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sábado, 8 de setembro de 2012
HOJE, DIA 08, NATIVIDADE DE NOSSA SENHORA.
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Artigos do Frei Petrônio de Miranda
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sexta-feira, 7 de setembro de 2012
CNBB: FÉ E POLÍTICA.
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Artigos do Frei Petrônio de Miranda
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18:40
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A VIDA COMUNITÁRIA NO CARMELO TERESIANO
Salvador
Ros García
Se perguntássemos a santa Teresa que experiência ela teve de vida comunitária, e como esta influenciou em sua vida espiritual, ela começaria, com quase certeza, respondendo-nos que não teve mestres, nem formadores, nem amigos que nela introduzissem: “Eu não encontrei mestre - digo confessor que me entendesse -, embora procurasse durante vinte anos, depois do que estou a dizer. Isto fez-me muito dano e voltar muitas vezes atrás e até de todo me perder” (V 4,7). “Creio que se tivesse tido mestre ou pessoa que me avisasse para fugir das ocasiões...” (V 4,9). “Todo mal estava em não poder eu furtar-me de todas as ocasiões e nos confessores que ajudavam pouco (V 6,4). “Grande mal é ver-se sozinha uma alma entre tantos perigos (...) Porque para cair tinha muitos amigos que me ajudassem; mas para levantar-me via-me tão só que agora me espanto ao ver que nem sempre estava por terra, e louvo a misericórdia de Deus, pois só ele me estendia a mão” (V 7, 20-22).
Conclusão
2-Quais os valores básicos para uma comunidade, segundo Santa Teresa?
3-Quales son las dificultades reales que tenemos para vivir estos valores?
4-Quais são as dificuldades reais que temos para vivermos estes valores?
5- Como S. Teresa viveria hoy con nosotros la vida comunitária-fraterna, como base también de toda misión ?
6-Como Santa Teresa viveria conosco hoje a vida comunitária-fraterna, como base também de toda missão?
Bibliografia
- A. RUIZ, Un estilo de hermandad, Burgos 1981; E. RENAULT, «Genèse
et évolution de l.esprit apostolique chez Thérèse d.Avila», en Revue
d.Histoire de la Spiritualité 53 (1977) 95-116.
Se perguntássemos a santa Teresa que experiência ela teve de vida comunitária, e como esta influenciou em sua vida espiritual, ela começaria, com quase certeza, respondendo-nos que não teve mestres, nem formadores, nem amigos que nela introduzissem: “Eu não encontrei mestre - digo confessor que me entendesse -, embora procurasse durante vinte anos, depois do que estou a dizer. Isto fez-me muito dano e voltar muitas vezes atrás e até de todo me perder” (V 4,7). “Creio que se tivesse tido mestre ou pessoa que me avisasse para fugir das ocasiões...” (V 4,9). “Todo mal estava em não poder eu furtar-me de todas as ocasiões e nos confessores que ajudavam pouco (V 6,4). “Grande mal é ver-se sozinha uma alma entre tantos perigos (...) Porque para cair tinha muitos amigos que me ajudassem; mas para levantar-me via-me tão só que agora me espanto ao ver que nem sempre estava por terra, e louvo a misericórdia de Deus, pois só ele me estendia a mão” (V 7, 20-22).
Como se
vê, a lembrança da falta de um orientador é uma constante, semelhante a uma
fibra solta e dolorida que pulsa no interior do seu relato biográfico. Essa
carência foi real: se observarmos o resumo que ela própria faz de seu noviciado
e da comunidade da Encarnação, nos damos conta que não menciona, em nenhum
momento, o nome de uma mestra ou de uma
priora que lhe tenha marcado significadamente. Somente recorda-se de uma amiga
passageira e ninguém mais (cf. V 3,2; 4,1): nem os amigos que a acompanharam,
nem sequer um sacerdote dentre os mais de 15 confessores que frequentaram o
Mosteiro da Encarnação e que a ajudaram. Isso durou quase 20 anos (dos 20 aos
39 de idade) até que, por fim, aparece alguem disposto a estender-lhe a mão. É
Francisco de Salcedo, um leigo, ao que chama “o cavaleiro santo”, e de quem exclama
emocionada e agradecida: “que grande coisa é entender uma alma”
Apesar
disso, o panorama não foi tão obscuro como parece. Ela mesma revela, em seguida,
uma confidência surpreendente: “uma coisa posso dizer com verdade: Sua
majestade (Deus) foi sempre meu mestre. Seja Ele bendito! Muita confusão é para
mim poder dizer isto com verdade” (V 12,6). Disse isso em meio ao que é mais
amargoso do relato da sua experiência de solidão e carência, em um constraste
tão chamativo que se torna intencional, justamente para acentuar ainda mais
este segundo plano que é a fonte de seu carisma e de seu magistério.
1. A experiência na encarnação
(1535-1562)
Quando,
na madrugada de 02 de novembro de 1535, Teresa saiu da casa paterna para ser
monja no Convento da Encarnação, “onde estava aquela minha amiga” (V 4,1), tal
convento se encontrava em livre expansão demográfica, num processo de
crescimento de mais de 30 professas em 1536, de 65 em 1545, de mais de 150 em
1562, até chegar inclusive a 180[1].
Contrariamente, as rendas comuns estavam em diminuição e eram mal
administradas, tornando-se insuficientes para satisfazer a necessidade daquele
mundo heterogênio e crescente. Como consequência, o mosteiro oferecia um
espetáculo chocante: de um lado as monjas pobres, do refeitório e dormitório
comum, que passavam fome, e de outro, as senhoras privilegiadas, que dispunham
de recursos próprios e que viviam magnificamente em suas celas de aluguel
vitalício, com capacidade para manter criadas, talvez alguma escrava, alojar
parentes e com um estilo de vida exatamente igual ao secular[2].
Diante
de tal situação de pobreza comunitária, em contraste com a riqueza individual
de algumas, uma alternativa encontrada era a de amenizar a superpopulação do
mosteiro através de saídas frequentes, às vezes de longa duração, motivada por
aparente mendicância, por imperativos de gratidão ou expectativas de ajuda que
não sempre se cumpriam. Isto era possível porque no Convento da Encarnação “não
se prometia clausura” (V 4,5). Consequentemente, a dependência afetiva
gravitava mais em torno da vida extra-conventual, o que tornava impossível a
vida comunitária intra-conventual. De fato, as próprias constituições do
mosteiro manifestam também estas mesmas carências, comuns à mentalidade da
época: não se tinha em conta o número de monjas nem os critérios de idoneidade
para a vida comum; a oração mental não se apresentava como ato da comunidade;
não existia a recreação comunitária nem se prescreviam outros encontros para o
diálogo fraterno[3].
Obrigada
ou de boa vontade, Teresa se viu envolvida nesse ambiente e viveu esta
realidade: passou longos momentos no locutório a falar com algum cavaleiro da
aristocracia local (V 7,7); esteve fora do mosteiro durante a prolongada e
aguda enfermidade que a deixou paralítica aos seus 25 anos, e que a fez acorrer
à curandeira famosa de Becedas, por-se em contato com o sacerdote enfeitiçado,
convencer-se da miséria da medicina de seu tempo e de que podiam mais os
terapeutas do céu, em especial o valoroso São José (V 6,5-8). Falecido o seu
pai em 1543, Teresa teve que tomar conta de sua irmã Joana, que residiu com ela
até seu casamento; foram frequentes as estadas na casa de seu tio Francisco
Alvarez de Cepeda; fez com Joana uma peregrinação votiva a Guadalupe, com
desvios bem aproveitados; esteve anos e anos com sua amiga íntima dona Guiomar
de Ulloa; teve que ir a Toledo, por ordens do Provincial para consolar a
aristocrata viúva dona Luisa de la Cerda (V 34-35). Com tudo, deve-se dizer que
tais saídas tornaram-se proveitosas, pois graças a elas pôde entrar em contato
com ideias e personagens decisivos: São Pedro de Alcântara, São Francisco de
Borja, etc.
Seus
encontros, fruto das saídas do convento, somados a sua sensibilidade às
correntes reformistas, possibilitaram a gestação e o nascimento da ideia
reformadora (cf. V 32,10). Todavia, não se deve esquecer que foi do Carmelo da
Encarnação que veio a inspiração aos textos institucionais primitivos, bem como
as próprias monjas que alimentaram as primeiras fundações descalças. Mesmo
assim, essa herança ou elementos de continuidade não podem encobrir os muitos
outros aspectos transcendentais que dotaram o projeto teresiano de um espírito
novo e inconciliável com o vivido na encarnação – espírito e mosteiro que, sem
dúvida, traumatizaram Teresa, apesar das contínuas desculpas que demonstra sem
cessar (cf. V 37,9-10).
2. O ideal reformador (1562-1567)
No
começo, o projeto teresiano carecia de um programa inicial concreto. Parece
que, inicialmente, dois foram os motores propulsores: a simpatia com os
movimentos reformistas, de observância frente aos conventuais (V 32,10), e o
incômodo gerado pelo estilo de vida generalizado na Encarnação, “que eu já não
sabia como viver quando aqui me meti” (V 37,9-10). Isso porque, ainda que se
falasse do slogan reformista de volta
às origens, chama a atenção que o ponto de referência, a assim chamada Regra
Primitiva, tenha sido descoberta por Teresa quando se achava em Toledo, e a
edificação do modesto edifício de São José em Ávila, já iniciada (V 35, 1-2;
36, 26). Tampouco se sabe exatamente quando apareceu no horizonte teresiano a
outra integrante substancial: a imagem triste e deformada dos “luteranos”.
Quando ela reflete sobre o assunto, anos mais tarde, mistura tempos e elementos
de um projeto impreciso, que iria se materializando pouco a pouco, por sua
própria dinâmica interna e a imposição de circunstâncias externas, em um todo
homogênio, especialmente sensibilizada e convencida de que no trabalho eclesial
podia ser mais eficaz a batalha silenciosa de mulheres orantes que os
gigantescos e ideológicos exércitos armados de Felipe II, de cujo fracasso
seria ela, precisamente, uma previsora perspicaz (cf. CP 3,1-2).
Porém,
o que sabemos com certeza é que, em torno a ela se fora formando um grupo de
pessoas espirituais, impactadas com sua experiência e sua palavra. Primeiro foi
um pequeno grupo de amigos, “os cinco que no presente nos amamos em Cristo” (V
16,6-7). Teresa, ao lhes falar de sua oração, da ação de Deus, se conectava com
o mais profundo de cada um deles e despertava forças escondidas. Um deles, o
dominicano Pedro Ibáñez, atestou: “É tão grande o aproveitamento de sua alma,
nestas coisas, e a boa edificação que dá com o seu exemplo, que mais de
quarenta monjas cuidam, em sua casa [no Mosteiro da Encarnação], de grande
recolhimento... E digo, por certo, que tem feito proveito a muitas pessoas, e
eu sou uma delas” [4].
Daí
que, ao fundar sua primeira comunidade, o Convento de São José de Ávila, Teresa
tenha começado estabelecendo algo que naquela época tornava-se arriscado, uma
novidade perigosa: a comunicação espiritual em grupo. Reuniam-se para “poder
falar de Deus” (com Ele e d’Ele), ou seja, para orar e comunicar-se. Uma comunidade orante, porém não somente de
recitação orante, mas de persuasão à experiência, pois esta, semelhante à
caridade, cresce ao ser comunicada (V 7, 22; 17, 5). Isso, naqueles tempos
difíceis, naquele ambiente inquisitorial de suspeita institucionalizada (V
33,5), era realmente perigoso, pois havia se estabelecido um estado de opinião
que associava quase instintivamente o círculo de mulheres espirituais com o
fenômeno dos iluminados e com a heresia luterana.
Apesar
disso, Teresa propunha essa experiência a suas monjas no Caminho de Perfeição: “Por
isso, filhas, procurai que todas as pessoas com quem tratardes –se estiverem
bem dispostas e vos tiverem alguma amizade – percam o receio de buscar tão
grande bem [a oração]; e por amor de Deus vos peço: nas vossas conversações
tende sempre em vista o proveito dos que vos falam, pois vossa oração há de
visar o bem das almas. Já que o haveis de pedir sempre ao Senhor, não ficaria
bem, irmãs, senão o procurásseis por todos os modos (...) Pode acontecer que
seja necessário dispor o ânimo de vosso parente, ou irmão, ou pessoa conhecida,
mediante essas frases e expressões de afeto, sempre agradáveis à natureza.
Assim vos darão ouvidos e aceitarão uma verdade. Não raro uma boa palavra –
como dizem – dá mais resultado que muitas de Deus e abre o caminho a estas
(...) Todos sabem que sois religiosas e que tendes vida de oração. Não se passe
pela ideia dizer: “não quero que me
tenham em boa conta”. Em honra ou descrédito para a comunidade, redundará
aquilo que virem em vós. E mal é que pessoas tão obrigadas a falar senão em
Deus, como as monjas, tenham por lícito usar de dissimulação em tais
circunstâncias, a não ser alguma vez para conseguir maior bem. Este é o vosso
trato e modo de falar. Quem quiser ter relações convosco , aprenda-o (...) Se
vos julgarem grosseiras, pouco perdereis! Se hipócritas, ainda menos. Saireis
ganhando, porque não virá procurar-vos senão quem souber a vossa língua (...)
Se os que falarem convosco quiserem aprender vossa linguagem, contai-lhes as riquezas
que se ganham em aprendê-las. Disto não vos canseis. Insisti com piedade e
amor, fazendo também oração, para que lhes seja proveitoso; e já que não tendes
missão de ensinar, entendendo eles o grande lucro deste caminho, procurem
mestre que os instrua. Não seria pequena
mercê, se o Senhor vos desse graça para despertar em alguma alma o desejo deste
bem (CP.V 20, 3-6).
Já
antes, no brevíssimo texto das Constituições que ela escreveu para sua primeira
comunidade, e que o Pe. Rubeo aprovou em abril de 1567, havia-o formulado
também deste modo: “Uma vez ao mês, todas as irmãs prestem contas, à priora, de
como aproveitaram a oração e como Nosso Senhor as conduz; pois sua majestade
lhe dará luz para que as guie, caso não vão bem; e fazer isso é útil para a
prática da humildade e mortificação e para muito aproveitamento” (Const 41).
Convém recordar que quando Teresa escreve isso, a priora da comunidade é ela;
portanto, o referido texto é simples codificação do que toda a comunidade
praticava sob sua direção[5].
Por
outra parte, o projeto teresiano – aquele círculo de mulheres orantes – estava cheio de sinais inovadores e de
clamoroso protesto. Representava, em primeiro lugar, um desafio contra o
ambiente marginalizador das mulheres, consideradas então como um estorvo, como
um mal necessário, e que, apesar disso, eram mais adiantadas que os homens nos
caminhos do espírito, com havia dito Frei Pedro de Alcântara à Teresa, que o
cita favoravelmente para afirmar sua convicção pessoal (cf. V 40,8); e isso em
uma Igreja necessitada de tudo e em tempos em que não se podia dar ao luxo “de
desprezar ânimos virtuosos e fortes, ainda que de mulheres” (CP.E 4,1)[6].
Em segundo lugar, o novo estilo de vida implantado no Convento de São José era
também um desafio aos convencionalismos sociais da mentirosa honra, encobridora
de outros interesses, identificada com as conotações de linhagem e da pureza de
sangue – protesto teresiano que se materializou com a absoluta igualdade e
trato de suas monjas (CP.V 4,7), a extirpação de títulos e preferências (CP.V
7,10), “pois aquela que for de família mais nobre, seja a que menos tenha na
boca o nome do pai” (CP.V 27,6), e com o trabalho manual por norma e sem
exceções (Const 22).
Este
novo estilo de vida comunitária de São José de Ávila, em um convento menor e
acolhedor, frente ao enorme e impessoal da Encarnação, de ambiente de oração e
de vida alegre, sem as tensões e ressentimentos sociais do anterior, impactou
de tal maneira o geral Rubeo, quando o visitou em abril de 1567, que “alegrou-se
de ver a maneira de viver” (F 2,3), “e com a vontade que tinha de que fosse
mais adiante o que tinha começado, deu-me completa autorização para que se
fizessem novos mosteiros” (F 2,3); além disso, aprovou as constituições que ela
mesma lhe apresentou e nas que figuravam as seguintes características: uma
comunidade pequena, seleta e culturalmente bem formada (n.8)[7],
“integradas por pessoas de oração e bom entendimento” (n. 1-2;21;42),
exercitada nas virtudes teologais (n. 40), de trabalho e austeridade (n.
9-13;22;24), em um clima de liberdade (n. 7;17), de fraternidade (n.
21-23;28-29), de recreação (n. 26-28) e comunicação espiritual (n. 7; 40-41),
de estrita igualdade, sem privilégios nem discriminações por diferenças sociais
ou questões de dotes (n. 21-22;30). Finalmente, um estilo que poderia
resumir-se em sua palavra de ordem predileta: “perfeição com suavidade” (V
36,29; 11,16; Carta a Isabel de Santo Domingo, 12 de maio de 1575, 3)[8].
3. “Nosso estilo de irmandade e recreação” (1568-1582)
O
conteúdo desta típica expressão teresiana é o que também ela quis inculcar a
Frei João da Cruz, seu jovem candidato, ainda estudante e tentado a fugir para
a cartuxa, quando o levou consigo à fundação de Valladolid, no verão de 1568, e
o introduziu na vida de comunidade, naqueles
dias sem clausura em que se preparava a casa, a fim de que aprendesse “ sobre o
nosso modo de proceder, para que ele entendesse bem tudo quanto se referia à
mortificação, ao estilo de nossa irmandade e à recreação em comum. Porque
fazemos tudo com tal moderação que a recreação serve apenas para que as irmãs
reconheçam suas falhas e tenham um pouco de alívio para suportar o rigor da
Regra” (F 13,5).
Talvez
convenha aclarar que “entender as faltas das irmãs”, nas recreações, não quer
dizer observar imperfeições, mas sim carências, ou seja, as necessidades das
irmãs[9].
E, para isso, precisamente, era útil a recreação comunitária, novidade
teresiana que não existia no Mosteiro da Encarnação, e que ela introduziu em dois
momentos diários, depois do almoço e depois das completas e oração (Const.
26-28), e para o qual não duvidou em modificar a Regra, atenuando a prescrição
do silêncio durante o dia e atrasando o tempo de “silêncio maior” (Const. 7 e
28; carta a Maria de São José, 8 de novembro de 1581,20)[10].
Ainda
assim, convém advertir também que o termo “mortificação”, no léxico teresiano,
não equivale a penitências e asperezas externas, mas à oração e virtudes, como
ela mesma deixou bem claro quando teve que explicar as razões de sua oposição a
reformar mosteiros alheios: “Acerca do
mosteiro da condessa, não sei que dizer, porque embora há muito se fale nisso,
confesso a Vossa Senhoria: antes quisera fundar, desde o começo, quatro dos
nossos de monjas, porque em quinze dias fica assentado nosso modo de viver, e
as que entram não fazem mais do que seguir o que veem nas que já estão. É mais
fácil do que adaptar essas benditas, por santas que sejam, à nossa maneira de
proceder. Falei a duas em Toledo; vejo que são boas, e, no seu gênero de vida,
vão indo bem; além disso, asseguro, não sei como me atreveria a tomá-las a meu
cargo, porque me parece vão mais por via de aspereza e penitências que por
mortificação e oração” (Carta a Dom Antônio de Bragança, 02 de janeiro de
1575,8)[11]
Assim,
frente ao isolamento e o rigor medievais da cartuxa, que buscava Frei João,
Teresa quis inculcar a seu candidato um modelo de vida comunitária resumido em
um moderno estilo de irmandade, de recreação e comunicação: “Ele era tão bom
que mais podia eu aprender com ele do que ele aprender comigo. Minha intenção,
porém, não era essa e sim mostrar-lhe a maneira de proceder das irmãs” (F
13,5). Um estilo que implica três elementos: a) as coisas referentes à
mortificação (vida teologal); irmandade e recreação (vida fraterna em um
ambiente propício à essa oração tão sua, não só de recitação orante, mas sim de
indução à experiência, ou seja, para orar e comunicar-se); d) e tudo com
moderação, com suavidade “de modo a não afligir demais o natural” ( F18, 6;
Carta a Dom Teutonio de Bragança, 3 de julho de 1574, 4).
Anos
mais tarde, outro bom conhecedor do espírito teresiano, o Padre Jerônimo
Graciano, ponderava a importância que dava a fundadora a esse dado da
comunicação espiritual: “Ó Jesus, com quanto rigor e cuidado a madre Teresa de
Jesus fazia suas religiosas guardarem uma constituição a elas posta, e que suas
preladas dessem conta de seu espírito. E quanto proveito achou certa alma que, tendo
repugnância a isto, por ser tentada contra seu superior, ao lhe mandarem dar
conta de seu espírito, o fez, embora lhe custasse muito”[12].
Porém,
para ver realmente o ideal comunitário de Santa Teresa, as características da
comunidade teresiana, o melhor documento, sem dúvida, é o Caminho de Perfeição,
onde explicita seu ideal contemplativo ao serviço da Igreja (CP.V 1,5; 3,6.10),
o exercício das virtudes teologais, amplamente desenvolvidas (CP.V 4-15), e
toda uma gama de atitudes do melhor humanismo. Vale como exemplo o resumo que
faz ao final do livro, no capítulo 41, onde recorda a suas monjas o princípio
de “quanto mais santas, mas conversáveis”, e convida a “andar com uma santa
liberdade” – nem “encolhidos” nem “oprimidos” – , a “ser afáveis, agradar e contentar as pessoas com quem
conversamos”. Tudo isso com expressões transbordante de humanismo e desmascaradoras
de toda falsa experiência de Deus que “encolha a ânima e o animo)”.
“Assim não vos acanheis porque, se a alma começa
a se encolher, é coisa muito má para tudo quanto é bem e às vezes dão em ser
escrupulosas, e aqui a tendes inabilitada para si e para os outros e, mesmo que
não dê nisto, será boa para si, mas não levará muitas almas para Deus, pois
veem tanto constrangimento e aperto (...). E daqui vem outro dano, que é julgar
a outros: como não vão pelo vosso caminho, mas com mais santidade para dar
proveito ao próximo, tratam com liberdade e sem esses encolhimentos e assim
logo vos parecerão imperfeitas. Se têm alegria santa, parecerá dissipação, principalmente
às que não temos letras, nem sabemos no que se pode tratar sem pecado. É coisa
muito perigosa e andarem em tentação contínua e de muito má digestão porque é
em prejuízo do próximo. E pensar que, se não vão todos pelo mesmo modo,
encolhidos, não vão tão bem, é muitíssimo mal”. (...) Assim, irmãs; tanto
quanto puderdes, sem ofensa de Deus, procurai ser afáveis e entender de modo
com todas as pessoas que convosco tratarem, a que amem a vossa conversação e
desejem a vossa maneira de viver e de tratar, e não se atemorizem e amedrontem
da virtude. A religiosas importa muito isto: quanto mais santas, mais
conversáveis com vossas irmãs. E, ainda que sintais muito pesar se todas as
suas conversas não vão como vós as quereríeis, nunca vos esquiveis, se quereis
que aproveitem e quereis ser amadas por elas. É isto o que muito devemos
procurar: ser afáveis e agradar e contentar às pessoas com quem tratamos,
especialmente às nossas irmãs. (...)
Assim, pois, filhas minhas, procurai entender de
Deus, em verdade, que Ele não olha a tantas minúcias como pensais e não deixeis
que se vos tolha a alma e o ânimo, pois com isso se poderão perder muitos bens.
Mas, intenção reta, vontade determinada, como tenho dito, de não ofender a
Deus! Não deixeis encurralar a vossa alma: em lugar de achar santidade, ganhará
muitas imperfeições que o demônio lhe porá por outras vias e, como já disse,
não aproveitará nem para si nem às
outras tanto quanto poderia.” (CP.V 41,5-8)
Permita-me,
para terminar, insistir em um aspecto do carisma e da comunidade teresiana que
considero de capital importância e de grande atualidade. Refiro-me a seu
caráter mistagógico, a essa capacidade de impacto, de persuasão à experiência,
pois foi isso que ela fez com seus próprios escritos –não só informar sobre o
Mistério, senão, sobretudo, introduzir nele – , e o que quis instaurar em suas
comunidades. Uma mistagogia explícita, com recursos à iniciação, proposta de
forma concreta, respondendo à dificuldades e estímulos para aspirar a suas
formas mais perfeitas[13].
Não
faz muito tempo que o tema da experiência de Deus estava restrito ao âmbito
excepcional dos fenômenos místicos e inacessível fora deles. Uma das grandes
falhas da teologia pós-tridentina da Graça, e causa, por sua vez, de outras
deficiências de dita teologia, foi essa visão negativa ao abordar o tema da
experiência de Deus, ou pior ainda, haver suposto que o tema estava definitivamente
explicado, só que negativamente: não há nem pode haver experiência da graça.
Isso até que a genialidade religiosa – mais que a genialidade teológica – de
Karl Rahner começou a rever essa falsa evidência e a questioná-la: “se se
tivesse apresentado a vivência mística separada dos seus fenômenos marginais,
teríamos compreendido melhor que estas experiências não são absolutamente
acontecimentos que estejam mais além dos cristãos normais. Teríamos
compreendido que o testemunho dos místicos acerca de suas experiências místicas
se refere a uma experiência que cada cristão, inclusive cada homem, pode
experimentar, porém que, com frequência omite ou se reprime. De qualquer forma,
é válida a afirmação de que existe a mística e de que não está tão longe de nós
como somos tentados a supor”[14].
A
questão é que hoje, diante do fenômeno da descrença e das dificuldades na
transmissão da fé, é mais urgente que nunca promover uma pastoral da
experiência de Deus. Como? Não pelo caminho do convencimento, das ideias e das
lições teóricas. Tampouco pelo suposto “contágio” ao que com frequência se
acorre em determinadas pastorais, porque o contágio supõe uma forma de
transmissão que não passa pela razão nem pela liberdade do contagiado, e uma
adesão racional e livre como a fé requer o assentimento racional e o
consentimento livre por parte do destinatário.
A pastoral da experiência de Deus supõe a mistagogia, ou seja, a
iniciação, o acompanhamento por parte de alguém (pessoas, comunidades) que haja
passado por essa experiência.
Quando
Teresa definiu sua comunidade como “colégio de Cristo” (CP.E 20, 1; CV 27, 6),
não foi só por uma idealização dos tempos apostólicos ou uma pretendida volta a
essas origens míticas, mas sim porque dita comunidade tem a missão fundamental
de ser, antes de mais nada, sacramento, relato e rosto de Deus. Se todas as
tarefas pastorais da Igreja têm que ter algo de processo mistagógico, poderíamos dizer que a tarefa primordial
e insubstituível das comunidades
teresianas consiste nisto: iniciar e acompanhar na experiência do Mistério, ser
lugares onde se vive e se comunica a experiência de Deus, onde se oferece a
ajuda de mestres, de peritos nas coisas de Deus.
1-Quales los valores basicos
para una comunidad, según Santa Teresa? 2-Quais os valores básicos para uma comunidade, segundo Santa Teresa?
3-Quales son las dificultades reales que tenemos para vivir estos valores?
4-Quais são as dificuldades reais que temos para vivermos estes valores?
5- Como S. Teresa viveria hoy con nosotros la vida comunitária-fraterna, como base también de toda misión ?
6-Como Santa Teresa viveria conosco hoje a vida comunitária-fraterna, como base também de toda missão?
Bibliografia
- J.MURILLO, La comunidad en Teresa de Jesús, Vitoria 1982; ID.,
«Comunidad (en Santa Teresa de Jesús)», en T. Álvarez (dir.), Diccionario de
Santa Teresa, Burgos, pp. 148-156; G.
- POZZOBON, La comunità teresiana. Genesi e formulazione, Roma 1979;
Id., «La comunità teresiana, una significativa esperienza di comunione
ecclesiale», en Teresianum 33 (1982) 515-585;
- S. ROS, «El carisma del Carmelo vivido e interpretado por Santa Teresa»,
en La recepción de los místicos Teresa de Jesús y Juan de la Cruz,
Salamanca 1997, pp. 537-572; ID., «El carisma mistagógico de Santa Teresa», en Revista
de Espiritualidad 66 (2007) 419-443.
[1] Segundo dados da própria autora:
cf . F 2,1; carta a uma aspirante, fim
de maio de 1581,2.
[2] Remetemos à documentação publicada por O. STEGGINK, «Santa Teresa y el Carmelo
femenino anterior», en Experiencia y
realismo en Santa Teresa y San Juan de la Cruz,Madrid 1974, pp. 70-98; ID.,
Arraigo e innovación, Madrid 1976, pp. 51-68; T. ÁLVAREZ, «La visita del
Padre Rubeo a las Carmelitas de la Encarnación de Ávila (1567)», en Monte
Carmelo 86 (1978) 5-48; 269-280.
[3] Texto publicado por SILVERIO DE SANTA TERESA, «Constituciones
del convento de la Encarnación de Ávila que se observaban viviendo allí Santa
Teresa de Jesús», em Biblioteca Mística Carmelitana (= BMC), t. 9, pp.
481-523.
[5] Anos mais tarde, ao refazer o
texto constitucional, acrescentou: “Entenda-se que ao prestar contas as noviças
à mestra, e as demais religiosas à priora,
da oração e seu aproveitamento, que se faça de maneira que elas não sejam
constrangidas a tal coisa, mas que por
sua própria vontade percebam o muito
aproveitamento espiritual que disto
receberão” (Constituições de 1581, cap. 14, n. 4 )
[6] Aspecto resaltado por historiadores e teresianistas: cf.
T. ÁLVAREZ, «Santa Teresa y
la polémica de la oración mental. Sentido polémico del Camino de Perfección»,
en IV Centenario de la Reforma Carmelitana, Universidad de Barcelona,
1963, pp. 39-61; ID., «Santa Teresa y las mujeres
en la Iglesia. Glosa al texto teresiano de Camino 3», en Monte
Carmelo 89 (1981) 119-132; T. EGIDO, «Santa Teresa y su condición de mujer», en Surge 42
(1982) 255-275; S. ROS, «Santa Teresa en su condición histórica de mujer espiritual», en Revista
de Espiritualidad 56 (1997) 51-74.
[7] Seu número ideal era de 13
monjas, como o pequeno “colégio de Cristo” (os 12 apóstolos com Jesus),
“porque, tendo tomado a opinião de muitas pessoas, cheguei à conclusão de que
convém ser assim; e tenho visto por experiência que, para manter o espírito
agora reinante (...) não podem ser em maior número” (V 36,29), pois “onde há
poucas, há mais conformidade e quietude” (F 2,1), e “onde são tão poucas, pede
a razão que sejam bem escolhidas” (Carta a dona Maria de Mendoza, 7 de março de
1572, 14).
[8] Escrevia o Padre Graciano em 1611, evocando a figura da
Santa: «Tenía hermosísima condición y tan apacible y
agradable, que todos los que la comunicaban y trataban con ella llevaba tras sí
y la amaban y querían, aborreciendo ella las condiciones ásperas y
desagradables que suelen tener algunos santos crudos, con que se hacen a sí
mismos y a la perfección aborrecibles» (BMC, t. 16, pp. 499-500). E Maria de
São José em 1585, recordando a origem de
sua própia vocação: “ O Senhor me chamou à religião vendo e conversando com
nossa Madre e suas companheiras, que moviam as pedras com sua admirável vida e
conversação. E o que me fez segui-las foi a suavidade e grande discrição de
nossa boa Madre. Creio verdadeiramente que, se os que têm ofício de levar a
alma a Deus usassem o projeto e a habilidade que aquela santa usava, levariam
muitas mais almas” (MARÍA
DE SAN JOSÉ (SALAZAR), Libro de
Recreaciones, n. 2, em Escritos Espirituales, ed. Simeón de la
Sagrada Familia, Roma 1979, pp. 63-64).
[9] Assim o explica T. ÁLVAREZ, «El estilo de
hermandad y recreación que tenemos juntas», em Monte Carmelo 100 (1992)
149-158
[10] Sabemos também como protestou
quando algum visitador propôs que as monjas e os frades não tivessem recreação
nos dias que comungavam: Se as irmãs não hão de ter recreações nos dias em que
comungam, eles, os Padres, que dizem Missa cada dia, nunca a deveriam ter. E se
os sacerdotes não observam isto, para que o hão de observar os pobres dos
outros (Carta ao P. Graciano, 19 de novembro de 1576, 2).
[11] Sejam vistos outros textos similares onde o termo
«mortificação» está associado a oração e
virtudes:
V 23, 9.16;
Carta a Dom Lourenço de Cepeda, 23 de dezembro de 1561, 3; Carta a Maria de São
José, 11 de novembro de 1576, 13; F 6, 9; 14, 11; 18, 5-8; 24, 6; 6M 8, 10; 7M
4, 14.
419-443.
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quarta-feira, 5 de setembro de 2012
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terça-feira, 4 de setembro de 2012
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Solidão a dois é mais dolorosa
O pior sentimento é o que se sente quando se está acompanhado
Não sei o autor desta frase, mas sem dúvida é alguém que já esteve sozinho em uma relação que supostamente deveria ser a dois. Solidão é um sentimento forte, traz dor, tristeza e por isso também buscamos ao outro, para não ficarmos solitários em nossos próprios pensamentos, em nossa vida, em nossos egoísmo excessivo. Agora, imagine se sentir sozinha mesmo com alguém ao seu lado...a propósito, como está seu relacionamento?
Se ela apenas bate a cabeça ou resmunga algo indecifrável enquanto você fala do seu dia, ou se ele parece estar no mundo da lua enquanto você conta sobre o seu sentimento, sim, você pode estar no ritmo dos solitários acompanhados. E, acreditem, não é nada divertido um tango dançado só.
O amor é algo a ser vivenciado a dois. A troca de sentimento, o companheirismo, a parceria. Se está disposto a namorar, tem que saber que deverá de comprometer com o outro. Não adianta assumir algo apenas para dizer que está junto. A isso se chama comodismo. Também não é apenas se relacionar quando se está frente a frente, beijando, abraçando e ao sair da companhia esquecer do outro, sem lembranças, carinho, mensagens, sinais de afeto, a isso se chama sadismo.
Você é o passivo, o sádico ou aquele que tem respeito por uma relação? Se Reflita sobre em que direção está andando sua relação. Se os olhos não batem, as cabeças rebatem e a solidão lhe acompanha mais que o seu parceiro, há algo fora de lugar, será o egoísmo de uma das partes ou falta de amor-próprio?
Homens e mulheres continuam neste ninho vazio muitas vezes por medo do que encontrarão estando apenas na própria companhia. Se você é um destes, a reflexão deve ser ainda mais profunda, a auto-estima não deve estar tão em alta quanto deveria, ou talvez nem exista mais, sufocada entre a passividade e o medo de arriscar viver.
Faça uma reflexão necessária, para você e para aquele que não aguentará muito tempo sua passividade e ausência. Para ajudar, lembre de Nietzsche "Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia" e faça alguém feliz - longe ou perto de você.
Fonte: http://www.alagoasweb.com
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segunda-feira, 3 de setembro de 2012
Carlo Maria Martini: Entrevista.
Entrevista realizada com o Cardeal em 2010
Quando
fixamos a data do nosso encontro, o cardeal Carlo Maria Martini me disse que o
tema sobre o qual desejava que se desenvolvesse nossa conversação era o da
Ressurreição. Fiquei um tanto espantado e até preocupado e lhe fiz observar que
sobre aquele argumento teríamos muito pouco a nos dizer. Se há um ponto sobre o
qual o não crente não tem nenhuma possibilidade de contato com um cristão douto
como Martini é precisamente aquele. Mas, o cardeal insistiu. “Verá – me disse –
que nós dois teremos muitas idéias a compartilhar sobre aquele argumento. De
resto, a Ressurreição é a tempo o fulcro de minha vida e tenho muita vontade de
discuti-lo com você”
Encontramo-nos
aos 10 de maio passado em Galarate, na casa de repouso da Companhia de Jesus,
onde Martini mora há alguns anos, após os meses passados em Jerusalém. Em dois
anos esta é a terceira vez que vou procurá-lo. Entrementes nos escrevemos e
sentimos e agora estamos em confidência. Eu o estimo muito e creio que ele
também gosta de mim.
O
tempo - é verdade - passa com grande rapidez, mas ele não me pareceu mudado. A
voz se debilitou, sim, é menos sonora ou eu estou mais duro de ouvido.
Aproximamos um pouco mais as poltronas sobre as quais estávamos sentados. A
reportagem é de de Eugenio Scalfari, publicada no jornal La Repubblica,
13-05-2010. A tradução é de Benno Dischinger.
"Você escreveu um livro
recentemente", me disse ele.
Sim,
"Uma viagem na modernidade". Temo que, se tiver vontade de lê-lo, não
estará de acordo sobre muitas coisas.
Não
esteja tão certo disso: entre um crente como eu e um não crente como você os
pontos de encontro são muitos, como já o verificamos.
É
verdade – respondi – porém você me propôs um tema, a Ressurreição, que tem mais
o aspecto de um desafio do que de um terreno de encontro. Quem, como eu, não
crê no além-mundo, muito menos crê na Ressurreição de Jesus e na nossa. Você,
no entanto, vê no Ressurrecturis o fulcro de sua vida espiritual. Pode
explicar-me a razão? No fundo se trata de um milagre. Eu pensava que você fosse
antes cético sobre os milagres.
A
Ressurreição de Cristo não é um milagre. O Deus que através do Filho assumiu
natureza humana, após a morte sobre a cruz reassume sua natureza divina e
imortal.
Entendo.
Mas, a ressurreição dos mortos? Aquilo é um milagre.
É
um mistério, um mistério da fé. Você me perguntou por que ela representa, para
mim e para toda a comunidade dos fiéis, o fulcro de nossa vida. Procurarei
explicá-lo. A Ressurreição dos mortos é um fato historicamente positivo. O
Espírito ressurge em todos nós. Ressurge a cada dia, ressurge quando oramos,
quando nos comunicamos comendo o pão e bebendo o vinho do Senhor, quando
ressurgem em nós a caridade e a esperança do futuro, tanto o terreno quanto o
extraterreno. A história do mundo não seria aquela que é se a esperança não
alimentasse os nossos esforços e a caridade não iluminasse a nossa vida
cotidiana. A Ressurreição do Espírito é a chama que impulsiona as rodas do
mundo. Você pode imaginar um mundo sem caridade e sem esperança?
Não
o imagino de fato. Mas, esperança e caridade iluminam também a vida dos não
crentes ou pelo menos a de muitos deles. Nós não temos necessidade da fé, e o
amor do próximo, a meu ver, deriva de um instinto que opera em cada um de nós.
É o instinto da vida, o instinto da sociabilidade, o instinto da sobrevivência
da espécie.
Você
pensa que aquele instinto esteja sempre presente em cada indivíduo?
Penso
que esteja sempre latente, mas sempre em contraste com o amor de si próprio. A
vida não é senão um eterno contraste entre estes dois elementos. A vida humana
se apóia sobre a dinâmica destes dois elementos.
Cada
vez que o amor do próximo vence sobre o egoísmo do amor de si, aquele é o
momento no qual o Espírito ressurge. O fato que você o chame de instinto não
muda a tessitura da vida: para mim é a ressurreição.
Mas
não a ressurreição dos mortos.
Aquilo
é um mistério da fé, um a mais que nos ajuda. Eu não o chamo de milagre,
chamo-o necessidade. A necessidade de viver com caridade e esperança.
Cardeal
Martini: você conheceu o teólogo Hans Küng? Conhece sua teologia?
Estávamos
nós dois no Concílio Vaticano II. Temos a mesma idade, éramos então muito jovens,
da mesma idade do papa Wojtyla. Depois o encontrei várias vezes, discutimos com
freqüência, temos um bom relacionamento”.
Küng
faz uma afirmação muito clara em seu último livro. Diz que a fé ilumina a vida,
mas que, para atingir a fé, se requer uma condição preliminar: é necessário
acima de tudo amar a vida. Amá-la com um amor profundo. O amor pela vida é uma
condição não suficiente, mas necessária para a maturação da consciência. Você
está de acordo com esta posição?
Sim,
estou de acordo com Küng. Penso também eu que seja preciso amar profundamente a
vida para ser depois iluminados pela graça e pela fé.
Tudo
está em entender o que se entende quando se diz "amar profundamente a
vida".
Você,
o que pensa sobre isso? O que quer dizer?
Penso
num amor responsável. Penso numa vida que não humilhe a vida dos outros, não
lhe cause dano, mas antes a enriqueça de sentimentos e amadureça a humanidade
que está em cada um de nós.
Este
é também o meu pensamento de cristão. O amor pela vida concebido deste modo é precisamente
a condição necessária, embora insuficiente, que pode conduzir à fé. Ou então,
parar naquela etapa inicial.
Uma
etapa imperfeita? Não perfeitamente madura?
Entendi
que lhe custava muito responder a esta minha pergunta. Depois ele disse com um
sopro de voz: “Uma gota de divino existe em cada homem. Somos as folhas
dessemelhantes de uma única árvore. Não compete a mim distinguir as folhas mais
bem sucedidas. Cristo disse: não julgueis”.
Chovia
a cântaros do lado de fora da janela. Trouxeram as pílulas para o cardeal e uma
taça de chá para mim. As cortinas sobre os vidros eram adornadas com um recamo
que me recordou minha casa de infância e a imagem de minha mãe. As preces que
ela me fazia recitar às noites antes do sono. Pensei que os fiéis, os que
crêem, aqueles verdadeiros, tinham permanecido um pouco crianças, mas depois
afastei rapidamente aquele pensamento. Te sentes superior? Disse-me ele. És pó
e pó voltarás a ser, por isso ele tem razão: não julgar. Eu lhe disse: “Na
ressurreição não creio, mas creio no Gólgota”.
"Estava
para lhe perguntar isso. Diga-me".
"Creio no Gólgota porque ali foi
celebrado o sacrifício de um justo, de um débil, de um pobre. Aquele sacrifício
se repete a cada dia e é o verdadeiro e único pecado do mundo: o sacrifício, a
aniquilação, a humilhação do pobre, do débil, do justo. O Gólgota configura o
pecado do mundo".
O
cardeal olhou-me como se olha um catecúmeno, um olhar que me pareceu uma
carícia. Notei que tinha um tique freqüente no olho esquerdo, seguidamente o
fechava, mas quando o reabria era ainda mais expressivo que o outro. Creio que
fosse o efeito de sua síndrome parkinsoniana, a mesma enfermidade do papa
Wojtyla.
Depois
ele me disse: “Sim, o Gólgota representa o pecado do mundo. Às vezes a Igreja
se ocupa de demasiados pecados e nem todos na Igreja sabem e sentem que aquele
é o único, verdadeiro pecado: a aniquilação, a humilhação, o desconhecimento do
próprio semelhante, tanto mais se é débil, se é pobre, se é excluído. E, se é
um justo. Um que jamais faria coisas que humilham a dignidade da pessoa. O
Gólgota deveria ser o início de um percurso penitencial que dura toda a vida”.
Esta
frase me golpeou; eu não tinha pensado num percurso penitencial. Quem estava
envolvido naquele percurso de penitência? Perguntei-lhe e respondeu: “Todo o
mundo”.
Mas,
o vosso Cristo não tinha vindo para anunciar a salvação? Um pacto renovado
entre o Senhor e os homens?
Exatamente.
Trouxe a consciência do pecado que fora cometido e a necessidade de expiá-lo
através da penitência.
Num
outro encontro nosso você me falou da necessidade para a Igreja de revisitar o
sacramento da confissão. Há um nexo entre aquele seu desejo e o que agora me
disse?
A
confissão deve ser para os cristãos o início de um percurso penitencial que dura
toda a vida. Se o pecado é aquele que definimos como o verdadeiro pecado do
mundo, a expiação não requer somente o ressarcimento material do dano; a
expiação comporta muito mais: comporta a reeducação do pecador, a descoberta,
de sua parte, de uma vida diversa. É a descoberta da alegria e do gáudio que
aquela vida nova e diversa infunde em sua alma.
Cardeal,
tem presente o romance Ressurreição de Tolstoi?
Tem
razão de recordá-lo. Aquele romance conta exatamente aquele percurso. O
protagonista era um rico e jovem senhor que se aproveita e estupra um menor.
Passam os anos e no fim o protagonista perdeu todo o seu patrimônio e é
condenado e deportado à Sibéria, mas em sua consciência abriu caminho o
sofrimento pelo que cometeu e a necessidade de expiá-lo. Quando a expiação toca
o cume, sua alma se abre à consolação e à alegria.
Você
recordou Tolstoi; também Manzoni conta um processo análogo e a alegria que
provém da expiação. O
inominado, seu arrependimento, o afã de expiar e a paz da alma que provoca a expiação.
"A
pedofilia é um desses pecados?"
(Eu
ainda não tinha introduzido aquele tema, pois me parecia que fosse embaraçoso
para um purpurado enfrentá-lo num colóquio com quem exerce profissão de
jornalismo. Mas, num certo sentido era ele que me aduzira o tema. De fato
respondeu sem hesitação).
“A
pedofilia é o mais grave dos pecados, não humilha somente a pessoa e o débil,
mas viola precisamente o inocente. Acrescento: nos casos que se verificaram na
Igreja os culpados são precisamente sacerdotes e bispos que têm como primeira
tarefa a de educar os jovens e os jovenzinhos e devem, por conseguinte,
relacionar-se com eles para cumprir seu magistério. Pode haver pecado mais
grave do que este?”
A
Igreja todavia condena o pecado mas perdoa o pecador. Não há aí contradição? O
Papa assumiu um comportamento bastante rigoroso nestes últimos meses e até
impôs um critério de transparência, convidando os bispos e os párocos a
informarem a autoridade judiciária, distinguindo o crime do pecado. Gostaria de
entender se isso tudo representa uma inovação do direito canônico.
Não
me ocupo de direito canônico porque neste caso ele tem bem pouco relevo. Quanto
à denúncia do crime à autoria judiciária, direi que se trata de um ato
absolutamente devido, pois a pedofilia é um grave crime em todos os códigos do
mundo e é perseguido. Mas, tratando-se em geral de pessoas avançadas em anos, é
lícito prever que a pena infligida pela autoridade judiciária teria uma
execução relativamente breve. Em todo o caso, não é esse o ponto. Retorno ao
tema da penitência e da expiação. Perdoa-se o pecador que cumpre um percurso
penitencial que durará quanto dura sua vida terrestre. A expiação deve ser tão
intensa que encha aquela alma e a faça assumir a tarefa de ressarcir quem
sofreu o abuso. Digo ressarcir, mas não me refiro a um ressarcimento material
que também é devido. Refiro-me a uma relação de almas. A alma do pecador não
terá outro fim senão redimir-se, ressarcir os sentimentos violados, ressurgir.
Somente desse modo encontrará a paz e a alegria.
(Ele
falara tudo num alento, gesticulando e agitando-se sobre sua poltrona. Também a
voz subira de tom, tanto que depois se abandonou arquejante e fechou por um
momento os olhos. Seu
assistente, um jovem padre com fisionomia inteligente e modos cheios de
atenção, assomou pela segunda vez: aquela pausa em nossa conversação talvez o
tivesse alarmado. “Talvez esteja cansado”, disse, mas naquela altura o cardeal
fez um gesto para dizer que de fato não estava cansado e queria continuar).
Perguntei-lhe se houvera na história da Igreja santos que antes tinham sido
pecadores. “Muitos”, respondeu. “O fato mais significativo de sua vida tem sido
precisamente sua conversão do pecado à graça da fé junto ao início daquele
percurso penitencial que os acompanhou até a morte”.
Solicitei-lhe alguns nomes. “Menciono-lhe um
por todos: o fundador de nossa Companhia, Santo Inácio. Contou-o ele próprio,
pecou muito e fortemente, para dizê-lo com Lutero: sua conversão foi total, sua
expiação longuíssima, acompanhada por um amor pela vida e pelas obras entre as
quais precisamente a fundação de uma Companhia que após 400 anos é ainda uma
das pilastras de nossa Igreja”.
(Havia
passado mais de uma hora e entendi que nosso encontro se encaminhava ao fim,
mas ainda tinha muitas coisas a perguntar. Em particular, havia um tema que eu
tinha a peito: a relação entre a missão pastoral da Igreja e sua organização
institucional e hierárquica. Em suma: a Igreja como missão e a Igreja como
centro de poder).
Recorda,
cardeal Martini? Você me contou, num encontro anterior, que no início do
Conclave que elegeu há cinco anos o atual Pontífice, o senhor recordou aos seus
co-irmãos reunidos na Sistina que o Conclave devia eleger o Bispo de Roma. O
Papa tem de fato aquela função enquanto Bispo de Roma e como tal deve sempre
permanecer. O senhor não me explicou então o sentido daquele seu discurso, me
quer dizê-lo agora?
O
sentido pode resultar obscuro para quem não atua na Igreja e para a Igreja, mas
para nós é claríssimo. Os bispos são os sucessores dos apóstolos e a eles Jesus
ditou uma só missão: ide e pregai aos povos a verdade, a caridade, difundi o
Verbo, indicai o caminho. Esta é a missão dos Bispos, pastores de almas. Mas
Jesus sabia que aquela missão devia ser encerrada numa bainha que lhe
protegesse a essência e a preservasse no decurso dos séculos e dos milênios.
Aquela que você chama instituição é precisamente a bainha organizacional, as
Congregações, a Cúria, as finanças, os tribunais eclesiásticos. Servem para
preservar a missão pastoral que representa a essência da Igreja.
O
Papa é o Bispo de Roma e é o chefe da missão pastoral e da instituição. E
então?
O
Papa é o Bispo que senta sobre a sede que foi de Pedro. A missão pastoral é sua
tarefa prevalente. O fato de que seja também um teólogo ou um diplomata ou um
organizador é secundário. É e deve ser acima de tudo um pastor de almas que
exerce aquela vocação junto com todos os outros Bispos.
Todavia,
para grande parte de sua história, a Igreja foi sobretudo dominada pelo poder da
instituição, e os Papas foram chefes de Estado e até guerreiros. O poder
temporal sobrepujou a missão pastoral.
Não
penso que a tenha sobrepujado, mas certamente aconteceu que o poder e sua
conservação tenham tido uma importância excessiva e a missão pastoral tenha
sofrido os contragolpes.
Ainda
é assim também hoje?
Estes
defeitos ainda subsistem, o poder temporal, em outras formas, é ainda uma
tentação no interior da Igreja. Mas aquilo que nós chamamos o povo de Deus, os
fiéis, o clero com cura de almas, as associações e o voluntariado católico,
constituem a verdadeira bainha de custódia de nossa essência.
Eu
lhe faço uma última pergunta, porque estou abusando de seu tempo. A Igreja,
para cumprir sua missão, deve ter contatos com os poderes públicos que encontra
em seu caminho. Talvez encontre regimes de ditadura e tirania, e outras vezes
regimes democráticos. São formas políticas indiferentes para a Igreja ou ela é
chamada a fazer uma escolha entre elas?
A Igreja deve fazer uma escolha, embora ela
deva incluir sistemas políticos estranhos à sua concepção. Até é próprio, nos
territórios onde a liberdade e a igualdade são negadas, que o testemunho da
Igreja se torna precioso. Mas, para mim não há dúvida: a Igreja que reivindica
a liberdade religiosa, por isso mesmo compartilha princípios de liberdade, de
igualdade, de inclusão, de respeito da dignidade das pessoas. Estes princípios
valem, devem valer também no interior da Igreja, onde o Papa exerce sua missão
junto ao Episcopado e ao povo de Deus, nas várias formas conciliares que nossa
organização prevê.
(O
encontro tinha terminado. O jovem sacerdote entrara novamente para ajudar o
cardeal a levantar-se. Eu lhe disse: “Da próxima vez quero vê-lo pular corda”.
Olhou-me sorrindo e disse: “Volte logo”. Depois me acariciou a face com um
toque rápido. Fiz o mesmo com ele. Estávamos os dois um pouco comovidos. Lá
fora continuava chovendo).
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