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sábado, 9 de agosto de 2014

Edith Stein: Reflexões sobre a oração

Curso de Formação Carmelitana em módulos. Módulo VI - Testemunhas da Vivência Carmelitana.
Frei Emanuele Boaga, O. Carm.
Ir. Augusta de Castro Cotta, CDP. Roma 2003.
        
        17 - Por Cristo se dá glória a Deus

Toda a glorificação de Deus se realiza por, com e em Jesus Cristo. Por Ele, uma vez que é só, pelo Cristo que a humanidade tem acesso ao Pai, e porque sua existência de Deus-Homem e sua obra redentora são a mais perfeita glorificação do Pai. Com Ele, uma vez que toda oração sincera é fruto dessa união com Cristo ao mesmo tempo que uma confirmação de tal união, e porque todo louvor do Filho é glorioso ao Pai, e reciprocamente. N'Ele, uma vez que a Igreja orante é o próprio Cristo - cada orante é membro do seu corpo místico - e porque no Filho está o Pai. O Filho é o reflexo do Pai, cuja glória manifesta. Esse duplo sentido de por, com e em é a clara expressão da mediação do Deus-Homem. A oração da Igreja é a oração do Cristo sempre vivo. Ele prolonga, imitando-a, a oração do Cristo em sua vida de homem. (A oração da Igreja, Agir, Rio 1958, p. 20-21).

18- Sacrifício vivificante

Se os homens tomarem (a SS. Eucaristia) com fé, também eles serão transformados, incorporados ao Cristo, numa união viva, e repletos de sua vida divina. A força vivificante do Verbo é unida ao Sacrificio. O Verbo se fez carne para dar a vida que possui. Ofereceu-se a Si mesmo e ofereceu a criação resgatada por sua oferta em sacrificio de louvor ao Criador. A Páscoa da Nova Alianca na última Ceia do Senhor, no Gólgota pelo sacrificio da Cruz, entre a Ressurreição e a Ascensão pelos ágapes jubilosos em que os discípulos reconheciam o Senhor na fração do pão e, no sacrificio da missa, pela Santa Comunhão. (A oração da Igreja, p. 25-26).

19 - O Dom Eucarístico

Pode-se considerar o dom contínuo do Cristo sobre a Cruz, na Santa Missa e na eterna glória do céu, como sendo uma só e grande ação de graças: a Eucaristia. Ação de graças pela Criação, pela Redenção e por sua derradeira consumação. Oferece-Se Ele a Si mesmo em nome de todo o universo criado, do qual é a primeira figura e ao qual desceu para o renovar interiormente e o conduzir á perfeição. No entanto, chama, também, todo esse universo criado para, em união com Ele, dar as graças devidas ao Criador. (A oração da Igreja, p. 27).

 20 - O novo Templo de pedras vivas

Em lugar do Templo de Salomão, o Cristo construiu um templo de pedras vivas: a comunhão dos santos. Ele permanece no meio dele como o Sumo e Etemo Sacerdote e, no altar, é Ele próprio a vítima perpétua. E, novamente, os frutos da terra, oferendas misteriosas, as flores, os candelabros e os círios, os tapetes e o véu, o sacerdote consagrado, a unção e a bênção da casa de Deus, toda a criação é incluída na 'liturgia", no solene oficio divino. (A oração da Igreja, p. 29).

 21- A  vocação humana, o louvor divino

Quando, para as grandes festas, afluem os fléis às igrejas abaciais ou catedrais e tomam parte, ativa e jubilosamente nas formas renovadas da vida litúrgica, estão testemunhan do que sua voceção é o louvor divino. (A oração da Igreja, p. 31)

 22 -O Pai nosso realiza os nossos pedidos

Dizemos antes da Santa Comunhão, e se o fizermos sinceramente e de todo o nosso coração, se comungarmos o Corpo do Cristo com uma intenção reta, Ele nos há de trazer a realização de todos os nossos pedidos. Ele nos livra do mal, purificando-nos do pecado e dando-nos a paz do coração que tira o aguilhão dos outros males. Ele nos traz o perdão dos nossos pecados e nos fortifica contra as tentações, como Pão da vida de que necessitamos todos os dias, para nos enraizar e crescer na vida eterna. Ele faz de nossa vontade um instrumento dócil á vontade divina. Desse modo, instaura em nós o Reino de Deus, dando-nos lábios e coração puros para cantar a glória do Seu Santo Nome. (A oração da Igreja, p. 32-33).

 23 - A oração de Jesus e a da Igreja

Cada alma é um templo de Deus: grande e nova perspectiva. A vida de oração de Jesus é a chave que nos introduz na oração da Igreja. Vimos que o Cristo participou do culto público do seu povo, culto que se denomina, habitualmente, a "Liturgia". Une Ele esse oficio, da maneira mais estreita, à sua própria oferta de vítima, dando-lhe, então seu pleno e verdadeiro sentido de ação de graças ao Criador, e transformando a liturgia do Antigo na do Novo Testamento. (A oração da Igreja, p. 35).

 24 - A oração de Maria e o nascimento da lgreja.

A Redenção foi decidida no etemo silêncio da vida divina. A força do Espirito Santo sobreveio á Virgem quando orava solitária, na humilde morada silenciosa de Nazeré, e operou em seu seio a Encarnação do Redentor. Reunida em torno da Virgem, orando em silêncio, é que a Igreja nascente esperou a nova efusão do Espirito que lhe havia sido prometida para intensificar a sua luz interior e tornar e sua ação fecunda. (A oração da Igreja, p. 41).

 25- O segredo da vida interior

A oração sacerdotal do Salvador (cf. Jo 17) entrega-nos o segredo da vida interior: unidade íntima das pessoas divinas e inabitação de Deus na alma. Nessas secretas profundezas, no mistério e no silêncio é que foi preparada e se realizou a obra da Redenção; e é deste modo que ela prosseguirá até o fim dos tempos, até o momento em que todos serão efetivamente um em Deus. (A oração da Igreja, p. 40-41).

 26 - A força da oração 

A história oficial cala-se a respeito dessas forças invisíveis e incalculáveis (da oração). Mas a confiança dos fiéis e o juizo atento e vigilante da Igreja as conhecem. Nossa época, tantas vezes mal sucedida, vê-se cada vez mais forçada a esperar, dessas forças ocultas, a suprema salvação. (A oração da Igreja, p. 48).

 27 - O supremo grau da oração  

Que seria a oração da Igreja se não fosse ela o dom daqueles que amam com um grande amor o Deus que é Amor? O dom total de nosso coração a Deus e o dom que Ele nos faz em troca, a plena e eterna união, tal é o estado mais elevado que nos seja acessível, supremo grau da oração. As almas que o atingiram são, verdadeiramente, o coração da Igreja: nelas vive o amor sacerdotal de Jesus. Ocultas em Deus com o Cristo, só podem irradiar em outros corações o amor divino que as possui e, desse modo, contribuir para a perfeição de todos na uniáo a Deus, o que, no passado e no presente, é o único desejo de Jesus (A oração da Igreja, p. 51).

 28 - Não há dualismo para quem se une a Deus

Tudo é uma só coisa para as almas ditosas que chegaram à unidade profunda da vida divina: o repouso e a ação, o contemplar e o agir, o calar e o falar, o ouvir e o comunicar-se, o receber dentro de si, no amor, o dom divino e retribuir o amor em abundância, na ação de graças e no louvor (A oração da Igreja, p. 53).

 29 - Vida de oração

Na Regra Carmelitana se resume, numa breve frase, o sentido da nossa vida: «Que cada um permaneça na sua cela ... meditando dia e noite na lei do Senhor e velando em oração, desde que não seja impedido por outros trabalhos». «Velando em oração...», isto significa o mesmo que Elias expressava com as palavras: «...prostrado diante do rosto de Deus». A oração não é outra coisa senão o olhar do homem dirigido para o rosto do Eterno. Isto só é possível se o espírito estiver desperto até às profundezas e liberto de todas as preocupações e satisfações terrenas que o aturdem. Essa vigília do espírito não exige a do corpo, e o descanso que exige a natureza também não a afeta. Meditando na lei do Senhor...,  pode ser uma forma de oração, se tomarmos a oração em sentido amplo. Se nos referimos, contudo; ao velar em oração como a penetração e o descanso no mistério de Deus, que é próprio da contemplação, nesse caso a meditação é somente um caminho para a contemplação.
Que se entende por lei do Senhor? O salmo 118 está imbuído por este desejo de penetrar na lei do Senhor e de se deixar conduzir por ela ao longo da vida. Talvez o salmista pensasse na lei do Antigo Testamento, cujo conhecimento exigia efetivamente a dedicação de toda a vida, e o exercício exato de seu cumprimento. Cristo, contudo, libertou-nos do jugo dessa lei. A lei do Novo Testamento é o grande mandamento do amor, do qual Cristo diz que resume toda a Lei e os Profetas. O amor perfeito de Deus e do nosso próximo é, sem dúvida alguma, um objeto digno de contemplação para toda a vida. Melhor, podemos interpretar o próprio Cristo como a lei do Novo Testamento, pois deu-nos o exemplo com sua vida de como devemos viver. Segundo isto, só realmente cumpriremos a nossa Regra se tivermos constantemente diante de nós a imagem do Senhor, para nos assemelharmos cada vez mais a ela. O Evangelho é o livro que nunca podemos deixar de estudar.
Não temos acesso ao nosso Redentor unicamente através dos testemunhos sobre a sua vida, mas Ele está constantemente presente no Santíssimo Sacramento. As horas de adoração diante do Altíssimo e a escuta atenta da voz de Deus, presente na Eucaristia, são simultaneamente meditação da lei do Senhor e vigília na oração. A perfeição, contudo, somente é alcançada quando a lei vive dentro do nosso coração (Salmo 118, 11) e quando estamos de tal modo unidos com o Deus Uno e Trino, de quem somos templo, que o seu Espírito determina todo o nosso agir. Nesse estado não abandonamos o Senhor, mesmo que estejamos acupados com os trabalhos que nos foram determinados pela obediência. O trabalho é inevitável enquanto estivermos submetidos às leis da natureza e às necessidades da vida. A nossa santa Regra, além disso, ordena-nos, segundo as palavras e o exemplo de S. Paulo, que ganhemos o pão com o trabalho das nossas mãos. Esse trabalho, contudo, precisa ter o caráter de serviço e de meio, e nunca de fim. O conteúdo autêntico da nossa vida continua a ser: viver prostradas diante do rosto de Deus.

(De: Los caminhos del silêncio, Editorial de Espiritualidad, Madrid, 1988; parrafo: Sobre a história e o espírito do Carmelo).

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