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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

06 DE NOVEMBRO: Festa de São Nuno de Santa Maria: Entrevista


A Família Carmelita, (a seguir indicada como F.C.), quis saber mais da vida do Beato Nuno de Santa Maria decidiu fazer uma entrevista ao Vice-Postulador, a seguir indicado como F.F.R.

F. C. - Refira em poucas palavras a vida de D. Nuno Álvares Pereira?

F. F. R. - Nuno Álvares Pereira nasceu em Cernache do Bomjardim, segundo uns, ou em Flor da Rosa, segundo outros, em 24 de Junho de 1360, filho de Álvaro Gonçalves Pereira, Prior do Hospital do Crato e de Ilia Gonçalves do Carvalhal, e perfihado passado um ano ei@ Santarém por D. Pedro.

A mãe procurou e conseguiu que ele fosse educado na corte de D. Fernando e D. Leonor. A Rainha D. Leonor, vendo a sua inteligência e esperteza, fá-lo seu escudeiro aos 13 anos. Forma-se na doutrina da Cavalaria e escolhe para si a figura de Galaad, um dos Cavaleiros da Távola Redonda no qual se inspira para uma. vida de virtude. Como ele, quis ser puro para merecer seguir a sua dama escolhida, Nossa Senhora.

Contudo, aos 16 anos, por obediência ao pai, tem que renunciar aos seus propósitos e contrai matrimônio com D. Leonor Alvim, deixando a corte para ir viver em Pedraça, Cabeceiras de Basto. Do matrimônio nasceram três filhos, dos quais só sobreviveu uma menina de nome Beatriz.

Dali foi, chamado para defender a zona fronteiriça do norte. Logo viu que para se fazer alguma coisa de sucesso precisaria de moralizar as tropas e prepará-las para os grandes feitos que se seguiram. Começou este trabalho em Chaves, dando assim inicio à sua gesta militar. Esta teve como seus pontos altos a vitória de Atoleiros, Aljubarrota e Valverde. Depois de consolidada a independência da nação portuguesa, entra no Convento do Carmo por ele construído, tomando o hábito de Irmão Donato da’Ordem Carmelita. No dia de Todos os Santos de 1431 entregou a sua vida ao criador. Morreu com fama de Santidade.

F. C. - Quais são os seus ideais?

F. F. R. -1. Viver o Espírito da Cavalaria, ser mesmo como o Galaad que de tão puro com a sua lança tocaria o sol no cimo duma montanha.

2. Integridade como homem, como cristão e como cidadão.

3. Amor à Pátria.

4. Amor e fidelidade à Igreja.

5. Amor à Verdade.

6. Amor à Castidade e Obediência. Vividas na fé, esperança e caridade.

 

F. C. - Porque se envolveu na luta contra os castelhanos?

F. F. R. - Para Nuno é muito claro que Portugal tem que ser independente de Castela e nas Cortes de Coimbra manifesta as suas razões:

1.  Pela morte de D. Fernando, deveria suceder-lhe a sua esposa D. Leonor. No entanto, isto não poderia ser porque, estando D. Leonor amantizada com o Conde Andeiro, era escândalo à moral pública.

2.  Na linha da sucessão estaria a sua filha D. Brites casada com D. João de Castela. Também neste caso, havia impedimento, porque Castela seguia o Papa Cismático de Avignon e Portugal deixaria de ser a nação fidelíssima a Roma.

3.  Então seria D. João, Mestre de Avis, filho de D. Pedro que recolhia melhores condições.

Portugal encontrava-se num estado de crise e indefinição relativamente à sucessão dinástica. Os nobres, por causa da sua palavra, estavam da parte de Castela. D. Nuno vai contra a tendência geral porque põe acima da palavra por Castela, a moral e a fidelidade à Igreja.

F. C. - A quem atribuía ele as Vitórias alcançadas?

F.F. R. - A Deus e a Nossa Senhora, pois ele afirmava que ‘todo o vencimento vem de Deus e não dos homens”. Dom Nuno antes de cada batalha visitava o santuário Mariano mais próximo e depois voltava para agradecer o bom resultado. Aquando de Atoleiros, vai em peregrinação de pés descalços ao santuário de Assumar, aquando de Aljubarrota vai a Seiça. Procurava andar na presença de Deus. Comungava sempre que era permitido. Comungava os’dias em que era permitido, ou seja, pelo Natal, Páscoa, Pentecostes e Assunção. Assistia a duas Missas por dia e três aos domingos, mesmo durante as batalhas. Levava também os seus homens de armas a viver uma vida cristã como o atesta o cronista dos Carmelitas, Frei José Pereira Santana, quando nos testemunha: “no dia 14 de Agosto de 1385, no dia da batalha de Aljubarrota, todos os homens do exercito português estavam em jejum e quase todos confessados e comungados’.

F. C. - Como era o seu comportamento nas Batalhas?

F. F. R. -  O seu pensamento era a independência da nação portuguesa e não a destruição ou a morte do exército contrário. Ele nunca fez guerra, só defendia. Nunca se vislumbrou nele o sentido da vingança. Que mortandade não seria se em Aljubarrota quando o exército castelhano se pôs em fuga ele incitasse o exército Português à perseguição?! Ou quando em Valverde começa a debandada castelhana, ele entrasse em perseguição?! Antes pelo contrário recebeu e deu terras aos castelhanos que quiseram ficar cá.

F. C. - Como tratava o seu exército e os adversários?

F. F. R. - Com muito respeito, pois para ele todo o homem é irmão e merece respeito e consideração. Muitas das suas riquezas foram divididas pelos seus companheiros de armas. Quanto aos adversários, portugueses e castelhanos, respeitava-os do mesmo modo. Num ano de fome, manda abrir os seus celeiros e distribuiu pelas populações de cá e de Castela as suas provisões. Era exigente com os seus homens de armas e não deixava que se entregassem a exageros para com os vencidos ou os seus haveres, punindo severamente os abusos.

F. C. - Qual a herança que nos deixou?

F. F. R. -  Deixou-nos sem dúvida, o testemunho da sua vida de homem íntegro, amante do Homem e da nação portuguesa e o dom da sua vida por todos, colocando Deus acima de todos os interesses. Deixou-nos um testemunho de uma vida e consagrada a Deus, uma vida de virtudes e uma grande devoção a Nossa Senhora. Um testemunho a toda a prova de que a nossa nação é merecedora duma vida de luta pelos ideais do bem.

Deixou a herança duma nação independente para seguir o seu rumo.

F. C. - Quais as virtudes e devoções mais arreigadas no Beato Nuno?

F. F. R.   - Esta pergunta pode-se responder cintando o Cronista Carmelita, Frei José Pereira Santana, mas como é demasiado longo, apoiar-me-ei nele dizendo que as suas devoções mais arreigadas eram a Eucaristia e a veneração a Nossa Senhora. Integrado no seu tempo, comungava as quatro vezes possíveis - Natal, Páscoa, Pentecostes e Assunção da Virgem. Tal era a veneração pela Eucaristia que participava em duas Missas diariamente mesmo nas batalhas e aos domingo três. Depois de religioso, na sua capela privativa passava muitas horas e noites na Adoração do Santíssimo Sacramento, e em atos de penitência. Quanto à devoção a Nossa Senhora, citemos o referido cronista // na presença da soberana imagem Maria Senhora Nossa, com o título da Assunção, derramava copiosas lágrimas: e com elas, melhor o que com as vozes, lhe expunha as suas súplicas, nas ocasiões que para si ou para os seus patrocinados lhe pedia favores”.

Outras virtudes vividas na sua vida foram a obediência, a castidade, a humildade, a caridade e a penitência. Toda a sua vida era impregnada pela oração,faltando mesmo com o descanso ao corpo para aproveitar da maior parte da noite orando mental e vocalmente.

F. C. - Como viveu a caridade e desprendimento?

F. F. R. - A caridade esteve sempre presente na sua vida particularmente no partilhar tudo o que possuía. O seu desprendimento dos bens foi até ao extremo distribuindo tudo pelos pobres e pelos seus colegas de armas e pelas comunidades e igrejas que construiu. Quando entrou no Convento levava apenas a roupa vestida. Realizou bem em si o que aprendeu de Cristo, que sendo rico se fez pobre, assumindo a condição de servo’: ele que era senhor de mais de metade de Portugal.

F. C. - Depreende-se daqui o que foi a sua vida como religioso?

F. F. R. - Sim. Como religioso, foi um homem de oração intensa. Exercitou a atenção e o respeito a todos. Foi exemplar na sua vida cristã e social. Amava intensamente a nação portuguesa, à qual tributava uma extraordinária fidelidade. Notório o seu zelo pela expansão missionária do Reino de Deus. Incomparável distribuidor de esmolas pelos pobres à porta do Convento e pelas suas casas a quem assistia na pobreza e na doença.

F. C. - Ouvi dizer que foi o fundador do Laicado Carmelita?

F. F. R. - Ele não se preocupava só material e espiritual de todos. Fez uma confraria do Escapulário do Carmo, a quem pertenceram o Rei D. João I e V. Duarte e a maioria dos seus companheiros de armas. O objetivo desta confraria era trabalhar pelo bem das almas, a começar pelas suas. Esta confraria, passados perto de cem anos, passará a ser a primeira Ordem Terceira, que dá origem a outras, Ordens Terceiras e se expande por quase todas as cidades, principalmente no sul. Por isso, é com razão considerado o fundador da espiritualidade dos leigos na Ordem Carmelita.

F. C. - Quando foi que o povo o considerou Santo?

F. F. R. - já durante a sua vida, os pobres lhe chamavam ‘Santo’ e quando os sinos do Carmo anunciaram a morte de Dom Nuno, ouviu-se em Lisboa o grito ‘morreu o Santo’ ou dimorreu o santinho’. Seis anos depois da sua morte, já D. Duarte pede ao superior dos Beneditinos em Florença para pedir ao Papa a organização da sua canonização. D. João IV, em 1641, volta a insistir sobre o mesmo projeto em Roma. Os milagres começaram a aparecer logo depois da sua morte. O povo rezava-lhe e já o cronista Carmelita, Frei José Pereira Santana tem um longo capítulo de milagres obtidos pela sua intercessão. Quando se fez o processo de culto continuado a partir da sua morte, não foi difícil prová-lo.

Papa Bento XV, como decreto “Clementissímus Deus” de 23 de janeiro de 1918, reconheceu esse culto. Pio XII também o reconheceu, tanto o que desejava canonizar por Decreto. Em 1940 propõem-no como modelo de todas as tropas mesmo em batalha.

Para o povo ele já é o Beato Nuno ou o Santo Condestável e com este título é atualmente o Padroeiro de duas Paróquias, uma em Lisboa e outra em Bragança.

F. C. - Quais os passos dados a preparar a sua Canonização?

F. F. R. -  Desde o “rescrito” de Pio XII em que manda tratar-se do processo normal. De 1941 até 1947 trabalhou-se na organização do mesmo que de repente se interrompeu.’Na celebração do 6’ centenário do seu nascimento um novo impulso se deu com a visita das relíquias a todas as paróquias. No entanto, esta iniciativa foi interrompida pelo estalar da guerra no Ultramar Português. Em 2001 foi retomada a Causa da Canonização que agora chega ao fim com êxito. Os passos propriamente dados foram a organização dos Processos sobre as virtudes, incluindo os estudos históricos e o do milagre. Realizados estes e enviados para a Roma e lá estudados, o Santo Padre em 3 de julho de 2008 assinou os decretos finais, ou seja, o reconhecimento das virtudes heróicas e a veracidade do milagre. Agora, no passado dia 21 de Fevereiro o Santo Padre anunciou a cerimônia da Canonização para o dia 26 de Abril de 2009 na Praça de São Pedro.

F. C. - Acha oportuna esta data e esta ocasião para a Canonização?

F. F. R. - Acho muito oportuna, pois é sinal de esperança para o momento de crise que estamos a viver. Quando ele vivia, Portugal passou em 1383-85 a maior crise de sucessão dinástica e de valores nacionais. Nesse contexto, aparece D. Nuno apontando soluções de fidelidade a Deus, à Igreja e à moral, Quando é beatificado em 1918, o mundo está a sair da Primeira Guerra Mundial. Portugal tem de consolidar a República que, anos antes, tinha começado: Nossa Senhora em Fátima tinha pedido oração, penitência e conversão para merecermos a paz e proteção de Deus. Hoje a Canonização do Beato Nuno de Santa Maria é novamente um apelo à seriedade de vida humana, cristã e social, regida pelos valores do Evangelho.

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