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sábado, 4 de julho de 2015
A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 922. O Rio e o Carmelo.
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Artigos do Frei Petrônio de Miranda
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A PALAVRA... Nº 923. Novena com Frei Petrônio.
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A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 924. Evangelho Dominical.
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Artigos do Frei Petrônio de Miranda
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Os contemplativos de todos os tempos
"Toda contemplação nos leva ao
encontro com o Cristo pobre, rasgado, cuspido, violentado, ensanguentado e
abandonado na zona rural, nos viadutos, nas ruas e nas portas das nossas
Igrejas". Frei Petrônio de Miranda,
Padre Carmelita e Jornalista. Convento do Carmo, Lapa, Rio de Janeiro.
RAFAEL CHECA CURI
Menção especial
deve fazer-se da Virgem Maria, cuja união com a Trindade, em virtude de sua
maternidade divina, reveste características de uma relevância singularíssima.
São
João Evangelista e São Paulo, os quais documentam amplamente sua grande
experiência contemplativa. Seguramente os outros discípulos do Senhor.
Os
grandes Padres da Igreja, como um Cassiano, santo Agostinho, são João Crisóstomo,
são Dionísio Areopagita.
Os
insignes fundadores como Antão, Basílio, Bento, Francisco, Domingos e Bernardo.
Mulheres
santas, como Escolástica, Clara, Catarina de Siena, Madalena de Pazzi.
Mestres que incluíram na espiritualidade
como Tomás de Aquino, Ekhart, Tauler, Ruysbroeck, Inácio, Teresa e João da
Cruz.
E,
em tempos mais recentes, Francisco de Sales, Lallement, Alfonso de Liguori,
João Bosco, Teresa de Lisieux. Carlos de Foucauld, Isabel da Trindade, Thomas
Merton.
Agora
mesmo temos consciência de que existem grandes ;místicos, aquelas e aqueles que
ilustram o mundo com sua vida, suas realizações e seus escritos, e que, sem
dúvida, passarão à posteridade.
Não
podemos esquecer tantos outros contemplativos, que atingiram grandes alturas no
cumprimento singelo e humilde do seu dever, unidos, porém, em íntimo querer com
o Senhor e que permanecem no anonimato: pais e mães de família, profissionais,
políticos, operários, empregados, camponeses, estudantes de ambos os sexos;
especialmente tantos pobres e marginalizados, que souberam unir-se à cruz de
Cristo, em forma humilde e corajosa, e que, sem demagogia e com grande
esperança cristã, lutam por sua libertação.
A
contemplação é dom gratuito, que Deus concede aos que se abrem com coração
humilde e pobre, qualquer que seja sua raça, cor, estado de vida, condição
social ou econômica, cultura e saúde. O dom da contemplação, porque procede de
quem pode e quer dá-lo, só encontra obstáculo na livre vontade, ou na
debilidade humana que o recusa.
Cristo,
que salvou o homem, deu-lhe seu Espírito, a fim de que a libertação alcance sua
expressão máxima na ordem da graça: "Permanecei em mim, como eu em
vós..." (Jo. 14,20)
Os
mestres espirituais tem se esforçado por manifestar-nos “a caridade de Cristo
que supera toda ciência, para que sejamos cheios de toda plenitude de Deus”
(EF. 3,19). Eis, autênticos mistagogos, porque transmitem uma experiência de
vida, puderam marcar-nos o caminho que leva ao cimo. Verdade é que cada pessoa
é conduzida por Deus, por diferentes caminhos. A experiência mística é, em cada
um única e irrepetível, entretanto o que fez o trajeto pode apontar pistas e
indícios, que nos haverão de conduzir com maior segurança.
Ordinariamente
falam-nos de estádios, de etapas do trajeto, ou de idades do crescimento
espiritual, de degraus de ascensão para o cimo, em fim, de moradas de um
castelo ou de metamorfoses de mudança.
Todos
estes símbolos, bem adequados para clarear-nos o mistério das relações e
comunicações entre Deus e a pessoa humana, querem dizer-nos o que sucede na
intimidade da mesma.
O
que ali acontece sob influxo da ação do Espírito e na medida da fidelidade
humana, é o que trataremos a seguir.
As
diferentes escalas são distintos níveis de consciência espiritual e
psicológica, diversos graus de oração, desigual intensidade na comunhão com
Deus, dissimulitude nas etapas do crescimento cristão, variantes na
identificação com Cristo, divergência de matizes no comportamento ético, graus
no evoluir da vida teologal, idades de transformação do homem velho no homem
novo.
As
Moradas de Santa Teresa, por exemplo, na mais são do que o processo de
configurar-se em Cristo, a ;respeito do qual nos fala tão eloqüentemente são
Paulo.
São
João da Cruz usa o símbolo da montanha que se há de galgar, pelo caminho dos
"nadas", a fim de chegar ao "Todo" de Deus.
O
importante é que em todo o transcurso interacionam três elementos
indispensáveis e necessários:
1º)
A ação de Deus, sua graça e seu favor, que nos movem a cada momento no roteiro.
2º)
A resposta do homem, que aceita o convite para seguir e o desafio de
enobrecer-se.
3º)
A oração humilde e perseverante, que estabelece a forma de comunicação entre
ambos, tratamento de confiante amizade Deus-homem.
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Artigos do Frei Petrônio de Miranda
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quinta-feira, 2 de julho de 2015
A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 921. Coronelismo Midiático
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Artigos do Frei Petrônio de Miranda
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FIRMES NA ESPERANÇA.
*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm, In Memoriam.
(Camocim
de São Félix, PE. 11 de janeiro-20011)
A esperança é uma das três virtudes
teologais. São chamadas teologais porque indicam explicitamente e diretamente a
relação com Deus. O que não quer dizer que essas virtudes teologais não tenham
raízes antropológicas. Com a palavra esperança indicamos a atitude e a
atividade nossa do esperar. Frequentemente, porém, com a palavra esperança nos
referimos ao fundamento da nossa esperança nas promessas de Deus ou à pessoa de
Jesus, ao objeto ou ao conteúdo da nossa esperança como salvação.
A
esperança, como as duas outras virtudes teologais, é ao mesmo temo dom de Deus
e fruto da nossa ação. A perspectiva da nossa ação já aparece no próprio
enunciado do tema: firmes na esperança. Através das diversas épocas a
literatura teológica e espiritual da Igreja apresentam várias interpretações e
perspectivas da esperança.
A
esperança na Escritura
Podemos dizer que o tema da esperança é
o elemento dinâmico de toda a Sagrada Escritura. Povo de Deus é um título que é
penhor de esperança, o que vale também para o mundo e a humanidade como tais
porque foram criados por Deus. Neste plano atinge também o indivíduo de acordo
com a sua relação, geralmente vocacional, com Deus. É compreensível que o tema
da esperança aparece em situações negativas que atingem a vida do povo ou de
pessoas individuais mesmo por culpa própria. É o que aparece constantemente nas
narrações da história do povo de Israel. Nestes contextos a observância das
leis de Deus da parte do povo ou das pessoas entram na própria configuração da
esperança cujo horizonte promissor só Deus pode abrir.
No Novo Testamento na presença e
pregação de Jesus fazem respirar a esperança: o Reino de Deus está próximo,
“Deus não é um Deus de mortos mas de vivos. Ouvindo isso as multidões se
extasiavam com seu ensinamento” (Mt 22, 32-33).
As cartas de São Paulo falam muito claro
da esperança nas suas várias dimensões: a esperança é obra do Espirito (Gl 5,5)
a esperança permeia toda a criação, esperando se libertada da escravidão da
corrupção; ela está gemendo como que em dores de parto; também nós que temos as
primícias do Espirito gememos em nosso íntimo, esperando a condição filial, a
redenção do nosso corpo (Rm 8, 18-26).
A
esperança na literatura patrística
Na literatura patrística dos primeiros
séculos os textos não podiam deixar de refletir as perseguições quando falam da
esperança. As cartas de Inácio de Antioquia sublinham a esperança para suportar
a perseguição, mas falam principalmente da celebração da Eucaristia e a
harmonia da comunidade em que esta esperança deve se manifestar. Justino na sua
Primeira Apologia também se refere ao culto da comunidade mas igualmente à
observância da lei numa vida cívica responsável, conduzida com serenidade e sem
ressentimentos apesar das calúnias e das perseguições para manifestar e
reforçar a esperança dos cristãos. Origines já dá maior importância à
contemplação e à renúncia como expressões específicas da esperança enquanto
outros insistem na compreensão adequada do plano de Deus.
No entanto, esses primeiros séculos
oferecem também outras perspectivas para falar da esperança. Clemente de Roma,
e a Didaqué acentuam a espera da Parusia, da volta triunfal de Cristo, da
ressurreição dos mortos e do julgamento universal como incentivadores da
esperança. Para acentuar a responsabilidade do cristão na prática da esperança,
houve várias reações contra o gnosticismo, como da parte de Ireneu. O
gnosticismo considerava a salvação como fuga do corpo., do mundo, da história
humana, da responsabilidade familiar e social. Esta fuga das responsabilidades
facilmente atingiria a vida em comunidade, como espaço em que a esperança é
fortalecida e alimentada. Além disto havia também a prática dos visionários que
pretendiam indicar concretamente o futuro último ou a Parusia em termos de
tempo e espaço. Prática que pode satisfazer a uma curiosidade ociosa, mas
esvazia a esperança que se reduziria a uma atitude de especulação e de
passividade. Embora Origenes não seguisse essa tendência, ele defendia uma
restauração final da história, tão total que a condenação não podia ser eterna
e definitiva. Esta tese foi condenada pela Igreja, porque na perspectiva que
ela abre parece anular a seriedade da redenção e relativiza o papel atribuída à
liberdade na caminhada da esperança.
Com a paz de Constantino o cristianismo
encontrou um lugar protegido na cidade secular. Isto não podia deixar de
repercutir na teologia e na prática da esperança, Como harmonizar a virtude da
esperança, que supõe um que de “desafio” nas situações que lhe parecem
contrárias. A esperança parece encaixar-se agora na observância eclesial e na
obediência cívica, sem deixar de estimular uma atitude de espera de Cristo que
é considerado imperador na realidade histórica já identificada como império
cristão. Nas basílicas da época sempre aparece o Cristo que tudo governa
(Pantocrator) nos mosaicos da abside. Não que a situação concreta existente
esgotava o horizonte da esperança cristã. Uma ulterior redenção da sociedade
humana era por assim dizer transferida para um fim longínquo mas improviso.
Assim a esperança era ligada mais às expectativas do indivíduo em relação à
vida depois da morte. Isto fez com que a esperança perdesse a sua dinâmica na
existência humana, concentrando-se mais no cumprimento fiel dos deveres dentro
da ordem estabelecida. Uma esperança sem dinâmica e de certa maneira sem
entrega “aventureira” ao mistério insondável de Deus, não podia deixar de
repercutir na maneira de ler e de interpretar corretamente a linguagem bíblica.
Era mais um esforço de interpretar e decifrar o quanto já estava determinado.
A
esperança na teologia medieval
A teologia na Idade Média dedicou
bastante atenção ao tema da esperança. Apoiavam-se os teólogos principalmente
nos escritos de santo Agostinho. Este não via muita prospectiva na sociedade
humana e na civilização na história e vê a vida cristã como contracorrente.
Isto apesar do império romano que se identificava com o cristianismo. Agostinho
considera a Cidade de Deus que se realizará plenamente no fim dos tempos e que
de alguma maneira é antecipada na Igreja. A esperança, porém, se centraliza
essencialmente num futuro celeste transcendente. Na Idade Média essa visão,
talvez um tanto pessimista, bate num novo otimismo em relação às possibilidades
do mundo provocado pela coroação de Carlos Magno realizada pelo Papa em Roma no
ano 800. Acontecimento que dá consciência ao povo cristão de que Deus governa a
história. Mesmo assim as expectativas populares pelo menos em certos períodos
da Idade Média se concentram mais no medo do que na esperança. O fim do mundo é
descrito em termos apocalípticos, desastres cósmicos e um julgamento que inspira medo. O que explica
que na literatura e na arte plástica o purgatório e o inferno aparecem com
maior frequência que o paraíso.
Todas essas preocupações populares
indicam que na teologia medieval as relações entre Deus e os seres humanos eram
vistas mais em perspectivas jurídicas. Olhava-se para a situação provisória da
alma que depois da morte do corpo passava no purgatório ou era já condenada ao
fogo do inferno. O que se esperava era a visão beatífica completada pela
ressurreição do corpo no fim do mundo.
Tomás de Aquino fala mais da esperança
na Summa Theologiae. Ele mostra que o objetivo da vida humana consiste na
felicidade de ver a Deus. Fala da esperança com segunda virtude teologal. Dá
várias definições descritivas do termo virtude que ele vê como uma disposição
para agir bem. A esperança é uma disposição que abraça como seu objeto um bem
futuro que consiste na vida eterna ou o gozo de Deus. Assim chega a definir a
esperança como uma caminhada para a caridade.
Para Tomás a prática da esperança está
ligada também às bem-aventuranças e aos dons do Espírito. Entre esses dons o
temor de Deus ocupa um lugar importante porque admite a possibilidade da perda
ou da separação o que faz com que uma criança se agarre ao pai. Ao mesmo tempo
Tomás relaciona a virtude da esperança com a bem-aventurança dos pobres de
espírito que consiste numa confiança total em Deus e na renúncia às coisas da
terra. Tomás considera dois tipos de pecado contra a esperança: o desespero e a
presunção. Podem levar a pessoa a abandonar todo o projeto da vida cristã.
Com os franciscanos espirituais no
século XIII surge uma nova corrente de teologia e de espiritualidade, embora
iniciada no século anterior por Joaquim de Fiori. A sua esperança se movia em
direção a um novo milênio na direção divina da história. Trata-se da terceira
era do Espírito Santo que sucedia à era do Pai (no Antigo Testamento) e à era
do Filho (no Novo Testamento). Deveria ser uma era gloriosa da Igreja, de
santos, principalmente de religiosos vivendo numa perfeita consagração. A
prática da esperança como caminhada para essa era do Espírito Santo era a
observância rigorosa da pobreza de que Francisco de Assis tinha dado o exemplo.
Não podemos negar que nesta corrente encontram-se naquela época pessoas de
profunda espiritualidade e de oração. No entanto, a unilateralidade em definir
a vocação cristã na história, fez com que essa visão encontrou fortes oposições
inclusive dentro da própria Ordem Franciscana.
Outra corrente de pensamento em relação
à esperança, alimentava uma preponderância do temor no posicionamento frente ao
futuro. Desta corrente a arte e a literatura da época oferecem exemplos bem
claros. Basta pensar inclusive em certos textos presentes nas celebrações
litúrgicas como o Dies Irae na missa dos defuntos, na devoção mariana, e, de
modo especial, no afã de ganhar indulgências. Aparece bem claro que naquela
época o ponto de referência seja para o temor como para a esperança era sempre
aquilo que aconteceria ao indivíduo depois da morte, fora da história e do
mundo da experiência de cada dia.
A
esperança na teologia e na espiritualidade moderna
No âmbito católico a teologia de Tomás
de Aquino sobre a esperança permaneceu praticamente como fundamento do
pensamento da escolástica no âmbito do ensino e da prática da vida espiritual.
No século XVI apareceram discussões bem claras introduzidas por Lutero e
outros. Não sem influência da própria vida interior movida por dúvidas e
angústias, Martinho Luther e seus sequazes tendiam a reconhecer no cristão um
papel mais passivo em relação à graça. O conteúdo da esperança foi colocado em
discussão também por Calvino que acentuavam a universalidade da vontade
salvífica de Deus. Surgiram na mesma época outros agrupamentos religiosos (os
anabatistas) que colocavam a esperança em discussão um pouco como já no século
XIII tinham feito os franciscanos espirituais. Apregoavam a necessidade de um
estilo de vida completamente novo como expressão da esperança cristã, baseada
no batismo só de adultos porque só no adulto as virtudes da fé, esperança e
caridade podiam tornar-se operantes imediatamente. Mais tarde surgem outras
discussões em torno da esperança: os quietistas defendiam a passividade, a
renúncia à iniciativa pessoal na vida espiritual e até o abandono de todo
interesse pela própria salvação.
Surge assim a individualização da
esperança acentuada também pelo Iluminismo. Devemos dizer que a
individualização da vida espiritual caracterizava também, até tempos recentes,
os retiros e missões populares dirigidos tradicionalmente por Redentoristas e
Capuchinhos. E quem sabe através dos catecismos que desde crianças nos
indicavam a direção em que devíamos caminhar. Catecismos cujos conteúdos se
transmitia através de perguntas e respostas: Porque vivemos nesta terra? Para
servir a Deus e chegar assim no céu.
Nos textos teológicos antes do Vaticano
II a doutrina sobre a esperança segue o pensamento de Tomás de Aquino mas se
dedica pouco espaço a ela. O objeto da esperança é Deus, a visão de Deus e
todas as ajudas intermediárias para alcançar tal visão; mas aparecem outros
objetos da esperança embora taxados de secundários: a ressurreição do corpo e a
própria felicidade para si e para os outros, mas sempre vistos em vista de um
escopo além deste mundo. Estamos ainda longe de um interesse direto pela
transformação redentora da sociedade humana na história. Esta tendência é caraterística dos livros de
espiritualidade publicados na primeira metade do século passado: Garrigou
Lagrange, O.P., Joseph de Guibert, S.J. e Tanquerey. Mas o último já põe no seu
Compendio de vida espiritual acentos em
outras dimensões, insistindo assim não só no dom gratuito de Deus mas também na
total responsabilidade da liberdade humana.
Chegando aos anos da metade do século XX
percebemos no ensino e em textos de espiritualidade um esforço para dar à
virtude da esperança uma maior atenção e mostrar nela o horizonte comunitário
que desperta a nossa atividade no mundo em que vivemos. Há um recurso maior à
Sagrada Escritura do Novo Testamento para penetrar no núcleo central da
pregação de Jesus. Assim tornou-se mais clara a promessa de Jesus feita aos
seus discípulos que o reino de Deus estava próximo. Chega-se assim a descobrir
que o reino de Deus não é só uma realidade do além deste mundo, mas também uma
plena redenção da criação de Deus, principalmente da sociedade humana. O que
leva a novos horizonte na interpretação dos profetas do Antigo Testamento que
se torna uma fonte para a interpretação da pregação do próprio Jesus. Entra
assim mais claramente a justiça social com fazendo parte do objeto da
esperança. De acordo com o lugar que pessoas e grupos cristãos ocupam na
sociedade são descobertos os vários níveis da vida individual e social que na
ótica da esperança cristã pedem um trabalho de transformação das relações
humanas e das estruturas da sociedade.
Há autores que neste sentido marcaram os
estudos da teologia: Jurgen Moltmann, teólogo alemão luterano com seu livro
Teologia da esperança que se confronta com a perda de esperança na dimensão
política e prática devido às conseqüências da segunda Guerra mundial. Esta
quase impotência teológica contrastava com a projeção de um futuro
sociopolítico de pensadores marxistas daquela época. O próprio Moltmann e
outros teólogos foram influenciados pela filosofia marxista de Ernst Bloch que
no seu livro O princípio da esperança não hesita recorrer seja às fontes
bíblicas como marxistas para analisar a dinâmica humana social na história. Daí
houve um trabalho para reformular o pensamento da doutrina cristã pondo o
acento da história da salvação no futuro ainda não realizado, na redenção da
comunidade humana e do mundo. Os mais conhecidos teólogos dessa reformulação
são além de Moltmann Wolfhart Pannenberg, Johan Baptist Metz com sua “teologia
política”. Essa mudança de acento no que diz respeito à esperança, foi sem
dúvida facilitada pela influência bastante difusa de Karl Rahner cujos estudos
eram marcados por uma análise profunda dos princípios interpretativos que devem
reexaminar as afirmações escatológicas, isto é as afirmações que expressam o
conteúdo da esperança cristã. Para Rahner, estes princípios derivam da análise
existencial da experiência humana, dos seus limites e das suas possibilidades e
expressões simbólicas.
Um outro tipo de reflexão teológica que
também acentuava uma propriedade mais ativa, comunitária e terrestre da
esperança cristã foi desenvolvido pelo paleontólogo jesuíta Pierre Teilhard de
Chardin. Apesar da proibição eclesiástica de publicar os seus escritos durante
a sua vida, as suas obras, publicadas depois da sua morte, tiveram uma
influência bastante vasta. A espiritualidade de Teilhard valorizava o modo em
que todo o progresso científico e técnico era integrado no plano de Deus para a
história humana e no fim dos tempos na criação em Cristo. Isto unia as
esperanças e tentativas humanas em relação ao mundo com a esperança religiosa
fundada na fé em Cristo. Seria um caminho para fazer voltar os cientistas e o
homem moderno a uma visão de esperança religiosa considerada individualista e
totalmente cortada da realidade do mundo. As críticas dirigidas à visão
teológica de Teilhard insistem que ela não leva em consideração o pecado
presente no mundo cujos efeitos se revelam no campo social: as injustiças, as
opressões e diversas situações de sofrimento.
Podemos dizer que as teologias que
surgiram depois da II Guerra mundial preparam o terreno para a Teologia de
Libertação na América Latina. Não preciso insistir nas contribuições de Gustavo
Gutierrez, Juan Luis Segundo, Leonardo Boff e outros. Todos nós sabemos da
desconfiança de determinados setores da vida eclesial em relação a estes nomes
e aos livros por eles publicados. O que não nos dispensa de reconhecer a
validade dos horizontes por eles abertos embora possam surgir dúvidas em
relação à autenticidade dos objetos mediadores da esperança.
As teologias que surgiram na segunda
metade do século XX não deixam de encontrar uma certa convergência com os
documentos (Lumen Gentium e Gaudium et Spes) do Concílio Vaticano II. Também o
Vaticano II chamou a atenção dos cristãos para a seriedade do seu empenho na
construção de uma sociedade feita de paz, de justiça social e de um adequado
bem-estar material para todos os povos e nações. Confesso que a Conferência dos
Bispos da América Latina realizada em Medellín (1968) foi para mim pessoalmente
uma porta que se abriu para a esperança cristã. A esperança nasce quando a
prática cristã pode contar com uma visão antropológica contemporânea que
permita a criação de estratégias pastorais adequadas. Todos nós nos lembramos
do método de Paulo Freire centrado no desenvolvimento da consciência plena e
crítica e de uma responsabilidade no crescimento humano para a maturidade.
Faz-se um trabalho de conscientização para que possam ser atores da história e
autores de sue próprio destino, ao invés de meros objetos de exploração. Todo
processo de transformação traz interrogações e questionamentos. Quando entram
na história freqüentemente sofrem uma grande decepção: chegaram tarde demais e
nunca poderão ser os donos da história. Também existe o problema da cultura de
cada povo. Alguém já observou: “A adoção de vantagens a curto prazo é um cavalo
de Tróia que traz consigo a destruição inevitável das estruturas tradicionais.
Por outra parte, o isolamento não é resposta nem a maior parte das tradições
são capazes de responder por si mesmas às necessidades do homem contemporâneo”
(Panikkar, A intuición cosmoteándrica, p. 146, n.43). Sabemos que o perigo de
todos os movimentos populares é que facilmente podem abrir espaço a clichês
superficiais, atitudes extremas e reações unilaterais (ibidem, p.166).
PROBLEMAS
CONTEMPORÂNEOS EM RELAÇÃO À ESPERANÇA
A espiritualidade cristã contemporânea
se confronta ainda com o desafio de duas tentações: o desespero e a presunção.
Ninguém pode negar a existência desses dois fatores na sociedade hodierna: um
vazio ou desespero a respeito do sentido, do objetivo e da satisfação
definitiva da existência humana. Basta analisar o uso de drogas, os suicídios,
as violências, os acidentes de estrada, a crescente necessidade de ajuda
psiquiátrica, um cansaço generalizado nos jovens... Precisamos de pastorais que
levam em consideração esse contexto sem futuro transcendente, sem descoberta do
dom e convite de Deus. Penso que já temos aqui no Brasil uma riqueza de
iniciativas que abrem horizontes: atuação dos leigos, o cultivo de comunidades
cristãs e outras. Mas não é só o desespero mas também a presunção que constitui
hoje uma forte tentação. Basta pensar nas filosofias e estratégias que promovem
o egocentrismo e o egoísmo baseados no bem estar, no individualismo, a idéia de
que a liberdade sexual conduz à felicidade humana. Essas concepções vão
transformar-se em novas fontes de desespero e presunção. Não podemos negar que
hoje o conteúdo da esperança é algo muito frágil nas relações humanas. Existe
também uma mentalidade bastante difusa que vê o sofrimento que em tantas
maneiras se torna presente, é um mal inevitável. No fundo é uma visão que tende
a justificar os que têm vantagens e privilégios.
A fé tem outra visão, visão centrada no
Reino de Deus que pode levar a uma renúncia de privilégios. É um caminho que
leva à paz. O desafio para a espiritualidade cristã e a estratégia pastoral
para o nosso tempo é descobrir em profundidade as dimensões pessoais e
comunitárias da virtude teologal da esperança. O que deve levar-nos como
carmelitas e como Província, firmes na esperança, a uma liberdade situada em
nível profundo para poder buscar e acolher o Reino de Deus que vem entre nós.
*Dom
Frei Vital Wilderink, O Carm, foi vítima de um acidente de automóvel quando
retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas
montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de
Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na
cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese
esta onde ele foi o primeiro Bispo.
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quarta-feira, 1 de julho de 2015
Francisco abriu uma brecha no divórcio?
Passo
a passo, pedra a pedra, o Papa vai fazendo sua revolução na Igreja, dando
primazia à realidade da vida e a seus dramas humanos
O papa Francisco lançou dias atrás,
conversando com os fiéis na praça São Pedro, uma nova provocação à Igreja
conservadora ao afirmar que “há casos em que a separação (matrimonial) é
inevitável”. Estava abrindo uma brecha no dogma do divórcio?
Os cristãos começam a acostumar-se às
provocações do papa Francisco, que continua lançando pedras para remover as
posições atávicas de retrocesso da Igreja, que não se coadunam com as
necessidades de um mundo que mudou.
Francisco parece lançar essas pedras no
lado da imobilidade religiosa com a maior das inocências e acaba surpreendendo
pelo que contêm de revolucionário. Começou a fazer isso ao abordar o tema dos
homossexuais, tabu para a Igreja, quando disse que quem é ele para julgá-los se
Deus não o fazia.
Voltou com tudo ao recordar aos bispos
que no mundo de hoje “existem formas diferentes de família”, dando a entender
que a Igreja não pode deixar de lado o drama de milhões de casais que um dia
decidiram separar-se e até formar um novo lar, e que acabaram sendo execrados
pela Igreja, que lhes negou os sacramentos.
Até no tema mais delicado do aborto
Francisco recordou que os sacerdotes precisam saber interpretar com
misericórdia a dor de algumas mulheres que decidem desfazer-se da maternidade
vitimadas por profundos dramas pessoais.
Francisco conhece o drama de milhões de
divorciados católicos que desejariam poder continuar participando dos
sacramentos sem serem proscritos nem condenados pela Igreja. Ou que
atormentados por uma crise matrimonial desejariam romper seu compromisso.
Conhece também a hipocrisia de certas sentenças do Tribunal da Rota Romana, que
possui o poder de anular casamentos. Sabe muito bem Francisco que muitas
pessoas importantes, ricas e famosas conseguiram de forma discutível a anulação
do casamento por parte do tribunal eclesiástico. A Igreja afirma que não se
trata de uma separação, mas de demonstrar que para aquele matrimônio, às vezes
de anos, faltou algum requisito na hora de ser contraído e, portanto, era
inválido.
Os cristãos começam a acostumar-se às
provocações do papa Francisco, que continua lançando pedras para remover as
posições atávicas de retrocesso da Igreja
Francisco sabe, porém, que a casuística
da Igreja ao longo do tempo foi sendo enriquecida de motivos que foram
facilitando a anulação, como a “falta de discernimento” de um dos cônjuges ou a
“dificuldade de ser fiel no matrimônio”. As crônicas incluem até casos de
separação de casais por não ter sido consumado o casamento, apesar de terem
tido vários filhos.
Francisco sabe que a Igreja nunca
admitirá o divórcio civil, pois considera o matrimônio religioso indissolúvel.
Não ignora ao mesmo tempo que hoje quase a metade dos casamentos já se romperam
pelo menos uma vez, inclusive entre os católicos.
O que o Papa fez? Lançar uma de suas
provocações. Sem pronunciar a palavra “divórcio”, que causa horror à Igreja
conservadora, falou de “separação”. E justificou um possível divórcio dos
cristãos com estas palavras: “Há casos em que a separação é inevitável, às
vezes até moralmente necessária, para afastar os filhos da violência e da
exploração”.
Francisco se referiu às “feridas
produzidas na convivência familiar”. Segundo ele, que gosta de ressaltar a
realidade da vida e das coisas sem petrificá-las com fórmulas dogmáticas,
trata-se daqueles casos nos quais a relação, “em vez de expressar amor, fere os
afetos mais queridos, provocando profundas feridas entre o marido e a mulher”.
Quem acaba pagando o preço mais alto por
essas violências familiares? Os filhos, diz Francisco. Por tudo isso, segundo o
Papa, às vezes essa separação conjugal, chame-se ou não divórcio, pode ser
“inevitável e moralmente necessária”.
Já é objeto de estudo na Igreja e fora
dela a forma escolhida pelo jesuíta para abordar e revisar algumas verdades
impostas pela Igreja ao longo dos séculos. Francisco não ataca diretamente
verdades consideradas dogmas de fé ou de moral. Ele o faz de forma oblíqua,
olhando não para a lei escrita, mas para a realidade de cada caso concreto da
vida.
Francisco não ataca diretamente verdades
consideradas dogmas de fé ou de moral. Ele o faz de forma oblíqua, olhando não
para a lei escrita, mas para a realidade de cada caso concreto da vida
Nisso ele se parece com o profeta de
Nazaré quando provocado pelos fariseus, que levaram até ele uma mulher
surpreendida em adultério e o lembraram de que a lei judaica mandava lapidá-la.
Jesus não nega a lei nem diz que precisa ser abolida. Ele se concentra naquele
caso concreto, chama a atenção para a hipocrisia dos acusadores, muitos deles
provavelmente mais adúlteros do que aquela mulher, e os provoca dizendo que
aquele que “estiver livre de pecado” pode começar a apedrejá-la. O Evangelho
conta que “todos se foram, a começar pelos mais velhos”. Jesus salvou a vida da
mulher adúltera sem condená-la e sem atacar a lei.
Passo a passo, pedra a pedra, Francisco
vai criando sua revolução na Igreja, dando primazia ao Evangelho da
misericórdia e da compreensão da realidade humana, em vez das frias condenações
e anátemas.
Tudo isso no estilo do Evangelho que
proclama a primazia do perdão sobre a severidade da lei e que recorda que
Jesus, de quem a Igreja não poderá nunca se separar sem trair suas origens,
veio “para os doentes e não para os sãos”, para “os pecadores e não para os
justos”.
Tomara esteja enganado. A Igreja e o
mundo necessitam com urgência das provocações e do exemplo de vida pobre e
despojada desse Papa compassivo em um mundo no qual os poderes – tanto o
político como o religioso –apodrecem enfermos de corrupção com sede de castigos
e vinganças. Fonte: http://brasil.elpais.com
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A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO. Nº 920. Arapiraca e o Carmelo.
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AO VIVO- EDIÇÃO: A Terra natal do Frei Petrônio de Miranda.
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Coronelismo, antena e voto: a apropriação política das emissoras de rádio e TV
Como a prática, recorrente no Brasil, de
políticos eleitos se tornarem proprietários de empresas concessionárias de
rádio e televisão ou de radiodifusores serem eleitos para cargos do poder
público e passarem a legislar em causa própria é prejudicial à democracia “Coronel” é patente militar em quase todos os
exércitos do mundo. O mais alto posto antes de “general” dentro das Forças
Armadas do Brasil, figura responsável pelo regimento de uma ou mais tropas ou
companhias. No Nordeste brasileiro, “coronel” também é sinônimo de grandes
proprietários de terra, “os coroné”, quem manda, aquele que dita as regras. Daí
o termo “coronelismo”, cunhado, em 1948, no clássico da ciência política
moderna Coronelismo, Enxada e Voto, do jurista Victor Nunes Leal, para dar nome
ao sistema político que sustentou a República Velha (1889-1930). Entre as
interpretações de documentos, legislações e dados estatísticos, o livro explica
como o mandonismo local se misturava aos altos escalões das estruturas de
poder.
Mais de 60 anos se passaram desde a
publicação de Victor Nunes Leal. E o coronelismo de outrora ganhou novos
contornos, entre eles, o chamado coronelismo eletrônico. Em período eleitoral,
nada mais importante do que revisitar essa história e analisar como o controle
de emissoras de rádio e televisão por políticos segue influenciando os rumos da
política brasileira.
Para provocar essa reflexão, a partir
desta semana, o Intervozes, com o apoio da Fundação Friedrich Ebert, publica
uma série de reportagens sobre o fenômeno da concentração dos meios sob o
controle de grupos políticos. Daqui até o final da campanha eleitoral vamos
mostrar por que e como esta prática é prejudicial à democracia, o que diz a
legislação e a quem cabe fiscalizar e punir os abusos, quem são os principais
partidos e grupos econômicos que violam a Constituição e se aproveitam desta
ilegalidade. Por fim, buscaremos conhecer como funcionam as regras em outros
países que desenvolveram mecanismos eficazes de combate ao coronelismo
eletrônico.
A publicação das reportagens é uma
contribuição do Intervozes à campanha Fora Coronéis da Mídia, lançada em julho
deste ano pela Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social
(ENECOS), com o objetivo de mobilizar os mais diversos movimentos sociais e
sensibilizar a sociedade e as esferas de poder sobre o tema.
Origens
do problema
De acordo com Victor Nunes Leal, durante
a Velha República, a milícia imperial estava a serviço dos grandes
proprietários de terras e escravos. Esta articulação entre quem comandava as
instituições públicas e os grandes fazendeiros passou a influenciar os
processos eleitorais. Sucessivos governos locais, estaduais e federais se
elegeram com o chamado “voto de cabresto”, a partir da relação estabelecida em
locais pobres. O coronelismo se sustentava, assim, em um sistema político de
troca de favores recíprocos, onde o voto é moeda de troca por benefícios
pessoais, em detrimento do interesse público e do bem comum, também
interpretados como clientelismo e fisiologismo.
Mesmo em meio a uma lavoura
economicamente decadente, os coronéis continuaram a manter uma moeda de valor
inestimável: a influência absoluta sobre a vontade e os destinos de empregados,
meeiros e todos aqueles envolvidos em torno do grande latifúndio. O valor dessa
moeda aumentou com a democratização formal do País, sobretudo no período
republicano quando se universaliza o direito ao voto: o “coronel” passa a ser
então o elo de ligação entre o poder estadual e os eleitores. Aos governos
cabia, como contrapartida, o reconhecimento da autoridade local e a alimentação
desse poder, através da cessão de alguns recursos: empréstimos, empregos e,
sobretudo, os favores das forças policiais. A liderança do coronel exige o
sistema representativo, e essa é a preocupação central de Victor Nunes ao longo
de seu livro. Ele destaca ainda que o sistema coronelista depende sobretudo de
um ambiente baseado na estrutura arcaica de concentração de propriedade do
latifúndio.
Com indicadores censitários da década de
1940, Victor Nunes aponta que os grandes latifúndios ocupavam mais de 75% em
área das terras disponíveis no País e que 70% da população ativa pertenciam à
categoria dos não-proprietários, cifra que chegava a 90%, somados os pequenos
proprietários, cuja situação era de total precariedade, na maior parte dos
lugares.
Apesar do coronelismo ser um episódio
histórico, consequências e processos culturais do sistema coronelista ainda se
fazem sentir na arcaica distribuição fundiária, de renda e de poder no Brasil.
Coronelismo
eletrônico
“Mais sofisticado, sutil e ainda mais
perverso”, na opinião do cientista político e professor da Fundação Getúlio
Vargas (FGV) Francisco Fonseca é o “moderno” fenômeno do coronelismo
eletrônico, ou seja, o uso de canais de comunicação de radiodifusão para
atender a interesses políticos – prática que perdura nos tempos digitais. Suas
origens estão no autoritarismo coronelista de décadas passadas e a prática
política traz inúmeras semelhanças com seus modelos de concentração de
propriedade. Só que, em vez do poder sobre as terras, o controle agora também
alcança as ondas do rádio e da TV.
No início da década de 1980, um repórter
da Rádio Rural, de Concórdia (SC), abria espaço para o depoimento do ex-senador
Atílio Fontana: “Senador, o microfone é todo seu”. O senador, ciente de suas
propriedades, disse a quem quisesse ouvir: “Não só o microfone, meu rapaz, mas
a rádio toda”. Este episódio foi narrado em matéria do Jornal do Brasil que,
naquela época, já denunciava o uso eleitoreiro de 104 estações de rádio e
televisão, espalhadas por 16 estados, de propriedade de deputados,
governadores, senadores ou ministros.
O cenário da época foi analisado pela
professora de comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Suzy
dos Santos, no artigo “o Coronelismo Eletrônico como herança do coronelismo nas
comunicações brasileiras”. Nos anos 80, o processo de abertura política do
regime militar dava seus primeiros passos. Depois de 15 anos de bipartidarismo,
em novembro de 1979, a Reforma Partidária foi aprovada. Os novos partidos
começavam a ser articulados.
“Também naquele ano, foram liberadas as
eleições diretas para governos estaduais. A concentração partidária, através
dos governadores, senadores e prefeitos ‘biônicos’ e da maioria do Congresso
com representantes da Arena, deu o tom da distribuição das outorgas de
radiodifusão para as elites políticas. Na reportagem do Jornal do Brasil,
81,73% das estações de rádio e televisão mencionadas eram controladas por
afiliados do PDS”, partido de remanescentes da Arena, explica Suzy.
Desde a denúncia no Jornal do Brasil, a
expressão “coronelismo eletrônico” tem sido usada com frequência na mídia e em
artigos acadêmicos para se referir ao cenário brasileiro no qual políticos
eleitos se tornam proprietários de empresas concessionárias de rádio e
televisão – ou, então, tão comum quanto, radiodifusores são eleitos para cargos
do poder público e passam, no caso dos eleitos para o Congresso Nacional, a
participar das comissões legislativas que outorgam os serviços e regulam os
meios de comunicação no país, legislando em causa própria. Não foram poucos os
casos na história. Todos passaram impunes.
Neste cenário, alerta Francisco Fonseca,
da FGV, as instituições políticas acabam cooptadas pelo poder econômico dos
grupos de comunicação. “O coronelismo midiático provoca o fim da diversidade. É
antidemocrático. Estimula as estruturas de oligopólios e as pautas
[jornalísticas] em nome de uma elite. É uma censura de mercado, econômica”,
afirma.
O impacto desta prática nos processos
eleitorais e na configuração das representações das instituições também é
significativo. O rádio e, principalmente, a televisão continuam sendo os meios
de comunicação de massa de maior alcance na população. A última PNAD (Pesquisa
Nacional de Amostra de Domicílios) mostrou que 97,2% das residências possuem
pelo menos um aparelho de televisão e 75,7%, um de rádio.
A esses meios de comunicação cabe o
papel de dar expressão às demandas e à diversidade da sociedade em todos os
seus aspectos, mas também de fiscalizar os poderes públicos e a iniciativa
privada. É também por meio de uma mídia livre que se estabelece a ligação e o
controle entre representantes e representados, como princípio fundamental para
o ambiente democrático. Por isso, a Constituição Federal garante o direito de
acesso à informação aos cidadãos e, em conjunto, a liberdade de imprensa.
Num quadro em que um meio de comunicação
de massa, que deveria cumprir uma função pública, é controlado por um político,
que pode influenciar sua linha editorial, a autonomia e independência deste
veículo para exercer o controle sobre o poder público estão totalmente
comprometidas. Ao mesmo tempo, o proprietário do veículo passa a ter o poder de
filtrar e restringir informações e conteúdos a serem divulgados, na medida de
seus interesses e de seus correligionários, numa prática de autopromoção.
Fica caracterizado, assim, um claro desequilíbrio
nos princípios de igualdade dos processos eleitorais, numa situação que pode
configurar até mesmo a violação de eleições livres, com candidatos e partidos
em condições totalmente desiguais de disputa.
Compreendendo o risco para a democracia
brasileira do controle de serviços públicos, como a radiodifusão, por
políticos, a Constituição Federal, em seu artigo 54, proíbe que deputados e
senadores sejam proprietários ou diretores de empresas concessionárias de
serviço público ou exerçam cargo ou emprego remunerado nesses espaços privados.
A medida vem sendo respeitada para diversos serviços, mas segue ignorada no
caso do rádio e da televisão (como veremos nas demais reportagens desta série).
No próximo artigo, você vai saber o que
pensam o Ministério das Comunicações, o Ministério Público e a Justiça
Eleitoral sobre esta prática. E saber como a sociedade civil e partidos
políticos contrários a este uso das concessões de rádio e TV estão lutando
contra o problema.
*
Carlos Gustavo Yoda é jornalista e integrante do Intervozes - Coletivo Brasil
de Comunicação Social.
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terça-feira, 30 de junho de 2015
AO VIVO- Comunidade Capim, Lagoa da Canoa-AL.
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Medjugorje, as dúvidas do Santo Ofício: “Não há nada de sobrenatural”.
As aparições de Medjugorje não teriam
nada de sobrenatural. Proibição aos seis videntes de participarem das reuniões.
Imposição aos bispos de não fazer que sejam convidados, nem de acolhê-los. São
estas as orientações mais importantes que emergiram da reunião de quarta-feira
passada na Congregação para a Doutrina da Fé, presidida pelo cardeal Gerhard
Ludwig Mueller, no Vaticano. Um encontro muito esperado, sobretudo após a
consignação, da parta da Comissão de inquérito presidida pelo cardeal Camillo
Ruini, da documentação coletada e posta à disposição do Papa. A reportagem é de
Marco Ansaldo, publicado pelo jornal La Repubblica, 26-06-2015. A tradução é de
Benno Dischinger.
Um aniversário amargo (o 34°) para as
aparições no santuário em Herzegovina, visitado a cada ano por milhões de
peregrinos. Na reunião o lugar sagrado não foi posto em discussão, nem muito
menos a relação entre os fiéis e o santuário. O caso controverso se refere
quando muito às visões e o giro periodicamente realizado pelos seis videntes.
Após as palavras críticas pronunciadas pelo Papa Francisco sobre a genuinidade
das aparições aos 6 de junho passado no voo de retorno de Sarajevo, anteontem
foi a vez da plenária do ex Santo Ofício. Diversos pontos foram tocados.
Segundo as orientações emersas as
aparições de Medjugorje não teriam nada de sobrenatural e sua mensagem seria
realmente considerada como inconsistente sob o perfil teológico. Os seis
videntes têm agora a proibição expressa de participar em reuniões e de divulgar
mensagens que eles sustentem provir de Nossa Senhora. Além disso, os bispos são
convidados a não acolhê-los para assembleias dos fiéis.
Mas, o que realmente impressionou os
membros da Congregação é um dos elementos fortes da investigação conduzida por
Ruini. Ou seja, a consistente circulação de dinheiro em torno do fenômeno
Medjugorje. A suspeita é que possa haver operações de lucro sobre os peregrinos
que se reúnem em grande número nas reuniões dos videntes no exterior, mas
também fortes interesses econômicos locais em jogo para hotel e agências de
viagem. Um dado que, chegado aos ouvidos de um Pontífice que prega a sobriedade
como Jorge Bergoglio, não escapou do novo curso no Vaticano.
Algumas fontes próximas a Medjugorje
falam agora de “cordão sanitário erguido em torno dos videntes”, mas convidam a
distinguir a sacralidade do lugar mariano das presumidas aparições. A reunião
de quarta-feira passada não será, em todo caso, a última reunião dedicada ao
caso. Haverá de fato mais uma, provavelmente após o verão. Depois disso chegará
o pronunciamento do Papa. Mas o seu pensamento sobre o caso já é muito preciso.
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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34° ano das aparições no santuário em Herzegovina,
cardeal Gerhard Ludwig Mueller,
Medjugorje,
Nossa Senhora e as Aparições,
Olhar Jornalístico,
Papa Francisco,
santuário em Herzegovina
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