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quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Ex-padre, argentino gay larga a batina e escreve carta ao papa


Ex-padre, argentino gay larga a batina e escreve carta ao papa

O argentino Andrés Gioeni, 41, foi padre durante dois anos e meio em Mendoza até largar a batina e assumir ser gay. Ator, diretor e escritor de peças infantis, vive em San Isidro, na Grande Buenos Aires, com seu companheiro, Luís, há nove anos e meio. Na semana passada, ele escreveu carta aberta ao papa Francisco pedindo que ele ajude aos gays a "transitar pela fé" sem renunciar à "experiência do amor".
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Na infância, estudei em um colégio religioso, marista. E dizia: nunca na minha vida vou ser sacerdote, não queria aquilo. Minha família era católica, mas não religiosa. Comecei a participar de um grupo missionário e começamos a fazer trabalhos voluntários num bairro pobre de Mendoza [a 1.100 km de Buenos Aires].

Na época, eu namorava uma menina, Carmem, e tínhamos o plano de nos casarmos e virarmos missionários na África. Nesse bairro, as pessoas me falavam que faltava um padre. Eu estava estudando para tentar a faculdade de medicina, aí resolvi ir para o seminário. Quando entramos, éramos 12 seminaristas e só quatro se tornaram sacerdotes. Desses quatro, só um ainda é padre.

Fiquei oito anos no seminário. Não me sentia sozinho, tinha uma família lá. Foi mais difícil quando virei sacerdote, aos 27. Vi que não era tão fácil, tinha muitas responsabilidades, ficava sozinho. Mas gostava de celebrar a missa. Aí comecei a me dar conta do que estava acontecendo: algo que não era, para mim, natural. Eu me condenava.

No seminário, a questão da homossexualidade só era tratada em algumas aulas. No dia a dia, era um tabu. Olhando agora para trás, vejo que no seminário já sabia [que era gay], mas eu negava.

Se percebia que estava gostando de algum companheiro, logo me reprimia, falava a mim mesmo: "O que está acontecendo? Está louco?."

Dois seminaristas fizeram insinuações pra mim, queriam me namorar. Eu achava que fosse loucura,negava aquilo. Eles saíram do seminário, eu fiquei. Me dei conta de que era gay mesmo quando já era sacerdote.

Gostava de entrar em salas gay de bate-papo como anônimo. Depois, me arrependia, dizia que nunca mais faria aquilo. Um dia, encontrei um homem que conheci no chat. Conversamos durante umas cinco horas e não contei que era padre. Acabamos tendo relações sexuais.

Foi uma experiência linda, mas, no outro dia, acreditava que estava no inferno, que era a pessoa mais pecadora do mundo. Comecei a rezar, chorei muito e fui me confessar sem dizer que era padre. Falei: "Basta, isso vai passar, não pode mais acontecer".

E não passou. E passei a me perguntar se era algo transitório ou para a vida. Quando me dei conta que era para a vida, cortei laços com a igreja.

Vim para Buenos Aires começar uma nova vida. Uma pessoa me chamou para fazer umas fotos nu para uma revista gay. Depois, trabalhei por um ano de garçom numa boate gay. Foi muito difícil me aceitar. Por 30 anos, recebi a informação de que isso que eu vivia -ser gay- não era bem visto aos olhos de Deus.

Depois, comecei a me dar conta de que Deus não é assim. Ele segue me amando e acompanhando, não importa que eu seja homossexual. Há nove anos e meio vivo com Luís. Queremos nos casar oficialmente. Mas adotar um filho não está nos planos.

Sigo acreditando em Deus, não no da igreja, que tem tantas leis. Fiquei feliz quando Francisco virou papa, uma pessoa mais aberta. Quando ouvi suas palavras na viagem de volta do Rio, resolvi que era a hora de escrever para ele. Publiquei o texto no Facebook e pedi para amigos compartilharem e me ajudarem a fazer chegar a ele a carta.

O catecismo não pode seguir dizendo que um gay é uma aberração. Sei que mudanças não virão de hoje pra amanhã. Mas espero que, daqui a 30 anos, um menino possa dizer sem medo que é homossexual.

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