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sábado, 9 de novembro de 2013

A PALAVRA... Nº 456. Dedicação da Basílica do Latrão.

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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

32º Domingo do Tempo Comum. Ano-C: A ressurreição. Uma certeza ou uma esperança?

A ressurreição não é, como supõem os saduceus, um retorno ao passado. Pelo contrário, é a entrada em uma outra vida. Ressuscitar não é voltar a ser como antes, é voltar a ser como depois. Não é tornar-se outro, é tornar-se outramente. Mas atenção! Não são apenas os saduceus do tempo de Jesus que pensam dessa maneira. Seu raciocínio é o de muitos cristãos de hoje, que imaginam o além como aqui e que se representam a vida após a vida a partir dos conceitos materiais que correspondem à sua realidade e que eles transportam para o além, para o céu.
A reflexão é de Raymond Gravel, padre da Diocese de Joliette, Canadá, e publicada no sítio Réflexions de Raymond Gravel, comentando as leituras do 32º Domingo do Tempo Comum – Ciclo C do Ano Litúrgico (10 de novembro de 2013). A tradução é de André Langer.
Referência bíblica:
Evangelho: Lc 20,27-38
Eis o texto.
Estamos nos aproximando do final do ano litúrgico. Nós acompanhamos Jesus na sua subida para Jerusalém a partir do Evangelho de Lucas. Eis que hoje o Jesus do Evangelho de Lucas afirma que o nosso Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos (Lc 20,38). Nós somos prometidos, portanto, não à morte, mas à Vida e esta Vida já começou. Isso deveria transparecer em nossos rostos de cristãos e de cristãs; nós devemos viver já em ressurreição. Nietzsche dizia: “Eu acreditarei nos cristãos no dia em que eles tiverem semblantes de ressuscitados”.
1. O que é a Ressurreição?
Muitas pessoas, hoje, mesmo entre os cristãos, não acreditam na Ressurreição. Para alguns, a morte é o fim de tudo e a Ressurreição é apenas a resposta à recusa de morrer e o reflexo de uma ignorância persistente que se opõe à realidade científica. Outros, mesmo entre os cristãos, acreditam na reencarnação, isto é, nas sucessivas vidas que permitem às almas se purificarem, emprestando sucessivos corpos, até a divinização. Pessoalmente, acredito na Ressurreição e sei que a minha fé não é fruto da minha ignorância e que ela não se opõe à ciência. É evidente que a minha fé não é uma certeza, e é melhor que seja assim, porque os crentes seguros de si mesmos, são, muitas vezes, integristas e extremistas que impõem sua religião a todo o mundo... O que é contrário ao Deus de Jesus Cristo.
Bernanos dizia que sua fé estava cheia de dúvidas: “24 horas de dúvidas, menos 1 minuto de esperança”. Mas que esperança! Uma esperança a toda prova, dizia Doris Lussier: “Eu não digo: eu sei; eu digo: eu creio. Crer não é saber. Eu saberei quando verei, como os outros. Se eu tenho o saber... E, além disso, depois de tudo, como eu disse um dia a um amigo descrente: tu sabes, nossas respectivas opiniões sobre os mistérios do além não têm grande importância. No que nós acreditamos ou não, isso não muda absolutamente nada da verdade da realidade: o que é e..., e o que não é não é, um ponto, é tudo. E temos de conviver com isso”.
Por outro lado, se eu li bem o evangelho de hoje, me dou conta de que a Ressurreição não está na ordem da materialidade; ela não é, sobretudo, a reanimação de um cadáver que continua a viver como antes. E para provar isso, Jesus diz aos saduceus que tentam provar pelo absurdo a ideia da ressurreição, falando da lei judaica do levirato (Dt 25,5-6) que obriga o irmão de um morto a esposar a viúva desse para dar uma descendência ao seu irmão: “‘Mestre, Moisés escreveu para nós: Se alguém morrer, e deixar a esposa sem filhos, o irmão desse homem deve casar-se com a viúva, a fim de que possam ter filhos em nome do irmão que morreu. Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu, sem ter filhos. Também o segundo e o terceiro casaram-se com a viúva. E assim os sete. Todos morreram sem deixar filhos. Por fim, morreu também a mulher. E agora? Na ressurreição, de quem a mulher vai ser esposa? Todos os sete se casaram com ela!’” (Lc 20,28-33).
Jesus denuncia esta concepção materialista da Ressurreição. Os saduceus não se dão conta de que sua maneira de abordar o problema supõe que Deus se serve do mesmo raciocínio que aqueles nos quais eles mesmos se trancaram. O exegeta francês Jean Debruynne escreve: “Eles querem fazer Deus entrar a qualquer preço em suas adições e subtrações. Mas a ressurreição não é, como supõem os saduceus, um retorno ao passado. Pelo contrário, é a entrada em uma outra vida. Ressuscitar não é voltar a ser como antes, é voltar a ser como depois. Não é tornar-se outro, é tornar-se outramente”.
Mas atenção! Não são apenas os saduceus do tempo de Jesus que pensam dessa maneira. Seu raciocínio é o de muitos cristãos de hoje, que imaginam o além como aqui e que se representam a vida após a vida a partir dos conceitos materiais que correspondem à sua realidade e que eles transportam para o além, para o céu. Quantas vezes, sem se dar conta, os cristãos emprestam a Deus os sentimentos que são os seus, os desejos que habitam neles, os pensamentos que os tranquilizam e os julgamentos que fazem a balança pesar a seu favor. A Ressurreição é certamente uma vantagem em relação ao que se vive aqui e agora, e o importante não é saber, mas crer e esperar. No limite, mesmo que não houvesse nada depois da morte, poderíamos continuar a crer e a esperar. É exatamente o que uma mulher jovem com câncer disse a um jornalista que lhe dizia: “Se não há nada após a morte, você acreditou por nada, inutilmente!”. Ela respondeu: “Se a fé meu ajudou a viver bem com o meu marido e os meus filhos, e se ela me ajuda a morrer bem, sem me revoltar, em que terei perdido meu tempo? Uma coisa é certa: eu não terei acreditado inutilmente!”.
2. Ressurreição pessoal e coletiva
Nós não estamos sozinhos na Terra; somos coletividade, comunidade, humanidade. A nossa vida nós a recebemos uns dos outros. Nós somos seres de relação, de comunicação, de comunhão. Estamos em relação com toda a humanidade. É por isso que a Ressurreição não é somente pessoal; ela também é coletiva. São Paulo, na primeira Carta aos Coríntios, dizia: “Ora, vocês são membros dele, cada um no seu lugar” (1 Cor 12,27). “Se um membro sofre, todos os membros participam do seu sofrimento; se um membro é honrado, todos os membros participam de sua alegria” (1 Cor 12,26). Em seu livro ‘Céu! Para onde vamos?’, André Myre escreve: “Nós fazemos parte uns dos outros, tanto para o bem como para o mal, para ser salvos ou para nos perdermos sozinhos. Se apenas um está perdido, então todos estão perdidos. Se um só é salvo, então todos são salvos. Ora, Cristo ressuscitou, portanto... Daí a grande serenidade dos primeiros cristãos. Eu contribuo para a salvação dos outros e eles para a minha”.
Portanto, como cristãos, somos responsáveis uns pelos outros. André Myre acrescenta: “Nada do que os outros fazem pode me deixar indiferente. Quando estoura uma guerra, é a minha ressurreição que está ameaçada. Quando eu mato uma pessoa, é a sua ressurreição que está ameaçada. Quando a igualdade entre os homens e as mulheres é afetada, é o corpo da humanidade ressuscitada que é rompido. Quando um povo se liberta ou a democracia progride, é a esperança da minha ressurreição que aumenta. Quando um santo se levanta entre nós, é a nossa salvação que se afirma”.
E o julgamento em tudo isso? É uma realidade importante que precisamos viver desde agora. Nossa humanidade é ferida pelas injustiças, pela opressão, pelas guerras. Nós devemos, pois, trabalhar para restabelecer a justiça e restaurar a paz, para que a Ressurreição ecloda no grande dia. Para chegar lá, precisamos reconhecer nossas falhas e repará-las, nossos erros e perdoá-los. Sem isso, a Ressurreição não pode ser plenamente alcançada. André Myre chama esse tempo de tomada de consciência, de arrependimento, de reparação e de perdão, o purgatório. Ele escreve: “O purgatório só faz sentido sobre o pano de fundo de um grande amor, por parte da grande humanidade reunida em um só corpo e tomando consciência de repente do grande amor de Deus por ela. O mal se pagará, mas o amor vencerá. Enfim.”
A solidão corresponde, na perspectiva da responsabilidade coletiva da Ressurreição, ao que é o inferno: “E o inferno?, escreve André Myre. Ele terá sido uma grande solidão, solidão dos idosos ou dos abandonados, solidão dos drogados, solidão dos políticos felizes por fazerem guerra, solidão dos financistas ou dos homens de negócios sozinhos na cúpula e sem vínculos com ninguém, solidão dos homens religiosos que condenam os outros, em nome de Deus. Há tanta solidão!” Mas o inferno, se realmente existe, não pode ser eterno: “Será possível que um ser humano decide excluir-se eternamente da humanidade? Talvez, se ele foi abandonado à sua solidão. Mas se Deus é Deus, como poderá não intervir? Afinal, essa será a felicidade de todos os outros. Quem já amou ou foi amado ou desejou ser amado jamais estará perdido”. Há matéria para reflexões!
Para terminar, podemos dizer com André Myre: “Morrer não é perder tudo, mas encontrar tudo”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

PALAVRA... Nº 453. Ficha Suja para os Eleitores.

No Quadringentésimo quinquagésimo terceiro vídeo; "A Palavra do Frei Petrônio", o Frei Petrônio de Miranda, Padre  Carmelita da Ordem do Carmo, estudante de Jornalismo da Fapcom- Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, fala sobre a Condenação do Deputado Federal do PP-SP e Ex-Prefeito, Paulo Maluf na última segunda feira, 04, pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por superfaturamento nas obras do túnel Ayrton Senna quando esteve no comando da prefeitura da capital paulista entre os anos 1993-1996. Convento do Carmo, São Paulo.  06 de novembro-2013. DIVULGAÇÃO: www.mensagensdofreipetroniodemiranda.blogspot.com; www.dailymotion.com/olharjornalistico www.facebook.com/freipetronio2; www.olharjornalistico.com.br; www.mais.uol.com.br/olharjornalistico; www.facebook.com/olharjornalistico; www.flickr.com/photos/avozdoscarmelitas; www.myspace.com/olharjornalistico; www.youtube.com/olharjornalistico; www.freipetrniomiranda.muzy.com; www.youtube.com/carmo160; www.videolog.tv/freipetronio; www.twitter.com/freipetronio; www.youtube.com/petros637; www.youtube.com/PetrosAntonio; http://www.tivio.tv/tv/?/olharjornalistico; https://vimeo.com/olharjornalistico

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

SÃO NUNO: Da Crônica dos Carmelitas de Portugal.

O Frei Petrônio de Miranda, Padre  Carmelita da Ordem do Carmo, estudante de Jornalismo da Fapcom- Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, fala sobre São Nuno de Santa Maria, Carmelita. Nuno Álvares Pereira nasceu a 24 de Junho de 1360. Por vontade de seu pai, casou-se aos 16 anos. Dos três filhos do seu matrimónio, dois faleceram ainda crianças, ficando apenas uma filha, Beatriz, que veio a casar com o filho do rei D. João I, D. Afonso, primeiro duque de Bragança. Quando, a 22 de Outubro de 1383, faleceu rei D. Fernando I, não deixou filhos varões, mas apenas uma filha casada com o rei de Castela, que pretendeu apoderar-se da coroa de Portugal. Opôs-se-lhe D. João, Mestre de Avis, irmão de D. Fernando, com o apoio de D. Nuno Alvares Pereira. Este, nomeado Condestável, conduziu o exército português a várias vitórias contra os castelhanos, até à vitória final, em Aljubarrota, a 14 de Agosto de 1385. O Condestável, aos dotes militares, aliava uma espiritualidade sincera e profunda, caraterizada pelo amor à Eucaristia e à Virgem Maria. Com a morte da sua esposa, em 1387, D. Nuno recusa contrair segundas núpcias e, quando a paz é definitivamente estabelecida, distribui grande parte dos bens pelos seus companheiros, antigos combatentes, e faz-se carmelita, com o nome de frei Nuno de Santa Maria. Logo após a sua morte, no dia 1 de Abril de 1431, Frei Nuno começou a ser chamado “santo” pelo povo. Beatificado por Bento XV em 1918 e Bento XVI canonizou-o, em 2009. Convento do Carmo, São Paulo.  06 de novembro-2013. DIVULGAÇÃO: www.mensagensdofreipetroniodemiranda.blogspot.com; www.dailymotion.com/olharjornalistico www.facebook.com/freipetronio2; www.olharjornalistico.com.br; www.mais.uol.com.br/olharjornalistico; www.facebook.com/olharjornalistico; www.flickr.com/photos/avozdoscarmelitas; www.myspace.com/olharjornalistico; www.youtube.com/olharjornalistico; www.freipetrniomiranda.muzy.com; www.youtube.com/carmo160; www.videolog.tv/freipetronio; www.twitter.com/freipetronio; www.youtube.com/petros637; www.youtube.com/PetrosAntonio; http://www.tivio.tv/tv/?/olharjornalistico; https://vimeo.com/olharjornalistico

Processo de Canonização do Beato Nuno de Santa Maria.

Pe. Frei Francisco J. Rodrigues, O. Carm. (Vice Postulador)

 
Nuno Álvares Pereira, uma das mais altas figuras da História Portuguesa foi guerreiro, herói e santo. Nasceu a 24 de Junho de 1360. Depois de uma vida longa e depois de ter contribuído com a sua coragem, inovação de procedimento e o seu brio militar para a consolidação da Independência de Portugal no momento mais crítico da sucessão, deixou a vida militar e entregou se à vida religiosa, já quando tinha 63 anos. Professou a 15 de Agosto de 1423. Morreu na'sua cela no convento que ele mesmo construíra em 1 de Abril de 1431 com 71 anos no dia de todos os Santos de 1431 (ao tempo 511 Domingo da Páscoa). Aplica-se bem o ditado "tal vida tal morte". Uma vida vivida totalmente para Deus e sua Mãe Maria Santíssima e para os homens seus irmãos. Assim descreve o Cronista Carmelita Frei José Pereira Santana "Continuando o Venerável Nuno de Santa Maria as asperezas da vida, sem nunca afrouxar dos seus primeiros fervores, chegou ao ano de 1431 tão destituído de forças, que no corpo apenas conservava alguns alentos para poder mover-se.

Entrando enfim na última agonia, rogou que, para consolação do seu espírito, lhe lessem a Paixão de Cristo escrita pelo Evangelista S. João; logo que chegou à cláusula do Evangelho onde o mesmo Cristo, falando com Sua Mãe Santíssima a respeito do amado discípulo, lhe diz: Eis aqui o vosso filho, deu ele o último suspiro e entregou sua ditosa alma ao mesmo Senhor que o criara".

A triste nova correu célere a cidade, que se cobriu de luto. "Morreu o Santo! Morreu o Santinho"! ... foi o grito que se levantou em toda a cidade aos ouvirem os sinos do Carmo.

Os olhos dos humildes, dos enfermos, arrasavam-se de lágrimas! O povo, que o canonizara em vida, jamais abandona a romagem piedosa no Convento do Carmo.

A fama da santidade estendeu se por todo o povo.

Não tardou que lhe consagrassem altares em que se celebrava Missa em sua honra com tácito consentimento da autoridade eclesiástica e depois com aprovação clara, não só em Lisboa, mas também nas comarcas de Avis e Cernache do Bonjardim.

Logo se começaram a lavrar algumas imagens do Condestável que foram expostas nalgumas Igrejas de Lisboa e de outras terras do país. Chamava lhe o povo Santo Condestável, e acudia a visitar o túmulo e a levar lhe ofertas em animadas romarias.

Na Oitava da Páscoa, era a Peregrinação das mulheres de Lisboa, que se juntavam na Capela-Mor do Mosteiro do Carmo, cantando versos ao som de pandeiros e adufes.

Na Oitava de Pentecostes, era a dos habitantes do Restelo e Belém, que vinham em cortejo, de batéis pelo rio desembarcar em Santos e daí subiam ao Carmo a fazer junto do túmulo as suas orações e descanses.

A 24 de Junho vinham os habitantes de Sacavém com uma oferenda de azeite e a 15 de Agosto, os de Almada com muitas candeias e velas.

O povo celebrava nas suas trovas os inúmeros milagres que a tradição ia atribuindo ao Santo Condestável, desde as ressurreições dos mortos, até às aparições e cura de toda a espécie de enfermidades.

Sem chegar a extinguir se, este culto popular resfriou com o tempo. Diz se que durante o domínio Castelhano, se deu o nome de Santo Amaro à imagem do Condestável que se venerava em Moura. Cessaram as romarias ao Carmo porque o templo ficou arruinado com o terremoto de 1755.

As invasões Francesas, as lutas civis, a extinção das ordens religiosas eis outros tantos motivos que explicam o declínio desse culto.

Manteve se, porém, o que parece, sem interrupção, na Capela da Ordem Terceira do Carmo, onde estava exposto sobre o altar à veneração dos fiéis o painel do Santo Condestável, e não se interrompeu a tradição litúrgica na Ordem Carmelita e em várias Igrejas.

 

Processo de Canonização

Com uma vida tão rica de santidade reconhecida, depressa apareceram atos de intercessão e até milagres e que vêm descritos na Crônica dos Carmelitas", já citada. Várias tentativas se fizeram a seguir à sua morte para introduzir o Processo de santidade, mas sem êxito. O próprio D. Duarte, após seis anos da sua morte, faz diligências para que se abra em Roma o Processo. Os mais significativos foram as súplicas dirigidas à Santa Sé para a Beatificação e Canonização, conforme as leis e normas seguidas, pelos reis D. João IV e D. Pedro 11 e pelo Episcopado Português.

O Processo ordinário de Lisboa toma mais corpo quando, com sentença dada a 07 de Março de 19 1 4, foi apresentado à Sagrada Congregação dos Ritos, e mostra que o culto que publicamente se lhe prestou logo depois da morte, cresceu com o andar dos tempos, perseverando até hoje, com a autorização dos Ordinários.

Os documentos da Cúria Patriarcal, da Biblioteca Nacional, dos Anais, Arquivos e cronistas da Ordem Carmelita, narram e provam que o Servo de Deus tinha festa anual nos primeiros dias de Novembro com Missa de Confessor; que diante do seu túmulo ardiam lâmpadas; que lhe foram delicadas capelas e altares; que as sua imagens e estátuas com sinais de Bem aventurado e coroadas de auréolas, eram expostas à veneração particular e pública, e distribuídas pelos fiéis que as pediam. Acrescem os reconhecimentos e transladações do seu corpo e relíquias, feitas canonicamente em 1522, 1548, 1768, 1836 e 1906, em que se afirma ter havido graças e prodígios operados por Deus por intervenção sua em favor dos fiéis que imploravam a sua proteção.

Finalmente em 14 de Fevereiro de 191 7 por pedidos instantes do Em.mo e Rev.mo Senhor Cardeal D. Antônio Mendes Belo e do Episcopado Português, bem como do Postulador Geral da Ordem do Carmo em Roma, a Sagrada Congregação dos Ritos ultrapassou algumas formalidades e em 1 5 de Janeiro de 191 8 esta Congregação propõe a Sua Santidade Sento XV que houve por bem confirmar e ratificar a sentença de culto prestado desde tempos imemoriais ao Servo de Deus Nuno Álvares Pereira, leigo, professo, da Ordem dos Carmelitas Calçados. Sendo proclamado Beato Nuno de Santa Maria a 23 de Janeiro de 191 8.

A partir daqui foi um trabalho constante para preparar a sua canonização com várias iniciativas da Ordem Terceira do Carmo e a Cruzada Nuno Álvares e mais tarde a Ala do Santo Condestável. Estamos em 1940, data em que o Papa Pio XII pensou em canonizá-lo por equipolência (por Decreto), mas o Processo não foi adiante. Em 28 de Maio de 1941 num documento que se chama "Restrito de Reassunção da Causa" Sua Santidade Pio XI 1 autoriza começar o Processo da Canonização "Via milagre". Muito se trabalhou até 1948 neste Processo que parou abruptamente sem ainda se descobrir a sua causa. Em 1960, ao celebrar se o 61 Centenário do seu nascimento, recomeçou se a campanha com as relíquias percorrendo Portugal, mas antes do seu final rebentou a guerra no Ultramar Português que aglutinou toda a atenção dos portugueses, ficando mais uma vez para segundo plano o Processo de Canonização.

Em 13 de Abril de 2000 fui nomeado Vice Postulador para a Causa de Canonização do Servo de Deus Nuno de Santa Maria Álvares Pereira pelo Postulador da Ordem Carmelita, Pe. Frei Filipe Amenós i Bonet.

Comecei por fazer uma recolha de assinaturas para pedir ao Santo Padre a Canonização por Decreto como Pio XII o queria fazer. Houve uma recepção e colaboração, recolhendo-se muitos milhares de assinaturas. Enviadas estas para a Causa dos Santos foi-nos respondido que não poderia ser por este meio, mas como Pio XII tinha indicado "via milagre". Começando os preparativos tivemos a alegria de no dia 13 de Julho de 2003 em sessão solene nas Ruínas do Carmo, o Em.mo e Rev.mo Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José da Cruz Policarpo, reabria o Processo da "fama e santidade" do Beato Nuno de Santa Maria, nomeando um tribunal e a Comissão Histórica para o efeito. O Trabalho decorreu a bom ritmo de modo que em 03 de Abril de 2004 o mesmo Senhor Cardeal encerrava o Processo em Sessão Solene na Igreja do Santo Condestável em Lisboa.

No dia 23 de Novembro de 2004 o Em.mo e Rev.mo Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, nomeava por sua vez o tribunal que estudaria o Processo do suposto milagre ocorrido na pessoa da Dona Guilhermina de Jesus. No dia 29 de Setembro de 2000 estando ela a fritar peixe salpicou óleo fervente atingindo a córnea do olho esquerdo. Não obedecendo aos tratamentos, ele e um grupo de pessoas fizeram a Novena ao Beato Nuno pedindo a cura.

Esta cura operou-se na noite de 07 de Dezembro instantaneamente.

Este Processo encerrou-se no dia 10 de Janeiro de 2005 e enviado para a Causa dos Santos em Roma.

Em 17 de Outubro de 2006 recebemos da Causa dos Santos pela informação do Padre Emanuel Boaga uma nota a pedir-nos que a Comissão Histórica preparasse mais um estudo complementar, pois o primeiro trabalho desta só contemplava o período pós a Beatificação e não o anterior. Como o Processo da Beatificação foi só para provar que tinha havido culto ininterrupto desde a sua morte, não contemplou as obras escritas. Assim deste modo no dia 11 de Janeiro de 2007 torna posse um novo tribunal e a Comissão Histórica com a finalidade de apresentar o estudo suplementar ao primeiro processo.

Dedicou-se esta Comissão ao árduo trabalho de investigação centrada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, na Biblioteca Nacional de Lisboa, na Biblioteca Carmelita, na Biblioteca da Academia das Ciências e outras. Todo este estudo estava concluído em poucos meses.

Depois de tudo entregue e aceite na Congregação para a Causa dos santos e dos convenientes estudos, o Santo Padre Bento XVI aprova os decretos sobre as virtudes heróicas do beato Nuno de Santa Maria e o Decreto sobre o milagre no dia 03 de Julho de 2008 e em 21 de Fevereiro marca o dia 26 de Abril de 2009 para a cerimônia da Canonização. Com esta cerimônia dá-se por concluído este processo que conheceu vários tempos e várias vicissitudes.

A minha sensação neste momento é de regozijo por estar envolvido neste trabalho que com a graça de Deus e a proteção maternal de Maria Santíssima chegou a um bom êxito.

São Nuno de Santa Maria: “Exemplo heroico em tempo de crise”. Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa por ocasião da canonização de Nuno Álvares Pereira

1. Nuno Álvares Pereira proclamado santo

A 21 de Fevereiro de 2009, o Papa Bento XVI anunciou a canonização de D. Nuno Álvares Pereira o já beato Nuno de Santa Maria para o dia 26 de Abril, junto com outras quatro figuras ilustres da Igreja.

Este facto é para Portugal e os portugueses motivo de júbilo e de esperança. Deve também constituir ocasião de reflexão sobre as qualidades e virtudes heróicas desta relevante personagem histórica, digna de ser conhecida e imitada nos dias de hoje. Nuno Álvares Pereira viveu em tempos difíceis de crise dinástica, com fortes divisões no tecido social e político português, que punham em perigo a própria identidade e independência da Nação.

Os Bispos de Portugal, em nome de todos os católicos do nosso país, desejam exprimir a sua alegria e gratidão pelo reconhecimento oficial da santidade heróica de mais um filho da nossa terra. Ultrapassando a mera saudade do passado e assumindo, com realismo e esperança, o tempo que nos é dado viver, querem ressaltar algumas virtudes heróicas de Nuno Álvares Pereira, cuja imitação ajudará a responder aos desafios do tempo presente.

2. Breves dados biográficos

Nascido em 1360, Nuno Álvares Pereira foi educado nos ideais nobres da Cavalaria medieval, no ambiente das ordens militares e depois na corte real. Tal ambiente mareou a sua juventude. As suas qualidades e virtudes impressionaram particularmente o Mestre de Aviz, futuro rei D. João 1, que encontrou em D. Nuno o exímio chefe militar, estratégia das batalhas dos Atoleiros, de Aljubarrota e Valverde, vencidas mais por mérito das suas virtudes pessoais e da sua táctica militar do que pelo poder bélico dos meios humanos e dos recursos materiais.

Casou com Dª. Leonor Alvim de quem teve três filhos, sobrevivendo apenas a sua filha Beatriz, que viria a casar com D. Afonso, dando origem à Casa de Bragança. Tendo ficado viúvo muito cedo e estando consolidada a paz, decidiu aprofundar os ideais da Cavalaria e dedicar se mais intensamente aos valores do Evangelho, sobretudo à prática da oração e ao auxílio dos pobres. Assim, pediu para ser admitido como membro da Ordem do Carmo, que conhecera em Moura e apreciara pela sua vida de intensa oração, tomando o profeta Elias e Nossa Senhora como modelos no seguimento de Cristo.

De Moura, no Alentejo, vieram alguns membros da comunidade carmelita, para o novo convento que ele mesmo mandara construir em Lisboa. Em 1422, entra nesta comunidade e, a 15 de Agosto de 1423, professa como simples irmão, encarregado de atender a portaria e ajudar os (D. Nuno Álvares Pereira entrega o Convento do Carmo, por ele mandado construir, aos Carmelitas) pobres. Passou então a ser Frei Nuno de Santa Maria. Depois de uma intensa vida de oração e de bem fazer, numa conduta de grande humildade, simplicidade e amor à Virgem Maria e aos pobres, faleceu no convento do Carmo, onde foi sepultado.

Logo após a sua morte começou a ser venerado como santo pela piedade popular. As suas virtudes heróicas foram oficialmente reconhecidas pelo Papa Bento XV, que o proclamou beato, em 19 1 8, passando a ter celebração litúrgica a 6 de Novembro.

 
3. Virtudes e valores afirmados na vida de Nuno Álvares Pereira

D. Nuno Álvares Pereira não é apenas o herói nacional, homem corajoso, austero, coerente, amigo da Pátria e dos pobres, que os cronistas e historiadores nos apresentam. Ele é também um homem santo. A sua coragem heróica em defender a identidade nacional, o seu desprendimento dos bens -e amor aos mais necessitados brotavam, como água da fonte, do amor a Cristo e à Igreja.

A sua beatificação, nos começos do século XX, apresentou o ao povo de Deus como modelo de santidade e intercessor junto de Deus, a quem se pode recorrer nas tribulações e alegrias da vida.

Conscientes de que todos os santos são filhos do seu tempo e devem ser vistos e interpretados com os critérios próprios da sua época, desejamos propor alguns valores evangélicos que pautaram a sua vida e nos parecem de maior relevância e atualidade.

Os ideais da Cavalaria, nos quais se formou D. Nuno, podem agrupar se em três arcos de ação: no plano militar, sobressaem a coragem, a lealdade e a generosidade; no campo religioso, evidenciam se a fidelidade à Igreja, a obediência e a castidade; a nível social, propõem se a cortesia, a humildade e a beneficência. Foram estes valores que impregnaram a personalidade de Nuno Álvares Pereira, em todas as vicissitudes da sua vida, como documentam os seus feitos militares, familiares, sociais e conventuais.

Fazia também parte dos ideais da Cavalaria a proteção das viúvas e dos órfãos, assim como o auxilio aos pobres. Em D. Nuno, estes ideais tornaram se virtudes intensamente vividas, tanto no tempo das lides guerreiras como principalmente quando se desprendeu de tudo e professou na Ordem do Carmo. Como porteiro e esmoler da comunidade, acolhia os pobres de -Lisboa, que batiam ás portas do convento e atendia os com grande humildade e generosidade. Diz-se que teve aqui origem a "sopa dos pobres".

Levado pela sua invulgar humildade, iluminada pela fé, desprendeu se de todos os seus bens que eram muitos, pois o Rei o tinha recompensado com numerosas comendas e repartiu-os por instituições religiosas e sociais em beneficio dos necessitados. Desejoso de seguir radicalmente a Jesus Cristo, optou por uma vida simples e pobre no Convento do Carmo e disponibilizou-se totalmente para acolher e servir os mais desfavorecidos. Esta foi a última batalha da sua vida. Para ela se preparou com as armas espirituais de que falam a carta aos Efésios (cf. Ef 6, 10 20) e a Regra do Carmo: a couraça da justiça, a espada do Espírito (isto é, a Palavra de Deus), o escudo da fé, a oração, o espírito de serviço para anunciar o Evangelho da paz, a perseverança na prática do bem.

Precisamos de figuras como Nuno Álvares Pereira: íntegras, coerentes, santas, ou seja, amigas de Deus e das suas criaturas, sobretudo das mais débeis. São pessoas como estas que despertam a confiança e o dinamismo da sociedade, que fazem superar e vencer as crises.

 

4. Apelo à Igreja em Portugal e a todos os homens e mulheres de boa vontade

Ao aproximar-se a data da canonização do beato Nuno Álvares Pereira, pelo Papa Bento XVI, -em Roma, alegramo-nos por ver mais um filho da nossa terra elevado às honras dos altares. Algumas peregrinações estão a ser organizadas para marcar a nossa presença na Praça de S. Pedro, na festa da sua canonização, no dia 26 de Abril. Confiamos que outras iniciativas pastorais sejam promovidas para dar a conhecer e propor como modelo o exemplo de virtude heróica que nos deixou este nosso irmão na fé.

A pessoa e ação de Nuno Álvares Pereira são bem conhecidas do povo português.

A nível civil, é lembrado em monumentos, praças e instituições; a nível religioso, é celebrado em igrejas, imagens e associações. Figura incontornável da nossa história, importa revitalizar a sua memória e dar a conhecer o seu testemunho de vida. Para além de ser um modelo de santidade, no seguimento radical de Cristo, que "não veio para ser servido mas para servir" (Mt 20, 28), apraz nos pôr em relevo alguns aspectos de particular atualidade, para todos os homens e mulheres de boa vontade:

Nuno Álvares Pereira foi um homem de Estado, que soube colocar os superiores interesses da Nação acima das suas conveniências, pretensões ou carreira. Fez da sua vida uma missão, correndo todos os riscos para bem servir a Pátria e o povo.

Em tempo de grave crise nacional, optou corajosamente por ser, parte da solução e, numa entrega sem limites, enfrentou com esperança os enormes desafios sociais e políticos da Nação.

Coroado de glória com as vitórias alcançadas, senhor de imensas terras, despojou se os seus bens e optou pela radicalidade do seguimento de Cristo, como simples irmão da Ordem dos Carmelitas.

Não se valeu dos seus títulos de nobreza, prestígio e riqueza, para viver num clima de luxos e grandezas, mas optou por servir preferencialmente os pobres é necessitados do seu tempo.

Vivemos em tempo de crise global, que tem origem num vazio de valores morais. O esbanjamento, a corrupção, a busca imparável do bem estar material, o relativismo que facilita o uso de todos os meios para alcançar os próprios benefícios, geraram um quadro de desemprego, de angústia e de pobreza que ameaçam as bases sobre as quais se organiza a sociedade. Neste contexto, o testemunho de vida de D. Nuno constituirá uma força de mudança em favor da justiça e da fraternidade, da promoção de estilos de vida mais sóbrios e solidários e de iniciativas de partilha de bens. Será também um apelo a uma cidadania exemplarmente vivida e um forte convite à dignificação da vida política como expressão do melhor humanismo ao serviço do bem comum.

Os Bispos de Portugal propõem, portanto, aos homens e mulheres de hoje o exemplo da vida de Nuno Álvares Pereira, pautada pelos valores evangélicos, orientada pelo maior bem de todos, disponível para lutar pelos superiores interesses da Pátria, solícita por servir os mais desprotegidos e pobres. Assim seremos parte ativa na construção de uma sociedade mais justa e fraterna que todos desejamos.

Fátima, 6 de Março de 2009

06 DE NOVEMBRO: Festa de São Nuno de Santa Maria: Entrevista


A Família Carmelita, (a seguir indicada como F.C.), quis saber mais da vida do Beato Nuno de Santa Maria decidiu fazer uma entrevista ao Vice-Postulador, a seguir indicado como F.F.R.

F. C. - Refira em poucas palavras a vida de D. Nuno Álvares Pereira?

F. F. R. - Nuno Álvares Pereira nasceu em Cernache do Bomjardim, segundo uns, ou em Flor da Rosa, segundo outros, em 24 de Junho de 1360, filho de Álvaro Gonçalves Pereira, Prior do Hospital do Crato e de Ilia Gonçalves do Carvalhal, e perfihado passado um ano ei@ Santarém por D. Pedro.

A mãe procurou e conseguiu que ele fosse educado na corte de D. Fernando e D. Leonor. A Rainha D. Leonor, vendo a sua inteligência e esperteza, fá-lo seu escudeiro aos 13 anos. Forma-se na doutrina da Cavalaria e escolhe para si a figura de Galaad, um dos Cavaleiros da Távola Redonda no qual se inspira para uma. vida de virtude. Como ele, quis ser puro para merecer seguir a sua dama escolhida, Nossa Senhora.

Contudo, aos 16 anos, por obediência ao pai, tem que renunciar aos seus propósitos e contrai matrimônio com D. Leonor Alvim, deixando a corte para ir viver em Pedraça, Cabeceiras de Basto. Do matrimônio nasceram três filhos, dos quais só sobreviveu uma menina de nome Beatriz.

Dali foi, chamado para defender a zona fronteiriça do norte. Logo viu que para se fazer alguma coisa de sucesso precisaria de moralizar as tropas e prepará-las para os grandes feitos que se seguiram. Começou este trabalho em Chaves, dando assim inicio à sua gesta militar. Esta teve como seus pontos altos a vitória de Atoleiros, Aljubarrota e Valverde. Depois de consolidada a independência da nação portuguesa, entra no Convento do Carmo por ele construído, tomando o hábito de Irmão Donato da’Ordem Carmelita. No dia de Todos os Santos de 1431 entregou a sua vida ao criador. Morreu com fama de Santidade.

F. C. - Quais são os seus ideais?

F. F. R. -1. Viver o Espírito da Cavalaria, ser mesmo como o Galaad que de tão puro com a sua lança tocaria o sol no cimo duma montanha.

2. Integridade como homem, como cristão e como cidadão.

3. Amor à Pátria.

4. Amor e fidelidade à Igreja.

5. Amor à Verdade.

6. Amor à Castidade e Obediência. Vividas na fé, esperança e caridade.

 

F. C. - Porque se envolveu na luta contra os castelhanos?

F. F. R. - Para Nuno é muito claro que Portugal tem que ser independente de Castela e nas Cortes de Coimbra manifesta as suas razões:

1.  Pela morte de D. Fernando, deveria suceder-lhe a sua esposa D. Leonor. No entanto, isto não poderia ser porque, estando D. Leonor amantizada com o Conde Andeiro, era escândalo à moral pública.

2.  Na linha da sucessão estaria a sua filha D. Brites casada com D. João de Castela. Também neste caso, havia impedimento, porque Castela seguia o Papa Cismático de Avignon e Portugal deixaria de ser a nação fidelíssima a Roma.

3.  Então seria D. João, Mestre de Avis, filho de D. Pedro que recolhia melhores condições.

Portugal encontrava-se num estado de crise e indefinição relativamente à sucessão dinástica. Os nobres, por causa da sua palavra, estavam da parte de Castela. D. Nuno vai contra a tendência geral porque põe acima da palavra por Castela, a moral e a fidelidade à Igreja.

F. C. - A quem atribuía ele as Vitórias alcançadas?

F.F. R. - A Deus e a Nossa Senhora, pois ele afirmava que ‘todo o vencimento vem de Deus e não dos homens”. Dom Nuno antes de cada batalha visitava o santuário Mariano mais próximo e depois voltava para agradecer o bom resultado. Aquando de Atoleiros, vai em peregrinação de pés descalços ao santuário de Assumar, aquando de Aljubarrota vai a Seiça. Procurava andar na presença de Deus. Comungava sempre que era permitido. Comungava os’dias em que era permitido, ou seja, pelo Natal, Páscoa, Pentecostes e Assunção. Assistia a duas Missas por dia e três aos domingos, mesmo durante as batalhas. Levava também os seus homens de armas a viver uma vida cristã como o atesta o cronista dos Carmelitas, Frei José Pereira Santana, quando nos testemunha: “no dia 14 de Agosto de 1385, no dia da batalha de Aljubarrota, todos os homens do exercito português estavam em jejum e quase todos confessados e comungados’.

F. C. - Como era o seu comportamento nas Batalhas?

F. F. R. -  O seu pensamento era a independência da nação portuguesa e não a destruição ou a morte do exército contrário. Ele nunca fez guerra, só defendia. Nunca se vislumbrou nele o sentido da vingança. Que mortandade não seria se em Aljubarrota quando o exército castelhano se pôs em fuga ele incitasse o exército Português à perseguição?! Ou quando em Valverde começa a debandada castelhana, ele entrasse em perseguição?! Antes pelo contrário recebeu e deu terras aos castelhanos que quiseram ficar cá.

F. C. - Como tratava o seu exército e os adversários?

F. F. R. - Com muito respeito, pois para ele todo o homem é irmão e merece respeito e consideração. Muitas das suas riquezas foram divididas pelos seus companheiros de armas. Quanto aos adversários, portugueses e castelhanos, respeitava-os do mesmo modo. Num ano de fome, manda abrir os seus celeiros e distribuiu pelas populações de cá e de Castela as suas provisões. Era exigente com os seus homens de armas e não deixava que se entregassem a exageros para com os vencidos ou os seus haveres, punindo severamente os abusos.

F. C. - Qual a herança que nos deixou?

F. F. R. -  Deixou-nos sem dúvida, o testemunho da sua vida de homem íntegro, amante do Homem e da nação portuguesa e o dom da sua vida por todos, colocando Deus acima de todos os interesses. Deixou-nos um testemunho de uma vida e consagrada a Deus, uma vida de virtudes e uma grande devoção a Nossa Senhora. Um testemunho a toda a prova de que a nossa nação é merecedora duma vida de luta pelos ideais do bem.

Deixou a herança duma nação independente para seguir o seu rumo.

F. C. - Quais as virtudes e devoções mais arreigadas no Beato Nuno?

F. F. R.   - Esta pergunta pode-se responder cintando o Cronista Carmelita, Frei José Pereira Santana, mas como é demasiado longo, apoiar-me-ei nele dizendo que as suas devoções mais arreigadas eram a Eucaristia e a veneração a Nossa Senhora. Integrado no seu tempo, comungava as quatro vezes possíveis - Natal, Páscoa, Pentecostes e Assunção da Virgem. Tal era a veneração pela Eucaristia que participava em duas Missas diariamente mesmo nas batalhas e aos domingo três. Depois de religioso, na sua capela privativa passava muitas horas e noites na Adoração do Santíssimo Sacramento, e em atos de penitência. Quanto à devoção a Nossa Senhora, citemos o referido cronista // na presença da soberana imagem Maria Senhora Nossa, com o título da Assunção, derramava copiosas lágrimas: e com elas, melhor o que com as vozes, lhe expunha as suas súplicas, nas ocasiões que para si ou para os seus patrocinados lhe pedia favores”.

Outras virtudes vividas na sua vida foram a obediência, a castidade, a humildade, a caridade e a penitência. Toda a sua vida era impregnada pela oração,faltando mesmo com o descanso ao corpo para aproveitar da maior parte da noite orando mental e vocalmente.

F. C. - Como viveu a caridade e desprendimento?

F. F. R. - A caridade esteve sempre presente na sua vida particularmente no partilhar tudo o que possuía. O seu desprendimento dos bens foi até ao extremo distribuindo tudo pelos pobres e pelos seus colegas de armas e pelas comunidades e igrejas que construiu. Quando entrou no Convento levava apenas a roupa vestida. Realizou bem em si o que aprendeu de Cristo, que sendo rico se fez pobre, assumindo a condição de servo’: ele que era senhor de mais de metade de Portugal.

F. C. - Depreende-se daqui o que foi a sua vida como religioso?

F. F. R. - Sim. Como religioso, foi um homem de oração intensa. Exercitou a atenção e o respeito a todos. Foi exemplar na sua vida cristã e social. Amava intensamente a nação portuguesa, à qual tributava uma extraordinária fidelidade. Notório o seu zelo pela expansão missionária do Reino de Deus. Incomparável distribuidor de esmolas pelos pobres à porta do Convento e pelas suas casas a quem assistia na pobreza e na doença.

F. C. - Ouvi dizer que foi o fundador do Laicado Carmelita?

F. F. R. - Ele não se preocupava só material e espiritual de todos. Fez uma confraria do Escapulário do Carmo, a quem pertenceram o Rei D. João I e V. Duarte e a maioria dos seus companheiros de armas. O objetivo desta confraria era trabalhar pelo bem das almas, a começar pelas suas. Esta confraria, passados perto de cem anos, passará a ser a primeira Ordem Terceira, que dá origem a outras, Ordens Terceiras e se expande por quase todas as cidades, principalmente no sul. Por isso, é com razão considerado o fundador da espiritualidade dos leigos na Ordem Carmelita.

F. C. - Quando foi que o povo o considerou Santo?

F. F. R. - já durante a sua vida, os pobres lhe chamavam ‘Santo’ e quando os sinos do Carmo anunciaram a morte de Dom Nuno, ouviu-se em Lisboa o grito ‘morreu o Santo’ ou dimorreu o santinho’. Seis anos depois da sua morte, já D. Duarte pede ao superior dos Beneditinos em Florença para pedir ao Papa a organização da sua canonização. D. João IV, em 1641, volta a insistir sobre o mesmo projeto em Roma. Os milagres começaram a aparecer logo depois da sua morte. O povo rezava-lhe e já o cronista Carmelita, Frei José Pereira Santana tem um longo capítulo de milagres obtidos pela sua intercessão. Quando se fez o processo de culto continuado a partir da sua morte, não foi difícil prová-lo.

Papa Bento XV, como decreto “Clementissímus Deus” de 23 de janeiro de 1918, reconheceu esse culto. Pio XII também o reconheceu, tanto o que desejava canonizar por Decreto. Em 1940 propõem-no como modelo de todas as tropas mesmo em batalha.

Para o povo ele já é o Beato Nuno ou o Santo Condestável e com este título é atualmente o Padroeiro de duas Paróquias, uma em Lisboa e outra em Bragança.

F. C. - Quais os passos dados a preparar a sua Canonização?

F. F. R. -  Desde o “rescrito” de Pio XII em que manda tratar-se do processo normal. De 1941 até 1947 trabalhou-se na organização do mesmo que de repente se interrompeu.’Na celebração do 6’ centenário do seu nascimento um novo impulso se deu com a visita das relíquias a todas as paróquias. No entanto, esta iniciativa foi interrompida pelo estalar da guerra no Ultramar Português. Em 2001 foi retomada a Causa da Canonização que agora chega ao fim com êxito. Os passos propriamente dados foram a organização dos Processos sobre as virtudes, incluindo os estudos históricos e o do milagre. Realizados estes e enviados para a Roma e lá estudados, o Santo Padre em 3 de julho de 2008 assinou os decretos finais, ou seja, o reconhecimento das virtudes heróicas e a veracidade do milagre. Agora, no passado dia 21 de Fevereiro o Santo Padre anunciou a cerimônia da Canonização para o dia 26 de Abril de 2009 na Praça de São Pedro.

F. C. - Acha oportuna esta data e esta ocasião para a Canonização?

F. F. R. - Acho muito oportuna, pois é sinal de esperança para o momento de crise que estamos a viver. Quando ele vivia, Portugal passou em 1383-85 a maior crise de sucessão dinástica e de valores nacionais. Nesse contexto, aparece D. Nuno apontando soluções de fidelidade a Deus, à Igreja e à moral, Quando é beatificado em 1918, o mundo está a sair da Primeira Guerra Mundial. Portugal tem de consolidar a República que, anos antes, tinha começado: Nossa Senhora em Fátima tinha pedido oração, penitência e conversão para merecermos a paz e proteção de Deus. Hoje a Canonização do Beato Nuno de Santa Maria é novamente um apelo à seriedade de vida humana, cristã e social, regida pelos valores do Evangelho.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Espiritualidade em tempos de conflito

"A espiritualidade inspiradora da transformação e resistência, dos povos, nos anima a buscar sempre novas forças e fontes de sonhos, utopia  e persistência", escreve Egon Heck, Cimi-MS, ao enviar o artigo que publicamos a seguir.

Eis o artigo.

Carlos Mesters partilhou com os missionários do Cimi importantes passagens da Bíblia que animam a vida e compromisso dos missionários junto aos povos indígenas. A expectativa dos participantes é de que esse fosse um momento de renovar os sonhos e realimentar a utopia, na resistência dos povos indígenas. Tempo de reanimar, juntar forças, regar as sementes e alimentar nossas esperanças.

Foi destacado a importância da Bíblia na vida, na partilha a partir do momento que cada um está vivendo e da conjuntura de conflito e luta em que nos movemos em nossa solidariedade com os povos indígenas. Esses povos vivem em imenso cativeiro há mais de 500 anos. Desintegração cultura, destruição da natureza, roubo das riquezas e sabedoria, são partes desse  cativeiro. Solidários com esses povos, animados e iluminados pelos povos e pela  Bíblia, se procura romper os grilhões do cativeiro. "A pior coisa que pode acontecer a um povo é perder sua memória. Perdendo a memória perde a identidade" afirmou Mesters.

Em vários momentos foi ressaltado a importância da espiritualidade que brota do chão do conflito, alimenta a fé e o exemplo de Jesus de Nazaré, que se dá na ternura, no diálogo, no encontro e na consciência.

Mais de 80 missionários que trabalham  junto aos povos indígenas em todo o país, se alimentaram desses dois dias de reflexão, silêncio e celebração. Partilhamos vidas e esperança, dores e sonhos,  caminhos e lutas. Do cativeiro  à libertação, uma importante releitura da Bíblia, da natureza até o ponto de chegada em Jesus. "Jesus refaz o relacionamento humano na base, na "Casa"; Recupera a dimensão sagrada e festiva da Casa;Reconstrói a vida comunitária nos povoados da Galiléia; Cuida dos doentes e acolhe os excluídos; Recupera igualdade homem e mulher; Vai ao encontro das pessoas; Supera as barreiras de gênero, religião, raça e classe'

Ficaram muitas perguntas que nos irão acompanhar e animar a continuidade de nossa missão: "Qual a falsa imagem de Deus que hoje está por detrás do sistema neoliberal e da lenta e progressiva secularização da vida dos últimos duzentos anos? Qual a imagem de Deus que estava por de trás da leitura errada da Bíblia legitimando a depredação da natureza? Qual a imagem de Deus que está por de trás do progresso da ciência? Muitos cientistas se dizem ateus. Talvez tenham razão, pois o Deus que eles dizem não existir de fato não existe. Saramago que se dizia ateu disse esta frase: "Deus é o silêncio do Universo; o ser humano é o grito que tenta interpretar o silêncio".

Temos muito que aprender e recuperar na nossa caminhada solidária junto aos povos indígenas: "Temos que recuperar a criatividade e a capacidade de admirar. Nesse ponto, o povo da Bíblia dá lição em todos nós. Apesar de todas as suas limitações, eles souberam ler o Livro da vida. Souberam descobrir e cantar a beleza do Universo que revela o amor de Deus e a grandeza do Criador. Souberam verbalizar, partilhar e transmitir suas descobertas, enriquecendo as gerações seguintes. Os salmos são um dos exemplos mais bonitos.

Vamos construindo uma nova pastoral onde a gratuidade da presença amorosa e universal de Deus torna-se  presente e conduz, destacando alguns  aspectos como "a ternura, o diálogo, o encontro e a consciência crítica"

Foram dois dias em que a maneira sabia e alegre da contribuição de Mesters, incorporando as reflexões sobre os povos indígenas e as lutas e desafios do Cimi, nas recentes e motivadoras palavras do papa Francisco, nos deram muito animo e a certeza de nosso compromisso  junto aos povos indígenas.