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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

25º Domingo do Tempo Comum: A serviço de quem? De Deus ou do Dinheiro? (Lc 16,1-13)

Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette, Canadá.

 A administração terrena das pequenas coisas que nos são confiadas, nos prepara não somente para administrar coisas mais importantes, mas para nos tornarmos coproprietários com Deus: o bem dos outros torna-se o nosso próprio bem.

 Referências bíblicas:

Primeira leitura: Am 8,4-7

Segunda leitura: 1 Tm 2,1-8

Evangelho: Lc 16,1-13

 Eis o texto.

Na semana passada, através de três parábolas, o evangelista Lucas nos convidou para dar uma atenção especial aos marginalizados, aos excluídos e aos pecadores. Esta semana, através de outra parábola, ele nos convida a escolher entre Deus e o Dinheiro com um D maiúsculo, isto é, Mammon, o deus sírio da riqueza, um ídolo. Lucas qualifica Mammon de desonesto (adikia), isto é, injusto (Lc 16,9), que é o contrário de Deus que é (dikia), isto é, justo. O que isto quer dizer? O dinheiro seria ruim? A fé cristã seria uma fé que recusa a riqueza e que louva a pobreza? Penso que não! A primeira leitura e o evangelho servem para nos esclarecer sobre o dinheiro e sobre o lugar que deve ocupar na vida dos cristãos.

1. Esta parábola do Evangelho de Lucas é difícil, certamente, mas podemos tirar dela duas mensagens:

1- Proprietário ou servo.

O administrador da parábola de Lucas, que perde sua administração, age como se fosse o proprietário dos bens que lhe são confiados. O homem rico é Deus que confia seus bens aos discípulos, aos dirigentes da Igreja. Os bens de Deus são confiados para frutificarem e não para serem desperdiçados em proveito dos administradores, que somos nós. Se, como administradores, nós nos arvoramos do papel de proprietários, esquecemos que temos que prestar contas a Deus, que é o verdadeiro proprietário. Por isso, a primeira sentença (Lc 16,10-12), onde há uma equivalência entre as pequenas coisas, o Dinheiro injusto e os bens alheios: expressões que designam aqui os bens desse mundo, das quais o homem não é o proprietário, mas o administrador e o responsável, diz bem que se ele se revela digno de confiança, em sua missão terrestre provisória, será considerado digno de administrar as grandes coisas, o verdadeiro bem, seu próprio bem. Com outras palavras, a administração terrena das pequenas coisas que nos são confiadas, nos prepara, não somente para administrar coisas mais importantes, mas para nos tornarmos coproprietários com Deus: o bem dos outros torna-se o nosso próprio bem.

O mesmo acontece com a Igreja. Nós somos os administradores do Reino e não seus proprietários. O exegeta francês Jean Debruynne escreve: “A riqueza de Deus não é como a riqueza dos homens; ela não é uma propriedade privada... Deus não pode ser roubado, Deus só sabe amar. Todos têm o direito a Deus, mesmo aqueles de outras religiões que nós consideramos muitas vezes como administradores injustos”. Eu gostaria de acrescentar: quem somos nós, como Igreja, para decidir dessa maneira?

2- Servir a Deus ou ao dinheiro.

Quando servimos ao dinheiro, só podemos ser injustos, desonestos. A habilidade com que o administrador da parábola serve ao dinheiro, não poderá ser utilizada para servir a Deus? O Senhor da parábola elogia seu administrador desonesto, não por sua desonestidade, mas por sua habilidade: “E o Senhor elogiou o administrador desonesto, porque este agiu com esperteza. De fato, os que pertencem a este mundo são mais espertos com a sua gente, do que aqueles que pertencem à luz” (Lc 16,8). De sorte que o evangelho nos convida a nos servir de dinheiro para servir a Deus: “E eu lhes declaro: ‘Usem o dinheiro injusto para fazer amigos, e assim, quando o dinheiro faltar, os amigos receberão vocês nas moradas eternas” (Lc 16,9). A segunda sentença da parábola assevera: “Nenhum empregado pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Lc 16,13).

Como, na Igreja, podemos nos servir de dinheiro para servir a Deus? Partilhando, amando e construindo um mundo de justiça, de igualdade, de paz, devolvendo a dignidade àqueles e àquelas que a perderam e estando a serviço do Reino de Deus. Jean Debruynne prossegue em sua reflexão: “Hoje, a publicidade invade os jornais, as rádios e as telas de televisão para conjugar dois verbos: primeiro o verbo ter: ter dinheiro, ter relações, ter poder... e, depois, o verbo aparecer: aparecer na televisão, aparecer o melhor, o mais forte, o mais bonito... A fé tem apenas um verbo para conjugar: o verbo ser. Jesus nos diz, em primeiro lugar, que a fé não é como o dinheiro. Ela não é alguma coisa que se tem ou não se tem, que se ganha ou se perde. Crer é ser, é existir, é viver. Jesus nos disse, na sequência, que o que nós temos, o que possuímos, mesmo quando é pouco, deve servir para ser”.

2. Devemos denunciar os ricos que esmagam os pequenos, exploram os pobres e os dirigentes que se acham os donos dos bens que lhes são confiados.

O profeta Amós, na primeira leitura de hoje, não tem papas na língua. No século VIII a.C., sob o reinado do rei Jeroboão II, o comércio está em franca expansão e o luxo se estende, agora, na capital, Samaria. O profeta Amós denuncia as injustiças cometidas pelos grandes proprietários de terras contra os trabalhadores. Aqueles os exploram e os esmagam até torná-los escravos: “Nós podemos comprar os fracos por dinheiro, o necessitado por um par de sandálias, e vender o refugo do trigo” (Am 8,6). E pior ainda: esses novos ricos estão com pressa que o sábado termine para acelerar e continuar suas maldades: “Quando vai passar a festa da lua nova, para podermos pôr à venda o nosso trigo? Quando vai passar o sábado, para abrirmos o armazém, para diminuir as medidas, aumentar o peso e viciar a balança?” (Am 8,5).

Para terminar, gostaria de propor esta bela reflexão do século IV que nos vem de São Basílio de Cesareia: “O que faço de errado, diz o avarento, guardando o que é meu? Dize-me, de que modo é teu? Donde tiraste, tomando-o para teu sustento? És como alguém que, indo ao teatro, se apoderasse do espetáculo e quisesse excluir os que entrassem depois, pretendendo ser só teu aquilo que é comum a todos os que se apresentam, conforme lhes parece bem. Assim são os ricos: apoderando-se primeiro do que é de todos, tudo tomam para si por uma falsa ideia. Se cada um tirasse para si o que lhe é necessário e entregasse aos indigentes o que sobra, ninguém seria rico, ninguém seria pobre. Não saíste nu do útero e não retornarás nu para a terra? Os bens que possuis, de onde vêm? Se dizes que provêm do acaso, és ímpio, não reconhecendo o Criador e não dando graças ao doador. Se, ao invés, admites que são de Deus, dize-me por que os recebeste. É talvez injusto Deus, que nos distribui os meios de subsistência de modo desigual? Por que tu és rico e aquele é pobre? Certamente para que tu pudesses receber a recompensa da bondade da fiel administração e aquele pudesse conseguir o magnífico prêmio da paciência”.

25º Domingo do Tempo Comum: 22 de setembro: (Lc 16, 1-13).

Marcel Domergue.

 
Jesus dizia aos discípulos:

“Um homem rico tinha um administrador que foi denunciado por estar esbanjando os bens dele. Então o chamou, e lhe disse: ‘O que é isso que ouço contar de você? Preste contas da sua administração, porque você não pode mais ser o meu administrador’.  Então o administrador começou a refletir: ‘O senhor vai tirar de mim a administração. E o que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha. Ah! Já sei o que vou fazer para que, quando me afastarem da administração tenha quem me receba na própria casa’. E começou a chamar um por um os que estavam devendo ao seu senhor. Perguntou ao primeiro: ‘Quanto é que você deve ao patrão?’ Ele respondeu: ‘Cem barris de óleo!’ O administrador disse: ‘Pegue a sua conta, sente-se depressa, e escreva cinquenta’. Depois perguntou a outro: ‘E você, quanto está devendo?’ Ele respondeu: "Cem sacas de trigo’. O administrador disse: ‘Pegue a sua conta, e escreva oitenta’.

E o Senhor elogiou o administrador desonesto, porque este agiu com esperteza. De fato, os que pertencem a este mundo são mais espertos, com a sua gente, do que aqueles que pertencem à luz.

 “E eu lhes declaro: Usem o dinheiro injusto para fazer amigos, e assim, quando o dinheiro faltar, os amigos receberão vocês nas moradas eternas.  Quem é fiel nas pequenas coisas, também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas pequenas, também é injusto nas grandes. Por isso, se vocês não são fiéis no uso do dinheiro injusto, quem lhes confiará o verdadeiro bem?  E se não são fiéis no que é dos outros, quem lhes dará aquilo que é de vocês? Nenhum empregado pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”.

(Correspondente ao Domingo 25º do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico).
Locutora: Evlyn Zilch
Viver o presente com sentido

O evangelho de hoje nos apresenta uma enigmática parábola, difícil de compreender e por isso também difícil de comunicar.

A parábola tem como finalidade narrar uma historia que leva a uma lição. Então o que importa é a lição ou mensagem edificante que ela quer comunicar e não tudo o que nela se narra.

A pergunta que precisamos nos fazer, ao "escutar" esta parábola, é: Qual é a Boa Nova que Jesus nos quer dizer com dela?

 
De jeito nenhum o evangelho aprova o roubo ou a fraude. Ele chama a atenção para a astuta e rápida ação do administrador diante das necessidades do futuro. Preocupado, o administrador percebe a situação de risco na qual ficará. Isso o leva a agir decididamente no presente.

Desta maneira, Jesus quer chamar a atenção de seus discípulos/as sobre como vivem seu tempo presente. Todos/as temos um tempo para viver nesta vida, na qual construímos nossa eternidade, a pergunta decisiva é: Que eternidade estamos construindo?

Para viver este tempo presente, o evangelho nos dá uma segunda orientação: "Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro".

 Podemos nos lembrar da primeira bem-aventurança do programa de vida de Jesus: "Felizes de vocês os pobres, porque o Reino de Deus lhes pertence" (Lc 6, 20).

Lucas apresenta com clareza que o caminho do Reino é a partilha, a solidariedade. A felicidade está em doar nossa vida, colocar à disposição dos outros nossos bens humanos e materiais, para contribuir, assim, na construção de uma sociedade, de um mundo sustentável.

Como dizia Madre Teresa de Calcutá , "Ninguém é tão pobre que não tenha algo para dar, nem tão rico que não precise receber".

O evangelho nos alerta a não sermos servos do dinheiro. Mas não podemos esquecer que vivemos num sistema capitalista, neoliberal que tem como motor o consumismo, um consumo para "mim", e tudo pode ser comprado até as próprias relações!

Este sistema que gera cada vez mais excluídos, mais pessoas "descartáveis", porque não tem as condições mínimas nem econômicas, nem educacionais para "entrar" nesse mundo, exclui  Deus também!

Podemos nos perguntar então onde Deus está. Que sinais de sua Presença achamos ao nosso redor? É possível administrar nossos bens, nossa economia para que se humanize?

Poderíamos citar aqui algumas propostas de projetos econômicos alternativos como, por exemplo, o de Economia Solidária , produção coletiva de geração de trabalho e renda.

Falar de Economia Solidária significa falar em tudo o que ela representa de oportunidades, de uma cultura de solidariedade, de retomada de laços afetivos no trabalho, de autogestão, enfim, um novo jeito de se fazer economia e uma nova cultura do trabalho.

O tempo que vivemos desafia aos cristãos/ãs a ser criativos/as na ousadia de colocar na prática o evangelho em todas as áreas e dimensões da vida.

Sabendo como disse Jesus que "quem é fiel nas pequenas coisas, também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas pequenas, também é injusto nas grandes. E se não são fiéis no que é dos outros, quem lhes dará aquilo que é de vocês?".

 
Oração
Ensinamento
Minha mãe achava estudo
A coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
Ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Adélia Prado.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO, Nº 418. O que é o CEBI?

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Frei Carlos Mesters: Seminário Bíblico (2º vídeo).

Frei Carlos Mesters: Seminário Bíblico.

Papa diz que igreja não pode 'interferir espiritualmente' na vida de gays.

O papa Francisco afirmou que a igreja tem o direito de expressar suas opiniões, mas não deve "interferir espiritualmente" na vida de gays e lésbicas. A entrevista do pontífice foi publicada na quarta-feira (18), no jornal jesuíta "La Civiltà Cattolica". Ele também aproveitou para criticar a 'obsessão' da igreja por aborto e contracepção.
Em julho, Francisco já havia abordado a questão da homossexualidade, dizendo que os gays 'não devem ser julgados'.
"Uma pessoa me perguntou uma vez, em tom provocativo, se eu aprovava o homossexualismo", disse. "Eu respondi com uma pergunta: Quando Deus olha para uma pessoa gay, ele reconhece a existência desta pessoa com amor, ou a rejeita e condena? Sempre precisamos considerar esta pessoa".
O papa também afirmou que nunca foi "de direita" -após ser escolhido pontífice, argentinos acusaram Francisco de ter colaborado com a ditadura argentina (1976-1983). Recentemente, um grupo de perseguidos políticos disse ter recebido a ajuda do então cardeal Bergoglio.
Aborto
Francisco afirmou que foi criticado por não falar sobre aborto e contracepção. "Fui repreendido por isso. Mas, quando falamos sobre essas questões, temos que fazê-lo em um contexto. O ensinamento da igreja quanto a isso é claro, e eu sou um filho da igreja, mas não é necessário falar sobre esses assuntos o tempo inteiro".
"Sou um pecador"
Indagado pelo repórter sobre quem é Jorge Mario Bergoglio (seu nome de batismo), o papa respondeu que é "um pecador". "Essa é a melhor definição. Não é uma figura de linguagem, eu sou um pecador".
Francisco disse ainda que a igreja por vezes "se fechou em torno de coisas pequenas". "Coisas de mentes pequenas. O povo de Deus quer pastores, não clérigos agindo como burocratas ou políticos".
Além disso, o papa também destacou o papel das mulheres na igreja, e disse que a igreja precisa encontrar um "novo balanço" entre suas missões políticas e espirituais.

Papa condena "escândalo dos bispos de aeroporto"

O Papa Francisco pediu nesta quinta-feira (19) aos prelados de todo o mundo que "evitem o escândalo de serem bispos de aeroporto", em uma clara condenação aos religiosos que viajam todo o tempo e abandonam seu rebanho.

"Permanecer na diocese é um requisito indispensável não apenas para a boa organização, mas também para as raízes teológicas. Vocês estão casados com a comunidade, estão profundamente entrelaçados a ela", declarou o Papa ao receber em audiência no Vaticano os novos bispos nomeados recentemente, que participam do congresso anual organizado pela Congregação dos Bispos e pela Congregação das Igrejas Orientais.

"Por favor, peço que permaneçam com o povo. Evitem o escândalo de serem 'bispos de aeroporto'", ressaltou.

"Vocês têm que ficar na diocese, e ficar na diocese, sem buscar mudanças ou promoções. Só se pode conhecer, realmente, como pastores, o próprio rebanho andando na frente, em meio e atrás, cuidando do ensino, da administração dos sacramentos e do testemunho de vida", disse.

"Que estas palavras sejam esculpida em seus corações! Somos chamados a ser pastores não de nós mesmos, mas do Senhor, e não para servir a nós mesmos, mas para o rebanho que nos foi confiado", ressaltou.

Francisco também falou do "estilo de serviço" que os bispos devem ter com o seu rebanho, marcado pela "humildade e austeridade".

"Nós, pastores, não somos homens com 'psicologia de príncipes', vocês devem evitar cair no afã de carreira".

"Não apenas com palavras, mas acima de tudo com o testemunho concreto da nossa vida que somos professores e educadores de nosso povo", explicou.

"Devemos acolher com magnanimidade. Que seus corações sejam tão grandes que possam acomodar todos os homens e mulheres que cruzarem o seus caminhos", disse ele em seu discurso.

Desde que foi eleito pontífice em março, Francisco critica a hierarquia da Igreja Católica pela vida mundana que muitos levam.

"Sejam pastores com cheiro de ovelhas, presentes em meio a seu povo como Jesus, o Bom Pastor", voltou a dizer.

"Não se fechem! Estejam entre os seus fiéis, incluindo nas periferias de suas dioceses e em todas as periferias existenciais, onde há sofrimento, solidão, degradação humana. A presença pastoral significa andar com o povo de Deus: à frente, apontando o caminho, no meio, para fortalecer a unidade, e atrás, de modo que ninguém é deixado para trás, mas, acima de tudo, para manter o cheiro que tem o povo de Deus para encontrar novos caminhos", concluiu.

Francisco convida os sacerdotes para acolherem os casais em segunda união

“A santidade é maior que os escândalos”. Esta, segundo a revista da diocese RomaSette, foi a mensagem do Papa aos seus párocos nesta segunda-feira na Basílica de São João de Latrão. O encontro, que havia sido solicitado depois da eleição, começou às 10h e terminou às 12h30. Antes que o Papa respondesse às perguntas dos párocos, o vigário Agostino Vallini fez uma saudação. Fonte: http://bit.ly/18okSBs  . A reportagem está publicada no sítio Vatican Insider, 16-09-2013. A tradução é de André Langer.

Segundo indica a RomaSette, o Papa Francisco falou com seus párocos e respondeu às suas perguntas levando em conta os “gravíssimos problemas da Igreja” com lucidez, “mas sem pessimismo”. “A Igreja não desmorona – disse. A Igreja nunca esteve tão bem como hoje, é um momento bonito da Igreja, basta ler sua história. Há santos reconhecidos inclusive pelos não católicos (pensemos na Beata Teresa), mas há uma santidade cotidiana de muitos homens e mulheres, e isto dá esperança. A santidade é maior que os escândalos”.

Um encontro, refere a revista da diocese, marcado pela narração de algumas experiências da vida do atual Papa em Buenos Aires e pelo pedido de orações, pois em breve será o aniversário da sua ordenação episcopal (21 de setembro). O Papa Francisco convidou os sacerdotes que encheram a basílica a retornar ao “primeiro amor”, ao primeiro olhar de Jesus.

“Quando um sacerdote está em contato com o seu povo, se cansa”, disse Francisco, mas, explicou, diante deste cansaço a única resposta é Jesus: ir com os pobres, anunciar o Evangelho e seguir em frente. Claro, ajuda muito “a oração diante do Tabernáculo, a proximidade com os outros sacerdotes e a proximidade com o bispo”. A lembrança de momentos como o início da vocação, a entrada no seminário, a ordenação sacerdotal são fundamentais: “a memória é o sangue na vida da Igreja”.

O Papa Francisco criticou severamente os que em uma paróquia se preocupam mais com o dinheiro para um certificado do que pelo sacramento em si. Com esta atitude só “afastam as pessoas”. Requer-se, ao contrário, a “acolhida cordial: que aqueles que vierem à Igreja se sintam em sua casa. Se sintam bem. Que não sintam que estão sendo exploradas”. “Certa vez um sacerdote, não da minha diocese, mas de outra – contou Bergoglio – me dizia: ‘Mas eu não faço pagar nada, nem sequer as intenções das Missas. Tenho aí uma caixa e se eles dixam aquilo que querem. Mas, padre, temos quase o dobro do que tinha antes! Porque as pessoas são generosas, e Deus abençoa estas coisas’”. Se, ao contrário, “as pessoas veem que há um interesse econômico”, então “se afastam”.

Ao responder a uma das perguntas dos sacerdotes, Bergoglio respondeu que continuava se sentindo “padre. De verdade. Eu me sinto padre, sacerdote, é verdade, bispo... Me sinto assim. E agradeço ao Senhor por isto”. “Teria medo de sentir-me um pouco mais importante, não? Isto sim, tenho medo disto, pois o diabo é esperto, eh!, é esperto e te faz sentir que agora tu tens poder, que tu podes fazer isto, que tu podes fazer aquilo...mas sempre girando, girando em volta, como um leão – assim diz São Pedro, não! Mas graças a Deus, isto não perdi, ainda, não? E se vocês virem que eu perdi isto, por favor, me digam e se não puderem me dizer privadamente, digam publicamente, mas digam: ‘Olha, converte-te!’, porque está claro, não?”.

Em relação às indicações do Papa aos seus párocos, RomaSette indicou a “acolhida” dos casais em segunda união e a corajosa e criativa decisão de se dirigirem às “periferias existenciais”. Uma acolhida, destaca a revista, que se deve exercer na verdade. “Dizer sempre a verdade”, sabendo que “a verdade não acaba na definição dogmática”, mas que se insere no “amor e na plenitude de Deus”. Por isso, o sacerdote deve “acompanhar”.

Francisco também convidou os sacerdotes do clero romano para empreenderem “caminhos corajosamente criativos”. E citou alguns exemplos que viveu pessoalmente em Buenos Aires, como a abertura de algumas igrejas durante o dia todo e com a disponibilidade de um confessor ou a criação de “cursos personalizados” para os casais que querem se casar, mas que não podem frequentar os cursos de noivos porque trabalham até tarde. A prioridade, no entanto, segue sendo “as periferias existenciais”, que também são “as das famílias”, sobre as quais falou em muitas ocasiões Bento XVI, sobretudo em relação às segundas uniões. Nossa tarefa, disso o Papa, é “encontrar outro caminho, na justiça”.

A PALAVRA, Nº 417. Francisco, Mensalão e Gustavo Gutiérrez.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Cipriani chama o cardeal Gerhard Müller de “ingênuo” por promover o encontro entre Francisco e Gustavo Gutiérrez

O cardeal de Lima, Juan Luis Cipriani, qualificou, no último sábado, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o arcebispo Gerhard Müller, de “ingênuo” por propiciar uma aproximação entre o Vaticano e a Teologia da Libertação. A reportagem está publicada no sítio espanhol Religión Digital, 15-09-2013. A tradução é de André Langer.
Müller é “um bom alemão, um bom teólogo, mas um pouco ingênuo”, disse o arcebispo de Lima, primeiro cardeal da Opus Dei na América Latina e crítico da Teologia da Libertação.
O arcebispo alemão propiciou a reunião da quarta-feira entre o Papa Francisco e o sacerdote dominicano peruano Gustavo Gutiérrez, considerado o pai da Teologia da Libertação.
“Minha leitura (dessa reunião) é que (Müller) quis aproximar-se do seu amigo (Gutiérrez), por quem tem um carinho todo especial, a quem quer de alguma maneira ajudar a corrigir e inserir-se na Igreja Católica”, assinalou Cipriani durante o seu programa semanal “Diálogos de Fé”, na rádio RPP.
A reunião, revelada na quinta-feira pelo Vaticano, “está sendo utilizada” para descrever uma aproximação com uma corrente teológica que “foi prejudicial à Igreja”, afirmou Cipriani, cabeça visível da ala mais dura da Igreja Católica na região.
Segundo Cipriani, enquanto Joseph Ratzinger era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, isto é, o guardião da ortodoxia do Vaticano, exigiu, entre 1984 e 1986, que Gutiérrez “corrigisse dois de seus livros: Teologia da Libertação e A Força dos Pobres, que foram prejudiciais à Igreja”. “Se, afinal, se corrigiu, não sei”, disse o cardeal peruano.
No entanto, segundo Müller, embora Ratzinger tenha criticado a Teologia da Libertação em seus documentos doutrinais, também reconheceu intuições justas, principalmente a preferência pelos pobres.
O professor estadunidense Jeffrey Klaiber, historiador das religiões na Universidade Católica do Peru, disse à AFP, na sexta-feira, que a reunião “é um novo e grande passo para tirar das sombras a Teologia da Libertação”.
Klaiber destacou que “esta teologia foi revista e aprovada por Bento XVI, mas depois foi marginalizada (...) pela cúpula vaticana”, onde a Opus Dei exerceu um papel relevante.
A reunião do papa com Gutiérrez marca o ponto mais alto até hoje do que se considera ser a reabilitação da Teologia da Libertação, corrente nascida na América Latina nos anos 1970 e combatida pelo Vaticano.
O confronto entre o Vaticano e a Teologia da Libertação remonta ao Pontificado de João Paulo II, que, em 1979, declarou que “uma concepção de Cristo como político, revolucionário, como o subversivo de Nazaré não corresponde à catequese da Igreja”.
O Papa Francisco, defensor de uma Igreja dos pobres, sempre foi crítico em relação a estes teólogos pelas mesmas razões que seu antecessor.
Gutiérrez disse esta semana que as ações do “Papa Francisco me lembram muito o Papa João XXIII”, que convocou o Concílio Vaticano II que impulsionou mudanças e a modernização da Igreja na década de 1960.
Gutiérrez nunca foi censurado nem sancionado pelo Vaticano, ao contrário do que aconteceu com teólogos brasileiros, como Leonardo Boff.