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quinta-feira, 28 de maio de 2015

Vaticano diz que casamento gay é “derrota para a humanidade”

Secretário de Estado diz que a Igreja precisa reagir ao resultado do referendo irlandês
Irlanda, o primeiro país a aprovar o casamento gay em um referendo

O sim da católica Irlanda ao casamento homossexual caiu como uma bomba no Vaticano. Seu mais graduado funcionário, o secretário de Estado Pietro Parolin, um diplomata com muitos anos de experiência e fama de moderado, assim se referiu ao resultado do referendo: “Não só se pode falar de uma derrota dos princípios cristãos, mas também de uma derrota da humanidade”.
O cardeal italiano Parolin acrescentou que se sente “muito triste pelo resultado” – 62% dos votos favoráveis ao casamento entre homossexuais, 37% apostaram contra – e pediu à Igreja que reaja. “O arcebispo de Dublin”, acrescentou o secretário de Estado durante um ato da fundação Centesimus Annus, “disse que a Igreja deve levar em conta essa realidade, mas me parece que no sentido de reforçar seu esforço evangelizador. A família tem que continuar no centro, e devemos defendê-la, tutelá-la e promovê-la. O futuro da humanidade e da Igreja depende da família. Golpeá-la seria como tirar os alicerces do edifício do futuro”.
As palavras de Parolin chamam a atenção por dois aspectos. Primeiro porque ele não costuma se estender – e muito menos com tal eloquência – quando fala em público. Seu trabalho até agora era no sentido de sustentar de forma calada, quase invisível, os esforços do papa Francisco para renovar a Igreja e, sobretudo, colocar a máquina diplomática do Vaticano a serviço da paz. Em segundo lugar, desde que o Papa se referiu à homossexualidade durante seu voo de volta do Brasil – “Quem sou eu para julgar os gays” – a Santa Sé vinha procurando atualizar os velhos clichês.
Mas, até o momento, tratava-se apenas de uma aproximação mais respeitosa, talvez mais compreensiva em relação aos homossexuais, mas deixando claro –como faz nesta quarta-feira o cardeal Angelo Bagnasco, presidente da Conferência Episcopal Italiana, em uma entrevista ao jornal La Repubblica – que a Igreja continua rejeitando as uniões civis. “Acreditamos”, observa Bagnasco, “na família que nasce da união estável entre um homem e uma mulher, potencialmente aberta à vida; esta união, que constitui um bem essencial para a sociedade, não é equiparável a outras formas de convivência”.
Talvez as palavras de Pietro Parolin possam ser explicadas pelo fato de a Igreja temer um efeito-dominó do referendo europeu no resto da Europa.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

¡Romero Mártir por amor a los pobres!

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 888. A Mulher invisível.

Carta aberta ao bispo de Maceió, Dom Antônio Muniz

Dom Antônio Muniz, Arcebispo Metropolitano de Maceió:

Rogo a atenção de V. Exa. Revma. para fixar ainda mais o seu olhar sobre Alagoas. O estado não consegue controlar a epidemia de violência homicida que tem enlutado milhares de famílias.
Alagoas, nas últimas duas décadas, alcançou o primeiro lugar no ranking dos estados mais violentos. São números trágicos e vergonhosos que se assemelham aos de guerra. 
O Mapa da Violência de 2014 revela que entre 2008 e 2012 ocorreram 10.159 homicídios em Alagoas; desses, 6.114 são jovens, na faixa etária de 15 a 29 anos, ocorrendo 60% dos homicídios entre negros e pobres.
Os dados estatísticos produzidos pela Secretaria de Defesa Social (SDS) em 2013 revelam 2.260 crimes violentos letais, uma média de 6,19 homicídios/dia, e em 2014 foram assassinados mais 2.199; a média mantida é de 6,02 homicídios/dia. A soma do período é de 14.618 homicídios.
Esse contingente de jovens negros e pobres em idade escolar não teve o direito de viver com o mínimo de dignidade; foram assassinados e os motivos nunca serão esclarecidos pela policia alagoana, fato que mantém a impunidade como regra geral e política de Estado.
Dom Antônio, as condições em que o Estado se encontra é de sucateamento, notadamente nas áreas em que a população mais necessita: educação, saúde, assistência social, e com taxa de desemprego crescente.
As políticas públicas essenciais não existem concretamente, a não ser na propaganda oficial. A possibilidade de incluir os jovens no mundo do trabalho e da cultura é impensável em Alagoas.
O Núcleo Estadual de Atendimento Socioeducativo (Neas), localizado no Tabuleiro, em Maceió, é um depósito em condições inferiores às das piores pocilgas. A tortura física e psicológica tem sido o método de castigo implementado pelos agentes públicos. Não bastou o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, em 2014, ouvir dos adolescentes relatos de torturas e de que a comida era deplorável, pois as condições permanecem iguais ou o que mudou tem efeito meramente cosmético.      
Dom Antônio, a presença mais visível do estado nos bolsões de pobreza e miséria é através da presença da polícia, que insiste na “guerra contra a criminalidade” como meio de “oferecer segurança pública”. Essa prática retrógrada se mantém com o apoio e incentivo público dos responsáveis pela segurança pública.
Essa prática tem servido tão somente para incitar o ódio estatal contra o fenômeno crescente de violência, identificado como um estágio de epidemia. Toda a fúria policial é um instrumento que operacionaliza o processo de “limpeza social e étnica” instaurado há décadas no seio da segurança pública.
Dom Antônio, como cidadão preocupado com essa questão, me reporto ao tempo em que era criança em Anadia, interior de Alagoas. Era então comum ouvir o dito popular: “vá se queixar ao bispo”. É o que me ocorre diante do estado de entorpecimento das autoridades de Alagoas.
Apelo a V. Exa. Revma. por identificar na figura do arcebispo metropolitano e na Igreja Católica a possibilidade de intervir nesse quadro desolador.
Os meus respeitos e admiração
Geraldo de Majella