratavam.
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm, foi
vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte
de Elias”, no alto do Rio das Pedras- nas montanhas de Lídice- distrito do
município de Rio Claro, Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho
de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de
São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.
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