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sábado, 6 de dezembro de 2014

IMACULADA: Novena com Frei Petrônio. (8º Dia)

NOVENA A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. (8º Dia)

Tema: O Olhar de Maria. 

8º Dia. Sábado, 6 de dezembro.
Subtema: Nos olhos de Maria, encontramos a amorosidade.

1º - Olhar para os olhos de Maria.
2º- Um texto bíblico para leitura e meditação sobre o carinho de Maria por Jesus e pela comunidade  (JO 2, 1-11).
3º- Uma prece pedindo a Deus a sensibilidade.
4º- Rezar 3 Ave Maria.
5º- Oração Final
"Lembrai-vos"-Oração de S. Bernardo a Nossa Senhora.
Lembrai-Vos, ó puríssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, e reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado.
 Animado eu, pois, de igual confiança, a Vós, Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro, de Vós me valho e, gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro aos Vossos pés. 
Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que Vos rogo. Amém. 
6º - Benção Final

Texto para Meditação:
A Presença amorosa de Maria na vida de Jesus e na comunidade.
Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam

O evangelho de João apresenta o grupo na festa de um casamento em Caná da Galiléia:  “Aí estava a mãe de Jesus. Também Jesus e seus discípulos foram convidados para o casamento” (Jo 2,1-2). O evangelista tem uma clara intenção em relatar os acontecimentos  nas bodas de Caná: salientar a presença de Maria na festa do casamento. Já no livros do Antigo Testamento o casamento é um símbolo frequente do amor de Deus por Jerusalém (Is 62,5). No Novo Testamento torna-se símbolo da união do Messias com a Igreja (Ef 5, 21-33). Nas bodas de Caná esse casamento de Jesus com a Igreja em vista da humanidade inteira ainda não aconteceu: “Mulher, que desejas de mim? A minha hora ainda não chegou”. Maria está presente ao primeiro milagre, que revela a glória de Jesus. A expressão “chegou a hora” aparece repetidas vezes no evangelho de João, apontando principalmente para a paixão e glorificação de Jesus: “Pai, chegou a hora, glorifica teu Filho para que teu Filho te glorifique” (Jo 17,1). Cristo amou a Igreja e se entregou por ela. Maria está novamente presente, junto à cruz: “Mulher, eis o teu filho! E depois se dirigindo ao discípulo: “Eis a tua mãe” (Jo 19,26-27).
           O evangelho de Lucas, já nos primeiros dois capítulos do seu evangelho, nos deixa permanecer longamente na presença de Maria de Nazaré, acompanhando as suas reações na anunciação do anjo, a sua visita a Isabel, sua viagem a Belém junto com José, o nascimento de seu Filho em condições precárias, sua silenciosa meditação diante dos pastores que acorreram para ver o menino recém-nascido, a apresentação de Jesus no templo onde o velho Simeão lhe predisse que o Filho dela seria uma bandeira disputada que haveria de mostrar os pensamentos de todos, ou contra ou a favor. O que seria como uma espada que atravessaria a ela mesma. Para Maria foi uma caminhada de fé nesse mistério do seu próprio Filho. Caminhada feita no dia a dia na casa de Nazaré, na viagem de retorno a Jerusalém onde, depois de uma procura angustiada de três dias,  reencontrou o menino no templo. Maria e José não entenderam a justificativa que Jesus deu do seu comportamento: “Não sabíeis que eu tenho de estar na casa do meu Pai?”. E de novo, Maria guardava tudo isso em seu íntimo.
Maria aos poucos vai descobrindo que o silêncio de Deus não é ausência de resposta. Durante toda a sua vida ela repetiu: “Que tudo aconteça segundo a sua palavra”. Palavra de Deus que ela mesma deu à luz por intervenção do Espírito Santo. Uma palavra é autêntica, realmente nova, quando sai do silêncio. Deus por ser o Totalmente Outro é sempre silêncio, em comparação com a música que já conhecemos.  É por assim uma lei que rege a espiritualidade. No processo da espiritualidade as nossas palavras, as nossas atividades, as nossas alegrias e tristezas, enfim a nossa vida devem tornar-se grávidas do silêncio do mistério de Deus.
            No Evangelho de João, Maria aparece no início da vida pública de seu Filho. Ao que parece é uma convidada importante. Ela tem suficiente autoridade para colocar os empregados da casa a serviço de Jesus: “Fazei o que ele vos disser”. Percebeu que estava faltando vinho para o casamento. É algo trágico num casamento. Dirige-se a Jesus: “Eles não têm mais vinho”. A reação de Jesus é de uma aparente indiferença. De fato, não cabe a ela definir os tempos nem as ações de Jesus. Mas, como primeira criatura humana atingida pelo projeto do Pai, e envolvida como primeira beneficiada na revelação histórica desse projeto redentor, Maria seguiu os passos de Jesus pois Ele é “o caminho, a verdade e a vida”.
            Olhando para o nosso mundo, percebemos que nele falta o vinho: o vinho da vida, o vinho da esperança, o vinho da espiritualidade. Faz pensar num texto de Isaías: “Já não se bebe vinho ao som do cântico, e a bebida forte tem um sabor amargo para quem o bebe” (Is 24,9). “Eles não têm mais vinho”, disse Maria a Jesus no casamento em Caná. Pelo Espírito que Jesus prometeu enviar a água pode transformar-se em vinho. Peçamos  à Mãe de Jesus que interceda por nós. Ela o fará contanto que sigamos o que ela nos propõe a partir da sua própria experiência: “Fazei tudo o que ele vos disser”.

*Congresso Mariano Mariológico - Recife 11/07/2001.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

NOVENA A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. (7º Dia)


Tema: O Olhar de Maria. 

 7º Dia. Sexta-feira, 5 de dezembro.
Subtema: Nos olhos de Maria, encontramos a contemplação.
1º - Olhar para os olhos de Maria.
2º- Um texto bíblico para leitura e meditação sobre a contemplação de Maria  confrontando com a nossa experiência com Deus (At 1, 12- 14).
3º- Uma prece pedindo a Deus para que Ele nos ajude a encontrá-lo. 
4º- Rezar 3 Ave Maria.
5º- Oração Final
"Lembrai-vos"-Oração de S. Bernardo a Nossa Senhora.
Lembrai-Vos, ó puríssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, e reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado.
 Animado eu, pois, de igual confiança, a Vós, Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro, de Vós me valho e, gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro aos Vossos pés. 
Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que Vos rogo. Amém. 
6º - Benção Final

Texto para Meditação: Maria, a Contemplativa.
Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam

            Nos Evangelhos Maria é apresentada para nós como um modelo.  Ela é a mulher de fé, a discípula perfeita de Jesus Cristo.  Maria era uma contemplativa, o que não significa que ela passava o dia inteiro ajoelhada.  Uma contemplativa, amiga madura de Deus que olha para a realidade com os olhos de Deus e ama o que ela vê como com o coração de Deus.
            Depois da atordoante notícia que ela recebeu na anunciação, Nossa Senhora se apressou em visitar Isabel, a qual disse a ela que ela era abençoada por causa de sua fé.  Deus não exige que façamos coisas muito difíceis ou grandes coisas.  Deus quer fazer grandes coisas em nós e através de nós.  Maria cooperou com a Palavra de Deus e assim deu espaço para Deus trabalhar em sua vida.  Ela foi abençoada principalmente não pelo que ela fez, mas por causa do que Deus fez nela.
Contemplação começa quando colocamos nossa confiança em Deus, qualquer que seja o caminho que Deus escolha para vir até nós.  Porém precisamos estar acordados e reconheçer a aproximação de Deus o qual pode vir a nós por caminhos totalmente inesperados.  Maria recebeu a Palavra de Deus através da mensagem de um anjo, mas estava também aberta para ouvir a Palavra de Deus ao pé da Cruz.  Elias encontrou a Deus não no terremoto ou fogo ou na ventania mas no som do absoluto silêncio. (1Reis, 19,11-13
Ela escutou a Palavra de Deus, ela ponderou tudo em seu coração; ela pensou sobre o que aconteceu com ela e o que foi dito a ela e ela foi capaz de discernir a voz de Deus no meio da realidade do dia-a-dia.  Como Maria somos chamados a ser contemplativos.  Somos chamados para de maneira contemplativa escutar à Palavra de Deus, não importa como ela venha a nós.  Nossa Senhora não tinha barreiras no cumprimento da vontade de Deus. Consequentemente ela sabia como escutar.
 Precisamos aprender como escutar. Para sermos capazes de escutar a Deus precisamos de nos conscientizar de nossos próprios objetivos dissimulados. Objetivos dissimulados é a coleção de preconceitos e ideias que realmente motivam muito do que nós fazemos e dizemos mesmo se acreditamos do contrário.  Estas coisas estão escondidas muito frequentemente de nós mesmos e algumas vezes de outras pessoas.
 Às vezes o que está nos motivando é tão claro quanto o dia para outras pessoas enquanto permanecem escondidos de nós mesmos.  Por exemplo, algumas pessoas oram para tentar manipular a Deus para fazer a vontade deles.  Talvez eles façam muitas orações, mas nunca dão a Deus uma oportunidade de falar aos seus corações.  Outras pessoas têm medo de Deus e não aceitaram o ponto fundamental do Evangelho que Deus ama a cada um de nós.  Eles oram para aplacar um Deus que está sempre pronto para esmagá-los ao menor infringimento dos regulamentos.  Alguns podem aderir muito rigorosamente aos regulamentos porque sua fé é muito fraca e eles podem sentir que sem este apoio, eles não têm nada.
Quando Maria olhou dentro de sua própria alma, ela não viu nenhum vestígio de pecado.  Não tornou-se orgulhosa mas ao contrário, agradeceu a Deus que “olhou para a humildade de sua serva” (Lc.1,48).  Ela sabia que todas as gerações a chamariam de bem-aventurada porque o altíssimo fez nela maravilhas. Para que escutemos a Deus verdadeiramente precisamos procurar estar conscientes das barreiras que temos dentro de nós.  Nossos objetivos dissimulados pode agir como um filtro mantendo fora o que não queremos ouvir.  Precisamos aceitar que nosso Deus é um Deus de surpresas.  Nossa Senhora poderia ser perdoada se tivesse visualizado uma vida de glória para si mesma como a mãe do longo esperado messias mas isso não aconteceu. 

O nascimento do messias tomou lugar na pobreza.  Simão disse a ela que uma espada trespassaria sua alma; ela teve que escapar para o Egito como refugiada; ela ouviu de Jesus que não era o relacionamento físico com ele que faz uma pessoa agradável a Deus, mas o fato que essa pessoa ouve a Palavra de Deus e a coloca em prática.  Finalmente, ela ficou de pé ao pé da cruz compartilhando a dor de seu Filho enquanto Ele morria aparentemente um fracassado exceto para aqueles que olharam para Ele com os olhos da fé.  Para fazer a vontade de Deus ela teve que aceitar os surpreendentes caminhos em que Deus agia.

ORDEM TERCEIRA DA LAPA/RJ: 104 Anos- Convite.

CONFERÊNCIA DE MEDELLÍN: Meditando 30 anos depois...

*Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam


Estamos em 1998. Decorreram  trinta anos desde o dia que encerrei as minhas anotações feitas durante a Conferência de Medellín. Relendo as 42 páginas do "diário", percebo as suas limitações. A atenção se voltava mais para os atores da Conferência que para as correntes teológicas e pastorais nela presentes, embora estas não deixem de aparecer.
Terminei minhas observações e comentários  de maneira meio abrupta, sem conclusão. Não me lembro mais se naquela época eu intencionava  prosseguir, no mesmo caderno, as minhas reflexões.  Certo é que reflexões posteriores não faltaram por ocasião de encontros, cursos. Ainda no início dos anos 70 fui convidado por Dom Hermínio Malzone Hugo a falar sobre Medellín para os padres da Diocese de Governador Valadares. Nessas ocasiões ficava surpreso com o desconhecimento dos ouvintes do significado de Medellín. Ao mesmo tempo,   em muitos lugares, reconhecia na prática pastoral  a inspiração da Conferência. Influência, creio eu, indireta através das Diretrizes da CNBB e da CRB. Fato é que Medellín é mais  questão de espírito do que documento. Em Medellín , depois de uma longa gestação,  nasceu a Igreja  latino-americana  como latino-americana. Não sei se todos os presentes naquela "maternidade" gostaram da sua aparência. Certo é que o parto inspirava preocupação e o choro da recém-nascida incomodava.
Não foi de propósito que encerrei o "diário" de Medellín com o resultado de uma votação:  Placet 50, Non placet 56. Posições contrárias estão sempre presentes. Determinam o resultado das assembléias de qualquer tipo que acontecem na Igreja. A própria história da Igreja é tecida de placet e non placet, mudos ou pronunciados. É  difícil identificar nesse jogo a ação do Espírito Santo. A pergunta é: quais as razões que explicam determinadas posições?  Existe um leque de respostas mais imediatas: convicções, conveniências, condicionamentos, visões profundas ou superficiais, etc. Depois existem as utopias, objetivos que queremos alcançar. Confesso que não sou muito adepto de utopias. Peço que eu seja mantido na esperança da grande festa que Deus preparou para todos, mas que não sei descrever. Nas utopias há  uma tendência de reduzir tudo a uma única unidade racional. Talvez seja por influência da modernidade. Há utopias que geram formas de totalitarismo. E quando constatada a sua inviabilidade podem provocar cinismo.  Por isto é bom lembrar que ninguém oferece soluções cabais para uma situação coletiva que exige mudanças. Mudanças pedem paciência e atenção à fragilidade com que são realizadas. É verdade que sempre existe o perigo de fazer cair certos problemas reais no esquecimento. Quem vai dizer que isto não tenha acontecido depois de Medellín?
Os placet e non placet, mesmo quando inspirados por visão utópica, negam na realidade a viabilidade da utopia. Nem na Igreja  existe um só projeto harmonioso  que coloca todas as idéias em sintonia. O que existe são idéias fortes que provocam outras idéias em oposição. Quando há uma insistência na teologia da criação, surge no outro prato da balança a idéia da fé na necessidade da redenção. A idéia da libertação provocou a idéia da reconciliação. Em ambas deve ser reconhecível o absoluto do amor e do respeito à pessoa humana. As descobertas das exigências cristãs ou simplesmente éticas são feitas a partir desse dado básico, mas podem variar nas suas traduções concretas. No entanto, neste processo de descobertas e crescimento sempre se vislumbra  algo que escapa às nossas realizações políticas concretas. Vamos chamá-lo de sagrado, de gratuito. Pode acontecer que ele se anuncie no silêncio de gente simples diante dos nossos discursos. Silêncio que muitas vezes é qualificado como indolência.
Na gratuidade existe sempre algo de paradoxal. Incomoda e faz explodir as nossas categorias. Quem perde de vista a precariedade dos nossos consensos e realizações,  dificilmente poderá aceitar o mistério da encarnação. Lembro ter lido em algum livro, anos atrás, que Jesus anunciava a utopia do Reino de Deus. Mas este Reino não é uma utopia. Jesus afirmava que o Reino estava no meio de nós, como um grão  de mostarda. E manifestava a presença desse Reino, não através de um plano social global, mas nos seus próprios gestos. Ele dava sinais que pediam, sem dúvida, atitudes e medidas concretas.
Há outros, tantos outros que foram e são sinais desse Reino. Penso em Teresa de Lisieux cujo centenário da morte acabamos de celebrar. Sua vida tornou-se cada vez mais sinal do Reino à medida que desapareceu como utopia. Penso em  Teresa de Calcutá cuja vida foi uma parábola do Reino dos Céus. Penso no bispo Romero que à sua maneira foi sinal do Reino. Lembro-me com gratidão do acontecimento Medellín. Com seus placet e non placet foi outro tipo de sinal da presença do Reino.    

*Dom Frei Vital Wilderink, O Carm, foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.

IMACULADA: Novena com Frei Petrônio. (6º Dia)

NOVENA A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. (6º Dia)

NOVENA A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. (6º Dia)
Tema: O Olhar de Maria. 

6º Dia. Quinta-feira, 4 de dezembro.
Subtema: Nos olhos de Maria, encontramos o carinho da família.
1º - Olhar para os olhos de Maria.
2º- Um texto bíblico para leitura e meditação sobre a Sagrada Família de Nazaré  confrontando com a nossa Família. (Lc 2, 1-7).
3º- Uma prece pela paz, união e perdão nas famílias.
4º- Rezar 3 Ave Maria.
5º- Oração Final
"Lembrai-vos"-Oração de S. Bernardo a Nossa Senhora.
Lembrai-Vos, ó puríssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, e reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado.
 Animado eu, pois, de igual confiança, a Vós, Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro, de Vós me valho e, gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro aos Vossos pés. 
Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que Vos rogo. Amém. 

6º - Benção Final.

MÚSICA TEMA DO NOVENÁRIO: O Olhar de Maria.
Por Frei Petrônio de Miranda, Carmelita. Convento do Carmo, Lapa, Rio de Janeiro. 29 de novembro-2014.

VARRER A CONCEIÇÃO.
(Cantiga do Folclore Brasileiro)

1- Levantei de madrugada
Pra varrer a Conceição.
Encontrei Nossa Senhora
/Com seu raminho na mão (bis).

2- Eu pedi ela o raminho
Ela me disse que não.
Eu tornei a lhe pedir
/Ela me deu o seu cordão. (bis)

3- O cordão era tão grande
Que do céu arrastava o chão.
E ainda dava sete voltas
/Em redor do coração. (bis)

4- Numa corda tem São Pedro
Na outra senhor São João.
No meio tem um letreiro
/Da Virgem da Conceição. (bis)

5- Oferecei este bendito
Pelo zelo e com devoção.
A Senhora Aparecida
/Senhora da Conceição. (bis)

6- Outra vez oferecemos
Ao Senhor que tá está Cruz.
Pelos séculos eterna glória.
/Para sempre amém Jesus. (bis)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

FRADES CARMELITAS: Missa no Eremitério.

IMACULADA: Novena com Frei Petrônio. (5º Dia)

NOVENA A NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO. (5º Dia)

Tema: O Olhar de Maria. 

5º Dia. Quarta-feira, 3 de dezembro.
Subtema: Nos olhos de Maria, encontramos o silêncio.
1º - Olhar para os olhos de Maria.
2º- Um texto bíblico para leitura e meditação sobre o Silêncio de Maria confrontando com o nosso silêncio. (Lc 1, 5-38).
3º- Uma prece pelos cristãos que são forçados a silenciar e uma súplica pedindo a Deus o silêncio que gera paz.  
4º- Rezar 3 Ave Maria.
5º- Oração Final
"Lembrai-vos"-Oração de S. Bernardo a Nossa Senhora.
Lembrai-Vos, ó puríssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, e reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado.
 Animado eu, pois, de igual confiança, a Vós, Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro, de Vós me valho e, gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro aos Vossos pés. 
Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-Vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que Vos rogo. Amém. 
6º - Benção Final

MÚSICA TEMA DO NOVENÁRIO: O Olhar de Maria.
Por Frei Petrônio de Miranda, Carmelita. Convento do Carmo, Lapa, Rio de Janeiro. 29 de novembro-2014.

VARRER A CONCEIÇÃO.
(Cantiga do Folclore Brasileiro)

1- Levantei de madrugada
Pra varrer a Conceição.
Encontrei Nossa Senhora
/Com seu raminho na mão (bis).

2- Eu pedi ela o raminho
Ela me disse que não.
Eu tornei a lhe pedir
/Ela me deu o seu cordão. (bis)

3- O cordão era tão grande
Que do céu arrastava o chão.
E ainda dava sete voltas
/Em redor do coração. (bis)

4- Numa corda tem São Pedro
Na outra senhor São João.
No meio tem um letreiro
/Da Virgem da Conceição. (bis)

5- Oferecei este bendito
Pelo zelo e com devoção.
A Senhora Aparecida
/Senhora da Conceição. (bis)

6- Outra vez oferecemos
Ao Senhor que tá está Cruz.
Pelos séculos eterna glória.
/Para sempre amém Jesus. (bis)


Dogma e Mística.

*Dom Frei Vital Wilderink, O. Carm. In Memoriam

As interpretações  do que é dogma e do que é mística  variam e nem sempre acertam.

I.   Para interpretar o dogma podemos referir-nos à carta de Paulo aos romanos (10, 9 ss):  “Se confessares com tua boca que Jesus é Senhor e creres em teu coração que Deus o ressuscitou dentro os mortos, serás salvo. Pois quem crê de coração obtém a justiça, e quem confessa com a boca, a salvação”. O Apóstolo está persuadido que fé e confissão estão essencialmente unidas. A resposta da fé na obra salvífica de Deus engaja o homem todo, coração e boca, corpo e alma, pensamento e ação. O que se recebeu de Deus  destina-se à transmissão do crente aos seus próximos.  Não são poucos os escolhidos, mas todos devem ser salvos.  Por isto o crente deve a Deus e aos homens sua confissão de fé sintetizada em dois artigos dogmáticos: “Jesus é o Senhor” e “Deus o ressuscitou dos mortos”.  Dois artigos que são expressão dos dogmas cristológicos  que estão na base dos dogmas que no correr dos tempos foram proclamados. Não são artigos doutrinais de um sistema teorético, mas são princípios de vida da comunidade que se afirma em relação a Jesus Cristo, o Senhor. Surgidos da fé são destinados a serem comunicados para firmar os outros na fé ou transmitir a fé aos que ainda não creem. O sujeito dos artigos da fé é a comunidade de fé, mesmo quando individualmente são proclamados. Ligados reciprocamente une também os crentes e visa inclusive a relação com os não-crentes. São abertos para cada pessoa.
O que tem a ver com a mística? A pergunta o que é mística é mais fácil fazê-la do que responder-lhe. Na  realidade a respeito dela existem muitas teorias e práticas. Anselmo Stolz falava de um campo de batalha. Outros preferem aplicar-lhe características mais pacíficas e falam de alturas ensolaradas que no entanto desparecem numa densa neblina. É objeto de aspirações, de gozo da alma e de enganos. Pelo fato de que fenômenos místicos se encontram  em todas as religiões, pergunta-se se há para todos eles um denominador comum.  Talvez exista: Mística é uma experiência intensiva do transcendente, uma vivência qualificada da situação humana fundamental. Pode-se assim dizer que mística é uma interiorização transcendental  existencial extraordinária.
Extraordinária porque a experiência mística não acontece a todo mundo embora possamos supor que ela diz respeito a cada um. Até pode se afirmar que aqueles para os quais as portas de acesso à experiência mística estão abertas nem sempre passam por elas. Há também outros que se queixam quando o acesso à experiência lhe é temporariamente negado.
O termo “existencial” dá a entender que a mística não é um fenômeno marginal que não tem significado especial para a vida humana. Pelo contrário, trata-se de algo que diz respeito incondicional à existência humana. A mística leva a um engajamento existencial.  Podemos ter na nossa vida habilidade para determinadas atividades, adquirida por treinamento ou estudo; conhecimento místico, porém, atinge o ser humano todo. Isto vale também quando em casos concretos de experiência mística dominam determinadas mediações: visões, audições, experiências afetivas ou intelectuais.  O que vale para todas essas várias acentuações  da experiência mística é que elas apontam para a interiorização do que é experimentado. O místico é atingido no fundo do íntimo do seu ser.
Mas o que é experimentado? Fala-se do transcendente. O que significa o transcendente? É uma realidade com  que nos confrontamos, mesmo se o sabemos no nosso interior. Permanecendo numa ideia geral de mística,  esse transcendente pode ser entendido como pessoal ou apessoal. Para o cristão trata-se do Deus uno e trino que nessa interiorização existencial extraordinária se dá a perceber em comunhão .
Considerando tudo isso com os olhos da fé cristã podemos dizer que o elemento fundamental desse acontecer extraordinário é a graça divina. A interiorização mística é um dom da graça que vem do Pai pelo Filho no Espírito Santo.  Esse dom é imerecido e indisponível. Mesmo os atos que o preparam dependem da graça de Deus. O que significa que não é possível provocar a experiência mística por forças próprias através de determinadas práticas. Nem podemos possuí-la como uma qualidade nossa ou bem nosso. A interiorização mística só é possível através da ajuda de Deus. Desde o início até a realização Deus acompanha cada passo.
Os atos da fé, da esperança e caridade atingem a existência no ponto mais profundo. É neles que a interiorização existencial tem as suas raízes e para eles é orientada, é neles que é realizada. As palavras de Jesus, citadas no evangelho   de João nos abrem um horizonte nesse sentido: “”Se alguém me ama, guardará minha palavra e meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14, 23). É nisto que consiste a glória de que Jesus fala dirigindo-se ao Pai: “Eu lhes dei a glória que tu me deste para que sejam um, como nós somos um: Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos  na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim” (Jo 17, 22-23).
Na fé cristã não se trata de uma transcendência abstrata mas do Deus trino-e-um transcendente. Ele transcende nosso pensar e querer, nossas experiências e nossos desejos, ele transcendente todas as nossas declarações, ele transcende o mundo todo. Por isto pode ser ao mesmo tempo imanente. Ele que criou tudo, vive e opera em tudo. A presença dele em tudo um panteísta nem pode imaginar. De outra parte a ‘divindade’ como natureza nos é tão estranha e distante que um agnóstico de jeito algum pode imaginar pelo fato de que ele não conhece o que há de cognoscível em Deus. Considerando esse mistério chegamos à conclusão de que a oração é mais realista do que uma teorização. Faz dar sentido à oração de Al-Halladsch, um místico islâmico:
Quando me dirijo para o alto
Tu estás mais alto que aí
Quando me dirijo para baixo,
Tu  estás aqui acima de  tudo.
Tu és quem dá lugar a todos,
Mas Tu não és o lugar deles.
Tu és em tudo o todo,
Mas não perecível como nós.

II. O que distingue dogma de mística. Dá a impressão que são dois mundos totalmente distintos. Há quem acrescenta: não só distintos mas também opostos. E mesmo se há uma espécie de relação amigável, chegam talvez a uma trégua em que cada um se obriga a respeitar a realidade de cada um.
O dogma está na perspectiva da proclamação, a mística na perspectiva da experiência. O dogma se manifesta na palavra, a mística vai além da palavra. Amor cria e faz crescer a comunidade, mas o dogma faz a comunidade da fé. O dogma supõe o testemunho comum. Suas definições  marcam  fronteiras para salvaguardar a comunidade e em vista do testemunho comum que permanece uma exigência sempre renovada. Na mística a prioridade é dada ao indivíduo agraciado. Muitos são convictos que a interiorização existencial extraordinária não é transferível.
Teologicamente falando trata-se de uma forma de revelação privada. Esta palavra não significa uma  desvalorização; trata-se de uma informação de um acontecer que diz respeito a pessoas particulares.  Para estas pessoas a revelação particular pode trazer deveres; para outras não, mesmo se é aconselhado de levar  a sério o testemunho da revelação recebida. Seus argumentos são os seguintes: ‘novas situações exigem novas ações da Igreja de acordo com o mesmo e permanente Evangelho. Isto precisa de um discernimento que não pode ser deduzido somente  deste Evangelho como elemento objetivo. O impulso carismático para o reto discernimento pertence como função à revelação privada, seja  essa função apresentada como explícita ou não’.  No entanto o dogma não se apoia em experiências místicas e revelações privadas por uteis que possam ser.O dogma está a serviço de toda verdade revelada que está em jogo e que tem caráter obrigatório. No caso de um discernimento a fazer, trata-se mais de uma prioridade que de  uma exclusividade. Isto mostra que dogma e mística, com toda a distinção que existe entre ambos, têm muito em comum.

III.  Dogma e mística têm a ver com dados no sentido profundo da palavra. Ambos vivem daquilo que recebem. O dogma não é um pensamento livremente   formado através de determinados conceitos. Não é  o dado de uma maneira de pensar que partindo de capacidades humanas é oferecido  numa sistemática determinada que qualquer um em qualquer tempo pode reelaborar. O conteúdo íntimo do dogma é o indecifrável e inconjugável agir de Deus. A mística por  sua vez aponta para essa marca de gratuidade. A mística não adquire por força própria seus conhecimentos , por mais que certos métodos lhe possam oferecer uma ajuda. O místico recebe o que ele mesmo não pode produzir.  Ele é persuadido que ele não tem a ver com os frutos do seu querer e pensar, mas com dons que ultrapassam seu querer e seu pensar e ao mesmo tempo lhe exigem. Origem de todos os dons é a gratuidade absoluta, o mistério divino. Se se entende o místico como o mystikõs, como alguém que está ligado aos mistérios, então pode-se dizer analogicamente em relação ao dogma: Também este tem a sua origem no mysterium de Deus; o mesmo deve ser dito em relação a cada um dos mistérios que nos foram revelados. A  interpretação dele pode ser vista como exegese mistagógica.
Ambos, dogma e mística só atingem o mistério de maneira incompleta; ambos não estão em condições de atingi-lo totalmente. Mesmo o fragmento captado só é atingido de maneira limitada.  “Trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila, para que esse incomparável poder seja de Deus e não de nós” (2 Cor 4, 7). A explicação do dogma é ameaçada por um dogmatismo exagerado, como a mística por um subjetivismo absolutista. A limitação do dogma e da mística abre frequentemente a porta para erros nas tentativas de interpretação. Neste sentido devemos manter  não só a sua aceitação obrigatória mas também saber que os dogmas são fórmulas abertas, fórmulas que abrem para um mistério ilimitado.  Não que sejam falsos, mas precisamente enquanto elas são verdadeiras elas apontam para além de si mesmas. Quanto à mística para ser verdadeira elas se abre para outros testemunhos, especialmente para o primeiro e último Mistério de tudo que é. Uma verdadeira experiência mística abre-se sempre de braços estendidos para o Mistério-Fonte. “Deus é amor” (1 Jo 4,8.16). Ambos, dogma e mística o interpretam, cada um na sua maneira característica.

IV. O que dogma e mística podem significar reciprocamente.
Não faltam testemunhas que podem responder  afirmando, pelo menos na prática, a significação que o dogma tem para a mística e vice-versa. A lista dessas testemunhas, mestres na doutrina e na vida espiritual,  é longa. Nós os encontramos ao longo da história da Igreja. O tema volta cada vez nos seus escritos. Basta citar alguns: Basílio, Atanásio, Gregório de Nissa, Agostinho, Pseudo-Dionísio Areopagita, Tomás de Aquino, Boaventura, Mestre Eckhart,, Johannes Ruusbroec, João da Cruz, Inácio de Loyola, Francisco de Sales, e não deixemos de citar para a nossa época Karl Rahner, Hans Urs von Balthasar e sua dirigida Adriana Von Speyr, Tito Brandsma, Chiara Lubich.
São testemunhas de doutrina e de vivência.
Todos sabemos que lendo os textos de conhecidos ou desconhecidos que têm sua hermenêutica  que nós procuramos integrar na nossa maneira de entender as coisas. Assim podemos interpretar o que nos é apresentado no terreno da mística a partir do dogma e o diferente no campo dogmático a partir da mística.
O ponto de partida é a convicção de que afirmações dogmáticas e místicas necessitam de uma interpretação. Quem se ocupa dos dogmas sabe que parcialmente foram formulados há muitos séculos. O que pede que sejam explicados para os nossos contemporâneos. Vale também para experiências místicas que nem sempre facilmente vão ser entendidas. Muitas vezes nem sempre todos entendem o que experimentam porque ultrapassa as possibilidades que têm para entender e para expressar. Neste caso o dogma pode ajudar para esclarecer os fenômenos místicos a partir de sua origem e de sua conexão íntima. Aqui é bom citar o decreto sobre o Ecumenismo do Vaticano II (n. 11): “O modo e o método de exprimir a fé católica não devem, de forma nenhuma. transformar-se em obstáculo para o diálogo com os irmãos.[Deve-se evitar o falso irenismo] Ao mesmo tempo a fé católica deve ser explicada mais profunda e corretamente, de tal modo e com tais termos que possa de fato ser compreendida também pelos irmãos separados....Comparando as doutrinas lembrem-se que existe uma ordem ou “hierarquia” de verdades na doutrina católica, já que o nexo delas com o fundamento da fé cristã é diverso. Assim se abrirá o caminho pelo qual, mediante esta fraterna emulação, todos se sintam incitados a um conhecimento mais profundo e manifestação mais clara das investigáveis riquezas de Cristo” .
A ação de Deus não tira o véu do mistério e o que estava escondido antes, ela não apresenta agora mais ao nosso alcance. Deus não desfaz o mistério, ele o oferece como tal ao nosso olhar. O Deus que se revela não dá a solução de um enigma, ele se dá a conhecer a si mesmo, ele se dá a si mesmo. Aquilo que se reconhece está naquele que reconhece,  não do jeito daquilo que é reconhecido, mas  do jeito de quem reconhece. A alma que têm uma experiência mística da presença de Deus, capta essa presença não do jeito que Deus é, mas do jeito humano, na sua medida, de acordo com a  condição do seu estado de  alma. É o que podemos ver no sentido místico presente nos salmos, tanto da parte de quem  é o autor dos salmos como da parte de quem os lê ou recita. A experiência mística não ultrapassa o alcance da fé, mas penetra mais profundamente nele. Não deixa o conteúdo da fé para lá  mas aponta para o que ele tem de mais profundo    promovendo um melhor conhecimento dele.  A experiência mística é algo existencial e por isso faz perceber que os dogmas não proclamam verdades abstratas mas fazem descobrir o  que o Senhor quer dizer e dar aos homens e fazem glorificar a Deus. Uma santa religiosa Ir.Maria Julitta Ritz aconselhou a um sacerdote atitude pastoral o seguinte: “Nosso objetivo é a glorificação em tudo. Tudo deve servir a ele. Para isto conduz a cruz. Por isso para frente com coragem! – Deus é presença!” Sempre é o “só Deus” da mística um impulso para valorizar o caráter doxológico dos dogmas e sua interpretação tão frequentemente  ignorados. A experiência mística  é um instrumento do Senhor para semear mais profundamente no campo do mundo a sua verdade e fazer produzir frutos mais abundantes.
Além de ser uma ajuda para poder entender a mística, é um incentivo para fortalecer a fé. O que é sempre favorece o campo dos dogmas.  Afinal ninguém pode abrir-se à proclamação do Evangelho que é necessário para alcançar a salvação sem a iluminação e inspiração do Espírito Santo que a todos dá a alegria para abrir-se à verdade e crer. Na autentica experiência mística essa ajuda do Espírito Santo que  é necessária em todo ato de fé, é dada num modo específico. O que torna a fé mais profunda e mais sólida. Tudo isso fortalece por sua vez o místico porque pode oferecer a ele uma autocompreensão realista que uma errada interpretação do acontecimento místico impede.  Extraordinárias  experiências existenciais do transcendente podem às vezes fazer perder o chão debaixo dos pés e por isto o contacto  com os próximos. Isto pode atingir os dons recebidos no seu núcleo e fazer perder os seus frutos. Essa ajuda é essencial quando faz perceber que tudo  é gratuito, que tudo é graça. O que faz reconhecer que o homem de si mesmo não é nada e não pode nada. Os dons místicos não mudam a situação fundamental do homem no sentido que o agraciado por assim dizer se afasta do seu nada e se apoia cada vez mais na sua própria força. Afinal, a experiência mística faz excluir uma coisa: que eu considere a minha existência como uma coisa óbvia, devida, necessária. O místico no seu íntimo vem compenetrado pela consciência que nada daquilo que eu sou e que me vem doado me é devido. (H.U.von Balthasar). Isto já vale quando no plano natural alguém chega à consciência de que no princípio da sua existência há uma iniciativa, um Alguém que me deu a mim mesmo. Quanto mais amplo deve acontecer numa experiência mística.
É importante que se entendamos bem a reciprocidade entre dogma e mística.
O que impede que nos contentamos com conclusões teoréticas que certamente não nos despertam para orando agradecer a Deus o dom recebido. Basta deixar-se inspirar pela carta aos efésios  em que Paulo escreve que “fomos feitos a herança de Cristo a fim de servirmos para o seu louvor e glória” (Ef 1,12). O que pode inspirar-nos a oração que Paulo faz na mesma carta aos efésios:
“Por essa razão dobro os joelhos diante do Pai de que toma o nome toda a família no céu e na terra, para pedir-lhe que conceda, segundo a riqueza da sua glória, que vós sejais fortalecidos em poder pelo Espírito Santo no homem interior, que Cristo habite pela fé em vossos corações e que sejais arraigados e fundados no amor. Assim tereis condições para compreender com todos os santos qual é a largura e o comprimento e a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo o conhecimento, para que sejais plenificados com toda a plenitude de Deus” (Ef 3, 14-19).
É uma oração que é um exemplo concreto que dogma e mística pertencem a esta família cristã de que Paulo fala. “Àquele, cujo poder agindo em nós, é capaz de fazer muito além, infinitamente além de tudo o que nós podemos pedir ou conceber, a ele seja a glória na Igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações dos séculos dos séculos! Amém.

* Dom Frei Vital Wilderink, O Carm, foi vítima de um acidente de automóvel quando retornava para o Eremitério, “Fonte de Elias”, no alto do Rio das Pedras, nas montanhas de Lídice, distrito do município de Rio Claro, no estado do Rio de Janeiro. O acidente ocorreu no dia 11 de junho de 2014. O sepultamento foi na cidade de Itaguaí/RJ, no dia 12, na Catedral de São Francisco Xavier, Diocese esta onde ele foi o primeiro Bispo.

DOM PEDRO CASALDÁLIGA: Entrevista.

Dom Pedro Casaldáliga: ‘O problema é ter medo do medo’
O bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, conta nesta entrevista ao sítio Quem tem medo da democracia? - QTMD -um pouco das suas vivências, falando sobre o contexto do Estado do Mato Grosso e do Brasil na atualidade. Fala também da importância das ações sociais que são desenvolvidas e do descaso com a Causa Indígena. A entrevista é de Ana Helena Tavares e publicada por Quem tem medo da democracia?, 21-10-2012.
A voz é baixa, o corpo já não permite lutar no front, mas a lucidez do catalão D. Pedro Maria Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, é capaz de constranger. Por várias vezes quase assassinado, devido à sua opção pela defesa dos pequenos e o conflito com os grandes, D. Pedro ainda recebe ameaças.
O QTMD? viajou ao Araguaia para ver e ouvir de perto um pouco da história deste homem que optou por viver "descalço sobre a terra vermelha”. "’Descalço’ quer dizer sem consumismo. ‘Sobre a terra vermelha’. Uma terra ensopada de suor,… Mas também ensopada de sangue”, definiu Casaldáliga.
Para ele, todos os partidos e governos têm três dividas com o povo: A da Reforma Agrária – reforma que "não há, não há, não há…”, a da Causa Indígena – "os índios sobram frente ao agronegócio” – e a dos Pequenos Projetos – "a obsessão pelos grandes projetos é marca do governo atual”.
O bispo, que enfrentou a repressão do regime militar, lembrou que "Jesus enfrentou as forças do Império Romano”, e falou sobre Comissão da Verdade, lamentando a falta de punição aos torturadores: "A memória histórica tem que servir de lição”, sublinhou.

Recebido por tochas
"Eu cheguei em 1968 ao Rio de Janeiro (onde ficou cerca de 4 meses). Saímos de Madrid a 11 graus abaixo de zero e chegamos ao Rio de Janeiro a 38. Tinha aquelas tochas do aeroporto para a cidade. Umas tochas acesas… Eu ainda estou vendo… Aquele calor, com aquelas tochas… Passamos uma noite sem dormir.”
Casaldáliga aparece sentado, de óculos escuros, no ano em que chegou ao Brasil.. Foto: arquivo da Prelazia de São Félix.

"Há muitos Brasis”
"E depois, em Petrópolis, eu fiz um curso que tem a Igreja Católica no Brasil para missionários que vêm de fora. Para estudar a língua e ter uma noção de história do país. Da Igreja no país. E foi providencial. Porque, na época da ditadura militar, se tivéssemos chegado diretamente, da maneira como nós chegamos (foto), para São Félix do Araguaia… Nós estaríamos perdidos. Completamente despistados, sem saber da situação verdadeira… As causas da situação. As migrações: por que motivo? A história do país. Que há muitos Brasis…”.

Sete dias de caminhão
"Foram quase sete dias de caminhão de São Paulo até aqui (São Félix do Araguaia). Porque a estrada estava se abrindo, não tinha estrada. As pontes eram pequenas. Tinha muitos córregos… Agora, quando se faz o caminho de Barra do Garças para cá, não se tem nem ideia de como era a região.”

"Cadê a mata do posto?”
"Está tudo desmatado. Os córregos todos profanados, alguns deles secos já perderam toda a vitalidade. Tinha mata… Se fala do Posto da Mata… Cadê a mata do posto?”

"Terra de ninguém”
D. Pedro Casaldáliga chegou ao Brasil em janeiro de 68, portanto antes do AI-5 (que foi em dezembro do mesmo ano), mas garante: "já era clima de ditadura tensa”. E São Félix do Araguaia era, segundo ele, "um lugar onde o Estado não estava presente. Terra de ninguém.”

"Conflito com a política oficial”
D. Pedro lembra que, em 68, "começavam a vir as grandes fazendas com os incentivos fiscais da SUDAM.” E prossegue: "Automaticamente, para nós, a convivência com os pobres, pelo povo e pelos pequenos, significava entrar em conflito com o latifúndio. Entrar em conflito com a política oficial.”
Na imagem, um dos documentos a que o QTMD? teve acesso nos arquivos da Prelazia de São Félix. É um dos muitos
"Estavam de um lado os índios, os posseiros, os peões… Do outro, os fazendeiros, a polícia, o Exército, o governo, o Estado… Logo, quase bem do início, já percebemos que a luta seria essa. Se nos posicionávamos do lado do povo, entrávamos em conflito com a política oficial.”

A guerrilha
"Aqui não teve guerrilha. A guerrilha foi no sul do Pará e no norte de Goiás. Só que para a repressão nós éramos guerrilha. Porque não conseguiam entender que uns estrangeiros se enfronhassem nesse mundo onde não tinha comunicação de jeito nenhum. Infraestrutura nenhuma… E rapazes novos que deixassem os estudos, o emprego e viessem para cá para não ganhar nada praticamente, só podiam ser guerrilheiros ou respaldo da guerrilha. Por isso, tivemos a repressão em cima… Sempre.”

"Diálogo de surdos”
"Foram presos muitos agentes de pastoral. Torturados. As presidências da CNBB foram muito solidárias conosco. E tivemos possibilidade de discutir com as autoridades por esse respaldo da CNBB. Só que era um diálogo de surdos.”
"Veio, em 1972, o ministro da Justiça da época. (Alfredo) Buzaid, ministro da Justiça (governo Médici). Estive com ele. Discutimos… Ele prometia o que não queria dar. Se impressionou no máximo pelo início da Reforma Agrária. Pelos sucessos de Santa Terezinha dentro da região.”

"Um grito!”
"E no dia da minha sagração (foto), lançamos uma carta pastoral. "Uma igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social.” E foi um grito! Porque escrevíamos dando nomes aos bois… Isso provocou mais presença da repressão.”

"Ação Cívica e Social do Exército”
"Nós tivemos aqui na região quatro operações da ACISO - Ação Cívica e Social do Exército. Que vinha para esses interiores arrancar dentes e consultar… Vinham de fato inspecionar. Porque abrangia a área estrita da Prelazia.”
"Vasculhavam as nossas casas… Exigiam a prisão… Levavam os agentes de pastoral presos e torturados para o Quartel do Exército de Campo Grande. Porque tudo era suspeito… Havia um clima de terror nessas regiões todas.”

"O povo foi torturado como cúmplice”
"Muitos anos depois, o povo se sentia livre para agir, para conversar. Em certas celebrações que tivemos, ainda havia uma reticência. Porque, além dos guerrilheiros que foram mortos, o povo foi torturado, maltratado como cúmplice… Os guerrilheiros tinham criado amizades, alguns eram médicos, professores.”

"Os índios sobram frente ao agronegócio”
Quanto aos índios, "já era uma atitude que continuava a política toda da colonização… Os índios sobravam. E estamos no mesmo problema… Sobram frente ao agronegócio. Porque a política indígena, a cosmovisão indígena, a cultura indígena, a economia indígena… É contrária à política e à economia do agronegócio. Por isso, eu dizia que tivemos problema na defesa desses três grupos de pessoas Os povos indígenas, os posseiros e os peões.”

"O problema é ter medo do medo”
"Detectamos o trabalho escravo. E o denunciamos… Foi aqui onde primeiro se denunciou o trabalho escravo.” Perguntado se em algum momento teve medo de morrer, o bispo do Araguaia não hesitou:
"Vários! Ainda agora, por exemplo… Essa situação dos intrusos, os que comandam a intrusão. Acham que a culpa principal é minha por eu ter defendido esses índios.”
"Mas (na ditadura) éramos todos ameaçados… Eu tenho uma significação por ser bispo. Lógico… Eu digo sempre que o problema não é ter medo… O problema é ter medo do medo, (porque o medo) é uma reação defensiva.”

A morte do padre Burnier
Casaldáliga e o padre João Bosco Burnier, assassinado por um policial, estavam numa delegacia para defender mulheres torturadas. Uma delas é a que aparece na foto ao lado, observada por Casaldáliga, de óculos. Aquela foi uma das quatro ocasiões em que o bispo foi quase expulso do Brasil.
"O povo de Ribeirão Cascalheira derrubou a cadeia e a delegacia. Disseram que eu estava comandando esta derrubada da cadeia… Cadeia funcionando… E que podiam pedir a minha expulsão. Eu precisamente tinha saído rapidamente a Goiânia levando a denúncia da morte do Padre João Bosco (Burnier) e eu já não estava (em São Félix).”

As três dívidas dos governos com o povo
"Não há… Não há… Não há Reforma Agrária.”, enfatiza Dom Pedro Casaldáliga. "A Reforma Agrária supõe Reforma Agrícola também. Uma política a favor da Agricultura Familiar. Um acompanhamento dos assentamentos. Se tem feito alguns acordos… Mas não entram no que eu digo…”
"Eu digo que esses partidos, esses governos todos têm três dívidas: a da Reforma Agrária; a da Causa Indígena; e a dos Pequenos Projetos. De Agricultura Familiar, de Mini-Empresas… Têm essa dívida.”
"E com o capitalismo neoliberal… Com a política da exportação… Se confirma que esses países da América Latina e o Brasil, particularmente… Estão destinados a serem exportadores de matéria prima. É uma política contrária completamente às necessidades do povo.”
"O povo tenta fazer (a Reforma Agrária)… O MST e outras forças populares tentam gestos da Reforma Agrária. Mas a política oficial não é da Reforma Agrária. Insistindo: o que se pede é uma Reforma Agrária que seja uma Reforma Agrícola também. Porque terra é mais do que terra! Para o índio, sobretudo, é o habitat.”

"O bispo Pedro é comunista”
"Nós éramos comunistas, aqui na região, na Prelazia. E se deram casos pitorescos. Numa ocasião (na ditadura militar), a polícia lá em Santa Terezinha dizendo que: "O bispo Pedro é comunista”! Um dos camponeses falou: ‘Eu não sei o que é comunista. Agora, se comunista é ser da comunidade, trabalhar para a comunidade, o bispo Pedro é comunista’”.

"Os primeiros socialistas se inspiraram no Evangelho”
"No problema da justiça e da igualdade, estamos na mesma. Por motivos filosóficos, históricos e de fé… Também se diz: "Estamos no mesmo barco.” E, em certa medida, é verdade. Estamos no mesmo barco, mesmo que nós acrescentemos o motivo da fé. A procura da justiça social, da fraternidade universal… Os primeiros socialistas se inspiraram no Evangelho.”

"Dialético, marxista, humano”
"Por outra parte, se critica a Teologia da Libertação de ser marxista. Não é marxista. Porque existem categorias que são comuns… Dizer que os ricos cada vez mais ricos à custa dos pobres cada vez mais pobres… Isso é dialético! É marxista! É humano! Uma consideração humana da realidade dá esse resultado: que os ricos são cada vez mais ricos à custa dos pobres cada vez mais pobres.”

Socialização: a prerrogativa para a paz
"Quando fomos investigados aqui (na ditadura militar)… A Polícia Federal me parou e perguntava sobre socialismo. Eu dizia: se querem falar de socialismo, vamos falar de socialização. Se não se socializa a terra… A terra do campo e a terra urbana. A saúde, a educação, a comunicação… Se não se socializa esses bens maiores, essenciais… Não haverá paz.”

"Como Jesus optou…”
"Há um passado, um presente e um futuro (para a Teologia da Libertação). E, em todo caso, toda verdadeira teologia tem de ser Teologia da Libertação. A teologia cristã tem que optar pela igualdade fraterna da humanidade. Tem que optar pelos pobres, pelos pequenos, pelos marginalizados. Como Jesus optou.”
"Enfrentando, se preciso, as forças do poder. Como Jesus enfrentou as forças do Império Romano. As forças de uma religião utilizada… As forças do latifúndio na Palestina. Então… Um cristão que queira ser cristão de verdade tem que fazer essas opções. Isso chamamos de Teologia da Libertação.”

"A memória histórica tem que servir de lição.”
Dom Pedro Casaldáliga concorda que se investiguem as violações dos direitos humanos que tenham ocorrido entre 1946 e 1988, como está fazendo a Comissão da Verdade. "Eu acho que é bom que se abranja também essa outra área.”
"Porque o perigo de torturar fisicamente e psicologicamente está nas mãos de todos os governos que sejam mais ou menos ditatoriais. A ditadura foi o momento alto dessa repressão… Desse abuso de poder. Mas devemos prevenir para qualquer outro momento.”
O bispo, porém, discorda da falta de punição aos torturadores: "Deveriam ser punidos. A memória histórica tem que servir de lição. Não pode ser apenas evocar estaticamente uns heróis e uns torturadores. Vários países da América Latina têm dado o exemplo disso”.

América Latina: "Pátria Grande”
Casaldáliga considera que a América Latina "está melhor hoje do que ontem. Porque temos governos mais ou menos de esquerda. Porque há uma maior consciência de que somos um continente.”
"Uma "Pátria Grande”, como diziam os libertadores. "A nossa América”, diziam eles também. Eu digo sempre que a América Latina e o Caribe ou se salvam continentalmente todos ou não se salvam. Tem que ser uma comunidade de nações, porque temos uma característica especial.”

"Paixão latino-americana”
"Já, em parte, se está conseguindo que a América Latina não seja tão abertamente o quintal dos Estados Unidos. Se está dando passos importantes. Quando se fala da Venezuela, eu digo que, com os erros de Hugo Chávez, tem umas contribuições significativas. Uma delas é essa paixão latino-americana.”

"O Brasil é outra coisa”
"Custou o Brasil tomar consciência de que somos América Latina. Pelo idioma… Por uma certa atitude hegemônica… Que, às vezes, não é suficientemente controlada… O Brasil é outra coisa.”

Não acredito, mas…
O bispo não acredita em novo golpe. Ao menos, não nos moldes do que ocorreu em 64. "Nem aqui nem em outros lugares da América Latina. Mas há outros tipos de golpes… Por isso, é bom prevenir… Para que as ditaduras não sejam camufladas… Podem ser ditaduras militares, podem ser ditaduras civis também…”

Os "outros tipos de golpes”…
"O governo do Paraguai não é legítimo, o governo de Honduras não é legítimo. Evidente. São golpes de Estado, são ditaduras camufladas a serviço dos interesses do Império. (o grande capital) Que agora é menos expressivamente dos países… A globalização os tem metido a todos no mesmo saco.”

"O nosso DNA é ser raça humana”
"Por outra parte, há um cenário, uma nova consciência de sermos uma unidade. Somos a família humana. Agora não se pode prescindir do resto do mundo. Sempre temos dito que o pecado dos EUA é se considerar como ele só no mundo. E o resto é resto.”
"Agora com a globalização e suas malezas, e seus abusos… Tem se aberto um espaço… Uma unidade. A característica primeira é de ser humanos…”

"Eu digo que o nosso DNA é ser raça humana. Família humana. Existem ("raças”) como identidade. Mas, dentro dessa identidade, primeiro é o fato de ser humanos. E toda a verdadeira política se devia dedicar a humanizar a humanidade.”

"Capitalismo com rosto humano é impossível”
Perguntado se há possibilidade de haver uma verdadeira democracia dentro do capitalismo, o bispo do Araguaia foi enfático: "Não! O capitalismo é nefasto. E não tem solução… O capitalismo é o egoísmo coletivo. É a segregação da imensa maioria. É o lucro pelo lucro. É a utilização das pessoas e dos povos a serviço de um grupo de privilegiados. Quando se trata de um "capitalismo com rosto humano” se está pedindo o impossível. É impossível.”

"A democracia é uma palavra profanada.”
Para D. Pedro Casaldáliga, não há democracia verdadeira em lugar nenhum do mundo. "Porque se tem uma democracia formal… Uma democracia, entre aspas, política. Mas não se tem democracia econômica… Não se tem democracia hênica (étnica). Os povos indígenas, dentro destes Estados democráticos… São coibidos. São marginalizados. Se veem obrigados a reivindicar os direitos que são elementares para eles. A democracia é uma palavra profanada.”

Quem tem medo da democracia?
"Da verdadeira democracia… Têm medo todos àqueles que continuam defendendo privilégios para umas pessoas… Privilégios para uns poucos.”
"Todos aqueles que fazem da propriedade privada um direito absoluto.”
"Todos aqueles que não entendem que a propriedade tem uma hipoteca social.”
"Todos aqueles que considerem que podem existir pessoas, governos e Estados que vivam de privilégio à custa da dominação e da exploração…”
"Não há liberdade de imprensa”
"A grande mídia é a mídia dos grandes. Com isso está dito tudo… Não há liberdade de imprensa. Eu tenho visto jornalistas chorando de raiva porque fizeram matéria e o editor tergiversou (distorceu) tudo praticamente… Colocando o título tal e tergiversa (distorce) tudo o que foi dito no texto. Sim. Sim. Tem tido casos assim.”

Governo Dilma: "obsessão pelos grandes projetos”
"A crítica que eu faço é dessas três dívidas: A dívida da Reforma Agrária. A dívida da Causa Indígena. E a dívida dos pequenos projetos. Se faz os grandes projetos… Belo Monte. São Francisco. Hidrelétricas… Grandes projetos… O Brasil é destinado a ser uma grande fábrica a serviço deles.”
"Um índio Carajá dizia uns anos atrás… Numa coletiva de imprensa na Europa: "Eu acho que o nosso governo está mais interessado em engordar os porcos de obra…” "Do que em cuidar do seu povo…” Engordar os porcos… Sem recolher a soja… Fazer da soja a grande exportação. Há uns atrás ele falava… Mas ainda devemos dizer que essa obsessão pelos grandes projetos… Define em grande parte o governo atual.”

A política internacional vai bem
"Eu reconheço a história da Dilma. Reconheço as ações de solidariedade que ela está fazendo… A atitude que se tem adotado com respeito ao Paraguai… A atitude que se tem adotado com respeito à Venezuela… A atitude que se tem adotado quando se trata de defender o direito dos povos. Se Equador toma uma decisão, ela é acolhida ou respaldamos. Sim (a política internacional vai bem). Pela primeira vez se fez uma política, que buscava a independência com respeito aos EUA.”

"Descalço sobre a terra vermelha”
Quando o QTMD? esteve em São Félix do Araguaia, estava sendo rodado um filme sobre D. Pedro Casaldáliga, baseado em livro homônimo. O homenageado se opunha, mas depois acabou permitindo. "Eu me opunha de todo jeito. Porque eu tinha medo de duas coisas: que se partisse para o pedantismo… O culto da personalidade. E também que não se destacassem bastante… As nossas causas. Por que estamos aqui? O que defendemos aqui? Por que temos assumido essas atitudes?”
"Isso de um modo comunitário. Porque não tem sido eu… Tem sido essas equipes de pastoral… Tem sido o movimento popular. O povo da região… Que tem lutado, que luta, para vingar seus direitos. Eu fiz questão de não interferir. Deixar liberdade absoluta. Sem censura. Criticamos a censura, eu não vou fazer censura agora…”
"Tem uma vantagem, acho, o filme… Ajudará a evocar uma memória que não estava viva, sobretudo, na juventude… Do governo daquela época. Poderão agora descobrir um passado, que afeta o presente e o futuro.”
"’Descalço’ quer dizer sem consumismo. Despojado, sem consumo. ‘Sobre a terra vermelha’. Uma terra ensopada de suor,… Mas também ensopada de sangue. Sangue mártir.”, finalizou o bispo.