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sábado, 11 de maio de 2013

Mensagem do Papa para o 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais celebrado em 12 de maio



A Igreja Católica celebra neste domingo, 12 de maio de 2013, o 47º Dia Mundial das Comunicações Sociais, instituído pelo por documento do Concílio Vaticano II e comemorado anualmente na solenidade móvel da Ascensão do Senhor. O tema deste ano escolhido ainda pelo Papa Bento XVI  é: “Redes sociais: portais de verdade e de fé; novos espaços de evangelização”, mensagem que faz uma reflexão sobre a contribuição das redes sociais para a evangelização, num momento em que a Igreja utiliza as novas mídias sociais para levar a Palavra de Deus ao mundo inteiro.

Amados irmãos e irmãs,

Encontrando-se próximo o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2013, desejo oferecer-vos algumas reflexões sobre uma realidade cada vez mais importante que diz respeito à maneira como as pessoas comunicam atualmente entre si; concretamente quero deter-me a considerar o desenvolvimento das redes sociais digitais que estão a contribuir para a aparição de uma nova ágora,  de uma praça pública e aberta onde as pessoas partilham ideias, informações, opiniões e podem ainda ganhar vida novas relações e formas de comunidade.
Estes espaços, quando bem e equilibradamente valorizados, contribuem para favorecer formas de diálogo e debate que, se realizadas com respeito e cuidado pela privacidade, com responsabilidade e empenho pela verdade, podem reforçar os laços de unidade entre as pessoas e promover eficazmente a harmonia da família humana. A troca de informações pode transformar-se numa verdadeira comunicação, os contatos podem amadurecer em amizade, as conexões podem facilitar a comunhão. Se as redes sociais são chamadas a concretizar este grande potencial, as pessoas que nelas participam devem esforçar-se por serem autênticas, porque nestes espaços não se partilham apenas ideias e informações, mas em última instância a pessoa comunica-se a si mesma.
O desenvolvimento das redes sociais requer dedicação: as pessoas envolvem-se nelas para construir relações e encontrar amizade, buscar respostas para as suas questões, divertir-se, mas também para ser estimuladas intelectualmente e partilhar competências e conhecimentos. Assim as redes sociais tornam-se cada vez mais parte do próprio tecido da sociedade enquanto unem as pessoas na base destas necessidades fundamentais. Por isso, as redes sociais são alimentadas por aspirações radicadas no coração do homem.
A cultura das redes sociais e as mudanças nas formas e estilos da comunicação colocam sérios desafios àqueles que querem falar de verdades e valores. Muitas vezes, como acontece também com outros meios de comunicação social, o significado e a eficácia das diferentes formas de expressão parecem determinados mais pela sua popularidade do que pela sua importância intrínseca e validade. E frequentemente a popularidade está mais ligada com a celebridade ou com estratégias de persuasão do que com a lógica da argumentação.
Às vezes, a voz discreta da razão pode ser abafada pelo rumor de excessivas informações, e não consegue atrair a atenção que, ao contrário, é dada a quantos se expressam de forma mais persuasiva. Por conseguinte os meios de comunicação social precisam do compromisso de todos aqueles que estão cientes do valor do diálogo, do debate fundamentado, da argumentação lógica; precisam de pessoas que procurem cultivar formas de discurso e expressão que façam apelo às aspirações mais nobres de quem está envolvido no processo de comunicação. Tal diálogo e debate podem florescer e crescer mesmo quando se conversa e toma a sério aqueles que têm ideias diferentes das nossas.
"Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza" (Discurso no Encontro com o mundo da cultura, Belém, Lisboa, 12 de Maio de 2010).
O desafio que as redes sociais têm que enfrentar é o de serem verdadeiramente abrangentes: então beneficiarão da plena participação dos fiéis que desejam partilhar a Mensagem de Jesus e os valores da dignidade humana que a sua doutrina promove. Na realidade, os fiéis dão-se conta cada vez mais de que, se a Boa Nova não for dada a conhecer também no ambiente digital, poderá ficar fora do alcance da experiência de muitos que consideram importante este espaço existencial.
O ambiente digital não é um mundo paralelo ou puramente virtual, mas faz parte da realidade cotidiana de muitas pessoas, especialmente dos mais jovens. As redes sociais são o fruto da interação humana, mas, por sua vez, dão formas novas às dinâmicas da comunicação que cria relações: por isso uma solícita compreensão por este ambiente é o pré-requisito para uma presença significativa dentro do mesmo.
A capacidade de utilizar as novas linguagens requer-se não tanto para estar em sintonia com os tempos, como, sobretudo para permitir que a riqueza infinita do Evangelho encontre formas de expressão que sejam capazes de alcançar a mente e o coração de todos. No ambiente digital, a palavra escrita aparece muitas vezes acompanhada por imagens e sons. Uma comunicação eficaz, como as parábolas de Jesus, necessita do envolvimento da imaginação e da sensibilidade afetiva daqueles que queremos convidar para um encontro com o mistério do amor de Deus.
Aliás sabemos que a tradição cristã sempre foi rica de sinais e símbolos: penso, por exemplo, na cruz, nos ícones, nas imagens da Virgem Maria, no presépio, nos vitrais e nos quadros das igrejas. Uma parte consistente do patrimônio artístico da humanidade foi realizado por artistas e músicos que procuraram exprimir as verdades da fé.
A autenticidade dos fiéis, nas redes sociais, é posta em evidência pela partilha da fonte profunda da sua esperança e da sua alegria: a fé em Deus, rico de misericórdia e amor, revelado em Jesus Cristo. Tal partilha consiste não apenas na expressão de fé explícita, mas também no testemunho, isto é, no modo como se comunicam "escolhas, preferências, juízos que sejam profundamente coerentes com o Evangelho, mesmo quando não se fala explicitamente dele" (Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2011). Um modo particularmente significativo de dar testemunho é a vontade de se doar a si mesmo aos outros através da disponibilidade para se deixar envolver, pacientemente e com respeito, nas suas questões e nas suas dúvidas, no caminho de busca da verdade e do sentido da existência humana. A aparição nas redes sociais do diálogo acerca da fé e do acreditar confirma a importância e a relevância da religião no debate público e social.
Para aqueles que acolheram de coração aberto o dom da fé, a resposta mais radical às questões do homem sobre o amor, a verdade e o sentido da vida – questões estas que não estão de modo algum ausentes das redes sociais – encontra-se na pessoa de Jesus Cristo. É natural que a pessoa que possui a fé deseje, com respeito e tato, partilhá-la com aqueles que encontra no ambiente digital. Entretanto, se a nossa partilha do Evangelho é capaz de dar bons frutos, fá-lo em última análise pela força que a própria Palavra de Deus tem de tocar os corações, e não tanto por qualquer esforço nosso. A confiança no poder da ação de Deus deve ser sempre superior a toda e qualquer segurança que possamos colocar na utilização dos recursos humanos. Mesmo no ambiente digital, onde é fácil que se ergam vozes de tons demasiado acesos e conflituosos e onde, por vezes, há o risco de que o sensacionalismo prevaleça, somos chamados a um cuidadoso discernimento. A propósito, recordemo-nos de que Elias reconheceu a voz de Deus não no vento impetuoso e forte, nem no tremor de terra ou no fogo, mas no "murmúrio de uma brisa suave" (1 Rs 19, 11-12). Devemos confiar no fato de que os anseios fundamentais que a pessoa humana tem de amar e ser amada, de encontrar um significado e verdade que o próprio Deus colocou no coração do ser humano, permanecem também nos homens e mulheres do nosso tempo abertos, sempre e em todo o caso, para aquilo que o Beato Cardeal Newman chamava a "luz gentil" da fé.
As redes sociais, para além de instrumento de evangelização, podem ser um fator de desenvolvimento humano. Por exemplo, em alguns contextos geográficos e culturais onde os cristãos se sentem isolados, as redes sociais podem reforçar o sentido da sua unidade efetiva com a comunidade universal dos fiéis. As redes facilitam a partilha dos recursos espirituais e litúrgicos, tornando as pessoas capazes de rezar com um revigorado sentido de proximidade àqueles que professam a sua fé. O envolvimento autêntico e interativo com as questões e as dúvidas daqueles que estão longe da fé, deve-nos fazer sentir a necessidade de alimentar, através da oração e da reflexão, a nossa fé na presença de Deus e também a nossa caridade operante: "«Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa ou um címbalo que retine" (1 Cor 13, 1).
No ambiente digital, existem redes sociais que oferecem ao homem atual oportunidades de oração, meditação ou partilha da Palavra de Deus. Mas estas redes podem também abrir as portas a outras dimensões da fé. Na realidade, muitas pessoas estão a descobrir – graças precisamente a um contato inicial feito on line – a importância do encontro direto, de experiências de comunidade ou mesmo de peregrinação, que são elementos sempre importantes no caminho da fé. Procurando tornar o Evangelho presente no ambiente digital, podemos convidar as pessoas a viverem encontros de oração ou celebrações litúrgicas em lugares concretos como igrejas ou capelas. Não deveria haver falta de coerência ou unidade entre a expressão da nossa fé e o nosso testemunho do Evangelho na realidade onde somos chamados a viver, seja ela física ou digital. Sempre e de qualquer modo que nos encontremos com os outros, somos chamados a dar a conhecer o amor de Deus até aos confins da terra.
Enquanto de coração vos abençoo a todos, peço ao Espírito de Deus que sempre vos acompanhe e ilumine para poderdes ser verdadeiramente arautos e testemunhas do Evangelho. "Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura" (Mc 16, 15).

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Ascensão. Uma nova criação


Páscoa, Ascensão e Pentecostes são três festas cristãs teológicas, separadas no tempo e no espaço, para significar todo o mistério cristão: a morte de Jesus, a Ressurreição e a Ascensão do Senhor e o Pentecostes do Espírito Santo. Mas, na realidade material e histórica, tudo se passou na sexta-feira, 6 ou 7 de abril do ano 30, às portas de Jerusalém, onde Jesus foi condenado à morte pelo poder judaico e executado, crucificado pelo poder romano. Com a sua morte na cruz ele já ressuscitou, subiu ao céu e seu Espírito já foi dado aos discípulos. O Jesus crucificado era o Cristo e Senhor da Páscoa.
A reflexão é de Raymond Gravel, padre da arquidiocese de Quebec, Canadá, publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras da Festa da Ascensão do Senhor (12 de maio de 2013). A tradução é do Cepat.

Eis o texto.

Referências bíblicas:
Primeira leitura: At 1, 1-11
Evangelho: Lc 24, 46-53

A ascensão, segunda face da Páscoa: Jesus não somente ressuscitou; ele também subiu ao céu. A ascensão marca, portanto, o fim do tempo de Jesus: “No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus começou a fazer e ensinar, desde o princípio, até o dia em que foi levado para o céu. Antes disso, ele deu instruções aos apóstolos que escolhera, movido pelo Espírito Santo” (At 1, 1-2), e anuncia o começo do tempo da Igreja: “Mas o Espírito Santo descerá sobre vocês, e dele receberão força para serem as minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, e até os extremos da terra” (At 1, 8). Como compreender esta festa da ascensão? Nesse tempo da Igreja em que ainda nos encontramos, o que devemos fazer?

1. A ascensão: uma festa pascal
A ascensão está, ao mesmo tempo, voltada para o domingo da Páscoa: “Era preciso que se cumprisse o que estava nas Escrituras: O Messias sofrerá e ressuscitará dos mortos no terceiro dia” (Lc 24, 46), e para o Pentecostes: “Agora eu lhes enviarei aquele que meu Pai prometeu. Por isso, fiquem esperando na cidade, até que vocês sejam revestidos do poder do alto” (Lc 24, 49). Esta festa confirma, portanto, a missão dos discípulos que consiste em proclamar um batismo de conversão, em nome de Cristo, a todas as nações (Lc 24, 47): “E vocês são testemunhas disso” (Lc 24, 48).
Por outro lado, esta festa da ascensão, assim como a da Páscoa, foge ao tempo e ao espaço. De sorte que se procurarmos saber o lugar e o momento da ascensão, corremos o risco de encontrar contradições. Segundo o Evangelho de Lucas de hoje, será na Betânia, na noite da Páscoa, que Jesus se separa de seus discípulos e é levado ao céu (Lc 24, 50-51). De acordo com o livro dos Atos dos Apóstolos, escrito pelo próprio Lucas, será no monte das Oliveiras, em Jerusalém (At 1, 12), 40 dias após a Páscoa (At 1, 3), que Jesus se eleva e desaparece aos olhos dos discípulos envolto numa nuvem (At 1, 9). E se lermos o Evangelho de Mateus, esse último parece dizer que é sobre uma montanha da Galileia que a ascensão se dará (Mt 28, 16).
Quem tem razão? Todos têm razão, porque o que esses autores cristãos descrevem não é uma reportagem jornalística de um acontecimento material e histórico que teria acontecido num lugar e num momento precisos da sua história. Quanto a Lucas, que situa a ascensão do Senhor, ao mesmo tempo, na noite da Páscoa, no seu Evangelho, e 40 dias após a Páscoa, nos Atos dos Apóstolos, é para destacar esse tempo teológico de que precisou a Igreja do primeiro século para realizar sua missão e para fazer discípulos, testemunhas da Ressurreição de Cristo.
Páscoa, Ascensão e Pentecostes são três festas cristãs teológicas, separadas no tempo e no espaço, para significar todo o mistério cristão: a morte de Jesus, a Ressurreição e a Ascensão do Senhor e o Pentecostes do Espírito Santo. Mas, na realidade material e histórica, tudo se passou na sexta-feira, 6 ou 7 de abril do ano 30, às portas de Jerusalém, onde Jesus foi condenado à morte pelo poder judaico e executado, crucificado pelo poder romano. Com a sua morte na cruz ele já ressuscitou, subiu ao céu e seu Espírito já foi dado aos discípulos. O Jesus crucificado era o Cristo e Senhor da Páscoa.
O exegeta francês Jean Debruynne definiu a festa da ascensão como um ato de criação. Escreve ele: “Não encontramos mais no Evangelho de Lucas como isso aconteceu. Lucas não fez uma reportagem sobre a ascensão. Uma lástima para o culto das stars (estrelas). A ascensão não se parece com o lançamento de um foguete. A linguagem de Lucas é antes profética que aeroespacial: Jesus se separa de seus discípulos como um dia o Espírito separou o céu e a terra, os mares e os continentes para criá-los. É um ato de criação. De agora em diante os discípulos assumem suas responsabilidades. Esta promessa de Deus que Jesus anuncia não é nem a conquista nem o poder, mas a força que coloca o homem em pé”.

2. A ascensão: criação da Igreja
No Antigo Testamento, no segundo Livro dos Reis, no momento da ascensão do profeta Elias, seu discípulo Eliseu é investido pelo Espírito de seu mestre, porque ele o viu subir ao céu (2Rs 2, 11.15). Para São Lucas, que considera Jesus como o novo Elias, podemos supor que ele se inspira no relato dos Reis para evocar a partida de Jesus. Era preciso que seus discípulos o vissem subir ao céu para que eles pudessem herdar seu Espírito: “Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu à vista deles. E quando uma nuvem o cobriu, eles não puderam vê-lo mais” (At 1, 9). Por outro lado, a missão da Igreja não consiste em ficar aí parado contemplando o céu, com os braços na cruz: “Homens da Galileia, por que vocês estão aí parados, olhando para o céu? Esse Jesus que foi tirado de vocês e levado para o céu, virá do mesmo modo com que vocês o viram partir para o céu” (At 1, 11). É, portanto, por meio dos seus discípulos que o Cristo ressuscitado pode se manifestar, mas será preciso esperar pelo Pentecostes para realizá-lo: “E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus” (Lc 24, 53).
No Pentecostes, quando os discípulos tomarão consciência de que são investidos pelo Espírito de Cristo, eles sairão do Templo para anunciar pelo mundo inteiro, em todas as línguas, a salvação oferecida gratuitamente a todas e todos. São Paulo dirá que a Igreja é Corpo de Cristo e São Mateus resumirá muito bem a missão confiada a toda a Igreja: “Portanto, vão e façam com que todos os povos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que ordenei a vocês. Eis que eu estou com vocês todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 19-20).
Concluindo, para saber o que devemos fazer hoje, como Igreja de Cristo, eu vou sugerir esta bela sugestão do francês Charles Singer: “Não há mais o Cristo visível! Não há mais o Cristo para tocar! Os únicos traços para ver e tocar que atestam a realidade de sua presença são as pessoas de cada tempo que suscitam uma terra onde os leprosos e os excluídos terão seu lugar, onde o ódio não rege as relações, onde a bondade predomina sobre o desprezo, onde o respeito impede a violência capaz dos piores instintos, onde a acolhida impede o fechamento em si mesmo! Amigos, são vocês que atestam a vitalidade do Ressuscitado!”. Isso merece ser lido e relido!

MARIA NA REFLEXÃO E NA VIDA ATUAL DO CARMELO


INSTITUTUM CARMELITANUM- Comissão Internacional Carisma e Espiritualidade.
NAS SENDAS DO CARMELO - PROGRAMAS FORMATIVOS. N. 5


1) Observações

1. Este tema será bem desenvolvido se colocado à luz das seguintes considerações:
• estamos num momento de releitura de nosso carisma e busca dos valores inspirativos da vida carmelitana: revalorização do rico patrimônio de toda a Família Carmelitana.
• tal revalorização está estimulando os (as) Carmelitas à revitalização da própria vida da qual faz parte a formação de uma renovada e própria imagem emergente de Maria.
• esta imagem emergente se vem compondo com elementos precedentes:
- legados a nós pela herança dos irmãos que nos antecederam, e que enfatizaram em épocas diversas, conforme já estudamos:

- Maria Mãe e Patrona,
- Maria Irmã e Virgem,
- Maria, Senhora do Escapulário.
- somados com novas considerações próprias da reflexão teoló¬gica atual:
- Maria, discípula fiél do Senhor, nosso modelo no caminho da fé,
- a beleza de Maria, imagem da ternura de Deus.

2. Ao analisar tais aspectos, com um olhar profundo em busca da verdade sobre Maria em nossa história e espiritualidade carmelitanas, vamos perceber que as imagens sempre se completam como peças de um mosaico cujo desenho nossa  capacidade humana não tem por completo. Portanto as imagens não são conflitantes entre si mas complementares. Sua função é permitir enfatizar aspectos da mariologia que melhor sirvam de incentivo à vida em cada época. No pensamento e na prática carmelitana anterior a nós, vamos encontrar muitos aspectos que, pouco a pouco, são enfatiza¬dos atualmente.

3. Temos possibilidade de apresentar este tema segundo dois esquemas conforme segue:
A) partindo dos valores espirituais que sintetizam o carisma;
B) seguindo o caminho histórico-espiritual de surgimento das imagens e destaque dos aspectos na experiência da Ordem.
4. O Mestre optará para fazer a apresentação como lhe parecer melhor. Se o grupo de noviços é constituído de pessoas com boa cultura será bom seguir a linha histórico-espiritual com a vantagem de fundamentar melhor o surgimento da imagem e, consequentemente, os valores. Neste caso, o próprio noviço vai assumindo a imagem com os elementos que vai encontrando.

Se se percebe que os Noviços não têm tal capacidade, pode-se partir diretamente da apresentação das características da imagem, dos valores por ela gerados.

Apresentamos breves sugestões para cada escolha.

5. É bom também  ter presente que não há ainda uma síntese sobre a ima¬gem atual de Maria. Esta se encontra em formação.
6. Pode-se dividir o assunto como melhor ocorrer na preparação do mesmo.

2) Conteúdo
1. A imagem emergente de Maria entre nós Carmelitas, em nossa época, está compondo-se como os ricos elementos da herança de nosso patrimônio espiritual relidos e remarcados à luz da teologia e das ciências humanas.
2. O importante a se buscar nas imagens são os valores inspirativos para a nossa vivência, para a realização de nossa vida, para desenvolvimento da nossa espiritualidade. O que podemos verificar, quando procuramos uma síntese mariológica para nosso tempo, é que a imagem de Maria, que nos legaram nossos irmãos, foi sem¬pre veículo dos mesmos valores. Cada época a aprofundou e também acrescentou, com contribuições originais, o caminho devocional-doutrinal-experimental, ainda que às vezes, revestidos de aspectos diversos de nossa atual mentalidade.

3. Para desenvolver o esquema.
• A figura de Maria sempre foi inspirativa para a vida carmelitana. Ninguém melhor que Nossa Senhora soube servir a Jesus com co¬ração puro e inteiramente sintonizada com a Vontade de Deus. Devendo o Carmelita viver a contemplação na dimensão evangélica e eclesial, fazendo de sua vida e de sua comunidade um teste¬munho da presença de Deus em meio do povo, vai aprender, com as imagens de Maria (= dimensões marianas) o jeito de concretizar esta vida.
Já estudamos as ênfases que em cada momento os Carmelitas de¬ram à figura de Maria. Verifiquemos como hoje Maria inspira a vivência dos valores do carisma carmelitano.

MARIA NA EXPERIÊNCIA DO CARMELO.


INSTITUTUM CARMELITANUM- Comissão Internacional Carisma e Espiritualidade.
NAS SENDAS DO CARMELO - PROGRAMAS FORMATIVOS. N. 5


«Os grandes místicos carmelitanos entenderam a experiência de Deus na própria vida como um “caminho de perfeição” (Santa Teresa de Jesus), como uma “subida do monte Carmelo” (São João da Cruz).
Neste itinerário está presente Maria. Ela - invocada pelos Carmelitas como Mãe, Padroeira e Irmã - torna-se, enquanto Virgem puríssima, modelo do contemplativo, sensível à escuta e à meditação da Palavra de Deus e obediente à vontade do Pai, por meio de Cristo no Espírito Santo.
Por isto no Carmelo, e em toda a alma profundamente carmelitana, floresce uma vida de intensa com
unhão e familiaridade com a Virgem Santa, como “maneira nova” de viver para Deus e de continuar aqui na terra o amor do Filho Jesus a Maria sua Mãe» (João Paulo II, Discurso do “Angelus”, 24 de Julho de 1988).

OBSERVAÇÕES GERAIS

1- Nossa vida carmelitana, como parte integrante da vida da Igreja, é eminentemente cristocêntrica, tendo desenvolvido a esta luz a sua dimensão mariana, ainda que, em alguns lugares ou épocas, tenham sido cultivadas práticas que não evidenciavam tal aspecto.

2-Para garantir uma formação mariana sólida e esclarecida, será conveniente dar aos noviços uma visão global da forma como Maria foi e é compreendida no Carmelo. Será para o formador também uma boa oportunidade de ‘“volta às fontes”, pois irá compreendendo sempre mais o que em cada tempo foi essencial, inspirativo, válido e o que foi cultural, limitado ao tempo e específico a uma época ou região. O mesmo deverá fazer sobre as atuais tendências da visão mariana da Ordem, no contexto eclesial pós Vaticano II.

3-O assunto deverá ser enfrentado com “calor” e não friamente. Não se trata de fazer “obra de arqueologia mariana” mas de compreender a experiência vital das gerações passadas: redescobrir o passado como fonte de enriquecimento, “remarcar” os valores que estão enfraquecidos, tantas vezes porque não sabemos receber e usar a herança que nos legaram nossos irmãos.

4-Não enfrentar o conteúdo a partir de conotações morais ou psicológicas, geradoras de “clichês” e preconceitos, mas dispor-se a ver a mariologia na experiência do Carmelo. Ela é como uma mina de valores onde podemos garimpar para maior compreensão da dimensão mariana da nossa vida carmelitana. Lembrar-se de que cada aspecto que se vai estudar antes de se tornar história foi e deve ser “experiência imediata pessoal”. Por isto o estudo deve ser feito em espírito de comunhão com os irmãos do passado e do presente que nos oferecem o que para eles é um bem precioso.

5-Para tal a atitude prévia que o mestre deverá suscitar nos noviços é a de respeito aos irmãos que caminharam à nossa frente e foram fiéis a seu tempo, bem como também aos que caminham hoje junto com Maria. Com eles, além de redescobrirmos nossas fontes e seus tesouros, vamos aprender a fidelidade dinâmica à nossa dimensão mariana, para enriquecê-la com nossa contribuição no presente, rumo ao futuro.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Ascensão: tarefa nossa de levar adiante o Reino de Deus (Lucas 24.46-53)


Ascensão: tarefa nossa de levar adiante o Reino de Deus (Lucas 24.46-53)
Claudete Beise Ulrich, Pastora luterana

E tarefa nossa levar adiante o Reino de Deus que se mostra no Amor praticado.

Neste tempo especial da Ascensão e Dia das Mães, é o final do Evangelho de Lucas (Lucas 24.46-53) que nos inspira e nos convida à reflexão. A primeira parte do texto (Lucas 24.46-49) é uma breve interpretação da vida de Jesus numa perspectiva de continuidade da história. Os versículos 50 a 53 apresentam o evento da Ascensão propriamente dito, isto é, narram os acontecimentos que fazem a transição entre o fim da presença física de Jesus em meio aos discípulos e às discípulas e o começo da história da Igreja.

Assim está escrito
O texto que conclui o Evangelho de Lucas convida para uma visão de conjunto de todo o evangelho, ressaltando que o testemunho da boa-nova é movido pela experiência de encontro com o Cristo vivo e ressurreto, celebrado em torno do partilhar do pão, da leitura das Escrituras e da missão que permanece para os discípulos e as discípulas: "pregar em seu nome (Cristo Jesus) o arrependimento para remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém".
Portanto, ser testemunha de Jesus é estar comprometido com a construção da paz, de uma profunda conversão diária, não só pessoal, mas também estrutural. Por isso, a importância de começar por Jerusalém. Jesus ressurreto anuncia: "Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder". A cidade de Jerusalém não é mero registro geográfico, mas é o lugar messiânico onde o evangelho inicia e desde onde as nações o receberão.   Portanto, o medo será vencido pelo poder que virá do alto. Aqui o autor do Evangelho de Lucas já aponta para o acontecimento de Pentecostes, o qual podemos ler no capítulo 2 de Atos dos Apóstolos.

Jesus abençoa e se despede
Jesus leva os discípulos e as discípulas até Betânia. Jesus se retira da presença de seus amigos e amigas em Betânia. Ali, acontecem momentos muito significativos e importantes na vida de Jesus. Em Betânia, ele tem duas amigas, Marta e Maria (Lucas 10.38-42), e o amigo Lázaro (João 11.1). Em Betânia, Jesus é ungido (Marcos 14.3-9). Dali, ele parte para a sua entrada triunfal em Jerusalém (Lucas 19.29-37). O momento da Ascensão de Jesus é reservado aos que testemunharam e acompanharam a sua tarefa e que deverão, de agora em diante, levar a sua mensagem de amor ao mundo todo. Jesus despede-se carinhosamente com a bênção. A bênção de Jesus, desta forma, é única. Jesus abençoa porque se cumpriu o tempo de servir, chegou o tempo de ser glorificado (Lucas 24.50): "Jesus erguendo as mãos os abençoou". O gesto de erguer as mãos lembra o servir. E a bênção transmitida por Jesus é a força presente para a caminhada e a ação daqueles e daquelas que vão levar adiante a sua tarefa.
Jesus abençoa e se despede. A despedida de Jesus pode ser comparada com a visita de uma pessoa muito amiga e especial. Fica-se acenando até que se perca de vista a pessoa amada. Assim, penso que foi com a despedida de Jesus. Enquanto abençoava, afastava-se dos e das suas queridas. O tempo de Jesus na terra está encerrado, mas temos uma promessa: ele voltará. Porém, não estamos sós, pois nos enviou o poder do alto (realização de Pentecostes). O céu significa a participação plena de Jesus na vida de Deus. A Ascensão de Jesus, portanto, é descrita como um momento de enlevo também para os/as discípulos/as. Não há nada que descreva espanto, desorientação ou medo. A reação deles/as é de alegria e de louvor a Deus. Pareciam compreender perfeitamente o que estava acontecendo.

Ascensão: leva ao louvor a Deus e encaminha para um novo viver
Nos versículos 52 e 53 lemos: "Então, eles, adorando-o, voltaram para Jerusalém, tomados de grande júbilo; e estavam sempre no templo, louvando a Deus". Não somente Deus merece adoração, mas também Jesus Cristo é adorado, glorificado. Depois do momento de bênção e despedida de Jesus, e como resposta dos/as discípulos/as o momento de adoração a Jesus, eles voltam a Jerusalém, cheios de alegria e júbilo. A alegria dos/as discípulos/as não é uma alegria qualquer, cotidiana. É uma alegria profética, intimamente ligada à confirmação de que Jesus é o Messias. Tudo aquilo que ele viveu, fez e anunciou é verdade. A superação de todos os males da condição humana e planetária é possível. Outro mundo é possível! A alegria é a alegria pela libertação: Jesus, o Cristo, venceu a morte, ressuscitou e agora está junto de Deus. Conclui-se o que o evangelista já tinha anunciado em Lucas 1.14: o anúncio do nascimento de Jesus foi motivo de alegria para todo o povo. De agora em diante, Jesus não está mais conosco como ser humano, mas vive-se da fé naquele que viveu e anunciou o Reino de Deus e que, erguendo-se da terra, confirma o seu poder alicerçado no amor. O louvor a Deus é consequência da vida, morte, ressurreição e ascensão de Jesus, que encaminha para um novo viver em comunhão na espera do cumprimento da promessa do envio do Espírito Santo (Atos 2.42,47).

Ascensão e Dia das Mães
Duas datas importantes e queridas em nossas comunidades no Brasil e em todo o mundo. Aqui na Alemanha, Ascensão é feriado nacional e acontecem muitas celebrações e cultos. No Brasil, a celebração da Ascensão muitas vezes é um tanto esquecida. Como não é uma data comercial, não se pode vender muita coisa. Então, trata-se de esquecer esta data tão importante para nós que cremos em Jesus Cristo. A despedida de Jesus, a sua glorificação diante dos discípulos e das discípulas, fortalece a esperança e a luta pela superação dos mecanismos de opressão, marginalização e morte. Jesus dá esta tarefa a nós seus seguidores e seguidoras. A Ascensão é o sinal definitivo de que Deus pode mudar a realidade, vencendo as limitações humanas e os poderes deste mundo.
Essa esperança leva a celebrar. A celebração dá-se pelo ouvir a Palavra, partir do pão, louvor, agradecimento, reconhecimento, adoração, bênção, despedida. Assim, podemos também nós celebrar a Ascensão daquele que amamos e seguimos, Jesus Cristo. As comunidades que seguem a Cristo são também comunidades radicalmente acolhedoras e inclusivas, ecumênicas e comprometidas, pois, assim como os discípulos e as discípulas após a ressurreição, também entenderam que Deus põe-se do lado da Vida.
Quando celebramos Ascensão, lembramos também que, no segundo domingo de maio, celebramos o Dia das Mães. Assim, lembramo-nos de todas as mães de nosso Brasil, do continente latino-americano e do mundo. A celebração é um momento central na vida e na luta contra todas as violências e sofrimentos que também muitas mães enfrentam em seu cotidiano. Jesus sempre esteve acompanhado de sua mãe em todos os momentos importantes do seu ministério, da sua vida, morte e ressurreição. Portanto, as mães acompanham com fé e amor a vida de seus filhos e filhas, sofrem com suas dores e sonham esperançosas com um futuro bonito para eles e elas. A memória da Ascensão lembra-nos da vida toda de Jesus e acende em nós a chama do compromisso de construir um mundo de paz, justiça e amor, em harmonia com toda a natureza e todos os povos. Agradecemos às nossas mães na fé que nos transmitiram estes ensinamentos e pedimos ao Trino Deus: Ajuda-nos, como mães, a transmitir adiante às futuras gerações: nossos filhos e filhas e aos filhos e filhas de nossos filhos e filhas, a alegria da Ascensão de Jesus: ele ressuscitou, venceu a morte, foi elevado aos céus e está junto com Deus. E nós não estamos sós, porque em 10 dias, será Pentecostes!

Freira idosa é condenada por invadir usina nuclear nos EUA


Ativistas anti-armas nucleares Michael Walli, 64 (esq.), irmã Megan Rice, 83, e Greg Boertje-Obed, 56, chegam nesta segunda-feira (6) para seu julgamento em Knoxville, Tennessee
Um freira católica de 83 anos e dois ativistas foram condenados nesta quarta-feira pela Justiça dos EUA, pelos danos causados durante uma invasão a uma planta nuclear.
A irmã Megan Rice e os ativistas Michael Walli, 64, e Greg Boertje-Obed, 56, admitiram terem cortado a cerca e entrado na planta Y-12, em Oak Ridge, no estado americano de Tennessee, que processa e armazena urânio enriquecido, usado para bombas nucleares.
O incidente, ocorrido em julho de 2012, desencadeou mudanças nos planos de segurança do local.
A sentença dos três condenados ainda não foi definida, mas pode chegar a até 20 anos de prisão, por sabotagem à usina.
Mas advogados de defesa dizem que os ativistas realizaram apenas um protesto simbólico e não prejudicaram o funcionamento da planta.
Megan Rice disse não se arrepender de seu ato. "Meu arrependimento é ter esperado 70 anos (para fazê-lo)", disse à imprensa local. "(A planta) causa apenas morte."
Ao ouvir a condenação perante a Corte, Rice levantou-se e sorriu. Seus simpatizantes choraram e cantaram músicas de protesto.
 Segurança
O trio admitiu perante a Justiça ter invadido a planta nuclear, caminhado pelo local, grafitado palavras de ordem e destruído uma parede com um martelo. Eles passaram duas horas lá dentro. Os danos teriam sido de US$ 8,5 mil (R$ 17 mil), pelo fato de as operações da planta terem sido supostamente afetadas.
Depois do incidente, o Congresso americano e o Departamento de Energia investigaram a segurança do local e identificaram "amostras de inaptidão".
A empresa que cuidava da segurança do local foi substituída.  "Somos uma nação de leis", declarou ao júri o promotor Jeffrey Theodore. "Você não pode tomar a lei em suas mãos e forçar suas opiniões sobre as demais pessoas."
Ao mesmo tempo, autoridades admitiram que os três manifestantes nunca chegaram perto do material nuclear presente em Y-12.
O advogado de defesa Francis Lloyd diz que seus clientes foram "bodes expiatórios", punidos por conta das falhas de segurança encontradas na usina.
Em declaração à corte, Boertje-Obed disse que "armas nucleares não oferecem segurança. Nossas ações (ao invadir o local) estavam oferecendo segurança real e expondo a falsa segurança".

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Igreja fundada por pastor suspeito de estupros proíbe televisão e Coca-Cola

Carolina Farias, do UOL, no Rio

"Minha missão é libertar os oprimidos das mãos de Satanás". É assim que se descreve o pastor Marcos Pereira, 56, presidente da igreja Adud (Assembleia de Deus dos Últimos Dias), preso na última terça-feira (7) sob a suspeita de estupros, homicídio, associação para o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
O líder da igreja petencostal que impõe rígidas posturas aos seus fiéis --as mulheres têm que se vestir com uma túnica, ninguém pode assistir televisão e nem tomar Coca-Cola, entre outros preceitos-- ficou famoso como mediador de rebeliões de presos e de livrar condenados do tráfico e das drogas.
Pastor Marcos começou sua atividade na Assembleia de Deus em 1989 e em 1990 fundou a Adud. No mesmo ano da fundação da igreja, ganhou destaque quando começou a trabalhar no Presídio de Segurança Máxima, na Ilha Grande, em Angra dos Reis, na região dos Lagos. Atualmente, outros três Estados - Paraná, Maranhão e Minas Gerais - têm igrejas da Adud.
Em seu perfil na página da igreja, o texto diz que o pastor atua em todas as penitenciárias do Rio de Janeiro e em outros Estados do Brasil, sendo responsável por "milhares de ex-detentos totalmente recuperados".
Em 2004, o então governador e hoje deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) chamou Pereira para negociar o fim de uma rebelião de presos que já durava dois dias na Casa de Custódia de Benfica, na zona norte do Rio. Centenas de reféns foram salvos, afirmou o pastor à época.
A "caminhada" do pastor até chegar à Adud foi longo. Antes de ser convertido em uma pregação do pastor Silas Malafaia, que à época pertencia à igreja Assembleia de Deus, em 1989, ele vivia totalmente nas "noitadas, bebedeiras e prostituição", como conta em seu perfil no site da igreja.  Em 2010, Malafaia fundou outra dissidência da Assembleia de Deus, com a denominação Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que nasceu no bairro da Penha, zona norte do Rio.
 Hoje, a doutrina da Adud diz que os fiéis não podem usar preto e vermelho, apontadas como cores para "identificação satânica", mas o pastor vestiu rubro-negro por muito tempo. Torcedor fanático do Flamengo antes da conversão, Marcos participava da organizada do time e dizia que "em seu vocabulário, de dez palavras, nove eram palavrões".
Marcos é o terceiro filho de uma família de oito irmãos. Ele diz em seu perfil que sua família era espírita e de classe média. Em seu perfil, ele diz que em 1982 teve a primeira filha, Nívea, que atualmente também é pastora. Ele também tem outro filho, Filipe.
Em sua página do Twitter, seguidores defendem Marcos. Com citações bíblicas, os fiéis dizem acreditar que o presidente da Adud foi preso injustamente e pedem orações pela sua libertação. Pastores da Adud também usaram a rede para manifestar apoio.
 "Que caia por terra toda essa perseguição", diz o bispo Laerte Lafayett, também da Adud. Outro a defender é o atual pastor e ex-cantor de pagode Waguinho. Ele cita a Bíblia para defender o líder de sua igreja. "Não prosperará nenhuma arma forjada contra ti", postou o ex-pagodeiro.
Já no Facebook, boa parte dos usuários que postaram na página de Marcos pedem justiça para os crimes de que ele é acusado.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

LOUCURA: A aventura pela sobrevivência dos moradores de Rua em São Paulo.


Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita e Jornalista.  
Jornalismo Literário


Após longas e intermináveis noites de calor, manhã de sol, tarde de raios, trovões, relâmpagos e chuvas intermináveis, finalmente chegou o dia 20 de março de 2013. Era o início de mais uma estação.
O outono despontava naquela manhã cinzenta, chuvosa e fria. Sim, cinzenta e fria como as diversas vidas enroladas nos pedaços de cobertores e panos velhos da Praça da Sé, centro da capital paulista. Os transeuntes evitavam olhar para tais loucos de uma sociedade enlouquecida no grande hospício a céu aberto.
Os pastores gritavam anunciando o apocalipse. O turista contemplava a beleza arquitetônica da Catedral da Sé, a imagem de José de Anchieta em volta dos índios lembrava a fundação da cidade e os tempos das aventuras jesuíticas para salvar almas. Aquela praça não tem dono, raça ou cor.
Todos tem uma história para contar, uma alegria para partilhar ou uma desgraça para lamentar. O nome é Pedro, Francisco, Teresa, Josefa, Maria... São nomes com histórias, vidas roubas, quebradas e enlouquecidas pelo corre-corre da cidade grande, desumana, violenta e fria.  E você, qual o seu nome?

“Qual o meu nome? O nome é Alcides Pereira dos Santos. De onde eu sou? Sou do Paraná, Colorado no Paraná. Quanto tempo eu vi pra cá? Faz 90 dias. Se eu moro na rua? Eu tou em situação de rua. Tava num abrigo, no abrigo que tava  fechou as portas. Agora tou dormindo enfrente do Corpo de Bombeiros, eles tão me ajudando até a Santa Casa pro tratamento. Por que eu vim pra São Paulo? Pro tratamento de  câncer e miopia que essa semana retrasada cai duas vezes dento do bueiro, bati a testa, deslocou a clavícula que ainda dói. Quando foi ontem fui no mercado buscar umas frutas, o resto das frutas pra gente comer, cai foi no esgoto. E só era barro! Cai dento e ficou lama até aqui no meio da canela e a coluna tá descolada e piorou a situação”.

Sou viajante, cruzo montanhas, ultrapasso barreiras, derrubo muros e saio em aventura na busca por novas experiências nas grandes cidades. Sou pobre, não tenho nada, mas sinto uma força que me joga nas estradas da vida. O que faço para viajar? Se vim de carona? 

“Não, não foi bem de carona, uma pessoa deu assistência pra chegar até aqui. Aliás, sempre tem gente vindo pra São Paulo, uns ficam na casa de parentes, famílias, amigos,  outros termina ficando na rua mesmo”.

Tenho a minha história. Ela é só minha e de mais ninguém! Gosto da vida e luto para sobreviver nas ruas, becos e vielas da cidade grande. Porém eu tenho um problema sério. Como assim? Não entendi. Que problema?

“O cabelo tá caindo tudo, mas Deus é maior e não vai deixar acontecer o pior comigo. Eu tenho que continuar com o tratamento se não fica cego e se ficar cego vira catarata então tão me ajudando o máximo possível”.

No corre-corre desta Praça lembro-me da minha família. Aqui não estou sozinho, não sou mais um peregrino. A lembrança da minha história no interior dar ânimo para viver o presente nesta grande cidade. Sim, lembro-me da luta da minha esposa, a alegria da minha filha ao acordar de manhã e se preparar para ter mais um dia de aula. Sim, nos jovens passando nestas ruas vejo o olhar do meu filho como se estivesse me pedindo um pouco de amor e uma palavra de carinho. Mas o senhor tem esposa e filhos ou está viajando, inventando histórias?

“Sou casado e tenho dois filhos, Andressa com dois s e Carlos Eduardo. Ela tem 19 e ele tem 17. O nome da minha mulher é Ana Lúcia. Por que eu deixei a minha família? Por causa desse tratamento porque lá a medicina não tá avançada como na capital, então tive que procurar outro lugar se não tava ficando cego. Se a família sabe que eu moro na rua? Mais ou menos. As condições também tá precárias e não tem como dá uma assistência de lá pra cá. Tem que se virando como Deus quer”.

Nasci em uma cidade pequena de Santa Catarina. Os 22 dois mil habitantes de Colorado são amigos. Lá todos se ajudam e gostam de dar um bom dia, uma boa noite, uma boa tarde. Somos amigos e gostamos de conversar, parar, estender as mãos. Sim, lá as pessoas são calmas e geralmente vivem tranquilas sem muitas preocupações. São Paulo não, aqui todos vivem correndo, olha com desprezo e parece que estão com medo. Medo? Mas o senhor tem medo de viver nas ruas?

“Tou apavorado! Sem destino, sem saber se vai pra direita, pra esquerda, ponde vai. Sempre dependendo de um auxílio. Esse tempo todo, sempre dependendo de um auxílio”.

Sou filho da fome! Sim, filho do estomago vazio, da água na boca, do olhar faminto, da barriga gritando e das pessoas olhando com desprezo para a minha miséria. Lembro-me do prato de comida na minha terrinha, da minha mulher preparando o feijão, assando a carne no fogão de lenha. Lembro-me do café no raiar do novo dia, da minha filha correndo para comprar o pão...  Hoje vivo de lembranças, só lembranças!.  Como assim, o senhor passa fome? Como faz para se alimentar?

“Hoje, querendo comer uma comida num estabelecimento comercial, um sujeito da idade do meu filho disse que o meu dinheiro não dava pra  comer nada não. Jogou foi um copo de água no meu rosto”!

Jogou um copo de água no seu rosto? O que estes teus olhos viram nesse momento de fome e angustia? O que esses teus olhos cansados e tristes contemplaram nesse momento de desprezo, discriminação e fome?

“Eu tenho 48 anos, não tenho dois dias de idade não. Aí sai de lá chorando, chateado. Até agora da vontade de chorar, entendeu? Por causa de quê, por causa de um prato de comida. Não, a comida aqui é nove, dez, não sei o quê, jogou tudo na minha cara”.

Há moço, quando a fome aperta tenho que comer. Faço das tripas o coração para   encher a barriga. Quem vive sem comer? Olho pelos vidros daquelas grandes casas e vejo gente sentada comendo. São comidas bonitas. Parecem gostosas, são saborosas, as pessoas saem de lá sorrindo, satisfeitas e com a barriga cheia. Eu sei que elas pagam pra comer. Mas eu também tenho fome. Se tenho dinheiro? O que faço para não morrer de fome?

“Eu tenho cinquenta ou setenta centavos no bolso. Vim na igreja pedir pão, a moça me deu um pouco de café, mastigar um pedaço de pão”.

Outro problema é quando chega à noite. Durante o dia olho para as pessoas passando, carros bonitos, músicas, os prédios grandes e altos. A cidade me fascina! Tudo parece diferente. Mas quando o sol vai embora... O que acontece? Como o senhor faz para dormir?

“Ali mesmo, enfrente do corpo de bombeiros, nessa entrada do metrô, da escada da Praça da Sé, dormindo ali, todo dia. Semana inteira”.

Vivo nas ruas, eu sou a rua. Olho nas lojas de roupas e vejo coisa bonita. Lembro-me do vestido azul da minha mulher. Ela ficava bela. O meu filho, Carlos Eduardo gostava de andar de bermuda. Ele tinha duas camisas do Flamengo. Sabe, uma coisa que o deixava feliz era vestir uma nova roupa. Já a minha filha Andressa, com dois s, não fazia questão de roupa nova. Acho que ela puxou o pai. Mas como o senhor leva muita roupa na sacola?

“A única roupa que tou é duas bermudas e três camisas. Eu tinha mais roupas, mas quando chegou aqueles caminhão do rapa, quando eu fui no mercado, quando eu vi já tava em cima do caminhão. Minha mochila, levaram tudo! Eu fui tentar pegar em cima do caminhão ai o cara me deu uma bordoada  na espinha, ficou um hematoma uma semana”.

Olhando nestas ruas, na Praça e nos carros, vejo muita gente. Às vezes lembro-me da minha cidade lá em Santa Catarina. Sabe, lá eu tinha amigos, gostava de conversar no banco da Praça. Nos finais de semana íamos à Igreja, tinha futebol, ah! Não posso esquecer-me do barzinho onde a gente tomava uma cachacinha no sábado à noite. Não sei se voltarei a vê-los de novo. É bom ter amigos, conversar, jogar conversa fora... Mas o senhor tem amigos aqui nas ruas de São Paulo?

“Aqui tem uma comunidade que às vezes passa nos finais de semana, traz alimentação pra gente. Quando têm roupa eles dão, mas não é sempre, né?

Aqui tudo lembra os meus filhos e a minha mulher. Quando acordo enfrente do corpo de bombeiros já vejo o povo passando na rua. Carros e mais carros passam na Avenida. Parecem que esta cidade não dorme. Até de noite as pessoas ficam passando pra lá e pra cá. Eu sei que a vida é difícil e todos tem que ganhar a vida, lutar, correr... É, tudo, tudo nesta cidade lembra a minha família que também luta, corre e faz o possível e o impossível para sobreviver. Mas a sua mulher trabalha? O que ela faz para alimentar os seus filhos?

“Ela trabalha lá, trabalha auxiliar, faxineira né, em loja, em comércio de calçados. Tão se virando. A minha filha também tá fazendo alguma coisa por lá, tão ajudando um ao outro”.

Sabe, quando eu encosto a cabeça na calçada começo a sonhar. Sim, sonhar com a minha terra, até com as discussões dos meus filhos. É bom ter uma casa, não dormir na rua, poder olhar nos olhos da mulher que a gente ama. Ah, quanta saudade! Mas o senhor pensa em deixar as ruas de São Paulo e voltar pra lá?

“Com certeza, com certeza! Depois de acabar esse tratamento aqui e pegar o meu óculos, arrumar um jeito de ir pra lá”.

Por que moro nas ruas as pessoas acham que eu nunca tive um trabalho, que sou vagabundo. Não, não! Eu sempre tive responsabilidade, cuidei da minha família. Sempre tive uma vida voltada para o trabalho. Ah é! Qual é a sua profissão?

“Lá eu trabalha na área da panificação. Sou padeiro, faço pão doce, pão salgado, bolo de milho, bombocado, rocambole, tapiçuísso, coxinha, esfirra, pastel. Esses salgados assim, tiro tudo de letra. Faço todos! Mas como que eu vou se a minha profissional foi para o esgoto? Tou só com o RG. Graças a Deus que eu nunca sai sem documento”.

Passo pelas ruas e vejo casas, as famílias moram em prédios altos. Eu, pobre coitado, não tenho onde ficar, não sei o que falar quando me procuraram onde moro. Sinto-me perdido no meio da multidão sem um destinatário. É, resta-me sonhar com um endereço, um futuro, um trabalho e dignidade. Como assim? O senhor está dizendo que um endereço lhe daria chance de conseguir um emprego?

“Como é que vou procurar um trabalho aqui no centro da cidade se não tenho um endereço? Eles pedem pra você qual o seu endereço, seu telefone”.    

“Não moço, dizer que a rua é vida boa é mentira. Quem não gosta de ter um trabalho, ser útil para o povo? Quem não gosta de acordar cedinho, tomar um banho, fazer a barba, fazer um café, trocar de roupa, pegar um ônibus, metrô ou trêm e ir trabalhar? Quem não gosta de lutar, sonhar, e crescer na vida”?  Então o senhor está me dizendo que pensa em voltar a trabalha?

“Logicamente que vou retornar a minha profissão, faço serviço de pedreiro, qualquer serviço de coisa ou atividade. Eu não vou ficar o resto da vida desse jeito. Daqui a pouco com 50 anos. A minha situação não pode deixar piorar. Tem que tocar o barco pra frente, tem que tocar a peteca pra frente. Não pode olhar pra traz e ver os defeitos, tem que olhar pra frente, isso é importante, porque sempre vai ter alguém na frente que vai te ajudar. Nem todo mundo vira as costas”.

Vivo livre, passo pelas pessoas, não tenho banheiro, espelho, pente ou toalhas para me enxugar. Vivo sem muita esperança, mas sei me cuidar. Gosto da minha vida, do meu corpo e quero que todos olhem para o meu corpo limpo. Mas onde o senhor lava a sua roupa? E o banho, como faz?

“Não tou andando de terno e gravata, mas não é porque estou em situação de rua que vou ficar andando sujo pra lá e pra cá fedendo. Pulo no chafariz todo dia. Tenho o meu sabonete, tomo banho de roupa, aproveito e boto pra secar no gerador do metrô ali, sento um pouco e seca tudo! Não gosto de chegar perto de alguém com cheiro de azedo, a pessoa chegar perto de você e ficar se esquivando”.

Não, não tenho vaidade, mas gosto da minha vida e cuido do meu corpo. Há! Uma coisa eu não posso negar, fico feliz quando as pessoas reconhecem o meu zelo. Zelo? Mas o que as pessoas falam?
“Ainda bem que o senhor não anda sujo, o senhor faz a barba, corta o cabelo. Sempre tem esses elogios, então pra mim é legal”. 

Olhando para os meus amigos de rua fico pensando na dor, no sofrimento e abandono. Cada um tem uma história. Alguns já se entregaram ao mundo do álcool, das drogas. Outros não, eles ainda pensam em ter uma nova vida, uma família, um emprego, um novo destino. E o senhor, o que gostaria de falar ou gritar para todo mundo ouvir.

“Que nenhum passe essa situação que tou passando, a pior coisa do mundo é você ficar dependendo de outra pessoa”.

Você pensa que estou sozinho na rua? Que nada! Tenho vários amigos, eles também vieram de longe para tentar a vida em São Paulo. Alguns pensam em voltar, outros ficam no mundo da fantasia e da loucura. Tomando essa atitude eles esquecem a vida de sofrimento. Quem por exemplo? Quem! Pra começar, falo de José Carlos Almeida. Ele veio do Espírito Santo e tem 70 anos. Converse com ele, mas não tenha medo das suas histórias fantasiosas e loucas.

Seu José Carlos, para começo de conversa, gostaria saber se o senhor tem família.
“A minha família está toda destruída pela uma máfia que vem interagindo em nosso país, usando o nosso documento para pegar nosso material e o dinheiro dos bancos todo que é todo nosso”.

Sim, não tenho dinheiro porque fui vítima da máfia internacional. Ela rouba os pobres, destrói vidas e acumula bens para comprar armas, destruir países, poluir os rios, comprar os políticos e transformar o planeta em um caos total! Mas se o senhor não tem dinheiro, casa e família, onde dorme à noite?

“Eu fico próximo do Glicério, debaixo de uma ponte que tem uma feirinha, próximo da igreja Deus é amor. Dormindo exposto, eu dez, a Polícia Federal, eu dez, professor federal, o governo brindado, o meu material roubado, e meu pagamento roubado do banco de câmbio que é a porcentagem das indústrias e das fábricas de alimento”.

A minha família? Não, não, não tenho esposa, não tenho filhos e sou filho do mundo. Não gosto de viver sozinho, sonho com um lar, quero uma família, faço preces a Deus para chegar este dia do grande milagre. Milagre? Mas quê milagre? O que o senhor pede a Deus?

“Eu vou na Igreja todo dia e peço a Deus quê  me dê uma filha dele pra mim namorar e dá uma condição pra mim casar. Eu quero no meu casamento convidar os Estados Unidos participar do meu casamento em nome de Jesus.

Eu não sou dono da minha vida. Deus é maior e domina todos e tudo. Nada está ao meu alcance. Ele reina em nossos pensamentos e decisões. Posso casar, ter filhos ou não. Só Ele é quem sabe. Como assim, o senhor poderia explicar?   

“Eu posso até ter filhos, porque isso é plano de Deus na vida do homem. Porque Deus quando fez o mundo, Ele fez a terra, o fenômeno, fez o espaço, o céu, e Ele estuda o fenômeno e todos os homens que tão aqui na terra, todo dia. É o estudo, este estudo eu não posso revelar, e nem posso revelar o seu registro, mas Deus tem estudado o céu, o espaço e a terra todo dia e tem estudado o comportamento do ser humano todo dia que foi criado para habitar na terra”.

Eu sou a autoridade máxima desta cidade, tenho que ter uma vida digna, ser respeitado amado e valorizado. Não ando sozinho pelas ruas, tenho segurança, sou protegido pelas Forças Armadas. O meu nome é poder, eu tenho poder! Mas afinal de contas, quem é o senhor? Quem eu sou?

“O presidente do mundo sou, o governo federal do mundo sou eu. O meu almoço é 120 mil real, o meu almoço, que é a minha mesada do dia a dia. Essa mesada tá sendo roubada por essa máfia que tá comprando terra todo mês, todo mês por ela, entendeu”?

Sim, a máfia rouba a cidade, o Brasil e o mundo. Eles destroem diariamente o planeta e transformam os seres humanos em animais digladiando-se pelo poder, a produção e o lucro. Tenho medo desta gente violenta, arrogante e orgulhosa. Mas quem são eles?

“A gente precisa conversar em particular, eu não posso expressar quem são os integrantes dessa máfia. Porque esta máfia está agindo no mundo inteiro. Na China é feita a libra, limite internacional militar, Brasil rodoviária Almeida, o dinheiro na China é pegado com os meus documentos, no Japão a mesma coisa, em Nova York a mesma coisa, em Paris a mesma coisa. O governo do mundo é Carlos, paris é policial, almeida rodoviária silva”.
            
          Sou autoridade e como tal não devo explicações para ninguém. Posso andar, falar, gritar, cantar, entrar ou sair em departamentos comerciais, templos, bancos ou clubes. Tenho passe livre para andar por estas ruas de São Paulo e por todas as cidades do mundo. Eu disse, sou livre! Livre? Mas porque o senhor sempre vai à igreja? Alguém lhe convidou?

“Não é um chamado de homem ou de igreja, é um chamado de Deus para com a minha vida. É um compromisso que tenho que ter com a família, com a família da nossa igreja. E esse compromisso não pode ter pessoas que venham interceptar, que minha vida já foi interceptada com eles roubando. Eu me afastei da igreja, fiquei afastado da igreja católica um bom tempo, mas hoje já tem mais de sete anos que eu voltei e não perco mais nem uma missa. Durante a semana eu tou sempre presente na Missa da sexta-feira”.

Aqui na Praça da Sé tem esta igreja bonita, quando vou dormir sempre me lembro de Deus nas minhas preces. Lá no Espirito Santo, lembro-me dos meus pais todos os domingos na Missa. Esta lembrança caminha comigo, entra na minha mente e me leva a olhar para o alto e fazer sempre uma prece. Mas nas suas orações, além de pedir uma família, o que mais o senhor pede a Deus?

“Todo dia eu peço a Deus que nenhum inimigo venha interceptar a minha caminhada, porque Deus se encontra muito distante e se eles intercepta a minha caminhada eles intercepta eu chegar ao encontro de Deus, e cada ano que eu ando na presença de Deus na igreja eu ando cem milhas me aproximando de Deus”.

Olho na escuridão da noite e tenho medo. Sim, medo da violência, medo das pessoas, da Polícia... Eu tenho medo! As pessoas não olham para o meu rosto, todos parecem amedrontados. Ouço gritos, correria, roubo, assaltos. A cidade é violenta e perigosa. Mas o que fazer para resolver esse problema? O senhor teria uma solução?

“O juiz é o governo, se o governo for arrumado, às coisas serão todas colocadas no seu devido lugar”.

A minha voz não é qualquer voz. Sou importante, nem todos podem me ouvir. Sou vítima da bandidagem que arrasa o país destruindo as famílias, matando, roubando e transformando o país em campo de guerra. Então a sua família foi assassinada? Deixe a sua palavra final sobre esta triste história.

“Eu tou na rua tem muito tempo já. A minha mãe foi matada, meu pai foi matado, minha irmã foi matada. Mataram a minha família toda roubando nosso nome”.

Triste a sua história. Obrigado por contar a sua vida sem vida, seu olhar cego, seu corpo sofrido pela fome, suas pernas trêmulas pela doença, seu sonho preso pelo medo da escuridão, suas mãos trêmulas pelo frio e seu sonho insistente no raiar de um novo dia. Obrigado, obrigado.