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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Padre redentorista sob risco de excomunhão

O superior dos padres redentoristas em Roma disse que lamenta profundamente que o padre Tony Flannery rompeu o silêncio que ele havia sido solicitado a observar, informou oCatholic News Service no dia 23 de janeiro.
A reportagem é de John Cooney, publicada no sítio do jornalNational Catholic Reporter, 23-01-2013. A tradução é deMoisés Sbardelotto.
O padre redentorista Michael Brehl, superior geral da ordem, também confirmou que Flannery está sob investigação doVaticano por supostas ambiguidades "referentes a áreas fundamentais da doutrina católica, incluindo o sacerdócio, a natureza da Igreja e a Eucaristia".
Brehl afirmou que queria "convidar sinceramente" Flannery "a renovar os esforços para encontrar uma solução consensual para as preocupações levantadas pela Congregação para a Doutrina da Fé".
Ele também pediu que os redentoristas irlandeses "se unam a mim em oração e trabalhando juntos no espírito de Santo Afonso para manter e fortalecer a nossa comunhão com a Igreja universal".
História anterior
O padre redentorista irlandês Tony Flannery rompeu um ano de silêncio no último domingo para revelar que oVaticano o havia ameaçado com a excomunhão e com a remoção da sua congregação religiosa porque ele defende debates abertos sobre os ensinamentos da Igreja sobre a ordenação de mulheres, o celibato clerical, contraceptivos e homossexualidade.
Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano removeu Flannery, 66 anos, do ministério público em fevereiro passado, enquanto se aguarda o resultado das suas investigações sobre os pontos de vista que ele expressou naReality, revista dirigida pelos redentoristas.
Flannery também disse que não teve nenhum contato direto pessoalmente ou por escrito com a congregação. Toda a comunicação ocorreu através do superior geral dos redentoristas em Roma, o padre Michael Brehl.
Flannery descreveu as ações contra ele como "assustadoras, desproporcionais e reminiscentes da Inquisição".
Ele disse que, inicialmente, tentou firmar um compromisso com a congregação vaticana, mas em setembro ficou claro que isso não aconteceria.
"Eu gradualmente tomei consciência de que a Congregação para a Doutrina da Fé continuamente levantava barreiras até que eu cheguei ao ponto em que eu não podia mais negociar", disse Flannery. "Fui confrontado com uma escolha. Ou eu assinava uma declaração, para publicação, afirmando que eu aceitava os ensinamentos que eu não podia aceitar, ou eu ficaria permanentemente banido do ministério sacerdotal, e talvez enfrentaria sanções mais graves".
"É importante deixar claro que essas questões não eram questões de ensino fundamental, mas sim de governo eclesial", disse ele.
Flannery, um popular diretor de retiros e escritor, disse que a congregação também havia lhe ordenado a "não ter qualquer envolvimento, público ou privado" com a Associação dos Padres Católicos. Flannery cofundou a associação em 2010 como um fórum de discussão entre clérigos irlandeses sobre questões que afetam a Igreja irlandesa e a sociedade.
"Eu servi a Igreja, os redentoristas e o povo de Deus durante dois terços da minha vida. Durante esse tempo, em sã consciência, eu levantei questões que eu acreditava que eram importantes para o futuro da Igreja em livros e em ensaios amplamente lidos por católicos praticantes, em vez de levantá-los na mídia", disse Flannery em um comunicado divulgado em uma coletiva de imprensa. "Estou longe de ser uma figura importante e subversiva dentro da Igreja que mereça a excomunhão e a expulsão da comunidade religiosa dentro da qual eu vivi desde a minha adolescência".
A escolha diante dele, afirmou, era entre decidir entre Roma e a sua consciência. "Submeter-me a essas ameaças seria uma traição ao meu ministério, aos meus colegas padres e aos católicos que querem a mudança", disse.
Os redentoristas da Irlanda emitiram uma forte defesa de Flannery no domingo.
"Compreendemos e apoiamos os seus esforços para ouvir cuidadosamente e às vezes para articular os pontos de vista de pessoas que ele encontra ao longo do seu ministério", disse a equipe de liderança provincial dos redentoristas irlandeses em um comunicado.
Eles disseram que lamentam imensamente que "ainda não foram descobertas na Igreja algumas estruturas ou processos de diálogo que têm uma capacidade maior de se engajar com vozes discordantes do povo de Deus, ao mesmo tempo em que respeitam a responsabilidade-chave e o papel central da Congregação para a Doutrina da Fé".
Associação dos Padres Católicos também afirmou "nos termos mais fortes possíveis" o seu apoio a Flannery. A associação disse que Flannery estava sendo visado como "parte de um esforço mundial para negar a influência das associações independentes de padres na ÁustriaEUAAlemanhaFrançaSuíça e outros lugares".
Também estava presente na coletiva de imprensa o padre Helmut Schüller, da Iniciativa dos Párocos Austríacos. Ele criticou a "falta de direitos básicos e de respeito pela consciência pessoal" na Igreja.
A ex-presidente irlandesa Mary McAleese falou em apoio de Flannery e de outros clérigos irlandeses dissidentes no dia 20 de outubro, no lançamento do seu livro Quo Vadis?: Collegiality in the Code of Canon Law [Quo Vadis? Colegialidade no Código de Direito Canônico], na sede dos jesuítas em Dublin. Lá, ela falou em particular com Flannery, que estava fazendo uma rara aparição pública.
O grupo de reforma Nós Somos Igreja da Irlanda anunciou uma vigília pacífica do lado de fora da Nunciatura Apostólica do Vaticano em Dublin, prevista para o dia 27 de janeiro, para oferecer seu apoio incondicional ao direito de Flannery "de não ser forçado por um abuso do seu voto de obediência a se submeter a demandas secretas" da congregação doutrinal.
Flannery disse: "As ameaças são um meio não apenas de me aterrorizar em sua submissão, mas também de enviar uma mensagem para qualquer outro sacerdote que expresse pontos de vista em desacordo com os da Cúria Romana".
Biografia
Natural do oeste da IrlandaFlannery nasceu em Attymon, condado de Galway, e passou um tempo como pregador redentorista em Limerick. Ele tem um grande número de seguidores tanto como pregador, quanto como diretor de retiros. Ele é um divulgador, mais do que um grande estudioso. Ele prende a atenção do público por meio do diálogo, especialmente com os pais que acham que os escândalos dos abusos clericais afastaram os seus filhos da religião.
Conhecidos antigamente pelos seus sermões afiados, os redentoristas têm estado na vanguarda dos esforços pela necessária mudança da Igreja. O livro de Flannery de 1999, From the Inside: A Priest's View of the Catholic Church [Do lado de dentro: A visão de um padre sobre a Igreja Católica], é em parte autobiográfico e em parte uma avaliação do catolicismo irlandês. Ele é composto de artigos curtos e legíveis, destacando a inadequada formação sexual e espiritual dos padres. Ele examina as linhas de falha que surgiram na sequência da encíclica Humanae Vitae, de 1968, do Papa Paulo VI, mantendo a proibição da Igreja às formas artificiais de contracepção.
Também nesse livro, Flannery criticou o mau tratamento dado ao celibato clerical por parte da instituição.
Seu livro Fragments of Reality [Fragmentos da realidade], publicado em 2008 pela Columba Press de Dublin, contém seus escritos selecionados desde 1998, quando ele era membro da Equipe de Missão Redentorista que incluía leigos e clérigos.
Ele viu em primeira mão o declínio constante em toda a Irlanda da participação na Igreja e de candidatos ao sacerdócio.
Ele também testemunhou a continuada negação de qualquer papel significativo para as mulheres no ministério. "Por mais quanto tempo essa política pode ser sustentada?", escreveu. "Devemos ser a última instituição do mundo ocidental que continua mantendo uma discriminação tão clamorosa contra as mulheres. Eu não tenho nenhuma dúvida de que não há nenhuma base teológica ou escritural para essa posição, mas se trata puramente de uma construção social e institucional escondendo um desejo bastante descarado e primitivo de dominação masculina".
No artigo "A Ordenação de Mulheres", em Fragments of Reality, ele revelou que conhece algumas das mulheres que foram ordenadas no movimento de sacerdotisas católicas romanas em um barco em Pittsburgh, em 2006. Ele conhece pessoalmente a irlandesa Bridget Mary Meehan, que é uma bispa da Associação de Sacerdotisas Católicas Romanas.