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sexta-feira, 3 de maio de 2013

BAURU/SP: Cidade excomungada ! ?


Tá todo mundo assanhado com a notícia da excomunhão do padre em Bauru. Mas Bauru entende de excomunhão...
Em 1913 , a cidade estava em plena expansão pois acabara de se tornar o maior entroncamento ferroviário do país, com a união dos trilhos da Estradas de Ferro Paulista, Sorocabana e Noroeste do Brasil. A cidade precisava ser urgentemente reurbanizada e um dos entraves era a antiga Capela do Espírito Santo que ficava na Praça Ruy Barboza e impedia que fosse aberta aquela que veio a se tornar uma das ruas mais importantes da cidade: a Batista de Carvalho.
O então prefeito entrou em contato com o Bispo responsável pela região, Don Lúcio Antunes de Souza, solicitando a mudança da capela de lugar, o que foi recusado pelas autoridades da igreja, criando um impasse. Diante do insucesso das conversações o prefeito decidiu partir para outro caminho: às escondidas, mandou que fossem feitas rachaduras nas paredes da capela, criando uma situação de ameaça à população. E numa noite, na surdina, uma equipe de demolição entrou na capela, retirou todos os santos e objetos sagrados e partiu para o desmanche. Na manhã seguinte os bauruenses acordaram perplexos com a notícia de que a capela não existia mais.
O Bispo, furioso, simplesmente excomungou o povo de Bauru!
Bauru passou a ser uma cidade excomungada até a revogação daquele ato 54 anos depois, em 1967, pelo Papa Paulo VI.
Em 1915 o Bispo, que era de Botucatu, visitou Bauru, o que gerou uma reação dos “livres pensadores de Bauru”que publicaram um anuncio no jornal, que meu pai, Luciano Pires, editor do jornal histórico Bauru Ilustrado, me enviou.
Leia o texto publicado 98 anos atrás (mantive a escrita original) e veja se você encontra alguma similaridade com os discursos que estamos vendo hoje:

AO POVO EXCOMUNGADO DE BAURU

Hoje, dia 23, o iracundo ministro D. Lúcio, que outro dia lançou sobre nós a impotente e ridícula excomunhão, virá a esta cidade a fim de inaugurar a nova estalagem, mas principalmente para exercer uma vergonhosa estorção em prejuízo da classe dos ingênuos que, ainda hoje, nesta época de esplendores científicos, continuam a permanecer nas trevas em que os arremessaram talvez para sempre, estes ministros pertencentes ao exército da seita religiosa. Disse a imprensa clerical de Bauru que o Bispo Diocesano será recebido festivamente. Não a provocante presença de um sujeito que nos insultou um dia, brutalmente, ajunta-se também o sarcasmo d’uma imprensa retrógrada e servil atirando jocosamente contra a maioria deste povo.
Mas D. Lúcio pode vir e não seremos nós, certamente a opor-nos a isto, pois aqui nunca se negou hospitalidade nem a empresários de circos de cavalinhos e de variedades, nem a companhias zoológicas e mesmo a toreada cuja bárbara forma de diversão teve começo nos tempos da S.S. Inquisição tem encontrado aqui o maior concurso. A D. Lúcio pois, não lhe pode faltar uma estrondosa manifestação. Em Bauru há fartura de beócios, e não faltam aqui jesuítas e padres de batina e de casaca, nem hipócritas interessados em difundirem e cultivar o obscurantismo e a ignorância nas massas incultas, para melhor exercerem a sua exploração criminosa. Que vão estes a fazer a anunciada recepção festiva ao príncipe da igreja, mas o povo que não teme a excomunhão, como não teme a luz fascinadora do progresso, o povo ativo e honesto não irá não só, mas leva desde já alto e solene o seu protesto da vinda a n’esta cidade do representante desta religião que é o ódio semeado ao seio da humanidade, o servilismo resignado de milhões de escravos; é a ferocia arrogante dos papas e dos padres, é o triunfo d’uma moral perversa, moral que gera a resignação que rompe os esforços poderosos da energia dos povos, perpetuando o despotismo e a esploração do homem sobre o homem.

Bauru, 23 de Dezembro de 1915

O que Francisco pensa sobre negar a Comunhão?


Artigo de Thomas Reese
Como o Papa Francisco se posiciona diante de uma prática controversa: negar a comunhão aos católicos? O problema, em suma, são os católicos "fingidos".
A reflexão é do jesuíta norte-americano Thomas J. Reese, ex-editor-chefe da revista America, dos jesuítas dos EUA, de 1998 a 2005, e autor de O Vaticano por dentro (Ed. Edusc, 1998). O artigo foi publicado no sítio National Catholic Reporter, 30-04-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.
Quando o cardeal Joseph Ratzinger foi eleito papa, havia muito pouco que nós não sabíamos sobre os seus pontos de vista sobre teologia e práticas eclesiais. Ele era um teólogo prolificamente publicado e era, no momento da sua eleição, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, onde as suas ações eram bem noticiadas.
A eleição do cardeal Jorge Bergoglio, SJ, por outro lado, colocou no papado um arcebispo latino-americano pouco publicado e de baixo perfil que foi uma surpresa e um mistério para a maioria das pessoas na Igreja. Até agora, o seu estilo pastoral simples tem recebido críticas quase universalmente positivas.
Nas próximas semanas, eu vou tentar ir mais fundo na mente do Papa Francisco, examinando os escritos, entrevistas e homilias limitados que estão disponíveis. Embora esse material vai nos ajudar a compreender o Papa Francisco, ele pode, é claro, modificar os seus pontos de vista no futuro.
Em um artigo anterior, eu examinei os seus pontos de vista sobre o celibato opcional. Aqui vou olhar para outra prática controversa: negar a comunhão aos católicos.
Em Sobre o Céu e a Terra (Companhia das Letras, 2013), o livro do qual ele foi coautor com o rabino Abraham Skorka, o cardeal Bergoglio escreveu: "Pode-se negar a comunhão a um pecador público que não se arrependeu, mas é muito difícil comprovar essas coisas".
Pode-se notar que ele disse "pode-se" e não "deve-se". E, como um pastor experiente, ele ressaltou a dificuldade de comprovar se uma pessoa é "um pecador público que não se arrependeu". Muitos bispos norte-americanos, como os cardeais Francis George e Donald Wuerl, tomaram posições semelhantes.
Ao mesmo tempo, Bergoglio disse que seria errado receber a comunhão por parte de alguém que, "mais do que unir o povo de Deus, distorceu a vida de muitíssimas pessoas". Tal pessoa "não pode comungar, seria uma contradição total".
No livro, a questão da comunhão surge não no contexto do aborto, mas da injustiça. Ele se refere ao "que não só matou intelectual ou fisicamente, mas também matou indiretamente pelo mau uso dos capitais, pagando salários injustos". Ele os chama de hipócritas porque "fazem parte de sociedades de beneficência, mas não pagam aos seus empregados o que lhes corresponde ou os contrata de modo clandestino".
Por isso, se você paga os seus empregados de forma irregular, sem imposto de renda, então o Papa Francisco o consideraria um católico "fingido", que sofre de hipocrisia e esquizofrenia espirituais. Ele reconhece que há muitas dessas pessoas "que se escondem dentro da Igreja e não vivem de acordo com a justiça que Deus proclama". Se você é uma dessas pessoas, ele gostaria que você se perguntasse se você está pronto para a comunhão.
O arcebispo Bergoglio era especialmente suspeito dos católicos "fingidos" que são figuras públicas buscando aparecer na foto na fila da comunhão. Em tais circunstâncias, "eu não dou a comunhão, eu fico atrás, os ministros a dão, porque eu não quero que essas pessoas se aproximem de mim para a foto".

quinta-feira, 2 de maio de 2013

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 315. A Excomunhão do Padre Beto

No Tricentésimo décimo quinto vídeo da série; "A Palavra do Frei Petrônio", o Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita da Ordem do Carmo, fala sobre a excomunhão do Padre Roberto Francisco Daniel, o Padre Beto, da Diocese de Bauru/SP, excomungado na terça-feira, 29 de abril-2013. Convento do Carmo, São Paulo.  01 de maio-2013. DIVULGAÇÃO: www.mensagensdofreipetroniodemiranda.blogspot.com

Razões para NÃO reduzir a maioridade penal


Vinícius Bocato, Estudante de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero e designer gráfico.

Sempre que acontece um crime bárbaro cometido por um adolescente a sociedade levanta a voz para pedir a redução da maioridade penal. Quais seriam os reflexos dessa medida?
Na última semana uma tragédia abalou todos os funcionários e alunos da Faculdade Cásper Líbero, onde estou terminando o curso de jornalismo. O aluno de Rádio e TV Victor Hugo Deppman, de 19 anos, foi morto por um assaltante na frente do prédio onde morava, na noite da terça-feira (9). O crime chocou não só pela banalização da vida – Victor Hugo entregou o celular ao criminoso e não reagiu –, mas também pela constatação de que a tragédia poderia ter acontecido com qualquer outro estudante da faculdade.
Esse novo capítulo da violência diária em São Paulo ganhou atenção especial da mídia por um detalhe: o criminoso estava a três dias de completar 18 anos. Ou seja, cometeu o latrocínio (roubo seguido de morte) enquanto adolescente e foi encaminhado à Fundação Casa.
Óbvio que a primeira reação é de indignação; acho válida toda a revolta da população, em especial da família do garoto, mas não podemos deixar que a emoção nos leve a atitudes irresponsáveis. Sempre que um adolescente se envolve em um crime bárbaro, boa parte da população levanta a voz para exigir a redução da maioridade penal. Alguns vão adiante e chegam a questionar se não seria hora do Estado se igualar ao criminoso e implantar a pena de morte no país. Foi o que fez de forma inconsequente o filósofo Renato Janine Ribeiro, em artigo na Folha de S. Paulo, por ocasião do assassinato brutal do menino João Hélio em 2007.
Além de obviamente não termos mais espaço para a Lei de Talião no século XXI, legislar com base na emoção nada mais atende do que a um sentimento de vingança.Não resolve (nem ameniza) o problema da violência urbana.
O que chama a atenção é maneira como a grande mídia cobre essas tragédias. A maioria das matérias que vemos nos veículos tradicionais só reforçam uma característica do Brasil que eles mesmo criticam: somos o país do imediatismo. A cada crime brutal cometido por um adolescente, discutimos os efeitos da violência, mas não as suas causas. Discutimos como reprimir, não como prevenir. É uma tática populista que desvia o foco das reais causas do problema.

Abaixo exponho a lista de motivos pelos quais sou contra a redução da maioridade penal:

As leis não podem se basear na exceção
A maneira como a grande mídia cobre estes crimes bárbaros cometidos por adolescentes nos dá a (falsa) impressão de que eles estão entre os mais frequentes. É justamente o inverso. O relatório de 2007 da Unicef "Porque dizer não à redução da idade penal” mostra que crimes de homicídio são exceção:
"Dos crimes praticados por adolescentes, utilizando informações de um levantamento realizado pelo ILANUD [Instituto Latino-Americanodas Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente] na capital de São Paulo durante os anos de 2000 a 2001, com 2100 adolescentes acusados da autoria de atos infracionais, observa-se que a maioria se caracteriza como crimes contra o patrimônio. Furtos, roubos e porte de arma totalizam 58,7% das acusações. Já o homicídio não chegou a representar nem 2% dos atos imputados aos adolescentes, o equivalente a 1,4 % dos casos conforme demonstra o gráfico abaixo.”
E para exibir dados atualizados, dentre os 9.016 internos da Fundação Casa, neste momento apenas 83 infratores cumprem medidas socioeducativas por terem cometido latrocínio (caso que reacendeu o debate sobre a maioridade penal na última semana). Ou seja, menos que 1%.

Redução da maioridade penal não diminui a violência. O debate está focado nos efeitos, não nas causas da violência.
Como já foi dito, a primeira reação de alguns setores da sociedade sempre que um adolescente comete um crime grave é gritar pela redução da maioridade penal. Ou quase isso: dificilmente vemos a mesma reação quando a vítima mora na periferia (nesses casos, a notícia vira apenas uma notinha nas páginas policiais). Mas vamos evitar leituras ideológicas do problema.
A redução da maioridade penal não resolve nem ameniza o problema da violência. "Toda a teoria científica está a demonstrar que ela [a redução] não representa benefícios em termos de segurança para a população”, afirmou em fevereiro Marcos Vinícius Furtado, presidente da OAB. A discussão em torno na maioridade penal só desvia o foco das verdadeiras causas da violência.
O Instituto Não Violência é bem enfático quanto a isso: "As pesquisas realizadas nas áreas social e educacional apontam que no Brasil a violência está profundamente ligada a questões como: desigualdade social (diferente de pobreza!), exclusão social, impunidade(as leis existentes não são cumpridas, independentemente de serem "leves” ou "pesadas”), falhas na educação familiar e/ou escolar principalmente no que diz respeito à chamada educação em valores ou comportamento ético, e, finalmente, certos processos culturais exacerbados em nossa sociedade como individualismo, consumismo e cultura do prazer.

No site da Fundação Casa temos acesso a uma pesquisa que revela o perfil dos internos (2006):
Em linhas gerais, o adolescente infrator é de baixa renda, tem muitos irmãos e os pais dificilmente conseguem sustentar e dar a educação ideal a todos (longe disso). Isso sem contar quando o jovem é abandonado pelos pais, quando um deles ou ambos faleceram, quando a criança nem chega a conhecer o pai, entre outras complicações.
Claro que é bom evitar uma posição determinista, a pobreza e a carência afetiva por si só não produzem criminosos. Mas a falta de estrutura familiar, de educação, a exposição maior à violência nas periferias e a falta de políticas públicas para esses jovens os tornam muito mais suscetíveis a cometer pequenos crimes.
Especialistas afirmam que os adolescentes começam com delitos leves, como furtos, e depois vão subindo "degraus” na escada do crime. De acordo com Ariel de Castro Alves, ex secretário-geral do Conselho Estadual da Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe), muitos dos adolescentes que chegam ao latrocínio têm dívidas com traficantes e estão ameaçados de morte, e isso os estimula a roubar.
Vale aqui lembrar a falência da Fundação Casa, que em vez de recuperar os jovens, acaba incentivando os internos a subir esses degraus do crime. Para entender melhor sua realidade, recomendo a leitura da matéria "De Febem a Fundação Casa” da Revista Fórum. Nela temos o relato do pedagogo Carlos (nome fictício), que sofreu ameaças frequentes por contestar os atos abusivos da direção: "A Fundação Casa nasceu para dar errado. Eles saem de lá com mais ódio, achando que as pessoas são todas ruins e que não há como mudar isso. São desrespeitados como seres humanos, são tratados como lixo. E isso faz com que eles pensem que não podem mudar.”
Atuante na Fundação há onze anos, Carlos conta que os atos de violência contra os adolescentes são cotidianos e descarados, apoiados inclusive pelo diretor, que também "bate na cara dos meninos”. Essa bola de neve de violência só poderia resultar em crimes cada vez mais graves cometidos pelos garotos.
A redução da maioridade penal tornaria mais caótico o já falido sistema carcerário brasileiro e aumentaria o número de reincidentes

Prisão superlotada em São Paulo
Dados objetivos: Temos no Brasil mais de 527 mil presos e um déficit de pelo menos 181 mil vagas. Não precisamos nos aprofundar sobre a superlotação e as condições desumanas das cadeias brasileiras, é óbvio que um sistema desses é incapaz de recuperar alguém.
A inclusão de adolescentes infratores nesse sistema não só tornaria mais caótico o sistema carcerário como tende a aumentar o número de reincidentes. Para o advogado Walter Ceneviva, colunista da Folha, a medida pode tornar os jovens criminosos ainda mais perigosos: "Colocar menores infracionais na prisão será uma forma de aumentar o número de criminosos reincidentes, com prejuízo para a sociedade. A redução da maioridade penal é um erro”.
A Unicef também destaca os problemas que os EUA enfrentam por colocar adolescentes e adultos nos mesmos presídios. "Conforme publicado este ano [2007] no Jornal New York Times, a experiência de aplicação das penas previstas para adultos para adolescentes nos Estados Unidos foi mal sucedida resultando em agravamento da violência. Foi demonstrado que os adolescentes que cumpriram penas em penitenciárias, voltaram a delinquir e de forma ainda mais violenta, inclusive se comparados com aqueles que foram submetidos à Justiça Especial da Infância e Juventude”.
O texto em questão foi publicado no New York Times em 11 de maio de 2007 e está disponível na íntegra na página 34 deste PDF da Unicef.
Ao contrário do que é veiculado, reduzir a maioridade penal não é a tendência do movimento internacional
Tenho visto muitos textos afirmando que o Brasil é um dos raros países que estipulou a maioridade penal em 18 anos. Tulio Kahn, doutor em ciência política pela USP, contesta esses dados. "O argumento da universalidade da punição legal aos menores de 18 anos, além de precário como justificativa, é empiricamente falso. Dados da ONU, que realiza a cada quatro anos a pesquisaCrime Trends(Tendências do Crime), revelam que são minoria os países que definem o adulto como pessoa menor de 18 anos e que a maior parte destes é composta por países que não asseguram os direitos básicos da cidadania aos seus jovens.”
Ainda segundo a Unicef "de 53 países, sem contar o Brasil, temos que 42 deles (79%) adotam a maioridade penal aos 18 anos ou mais. Esta fixação majoritária decorre das recomendações internacionais que sugerem a existência de um sistema de justiça especializado para julgar, processar e responsabilizar autores de delitos abaixo dos 18 anos. Em outras palavras, no mundo todo a tendência é a implantação de legislações e justiças especializadas para os menores de 18 anos, como é o caso brasileiro.”
O que pode estar acontecendo na grande mídia é uma confusão conceitual pelo fato de muitos países usarem a expressão penal para tratar da responsabilidade especial que incide sobre os adolescentes até os 18 anos. "Países como Alemanha, Espanha e França possuem idades de inicio da responsabilidade penal juvenil aos 14, 12 e 13 anos. No caso brasileiro tem inicio a mesma responsabilidade aos 12 anos de idade. A diferença é que no Direito Brasileiro, nem a Constituição Federal nem o ECA mencionam a expressão penal para designar a responsabilidade que se atribui aos adolescentes a partir dos 12 anos de idade”.
Confiram aqui a tabela comparativa entre diferentes países ao redor do mundo. Alguns países vêm seguido o caminho contrário do que a grande mídia divulga e aumentado a maioridade penal. "A Alemanha restabeleceu a maioridade para 18 anos e o Japão aumentou para 20 anos. A tendência é combater com medidas socioeducativas. Estudos apontam que os crimes praticados por crianças e adolescentes, no Brasil, não passariam de 15%. Há uma falsa impressão de que esses jovens ficam impunes, o que não é verdade, pois eles respondem ao ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente)”, argumenta Márcio Widal, secretário da Comissão dos Advogados Criminalistas da OAB.
Também não vejo os grandes jornais divulgarem que muitos estados americanos estão aumentando a maioridade penal.
Há ainda diversos argumentos contra a redução da maioridade penal, mas o texto já se estendeu muito e vamos focar em mais dois. A medida é inconstitucional; a questão da maioridade faz parte das cláusulas pétreas da Constituição de 1988, que não podem ser modificadas pelo Congresso Nacional (saiba mais sobre as cláusulas pétreas da CF aqui). Seria necessária uma nova Assembleia Constituinte para alterar a questão.
"São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial” (Artigo 228 da Constituição Federal). Ou seja, todas as pessoas abaixo dos 18 anos devem ser julgadas, processadas e responsabilizadas com base em uma legislação especial, diferenciada dos adultos.
Há ainda o clássico argumento de que o crime organizado utiliza os menores de idade para "puxar o gatilho” e pegar penas reduzidas. Se aprovada a redução da maioridade penal, os jovens seriam recrutados cada vez mais cedo. Se baixarmos para 16 anos, quem vai disparar a arma é o jovem de 15. Se baixarmos para 14, quem vai matar será o garoto de 13. Estaríamos produzindo assassinos cada vez mais jovens. Além disso, "o que inibe o criminoso não é o tamanho da pena e sim a certeza de punição”, diz o advogado Ariel de Castro Neves. "No Brasil existe a certeza de impunidade já que apenas 8% dos homicídios são esclarecidos. Precisamos de reestruturação das polícias brasileiras e melhoria na atuação e estruturação do Judiciário”.
Concluindo…
Reforçando, tudo o que foi discutido até aqui foi para mostrar o problema de tratar essa questão com imediatismo, impulsividade. Os debates estão sendo feitos quase sempre em cima dos efeitos da violência, não de suas causas, desviando o foco das reais origens do problema.
Que tal nos mobilizarmos para cobrar uma profunda reforma na Fundação Casa, de forma que ela cumpra minimamente seus objetivos? Ou para cobrar outra profunda reforma no sistema carcerário brasileiro, que possui 40% de presos provisórios? Será que todos deviam estar lá mesmo?
E melhor ainda: que tal nos mobilizarmos para que o Governo invista pesado na prevenção da criminalidade, como escolas de tempo integral, atividades de lazer e cultura? Estudos mostram que quanto mais as crianças são inseridas nessas políticas públicas, menores as chances de serem recrutadas pelo mundo das drogas e pelo crime organizado.
         "Quando o Estado exclui, o crime inclui”, afirma Castro Alves. "Se o jovem procura trabalho no comércio e não consegue, vaga na escola ou num curso profissionalizante e não consegue, na boca de fumo ele vai ser incluído.”
Na teoria o ECA é uma ótima ferramenta para prevenir a criminalidade. Mas há um abismo entre a teoria e a prática do ECA: a falta de políticas públicas para a juventude, a falta de estrutura e os abusos na Fundação Casa acabam produzindo o efeito contrário do desejado. Mesmo assim, a reincidência no sistema de internação dos adolescentes é de aproximadamente 30%. No sistema prisional comum é de 60%, segundo o Ministério da Justiça.
No fim das contas, suspeito que boa parte da sociedade não quer recuperar os jovens infratores. Muitos gostariam mesmo é de fazer justiça com as próprias mãos ou que o Estado aplicasse a pena de morte, como sugeriu o filósofo Janine Ribeiro no calor da emoção. Mas já que isso não é possível, então "que apodreça na cadeia junto com os adultos”.
Por causa de fatos isolados, como a tragédia do menino João Hélio e do estudante Victor Hugo, cobram do governo a redução da maioridade penal, uma atitude impulsiva e irresponsável que iria piorar ainda mais a questão da violência no Brasil. A questão é tentar reduzir a violência ou atender a um desejo coletivo de vingança?

terça-feira, 30 de abril de 2013

Angola proíbe operação de igrejas evangélicas do Brasil

O governo de Angola baniu a maioria das igrejas evangélicas brasileiras do país. Segundo o governo, elas praticam "propaganda enganosa" e "se aproveitam das fragilidades do povo angolano", além de não terem reconhecimento do Estado.
 Medida do governo angolano assegura 'monopólio' à Universal
 
"O que mais existe aqui em Angola são igrejas de origem brasileira, e isso é um problema, elas brincam com as fragilidades do povo angolano e fazem propaganda enganosa", disse à Folha Rui Falcão, secretário do birô político do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e porta-voz do partido, que está no poder desde a independência de Angola, em 1975.
Cerca de 15% da população angolana é evangélica, fatia que tem crescido, segundo o governo. Em 31 de dezembro do ano passado, morreram 16 pessoas por asfixia e esmagamento durante um culto da Igreja Universal do Reino de Deus em Luanda. O culto reuniu 150 mil pessoas, muito acima da lotação permitida no estádio da Cidadela.

O mote do culto era "O Dia do Fim", e a igreja conclamava os fiéis a dar "um fim a todos os problemas que estão na sua vida: doença, miséria, desemprego, feitiçaria, inveja, problemas na família, separação, dívidas."

O governo abriu uma investigação. Em fevereiro, a Universal e outras igrejas evangélicas brasileiras no país -- Mundial do Poder de Deus, Mundial Renovada e Igreja Evangélica Pentecostal Nova Jerusalém-- foram fechadas.

No dia 31 de março deste ano, o governo levantou a interdição da Universal, única reconhecida pelo Estado.

Mas a igreja só pode funcionar com fiscalização dos ministérios do Interior, Cultura, Direitos Humanos e Procuradoria Geral da Justiça. As outras igrejas brasileiras continuam proibidas por "falta de reconhecimento oficial do Estado angolano". Antes, elas funcionavam com autorização provisória.

As igrejas aguardam um reconhecimento para voltar a funcionar, mas muitas podem não recebê-lo. "Essas igrejas não obterão reconhecimento do Estado, principalmente as que são dissidências, e vão continuar impedidas de funcionar no país", disse Falcão. "Elas são apenas um negócio."

Segundo Falcão, a força das igrejas evangélicas brasileiras em Angola desperta preocupação. "Elas ficam a enganar as pessoas, é um negócio, isto está mais do que óbvio, ficam a vender milagres." Em relação à Universal, a principal preocupação é a segurança, disse Falcão.