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sábado, 26 de julho de 2014

OLHAR RETROSPECTIVA DA SEMANA. Nº 1.

ESPIRITUALIDADE CARMELITANA: Querer o que Deus quer

Frei John Welch, O. Carm. Whitefriars Hall , Washington

         O propósito da oração é conformar-se com a vontade Deus, escreveu Teresa de Ávila. A pessoa orante está cada vez mais em união com Deus e esta união se expressa no fato de a pessoa desejar mais e mais aquilo que Deus deseja.  Nós não nos fazemos mais fortes através da ascética, lutando para submeter nossa vontade à vontade de Deus.  Não, o amor de Deus nos convida à transformação de nosso desejo para que nós desejemos o que Deus deseja; queremos o que Deus quer, disse João, “Assim, o que tu queres que peça, peço, e o que não queres, não quero, inclusive  nem posso, nem me passa pelo pensamento querer.”
A divinização é a participação gradativa  no conhecimento e no amor de Deus.  O peregrino fica tão transformado que todo o seu modo de viver se converte em expressão da vontade de Deus.  Se podemos interpretar o que Jesus disse, que a vontade de Deus é o bem-estar  da humanidade, então a pessoa orante vive mais do que esse bem-estar. Em outras  palavras, a pessoa  transformada e divinizada vive de tal forma que coopera com o Reino de Deus presente e vindouro.
Estas pessoas são difíceis de se identificar. O Mestre Eickhart nos previne que uma pessoa que vive a partir do seu centro, vive na vontade de Deus.  Diz que enquanto outros jejuam, eles comem; enquanto outros estão em vigília, eles dormem; enquanto outros oram eles estão em silêncio.  Pois, qual é o propósito da vigília, da oração, do jejum senão o viver do  centro da alma que é Deus? É claro que ele está exagerando ao expressar sua compreensão,  já que nosso peregrinar nunca acaba deste lado da morte. O que ele quer expressar é a absoluta humanização da pessoa transformada.
Teresa nos disse que estas pessoas não estão continuamente conscientes de sua vida espiritual.  A interioridade se converte cada vez menos num ponto de enfoque. Nem Deus lhes preocupa, porque o modo como vivem expressa sua relação com Deus. A meta nunca foi chegar a ser um contemplativo, ou um santo, ou ter uma vida espiritual. A meta sempre foi querer o que Deus quer numa consonância de desejo.
Na conclusão da Regra Carmelitana, Alberto, Patriarca de Jerusalém e o legislador escrevem: “É isto que, com brevidade, lhes escrevemos determinando a forma de conduta, segundo a qual vocês deverão viver. Se alguém fizer mais do que o prescrito, o Senhor mesmo lhe retribuirá quando voltar.” Kees Waaijman do Instituto Tito Brandsma de Nimega vê nesta afirmação  uma clara alusão à passagem do Bom Samaritano.  O Carmelita assume o papel do hospedeiro. Seus planos e a ordem de sua casa se vêm alterados quando um forasteiro traz um homem machucado para que cuide dele. O forasteiro pede ao hospedeiro que cuide daquele homem machucado e se gastar algo mais, isto é , se fizer mais, o forasteiro na volta o pagará.
O forasteiro, Cristo, pede ao Carmelita que cuide de sua gente durante sua ausência. Ainda que o hóspede não seja esperado e a ordem da casa fique alterada, o hospedeiro obedientemente se ocupa do homem ferido, talvez sem envolver-se emocional ou pessoalmente, e com pouca satisfação. Kees conclui que toda entrega autêntica é essencialmente obscura.  A presença que se encontra no profundo do coração do Carmelita é uma noite que guia, uma chama que cura, uma ausência reveladora.
Os frades não tem necessidade de desculpar-se por não ser autênticos carmelitas. Nossa espiritualidade não é de um ascetismo heroico, mas do amor de Deus que conquista  e toca cada coração e o faz adoecer, de outro modo não estaríamos aqui.


Assumindo que no cume do Monte Carmelo nos sentimos em casa, quer dizer, nos braços de Deus, e ao mesmo tempo sempre necessitamos de sua misericórdia, nosso ministério é fazer acessível a tradição do Carmelo para ajudar a nossos irmãos e irmãs a ver e ouvir a presença de Deus em sua vidas.
Para manter viva esta chama nos outros, pareceria correto que primeiro nós a tivéssemos acolhido em nossas vidas. Se escutarmos nossos corações, conheceremos os corações das pessoas com as quais trabalhamos e assim as serviremos melhor. Tiremos a poeira de qualquer vocação carmelita e ali  encontraremos uma brasa esperando tornar-se  uma chama, uma chama que deseja a totalidade, a paz, a segurança, o gozo, a unidade e que  encontra sua melhor expressão  no serviço aos irmãos  e irmãs.  Para isso viemos.  Para isso estamos aqui.

Resumo     
“Entrar no Carmelo” não é simplesmente entrar em um edifício, unir-se a uma comunidade, e assumir um ministério, seja este contemplativo ou apostólico.  Pode ser isso certamente, porém, “entrar ao Carmelo” é também entrar em um drama que se realiza no profundo de cada vida humana. O drama do encontro de espírito humano com o espírito de Deus é essencialmente inefável.
Os carmelitas são exploradores do lugar secreto onde Deus habita, esse lugar do espírito humano onde o Mistério se dirige ao espírito. O Carmelo honra essa primeira e privilegiada relação entre criatura e Criador. Os místicos carmelitas tem usado as imagens dos desposórios  e, com frequência, a história de amor do Cântico dos Cânticos  para captar a intimidade do encontro.  A paisagem dos Cânticos começa a dar forma à “terra do Carmelo”
O propósito da oração é a conformidade com a vontade de Deus, nos disse Teresa de Ávila. Nesta relação os desejos do peregrino são transformados de tal maneira que cada vez mais o cristão expressa em sua vida aqueles desejos que estão conformes com os desejos de Deus. Se dissermos que a meta do amor de Deus é o bem-estar da humanidade, então o cristão transformado vive de uma maneira que naturalmente coopera com o Reino de Deus.

Perguntas para reflexão:  
1-Quem são as pessoas verdadeiramente santas na minha experiência?  Como são?
2-Entendo a vida espiritual como um crescimento heroico, ou como um despertar para um amor que brota do centro do meu ser?
3-Estou disposto a confiar, de um modo prático, que o amor de Deus é gratuito, impossível de ser conquistado? Existem maneira sutis em que tento assegurar meu valor?

4-“Descanse, tudo já foi feito”, disse um teólogo da graça. O que pode significar esta frase?

17º- DOMINGO DO TEMPO COMUM. ANO- A

       A liturgia deste domingo convida-nos a refletir nas nossas prioridades, nos valores sobre os quais fundamentamos a nossa existência. Sugere, especialmente, que o cristão deve construir a sua vida sobre os valores propostos por Jesus.
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de Salomão, rei de Israel. Ele é o protótipo do homem “sábio”, que consegue perceber e escolher o que é importante e que não se deixa seduzir e alienar por valores efémeros.
No Evangelho, recorrendo à linguagem das parábolas, Jesus recomenda aos seus seguidores que façam do Reino de Deus a sua prioridade fundamental. Todos os outros valores e interesses devem passar para segundo plano, face a esse “tesouro” supremo que é o Reino.
A segunda leitura convida-nos a seguir o caminho e a proposta de Jesus. Esse é o valor mais alto, que deve sobrepor-se a todos os outros valores e propostas.

ATUALIZAÇÃO (EVANGELHO – Mt 13,44-52)

Ter em conta, na reflexão, os seguintes elementos.

A primeira e mais importante questão abordada neste texto é a das nossas prioridades. Para Mateus, não há qualquer dúvida: ser cristão é ter como prioridade, como objectivo mais importante, como valor fundamental, o Reino. O cristão vive no meio do mundo e é todos os dias desafiado pelos esquemas e valores do mundo; mas não pode deixar que a procura dos bens seja o objetivo número um da sua vida, pois o Reino é partilha. O cristão está permanentemente mergulhado num ambiente em que a força e o poder aparecem como o grande ideal; mas ele não pode deixar que o poder seja o seu objetivo fundamental, porque o Reino é serviço. O cristão é todos os dias convencido de que o êxito profissional, a fama a qualquer preço são condições essenciais para triunfar e para deixar a sua marca na história; mas ele não pode deixar-se seduzir por esses esquemas, pois a realidade do Reino vive-se na humildade e na simplicidade. O cristão faz a sua caminhada num mundo que exalta o orgulho, a auto-suficiência, a independência; mas ele já aprendeu, com Jesus, que o Reino é perdão, tolerância, encontro, fraternidade… O que é que comanda a minha vida? Quais são os valores pelos quais eu sou capaz de deixar tudo? Que significado têm as propostas de Jesus na minha escala de valores?
A decisão pelo Reino, uma vez tomada, não admite tibiezas, hesitações, jogos duplos. Escolher o Reino não é agradar a Deus e ao diabo, pactuar com realidades que mutuamente se excluem; mas é optar radicalmente por Deus e pelos valores do Evangelho. A minha opção pelo Reino é uma opção radical, sincera, que não pactua com desvios, com compromissos a “meio gás”, com hipocrisias e incoerências?
Porque é que os cristãos apresentam, tantas vezes, um ar amargurado, sofredor, desolado? Quando a tristeza nos tolda a vista e nos impede de sorrir, quando apresentamos semblantes carrancudos e preocupados, quando deixamos transparecer em gestos e em palavras a agitação e o desassossego, quando olhamos para o mundo com os óculos do pessimismo e do desespero, quando só nos deixamos impressionar pelo mal que acontece à nossa volta, já teremos descoberto esse valor fundamental – o Reino – que é paz, esperança, serenidade, alegria, harmonia?
Mais uma vez o Evangelho convida-nos a admirar (e a absorver) os métodos de Deus, que não tem pressa nenhuma em condenar e destruir, mas dá tempo ao homem – todo o tempo do mundo – para amadurecer as suas opções e fazer as suas opções. Sabemos respeitar, com esta tolerância e liberdade, o ritmo de crescimento e de amadurecimento dos irmãos que nos rodeiam?

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 651. Evangelho Dominical.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 650. São Cristóvão.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

O amigo secreto de Francisco em Caserta

Não é católico, mas pentecostal. Faz parte dessas comunidades cristãs que se expandem deforma assombrosa no mundo. O Papa está se encontrando com seus líderes de forma gradual. De rivais quer fazê-los amigos, a ponto de pedir-lhes perdão. A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio Chiesa.it, 23-07-2014. A tradução é de André Langer. Fonte: http://bit.ly/WGmmJK
Quando foi dada a notícia, confirmada pelo padre Federico Lombardi, de que o Papa Francisco tentava ir de forma privada a Caserta para encontrar um amigo seu, pastor de uma comunidade evangélica local, o bispo da cidade, Giovanni D’Alise, se surpreendeu. Não sabia de nada.
Além disso, o Papa havia programado esta visita relâmpago a Caserta justamente no dia da festa de Santa Ana, padroeira da cidade. Ao se verem marginalizados, houve entre os fiéis uma ameaça de sublevação. Foi necessária uma boa semana para convencer o Papa a mudar o programa e que desdobraria a viagem em duas partes: a primeira, no sábado, 26 de julho, de forma pública para os fiéis de Caserta, e a segunda, de forma privada, na segunda-feira seguinte, para o amigo evangélico.
Foram meses nos quais Jorge Mario Bergoglio havia programado encontrar-se com esse amigo. Já em 15 de janeiro havia feito alusão a esse propósito na presença de um grupo de fiéis de Caserta, depois de uma audiência geral na Praça São Pedro. Voltou a falar disso em 19 de junho, durante um encontro, em Roma, com alguns pastores evangélicos, entre os quais estava o amigo de Caserta, Giovanni Traettino, a quem conheceu em 2006 em Buenos Aires, por ocasião de um debate com o então arcebispo da capital argentina.
Na realidade, o encontro de Caserta com o pastor Traettino não é um episódio isolado, mas faz parte de um esforço de mais longo alcance que o Papa Francisco está fazendo para atrair as simpatias dos líderes mundiais desses movimentos “evangélicos” e pentecostais que, sobretudo na América Latina, são o mais temível concorrente da Igreja católica, da qual arrancam enormes massas de fiéis.
Os cristãos “evangélicos” e pentecostais, surgidos um século atrás no mundo protestante, se expandiram de forma espetacular. Calcula-se que hoje sejam quase um terço dos quase dois milhões de cristãos presentes no mundo e três quartos dos protestantes. Mas são encontrados também dentro da Igreja católica. Em 01 de junho passado, o Papa Francisco encontrou-se no Estádio Olímpico de Roma com 50.000 membros da Renovação no Espírito, que na Itália é a maior organização carismática católica.
Três dias depois, 04 de junho, o Papa encontrou-se durante várias horas, na residência de Santa Marta, com alguns líderes “evangélicos” dos Estados Unidos, entre os quais estavam o célebre tele-evangelista Joel Osteen, o pastor californiano Tim Timmons e o presidente do Evangelical Westmont College, Gayle D. Beege.
No dia 24 de junho houve outro encontro. Desta vez com os tele-evangelistas do Texas, James Robinson e Kenneth Copeland, com o bispo Anthony Palmer, da Comunhão das Igrejas Episcopais Evangélicas, com o casal John e Carol Arnott, de Turim, e outros destacados líderes religiosos. Estiveram presentes também Geoff Tunnicliffe e Brien C. Stiller, respectivamente secretário-geral e “embaixador” da Aliança Evangélica Mundial. O encontro durou três horas e prosseguiu durante o almoço, no refeitório de Santa Marta, onde o Papa, entre grandes gargalhadas, bateu sua mão aberta na do pastor Robinson. (foto)
Copeland e Osteen são defensores da “teologia da prosperidade”, segundo a qual quanto mais cresce a fé mais cresce a riqueza. Eles mesmos são muito ricos e levam um estilo de vida muito dispendioso. Mas Francisco lhes economizou uma pregação sobre o tema da pobreza.
Em vez disso – de acordo com a informação do “embaixador” Stiller –, o Papa lhes declarou: “Não estou interessado em converter os ‘evangélicos’ ao catolicismo. Em muitos pontos doutrinais não estamos de acordo. Basta mostrar o amor de Jesus”.
Mas também lhes disse que aprendeu da sua amizade com o pastor Traettino que a Igreja católica, com sua imponente presença, obstaculiza muito o crescimento e o testemunho destas comunidades. E que também por esse motivo havia pensado em visitar a comunidade pentecostal de Caserta “para desculpar-se pelas dificuldades provocadas à comunidade”.
Durante os pontificados de João Paulo II e mais ainda de Bento XVI, os “evangélicos” estadunidenses, em geral mais conservadores, haviam atenuado sua tradicional postura antipapal e encontraram momentos de encontro com a Igreja católica na luta comum pela defesa da liberdade religiosa, da vida e da família.
Em seus colóquios das semanas passadas, o Papa Francisco não se deteve sobre estes temas.
Mas, em março passado, o Papa encontrou-se brevemente, em Roma, com a religiosíssima família “evangélica” Green, proprietária da empresa Hobby Lobby. A Suprema Corte dos Estados Unidos deu ganho de causa, no final do mês de junho, a uma ação judicial contra a lei impulsionada por Barack Obama que obrigava as empresas a incluir no seguro médico dos empregados a cobertura por tratamentos anticoncepcionais e abortivos.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Um olhar sobre a vida religiosa: Os Conselhos Evangélicos ou votos.

 Introdução
Os conselhos evangélicos que um religioso professa devem ser compreendidos num determinado contexto. Os votos são uma realidade vivida. São valores evangélicos proclamados publicamente na Igreja por homens e mulheres. Precisamos compreendê-los menos como um ideal, ou um estado de perfeição para o qual trabalhamos, do que como um contexto ou uma condição para seguir Jesus Cristo hoje. Eles apontam para o futuro, para o eskáton. No entanto, eles também são um modo de viver e testemunhar hoje a presença misericordiosa de Deus no mundo. Depois destes esclarecimentos, refletiremos sobre os votos a partir de três princípios básicos ou contextuais.
Em primeiro lugar, a reflexão teológica para nossa discussão sobre os votos é a encarnação de Jesus Cristo. Uma teologia pré-Vaticano II enfocava a natureza escatológica dos votos, dando uma ênfase ao relacionamento espiritual com Cristo e com o mundo. Este conceito de vida religiosa como um estado de perfeição baseava sua teologia na interpretação da história do jovem rico (Mt 19,16-22), enfatizando a ideia de dois caminhos. O melhor caminho é aquele dos conselhos evangélicos oferecidos a algumas almas escolhidas com a pretensa superioridade do estado religioso definido mais tarde como o estado da perfeição. Por outro lado, uma teologia inserida vê Jesus Cristo como a encarnação do amor de Deus por nós. A realidade histórica de Jesus, e a entrada de Deus na história humana através dele, mudou a forma de experimentarmos Deus. Por ter sido agraciada por Deus em Jesus, a experiência humana é o principal veículo para a experiência do amor de Deus. Então, no contexto dos votos, devemos encará-los como um meio específico de viver a vida cristã e carmelitana hoje, sem considerá-los exclusivamente como uma como uma escolha privilegiada.
Em segundo lugar, a contribuição carmelitana para nossa discussão dos votos é a Regra de Santo Alberto. Em resposta ao Espírito Santo os primeiros carmelitas desenvolveram um modo de vida no seguimento de Jesus Cristo.   Embora os votos na Regra sejam apenas mencionados mas não explorados explicitamente, os elementos fundamentais do carisma carmelitano expressos na Regra são o contexto no qual somos chamados a viver os votos. A busca pela face de Deus   no contexto da vida comunitária   e no serviço ao povo de Deus   é o local e o processo para vivermos os conselhos evangélicos.
Este carisma é uma expressão do chamado evangélico à constante conversão em nossos relacionamentos com Deus. Ele é uma expressão do que significa seguir Jesus. Então, os três votos tornam-se uma outra maneira de ajudar nesta experiência contínua de conversão. Uma vida de oração, vivida em comunidade e no serviço aos outros, torna-se o contexto para a vivência dos votos como religiosos. Os votos, vividos no contexto carmelitano, deveriam nos ajudar no processo que “nos transforma na existência amorosa de Deus”.
Finalmente, o terceiro ponto para nossa discussão dos votos é o contexto cultural que cada um de nós leva para a vivência dos votos. O desafio para cada um de nós é viver os votos em nosso próprio contexto. Em outras palavras, o cenário histórico e cultural de cada carmelita é um sacramento para nós.

História
A história dos votos religiosos nos mostra uma evolução na vida da igreja. Ao longo da história da Igreja, a forma e o conteúdo dos votos mudam de acordo com as necessidades e expectativas da comunidade cristã. Em outras palavras, a vida religiosa nem sempre foi identificada com os três conselhos evangélicos, tais como os conhecemos hoje.
Os primeiros eremitas e cenobitas não faziam uma profissão religiosa formal. Enquanto a castidade, que possuía uma ênfase mais unitiva e mística, era a virtude característica das mulheres que faziam votos ao serviço de Deus na Igreja, a virtude que caracterizava a vida monástica era a obediência, que possuía uma ênfase mais ascética. Um monge, por exemplo, ia para o deserto e colocava-se sob a obediência de um pai espiritual. Este pai espiritual o guiaria em sua jornada espiritual e no desenvolvimento das outras virtudes evangélicas, incluindo, é claro, a castidade e a pobreza.
Enquanto o estilo de vida cenobítico crescia, reunindo várias pessoas vivendo juntas em comunidade, a obediência se tornou um meio de organizar e harmonizar a comunidade. É difícil determinar quando o compromisso de obediência entrou na vida monástica, mas nos primeiros anos do século VI, o abade não era visto simplesmente como o guia espiritual, mas como aquele que está no lugar de Cristo, dirigindo a família monástica de fé.
Com a Regra de São Bento foram introduzidas outras promessas. Bento exigiu que o monge professasse a estabilidade, a mudança de vida e a obediência.   Ele menciona a castidade apenas uma vez como um dos setenta e dois Instrumentos das Obras de Caridade no capítulo quatro de sua Regra. Caso o monge ainda não tivesse renunciado à sua propriedade antes de entrar para o mosteiro, ele deveria doá-la ao mosteiro “não retendo nada para si, sabendo com isso que, deste dia em diante, não seria dono nem de seu próprio corpo”.
Durante as Reformas Carolíngias, entre o fim do século VIII e início do século IX, a Regra de São Bento tornou-se a regra normativa para os monges na Igreja ocidental. Assim a profissão da obediência, da mudança de vida e da estabilidade eram os votos religiosos padrões. Durante os séculos que se seguiram a Bento, especialmente do século VIII até o século XI, muitas das abadias cresceram e se tornaram estabelecimentos muito prósperos.
Enquanto a Regra Beneditina tornava-se universal entre os mosteiros da Europa ocidental ao longo do século IX, surgiu uma forma alternativa de vida religiosa que buscava inspiração em outro lugar. Um número significativo de monges e cônegos, seguindo a Regra Agostiniana, que se desenvolveu no início do século XI, optaram por ser eremitas orantes e um número de mosteiros começou a se reformar e a se voltar para um estilo de vida mais simples. O século XII foi um período de revolução econômica na qual a base da riqueza mudou do capitalismo feudal para o capitalismo comercial. Enquanto as cidades se revitalizavam através da expansão do comércio, ocorreu uma revolução social. A riqueza e o poder na sociedade passaram da nobreza rural para os comerciantes urbanos.
Esta revolução econômica gerou um tremendo sentimento de ansiedade moral, na medida em que as pessoas viam a ordem estabelecida sucumbir e ser substituída. Nesta tensão, surgiram muitos movimentos que glorificavam a pobreza evangélica. Os valdenses, os umiliati e, finalmente, os franciscanos tentaram responder a esse momento, especialmente este último grupo. Nasceu assim o movimento mendicante: uma proposta radical de viver o evangelho.
A Regra que Alberto de Jerusalém deu aos primeiros carmelitas exigia que os eremitas professassem apenas a obediência.   Nesta ocasião a autoridade era vista cada vez mais como algo adquirido pelos cidadãos que escolhiam seus líderes para governar, a partir de um consenso entre o povo. Esta mudança social se refletia num novo estilo de liderança fraterna nas comunidades religiosas deste período. As novas comunidades rejeitaram o governo abacial em favor dos priores que governavam suas comunidades com o consentimento do capítulo. A obediência determinada na Regra Carmelitana refletiu este novo espírito.
 O chamado para um único voto na Regra não sobreviveu à mitigação de 1247 de Inocêncio IV. Uma das modificações era expressar diretamente que os carmelitas professam “obediência – que, ao prometer, o carmelita deve tentar fazer de seu ato uma verdadeira reflexão – e também a castidade e a renúncia da propriedade”.   É interessante observar que a fórmula de profissão não foi mudada para mencionar a castidade e a renúncia da propriedade até as Constituições de John Soreth em 1462.
A razão precisa para esta mudança, que afetou todos os mendicantes, não está clara. Obviamente os frades não poderiam assumir os votos monásticos, já que a estabilidade era contrária à visão de Francisco, que queria que seus frades pregassem o evangelho de cidade em cidade. De fato, para Francisco o que substituía a estabilidade era a pobreza. Enquanto a Igreja do tempo de Bento necessitava de monges que respondessem a um pai espiritual confiável, a Igreja no tempo de Francisco necessitava de religiosos que possuíssem aquela santidade testemunhada pela pobreza. A pobreza dos valdenses (um grupo de radicais seguidores do evangelho) e a pobreza e a castidade reconhecidamente rigorosa dos cátaros (um grupo radical no movimento de vita apostolica) exigia que estas virtudes fossem intensamente vividas pelos frades. Portanto, faz sentido que a Igreja tenha ligado estas duas virtudes à obediência, apresentando-as como as qualidades essenciais da vida religiosa no começo do século XIII.
Quanto ao voto de pobreza, originalmente os mendicantes queriam um novo estilo de pobreza. Não significava simplesmente que o indivíduo não tinha qualquer bem pessoal, mas também obrigava a própria comunidade à pobreza. As ricas abadias não eram mais o ideal. Os dominicanos e os franciscanos tinham visões ligeiramente diferentes a respeito desta pobreza comum. Embora nenhum dos dois possuísse propriedades de produção de renda, os dominicanos tiveram a permissão de possuir conventos com as plantações que forneciam alimento para sua mesa, ao passo que os franciscanos não possuíam nem o título de suas casas. Gregório IX impôs um estilo de pobreza franciscana aos carmelitas em sua Bula de 1229. “... proibimos estritamente de qualquer forma que vocês aceitem ou ousem manter como sua propriedade tanto suas ermidas ou bens ou casas ou outra renda...”
Já que Gregório IX foi um admirador e confidente de Francisco, era natural para ele impor o ideal de Francisco como o modelo a partir do qual os outros religiosos deveriam se confrontar. No entanto, tal idealismo não resistiu ao século. Na verdade, nas últimas décadas do século XIII as comunidades carmelitanas não apenas possuíam seus conventos e hortas, mas também propriedades com produção de renda, tais como casas particulares, vinhas, lojas, fazendas e igrejas paroquiais.

Assim, os votos têm sido uma realidade que evoluiu na vida religiosa. A forma tríplice tem se mantido em vigor desde o século XIII. Contudo, está claro que seu papel na vida religiosa e o significado dos votos particulares mudou através de toda história da vida religiosa. Então, é importante perceber que como símbolos de um compromisso interior eles querem ser uma personificação de um valor evangélico vivido num determinado momento histórico. Eles precisam falar com renovado vigor em cada situação nova que os religiosos e suas comunidades enfrentam. A história nos ensina que apenas as coisas que estão abertas para um renovador significado e para uma compreensão nova, sobrevivem de uma geração à outra e continuam a contribuir para a vida do corpo de Cristo.

domingo, 20 de julho de 2014

O PROFETA ELIAS: Apontamentos espirituais de Dom Frei Vital Wilderink, Im Memoriam.

Frei Martinho Cortez, O.Carm
 (De uma meditação de Dom Vital Wilderink sobre 1 RS 19, 1-21, em dia de recolhimento, Capítulo Geral de 1995)

"É VIVO O DEUS EM CUJA PRESENÇA EXISTO" (1RS)
"ARDO-ME DE ZELO PELAS COISAS DO DEUS SENHOR DE TUDO" (1RS)

I-Acima, duas frases que descrevem o ser e o fazer do profeta Elias: homem de contemplação e de ação; e de ação porque de contemplação.
Os carmelitas vêem nele seu PAI E FUNDADOR, assegurando-se uma identidade necessária. Não ter pai é problema; reclamavam os samaritanos com Jesus, reclamam os meninos de rua hoje. Quem não tem pai é gente sem origem, sem originalidade, sem garantia, sem alguém que por ele (ela) responda. Razão do nomadismo, da insegurança e mesmo da desesperança! Ter pai é como a uma nau ter a segurança de uma âncora. Pai é sinônimo de vínculo, herança, garantia. Jesus fez o maior bem para o homem, por lhe ter restituído O PAI (cf episódio da samaritana).

II- Elias é um verdadeiro ITINERÁRIO DE VIDA: experiências de deserto, oração, ação/contemplação (teor tensionante), história/escatologia (idem). A palavra a Elias - "RESTA-TE UM LONGO CAMINHO" - é para todo carmelita também. Herdamos a audácia da encarnação e a segurança da memória, para superar as angústias da caminhada.
III- O ponto de partida de 1RS 19, 1-21, é o desânimo, a vontade de fugir, a perda de sentido da vida. De PROFETA o homem passa a simples FRAGILIDADE. Revelam-se para ele suas fraquezas: presunção, medo, ameaças, abandono da fé, censura do poder, perseguição. Nesse momento, sente a necessidade de mudança, de CONVERSÃO. Como carmelitas, somos chamados à IDENTIFICAÇÃO COM O PROFETA ELIAS, para podermos continuar: a VIAGEM é a marca dele e será a nossa. Uma viagem não só geográfica, mas vital, que exige conversão interior provocada pela história (exterior). É aqui que acontece a GRAÇA e Deus se revela em nossa fraqueza.
IV- Intervenção do anjo de Deus, mandando DEIXAR, RENUNCIAR, ESVAZIAR-SE ("vacare Deo"). Fase da purificação, para entender que não é super-homem. Na verdade, a PROFECIA é uma intuição profunda em meio aos defeitos, às limitações. É-se convidado a destruir as aparências de força, as defesas de poder. Como diz Paulo: precisamos carregar em nosso corpo a MORTE DE CRISTO. Inicia-se assim a caminhada para a montanha de Deus: amadurecendo as relações com o próprio Deus. Este será sempre um MISTÉRIO, uma NOVIDADE. Converter-se é também MUDAR DE PSICOLOGIA: o homem se relaciona com Deus, SE entender que isso é Deus relacionando-se com o homem (J.da Cruz). SER HOMEM DE RELACIONAMENTO COM DEUS é a vocação do Carmelo, para EM SI MESMO mostrar ao homem o rosto de Deus, na maturidade de relacionamento com Deus. O Deus revelado no Carmelo vem de um voltar-se PARA DENTRO (interioridade) e de um voltar-se PARA FORA (fraternidade).
V- Longo caminho NO DESERTO. Noite escura. Luz no final do túnel (escatologia). Tensão "Mundo Presente><Mundo Futuro", para a qual é preciso SENSIBILIDADE. Reconstruir sempre a História, a Si Mesmo e ao Povo. Caminho de ESCONDIMENTO de Deus, obscuridade, presença certa do AMOR ETERNO. Descoberta do NOVO (brisa mansa). Volta ao entusiasmo e ao trabalho (ação profética).

VI- O passo final é VER A VERDADE. Que não se é o único. Que existe muita gente fiel. Que Deus sempre é defensor e PRESENÇA. Que se é simples SEMENTE. É o ponto de chegada: Deus sempre presente faz ver que há fiéis entre cristãos, não-cristãos, homens de boa vontade. No retorno para a ação profética, Elias de ontem e de hoje, ao enxergar-se mais verdadeiro, redescobre a missão, adquire maturidade, gera filhos. Como, no Evangelho, Jesus leva o homem a descobrir-se NA SITUAÇÃO EM QUE VIVE (ambiente real), superando o orgulho, a auto-suficiência, a idéia de poder. Talvez, por isso, a nossa tarefa carmelitana seja a de ILUMINAR O CAMINHO QUE O PRÓPRIO HOMEM LIVREMENTE DEVE ESCOLHER.

20 de julho- Santo Elias, Pai e inspirador da Ordem do Carmo: Culto a Elias.

*Tradução de Dom Frei Wilmar Santin, O. Carm.

Não há dúvida quanto a antiguidade do culto tributado a Elias nas Igrejas orientais. Os cristãos, que visitavam a Terra Santa, paravam para rezar nos lugares que evocavam os santos do AT. O Iter Burdigalense recorda como lugares elianos: o Monte Carmelo, a montanha da Transfiguração e a colina de onde Elias foi arrebatado ao céu (B. Botte, Le culte du prophète Élie dans l'Église chrétienne, em Élie, I, p. 210). O santuário mais conhecido é o de Sarepta. São Jerônimo, ao narrar a viagem de Paula, a apresenta entrando para rezar na pequena torre da viúva de Sarepta (Ep. 108, 18, em PL, XXIV, col. 882). Elias é venerado também como taumaturgo por ter ressuscitado o filho da viúva.
Um outro santuário é indicado por Etéria (fim do séc. IV) situado sobre o Horeb. O culto a Elias, como o de outros santos do AT, não tardou em ultrapassar os confins da Palestina. A epigrafia nos permite verificar sua irradiação. Assim, por exemplo, na província da Arábia as inscrições atestam que Elias é o santo mais popular do Ledgaa (cf. Devreesse, Le christianisme dans la providence d'Arabie, em Revue Biblique, LI [1942], p. 110-46). Na Síria uma inscrição atesta de que os habitantes de Ezra construíram às suas custas uma igreja dedicada a Elias, no ano 542.
Em Bizâncio uma tradição atribui a fundação de um santuário de Elias às legiões do imperador Zenão, depois de sua campanha da Pérsia, como ação de graças por uma aparição do profeta ao exército. No Petrion de Constantinopla se celebrava sua festa dia 20 de julho (Synax. Constantinop., col. 832). E na mesma data as Igrejas sírias celebram a memória do Santo, desde o século XV. Entre os Maronitas esta data figura somente a partir de 1673.
Antigamente a festa de Elias era geralmente ligada às festas que celebravam as manifestações de Cristo ao mundo, mais precisamente a Circuncisão, que a Igreja Jacobita do Egito celebrava dia 1º de janeiro, era acompanhada de uma ampla memória de Elias. O mesmo ocorria no dia 6 [de agosto], solenidade da Transfiguração, em que Elias aparece junto com Moisés. Às vezes a lembrança de Elias se repetia no dia seguinte, como entre os Melquitas (PO, X, p. 310).
Os Nestorianos e os Jacobitas celebravam também esta solenidade no dia 2 de outubro, mês consagrado a Moisés e considerado como o primeiro do ano. O mês de setembro, portanto, encerrava o ciclo e representava o final do ciclo anual. Elias, o precursor prometido, para preparar o triunfo final do Messias, é especialmente recordado nos seis domingos sucessivos, que vão de 6 de agosto a 14 de setembro. Antigamente, nas Igrejas sírias se celebrava a festa de Elias com o nome de "Migração" (Forget, SA, p. 192).
Também na Igreja Oriental Ortodoxa a festa de Elias é celebrada no dia 20 de julho, precedida de uma vigília, na qual a memória de Elias esteve durante muito tempo associada ao culto ao Profeta Eliseu, que é honrado separadamente em 14 de junho.
Em Constantinopla prosperou igualmente a devoção a Elias. Basílio o Macedônio (séc. IX), além de restaurar o antigo santuário do Petrion, construiu uma igreja dedicada ao nome do Salvador, de São Miguel e de Santo Elias, uma outra em honra de Santo Elias no bairro de Mangani (cf. F. Halkin, Inscriptions Grecques relatives à l'Hagiographie, em Anal. Boll., LXXI [1935], p. 326-58), e enfim uma capela em seu próprio palácio (cf. PG, CIX, cols. 336, 354). Constantino Profirogênito (ibid., col. 237) explica esta devoção do imperador para com Elias como motivada por uma aparição do profeta à mãe do imperador, em que lhe predisse o destino imperial de seu filho. O Sinassario Constantinopolitano (col. 230) marca ainda no dia 13 de janeiro a dedicação de uma igreja em honra do profeta no monastério de Batyriax.
O Oriente bizantino permaneceu fiel a esta tradição. Em 1918, numa espécie de estatística das igrejas da Grécia, sobre um total de 4.637, encontramos 752 dedicadas à Santíssima Virgem, 196 a Santo Atanásio, 189 a São João Batista, 75 a Elias e 69 a São Jorge.
Sabe-se que na Igreja latina os santos do Antigo Testamento tiveram um culto muito limitado. A liturgia de Roma, que se difundiu muito cedo em todo o Ocidente, celebrava quase unicamente os mártires, aos quais se agregaram depois os bispos que haviam lutado pela ortodoxia da fé, sob o nome de confessores.
Apenas uma festa de santos do AT entrou na liturgia romana: a dos Macabeus, dia 1º de agosto, precisamente porque eram mártires. O culto de Elias começou no Ocidente, ao que tudo indica, em Auxerre (cf. Messes de Mone: B. Botte, Une fête du prophète Élie au VI siècle en Gaule, em Cahiers Sioniens, III [1950], p. 170-77), provavelmente na mesma data de 20 de julho: todo o Prefácio está dedicado a Elias. Porém é o único testemunho que existe anterior ao século XV. Por influência dos menológios bizantinos, os santos do AT começaram a figurar nos martirológios. Elias teve que esperar até a publicação da “editio princeps” do Martirológio Romano (1583). Os mesmos Carmelitas não lhe prestaram um culto senão muito tardiamente. O Ordinale carmelitano de Siberto de Beka, de 1312, não menciona sua festa. Esta aparece por primeira vez no Missal Carmelita de 1551. O Prefácio de Elias foi aprovado pela Sagrada Congregação de Ritos em 1919.
O culto ao Profeta não pertence, portanto, à liturgia romana, porém é próprio dos Carmelitas. Não parece que no Ocidente existam igrejas dedicadas a Elias, fora das que se encontram na Itália bizantina. Na concessão do novo “Próprio” dos Carmelitas, aprovado em 17 de abril de 1972, a Sagrada Congregação para o Culto Divino disse: “para dar realce ao Fundador ideal da Ordem [Carmelita], concede de bom grado que a festa de Santo Elias seja celebrada com o grau de solenidade”. Já se havia concedido aos Carmelitas Descalços no dia 20 de outubro de 1971 o grau de festa.
Francesco Spadafora

*(Título original: Elia Profeta, em Santi del Carmelo, Institutum Carmelitanum, Roma 1972, p. 136-153)