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sábado, 28 de setembro de 2013

26º- DOMINGO DO TEMPO COMUM. ANO-C: Homilia do Frei Petrônio.

26º Domingo do Tempo Comum: O rico e o pobre Lázaro. (Lc 16,19-31)

Kátia Rejane Sassi
A parábola de Lucas 16,19-31 não é uma espécie de “geografia do céu e do inferno”, nem um ensinamento sobre a questão do “além”, da situação depois da morte. É uma parábola, cujo objetivo é provocar um questionamento, uma reflexão que leve ao entendimento da mensagem e a uma tomada de posição.
De um lado, esta parábola parece dirigir-se aos fariseus (Lucas 16,14), aqueles definidos por Jesus como “amigos do dinheiro”. De outro lado, é uma advertência aos discípulos e às discípulas de Jesus de ontem e de hoje.
Uma realidade cheia de contrastes
A situação inicial é descrita apresentando os contrastes entre duas realidades: de um homem rico anônimo contra um mendigo que se chamava Lázaro (que significa “Deus ajuda”); de roupas luxuosas de púrpura e linho contra a pele coberta de úlceras repugnantes; de banquetes diários contra estômago faminto que desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa; de enterro certamente com toda solenidade e pompa contra o sepultamento de um indigente; de luxo, abundância e supérfluo, de um lado, e a falta do mínimo necessário para viver, do outro.
O abismo da indiferença
Uma cena comum que pode ser vista quotidianamente no palco da vida. Mesmo separados pela distância da indiferença, o rico e o pobre viveram bem próximos um do outro. Porém, o rico não vê nada, sequer percebe a presença de Lázaro. Ele vivia extremamente para si, fechado no seu mundo de bens, luxo, festa e comilança. Uma pessoa insensível ante a situação de fome, doença e dor do pobre que estava junto à porta de sua casa. Lázaro era um entre tantos marginalizados da cidade. Só os cães de rua se aproximam dele para lamber-lhe as feridas. Sua única esperança é Deus. O uso egoísta dos bens materiais cavava um abismo entre o rico e o pobre. Jesus desmascara esta realidade da sociedade onde as pessoas estão separadas por uma barreira invisível: essa porta que o rico nunca atravessa para aproximar-se de Lázaro.
Não basta ser “filho de Abraão”
Após a morte, as sortes se inverteram. Lázaro é levado pelos anjos ao “seio de Abraão”, expressão figurada para falar do banquete do Reino (cf. Lucas 13,28; Mateus 8,11). O rico está embaixo, na morada dos mortos, no meio de tormentos. Ele, que antes tinha comidas e bebidas finas à sua disposição, agora implora por uma simples gota d’água. Porém, um abismo intransponível separa os dois.
O rico da parábola crê que faz parte do povo de Deus, chamando Abraão de “pai”. Porém, não basta ser “filho de Abraão”, é preciso escutar as Escrituras e demonstrar solidariedade e justiça para com os irmãos que sofrem necessidade. O profeta Isaías, por exemplo, diz o que os filhos de Abraão devem fazer: “repartir a comida com quem passa fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se encontra nu e não se fechar à sua própria gente” (Isaías 58,7; cf. Mateus 25,35-36).
A parábola pode estar denunciando a falsa religião dos fariseus, que se dizem filhos e filhas de Abraão, mas acumulam os bens dos pobres, reduzindo à miséria muitos filhos e filhas de Abraão, irmãos e irmãs deles (cf. Mateus 23,14). Nesta posição, eles se tornam surdos ao clamor dos pobres e aos ensinamentos de Moisés e dos profetas.
Uma mensagem ética que rompe barreiras
Esta parábola é uma crítica de Jesus a um sistema opressor que gera indiferença diante do sofrimento de quem está na miséria. Os ricos insensíveis, amantes do dinheiro, não mudam seu comportamento de luxo e de esbanjamento. Sustentam uma sociedade que produz milhões de “lázaros”, aqueles que são jogados “fora dos muros” do convívio e da participação na vida.
A parábola é uma advertência e apelo à conversão dirigida a todos nós, discípulos e discípulas de Jesus. Quem escuta a Palavra de Deus não vive descompromissado com a realidade à sua volta. Quem segue Jesus vai se tornando mais sensível ao sofrimento daqueles que ele encontra em seu caminho. Aproxima-se do necessitado e, se estiver em seu alcance, procura aliviar sua situação.
A indiferença só se dissolve quando se dá passos que nos aproximam dos “lázaros” de diferentes rostos e nomes. Ao invés de levantar barreiras que dividem, somos interpelados a lutar por eliminar o “abismo” que separa os povos através do poder econômico, da suposta superioridade racial, de gênero, de crença ou cultura.
Felizes as pessoas que seguem Jesus, rompendo barreiras e atravessando portas, abrindo caminhos e se aproximando dos últimos. Elas encarnam o “Deus que ajuda” os pobres.

Mulher da uma cagada com fé (igreja Mundial)

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A PALAVRA DO FREI PETRONIO, Nº 423. Santa Teresinha e a Cruz.

Habermas e a filosofia da modernidade.


Procurou desenvolver uma Teoria da Modernidade calcada em um novo conceito de razão – a razão comunicativa
Ele procura explicar os paradoxos ou patologias da modernidade e suas vias de superação
Assim, o texto procura: apresentar as linhas gerais da teoria da modernidade; resumir as críticas a outros teóricos; resgatar o  projeto de modernidade

 
A Teoria da Modernidade é parte integrante da Teoria da Ação Comunicativa
Mundo vivido (perspectiva subjetiva) e mundo sistêmico (perspectiva objetiva
Resgatando um conceito de racionalidade dialógica
Teoria da Modernidade como uma teoria evolutiva
Processos de transformação das formações sociais como processos coletivos de aprendizado
Assim como Piaget identifica a capacidade de aprendizado da criança, Habermas vê este processo em termos sociais – superar princípios de organização mais simples em favor de outros mais universais

 
Em termos de Estado, a descentração permite migrar da estrutura de parentesco para a perspectiva de Estado
Em termos de economia, da produção local para um mercado internacional
Estes processos geram crescente intransparência, por isso ele propõe a introdução de processos argumentativos mediante os quais se possa encontrar novos princípios de estruturação universais ou universalizáveis

 

Neste processo, vai existindo dentro das formações societárias, uma maior deferenciação/autonomização de certas esferas ou subsistemas
Para Habermas, o início da modernidade está marcado  por três eventos: Reforma protestante; Iluminismo; Revolução Francesa
Portanto a modernidade se situa no tempo: séculos 18, 19, 20 e no espaço – Europa

 
Para Habermas, capitalismo e socialismo se situam na modernidade
Ele vai fazer uma distinção entre os processos de modernização (racionalização dos processos econômicos) e a modernidade cultural (autonomização das chamadas esferas de valor: moral, ciência e arte
Para compreender este processo é preciso entender a distinção entre “mundo do sistema” e “mundo vivido”

 
Mundo do sistema – reprodução material; mundo vivido – reprodução simbólica
Mundo vivido – compõem-se da experiência comum a todos os atores da língua, das tradições e da cultura compartilhada por eles
Tem duas facetas: a continuidade das “certezas”, e a possibilidade da ação comunicativa

 
A ação comunicativa  permite suspender temporariamente as pretenções de validade, buscando elaborar à base de argumentos mais convincentes e coerentes, buscando legitimar no interior de um processo argumentativo que respeita os melhores argumentos, a validade de normas novas
O mundo vivido – espaço no qual a ação comunicativa, calcada no diálogo e na força do melhor argumento, em contextos livres de coação, permite a realização da razão comunicativa

 
A segunda esfera é o do mundo do sistema, não visto como  oposto, mas como complementar ao mundo vivido
O mundo do sistema é subdividido em: economia e Estado
Eles tem dois mecanismos auto-reguladores: o dinheiro e o poder
Neste âmbito a linguagem é secundária, predominando a ação instrumental – o sistema é regido pela razão instrumental

 
O mundo vivido também se divide em três subsistemas: o cultural, o social e o da personalidade – condicionados por mecanismos de integração social (controle social, socialização e aprendizado)
Nele seria possível criticar, renegociar e finalmente reinstaurar a validade das novas normas e valores
No mundo do sistema – racionalização da economia de mercado e racionalização do Estado legal
A racionalização da economia e do Estado resultou na hegemonia da racionalidade instrumental
Nestes termos, a racionalidade comunicativa foi expulsa do mundo do sistema e ficou confinada no mundo vivido

A modernidade cultural, pertencente ao mundo vivido, observamos um processo de diferenciação e autonomização. No subsistema cultural, diferenciação em três esferas: científica, ética e estética
Cada um passa a funcionar segundo princípios próprios – verdade, moralidade, expressividade

 
Se a racionalização é o traço central da modernização societária (mundo do sistema), a autonomização é o traço central da modernidade cultural (mundo vivido)
Esfera da ciência: espaço privilegiado do cultivo da verdade
Esfera da moral – espaço privilegiado do cultivo das normas
Esfera da arte – espaço privilegiado da transformação da subjetividade em intersubjetivdade expressiva

 
A crise da modernidade cultural reduz o campo da atuação da razão comunicativa, permitindo que sua base institucional seja contaminada pela razão instrumental
A teoria da modernidade de Habermas apresenta uma série de transformações do passado mais recente, dando destaque a quatro tipos de processos: o da diferenciação; o da racionalização; o da autonomização; e o da dissociação

 
Os dois primeiros são vistos como positivos e os dois últimos como negativos
A diferenciação – um único princípio é superado em favor de um visão descentrada que permite incluir diferentes perspectivas e princípios
A autonomização – despreendimento relativo a um subsistema, permitindo seu funcionamento à base de princípios autônomos – ganho relativo de liberdade das esferas, subsistemas ou estruturas em questão

 
Racionalização – transformação institucional segundo a racionalidade instrumental. Predomina o cálculo da eficácia: os meios são ajustados aos fins – negativo porque expulsa nos espaços em que age a razão argumentativa
Dissociação – desconecta a produção material de bens e a dominação dos verdadeiros processos sociais que ocorrem na vida cotidiana

 
As patologias da modernidade se devem aos dois processos de transformação negativos: dissociação e racionalização
A dissociação implicou no desengate do mundo vivido e do sistema, já quase irreversível em nossos tempos
A racionalização expandiu-se para certas instituições do mundo vivido
Estaríamos vendo então a “colonização” do mundo vivido pelo sistema
Esta primeira patologia faz com que os homens modernos submetam suas vidas às leis de mercado e à burocracia estatal

 
A apatia generalizada permite que a economia e o estado sejam controlados por uma minoria de homens de negócios e burocratas
A segunda patologia decorre da primeira: o sistema se fortalece em detrimento do mundo vivido – a razão instrumental coloniza as instituições que antes eram conduzidas a partir da razão comunicativa
A colonização é a penetração da racionalidade instrumental e dos mecanismos de integração do dinheiro e do poder no interior das instituições culturais

O princípio do lucro e do poder ocupam, como tropas invasoras, espaços privilegiados da razão comunicativa, substituindo-a pela razão instrumental
Restam apenas alguns nichos
A terapia para reverter os processos de desengate e de colonização é reacoplar  o sistema ao mundo vivido, com maior transparência, flexibilidade e dirigibilidade das formações societárias
A descolonização visa permitir a livre atuação da razão comunicativa

 
Teoria da Modernidade de Habermas é produto da análise e da crítica a inúmeros intérpretes da modernidade
Sociologia (Weber, Durkheim, Parsons), psicólogos (Freud, Piaget, Mead), filósofos (Husserl, Heidagger, Wittegenstein), lingüistas (Chomsky, Austin, Apel), críticos de arte (Luckacs, Benjamin, Adorno) e muitos outros.
A sua teoria é feita através da crítica a esses pensadores e a apropriação, ao menos parcial, de suas formulações

 
A sociologia surgiu como ciência como conseqüência da revolução francesa
A sociologia é uma disciplina conservadora, reacionária, no sentido original da palavra
Ela faz a apologia do existente
A sociologia é uma teoria afirmativa da modernidade
Talcott  Parsons forneceu-lhe a visão sistêmica da sociedade;  a divisão de subsistemas de poder e econômico; os mecanismos de integração sistêmica; os subsistemas de personalidade, social e cultural

 
Ainda é de Parsons a idéia de interpretar os processos de racionalização e seus subsistemas como verdadeiros processos de modernização
No entanto, segundo Habermas, Parsons reduziu sua teoria  da ação a teoria sistêmica e não visualizou a possibilidade da  ação orientada para o entendimento
Weber forneceu a Habermas o paradigma geral da modernização
Racionalização = modernização
Forma de típico ideal

 
Longe de idealizar a modernidade, Weber lamenta certos traços da racionalização que teriam levado ao desencantamento
Para ele, o homem moderno vive em um sistema econômico que tole todas as liberdades e que se transformou para todos numa “armação de ferro” (ou armadura)
Para Habermas, Weber promove certa simplificação e acaba analisando somente a espera ética
A racionalização é vista por Weber como sendo a institucionalização da racionalidade instrumental. Não há lugar para a razão comunicativa

 
As teses de “cosificação” e da “unidimensionalidade” do mundo, formuladas pelos críticos de Frankfurt, inspiraram-se em Weber
Para Habermas impõem-se uma mudança da razão instrumental para a razão comunicativa, da subjetividade para a intersubjetividade, da razão monológica  para a razão dialógica

 
Para Habermas, não dá mais para imaginar a filosofia como se ela conhecesse a chave para todos os enigmas, mas é indispensável seu papel como intérprete do mundo vivido
Os filósofos deveriam compartilhar com outros especialistas a tarefa de reflexão e do esclarecimento
Os filósofos devem concentrar sua atenção no mundo vivido e na modernidade cultural
Habermas vai classificar seus colegas filósofos conservadores em: novos conservadores, velhos conservadores e neo-conservadores

 
Os filósofos marxistas em duas grande categorias:  ideólogos do socialismo de estado (subdivididos em estalinistas, leninistas e comunistas reformadores) e os representantes do marxismo ocidental (esquerda socialista, social democracia, esquerda não comunista)
Todos eles procuram conceptualização da modernidade, através da crítica
O critério para a classificação é  exatamente o utilizado para a classificação que Habermas realiza

 
Os jovens conservadores (Bataile, Foucault, Derrida, Lyotard e outros) apóiam-se nas críticas ao mundo moderno fetias pro Nietzsche e Heidegger – fundamentam um programa pós-moderno de crítica à modernidade: a razão é desmascarada como vontade de dominação
O saber é confundido com o poder, querer saber é querer dominar
Não existe nesta vertente ação voltada para o entendimento. Toda ação é exercício de poder, controle, repressão, tendo como aliado o saber(= razão instrumental)

 
Com o desmascaramento da modernidade teria início uma nova era – a pós-modernidade, descrita com traços fortemente irracionalistas
Foucault, por exemplo, elimina a diferença entre instituições econômicas, políticas, culturais, acadêmicas, psiquiátricas, etc – todas se organizam em torno de um mesmo princípio da vontade de dominar, de uma razão castradora
Para Habermas, ele fez uso de um conceito social totalmente a-sociológico

 
Já os velhos conservadores procuram preservar-se da contaminação da modernidade (Leo Straus, Hans Jonas, Robert Spaemann). Buscam voltar a posições anteriores à modernidade, são pré-modernos
Para os pós-modernos a modernidade não existe mais, tendo sido desmascarada como perversão, para os pré-modernos a modernidade nunca existiu
Já os neo-conservadores (Arnold Ghele, Gottfried Benn, Carl Schimitt, o jovem Wittegenstein e outros) valorização as aquisições da modernização societária  mas rejeitam o s potenciais explosivos da modernidade cultural

 
Para os neo-conservadores a tradição deve ocupar os espaços “vazios” do mundo vivido
Querem a restauração de uma tradição sadia – religião, ética do trabalho, etc
Já os marxistas tem sua visão de modernidade marcada pelos acontecimentos do leste europeu
Os stalinistas defendem o status quo daquelas sociedades (de socialismo de estado) como a autêntica realização dos ideais marxistas
Olham os acontecimentos do leste como contra-revolucionários

 
São partidários dos PCs estabelecidos no bloco socialista
Os leninistas atribuem o caráter de uma reforma auto-corretiva no interior do próprio processo revolucionário
Os comunistas reformistas defendem a teoria da terceira via e criticam a revolução bolchevista, criticam a estatização e sugerem a democratização dos processos políticos
Os socialistas de esquerda (Kautsky, Gramsci, Althusser) defendem que a práxis assume prioridade absoluta diante do conceito de reflexão ou comunicação

 
Os reformadores  socialdemocratas abandonaram o paradigma de luta de classes e da concepção da estrutura de classes das sociedades contemporâneas
A esquerda não comunista (Bordieu, Torreine e provavelmente o próprio Habermas) – a teoria de Marx como um dos componentes, entre outros, dos currículos acadêmicos
Novos esquemas interpretativos que não se atem simplesmente à superfície dos processos de modernização

 
Para Habermas a necessidade de justificar e refletir a modernidade veio a tona inicialmente na esfera da crítica da arte
Para Baudelaire a obra de arte estaria situada no ponto de intersecção entre atualidade e eternidade
Para Adorno a obra de arte é tanto mais válida quanto menos acessível à vulgarização, pois ela se torna, assim,  inaproveitável pela indústria cultural
A teoria estética de Adorno acaba enclausurando-se, perdendo o contato com a realidade que ela pretendia criticar e modificar

 
Habermas dá preferência à teoria estética de Benjamin
Segundo ele, a reprodutibilidade técnica da obra longe de anular a dimensão de protesto, a torna acessível a uma grande maioria
Para Habermas, Benjamin supera todos os tradicionalistas na medida que não lamenta a perda da aura, mas a exalta

A revolução das forças produtivas não se dá unicamente no interior das fábricas, ela penetra na esfera da produção artística, revolucionando a forma, o conteúdo e o conceito de obra de arte

 
Habermas cita Benjamin: “existe uma esfera de compreensão recíproca entre os homens, livre de violência, na medida que é completamente inacessível a ela: a esfera autêntica do entendimento mútuo, a linguagem”.
Benjamin é visto por Habermas como mais moderno, enquanto Adorno é visto como saudosista
Habermas: A esfera da arte funciona como um termômetro da modernidade. Aqui se exprimem com mais rapidez as patologias da modernidade
Mas é a esfera que se preserva com maior perseverança o ideal emancipatório, libertador, sonhado pela ilustração

 A Teoria da Modernidade de Habermas procura explicar os processos históricos ocorridos nos últimos três séculos e de diagnosticar  as estruturas e patologias das sociedades contemporâneas
Exame crítico de outras teorias da modernidade (sociológicas, filosóficas e estéticas). Habermas aponta as falas, lacunas ou distorções de tais teorias
Umas super-dimensionam um entre muitos aspectos (Weber), outras generalizam um aspecto isolado para o todo societário como foi o caso de Foucault

 
A Teoria da Ação Comunicativa também pretende ser uma teoria normativa que analisa, crítica, julga as aquisições da modernidade história segundo um modelo de modernidade, formulado como “projeto”, no início da modernização
O conceito normativo busca superar  as patologias da modernidade
Sugere reacoplar o mundo vivido ao mudo sistêmico, tendo prioridade o primeiro

 A fixação de objetivos políticos, a organização da economia devem, em última instância, respeitar a vontade geral formada e validada nas instituições do cotidiano do mundo vivido
É importante impedir que o sistema, enquanto tal “colonize”          com sua lógica específica os espaços do mundo vivido. É preciso respeitar os limites
Confirma a prioridade da razão comunicativa
Lutar pacificamente, argumentativamente em todos os níveis e todos os campos pela realização dos valores embutidos na ética comunicativa.

História do rádio, do cinema e da TV.


Como já sabemos, a imprensa foi efetivamente a primeira forma de comunicação mais ampla
Mas, é com o rádio que surge o campo que chamaremos de Comunicação de Massa
Nomes destacados da descoberta do rádio: Heinrich Hertz; James Clerk Maxwell; Oliver Lodge; Guglielmo Marconi

 
telegrafo constitui a primeira infraestrutura da comunicação
Seu surgimento está relacionado com a revolução da eletricidade e com as ferrovias
Desde a década de 30 do século XIX
Primeiro cabo transatlântico é de 1858
Teoria do eletromagnetismo
André-Marie Ampere, Clerk Maxwell
Samuel Morse desenvolve o código e em 1838 patenteou seu invento em Paris

 
Em 1876 Alexander Graham Bell patenteou seu telefone
Além de inventor do aparelho ele foi um dos promotores da constituição de uma rede de telefonia
Durante um bom tempo o telefone foi visto como veículo de entretenimento
Durante décadas era necessário chamar primeiro a telefonista para que completasse a ligação

 
A história inicial da radiotelegrafia tem mais a ver com a telegrafia do que com o telefone
Marconi mostra em 1896 seu equipamento – Londres
Um desenvolvimento militar
Era um telegrafo sem fios
Poder ser captado por qualquer um foi considerada uma desvantagem
Marconi não via o rádio como um meio de grande difusão

 
Mas, o marco de seu papel foi quando ele entrou nos lares
Foram diversos experimentos militares, sociais
Através dos concertos, a música chegou ao rádio
Em dado momento pensou-se na audiência do rádio feita em salões

 
Ao entrar no lar, diversificou sua programação
A dispersão, antes desvantajosa, virou sua virtude
Introdução da publicidade
Rádios – a experiência de propriedade variou de país para país

 
BBC de Londres
EUA –iniciativa privada – no final de 1922, 572 licenças
Em 1925, 5,5 milhões de aparelhos nos EUA
O experimento deu lugar para redes poderosas
A publicidade assumiu a dinâmica financeira
Não sem crítica
Mas, logo a publicidade no rádio se expandiu

 
Os veículos de comunicação de massa são produtos de uma necessidade do desenvolvimento social em geral, e do capitalismo em particular
Assim como estradas, navios e ferrovias – aproximar o distante
O surgimento da televisão e do cinema é fruto da evolução da fotografia e do rádio

 
Em 1802 já existiam experimentos fotográficos, mas só em 1829 surgem as primeiras imagens fotográficas precisas – os daguerreótipos – (Louis Daguerre) Londres
Em 1839 – Fox Talbot – calotipos
Somente em 1861 – foto em 3 cores
Os daguerreótipos viraram mania – a foto como arte

 
Em 1870 – mudança de base tecnológica – placas de gelatina seca
Em 1888 – surge a Kodak –George Eastman cem imagens
Começou como algo restrito, mas o objetivo rapidamente foi o de consumo de milhões
A fotografia dominada passou-se a buscar a possibilidade de movimento

 
O primeiro a realizar uma apresentação de fotos que simulavam movimento foi Eadwearde Muybridge, em 1872
Os nomes eram estranhos: zootrope, phenakisticope, kaamatografia
Em 1894, Edison colocou a venda sua patente de um aparelho que permitia ver um pequeno filme individualmente
Em 1895 – Louis Lumière apresentou seu cinematógrafo para uma platéia – nascia o cinema
 
A França dominou a produção inicialmente
Mas, EUA e Inglaterra também produziam
Hollywood – inaugurada em 1903
Charles Chaplin – londrino, artista de variedades brilhou em Hollywood
 
Não só houve uma expansão da produção como uma especialização dos locais de projeção – chamados de “palácios dos sonhos”
Em Liverpool, 40% das pessoas ia ao cinema ao menos uma vez por semana ao cinema em 1932
Da iniciativa de descobridores o cinema passou rapidamente para a mão de grandes corporações
 
Clássicos deste período: O nascimento de uma nação (1915); Tempos modernos (1936); Metrópolis (1927)
O formato era universal: Sergei Eisenstein, Akira Kurasawa, Ingmar Bergman
Adolf Zukor – Um grande nome do empreendimento cinematográfico
Em 1927 – O cantor de jazz – primeiro filme falado – antes, músicos se apresentavam
 
A televisão é filha deste processo todo
Em 1908, Campbell Swinton apresenta uma tecnologia que buscava a televisão, apesar de assim não ser chamada
O russo Boris Rosing, em 1907, também já desenvolvia uma técnica visando criar a televisão
Será um discípulo seu, Vladimir Zworykin, que patenteará em 1932 a televisão com sistema elétrico
 
Foi a década de 30 do século passado o período de desenvolvimento comercial da tv na Europa
O nome foi se firmando como Tele - visão
De início só programas ao vivo
No Brasil, em 1950
 - primeiro
primeiras cenas
 
 televisão

A história da prensa.

China e Japão  - impressão praticada há muito tempo
Os coreanos inventaram antes algo idêntico
Data aproximada da invenção : 1450 - Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg
A impressão gráfica espalhou-se rapidamente pela Europa
Em 1500, cerca de 13 milhões de livros
A revolução da prensa não foi um fator independente
Precisava de condições sociais e culturais favoráveis para se disseminar
Alguns relacionavam a ausência da imprensa com o despotismo
Trio imprensa-pólvora-bússola
Escrita e imprensa como marcos do progresso da mente humana
Explosão de informação naquele período

 
Na idade média o problema era a escassez
A existência de mais livros do que era possível ler durante uma vida
Efeitos da publicação – tornar o conhecimento acessível a um público maior
Permitiu às novas gerações compartilhar do trabalho intelectual das anteriores
As brochuras ilustradas
O material impresso tornou-se parte importante da cultura popular no século XVII
Duas conseqüências apontadas por Elisabeth Eisenstein: padronização e preservação do conhecimento; crítica à autoridade

 
O papel do novo meio foi gradual
Foi um catalisador, ajudando as mudança e não as originando
Ver a mídia como um todo
A nova e a velha mídia coexistem
A comunicação foi parte de um sistema de comunicação física
A questão do fluxo de informação
Só com o telegrafo foi quebrada a relação de comunicação com transporte

 
A invenção do jornal não alterou fundamental mente a natureza de cultura oral da Europa
O púlpito como meio de comunicação
O sermão como instrução religiosa
Também a cultura acadêmica era oral
O canto era outro domínio da oralidade
Os boatos eram tidos como serviço postal oral
A arte de conversação foi cultivada com particular intensidade
Tabernas, banhos públicos e cafés

 
Letramento mediado – escritor público
Cresce o número de pessoas ocupadas com a escrita
Antes da prensa, a escrita era predominantemente em latim e a oral no dialeto local
Os documentos e as aulas eram em Latim
Crescimento da imagem imprensa, a estampa
A primeira xilogravura data do século XIV

 
Xilogravura é a técnica de gravura na qual se utiliza madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte. É um processo muito parecido com um carimbo.É uma técnica em que se entalha na madeira, fazendo a matriz. Usa-se um rolo de borracha embebida em tinta, tocando só as partes elevadas do entalhe. O final do processo é a impressão em alto relevo em papel ou pano.

O crescimento a figura impressa foi a mudança mais profunda da comunicação visual daquele tempo
Algumas pinturas eram reproduzidas como xilogravura
Nas pesquisas, a imagem impressa tem papel igual ao do texto
Os mapas foram impulsionadores da técnica
O Primeiro atlas foi publicado em 1570
Outra novidade foi a narrativa em tiras, o ancestral dos quadrinhos
Comunicação multimídia – combinação de mensagens verbais e não verbais, musicais e visuais
A literatura impressa e acessível incomodava alguns

 
A censura foi muito presente neste período
O teatro era a principal vítima
O Índex da igreja apontava os livros proibidos
Surgiram muitas publicações clandestinas para driblar a censura
O mercado de impressos cresceu com velocidade
A interação do oral e do impresso pode ser identificada nos livros populares

 
As classes mais abastadas liam em privacidade e os trabalhadores em voz alta
A impressão gráfica facilitou o acumulo de conhecimento, questionou o conceito de conhecimento e instituiu o que chamamos de literatura
Confiáveis ou não, impressos passaram a fazer parte da rotina
O jornalismo passou a ser um documento do efêmero
Os jornais contribuíram para o aparecimento da Opinião Pública

 
A questão dos direitos autorais surge em função do plágio
Na Inglaterra em 1709 é adotada a lei do direito autoral
Internacionalmente foi definida na Convenção de Berna, em 1887
Os centros comerciais de livros dominantes
Veneza, séc. XVI; Amsterdã, séc. XVII e Londres, séc. XVIII

Breve histórico do ciberespaço.

O ciberespaço é uma nova dimensão  que emerge com a digitalização do simbólico e sua circulação através da rede mundial de computadores e de outros mecanismos tecnológicos que vão interagindo com as dimensões preexistentes e gerando novas lógicas e formas de relação cultural
sistema de comunicação global/universal que una computadores e pessoas numa relação simbiótica e cresça exponencialmente por comunicação interativa
 
Duplo impulso: simulação da atividade mental e desenvolvimento da comunicação
Impulsos paralelos que vão convergindo
computador – prótese técnica para facilitar o trabalho humano
Inicialmente gigante e ligado às corporações
Operações mais complexas, mais velocidade, menor  tamanho e custo
 
Em paralelo se desenvolviam instrumentos de comunicação
Do encontro destes dois impulsos nasce o ciberespaço
O computador rompe o isolamento e “fala” com os outros computadores através de protocolos
Máquina de pensar e máquina de comunicar
 
Outro elemento decisivo: a digitalização
Ela está na base de toda a capacidade de processamento de informação pela máquina
Todo o acervo simbólico constituído pode ser reduzido a zero e um
O digital é a linguagem
 
ARPANET – 1969
Pesquisa em computação interativa
Ambiente da guerra fria
Por isso muitos afirmam que a inspiração da rede mundial foi militar inicialmente
 
As novas tecnologias têm um profundo papel democratizador
Democratiza a possibilidade de publicizar
Democratiza a possibilidade de produzir
Democratiza a possibilidade de consumir
Profundo impacto no padrão de financiamento da Indústria cultural
 
Criador da web – Tim Bernes-Lee, no Laboratório Europeu para a Física das Partículas
Programa navegador/editor
Para o uso da sociedade em geral a internet  “nasce” em 1995
Distribuição diferenciada pelas regiões do globo e com grande hegemonia norte-americana
 
Produtos culturais tangíveis e intangíveis
O próprio consumo é mais ativo
As práticas culturais anteriores permanecem, mas se alteram
Arquitetura em disputa
 
A cultura da Internet
Os sistemas tecnológicos são socialmente produzidos.
A produção social é estruturada culturalmente
A Internet não é exceção
Cultura da Internet é a cultura dos criadores da Internet
Cultura aqui entendida como um conjunto de valores e crenças que formam o comportamento
 
A cultura é uma construção coletiva que transcende preferências individuais
Cultura da Internet em quatro camadas: cultura tecnomeritocrática; cultura hacker, cultura comunitária virtual e a cultura empresarial.
Estas camadas estão hierarquicamente dispostas
Uma questão importante – o código fonte aberto
 
Tecnoelites
A abertura do software é culturalmente determinada
Esta abertura é determinada pela cultura tecnomeritocrática
Trata-se da crença no bem inerente ao desenvolvimento cientifico e tecnológico como elemento decisivo no progresso da humanidade
Continuidade do iluminismo e da Modernidade
Mérito reconhecido pela comunidade científica
A missão: construir um sistema de comunicação global/universal que uma computadores e pessoas numa relação simbiótica e cresça exponencialmente por comunicação interativa
 
Hackers
O termo é controverso
Não são uns irresponsáveis viciados em computador que desejam quebrar os códigos
Estes são os Crakers
“peritos em programação e bruxos da interconexão”
Castells – valores e crenças que emergiram  das redes de programadores – programação criativa
 
A Internet foi criação da cultura tecnomeritocrática, mas depois se desenvolveu através da ação da cultura hacker
Software livre – Só uma rede de centenas, milhares de cérebros trabalhando cooperativamente, com divisão de trabalho espontânea, e coordenação maleável, mas eficiente, poderia lidar com a complexidade de computadores cada vez mais potentes interagindo pela internet
 
Comunidades virtuais
As fontes culturais da Internet não podem ser reduzidas aos valores dos inovadores tecnológicos
Os primeiros usuários criaram comunidades virtuais
Milhões de usuários levaram para a net suas inovações sociais com um conhecimento técnico limitado
Várias iniciativas renovaram ou fomentaram  a participação de cidadãos
 
A cultura comunitária moldou as formas sociais, processos e usos da Internet
Não há “uma” cultura comunitárias, mas uma extrema diversidade de comunidades virtuais
Os usuários adaptam as tecnologias para satisfazer seus interesses e desejos
Movimentos sociais de todos os tipos aproveitam a Internet para divulgarem seus objetivos e opiniões
 
Empresários
A dimensão comercial da Internet também chama a atenção
Internet como força propulsora da chamada nova economia
Ponto-chave: ganham dinheiro com idéias
Quando fracassavam podiam voltar para as garagens
Transforma a capacidade de imaginar novos processos e produtos em projetos comerciais adaptados ao mundo da Internet
 
Transformar poder mental em dinheiro tornou-se a pedra angular da cultura empresarial do Vale do Silício
A estratégia de buscar dinheiro e velocidade
Nesse processo a relação entre capital e inovação é internalizada
A cultura empresarial é acima de tudo a cultura do dinheiro
Quebra de hábitos associados ao mundo corporativo tradicional
 
Características da web
Interatividade
O leitor torna-se mais ativo e participante
Além de interagir ele pode produzir e distribuir informação
Ele sente-se participante do processo comunicativo
Troca entre produtor e leitores
Interatividade através do hipertexto
Passamos a ter uma comunicação que convida as pessoas ao ativismo e à troca
 
Hipertextualidade
Interconexão de textos através de links
A partir do texto noticioso ofertar links para outros textos, fotos, vídeos, áudios, animações, grafismos, etc.
Pode-se oferecer links internos e produzidos pelo no âmbito do mesmo site ou externos, de outros sites
A leitura deixou de ser linear, tendo oferta de profundidade e multimídia
 
Personificação
Também denominada de individualização ou costumização – consiste em oferecer ao usuário a opção de configurar e receber informações pré-selecionadas por vetores temáticos, sites, recortes diversos.
O usuário atua como editor e hierarquiza as informações de acordo com seus interesses
É possível definir o que e como ver na Internet
 
Multimidialidade/convergência
Todos os formatos convergiram para o ciberespaço
Todos têm como base a digitalização
Além de texto, a oferta de informação pode conter: slideshow com áudio, infográficos animados, galeria de imagens, vídeos, áudios, etc.
Todos os formatos do simbólico disponíveis
 
Memória
Na web a acumulação de informação é viável e natural
A memória torna-se coletiva e disponível
O leitor pode acessar todo o acúmulo disponível de forma a acompanhar o desenrolar de fatos e processos
A oferta cresce exponencialmente
Constituí um grande depositário de toda a produção simbólica
 
Atualização contínua
A web é uma mídia de fluxo contínuo
Ela é atualizada permanentemente
Não há delimitação de temporalidade
A informação pode comparecer parcialmente e conforme a apuração seguir sendo desenvolvida
As últimas notícias são os destaques dos sites
Fazer circular as notícias mais recentes e importantes
 
Imersão
Metáfora derivada da experiência de estar submerso na água
A sensação de estar envolvido numa realidade completamente estranha
A imersão do leitor é uma condução que o tira da realidade circundante e o remete para uma nova dimensão
O mundo ao redor deixa de existir...
 
Conteúdo dinâmico
Engloba todas as características descritas anteriormente e dá a devida noção de que a web é constante movimentação de conteúdos
A idéia de conteúdo estático é substituída pela visão processual e de dinâmica constante
Os fluxos se renovam a todo instante
 
A sociedade em rede: do conhecimento à política
A mudança estrutural por que passamos é um processo multidimensional, mas está associado  à emergência de um novo paradigma tecnológico
A sociedade é que dá forma à tecnologia de acordo com as necessidades
A tecnologia é condição necessária mas não suficiente para uma nova forma de organização social baseada em redes
 
Uma sociedade em rede resulta da intersecção entre o paradigma da nova tecnologia e a organização social num plano geral
Sociedade da informação ou do conhecimento – não há concordância
Eles sempre foram fundamentais em todas as sociedades conhecidas
Em termos históricos, as redes  eram do domínio da vida privada, enquanto o mundo da produção, do poder  e da guerra estava ocupado por organizações grandes  verticais
 
As redes de comunicação digital são a coluna vertebral da sociedade em rede
A sociedade em rede transcende fronteiras, é global
Aquilo que chamamos globalização é um outro modo de chamarmos sociedade em rede
Ela excluí uma grande parte da humanidade, embora toda a humanidade seja afetada pela sua lógica
Há fenômenos contraditórios
Buscar reconhecer os contornos do novo terreno histórico
Precisamos conhecer a dinâmica, os constrangimentos e as possibilidades desta nova estrutura social
 
Não é uma promessa, já configura o núcleo de nossa sociedade
É uma pena que muitos continuem a falar em termos de futuro, sendo que já opera centralmente
Para os intelectuais tradicionais: as novas tecnologias destroem empregos,a Internet isola, nós sofremos de excesso de informação, a infoexclusão aumenta a exclusão social, o Big Brother aumenta a sua vigilância graças a tecnologias digitais mais potentes, o desenvolvimento tecnológico é controlado pelos militares, o tempo das nossas vidas é persistentemente acelerado pela tecnologia, a biotecnologia leva à clonagem humana e aos maiores desastres ambientais, etc
 
Outros pensam o oposto, e entraremos no paraíso da realização e da criatividade plena do ser humano, induzidas pelas maravilhas da tecnologia, na versão em espelho da mesma mitologia, desta vez propagada por consultores e futurologistas, muitas vezes em representação de um dado papel para empresas de tecnologia
A sociedade em rede é uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicação e informação fundamentadas na microeletrônica e em redes digitais de computadores que geram, processam e distribuem informação a partir de conhecimento acumulado nos nós dessas redes
As redes são estruturas abertas que evoluem acrescentando ou removendo nós de acordo com as mudanças necessárias dos programas que conseguem atingir os objetivos de performance para a rede
É uma nova e eficiente forma de organização da produção, distribuição e gestão, que está na base do aumento substancial da taxa de crescimento da produtividade
o aumento da produtividade é o indicador empírico mais direto da transformação de uma estrutura produtiva
Tês processos: todos eles condições necessárias para que o crescimento da produtividade aconteça:
geração e difusão de novas tecnologias microeletrônicas/digitais de comunicação e informação, com base em investigação científica e inovação tecnológica;
transformação do trabalho, com o crescimento de trabalho altamente qualificado, autônomo, capaz de inovar e de se adaptar a mudanças globais constantes e à economia local; difusão de uma nova forma de organização em torno de redes randes empresas que se descentralizam a si próprias enquanto redes de unidades semi-autônomas; pequenas e médias empresas que formam redes de negócios
uma vez que a acumulação de capital acontece realmente no mercado financeiro global, a empresa é simplesmente o nó de ligação entre as redes de produção construídas à volta de projetos de negócio e de redes de acumulação organizadas em torno das finanças globais
 A noção de uma carreira profissional estável, previsível entrou em erosão, na medida em que as relações entre capital e trabalho foram individualizadas e as relações contratuais do segundo escapam à negociação coletiva
 
Novo sistema de comunicação – tendências
A comunicação é em grande medida organizada em torno dos negócios de media aglomerados que são globais e locais simultaneamente, e que incluem a televisão, a rádio, a imprensa escrita, a produção audiovisual, a publicação editorial, a indústria discográfica e a distribuição, e as empresas comerciais on-line. A comunicação é simultaneamente global e local, genérica e especializada, dependente de mercados e de produtos
O sistema de comunicação está cada vez mais digitalizado e gradualmente mais interativo. As sociedades têm vindo a movimentar-se de um sistema de mass media para um sistema multimídia especializado e fragmentado, em que as audiências são cada vez mais segmentadas. Como o sistema é diversificado e flexível, é cada vez mais inclusivo de todas as mensagens enviadas na sociedade
 
Dá-se uma explosão de redes horizontais de comunicação, bastante independentes do negócio dos media e dos governos, o que permite a emergência daquilo a que chamei comunicação de massa auto-comandada. A explosão de blogues, vlogues (vídeo-blogues), podding, streaming e outras formas de interatividade. A comunicação entre computadores criou um novo sistema de redes de comunicação global e horizontal que, pela primeira vez na história, permite que as pessoas comuniquem umas com as outras sem utilizar os canais criados pelas instituições da sociedade para a comunicação socializante
comunicação socializante para lá do sistema de mass media que caracterizava a sociedade industrial. Mas não representa o mundo de liberdade entoada pelos profetas da ideologia libertária da Internet
 
Uma vez que a política é largamente dependente do espaço público da comunicação em sociedade, o processo político é transformado em função da condições da cultura da virtualidade real. As opiniões políticas e o comportamento político são formados no espaço da comunicação
A teoria da audiência interativa, apoiada por investigações em várias culturas, determinou que os receptores de mensagens processam essas mensagens nos seus próprios termos
 
Tudo e todos os que estão ausentes deste espaço não podem chegar às mentes do público, pelo que se tornam uma não entidade. A presença nos media é essencial para construir uma hegemonia política ou uma contra-hegemonia — e não somente durante as campanhas eleitorais.
Os media tradicionais, e particularmente a televisão, ainda dominam o espaço mediático, apesar das rápidas mudanças
A competição política é construída em torno dos líderes políticos. Poucas pessoas conhecem realmente os programas dos partidos políticos. E os programas são construídos a partir das sondagens da opinião pública
 
O assassínio de caráter (o denegrir da imagem de alguém) tornou-se uma possibilidade entre as armas políticas. Mensagens negativas são normalmente mais eficazes do que as mensagens positivas
Políticos mediáticos e políticos de imagem levam ao escândalo político, o tipo de política à frente do processo político praticamente em todo o mundo
Está comprometido num processo de governança global mas sem um governo global. As razões para a não existência de um governo global, que muito provavelmente não existirá num futuro previsível, estão enraizadas na inércia histórica das instituições
 
Os estados-nação estão a encontrar formas de fazer a gestão conjunta do processo global que afeta a maior parte dos assuntos relacionados com a prática governativa
A governança é realizada numa rede, de instituições políticas que partilham a soberania em vários graus, que se reconfigura a si própria numa geometria geopolítica variável. Denominei isto como conceito de Estado em rede

FREI CARLOS MESTERS: Questões Bíblicas sobre Jesus.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A Missa da libertação: Francisco e Gustavo Gutiérrez.

A história começa no dia 22 de julho de 1968, na costa do Pacífico, em Chimbote, uma cidade de pescadores no norte do Peru, e encontra uma espécie de cumprimento em Roma, na quarta-feira, 11 setembro, 2013, na Domus Sanctae Martae, onde o papa, que renunciou ao Apartamento apostólico, se hospeda. A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no caderno La Lettura, do jornal Corriere della Sera, 22-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

No hotel vaticano, há a capela em que Francisco celebra todas as manhãs uma missa aberta a vários grupos de pessoas. Só no domingo e na quarta-feira é em forma privada. Naquela manhã, porém, há um convidado especial do pontífice, um frei dominicano de traços que revelam a sua origem quechua, a antiga população nativa que preserva a língua dos incas.

É um homem de porte pequeno e embranquecido pelos anos, mas nos olhos brilha o olhar do jovem teólogo peruano que, naquela cidade portuária, há 45 anos, havia sido convidado para dar uma conferência sobre a "teologia do desenvolvimento". A Gustavo Gutiérrez, então com nem 40 anos, o tema não agradava: ele falou aos catequistas de "teologia da libertação".

Três anos mais tarde, publicou em Lima um livro que se intitulava assim, Teología de la liberación, o texto que batizaria a corrente teológica mais discutida no fim do século XX.

E agora ei-los aqui, o pai da teologia da libertação e o papa. Do Vaticano, vazou a confirmação da ''audiência privada", mas a concelebração da missa é algo mais. Décadas de tensões, contrastes com a alma mais conservadora da Igreja, obras sob processo pela Congregação para a Doutrina da Fé, o ex-Santo Ofício (mas Gutiérrez nunca foi condenado).

Não que isso tenha acontecido de improviso. Quem anunciou o encontro, aliás, poucos dias antes, foi o arcebispo Gerhard Ludwig Müller, o prefeito do dicastério chefiado por Joseph Ratzinger durante 23 anos. Müller falava no Festivaletteratura de Mântua e, ao seu lado, o amigo e mestre Gutiérrez: eles apresentavam juntos o livro Dalla parte dei poveri [Do lado dos pobres] (Edizioni Messaggero de Pádua-Emi), a edição italiana de um livro a quatro mãos publicado na Alemanha em 2004.

Eis: justamente o sucessor de Ratzinger no ex-Santo Ofício é a figura-chave para compreender o que aconteceu nos últimos anos. Nascido em Mainz-Finthen e filho de um operário, Müller é um teólogo do altíssimo perfil, por 16 anos professor da Universidade Ludwig-Maximilian de Munique. O próprio Bento XVI tinha desejado que justamente ele, o aluno de Gutiérrez, fosse o editor da sua opera omnia em 16 volumes (Joseph Ratzinger, Gesammelte Schriften), que é publicada na Alemanha.

Ficou claro que algo estava se movendo quando ele ainda era bispo de Regensburg, e o L'Osservatore Romano, no dia 23 de dezembro de 2011, publicou um artigo seu que agitou a parte mais conservadora da Cúria: Müller comentava dois textos escritos nos anos 1980 por Ratzinger sobre a teologia da libertação, para explicar como o então prefeito do ex-Santo Ofício não a havia condenado em si mesma, mas sim nos seus desvios (Müller escrevia sobre "teologias" da libertação) que "perderam de vista o sobrenatural" para se tornarem "somente uma superestrutura de um projeto marxista" e "revolucionário". Desse modo, escrevia o bispo, Ratzinger "prepara o caminho para uma verdadeira teologia da libertação que está ligada à doutrina social da Igreja e que, justamente hoje, deve levantar a sua voz". Esse artigo no jornal da Santa Sé era a premissa do golpe de cena, com tantas saudações a quem, em voz baixa, questionou a sua "ortodoxia".

Pouco tempo depois, e justamente Ratzinger, que como "guardião da fé" colocou na linha vários teólogos da libertação e que Leonardo Boff descrevia como o mais temível dos inquisidores ("Eu tive que me sentar na cadeira onde haviam se sentado Galileu Galilei e Giordano Bruno!"), justamente ele nomeou Müller, no dia 2 de julho de 2012, à cúpula do ex-Santo Ofício. Para dizer a estima que os une, Ratzinger deixou a ele o seu apartamento de cardeal, em Borgo Pio, com parte dos amadíssimos livros.

A última passagem é o conclave, com a eleição de Jorge Mario Bergoglio, o cardeal que andava de ônibus e, à noite, visitava incógnito a favela Villa 21 de Buenos Aires, o bispo de Roma que escolheu se chamar Francisco ("Lembre-se dos pobres!", lhe disse na Capela Sistina o cardeal franciscano Cláudio Hummes, seu grande amigo) e, recém-eleito, declarou que queria "uma Igreja pobre e para os pobres".

Na formação do papa jesuíta, a "teologia do povo" argentina tem uma parte importante, cuja relação com a teologia da libertação é objeto de discussões taxonômicas entre os especialistas. Mas o padre Juan Carlos Scannone, máximo teólogo argentino, além de aluno de Karl Rahner, outro jesuíta, explicou ao jornal Corriere: "Muitos consideram a teologia argentina do povo como uma corrente da teologia da libertação com características próprias, assim como Gutiérrez. Eu mesmo já defendi isso em um artigo de 1982, retomado por Dom Quarracino" (Nota da IHU On-Line: cardeal argentino, foi arcebispo de Buenos Aires)

Palavras importantes, até porque o padre Scannone, 81 anos, foi professor de grego e de literatura do jovem Bergoglio no seminário da Companhia de Jesus em Buenos Aires e desde então permaneceu como um ponto de referência no pensamento do ex-aluno. O padre Scannone lembra que, em 1984, foi o arcebispo Antonio Quarracino, antecessor e mentor de Bergoglio em Buenos Aires, que explicou "por que a Instrução da Congregação para a Doutrina da Fé falava no plural de 'teologias' da libertação: não criticava todas elas, criticava aquelas que usavam a análise marxista da sociedade e da história". A "teologia do povo", em suma, "não usa a análise social marxista, mas sim uma análise histórico-cultural, sem ignorar o socioestrutural". Também por isso "outros a distinguem da teologia da libertação".

Em todo caso, "todas as correntes assumem a 'opção preferencial pelos pobres' das conferências do episcopado latino-americano de Medellín e Puebla", a mesma "reiterada por Bento XVI no discurso inaugural de Aparecida e pela própria conferência": a da qual o cardeal Bergoglio escreveu as conclusões.

Assim, o livro de Müller e Gutiérrez tem um subtítulo significativo: "Teologia da libertação, teologia da Igreja". Quando foi publicado, o L'Osservatore Romano lhe dedicou as duas páginas centrais. O artigo do padre Ugo Sartorio começa assim: "Com um papa latino-americano, a teologia da libertação não podia permanecer por muito tempo no cone de sombra a que foi relegada há alguns anos, ao menos na Europa...".

No livro, Müller escreve: "A teologia da libertação não morrerá enquanto houver homens que se deixem contagiar pelo agir libertador de Deus e fizerem da solidariedade para com os sofredores, cuja humanidade é pisoteada, a medida da sua fé e a motivação do seu agir na sociedade". E fala do "mal-entendido que une simpatizantes e adversários", a ideia de uma teologia que se concentra na "dimensão social e política" e perde de vista "a relação entre homem e Deus". Mas Jesus disse, lembra Müller: "Tudo o que vocês fizeram a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram". O capítulo 25 de Mateus que Francisco, juntamente com as Bem-Aventuranças, indicava como "plano de ação" aos jovens do Rio: "Ali está tudo".

Certamente, haverá aprofundamentos e não faltarão resistências. O cardeal peruano Juan Luis Cipriani, membro do Opus Dei e adversário histórico de Gutiérrez, há poucos dias definiu Müller como "um bom alemão, um bom teólogo, um pouco ingênuo", repetindo seco: "A teologia da libertação causou danos à Igreja".

Mas a audiência e a missa em Santa Marta são a imagem de uma nova temporada. No dia do encontro com Francisco, o L'Osservatore voltava a celebrar Gutiérrez com uma entrevista. "O que eu vou dizer a Francisco? Obrigado pelo seu testemunho".

O dominicano citava ironicamente uma piada do arcebispo brasileiro Hélder Câmara: "Quando dou um pão a uma pessoa com fome, dizem que eu sou um santo. Quando eu pergunto por que essa pessoa tem fome, dizem que eu sou um comunista".