Total de visualizações de página

Seguidores

sábado, 31 de outubro de 2015

TODOS OS SANTOS: A Palavra do Frei Tinus Van Balen.

Dossiê - Mártires de El Salvador: Seis Padres Jesuítas e Duas Mulheres foram Assassinados.

Há exatos 20 anos, seis padres jesuítas e duas mulheres foram assassinados a sangue frio no campus da Universidade Centro-Americana José Simeón Cañas (UCA), em El Salvador. Entre eles, estavam o reitor da universidade, Ignacio Ellacuría, e o vice-reitor, Ignacio Martín-Baró. Paramilitares do Exército Salvadorenho invadiram a residência dos jesuítas com o objetivo único de matar aqueles que incomodavam a ditadura. Para recordar o martírio e a luta destes militantes que almejavam a liberdade e o bem social de El Salvador, a IHU On-Line desta semana preparou o dossiê a seguir. Leia um breve perfil dos mártires e, em seguida, algumas entrevistas que lembram seu legado e memória.

Por: Patricia Fachin
O Instituto Humanitas Unisinos – IHU também exibirá o debate Memory and it Strength: The martyrs of El Salvador (A memória e sua força: Os mártires de El Salvador), que irá ocorrer no Boston College,  nos EUA, no próximo dia 30 de novembro. Mediados pelo jesuíta e reitor emérito do Boston College, J. Donald Monan, Noam Chomsky e o jesuíta, teólogo Jon Sobrino irão discutir a importância dessa memória. A exibição no IHU corre em 10 de dezembro, dia Internacional dos Direitos Humanos, em um evento que marca a inauguração da sala Ignacio Ellacuría e companheiros, no IHU. Confira.

Ignacio Ellacuría (1930-1989)
Ignacio Ellacuría nasceu em Portugalete, província de Vizcaya, Espanha, no dia 9 de novembro de 1930. Foi o quarto de cinco filhos. Depois de concluir o ensino primário na cidade natal, Ellacuría continuou os estudos no Colégio dos Jesuítas de Tudela. Em 1949, junto com outros cinco noviços, foi enviado para o noviciado da Companhia de Jesus em Santa Tecla, El Salvador, e fez os votos de pobreza, obediência e castidade.
Completou seus estudos de Ciências Humans e estudou Filosofia em Quito. Na Áustria, cursou Teologia e foi influenciado pelos ensinamentos de Karl Rahner.  No ano de 1961, foi ordenado sacerdote em Innsbruck e fez os últimos votos como jesuíta em 1962, em Portugalete, onde nasceu. Nesta época, também realizou o doutorado em Madri, na Universidade Complutense, sob a direção de Xavier Zubiri,  dando origem à tese La principialidad de la esencia en Xavier Zubiri.
Em 1967, Ellacuría retornou a El Salvador para atuar como professor na Universidade Centro-Americana (UCA). Nos primeiros anos da década de 70, foi responsável pela formação dos jovens jesuítas da Província da América Central. Neste período, também foi nomeado Diretor do Departamento de Filosofia da UCA e, posteriormente, em 1973, publicou o livro Teologia Política, editado também em inglês, em Nova York, sob o título Freedom Made Flesh: The Mission of Christ and His Church. No ano seguinte, Ellacuría fundou o Centro de Reflexão Teológico da UCA. Assumiu a reitoria da UCA em 1979.

Confrontos em El Salvador
Nomeado diretor da revista Estudios Centroamericanos (ECA), Ellacuría, em 1976, publicou o editorial intitulado “A sus órdenes, mi capital”, o qual ocasionou a retirada do apoio do governo salvadorenho à UCA e gerou a violência paramilitar contra a Universidade. Ellacuría foi exilado na Espanha entre 1977 e 1978. No ano seguinte, El Salvador iniciou uma longa guerra civil que durou doze anos. Os jesuítas começaram a receber ameaças de morte e, em 24 de março de 1980, o arcebispo de San Salvador, Oscar Romero  foi assassinado durante a celebração da Eucaristia. Neste mesmo ano, Ellacuría retornou ao exílio. Na Espanha, participou da primeira reunião das religiões abraâmicas, em 1987. No encontro, expressou publicamente a necessidade de encontrar um terreno comum para superar os conflitos em El Salvador. Defendeu assim, a contribuição da Teologia da Libertação nas religiões abraâmicas para superar o individualismo e o positivismo.  
Ellacuría retornou a El Salvador em 13 de novembro de 1989 para tentar mediar a paz. Em 16 de novembro do mesmo ano, foi morto por um pelotão do Batalhão Atlacatl das Forças Armadas de El Salvador, na residência da Universidade UCA, junto com outros cinco jesuítas: Ignacio Martín-Baró, Segundo Montes, Amando López, Juan Ramón Moreno e Joaquin López y López. Também foram mortas Elba Julia Ramos, funcionária da residência, e sua filha, Celina, de 15 anos.

Obras
Ellacuría publicou várias análises de conjuntura da realidade salvadorenha e artigos sobre filosofia e teologia. Negou-se a publicar livros pela Editora UCA, pois considerava isto antiético. Seus livros foram publicados postumamente. Entre eles, citamos Filosofía de la Realidad histórica; Veinte años de historia en El Salvador; Escritos filosóficos; Escritos teológicos; e Escritos universitarios.

Ignacio Martín-Baró (1942-1989)
Ignacio Martín-Baró nasceu em 7 de novembro de 1942, em Valladolid, na Espanha. Ingressou no noviciado da Companhia de Jesus no ano de 1959, sendo transferido para Santa Tecla, em El Salvador, onde concluiu o noviciado em 1961. Escritor e professor universitário, publicou onze livros e uma vasta lista de artigos científicos e culturais em diversas revistas latino-americanas e estadunidenses. Regressando às raízes históricas da psicologia, ele falava em psicologia social e psicologia da libertação e argumentava que sobre o psicológico recai a tarefa de ajudar a consciência humana a ter uma compreensão maior de sua identidade pessoal e social. Confira a seguir alguns fatos relevantes da vida de Martín-Baró.
1965 - Obteve o bacharel em Filosofia e Letras, pela Universidad Javeriana, em Bogotá, Colômbia. Depois de morar alguns anos em Bogotá, retorna a El Salvador;
1967 - Inicia sua carreira de professor acadêmico na UCA;
1970 - Conclui o bacharelado em Teologia em Eegenhoven, na Bélgica;
1975 - Concluiu licenciatura em Psicologia pela Universidade Centro Americana Simeón Cañas (UCA);
1979- Conclui doutorado em Psicologia Social;
1981 - Assume o cargo de vice-reitor acadêmico da UCA;
1986 - Fundou e foi diretor do Instituto Universitario de Opinión Pública – IUDOP, além de atuar como professor convidado em muitas universidades. Também foi vice-presidente da Sociedad Interamericana de Psicologia.

Segundo Montes (1933-1989)
Segundo Montes nasceu em Valladolid, em 15 de maio de 1933. Permaneceu na cidade natal até 1950, onde realizou seus primeiros estudos e, em seguida, ingressou no noviciado de Santa Tecla, em El Salvador. Dois anos depois, concluiu o noviciado e foi enviado para Quito cursar Ciências Humanas na Universidad Católica. Ficou conhecido entre os colegas por seu desejo de compreender melhor a realidade social salvadorenha. Dedicou-se aos estudos sobre a estratificação social e os militares. Identificou ainda, na década de 80, um fenômeno curioso: a baixa do dólar, ou seja, os salvadorenhos que viviam nos EUA não tinham mais condições de enviar dólares para os familiares que residiam em El Salvador. Este fato o alertou sobre a importância da emigração salvadorenha para a economia nacional. Confira alguns aspectos de sua história.
1957 - Concluiu o curso de Licenciatura em Filosofia em Quito;
1964 - Obteve o título de Teologia em Innsbruck, na Áustria;
1957-60, 1966-76 - Desempenhou vários cargos, inclusive foi reitor do Colégio Externado de San José, em El Salvador;
1970-76 -Decano da Faculdade de Ciências do Homem, na UCA;
1978 - Concluiu o doutorado em Antropologia Social em Madri;
1978-82 - Foi chefe de redação da revista Estudios Centroamericanos (ECA);
1985 - Fundou e coordenou o Instituto de Derechos Humanos - IDHUCA. Pesquisou sobre direitos humanos e denunciou muitas situações de refugiados.

Joaquín López y López (1918 – 1989)
Joaquin López y López nasceu em Chalchuapa, em El Salvador, no dia 16 de agosto de 1918. Iniciou seus estudos em Santa Ana e os concluiu em Santa Tecla, em El Salvador, no ano de 1938. Nesta mesma data, entrou para o noviciado da Companhia de Jesus, em El Paso, no Texas, EUA. Formou-se em Ciências Humanas e Filosofia em meados da década de 40. Retornou para a América Central e permaneceu por alguns anos no Colégio Externado, em El Salvador. Em 1949, mudou-se para Saint Mary’s, no Kansas, onde estudou Teologia. Enviado para a Espanha em 1951, foi ordenado sacerdote no ano seguinte. Ficou conhecido pela fala: “Se teus projetos são para cinco anos, semeie trigo; se são para dez anos, semeie uma árvore; mas se são para cem anos, eduque o povo”. Conheça outros aspectos da vida de López y López.
1961 – Coordena a construção da Capela do Colégio Externado de San José;
1964 – Trabalhou na campanha de aprovação da lei de universidades privadas;
1969 – Fundou e coordenou a "Fe y Alegría", um movimento de educação popular integral, o qual dirige setores empobrecidos e excluídos da sociedade. A organização dispõem de  30 centros educativos de 8 departamentos. O projeto atendeu 48.000 beneficiados até 1989.

Armando López (1936 – 1989)
Armando López nasceu em Cubo de Bureda, Espanha, no dia seis de fevereiro de 1936. Entrou para o noviciado em 1952. Como seus colegas jesuítas, também foi enviado à Santa Tecla, em El Salvador. Em Quito, estudou Filosofia e Ciências Humanas na Universidad Católica e concluiu os cursos no final dos anos 50. Foi enviado para a Nicarágua, onde atuou como professor de matemática no Colégio Centro América de Granada. Cursou Teologia em Dublin, na Irlanda, e foi ordenado sacerdote no ano de 1965. Realizou seu doutorado na Universidad Gregoriana, em Roma, entre 1967 e 1968. Nos momentos mais duros da repressão ditatorial de El Salvador, Amando López abriu as portas do colégio para acolher famílias necessitadas, professores e seus familiares. Confira alguns aspectos de sua vida.
1971-72 – Concluiu o doutorado em Ciências Religiosas na França, foi reitor do Seminário San José de La Montaña;
1973 – Atuou como docente no curso de filosofia na UCA, em El Salvador;
1979 – Foi reitor da UCA de Manágua;
1984 – Foi professor de Teologia e Filosofia e coordenador do curso de Filosofia da UCA, em El Salvador.

Juan Ramón Moreno (1933-1989)
Nasceu em Villatuerta, Espanha, no dia 29 de agosto de 1933. Seus primeiros estudos foram realizados em Bilbao, entre 1938 e 1943. Entrou para o noviciado da Companhia de Jesus de Orduña, em 1950, e, um ano depois, foi transferido para Santa Tecla. Estudou Ciências Humanas e Filosofia e foi ordenado sacerdote em Saint Mary’s, no Kansas, EUA, em 1964. No ano de 1958, ao concluir os estudos em Quito, retornou para a Nicarágua, onde foi professor de química no Colégio Centro América de Granada, na Nicarágua.
No início dos anos 1980, Moreno participou com entusiasmo na campanha de alfabetização da Nicarágua. Também foi especialista em moral e fez uma síntese entre as ciências e a moral, unindo bioética com a moral cristã. Confira mais alguns aspectos da vida de Moreno.
1965 – Concluiu o curso de Teologia em Missouri;
1971 – Iniciou sua carreira como docente na UCA, em El Salvador; 
1976-80 – Fundou e coordenou o Centro Ignaciano de Centroamérica no Panamá;
1980 – Coordenou o Instituto de Ciências Religiosas na Nicarágua;
1985 – Ensinou Teologia na UCA, organizou a biblioteca do Centro de Reflexión Teológica, supervisionou a construção do Centro Monseñor Romero.

Elba y Celina Ramos
Elba nasceu em Santiago de Maria, no dia 5 de março de 1947. No final da década de 1960, ela conheceu seu esposo Obdulio. Durante alguns anos, eles viveram em uma fazenda, nos arredores de Santa Tecla, El Salvador. No ano de 1973, nasceu Celina, a terceira filha do casal – o primeiro filho nasceu morto e o segundo faleceu meses após o nascimento. Até 1985, a família morou em diferentes regiões de El Salvador, sempre em busca de empregos que garantissem melhores condições de vida. Neste ano, Elba trabalhava como cozinheira na residência dos jesuítas, em Antiguo Cuscatlán, município de El Salvador. Quatro anos mais tarde, em 1989, Obdulio conseguiu um emprego como jardineiro da UCA. Ambos trabalhavam com os jesuítas e moravam numa casa recém-feita, junto ao portão de entrada da residência, na avenida Eistein, em El Salvador. 
No dia 16-11-1989, Obdulio foi o primeiro a encontrar o corpo da esposa, da filha e dos jesuítas assassinados por paramilitares do Exército salvadorenho.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

CARMELITAS DESCALÇOS: Um olhar Profético.

Comunidade: Compartilhando a experiência de Deus

FREI JOSEPH CHALMERS, O. CARM.
             Comunidade ou fraternidade é um aspecto essencial da nossa vocação Carmelita. Nós todos sabemos isto, mas todos temos consciência que a vida comunitária está longe da perfeição (de ser perfeita). Nós sabemos que na Ordem há toda sorte de interpretações a respeito da natureza da comunidade. Nós temos comunidades que rezam juntas, comem juntas e recreiam juntas tudo se baseando na regra (tudo numa base regular). Nós temos outras comunidades onde os membros nunca rezam juntos e raramente se encontram exceto quando se cruzam pelo corredor (passam um pelo outro no corredor). Nós temos comunidades grandes e comunidades pequenas de dois (de duas pessoas). Outros carmelitas vivem sozinhos ou por escolha pessoal ou devido a uma particular determinação apostólica de sua Província.
            Eu não vou expor nenhum modelo particular de comunidade. Eu acredito que a Ordem necessita expressar uma variedade de estilos de vida comunitária. Isto acrescenta à riqueza da Ordem (isto enriquece a Ordem). Na Ordem nós temos diferentes pessoas com diferentes necessidades e diferentes expectativas e então é bom Ter diferentes estilos para responder a estas diferenças na natureza humana.
            Em vez disso, eu gostaria de olhar o por que da vida comunitária, apesar se ser uma parte essencial de nossa vocação nem sempre traz grande alegria aos membros e por que é compreensível que algumas pessoas possam procurar evitar viver em comunidade.
            O subtítulo da Ratio é “Uma Jornada de transformação” e que descreve bem a meta da vida Cristã. Nós estamos para ser transformados em Deus e esta transformação deve pelo menos começar (já começar) durante nossa existência terrestre. Nós não somos transformados por nós mesmos, mas nos e através de nossos relacionamentos (relações) com as outras pessoas. O ser humano necessita um do outro; este é o caminho que nós fizemos e é através da interação com outros seres humanos que nós crescemos emocionalmente. Tradicionalmente a vida eremítica é considerada perigosa para iniciantes e que somente os avançados espiritualmente poderiam tentar viver este tipo de vida (?). Apesar do fato que a interação com o outro ser humano seja essencial para a saúde emocional, espiritual, e psicológica, ela freqüentemente causa grandes problemas. Algumas pessoas poderiam causar problemas até mesmo numa casa vazia (?)! O problema, eu penso, repousa na estrutura da natureza humana, que é falha. Os escritores bíblicos contam-nos a estória da Queda para explanar a triste situação da humanidade. Teólogos através dos tempos tentaram encontrar uma explicação adequada para o problema. Eu estou sugerindo uma possibilidade e neste caminho (deste modo) talvez entender mais o que pode ser feito a respeito do problema.
            Nós nascemos dentro de um mundo decaído. Como nós viemos ao mundo, nós assumimos a condição humana que significa que nos experimentamos como separados de Dhheus, que é a fonte de todo ser, e fora de quem o coração humano não pode ter (finalmente) nenhuma felicidade. A jornada espiritual é o retorno à nossa Fonte. (Assim) nossos corações estão sem descanso até que eles encontrem seu descanso em Deus. Ao nascermos nós estamos não completamente formados e a habilidade de usar a razão chega lentamente. Um bebê é indefeso e assim é necessitado de amor, de sentimento de segurança e ter suas necessidades básicas  satisfeitas. O coração humano, embora mesmo no corpinho de um bebê é uma imensa caverna. O coração humano e feito por Deus e somente Deus pode completamente e finalmente satisfaze-lo. As necessidades de um bebê por amor, por segurança e por sobrevivência são infinitas e nem pais, por mais maravilhosos que sejam, podem satisfazer completamente estas necessidades. Como uma criança cresce, ele ou ela começa a compensar por aquilo que é sentido como falta (carência).Objetivamente uma criança pode parecer ter tudo mas é a experiência subjetiva que é importante. Se eu de fato não me sinto amado, não me sinto seguro, não sinto algum controle do meu ambiente, (whatever the reality might be), eu encontrarei caminhos para compensar por aquilo que eu sinto que está (faltando). Muito rapidamente a criança desenvolve pequenos caminhos de buscar afeto, de ganhar controle de sua vida e ficar segura (making sure) que ele ou ela sobreviverá em todas as circunstâncias. Isto que a criança “acredita” a nível profundo trará felicidade                                                                                                         Com a chegada da razão, esta faculdade é usada para dar suporte aos caminhos que o indivíduo encontra para obter felicidade (?). A família e o background familiar também dão suporte a estes métodos compensatórios, por exemplo, se “meu pai é maior que o seu pai”, ou se “minha escola é melhor que a sua escola”, ou se “o meu pais é melhor que o seu pais”, ou se “a minha Ordem é maior que a sua Ordem”, ou se “a minha religião é melhor que a sua religião”, eu  sentirei segurança, felicidade e mais no controle da minha vida. Estes caminhos de busca de felicidade podem ser chamados de falso eu (falso self).
            Eu acredito que o conceito de falso eu é crucial para a jornada espiritual.  O chão (ground) de todo ser é Deus. Deus é a fonte do meu verdadeiro eu. O falso self é à parte de mim que se sente (?)separada de Deus e que então busca felicidade em caminhos que nunca satisfarão. A jornada espiritual envolve a (implica na) morte do falso eu e o nascimento do verdadeiro eu. O falso eu é fundamentalmente autocentrado (self-centred), buscando fortalecer (bolster) o ego frágil em (por) todos os caminhos possíveis. O falso eu se desenvolve em qualquer ambiente e procurará rodear/cercar-se a si mesmo com símbolos de estima, segurança e controle que são buscados (prized) no ambiente. Conseqüentemente em uma sociedade rica, uma pessoa pode procurar cercar-se com carros, ou roupas caras; em um ambiente pobre, o indivíduo pode sentir-se melhor se ele tem uma galinha quando o seu vizinho não tem nenhuma. Apesar (whatever) da situação (das diferenças), o processo é o mesmo (?).
            O que tudo isto tem a ver conosco? Deixem-me contar uma estória para tentar explanar. Era uma vez, havia um jovem rapaz de uma família católica, mas este jovem tornou-se relaxado em sua prática religiosa (de fé) e deu-se aos prazeres do mundo. Apesar de ir à igreja ele freqüentava bares. Toda noite juntava-se com seus amigos em um bar e bebia muita cerveja. Um por um se seus amigos cairiam de bêbados, mas este jovem rapaz era muito forte e tinha muita capacidade para o álcool. Seu maior prazer era sair do bar ao final da noite e deixar seus amigos bêbados caídos ao chão. A mãe deste jovem nunca cessou de rezar por ele e um dia suas orações foram ouvidas (encontraram resposta). Ele estava de repente convertido de volta a Deus. Ele foi confessar-se e começou a ir à igreja todos os dias. Logo, ele estava insatisfeito com isso e queria fazer mais por Deus. Então ele finalmente se tornou um monge trapista. Ele era um modelo de monge e ninguém poderia (conseguia) encontrar nele falta alguma. Quando chegou a quaresma, começou o grande jejum monástico. Os monges comem somente pão e água durante o dia (throughout). Naturalmente, os monges idosos e doentes recebiam permissão especial para comer um pouco extra - alguma carne ou ovo.  No transcorrer (?) da quaresma, gradualmente, um por um dos monges foram sucumbindo (?) - e a cada um foi dada uma permissão especial para comer um pouco extra.  Todos, exceto um. Nosso jovem amigo assumiu o jejum monástico perfeitamente. Ao final da Quaresma, ele olhou ao redor no refeitório aos seus colegas monges e experimentou o mesmo sentimento que costumava ter quando se levantava do bar deixando seus amigos deitados (?) no chão. Ao invés de beber seus amigos debaixo da mesa, ele agira estava jejuando-os debaixo da mesa. O jovem rapaz tinha mudado o grande objetivo de sua vida, mas seu coração não mudou. Lá estava um coração mundano batendo sob um hábito religioso.
            O falso eu muito facilmente se adapta à Vida Religiosa e está/sente-se (?) muito em casa nesse ambiente. Por isso os religiosos, sob a dominação/ Domínio do falso eu, procurará felicidade colhendo (?) os símbolos de estima, segurança, e controle que são prevalentes na Vida Religiosa. É de se esperar que todos superiores e formadores estejam livres do falso eu, mas eu não apostaria muito dinheiro nisso! É possível buscar tais posições de autoridade porque elas oferecem o que o falso eu procura (?).\ - estima, segurança, e controle.
             O problema com o falso eu é que suas motivações nos estão escondidas a menos que nós levemos seriamente o chamado de Cristo para segui-lo na jornada espiritual. O seguimento de Cristo conduz inevitavelmente à cruz. Nossa tradição carmelitana fala da noite escura. Em vista de que o verdadeiro eu, feito à imagem e semelhança de Deus, possa nascer, o falso eu deve morrer. Isto naturalmente envolve abraçar a cruz e passar através da noite escura. Uma parte da escuridão é causada/provocada (?) quando começamos a ver que nossa motivação não era tão santa quanto nós pensávamos que era e quando nós começamos a compreender/entender como é difícil muda-la.
            Contemplação não é simplesmente um elemento do carisma Carmelitano entre outros. Ele é o elemento que sustenta todos os outros juntos. Ser um contemplativo quer dizer tomar a sério o chamado de Jesus para segui-lo. E ser/estar/estando (?) preparado para perder a própria vida em vista de recebe-la de volta das mãos de Deus. Contemplação não é um prêmio por ser muito santo; ela é uma necessidade (?) em vista de ser verdadeiramente santo, (???) isto é, ser parecido com Deus. O contemplativo é um amigo maduro de Jesus Cristo e está querendo (desejando !) livrar-se do falso eu para que o verdadeiro eu possa nascer. A purificação e transformação, que ‘e parte do processo contemplativo, vai sempre (?) mais profundo se nós estamos querendo cooperar. O falso eu está intervolvido (?)na própria (?) estrutura do nosso ser e então o processo de purificação é um longo processo (?). Um amigo meu usa o exemplo de uma mulher tricotando uma roupa. Quando ela está quase pronta, ela percebe que no meio da peça, há um ponto errado. O que ela faz? Ela pode deixa-la como está com o ponto errado no meio ou começar a desfazer tudo. Deus escolhe último processo (?) porque cada um de nós é para ser uma perfeita obra de arte. O desfazer é a experiência da noite escura em suas várias fases.
            Os irmãos com os quais nós vivemos em comunidade são presentes de Deus para nós porque eles terão uma grande parte a desempenhar em nossa purificação. Nós nos tornamos conscientes do nosso falso eu, através do relacionamento com outras pessoas, nossos programas (?) por felicidade recebem interferências. Quando nossos desejos por estima, segurança e controle são frustrados nós temos uma reação emocional. Se nós nos permitimos nos tornar conscientes do que estamos sentindo e por que nós começaremos a aprender/perceber quais são as nossas reais motivações, lembrando que (a less than pure motie may lie hidden under a veneer of piety). Minhas emoções me ensinarão muito se eu estou querendo aprender.
          Nenhum de nós é perfeito e todos nós podemos fazer o melhor de acordo com as circunstâncias. Embora isto seja muito importante ter em vista para sermos fiéis à nossa vocação, a qual conduzir-nos-á ao deserto onde nós teremos que deixar todos os nossos suportes em vista de ouvir a voz de Deus que fala aos nossos corações. De acordo com a Regra nós devemos colocar a armadura de Deus em vista de proteger-nos do inimigo. No deserto, nós ficamos face a face com o nosso eu; na luta, pode ficar um só vitorioso. O falso eu é covarde e não quer lutar e então fará tudo que pode para esconder-se e não vir à luz (não ser revelado/deixar-se revelar). O falso eu se desenvolve na escuridão porque ele pertence às trevas, mas nós somos filhos da luz e na luz o nosso verdadeiro eu crescerá. Nós nos tornarmos conscientes de que todos os velhos caminhos de busca da felicidade foram condenados ao fracasso e que nossos corações podem estar satisfeitos somente em Deus e por Deus.
            É vital para nós começar a reconhecer quando o nosso falso eu está trabalhando e fazer alguma coisa a respeito. Isto é um verdadeiro ascetismo - muito mais difícil e muito mais frutuoso do que parar com o açúcar na quaresma! Nós podemos nos tornar conscientes levando uma vida reflexiva e ouvindo nossas emoções. Talvez ao final do dia, nos possamos olhar para trás para a nossa experiência e perguntar se a causa de uma upset emocional era honestamente raiva ou porque meu desejo por felicidade foi frustrado. Gradualmente nós podemos começar a notar o falso eu trabalhando imediatamente. Tão logo quanto nós nos conscientizamos da influência do falso eu, nós podemos oferecer a Deus nossos sentimentos frustrados e pedir a Deus para que complete o que falta ( a lacuna!) com o Seu amor.
             A Ratio nos lembra que de acordo com a nossa Regra, nós somos para viver nossa vocação contemplativa juntos, em comunidade, não de forma individualista (34). Viver em comunidade é pretender ajudar-nos (reciprocamente) a tormarno-nos amigos maduros de Jesus Cristo. Isto ajuda imensamente se nós estamos desejando aceitar o que nós aprendemos a respeito de nós mesmos por meio de nossa interação com os outros. Eu digo que o falso eu sedesenvolve na escuridão (nas trevas). Uma comunidade orante (SHED LIGHT ON) identificará o falso eu rapidamente. Nós descobriremos que nós não somos verdadeiramente muito pacientes e tolerantes (AFTER ALL). Nós descobriremos a raiva que não sabiamos que possuíamos. Ser casado envolve o mesmo processo só que de um jeito diferente. (RELATING) Compartilhar com outras pessoas (BRING OUT) manifesta o falso eu. O fenômeno do santo fora de comunidade e diabo dentro dela é facilmente entendido quando nós olhamos para isto a partir da perpectiva do falso eu. Com os de fora, se pode manter uma distância e o falso eu não será facilmente percebido mas vivendo numa proximidade intensa com os outros significa que nossos traços negativos se tornam óbvios muito rapidamente.
         Viver em comunidade nos ensinará muito sobre nós mesmos se nós estamos querendo aprender. Este é, naturalmente o maior problema. Esta é uma grande tentação: acusar os outros pelos problemas na comunidade. Nós frequentemente projetamos nossos próprios problemas nos outros. Nós podemos escapar da verdade que nos é apresentada simplesmente nos afastando da vida comunitára e nos tornando individualistas Nossas emoções são nossas maiores amigas, elas nos dirão, se nós escolhemos aceitar, quais são nossos verdadeiros valores. se nós estamos com raiva comm a nossa comunidade ou algum membro em particular, é possível que nossa raiva seja plenamente justificada, mas isto é muito provavelmente que a fonte seja algum problema (questão assunto) interior não resolvido.  O falso eu está procurando por infinita soma de estima, segurança e controle e enquanto estas necessidades não são satisfeitas, ela não será feliz (AT ALL). Só porque nós dizemos algumas orações volta e meia e lemos um pouco a Escritura, não quer dizer que nosso falso eu está morto. Longe disso! A morte do falso eu, eu acredito, é o que Jesus está falando no evangelho quando Ele nos fala que aqueles que querem salvar suas vidas perdelas-hão e somente aqueles que estão preparados para perder sua vida por Ele e pelo seguimento do Evangelho, salvalas-hão.Toda a jornada espiritual é uma luta com o falso eu até que nós sejamos transformados finalmente em Cristo. Eu não penso que nós deveriamos reivindicar sermos transformados rápido demais!
            Um jeito de ir superando algumas questões do falso eu é receber aconselhamento e terapia. estes podem ser de muita ajuda mas elas não colocarão o falso eu à morte por si mesmas. Esta é uma questão espiritual e ainda que nós possamos nos valer das contribuições da moderna psicologia para ajudar-nos, elas não oferecerão a resposta completa. A resposta final  é seguir Jesus Cristo até a cuz e além até a ressurreição.
            Nós estamos lembrado na Ratio (35) que diariamente reunidos para a Eucaristia e a Liturgia da s Horas, na qual nos movemos das celas individuais para o oratório, é símbolo do constante esforço para sair do nosso isolamento e ir ao encontro dos outros em vista de construir comunidade com eles. Se diz que a Eucaristia transforma indivíduos em irmãos. Isto é verdade em teoria mas a Eucaristia não faz mágica. Isto requer nossa ativa cooperação e compromisso com o que a eucaristia significa. O fato que um acomunidade reza junto é obviamente uma boa coisa, mas celebrar a Eucaristia e o Ofício Divino juntos cada dia  isto não faz necessariamente uma comuunidade orante. Os membros devem permitir que a oração comunitária faça o seu trabalho. Eles devem usar a "força proporcionada pela Palavra e pelo Pão (Ratio 35) para continuar a luta com o falso eu assim ele não irá projetar seus próprios prlblemas internos na comunidade e assim eles poderão retornar com o coração purificados para a comunidade.           
         Todas a sugestões nas Constituições a respeito da vida comunitária, com encontros comunitários regulares, são de grande ajuda e proporcionam um caminho seguro para uma comunidade saudável. Claro que encontros comunitários são uma arena onde o falso eu pode realmente tornar-se muito ativo. Os membros da comunidade estão todos em diferntes estágios de maturidade psicológida e espiritual e a não realização de encontros comunitários será perfeito. É importante não abandoná-los por causa das dificuldades, um encontro comunitário regular é ummeio de sanar as dificuldades na vida comunitária e de dar aos indivíiduos  o espaço e o tempo par ex pressar o que eles sentem. Se o encontro comunitário é acontece só raramente, isto pode ser (EVEN MORE) ainda mais difícil do que precise ser porque os irmãos tentam expressar todos os seus desabafos em um pequeno espaço de tempo uma vez que em outra oportunidade pode não apresentar-se a si mesmo. Eu lembro a vocës que desde o começo a comunidade ou fraternidade é um aspécto essencial da vocação Carmelitana. Ela é por simesma parte da nossa missão e serviço para a Igreja e para o mundo.Ela presta testemunho para o mundo no qual o individualismo é abundante que comunidade verdadeira é possível, embora nos tenhamos que lutar e nunca  chegaremos à comunidade perfeita.
            Vocês são responsáveis por formar Carmelitas para a vida comunitária. Naturalmente há toda sorte de hábitos humanos que os indivíduos devem desenvolver em vista de viver de modo feliz em comunidade e em vista de se tornarem pessoas com quem os outros possam viver felizes. Contudo, esse pode nunca ser o foco total a formação para a vida comunitária. A menos que uma séria atenção seja dada para superar os problemas do falso eu, a principal dificuldade na via comunitária permanecerá intocada.
          Como carmelitas nós somos membros de uma fraternidade internacional. Nós viemos de muitas e diferentes regiões e culturas e nós estamos ligados(vinculados) por uma espiritualidade comum. O desafio expresado diante de nós nas Constituições "A vida fraterna modelada na comuniodade de Jerusalém é uma encarnação gratuita do amor de Deus, internalizada através de um processo contínuo pelo qual nós esvaziamo-nos de todo egocentrismo -que pode afetar tanto grupos tanto quanto indivíduos- assim nos movemos em direção à autëntica centralidade em Deus. Neste caminho nós expressamos a natureza carismatica e profética da vida consagrada Carmelitana
(MOVENDO MESCLANDO) harmoniosamente nele o carisma pessoal de cada  membro,

no serviço da Igreja e do mundo"

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

AMIGOS

“No clero católico há muitos homossexuais reprimidos que odeiam quem é gays como eles”. Entrevista com Krzysztof Charamsa

O padre e teólogo polonês, Krzysztof Charamsa, acaba de protagonizar uma das “saídas do armário” mais clamorosas da história do Vaticano. Morando em Barcelona, faz, nesta entrevista exclusiva, uma duríssima acusação contra a Congregação para a Doutrina da Fé e seu prefeito, o cardeal Müller, a quem acusa ser homofóbico e de tentar “sabotar o pontificado de Francisco”. A entrevista é de José Manuel Vidal e publicada por Religión Digital, 23-10-2015. A tradução é de André Langer.

Eis a entrevista.
Você foi feliz durante os seus anos de sacerdócio?
Sim, eu sempre fui um padre feliz. Sinto-me feliz servindo as pessoas, ouvindo e aconselhando as pessoas. Estou feliz quando comunico a palavra e a graça de Deus. Mas, ao mesmo tempo, não me sentia feliz pela negação imposta pela Igreja à minha natural orientação sexual. Estes dois sentimentos, no sacerdócio, entravam em conflito. Ao final, prevaleceu a infelicidade causada pela homofobia da Igreja. Compreendi que para ser um padre feliz, devo dizer à minha Igreja que está paralisada pela homofobia, e isto não faz ninguém feliz.

Você é a favor do celibato opcional na Igreja católica? Por quê?
Sim, à luz dos meus estudos sobre o celibato, hoje estou convencido de que a única disciplina que se poderia aceitar é a disciplina do celibato opcional, assim como a encontramos nas Igrejas católicas orientais, onde os candidatos ao sacerdócio podem realmente decidir se querem viver como celibatários ou como casados. Há, no entanto, outro problema. Penso que hoje em dia deve-se também discutir e rever o valor humano do celibato. O celibato obrigatório, imposto na Igreja latina, sem possibilidade de decidir, é, sem dúvida, uma prática desumana. Devemos confrontar a disciplina do celibato com o estado das ciências modernas sobre o homem e com a experiência dramática de muitos padres. A Igreja, muitas vezes, esconde uma dupla vida em sua corporação do clero.

Você foi chamado de “traidor” por ter saído do armário e ter rompido seu compromisso celibatário?
Seria um traidor se continuasse no armário. Só assim seria um traidor de Deus e da humanidade. Seria um mentiroso. Eu não traí ninguém. Eu me libertei da paranoia homofóbica da Igreja, que é irracional e absurda, e incapaz de refletir, porque está cheia de um adoutrinamento ideológico. Pessoalmente, vejo que quem trai é a Igreja, como comunidade de fiéis e como hierarquia, porque não é capaz de rever uma posição que já não pode continuar defendendo. Esta traição é muito clara na Congregação para a Doutrina da Fé e no Vaticano em geral.
Traição é também a dupla vida de uma parte do clero. A dupla vida para mim não significa apenas ter um cônjuge, homem ou mulher, que é uma realidade muito saudável e recomendável para um padre. Dupla vida é também masturbar-se regularmente ou ser dependente da masturbação, como são muitos padres, e ao mesmo tempo lutar contra a masturbação, que faz parte de uma vida sexual a dois saudável.

A Igreja prega misericórdia, mas segue perseguindo os homossexuais?
Sim, há uma verdadeira perseguição por parte da Igreja católica tanto das pessoas como da comunidade LGBTI em geral. É a perseguição das minorias sexuais que não pertencem e não podem pertencer à maioria heterossexual. Trata-se de um projeto ideológico da Igreja. Minha Igreja permite-se afirmar que deve lutar contra os homossexuais assim como lutava contra o nazismo. Comparam-nos com os nazistas, os inimigos da humanidade. Esta afirmação saiu da boca do cardeal africano Sarah bem no meio do Sínodo, que em vez disso deveria pensar com misericórdia sobre as famílias. A Igreja está obcecada pela homossexualidade, assim como com a sexualidade humana em geral.
Infelizmente, neste momento da Igreja não há pessoas capazes de abrir uma discussão séria, livre de qualquer ideologia ditatorial. O nível intelectual e espiritual dos pastores em geral não é muito elevado. Assim, faltam interlocutores com os quais se poderia confrontar na Igreja. Esta é a minha experiência na Congregação para a Doutrina da Fé: um adoutrinamento frio e cego, um legalismo automático, cheio de farisaísmo insensível. Com quem se poderia discutir na Igreja as questões humanas se a Igreja permite as palavras de Sarah? Ele deveria ser denunciado por difamação de um grupo social. A Congregação para a Doutrina da Fé pensa como Sarah. Estão obcecados pela homossexualidade.

Há alguns dias o cardeal Kasper dizia que “nasce-se homossexual”. Era a primeira vez que eu ouvi isso de algum hierarca da Igreja. E você?
Sim, é verdade, creio que pela primeira vez. O cardeal Kasper é uma das poucas pessoas que pensa na Igreja. Não compartilho sua posição sobre o juízo moral em relação aos atos homossexuais realizados por pessoas homossexuais seguindo sua própria natureza. Parece-me que ele, por um lado, defende que se nasce homossexual, mas ao mesmo tempo exclui estas pessoas da possibilidade de amar, possibilidade reservada apenas às criaturas heterossexuais. É contraditório. Em outras palavras, se é verdade que “se nasce homossexual”, como ele disse, então os católicos têm um problema com a questão homossexual. Devem refletir novamente sobre todo o tema da orientação sexual e, na sequência, rever a doutrina moral à luz desta reflexão.
Não obstante esta frase, parece-me que o cardeal Kasper segue a infeliz teoria da complementaridade homem-mulher. Trata-se de uma verdadeira construção mental católica, que já foi provada como teoricamente frágil, para não dizer falsa. Infelizmente, o termo “complementaridade” converteu-se em um slogan com o qual a Igreja quer eliminar a discussão sobre pessoas homossexuais como criaturas de Deus em vista do amor.
Assim, a Igreja promove também uma falsa imagem homofóbica das pessoas homossexuais, como naturalmente incapazes de amar. Dessa maneira, promove também o ódio na mentalidade das pessoas contra as pessoas LGBTI, as quais são apresentadas como anormais. Trata-se de uma posição ideológica de uma Igreja que tem medo de pensar. Estou seguro de que isto vai passar e no futuro a Igreja pedirá perdão por este atraso. Este tipo de erro se repete continuamente na história da Igreja.
Voltando ao cardeal Kasper: ele é um cristão que pensa, com quem se pode discutir. Há também outros como ele: como o cardeal Schönborn, o cardeal Marx, dom Forte ou dom Bonnyt, para citar alguns, e sem esquecer o Papa Francisco. São homens de Deus e da Igreja, sensíveis, fiéis, capazes de conhecer a humanidade e de dialogar com ela. Mas a maioria está obcecada, incapaz de pensar e de amar, como o cardeal Sarah. A estigmatização promovida pela maioria é uma arma.

A espiritualidade e a sensibilidade atraem os gays para o altar? Há mais homossexuais na Igreja do que em outras instâncias sociais?
Pessoalmente, estou seguro de que sim. Muitas vezes, no passado, ser padre para um homossexual era a maneira de esconder sua homossexualidade e realizar-se socialmente. Hoje, provavelmente, essa razão funciona apenas em sociedades homofóbicas e retrógradas. Imagino que na minha pátria, a Polônia, ainda é assim. Penso que hoje em dia é muito mais frequente que um gay, com sua sensibilidade e com sua abertura ao transcendente e ao divino, queira ser padre.

E na cúria, há muitos gays? É verdade que existe um lobby gay vaticano do qual se costuma falar?
Neste campo também posso falar apenas da minha experiência. Não temos estudos sobre a presença de pessoas homossexuais no clero, porque é um tabu, um tema sobre o qual não se deve falar. Na cúria há muitos gays. Muitos deles são bons padres, se não são homofóbicos, se não pensam apenas em sua carreira, se não se preocupam apenas com o dinheiro e o poder. O problema aparece quando os gays são homofóbicos internalizados. No clero católico há muitos homossexuais que, reprimidos por sua própria orientação, odeiam que é gay como eles.
Outro tema é o lobby gay, que eu não conheci. Li algo sobre isso na Itália, mas não tive nenhuma experiência. Pode ser que exista este lobby, como existe o lobby italiano ou polonês no Vaticano. O Vaticano, o coração da Igreja, é uma mistura de lutas pelo poder, pela política e pelo dinheiro. Penso também que o Vaticano é um lobby em nível italiano e internacional que impõe coisas que jamais foram estudadas seriamente.

A Doutrina da Fé é um dicastério especialmente homofóbico? E seu chefe máximo no dicastério, o cardeal Müller?
Sim, a Congregação para a Doutrina da Fé é o coração de uma homofobia paranoica e irracional. Nela não há possibilidade de conhecimento nem de diálogo. Funciona por estereótipos. Eu tinha a impressão de que nós, na Congregação, não promovemos a fé em Deus, não nos ocupamos de cristologia ou mariologia; apenas lutamos contra os gays e outras minorias sexuais. É uma obsessão. Esta é a nossa verdadeira fé: a paranoia anti-gay. Nada mais. É o nosso tema preferido. Há reuniões em que de cada três casos que tratamos, dois são contra gays. Inventamos para nós um inimigo imaginário e lutamos com todas as nossas forças contra ele. O chamamos de “nossa guerra contra o gender”. Ali não se pode discutir, pensamos que esse gender só promove mudanças de sexo. Esse é o nível de paranoia que reina na Congregação.
O cardeal Müller promoveu toda esta ignorância, este extremismo, esta obsessão entre os oficiais, sem nenhum tipo de raciocínio. Em vez de promover estudos, a Congregação é a agência política de sabotagem do pontificado do Papa Francisco e sua discussão sinodal. É a agência que luta contra o gender, termo que não sabe definir. O que realmente importa é usar a palavra gender de uma forma que assuste as pessoas, não importa que não se tenha lido um único livro sobre estudos de gênero. A homofobia e a misoginia (a verdadeira feminofobia, um complexo ou ódio contra a mulher) obsessivas são um drama para esta Congregação, cujos membros não todos são heterossexuais. Como em todas as partes, há homossexuais. A realidade é que a Congregação odeia os gays, mesmo havendo dentro dela pessoas que se sabe são homossexuais.

A Congregação para a Doutrina da Fé é uma das principais peças de resistência na cúria à primavera de Francisco?
Sem dúvida alguma. A Congregação vive seu período mais obscuro. O que mais importa é manter oculto o nosso tabu: a homossexualidade e a sexualidade em geral. Com a primavera de Francisco, a Congregação tem um novo inimigo. Ao lado dos gays, há o Papa Francisco. Junto com a homofobia aparece uma “Francisco-fobia”. O desprezo pelo Papa na Congregação é muito grande. Pelas coisas que eu ouvi sobre o Papa Francisco na Congregação, esta deveria ser denunciada por ofender o primado de Pedro. No passado, nós destruímos carreiras de teólogos que refletiam com respeito e inteligência sobre novas formas de exercício do primado. Agora a Congregação é contra o Papa e seu primado de uma maneira irracional.
Varias pessoas que trabalham na Congregação são simplesmente fundamentalistas e seu nível intelectual não é tão elevado quanto sua presunção de ser “salvadores deste mundo delinquente”. Dentro dela não há nenhuma possibilidade de discussão. Pessoalmente, não tenho nenhuma dúvida de que o prefeito da Congregação, de uma forma digna e com honra, deveria renunciar após a minha coming out. Para salvar a situação, a Congregação deveria ser fechada pelo Papa para começar sua renovação quanto aos métodos de promoção da fé na Igreja. Atualmente, segue sendo a Inquisição. Está vazia de argumentos racionais e cheia de emoções paranoicas, como aquelas expressadas abertamente pelo cardeal Sarah.

Por que não falou com o Papa antes de anunciar publicamente sua situação?
Falei com todas as pessoas com as quais se podia falar. Falei com todas aquelas que poderiam entender a situação desumana de hipocrisia e falsidade da Igreja de Roma, que não são muitas. A situação atual é um escândalo institucionalizado. Mais que anunciar publicamente a minha situação, anunciei a situação da Igreja na qual vivi. Isto é muito diferente. Graças a Deus já não é mais o meu problema. Libertei-me do escândalo desta Igreja que anunciei publicamente. Queria ajudar para que a Igreja despertasse, oferecendo o testemunho da minha experiência no Vaticano. Alguém deveria dizê-lo claramente.

Não lhe parece que o Vaticano reagiu rápida e energicamente com você, ao passo que não faz o mesmo com os padres pederastas?
A reação foi automática. O automatismo legalista e formalista é a alma da Igreja católica diante daquele que lhe diz a verdade, apesar de que o Papa Francisco continuamente fale contra os formalismos legalistas.
É verdade também que muitos casos de padres pedófilos foram e são tratados de um modo diferente, não tão energicamente. A pedofilia é uma vergonha do clero católico. Está relacionada com a imaturidade sexual de seus membros. Não é influenciada pelo mundo, como afirma obsessivamente a Igreja. É o resultado de uma obsessão provocada por uma sexualidade reprimida, não aceita, rechaçada.
Também é verdade que em vários níveis da Igreja a pedofilia continua sendo protegida para salvar sua imagem e não indenizar pelos danos causados. Vou lhe dar um exemplo. No final do verão passado, na prisão do Vaticano morreu o núncio polonês, o arcebispo Wesolowski, julgado pela Congregação como pedófilo. Este homem teve um enterro que durou 10 dias, entre o Vaticano e a Polônia. Dez dias de enterro de um prisioneiro que já foi julgado por um tribunal eclesiástico por abusos de pedofilia. Este enterro começou com uma missa celebrada pelos colaboradores mais próximos do Papa e terminou ao final de 10 dias na Polônia, com uma leitura de uma carta em que se dizia que as acusações de sua pedofilia eram invenções da máfia da República Dominicana. O Vaticano permitiu todo esse espetáculo, em vez de pensar em como indenizar imediatamente as vítimas desse bispo pederasta. Vendo tudo isso, pode-se chegar à conclusão de que existe um lobby pedófilo no Vaticano. Sim, muitos padres e bispos pederastas têm um tratamento especial e muitos continuam livres de qualquer pena.
A esta luz, a reação do Vaticano a um padre gay que diz a verdade é um automatismo vergonhoso. Mas esta é a lógica da Igreja: tudo deve permanecer escondido “pelo bem da Igreja”. Enquanto estiver escondido, não acontece nada. Para a Igreja, “o demônio” é o padre que diz a verdade, aquele que sai à luz, que sai do armário.

Vai continuar sendo padre, vai pedir a secularização ou vão lhe impor essa condição?
Sou e me sinto padre. Hoje sou um padre melhor que antes. Pelo contrário, sou eu que vou pedir à Igreja para que abra os olhos.

Pensou em escrever um livro sobre suas vivências no Vaticano?
Sim, estou convencido de que é meu dever explicar mais amplamente a minha experiência na Igreja, e o farei pelo bem da própria Igreja, que deve converter-se e pedir desculpas por seus escândalos institucionais, por seus atrasos, por sua paranoia irracional da homofobia. Todo aquele que vê isso e o experimenta tem o dever de despertar a Igreja, o que já ultrapassou qualquer limite suportável.

Se o Papa pedisse pessoalmente, deixaria seu parceiro e voltaria ao Vaticano?
Não, não deixaria meu parceiro, porque o amo e porque não há razões doutrinais para fazê-lo. Ter um parceiro, seja homem ou mulher, para um padre não vai contra a sua fé, não vai contra a doutrina da nossa fé. Pelo contrário, é a Igreja e o Papa que deveriam começar a refletir seriamente sobre a desumana disciplina do celibato obrigatório, e sua obsessão pela homossexualidade e a sexualidade em geral.
Voltar ao Vaticano? Não, não voltaria. Deveria ser um masoquista, uma pessoa que busca o sofrimento e a ofensa de sua própria identidade. Eu não sou masoquista. O Vaticano é um dos lugares menos santos que conheci na minha vida. Eu quero ser feliz, quero ser santo, o que significa ser feliz e viver à luz da vontade de Deus e da dignidade humana. No Vaticano, a maior parte das pessoas não é feliz. É um lugar que necessita de uma conversão espiritual e mental. Necessita do ar de Deus, ar que ali falta.