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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

REMAPEAMENTO DA CAMINHADA DOS CARMELITAS


NOVIÇOS-Turma 1933 (segundo explanações de Frei José Fragoso e uma palestra de Frei Jesus Castellano OCD na reunião da USG (União dos Superiores Gerais).

 
ONTEM
1) De eremitas a cenobitas (vida comunitária)
 
            É impossível situarmos o nascimento dos Carmelitas sem termos em mente o contexto sócio-político-religioso da época: uma sociedade em crise. Nesse contexto histórico surgem formas de contestação da Sociedade e da Igreja.
            Surgem na Igreja os peregrinos que adotam uma vida errante e pobre em contestação ao luxo e aos poderes da época.
            Com as Cruzadas e a reconquista da Terra Santa, os lugares de peregrinação mais procurados passam a ser os "Lugares Santos" da terra de Jesus. Muitos desses peregrinos/cruzados passaram a residir na Terra Santa como eremitas.
            No Monte Carmelo, um grupo de eremitas vive em solidão, oração e contemplação; o que os anima a viver este estilo de vida é a forte tradição do lugar: o Monte Carmelo de forte tradição Eliana e de forte tradição Mariana. Esse grupo procura imitar Elias nessa busca de Deus, que se encontra na solidão.
            Tiveram como inspiração principal a primeira comunidade cristã:
            "Todos os que tinham abraçado a fé viviam juntos e punham tudo em comum: vendiam as suas propriedades e bens e condividiam com todos, segundo as necessidades de cada um" (At 2,44-45). A presença e a celebração do Cristo Eucarístico direcionava a vida do grupo e o Espírito Santo animava-os através da vida comunitária.
            Esse grupo de eremitas, que já viviam em comunidade (cenobitas) pedem ao Patriarca de Jerusalém, Alberto, que aprove o seu modo de vida e Alberto lhes dá a aprovação da sua Vitæ Formula entre 1206 e 1214 (a duração do Patriarcado de Alberto).
            No entender nosso, é Jesus o polo principal da vida do grupo, que é animado pelo Espírito Santo e tem como embasamento a vida comunitária. 
 
2) Do Monte Carmelo à Europa
            Retomar, em sentido contrário, o caminho que antes tinha sido percorrido: este era o desafio para os carmelitas expulsos pelos Sarracenos. Como viver a Forma de Vida em um ambiente totalmente diferente? Na sua chegada à Europa encontram bastantes dificuldades para sobreviver, pois na Europa já habitavam como "donos" os franciscanos e os dominicanos.
            Além de enfrentarem problemas com relação à sua própria identidade (na época, eremitas fora do eremitério eram vistos como hereges) os frades têm que enfrentar problemas de ordem econômica e religiosa.
 
3) Do reconhecimento aos nossos dias
            Depois de reconhecidos oficialmente pela Igreja, após algumas modificações na sua Norma de Vida que passa a ser Regra de Vida com a aprovação de Inocêncio IV, que lhes concede o "status de Ordem",  os Carmelitas se expandem e cresce o número de conventos.
            Com o passar dos tempos surgem movimentos dentro da Ordem, que buscam viver com mais profundidade a "regra primitiva": a Reforma de Mântua, de Albi, dos Priores Gerais, de Santa Teresa e da mais estrita Observância (de Touraine). Todas na tentativa de viver mais intensamente os valores da Vida Carmelitana: contemplação, oração, fraternidade e profetismo.
 
HOJE
            A Ordem do Carmo articula-se hoje em 21 Províncias, 3 Comissariados Gerais e 7 Comissariados Provinciais(que são Províncias em formação) e 2 Delegações Gerais; há também os diversos grupos operativos, subdivididos em Regiões e em outras estruturas administrativas chamadas Assistências.
            Segundo data de 31 de dezembro de 1989, eram 2032 religiosos, sendo 10 bispos, 1448 presbíteros, em 308 conventos e 57 residências.
            O Carmelo Feminino (Ordem II e Ordem III Regular) tinha 872 monjas em 65 mosteiros e 2909 religiosas de 14 congregações afiliadas residentes em 362 casas.
            Quanto aos Irmãos Terceiros Seculares são em número considerável e não se pode oferecer senão um dado estimativo, próximo de 10.000 ou mais. E há inúmeros grupos de leigos atraídos pelo nosso carisma.
            Os Religiosos, ordenados ou não, desenvolvem suas atividades apostólicas em países diversos. Em primeiro lugar, com a atualização nascida das diretrizes pós-conciliares, existe o trabalho pastoral em 231 paróquias (dados de 1984) e, depois, aquelas tradicionais atividades, como ensino, pregação, exercícios espirituais, culto mariano, assistência às associações ligadas ao Carmelo etc.
 
AMANHÃ
            Com certeza o nosso amanhã depende do nosso ontem e do nosso hoje.
            O mundo evolui, as pessoas evoluem e, naturalmente, também evolui a Igreja formada por pessoas.
            Neste final de século e de milênio somos chamados a confrontar-nos com a Eclesiologia de Comunhão. 
            No mundo atual ninguém consegue jamais isolar-se ou mesmo cercar-se com barreiras. Não existem fronteiras, que a comunicação de massa não atinja; assim todos participam da vida de todos. Por isso é necessário e natural que esse processo aconteça na vida da Igreja.
            A universalidade e a diversidade de igrejas dentro de uma mesma Igreja e ainda a diversidade de carismas e congregações diferentes devem fazer com que aconteça a Comunhão Eclesial.
            Deve haver um empenho urgente para fazer acontecer essa Comunhão, porque a evolução nos faz refletir sobre a Igreja e a Vida Religiosa do amanhã, principalmente quando se tem por meta a "Nova Evangelização".
            Não raro observamos a Não-Comunhão na Igreja, principalmente no relacionamento entre bispos e religiosos, hierarquia e laicato.
            Tudo isto deve ser superado no nosso amanhã.
            Porém será superado se os religiosos abraçarem a Pastoral de Conjunto, se se colocarem ao serviço da igreja local. Mas também será superado se o valor da Vida Religiosa for reconhecido no seu carisma como algo que dá vida à vida da Igreja e que aproxima a Igreja das periferias da sociedade.
            Sem dúvida, se a Igreja hoje está mais próxima do Povo, é graças aos religiosos com os seus carismas que são acima de tudo "mundanos", no sentido de terem sido dados para serem postos "no mundo" a serviço dos marginalizados.
            Deverá ser superada na Vida Religiosa do amanhã a tendência natural das congregações de valorizarem exacerbadamente o seu carisma, enquanto deveriam estar atraídas para o bem comum da Igreja e do Povo.
            Para a Vida Religiosa do amanhã não serve o pensamento de alguns pastores de igrejas particulares, que dizem: "Não servem os operários especializados neste ou naquele ramo, mas sim a mão-de-obra comum". Esse comentário não valoriza a rica diversidade de carismas, que não necessitam de ser homogêneos, e sim de ter o mesmo objetivo.
            É necessário conscientizar-se de que a Igreja do amanhã será eficaz enquanto todos convergirem em torno da pessoa de Jesus Cristo e da sua missão como fragmentos do todo, reciprocamente unidos, de maneira que não possam existir uns sem os outros: hierarquia, diversidade de congregações e de carismas e leigos.
            Cada carisma contribui com a sua riqueza específica. Isto é inegável.
            Na Vida Religiosa do amanhã deverá haver uma Comunhão entre os carismas, mesmo porque todos têm raiz cristológica e evangélica, como aspectos do único mistério do Cristo, como palavras vivas do único Evangelho.
            Assim para a Eclesiologia de Comunhão, na Igreja do amanhã, os religiosos deverão exercer o papel de peritos, de intérpretes e de animadores, podendo ser mediadores de um diálogo entre o laicato e o ministério hierárquico, justamente porque muitos carismas conduzem os religiosos para as periferias.

            Segundo o Pe.Fábio Ciardi, «a comunidade religiosa se redescobre como uma das grandes expressões da grande "Koinonia Eclesial"   (comunhão eclesial) e será sempre mais ela mesma enquanto nascida da Koinonia, vivida na Koinonia e para a Koinonia».
            Assim podemos pensar o futuro do Carmelo e chegar à conclusão de que o Carmelo do amanhã só será Carmelo, se procurar sempre acompanhar a evolução da vida, sem perder o que de mais rico tem, que é a sua história, o seu carisma, e sim atualizá-los; se estiver disposto a se fazer mais uma família religiosa com as outras famílias religiosas, reconhecendo o valor de cada uma; se estiver preparado para assumir em Comunhão com a Igreja e com as igrejas a Fraternidade Universal.

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