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sábado, 30 de março de 2019

3ª Semana da Quaresma. Ano Litúrgico-C: Reflexões do Frei Carlos Mesters, O. Carm.


Segunda-feira, 25 de março-2019. 3ª SEMANA DA QUARESMA. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.


1) Oração
Ó Deus, na vossa incansável misericórdia, purificai e protegei a vossa Igreja,
governando-a constantemente, pois sem vosso auxílio ela não pode salvar-se.Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (Lucas 4, 24-30)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - Naquele tempo, 24Jesus acrescentou: Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria. 25Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra; 26mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. 27Igualmente havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã. 28A estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga. 29Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo. 30Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se. - Palavra da salvação.

3) Reflexão
*  O evangelho de hoje (Lc 4,24-30) faz parte de um conjunto mais amplo (Lc 4,14-32). Jesus tinha apresentado o seu programa na sinagoga de Nazaré por meio de um texto de Isaías que falava dos pobres, presos, cegos e oprimidos (Is 61,1-2) e que refletia a situação do povo da Galiléia no tempo de Jesus. Em nome de Deus, Jesus tomou posição e definiu sua missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos presos e a recuperação da vista aos cegos, restituir a liberdade aos oprimidos. Terminada a leitura, ele atualizou o texto e disse: Hoje se cumpriu esta escritura nos ouvidos de vocês!” (Lc 4,21).. Todos os presentes ficaram admirados (Lc 4,16-22ª). Mas logo em seguida, houve uma reação de descrédito. O povo na sinagoga ficou escandalizado e já não queria saber de Jesus. Dizia: “Não é este o filho de José?” (Lc 4,22b) Por que ficaram escandalizados? Qual o motivo daquela reação tão inesperada?
*  É que Jesus citou o texto de Isaías só até onde diz: "proclamar um ano de graça da parte do Senhor", e cortou o final da frase que dizia: “e proclamar um dia de vingança do nosso Deus” (Is 61,2). O povo de Nazaré ficou bravo porque Jesus omitiu a frase sobre a vingança. Eles queriam que a Boa Nova da libertação dos oprimidos fosse uma ação de vingança da parte de Deus contra os opressores. Neste caso, a vinda do Reino seria apenas uma virada da mesa e não uma mudança ou conversão do sistema. Jesus não aceita este modo de pensar. A sua experiência de Deus como Pai ajudou-o a entender melhor o sentido das profecias. Descartou a vingança. O povo de Nazaré não aceitou esta proposta e começou a diminuir a autoridade de Jesus: “Não é este o filho de José?”
*  Lucas 4,24: Nenhum profeta é bem aceito em sua pátria. O povo de Nazaré ficou com ciúme de Jesus por ele não ter feito nenhum milagre em Nazaré como tinha feito em Cafarnaum. Jesus responde: “Nenhum profeta é bem recebido em sua pátria!” No fundo, eles não aceitavam a nova imagem de Deus que Jesus lhes comunicava através desta nova interpretação mais livre de Isaías. A mensagem do Deus de Jesus ultrapassava os limites da raça dos judeus e se abria para acolher os excluídos e toda a humanidade.
*  Lucas 4,25-27: Duas histórias do Antigo Testamento.  Para ajudar a comunidade a superar o escândalo e entender o universalismo de Deus, Jesus usou duas histórias bem conhecidas do AT: uma de Elias e outra de Eliseu. Por meio destas histórias ele criticava o fechamento do povo de Nazaré. Elias foi enviado para a viúva estrangeira de Sarepta (1 Rs 17,7-16). Eliseu foi enviado para atender ao estrangeiro da Síria (2 Rs 5,14).
*  Lucas 4,28-30: Queriam mata-lo, mas ele prosseguia o seu caminho. A apelo de Jesus não adiantou. Ao contrário! O uso destas duas passagens da Bíblia provocou mais raiva ainda. A comunidade de Nazaré chegou ao ponto de querer matar Jesus. E assim, no momento em que apresentou o seu projeto de acolher os excluídos, Jesus mesmo foi excluído! Mas ele manteve a calma. A raiva dos outros não conseguiu desviá-lo do seu caminho. Lucas mostra assim como é difícil superar a mentalidade do privilégio e do fechamento. Mostrava ainda que a polêmica abertura para os pagãos já vinha desde Jesus. Jesus teve as mesmas dificuldades que as comunidades estavam tendo no tempo de Lucas.

4) Para um confronto pessoal
1. Será que o programa de Jesus está sendo o meu programa, o nosso programa? Minha atitude é a de Jesus ou do povo de Nazaré?
2. Quais os excluídos que deveríamos acolher melhor na nossa comunidade?

5) Oração final
Minha alma desfalece e suspira pelos átrios do SENHOR. Meu coração e minha carne exultam no Deus vivo. (Sl 83, 3)


Terça-feira, 26 de março-2019. 3ª SEMANA DA QUARESMA. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.

1) Oração

Ó Deus, que a vossa graça não nos abandone, mas nos faça dedicados ao vosso serviço e aumente sempre em nos os vossos dons. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (Mateus 18, 21-35)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Naquele tempo, 21Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? 22Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23Por isso, o Reino dos céus é comparado a um rei que quis ajustar contas com seus servos. 24Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. 25Como ele não tinha com que pagar, seu senhor ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus bens para pagar a dívida. 26Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo! 27Cheio de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida. 28Mas este servo, tendo saído, encontrou um dos seus companheiros, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando-lhe a mão, o sufocava, dizendo: Paga o que me deves. 29O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: Dá-me um prazo e eu te pagarei! 30Mas, sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na prisão, até que tivesse pago sua dívida. 31Vendo isto, os outros servos, profundamente tristes, vieram contar a seu senhor o que se tinha passado. 32Então o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei toda sua dívida, porque me suplicaste; 33Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti? 34E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida. 35Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração. - Palavra da salvação.

3) Reflexão
*  O Evangelho de hoje fala da necessidade do perdão. Não é fácil perdoar. Pois certas mágoas continuam machucando o coração. Há pessoas que dizem: "Eu perdôo, mas não esqueço!" Rancor, tensões, brigas, opiniões diferentes, ofensas, provocações dificultam o perdão e a reconciliação. Vamos meditar as palavras de Jesus que falam da reconciliação (Mt 18,21-22) e que trazem a parábola do perdão sem limites (Mt 18,23-35).
*  Mateus 18,21-22: Perdoar setenta vezes sete!. Jesus tinha falado sobre a importância do perdão e sobre a necessidade de saber acolher os irmãos e as irmãs para ajudá-los a se reconciliar com a comunidade (Mt 18,15-20). Diante destas palavras de Jesus, Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar ao irmão que pecar contra mim? Até sete vezes?” O número sete indica uma perfeição. No caso, era sinônimo de sempre. Jesus vai mais longe do que a proposta de Pedro. Ele elimina todo e qualquer possível limite para o perdão: "Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete!” Ou seja, setenta vezes sempre!  Pois não há proporção entre o perdão que recebemos de Deus e o perdão que nós devemos oferecer ao irmão, como ensinará a parábola do perdão sem limites.
*  A expressão setenta vezes sete era uma alusão clara às palavras de Lamec que dizia: “Por uma ferida, eu matei um homem, e por uma cicatriz matei um jovem. Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por setenta vezes sete" (Gn 4,23-24). Jesus quer reverter a espiral da violência que entrou no mundo pela desobediência de Adão e Eva, pelo assassinato de Abel por Caim e pela vingança de Lamec. Quando a violência desenfreada toma conta da vida, tudo desanda e a vida se desintegra. Surge o Dilúvio e aparece a Torre de Babel da dominação universal (Gn 2,1 a 11,32).
*  Mateus 18,23-35: A parábola do perdão sem limite.  A dívida de dez mil talentos valia em torno de 164 toneladas de ouro. A dívida de cem denários valia 30 gramas de ouro. Não existe meio de comparação entre os dois! Mesmo que o devedor junto com mulher e filhos fossem trabalhar a vida inteira, jamais seriam capazes de juntar 164 toneladas de ouro. Diante do amor de Deus que perdoa gratuitamente nossa dívida de 164 toneladas de ouro, é nada mais do que justo que também nós perdoemos ao irmão a insignificante dívida de 30 gramas de ouro, setenta vezes sempre! O único limite para a gratuidade do perdão de Deus é a nossa incapacidade de perdoar o irmão! (Mt 18,34; 6,15).
*  A comunidade como espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade. A sociedade do Império Romano era dura e sem coração, sem espaço para os pequenos. Estes buscavam um abrigo para o coração e não o encontravam. As sinagogas também eram exigentes e não ofereciam um lugar para eles. E nas comunidades cristãs, o rigor de alguns na observância da Lei levava para dentro da convivência os mesmos critérios da sinagoga. Além disso, lá para o fim do primeiro século, nas comunidades cristãs começavam a aparecer as mesmas divisões que existiam na sociedade entre rico e pobre (Tg 2,1-9). Em vez da comunidade ser um espaço de acolhimento, ela corria o risco de tornar-se um lugar de condenação e de conflitos. Mateus quer iluminar as comunidades, para que sejam um espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade. Devem ser uma Boa Notícia para os pobres.

4) Para um confronto pessoal
1. Por que será que é tão difícil perdoar?
2. Na nossa comunidade existe espaço para a reconciliação? De que maneira?

5) Oração final

Mostra-me, SENHOR, os teus caminhos, ensina-me tuas veredas. Faz-me caminhar na tua verdade e instrui-me, porque és o Deus que me salva,
e em ti sempre esperei. (Sl 24, 4-5)


Quarta-feira, 26 de março-2019. 3ª SEMANA DA QUARESMA. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.


1) Oração

Ó Deus de bondade, concedei que, formados pela observância da Quaresma
e nutridos por vossa palavra, saibamos mortificar-nos para vos servir com fervor, sempre unânimes na oração. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (Mateus 5, 17-19)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Naquele tempo, 17Disse Jesus aos seus discípulos não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição. 18Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei. 19Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus. - Palavra da salvação.

3) Reflexão
*  O Evangelho de hoje (Mt 5,17-19) ensina como observar a lei de Deus de tal maneira que a sua prática mostre em que consiste o pleno cumprimento da lei (Mt 5,17-19). Mateus escreve para ajudar as comunidades de judeus convertidos a superar as críticas dos irmãos de raça que as acusavam dizendo: “Vocês são infiéis à Lei de Moisés”. O próprio Jesus tinha sido acusado de infidelidade à lei de Deus. Mateus traz a resposta esclarecedora de Jesus aos que o acusavam. Assim ele traz uma luz para ajudar as comunidades a resolver seu problema.
*  Usando imagens do quotidiano, com palavras simples e diretas, Jesus tinha dito que a missão da comunidade, a sua razão de ser, é ser sal e ser luz! A respeito de cada uma das duas imagens ele tinha dado alguns conselhos. Em seguida, vem os três breves versículos do Evangelho de hoje:
*  Mateus 5,17-18: Nenhuma vírgula da lei vai cair. Havia várias tendências nas comunidades dos primeiros cristãos. Uns achavam que já não era necessário observar as leis do Antigo Testamento, pois é pela fé em Jesus que somos salvos e não pela observância da Lei (Rm 3,21-26). Outros aceitavam Jesus como Messias, mas não aceitavam a liberdade de Espírito com que algumas comunidades viviam a presença de Jesus ressuscitado. Achavam que eles, sendo judeus, deviam continuar observando as leis do AT (At 15,1.5). Havia ainda cristãos que viviam tão plenamente na liberdade do Espírito, que já não olhavam mais nem para a vida de Jesus de Nazaré nem para o AT e chegavam a dizer: “Anátema Jesus!” (1Cor 12,3). Diante destas tensões, Mateus procura um equilíbrio para além dos extremos. A comunidade deve ser o espaço, onde este equilíbrio possa ser alcançado e vivido. A resposta dada por Jesus aos que o criticavam continuava bem atual para as comunidades: “Não vim abolir a lei, mas dar-lhe pleno cumprimento!”. As comunidades não podiam ser contra a Lei, nem podiam fechar-se dentro da observância da lei. Como Jesus, deviam dar um passo e mostrar, na prática, qual o objetivo que a lei quer alcançar na vida das pessoas, a saber, a prática perfeita do amor.
*  Mateus 5,17-18: Nenhuma vírgula da lei vai cair. E aos que queriam desfazer-se de toda a lei, Mateus lembra a outra palavra de Jesus: “Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino do Céu”. A grande preocupação do Evangelho de Mateus é mostrar que o AT, Jesus de Nazaré e a vida no Espírito não podem ser separados. Os três fazem parte do mesmo e único projeto de Deus e nos comunicam a certeza central da fé: o Deus de Abraão e Sara está presente no meio das comunidades pela fé em Jesus de Nazaré que nos manda o seu Espírito.

4) Para um confronto pessoal
1. Como vejo e vivo a lei de Deus: como horizonte de liberdade crescente ou como imposição que delimita minha liberdade?
2. E o que podemos fazer hoje para os irmãos e irmãs que consideram toda esta discussão como ultrapassada e sem atualidade? O que podemos aprender deles?

5) Oração final

Glorifica o SENHOR, Jerusalém, louva teu Deus, ó Sião! Porque reforçou as trancas das tuas portas, no teu meio abençoou teus filhos. (Sl 147, 12-14)



Quinta-feira, 28 de março-2019. 3ª SEMANA DA QUARESMA. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.


1) Oração

À medida que se aproxima a festa da salvação, nós vos pedimos, ó Deus,
que nos preparemos com maior empenho para celebrar o mistério da Páscoa.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (Lucas 11, 14-23)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Naquele tempo, 14Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mudo começou a falar, e as multidões ficaram admiradas. 15Alguns, porém, disseram: “É pelo poder de Beelzebu, o chefe dos demônios, que ele expulsa os demônios”. 16Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. 17Mas, conhecendo seus pensamentos, ele disse-lhes: “Todo reino dividido internamente será destruído; cairá uma casa sobre a outra. 18Ora, se até Satanás está dividido internamente, como poderá manter-se o seu reino? Pois dizeis que é pelo poder de Beelzebu que eu expulso os demônios. 19Se é pelo poder de Beelzebu que eu expulso os demônios, pelo poder de quem então vossos discípulos os expulsam? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. 20Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, é porque o Reino de Deus já chegou até vós. 21Quando um homem forte e bem armado guarda o próprio terreno, seus bens estão seguros. 22Mas, quando chega um mais forte do que ele e o vence, arranca-lhe a armadura em que confiava e distribui os despojos. 23Quem não está comigo é contra mim; e quem não recolhe comigo, espalha. - Palavra da salvação.

3) Reflexão
*  O evangelho de hoje é de Lucas (Lc 11,14-23). O texto paralelo de Marcos (Mc 3,22-27) já foi meditado no dia 28 de janeiro deste ano.
*  Lucas 11,14-16: As diferentes reações diante da expulsão de um demônio. Jesus tinha expulsado um demônio que era mudo. A expulsão provocou duas reações diferentes. De um lado, a multidão do povo que ficou admirado e maravilhado. O povo aceita Jesus e acredita nele. Do outro lado, os que não aceitam Jesus e não acreditam nele. Destes últimos, alguns diziam que Jesus expulsava os demônios em nome de Beelzebu, o príncipe dos demônios, e outros queriam dele um sinal do céu. Marcos informa que se tratava de escribas vindos de Jerusalém (Mc 3,22), que não concordavam com a liberdade de Jesus. Queriam defender a Tradição contra as novidades de Jesus.
*  Lucas 11,17-22: A resposta de Jesus tem três partes:
1ª parte: comparação do reino dividido (vv. 17-18ª)  Jesus denuncia o absurdo da calúnia escribas. Dizer que ele expulsa os demônios com a ajuda do príncipe dos demônios é negar a evidência. É o mesmo que dizer que a água é seca, e que o sol é escuridão. Os doutores de Jerusalém o caluniavam, porque não sabiam explicar os benefícios que Jesus realizava para o povo. Estavam com medo de perder a liderança. Sentiam-se ameaçados na sua autoridade junto ao povo.
2ª parte: por quem expulsam vossos filhos? (vv.18b-20)  Jesus provoca os acusadores e pergunta: “Se eu expulso em nome de Belzebu, em nome de quem os discípulos de vocês expulsam os demônios? Que eles respondam e se expliquem! Se eu expulso o demônio pelo dedo de Deus, é porque chegou o Reino de Deus!”.
3ª parte: chegando o mais forte ele vence o forte (vv.21-22) Jesus compara o demônio com um homem forte. Ninguém, a não ser uma pessoa mais forte, poderá roubar a casa de um homem forte. Jesus é este mais forte que chegou. Por isso, ele consegue entrar na casa e amarrar o homem forte. Consegue expulsar os demônios. Jesus amarrou o homem forte e agora rouba a casa dele, isto é, liberta as pessoas que estavam no poder do mal. O profeta Isaías já tinha usado a mesma comparação para descrever a vinda do messias (Is 49,24-25). Por isso Lucas diz que a expulsão do demônio é um sinal evidente de que chegou o Reino de Deus.
*  Lucas 11,23: Quem não está comigo é contra mim.  Jesus termina sua resposta com esta frase: “Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa”. Em outra ocasião, também a propósito de uma expulsão de demônio, os discípulos impediram um homem de usar o nome de Jesus para expulsar um demônio, pois ele não era do grupo dele. Jesus respondeu: “Não impeçam! Quem não é contra vocês é a vosso favor!” (Lc 9,50). Parecem duas frases contraditórias, mas não são. A frase do evangelho de hoje é dita contra os inimigos que tem preconceito contra Jesus: “Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa”. Preconceito e não aceitação tornam o diálogo impossível e rompe a união. A outra frase é dita para os discípulos que pensavam ter o monopólio de Jesus: “Quem não é contra vocês é a vosso favor!” Muita gente que não é cristão pratica o amor, a bondade, a justiça, muitas vezes até melhor do que os cristãos. Não podemos excluí-los. São irmãos e parceiros na construção do Reino. Nós cristãos não ´somos donos de Jesus. É o contrário: Jesus é o nosso dono!

4) Para um confronto pessoal
1) “Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa” Como isto acontece na minha vida?
2) “Não impeçam! Quem não é contra vocês é a vosso favor!” Como isto acontece na minha vida?

5) Oração final

Vinde, exultemos no SENHOR, aclamemos o Rochedo que nos salva,
vamos a ele com ações de graças, vamos aclamá-lo com hinos de alegria. (Sl 94, 1-2)



Sexta-feira, 29 de março-2019. 3ª SEMANA DA QUARESMA. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.


1) Oração

Infundi, ó Deus, vossa graça em nossos corações, para que, fugindo aos excessos humanos, possamos, com vosso auxílio, abraçar os vossos preceitos.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (Marcos 12, 28b-34)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos - Naquele tempo, 28Achegou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, vendo que lhes respondera bem, indagou dele: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? 29Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor; 30amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças. 31Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe. 32Disse-lhe o escriba: Perfeitamente, Mestre, disseste bem que Deus é um só e que não há outro além dele. 33E amá-lo de todo o coração, de todo o pensamento, de toda a alma e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrifícios. 34Vendo Jesus que ele falara sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do Reino de Deus. E já ninguém ousava fazer-lhe perguntas. - Palavra da salvação.

3) Reflexão
*  No Evangelho de hoje (Mc 12,28b-34), os escribas ou doutores da Lei querem saber de Jesus qual o maior mandamento. Hoje também muita gente quer saber o que é o mais importante na religião. Uns dizem que é ser batizado. Outros, que é rezar. Outros dizem: ir à Missa ou participar do culto no domingo. Outros ainda: amar o próximo e lutar por um mundo mais justo! Outros estão preocupados só com as aparências ou com os cargos na igreja.
*  Marcos 12,28: A pergunta do doutor da Lei. Pouco antes da pergunta do escriba, a discussão tinha sido com os saduceus em torno da fé na ressurreição (Mc 12,23-27). O doutor, que tinha assistido ao debate, gostou da resposta de Jesus, percebeu a grande inteligência dele e quis aproveitar da ocasião para fazer uma pergunta de esclarecimento: “Qual é o maior de todos os mandamentos?” Naquele tempo, os judeus tinham uma grande quantidade de normas para regulamentar na prática a observância dos Dez Mandamentos da Lei de Deus. Alguns diziam: “Todas estas normas têm o mesmo valor, pois todas vêm de Deus. Não compete a nós introduzir distinções nas coisas de Deus”. Outros diziam: “Algumas leis são mais importantes que as outras e, por isso, obrigam mais!” O doutor quer saber qual a opinião de Jesus.
*  Marcos 12,29-31: A resposta de Jesus.  Jesus responde citando um trecho da Bíblia para dizer que o mandamento maior é “amar a Deus com todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento e com toda a força!” (Dt 6,4-5). No tempo de Jesus, os judeus piedosos recitavam esta frase três vezes ao dia: de manhã, ao meio dia e à noite. Era tão conhecida entre eles como entre nós, hoje, o Pai-Nosso. E Jesus acrescenta, citando novamente a Bíblia: “O segundo é este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’ (Lv 19,18). Não existe outro mandamento maior do que estes dois”. Resposta breve e muito profunda! É o resumo de tudo que Jesus ensinou sobre Deus e sobre a vida (Mt 7,12).
*  Marcos 12,32-33: A resposta do doutor da lei. O doutor concordou com Jesus e concluiu: “Sim, amar a Deus e amar ao próximo é muito mais importante do que todos os holocaustos e todos os sacrifícios”. Ou seja, o mandamento do amor é mais importante que os mandamentos relacionados com o culto e os sacrifícios do Templo. Esta afirmação já vinha desde os profetas do Antigo Testamento (Os 6,6; Sl 40,6-8; Sl 51,16-17). Hoje diríamos que a prática do amor é mais importante que novenas, promessas, missas, rezas e procissões.
*  Marcos 12,34: O resumo do Reino. Jesus confirma a conclusão do doutor e diz: “Você não está longe do Reino!” De fato, o Reino de Deus consiste em unir os dois amores: amor a Deus e amor ao próximo. Pois se Deus é Pai/Mãe, nós todos somos irmãos e irmãs, e temos que mostrar isto na prática, vivendo em comunidade. "Destes dois mandamento dependem toda a lei e os profetas!" (Mt 22,40) Os discípulos e as discípulas, que coloquem na memória, na inteligência, no coração, nas mãos e nos pés esta lei maior, pois não se chega a Deus a não ser através da doação total ao próximo!
*  Jesus tinha dito ao doutor da Lei: "Você não está longe do Reino!" (Mc 12,34). O doutor já estava perto, mas para poder entrar no Reino teria que dar mais um passo. No AT o critério do amor ao próximo era “Amar o próximo como a sim mesmo”. No NT, Jesus alargou o sentido do amor: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado! (Jo 15,12-13). Agora o critério será Amar o próximo como Jesus nos amou!”. É o caminho certo para se chegar a uma convivência mais justa e mais fraterna.

4) Para um confronto pessoal
1. Para você, o que é o mais importante na religião?
2. Nós, hoje, estamos mais perto ou mais longe do Reino de Deus do que o doutor que foi elogiado por Jesus? O que você acha?

5) Oração final
Entre os deuses nenhum é como tu, Senhor, e nada há que se iguale a tuas obras. Pois tu és grande e fazes maravilhas; só tu és Deus. (Sl 85, 8.10)



Sábado, 30 de março-2019. 3ª SEMANA DA QUARESMA. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.


1) Oração
Ó Deus, alegrando-nos cada ano com a celebração da Quaresma, possamos participar com fervor dos sacramentos pascais e colher com alegria todos os seus frutos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (Lucas 18, 9-14)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - Naquele tempo, 9Jesus lhes disse ainda esta parábola a respeito de alguns que se vangloriavam como se fossem justos, e desprezavam os outros: 10Subiram dois homens ao templo para orar. Um era fariseu; o outro, publicano. 11O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: Graças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali. 12Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros. 13O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador! 14Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado. - Palavra da salvação.

3) Reflexão Lc 18,9-14
*  No Evangelho de hoje, Jesus conta a parábola do fariseu e do publicano para ensinar como rezar. Jesus tinha outra maneira de ver as coisas da vida. Ele via algo de positivo no publicano, de quem todo mundo dizia: “Ele nem sabe rezar!” Jesus vivia tão unido ao Pai pela oração, que tudo se tornava expressão de oração para ele.
*  A maneira de apresentar a parábola é muito didática. Lucas dá uma breve introdução que serve como chave de leitura. Em seguida, Jesus conta a parábola e, no fim, o próprio Jesus faz a aplicação da parábola na vida.
*  Lucas 18,9: A introdução. A parábola é apresentada com a seguinte frase: "Jesus contou ainda esta parábola para alguns que, convencidos de serem justos, desprezavam os outros!" A frase é de Lucas. Ela se refere, ao tempo de Jesus. Mas ela também se refere ao tempo do próprio Lucas e ao nosso tempo. Sempre há pessoas e grupos de pessoas que se consideram justos e fiéis e que desprezam os outros como ignorantes e infiéis.
*  Lucas 18,10-13: A parábola. Dois homens sobem ao templo para rezar: um fariseu e um publicano. Na opinião do povo daquela época, os publicanos não prestavam para nada e não podiam dirigir-se a Deus, pois eram pessoas impuras. Na parábola, o fariseu agradece a Deus por ser melhor do que os outros. A sua oração nada mais é do que um elogio de si mesmo, uma auto-exaltação das suas boas qualidades e um desprezo pelos outros e pelo próprio publicano. O publicano nem sequer levanta os olhos, bate no peito e apenas diz: "Meu Deus, tem dó de mim que sou um pecador!" Ele se coloca no seu lugar diante de Deus.
*  Lucas 18,14: A aplicação. Se Jesus tivesse deixado ao povo opinar para dizer quem dos dois voltou justificado para casa, todos teriam respondido: "É o fariseu!" Pois esta era a opinião comum naquela época. Jesus pensa diferente. Para ele, quem voltou justificado para casa, isto é, em boas relações com Deus, não é o fariseu, mas sim o publicano. Jesus virou tudo pelo avesso. As autoridades religiosas da época não devem ter gostado da aplicação que ele fez desta parábola.
*  Jesus Orante. É sobretudo Lucas que nos informa sobre a vida de oração de Jesus. Ele apresenta Jesus em constante oração. Eis uma lista de textos do evangelho de Lucas, nos quais Jesus aparece em oração: Lc 2,46-50; 3,21: 4,1-12; 4,16; 5,16; 6,12; 9,16.18.28; 10,21; 11,1; 22,32; 22,7-14; 22,40-46; 23,34; 23,46; 24,30. Lendo o evangelho de Lucas você poderá encontrar outros textos que falam da oração de Jesus. Jesus vivia em contato permanente com o Pai. A respiração da vida dele era fazer a vontade do Pai (Jo 5,19). Jesus rezava muito e insistia, para que o povo e seus discípulos fizessem o mesmo, pois é no contato com Deus que a verdade aparece e que a pessoa se encontra consigo mesma em toda a sua realidade e humildade. Em Jesus, a oração estava intimamente ligada aos fatos concretos da vida e às decisões que ele devia tomar. Para poder ser fiel ao projeto do Pai, ele buscava estar a sós com Ele para escutá-lo. Jesus rezava os Salmos. Como todo judeu piedoso, conhecia-os de memória. Jesus chegou a fazer o seu próprio salmo. É o Pai Nosso. Sua vida era uma oração permanente: "Eu a cada momento faço o que o Pai me mostra para fazer!" (Jo 5,19.30). A ele se aplica o que diz o Salmo: "Eu sou oração!" (Sl 109,4).

4) Para um confronto pessoal
1. Olhando no espelho desta parábola, eu sou como o fariseu ou como o publicano?
2. Tem pessoas que dizem que não sabem rezar, mas elas conversam com Deus o tempo todo. Você conhece pessoas assim?

5) Oração final
Ó Deus, tem piedade de mim, conforme a tua misericórdia; no teu grande amor cancela o meu pecado. Lava-me de toda a minha culpa, e purifica-me de meu pecado. (Sl 50, 3-4)

terça-feira, 26 de março de 2019

Terça-feira, 26 de março-2019. 3ª SEMANA DA QUARESMA. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.


Terça-feira, 25 de março-2019. 3ª SEMANA DA QUARESMA. Evangelho do dia- Lectio Divina- com Frei Carlos Mesters, Carmelita.

1) Oração

Ó Deus, que a vossa graça não nos abandone, mas nos faça dedicados ao vosso serviço e aumente sempre em nos os vossos dons. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho (Mateus 18, 21-35)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Mateus - Naquele tempo, 21Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? 22Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23Por isso, o Reino dos céus é comparado a um rei que quis ajustar contas com seus servos. 24Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. 25Como ele não tinha com que pagar, seu senhor ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus bens para pagar a dívida. 26Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo! 27Cheio de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida. 28Mas este servo, tendo saído, encontrou um dos seus companheiros, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando-lhe a mão, o sufocava, dizendo: Paga o que me deves. 29O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: Dá-me um prazo e eu te pagarei! 30Mas, sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na prisão, até que tivesse pago sua dívida. 31Vendo isto, os outros servos, profundamente tristes, vieram contar a seu senhor o que se tinha passado. 32Então o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei toda sua dívida, porque me suplicaste; 33Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti? 34E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida. 35Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração. - Palavra da salvação.

3) Reflexão
*  O Evangelho de hoje fala da necessidade do perdão. Não é fácil perdoar. Pois certas mágoas continuam machucando o coração. Há pessoas que dizem: "Eu perdôo, mas não esqueço!" Rancor, tensões, brigas, opiniões diferentes, ofensas, provocações dificultam o perdão e a reconciliação. Vamos meditar as palavras de Jesus que falam da reconciliação (Mt 18,21-22) e que trazem a parábola do perdão sem limites (Mt 18,23-35).
*  Mateus 18,21-22: Perdoar setenta vezes sete!. Jesus tinha falado sobre a importância do perdão e sobre a necessidade de saber acolher os irmãos e as irmãs para ajudá-los a se reconciliar com a comunidade (Mt 18,15-20). Diante destas palavras de Jesus, Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar ao irmão que pecar contra mim? Até sete vezes?” O número sete indica uma perfeição. No caso, era sinônimo de sempre. Jesus vai mais longe do que a proposta de Pedro. Ele elimina todo e qualquer possível limite para o perdão: "Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete!” Ou seja, setenta vezes sempre!  Pois não há proporção entre o perdão que recebemos de Deus e o perdão que nós devemos oferecer ao irmão, como ensinará a parábola do perdão sem limites.
*  A expressão setenta vezes sete era uma alusão clara às palavras de Lamec que dizia: “Por uma ferida, eu matei um homem, e por uma cicatriz matei um jovem. Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por setenta vezes sete" (Gn 4,23-24). Jesus quer reverter a espiral da violência que entrou no mundo pela desobediência de Adão e Eva, pelo assassinato de Abel por Caim e pela vingança de Lamec. Quando a violência desenfreada toma conta da vida, tudo desanda e a vida se desintegra. Surge o Dilúvio e aparece a Torre de Babel da dominação universal (Gn 2,1 a 11,32).
*  Mateus 18,23-35: A parábola do perdão sem limite.  A dívida de dez mil talentos valia em torno de 164 toneladas de ouro. A dívida de cem denários valia 30 gramas de ouro. Não existe meio de comparação entre os dois! Mesmo que o devedor junto com mulher e filhos fossem trabalhar a vida inteira, jamais seriam capazes de juntar 164 toneladas de ouro. Diante do amor de Deus que perdoa gratuitamente nossa dívida de 164 toneladas de ouro, é nada mais do que justo que também nós perdoemos ao irmão a insignificante dívida de 30 gramas de ouro, setenta vezes sempre! O único limite para a gratuidade do perdão de Deus é a nossa incapacidade de perdoar o irmão! (Mt 18,34; 6,15).
*  A comunidade como espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade. A sociedade do Império Romano era dura e sem coração, sem espaço para os pequenos. Estes buscavam um abrigo para o coração e não o encontravam. As sinagogas também eram exigentes e não ofereciam um lugar para eles. E nas comunidades cristãs, o rigor de alguns na observância da Lei levava para dentro da convivência os mesmos critérios da sinagoga. Além disso, lá para o fim do primeiro século, nas comunidades cristãs começavam a aparecer as mesmas divisões que existiam na sociedade entre rico e pobre (Tg 2,1-9). Em vez da comunidade ser um espaço de acolhimento, ela corria o risco de tornar-se um lugar de condenação e de conflitos. Mateus quer iluminar as comunidades, para que sejam um espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade. Devem ser uma Boa Notícia para os pobres.

4) Para um confronto pessoal
1. Por que será que é tão difícil perdoar?
2. Na nossa comunidade existe espaço para a reconciliação? De que maneira?

5) Oração final

Mostra-me, SENHOR, os teus caminhos, ensina-me tuas veredas. Faz-me caminhar na tua verdade e instrui-me, porque és o Deus que me salva,
e em ti sempre esperei. (Sl 24, 4-5)