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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

25º Domingo do Tempo Comum: A serviço de quem? De Deus ou do Dinheiro? (Lc 16,1-13)

Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette, Canadá.

 A administração terrena das pequenas coisas que nos são confiadas, nos prepara não somente para administrar coisas mais importantes, mas para nos tornarmos coproprietários com Deus: o bem dos outros torna-se o nosso próprio bem.

 Referências bíblicas:

Primeira leitura: Am 8,4-7

Segunda leitura: 1 Tm 2,1-8

Evangelho: Lc 16,1-13

 Eis o texto.

Na semana passada, através de três parábolas, o evangelista Lucas nos convidou para dar uma atenção especial aos marginalizados, aos excluídos e aos pecadores. Esta semana, através de outra parábola, ele nos convida a escolher entre Deus e o Dinheiro com um D maiúsculo, isto é, Mammon, o deus sírio da riqueza, um ídolo. Lucas qualifica Mammon de desonesto (adikia), isto é, injusto (Lc 16,9), que é o contrário de Deus que é (dikia), isto é, justo. O que isto quer dizer? O dinheiro seria ruim? A fé cristã seria uma fé que recusa a riqueza e que louva a pobreza? Penso que não! A primeira leitura e o evangelho servem para nos esclarecer sobre o dinheiro e sobre o lugar que deve ocupar na vida dos cristãos.

1. Esta parábola do Evangelho de Lucas é difícil, certamente, mas podemos tirar dela duas mensagens:

1- Proprietário ou servo.

O administrador da parábola de Lucas, que perde sua administração, age como se fosse o proprietário dos bens que lhe são confiados. O homem rico é Deus que confia seus bens aos discípulos, aos dirigentes da Igreja. Os bens de Deus são confiados para frutificarem e não para serem desperdiçados em proveito dos administradores, que somos nós. Se, como administradores, nós nos arvoramos do papel de proprietários, esquecemos que temos que prestar contas a Deus, que é o verdadeiro proprietário. Por isso, a primeira sentença (Lc 16,10-12), onde há uma equivalência entre as pequenas coisas, o Dinheiro injusto e os bens alheios: expressões que designam aqui os bens desse mundo, das quais o homem não é o proprietário, mas o administrador e o responsável, diz bem que se ele se revela digno de confiança, em sua missão terrestre provisória, será considerado digno de administrar as grandes coisas, o verdadeiro bem, seu próprio bem. Com outras palavras, a administração terrena das pequenas coisas que nos são confiadas, nos prepara, não somente para administrar coisas mais importantes, mas para nos tornarmos coproprietários com Deus: o bem dos outros torna-se o nosso próprio bem.

O mesmo acontece com a Igreja. Nós somos os administradores do Reino e não seus proprietários. O exegeta francês Jean Debruynne escreve: “A riqueza de Deus não é como a riqueza dos homens; ela não é uma propriedade privada... Deus não pode ser roubado, Deus só sabe amar. Todos têm o direito a Deus, mesmo aqueles de outras religiões que nós consideramos muitas vezes como administradores injustos”. Eu gostaria de acrescentar: quem somos nós, como Igreja, para decidir dessa maneira?

2- Servir a Deus ou ao dinheiro.

Quando servimos ao dinheiro, só podemos ser injustos, desonestos. A habilidade com que o administrador da parábola serve ao dinheiro, não poderá ser utilizada para servir a Deus? O Senhor da parábola elogia seu administrador desonesto, não por sua desonestidade, mas por sua habilidade: “E o Senhor elogiou o administrador desonesto, porque este agiu com esperteza. De fato, os que pertencem a este mundo são mais espertos com a sua gente, do que aqueles que pertencem à luz” (Lc 16,8). De sorte que o evangelho nos convida a nos servir de dinheiro para servir a Deus: “E eu lhes declaro: ‘Usem o dinheiro injusto para fazer amigos, e assim, quando o dinheiro faltar, os amigos receberão vocês nas moradas eternas” (Lc 16,9). A segunda sentença da parábola assevera: “Nenhum empregado pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Lc 16,13).

Como, na Igreja, podemos nos servir de dinheiro para servir a Deus? Partilhando, amando e construindo um mundo de justiça, de igualdade, de paz, devolvendo a dignidade àqueles e àquelas que a perderam e estando a serviço do Reino de Deus. Jean Debruynne prossegue em sua reflexão: “Hoje, a publicidade invade os jornais, as rádios e as telas de televisão para conjugar dois verbos: primeiro o verbo ter: ter dinheiro, ter relações, ter poder... e, depois, o verbo aparecer: aparecer na televisão, aparecer o melhor, o mais forte, o mais bonito... A fé tem apenas um verbo para conjugar: o verbo ser. Jesus nos diz, em primeiro lugar, que a fé não é como o dinheiro. Ela não é alguma coisa que se tem ou não se tem, que se ganha ou se perde. Crer é ser, é existir, é viver. Jesus nos disse, na sequência, que o que nós temos, o que possuímos, mesmo quando é pouco, deve servir para ser”.

2. Devemos denunciar os ricos que esmagam os pequenos, exploram os pobres e os dirigentes que se acham os donos dos bens que lhes são confiados.

O profeta Amós, na primeira leitura de hoje, não tem papas na língua. No século VIII a.C., sob o reinado do rei Jeroboão II, o comércio está em franca expansão e o luxo se estende, agora, na capital, Samaria. O profeta Amós denuncia as injustiças cometidas pelos grandes proprietários de terras contra os trabalhadores. Aqueles os exploram e os esmagam até torná-los escravos: “Nós podemos comprar os fracos por dinheiro, o necessitado por um par de sandálias, e vender o refugo do trigo” (Am 8,6). E pior ainda: esses novos ricos estão com pressa que o sábado termine para acelerar e continuar suas maldades: “Quando vai passar a festa da lua nova, para podermos pôr à venda o nosso trigo? Quando vai passar o sábado, para abrirmos o armazém, para diminuir as medidas, aumentar o peso e viciar a balança?” (Am 8,5).

Para terminar, gostaria de propor esta bela reflexão do século IV que nos vem de São Basílio de Cesareia: “O que faço de errado, diz o avarento, guardando o que é meu? Dize-me, de que modo é teu? Donde tiraste, tomando-o para teu sustento? És como alguém que, indo ao teatro, se apoderasse do espetáculo e quisesse excluir os que entrassem depois, pretendendo ser só teu aquilo que é comum a todos os que se apresentam, conforme lhes parece bem. Assim são os ricos: apoderando-se primeiro do que é de todos, tudo tomam para si por uma falsa ideia. Se cada um tirasse para si o que lhe é necessário e entregasse aos indigentes o que sobra, ninguém seria rico, ninguém seria pobre. Não saíste nu do útero e não retornarás nu para a terra? Os bens que possuis, de onde vêm? Se dizes que provêm do acaso, és ímpio, não reconhecendo o Criador e não dando graças ao doador. Se, ao invés, admites que são de Deus, dize-me por que os recebeste. É talvez injusto Deus, que nos distribui os meios de subsistência de modo desigual? Por que tu és rico e aquele é pobre? Certamente para que tu pudesses receber a recompensa da bondade da fiel administração e aquele pudesse conseguir o magnífico prêmio da paciência”.

Um comentário:

  1. We bring to Him all are simple, but important tools, and we have received the gift of faith is not to hide it, but to spread it, so that it can illuminate the path of so many brothers.”
    Address d el santo padre francisco. to the participants in the pontifical mission.

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