Total de visualizações de página

Seguidores

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Processo de Canonização do Beato Nuno de Santa Maria.

Pe. Frei Francisco J. Rodrigues, O. Carm. (Vice Postulador)

 
Nuno Álvares Pereira, uma das mais altas figuras da História Portuguesa foi guerreiro, herói e santo. Nasceu a 24 de Junho de 1360. Depois de uma vida longa e depois de ter contribuído com a sua coragem, inovação de procedimento e o seu brio militar para a consolidação da Independência de Portugal no momento mais crítico da sucessão, deixou a vida militar e entregou se à vida religiosa, já quando tinha 63 anos. Professou a 15 de Agosto de 1423. Morreu na'sua cela no convento que ele mesmo construíra em 1 de Abril de 1431 com 71 anos no dia de todos os Santos de 1431 (ao tempo 511 Domingo da Páscoa). Aplica-se bem o ditado "tal vida tal morte". Uma vida vivida totalmente para Deus e sua Mãe Maria Santíssima e para os homens seus irmãos. Assim descreve o Cronista Carmelita Frei José Pereira Santana "Continuando o Venerável Nuno de Santa Maria as asperezas da vida, sem nunca afrouxar dos seus primeiros fervores, chegou ao ano de 1431 tão destituído de forças, que no corpo apenas conservava alguns alentos para poder mover-se.

Entrando enfim na última agonia, rogou que, para consolação do seu espírito, lhe lessem a Paixão de Cristo escrita pelo Evangelista S. João; logo que chegou à cláusula do Evangelho onde o mesmo Cristo, falando com Sua Mãe Santíssima a respeito do amado discípulo, lhe diz: Eis aqui o vosso filho, deu ele o último suspiro e entregou sua ditosa alma ao mesmo Senhor que o criara".

A triste nova correu célere a cidade, que se cobriu de luto. "Morreu o Santo! Morreu o Santinho"! ... foi o grito que se levantou em toda a cidade aos ouvirem os sinos do Carmo.

Os olhos dos humildes, dos enfermos, arrasavam-se de lágrimas! O povo, que o canonizara em vida, jamais abandona a romagem piedosa no Convento do Carmo.

A fama da santidade estendeu se por todo o povo.

Não tardou que lhe consagrassem altares em que se celebrava Missa em sua honra com tácito consentimento da autoridade eclesiástica e depois com aprovação clara, não só em Lisboa, mas também nas comarcas de Avis e Cernache do Bonjardim.

Logo se começaram a lavrar algumas imagens do Condestável que foram expostas nalgumas Igrejas de Lisboa e de outras terras do país. Chamava lhe o povo Santo Condestável, e acudia a visitar o túmulo e a levar lhe ofertas em animadas romarias.

Na Oitava da Páscoa, era a Peregrinação das mulheres de Lisboa, que se juntavam na Capela-Mor do Mosteiro do Carmo, cantando versos ao som de pandeiros e adufes.

Na Oitava de Pentecostes, era a dos habitantes do Restelo e Belém, que vinham em cortejo, de batéis pelo rio desembarcar em Santos e daí subiam ao Carmo a fazer junto do túmulo as suas orações e descanses.

A 24 de Junho vinham os habitantes de Sacavém com uma oferenda de azeite e a 15 de Agosto, os de Almada com muitas candeias e velas.

O povo celebrava nas suas trovas os inúmeros milagres que a tradição ia atribuindo ao Santo Condestável, desde as ressurreições dos mortos, até às aparições e cura de toda a espécie de enfermidades.

Sem chegar a extinguir se, este culto popular resfriou com o tempo. Diz se que durante o domínio Castelhano, se deu o nome de Santo Amaro à imagem do Condestável que se venerava em Moura. Cessaram as romarias ao Carmo porque o templo ficou arruinado com o terremoto de 1755.

As invasões Francesas, as lutas civis, a extinção das ordens religiosas eis outros tantos motivos que explicam o declínio desse culto.

Manteve se, porém, o que parece, sem interrupção, na Capela da Ordem Terceira do Carmo, onde estava exposto sobre o altar à veneração dos fiéis o painel do Santo Condestável, e não se interrompeu a tradição litúrgica na Ordem Carmelita e em várias Igrejas.

 

Processo de Canonização

Com uma vida tão rica de santidade reconhecida, depressa apareceram atos de intercessão e até milagres e que vêm descritos na Crônica dos Carmelitas", já citada. Várias tentativas se fizeram a seguir à sua morte para introduzir o Processo de santidade, mas sem êxito. O próprio D. Duarte, após seis anos da sua morte, faz diligências para que se abra em Roma o Processo. Os mais significativos foram as súplicas dirigidas à Santa Sé para a Beatificação e Canonização, conforme as leis e normas seguidas, pelos reis D. João IV e D. Pedro 11 e pelo Episcopado Português.

O Processo ordinário de Lisboa toma mais corpo quando, com sentença dada a 07 de Março de 19 1 4, foi apresentado à Sagrada Congregação dos Ritos, e mostra que o culto que publicamente se lhe prestou logo depois da morte, cresceu com o andar dos tempos, perseverando até hoje, com a autorização dos Ordinários.

Os documentos da Cúria Patriarcal, da Biblioteca Nacional, dos Anais, Arquivos e cronistas da Ordem Carmelita, narram e provam que o Servo de Deus tinha festa anual nos primeiros dias de Novembro com Missa de Confessor; que diante do seu túmulo ardiam lâmpadas; que lhe foram delicadas capelas e altares; que as sua imagens e estátuas com sinais de Bem aventurado e coroadas de auréolas, eram expostas à veneração particular e pública, e distribuídas pelos fiéis que as pediam. Acrescem os reconhecimentos e transladações do seu corpo e relíquias, feitas canonicamente em 1522, 1548, 1768, 1836 e 1906, em que se afirma ter havido graças e prodígios operados por Deus por intervenção sua em favor dos fiéis que imploravam a sua proteção.

Finalmente em 14 de Fevereiro de 191 7 por pedidos instantes do Em.mo e Rev.mo Senhor Cardeal D. Antônio Mendes Belo e do Episcopado Português, bem como do Postulador Geral da Ordem do Carmo em Roma, a Sagrada Congregação dos Ritos ultrapassou algumas formalidades e em 1 5 de Janeiro de 191 8 esta Congregação propõe a Sua Santidade Sento XV que houve por bem confirmar e ratificar a sentença de culto prestado desde tempos imemoriais ao Servo de Deus Nuno Álvares Pereira, leigo, professo, da Ordem dos Carmelitas Calçados. Sendo proclamado Beato Nuno de Santa Maria a 23 de Janeiro de 191 8.

A partir daqui foi um trabalho constante para preparar a sua canonização com várias iniciativas da Ordem Terceira do Carmo e a Cruzada Nuno Álvares e mais tarde a Ala do Santo Condestável. Estamos em 1940, data em que o Papa Pio XII pensou em canonizá-lo por equipolência (por Decreto), mas o Processo não foi adiante. Em 28 de Maio de 1941 num documento que se chama "Restrito de Reassunção da Causa" Sua Santidade Pio XI 1 autoriza começar o Processo da Canonização "Via milagre". Muito se trabalhou até 1948 neste Processo que parou abruptamente sem ainda se descobrir a sua causa. Em 1960, ao celebrar se o 61 Centenário do seu nascimento, recomeçou se a campanha com as relíquias percorrendo Portugal, mas antes do seu final rebentou a guerra no Ultramar Português que aglutinou toda a atenção dos portugueses, ficando mais uma vez para segundo plano o Processo de Canonização.

Em 13 de Abril de 2000 fui nomeado Vice Postulador para a Causa de Canonização do Servo de Deus Nuno de Santa Maria Álvares Pereira pelo Postulador da Ordem Carmelita, Pe. Frei Filipe Amenós i Bonet.

Comecei por fazer uma recolha de assinaturas para pedir ao Santo Padre a Canonização por Decreto como Pio XII o queria fazer. Houve uma recepção e colaboração, recolhendo-se muitos milhares de assinaturas. Enviadas estas para a Causa dos Santos foi-nos respondido que não poderia ser por este meio, mas como Pio XII tinha indicado "via milagre". Começando os preparativos tivemos a alegria de no dia 13 de Julho de 2003 em sessão solene nas Ruínas do Carmo, o Em.mo e Rev.mo Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José da Cruz Policarpo, reabria o Processo da "fama e santidade" do Beato Nuno de Santa Maria, nomeando um tribunal e a Comissão Histórica para o efeito. O Trabalho decorreu a bom ritmo de modo que em 03 de Abril de 2004 o mesmo Senhor Cardeal encerrava o Processo em Sessão Solene na Igreja do Santo Condestável em Lisboa.

No dia 23 de Novembro de 2004 o Em.mo e Rev.mo Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, nomeava por sua vez o tribunal que estudaria o Processo do suposto milagre ocorrido na pessoa da Dona Guilhermina de Jesus. No dia 29 de Setembro de 2000 estando ela a fritar peixe salpicou óleo fervente atingindo a córnea do olho esquerdo. Não obedecendo aos tratamentos, ele e um grupo de pessoas fizeram a Novena ao Beato Nuno pedindo a cura.

Esta cura operou-se na noite de 07 de Dezembro instantaneamente.

Este Processo encerrou-se no dia 10 de Janeiro de 2005 e enviado para a Causa dos Santos em Roma.

Em 17 de Outubro de 2006 recebemos da Causa dos Santos pela informação do Padre Emanuel Boaga uma nota a pedir-nos que a Comissão Histórica preparasse mais um estudo complementar, pois o primeiro trabalho desta só contemplava o período pós a Beatificação e não o anterior. Como o Processo da Beatificação foi só para provar que tinha havido culto ininterrupto desde a sua morte, não contemplou as obras escritas. Assim deste modo no dia 11 de Janeiro de 2007 torna posse um novo tribunal e a Comissão Histórica com a finalidade de apresentar o estudo suplementar ao primeiro processo.

Dedicou-se esta Comissão ao árduo trabalho de investigação centrada no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, na Biblioteca Nacional de Lisboa, na Biblioteca Carmelita, na Biblioteca da Academia das Ciências e outras. Todo este estudo estava concluído em poucos meses.

Depois de tudo entregue e aceite na Congregação para a Causa dos santos e dos convenientes estudos, o Santo Padre Bento XVI aprova os decretos sobre as virtudes heróicas do beato Nuno de Santa Maria e o Decreto sobre o milagre no dia 03 de Julho de 2008 e em 21 de Fevereiro marca o dia 26 de Abril de 2009 para a cerimônia da Canonização. Com esta cerimônia dá-se por concluído este processo que conheceu vários tempos e várias vicissitudes.

A minha sensação neste momento é de regozijo por estar envolvido neste trabalho que com a graça de Deus e a proteção maternal de Maria Santíssima chegou a um bom êxito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário