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terça-feira, 9 de junho de 2015

“Algumas freiras vendem o que entregaram ao Senhor para poder viver”, destaca religiosa africana.

Na missa celebrada ao meio-dia, do domingo de 31 de maio, na basílica romana de ‘Santa Maria sopra Minerva’, as leituras e os pedidos ficaram a cargo de irmã Rita Mboshu Kongo (foto), religiosa congolesa que leciona na Pontifícia Universidade Urbaniana. Foi quem presidiu a missa, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, que pediu que ela fosse ao púlpito. Dessa forma, reconhecia a intervenção de Mboshu Kongo durante o recente seminário sobre a condição da mulher na Igreja, realizado no Vaticano, e que era encerrado com aquela eucaristia. A reportagem é de Darío Menor, publicado por Vida Nueva, 05-06-2015. A tradução é do Cepat.
A fala de irmã Rita no encontro, organizado por Donne Chiesa Mondo – o suplemento feminino de L’Osservatore Romano e que é publicado por Vida Nueva em espanhol –, impressionou o auditório por descortinar uma realidade muitas vezes escondida: os abusos que algumas freiras africanas sofrem por parte de eclesiásticos e o maltrato que recebem de suas próprias superioras.
Vida Nueva teve a oportunidade de conversar com esta religiosa das Filhas de Maria Santíssima Corredentora, antes de iniciar uma das sessões do seminário.
“Ficou sabendo do recente suicídio de uma freira congolesa perto de Florença?” “Possuía um grande um amor pela vida. Não deve se assumir com banalidade sua morte, dizendo que retirou a vida porque estava deprimida. É necessário procurar as causas profundas que a empurraram a cometer este ato feio para a Igreja e para a mulher”, conta a este semanário. As chaves, para irmã Rita, estão não “falta de formação e de acompanhamento”. “Vivia em um túnel de total obscuridade, sofreu sozinha, sem assistência espiritual e psicológica”, queixa-se, comparando este caso com o de uma religiosa latino-americana que deu à luz um bebê, no mês de janeiro, em Macerata. “De quem é a culpa? Desta jovem que, por fim, precisou deixar o convento?”.

Falta de recursos
A falta de recursos é uma das causas subjacentes deste problema que acaba explodindo em casos como o dessas duas freiras. “Há muitas congregações africanas pobres que enviam religiosas para estudar sem proporcionar os meios para o seu sustento”. Para ir adiante, as consagradas se veem, em determinadas ocasiões, obrigadas a pedir esmola. Nessa situação, “quem oferece a mão é o que manda”.
“Seus benfeitores as submetem e exploram seu corpo. Se não possuem nada para dar em troca, vendem o que têm: precisam comercializar a parte que entregaram ao Senhor para poder viver”, denuncia irmã Rita, afirmando que são muitas as religiosas que conhecem esta realidade. O medo faz com que não falem sobre isso. “Só se trata desse assunto quando surge um problema como o da religiosa grávida. Nesses casos, muitas vezes, a freira é condenada com a sua expulsão do convento. É o habitual na África. A congregação e a Igreja não sabem onde vão parar estas pobrezinhas. São consideradas uma vergonha. São como os leprosos do Antigo Testamento. Nenhuma irmã quer lhes dirigir a palavra”.
Em parte, as religiosas perseguidas não são capazes de enfrentar os eclesiásticos que lhes exigem serviços sexuais porque cresceram em uma cultura onde a mulher é inferior ao homem. “Pensa-se que é preciso obedecê-los. Inclusive, alguns padres chegam a utilizar falsos argumentos teológicos para justificar seu comportamento”, denuncia a docente congolesa. Nos países onde a Aids abunda, os sacerdotes e bispos estupradores consideram as freiras “mais seguras” para evitar o contágio desta enfermidade quando mantêm relações íntimas com mulheres.


A professora da Pontifícia Universidade Urbaniana disse que é quase impossível quantificar o número de freiras que sofrem abusos de seus benfeitores ou que foram abandonadas por suas congregações, demonstrando o seu desejo de que a Igreja intervenha para ajudá-las. “Estão espalhadas pelo mundo. Quem alguma vez se interessou por estas religiosas? Onde estão? O que fazem? Não nos interessa. As freiras são as que deveriam buscar as ovelhas desgarradas, mas são estas freiras as que estão perdidas”. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br