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sábado, 2 de agosto de 2014

BATE PAPO CARMELITANO: Frei Marcelo de Jesus.

A Voz do Pastor - Domingo Comum - Domingo 03/08/2014

Vocação

Dom Jaime Spengler, Arcebispo de Porto Alegre

Escreveu o Papa Francisco: “A vocação é fruto que amadurece no terreno bem cultivado do amor de uns aos outros, que se faz serviço recíproco, no contexto de uma vida eclesial autêntica. Nenhuma vocação nasce por si, nem vive para si”.
Todos nós desejamos uma vida bem vivida. Almejamos uma vida com sentido. Nossas buscas, projetos e sonhos se sustentam a partir de um horizonte de vida sólido. A pergunta, talvez, sempre necessária, é: o que significa uma vida, uma existência com sentido? A partir de onde se encontra sentido para a própria vida? Aqui certamente se expressa o nobre, digno e necessário serviço junto, especialmente, a nossos adolescentes de orientar, dialogar e auxiliar; afinal, perceber qual o caminho de vida que vem ao encontro das tendências, dotes e mesmo necessidades pessoais, nem sempre é tarefa fácil.
Uma história, pertencente à tradição hebraica, pode auxiliar na compreensão dos desafios característicos quanto à necessidade de realizar uma opção de vida. Diz a história: “Um certo rabi procurou seu mestre, suplicando-lhe: ‘Indicai-me um caminho universal para o serviço a Deus’. O mestre respondeu: ‘Não se trata de dizer ao homem qual caminho deve percorrer, porque existe uma estrada por meio da qual se segue a Deus por meio do estudo, outra, por meio da oração, e outra, por meio do jejum, e ainda outra comendo! É tarefa de cada homem conhecer bem a direção de qual estrada o atrai, o próprio coração e depois escolher aquela estrada com todas as forças’”.
A pessoa humana é única. Possui uma tarefa intransferível. Cada ser humano é convocado a testemunhar sua irrepetibilidade. Para isso, se faz necessário o conhecimento de si mesmo, das próprias qualidades e tendências essenciais. Considerando esse conjunto de elementos, é possível sondar um caminho de vida.
A escolha de um caminho de vida requer muito mais que a opção por uma determinada profissão. Profissão tem a ver com preparação técnica, competência, eficiência produtiva, ganha-pão, função social, status, reconhecimento externo. Tudo isso pressupõe decisão pessoal, realização, chamado interior, paixão, amor e gosto pelo que se faz, ou seja, pressupõe vocação. Assim, retomando a história da tradição hebraica, pode-se perceber que o “serviço de Deus” requer muito mais que somente profissionalismo. Exige escuta do próprio coração, para conhecer bem a direção de qual estrada ele o atrai.
A vocação se orienta eminentemente para um futuro. Ela se realiza, sim, no presente, mas orientada para um futuro. Por isso, pode-se afirmar que vocação é uma tarefa em constante realização. Da profissão, nos aposentamos. Já aquilo que denominamos vocação perpassa todas as fases da existência.
A escuta do próprio coração requer sintonia, escuta, disposição para acolher aquilo que a vida solicita. Escuta e compreende tal solicitação quem cultiva a afeição, a cordialidade, o amor, o respeito pela própria condição. Para nós, cristãos e cristãs, a condição é de filhos e filhas, seguidores e seguidoras do Senhor, caminho, verdade e vida.
Jesus – caminho, verdade e vida – percorria as cidades e aldeias... Contemplando a multidão, encheu-se de compaixão por ela, pois estava cansada e abatida, como um rebanho de ovelhas sem pastor. Disse, então, aos seus discípulos: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto, ao Senhor da messe para que envie trabalhadores para a sua messe” (Mt 9,35-38).

Oxalá possamos cooperar para que homens e mulheres, especialmente os adolescentes e jovens, saibam e possam corresponder à vocação recebida, e serem no mundo cooperadores do Senhor na construção do Seu Reino!

Ser padre vocação para servir


Dom Pedro Carlos Cipolini, Bispo de Amparo

Todas as vocações são dadas por Deus e são sublimes. A grande e primeira vocação do ser humano é a filiação divina: tornar-se em Jesus Cristo filhos de Deus. Jesus ensinou a chamar Deus de Pai nosso. Esta vida de amor filial a Deus, portanto, tem como consequência o amor fraternal aos irmãos. Esta é nossa vocação primeira: união com Deus no amor. “O Unigênito Filho de Deus, querendo fazer-nos participantes da sua divindade, assumiu nossa natureza, para que feito homem, dos homens fizesse deuses” (S. Tomás de Aquino, in Op. 57, In festo Corporis Christi, lect. 1-4).
Porém Jesus deixou-nos a Igreja, Povo de Deus que caminha neste mundo; “O Senhor Jesus iniciou sua Igreja pregando a boa nova do Reino de Deus...” (LG n. 5). Na Igreja temos vários carismas e vocações, para múltiplas tarefas que constroem na caridade um novo mundo possível: o Reino de Deus que tem início aqui e se consuma na eternidade. Um destes carismas é o serviço sacerdotal. Ser padre é uma vocação para o serviço. Ser para a comunidade um sinal (sacramento) da presença de Jesus bom pastor no meio de seu povo.
Este ser sinal de Jesus Cristo, é uma vocação, é uma tarefa importante e necessária para o crescimento da Igreja e consequentemente do Reino de Deus, a serviço doa qual está a Igreja. Esta missão deve ser assumida com grande humildade, discernimento e determinação. Ser padre é antes de tudo um serviço de amor (amoris officium). Este serviço de amor é uma doação desinteressada que não tem como objetivo a projeção de si mesmo, nem o lucro pessoal. “Há mais alegria em dar que em receber” (At 20, 35).
Este serviço do padre é sinalizado na “caridade pastoral” a qual se caracteriza pelo conhecimento das ovelhas. Isto não significa conhecer todas as pessoas da paróquia, mas saber e estar consciente de suas dores, angústias, preocupações e alegrias. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas, não se preservando, dando tudo, até mesmo o tempo que sobra. O bom pastor busca as ovelhas desgarradas. Não se trata, creio eu de ir bater à porta das casas, mas ser uma presença visível e acessível para todos.
A condição para isso nós sabemos, esta na intimidade com Jesus Cristo. É Ele que dá força e sustento em meio às dificuldades e contratempos que sobreveem no exercício do ministério. Pois não se pode esquecer que a escolha dos apóstolos é para em primeiro lugar “estar com ele” (cf. Mc 3, 14).
O padre deve ter sempre presente o que escreveu um grande santo e bispo de Milão no terceiro século da Igreja: “O clérigo que serve a Igreja de Cristo deve de início considerar e traduzir o nome que leva e, depois de ter definido esse nome, esforçar-se por ser o que o título exprime. A palavra grega kléros significa parte , porção tirada em sorte: os que levam o nome de clérigos levam-no porque são a parte do Senhor ou porque tem o Senhor por parte. Aquele que professa uma e outra coisa deve mostrar por seu comportamento que possui o Senhor ou que é possuído por Ele. mas aquele que possui o Senhor e diz com o Profeta: O Senhor é minha herança, não pode ter nada além do Senhor”(Santo Ambrósio, Epist. 52,5 ad Nepontianum in- P L 22, 531).
Assim, o significado da palavra clero, que não raro hoje é depreciado, adquire seu verdadeiro sentido: ser uma pessoa livre para servir somente a Deus, e por causa dele servir os irmãos.

No início deste mês de agosto no qual celebramos o padroeiro dos padres, o Santo Cura d´Ars, rezemos pelos nossos padres. Procuremos ajudá-los a viver esta sublime vocação a que foram chamados.

A Palavra 03 de Agosto 2014

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 656. Esperança e Voto.

RETIRO: Agradecimentos do Padre Provincial.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

OLHAR JORNALÍSTICO: Retiro dos Carmelitas.

18º Domingo do Tempo Comum – Ciclo A do Ano Litúrgico: A multiplicação dos pães

A Eucaristia não é somente a reunião dominical em que o padre consagra o pão e o distribui aos participantes, que voltam para suas casas após um ato de devoção... Não! A Eucaristia só tem sentido se, participando dela, tomamos consciência de que nós devemos colaborar.
A reflexão é de Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette, Canadá, e publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do 18º Domingo do Tempo Comum – Ciclo A do Ano Litúrgico (03 de agosto de 2014). A tradução é de André Langer.

Referências bíblicas:
Primeira leitura: Is 55,1-3
Segunda leitura: Rm 8,35.37-39
Evangelho: Mt 14,13-21

Eis o texto.
Depois do discurso em parábolas sobre o Reino, temos agora gestos concretos que mostram o poder do Reino, com o qual os discípulos devem se comprometer, desde já, para que possa se realizar plenamente. O primeiro gesto é o da multiplicação, ou melhor, da partilha do pão. É um gesto tão importante que é contado seis vezes nos evangelhos. Mas, cuidado para não tomar o relato de Mateus ao pé da letra, pois trata-se de um acontecimento teológico e seria ruim tomá-lo como algo que teria acontecido na vida do Nazareno. É o que diz o francês Noël Le Bousse: “Ninguém duvida que Jesus teve poderes miraculosos. Limitada a essa constatação, a multiplicação dos pães não passaria de uma história. Ela torna-se um acontecimento rico de sentido graças às luzes da tradição evangélica que o enriquecem com toda a experiência bíblica: Jesus é o profeta que renova o milagre da Igreja. Ele é o pastor do Povo de Deus que alimenta os seus com um maná novo no deserto de um novo Êxodo, o da aventura da fé cristã. Ele realiza esta missão pelo dom da Eucaristia. Ele é a Sabedoria de Deus que alimenta os doentes e os famintos, sem que tenham necessidade de comprar para comer (cf. Is 55,1-3). Tudo isso não cai do céu. A multiplicação dos pães é confiada aos discípulos. Ministros da Palavra, da caridade ou da Eucaristia, eles aprenderão a olhar para as multidões com o olhar de compaixão de Jesus”.

Mas que mensagens podemos tirar das leituras de hoje?

1. “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16)
Eu não sei se compreendemos toda a responsabilidade que temos como discípulos do Cristo ressuscitado. A Eucaristia, pois trata-se da Eucaristia... as próprias palavras nos remetem a isso: “Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida partiu os pães, e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões” (Mt 14,19), a Eucaristia, portanto, não é somente a reunião dominical em que o padre consagra o pão e o distribui aos participantes, que voltam para suas casas após um ato de devoção... Não! A Eucaristia só tem sentido se, participando dela, tomamos consciência de que nós devemos colaborar de duas maneiras:
1) Devemos trazer e dar o que temos, mesmo que seja pouco: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes” (Mt 14,17). Talvez não seja muito, mas é o suficiente e mesmo necessário para que o gesto da multiplicação e da partilha possa se realizar, porque Cristo não pode fazer nada sem nós. Os números cinco e dois marcam a falta, mas os dois somados formam o sete, a perfeição.
2) Devemos estar dispostos a partilhar o que temos e o que trouxemos. Nós temos a responsabilidade de distribuir o pão, de partilhá-lo, para que os famintos do mundo sejam saciados: “Em seguida partiu os pães, e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões” (Mt 14,19). Mais uma vez, Cristo não pode fazer nada se os discípulos não distribuem o pão partido e oferecido.

2. “Só temos aqui cinco pães e dois peixes” (Mt 14,17)
O pão é o símbolo do trabalho humano. Ele tem sua importância em todas as culturas; significa a contribuição humana na transformação do trigo que se torna alimento dos humanos. O peixe também tem sua simbologia, pois a cena contada se passa perto do Lago da Galileia, onde os primeiros discípulos eram pescadores. No momento da Eucaristia, o peixe desaparece, mas conserva toda a sua simbologia para designar a Igreja do primeiro século. A palavra grega Ichthys é uma verdadeira profissão de fé cristã no Cristo da Páscoa; cada letra tem seu significado: Iēsous Christos Theou Yios Sōtēr, que significa Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador.
Mas hoje, o que são os cinco pães e os dois peixes? Somos nós, com os nossos talentos, as nossas qualidades e mesmo os nossos defeitos, o que somos, o que possuímos como riqueza, o que temos para dar aos outros. São também a nossa fé, a nossa esperança e o nosso amor. Tudo isso, devemos trazer para partilhar, a fim de saciar os famintos do mundo. Mas quem são esses famintos do mundo de hoje? Quando mais de 2/3 da humanidade sofre de fome, há a fome material, em relação à qual não podemos ficar indiferentes. Mas há muitos outros: as vítimas da guerra, do ódio, da maldade humana; aquelas e aqueles que sofrem de Aids e de todo tipo de doença; as vítimas da injustiça, da intolerância, da desigualdade, do racismo, da opressão e da exclusão. É a todos essas pessoas que o Jesus do evangelho nos diz: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14,16). Nós, talvez, não temos muito, mas o pouco que temos, se o damos gratuitamente, o milagre da multiplicação dos pães se realizará para saciar todas as fomes do nosso mundo.
Eu diria que a missa, a Eucaristia, tem esse preço, se queremos celebrar o Cristo vivo no coração da nossa humanidade. Mesmo o deserto se transformará; florirá. No evangelho, Mateus nos diz que a cena se passa num lugar deserto (v. 13), e na hora da partilha, de repente, há grama para sentar-se: “Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama” (Mt 14,19a). Além disso, nós devemos nos questionar sobre a qualidade das nossas celebrações eucarísticas. Porque se as multidões desertaram das nossas igrejas, talvez devamos nos perguntar se as nossas reuniões realmente matam as fomes do nosso mundo.

3. O Amor
Para celebrar verdadeiramente a Eucaristia, só o Amor em sua gratuidade pode nos permitir fazê-lo. Em sua carta aos Romanos, Paulo, após ter discutido os diversos aspectos da nossa vida nova em Cristo e da nossa esperança, conclui com um hino cheio de emoção, cujo vocabulário sugere o contexto de um julgamento (Cf. TOB, Rm 8,31 nota x). Deus, como um Juiz, ganhou a nossa causa: “O que nos resta dizer? Se Deus está a nosso favor, quem estará contra nós?” (Rm 8,31) O próprio Cristo, como um advogado, intercede por nós: “Quem condenará? Jesus Cristo? Ele que morreu, ou melhor, que ressuscitou, que está à direita de Deus e intercede por nós?” (Rm 8,34) Então, quem ousará acusar aquele que Deus escolheu? “Quem acusará os escolhidos de Deus? É Deus quem torna justo!” (Rm 8,33) Que obstáculos poderiam derrotar a nossa aventura cristã? “Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8,35a) As primeiras acusações, a primeira série de sete, dizem respeito ao desafio de crer num mundo hostil à fé: “Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada?” (Rm 8,35b) Todas essas acusações são rejeitadas pelo Amor: “Em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou!” (Rm 8,37) A segunda série de adversidades é mais temível; sete no total, são as forças invisíveis que fizeram mais de um temer no tempo de São Paulo: “Nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes celestiais, nem o presente nem o futuro, nem as forças cósmicas, nem a altura, nem a profundeza, nem outra criatura qualquer” (Rm 8,38-39a). Por outro lado, mesmo essas forças invisíveis são impotentes diante do Amor: “Nada será capaz de nos separar do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,39b).
Concluindo, gostaria simplesmente de partilhar esta bela reflexão sobre o Amor, do século XII, de São Bernardo de Claraval: “O fruto do amor é o amor. Amo porque amo, amo para poder amar. Grande coisa é o amor, contanto que vá a seu princípio, volte à sua origem, mergulhe em sua fonte, sempre beba donde corre sem cessar. De todos os movimentos da alma, sentidos e afeições, o amor é o único com que pode a criatura, embora não condignamente, responder ao Criador e, por sua vez, dar-lhe outro tanto”.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 655. Mensagem Vocacional

RETIRO DOS CARMELITAS-2014: Um olhar-08.

RETIRO DOS CARMELITAS-2014: Um olhar-06.

RETIRO DOS CARMELITAS-2014: Um olhar-07.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

AS ÉPOCAS DO CORAÇÃO: A DINÂMICA ESPIRITUAL DA VIDA CARMELITANA. O amor obscuro de Deus.

AS ÉPOCAS DO CORAÇÃO: A DINÂMICA ESPIRITUAL DA VIDA CARMELITANA. O amor obscuro de Deus.
 Frei John Welch, O. Carm. Whitefriars Hall , Washington

Teresa de Ávila advertiu que as lutas dentro de nossos frágeis psiquismos são muito mais difíceis que as externas.  Teresa teve que vencer muitos obstáculos em sua reforma. Teve que lutar com os opositores, com a compra de casas adequadas para suas comunidades, contratar operários para reformá-las, arrecadar fundos para sua manutenção, recrutar membros para a comunidade, relacionar-se com vários eclesiásticos que não a apoiavam, viajar pelos difíceis caminhos da Espanha em más condições e enfrentar algum litígio com a corte.
Não obstante, ela comunicou que estas batalhas não se comparam com as batalhas enfrentadas em sua alma, enquanto ela se ocupava de suas profundidades na oração. “..Escutar  Sua voz dá mais trabalho que não escutá-la”.  Pode parecer que a reflexão de Teresa sobre o “entrar em si mesmo” seria como ir para casa; que as batalhas de fora são uma coisa, mas dentro da alma tudo é harmonia.  Entretanto, foi o contrário, pois ao entrar em seu interior, verificava que estava em guerra consigo mesma.
A oração lança luz sobre aspectos de nossa alma que anteriormente não tínhamos examinado.  As compulsões, os apegos, as maneiras não autênticas de viver, o falso eu, e os falsos deuses, tudo sai à luz enquanto a pessoa vai se afinando mais na verdade. Esta desagradável experiência pode conduzir ao medo, à debilidade do coração  e à tentação de abandonar o  itinerário  existencial. O chamado de Teresa à valentia e a determinação através de uma vida de oração não é demasiadamente dramática.  Aquilo de que a alma necessita, escreveu Teresa, é do conhecimento de si mesma. E a porta  desse conhecimento  de si mesma,  a porta  ao interior  do castelo,  é a oração  e a reflexão.
Sem um esforço orante, nos manteremos desesperançosamente fechados na periferia de nossas vidas perguntando aos outros e à criação  o que somente  Deus  pode nos dizer, isto é, quem somos.  Sem um verdadeiro centro que emerja de nossas vidas, viveremos com muitos “centros”, fragmentados e dispersos, pedindo a cada um deles que realize os desejos do nosso coração. O único antídoto contra a morte certa que decorre do apego aos ídolos, é a dolorosa batalha que supõe entrar em si mesmo  através da oração.
Os leitores modernos podem simpatizar com Teresa enquanto ela enumera as dificuldades de sua vida que são, ter sido elogiada demais, injustamente criticada, tendo além de tudo que sofrer as contradições de homens bons que pensavam que suas experiências de oração vinham do demônio e diariamente  tinha que enfrentar-se a sua saúde precária.
Porém sua experiência mais difícil surgiu justamente quando sua relação com o Senhor era mais íntima.  Ela começou a questionar todo seu itinerário existencial, perguntando se tudo não fora criado por sua imaginação, ou, se era de fato a presença de Deus em sua vida. Teria imaginado que Deus tinha sido bom com ela no passado?  Ela própria tinha sido boa no passado ou tinha imaginado isso? Em outras palavras, quando se esperaria que a amizade com Deus fosse base sólida, então surgiram às dúvidas.  Há alguém em casa, no centro? Tendo entregado sua vida e sua melhor energia ao seguimento dessa “chama” , ela começou a perguntar-se se tudo era ilusão.
A pergunta também seria feita de outra maneira: O final será todo bom?  Tudo isso: a criação, o plano da salvação, o próprio Deus, é para nós?  Ou somos uma paixão inútil? O imenso desejo de nosso coração, a fome da alma, serão frustrados no final de tudo? Ou existe uma realidade, um amor do tamanho do nosso desejo? Todas estas perguntas estão no coração do peregrinar humano.

O tempo, a perseverança, e a graça de Deus, deram a Teresa a resposta às suas dúvidas. Mais tarde ela nos fala da ausência dessas dúvidas que lhe corroíam a alma, e da certeza de uma relação profunda, mas não preocupante com o Senhor.  Porém, ainda nessa condição que ela identifica com o “desponsório espiritual” diz que confia mais no sofrimento. Ainda nos momentos em que estava presa na periferia da vida, ela sabia   que o discípulo de Jesus  levaria a cruz e que através desta surgiria  a vida.  Ela não construía cruzes artificiais em sua vida, mas também não fugia das cruzes que a vida lhe apresentava. Ela tinha aprendido a confiar nesse, às vezes, obscuro amor de Deus.

A PALAVRA... Nº 654. Uma prece de agradecimento.

CANTANDO COM FREI PETRÔNIO: São Cristóvão.

RETIRO DOS CARMELITAS-2014: Um olhar-04.