O
evangelho deste domingo traz à luz o antigo e sempre atual questionamento sobre
o que acontece depois morte. Existe vida, ressurreição?
Jesus
responde a esta pergunta. Mas, para entender sua resposta, precisamos conhecer
um pouco sobre a fé na ressurreição no Primeiro Testamento.
Porque
é dessa tradição veterotestamentária que bebe Jesus e os/as primeiros/as
cristãos/ãs.
O
texto explica claramente que os saduceus não acreditam na ressurreição. Eles se
opõem ao pensamento inovador dos fariseus que afirmam a ressurreição, a
existência de anjos e acreditam no juízo de Deus.
Quando
lemos o Primeiro Testamento, descobrimos um Deus da vida e dos vivos. O livro
do Deuteronômio O apresenta como "o Senhor da vida e da morte"
(Deuteronômio 32,39).
O
segundo livro dos Macabeus, em que se narra o martírio dos sete irmãos e sua
mãe, expressa a esperança deles na ressurreição: "É o Criador do mundo que
formou o homem em seu nascimento e deu origem a todas as coisas, que vos
retribuirá, na sua misericórdia, o espírito e a vida..." (2 Macabeus
7,23).
Dessa
maneira, este texto, assim como outros (Salmo 73,23; Isaías 26,19; Oseias
6,1-3), nos revelam um Deus que é fiel à aliança que fez com seu povo, e essa
fidelidade é salvadora. Por isso, os justos, aqueles/as que vivem conforme a
sua lei, não conheceram a corrupção, senão a vida em plenitude que Deus lhes
dará em recompensa.
Jesus
se situa em continuidade a esta fé. Tomando as palavras de Moisés, afirma sua
crença num Deus que "não é Deus de mortos, mas de vivos, pois todos vivem
para ele".
Ele
conhece o amor de seu Pai a cada uma de suas criaturas e sabe também que esse
amor criador, incondicional, é mais forte que a morte, a ponto de ele mesmo
chegar a proclamar: "Eu sou a ressurreição e a vida, quem acredita em mim,
mesmo que morra, viverá" (João 11,22).
O
texto de hoje quer também esclarecer o conceito de ressurreição. Podemos fazer
uma parada e nos perguntarmos qual é nossa ideia sobre a ressurreição dos
mortos.
A
pergunta dos saduceus a Jesus se baseia na lei judaica do levirato, que buscava
proteger a viúva (Deuteronômio 25,5-10). Quando o homem morre sem deixar
filhos, seu irmão deve tomar sua mulher para cuidar e também gerar prole.
Então, "na ressurreição, de quem a mulher vai ser esposa?".
Esta
pergunta desenha um imaginário errôneo de ressurreição como repetição desta
vida, anulando a novidade que a ressurreição cria, gera, não regida mais pelas
leis físicas ou biológicas, senão pelo amor de Deus no qual a criatura
ressuscitada participa. Isso não quer dizer que a pessoa, ao ressuscitar, perde
sua identidade, diluindo-se na presença de Deus.
Ao
contrário! Assim como Jesus, ao ressuscitar, alcança sua plenitude humana, seus
irmãos e irmãs que morrem, ao ressuscitar, não perdem sua identidade, continuam
sendo eles/as e seu mundo de relações que os/as definem, mas de uma maneira
mais plena, total, que transcende as barreiras do tempo e do espaço.
O
teólogo espanhol Andrés Torres Queiruga, refletindo sobre a afirmação de Jesus
de que na ressurreição os homens e as mulheres "não se casarão mais,
porque não podem mais morrer, pois serão como os anjos", considera que
estas palavras não anunciam uma vida abstrata ou despersonalizada.
Antes,
elas aludem à plenitude do novo modo de existência, em que o amor, porque
estará livre do egoísmo, não se submeterá à rivalidade e à exclusão. Os
vínculos e o amor se conservarão, mas já não se limitarão à vida e às relações,
mas se expandirão para alegria de todos.
Assim
sendo, o evangelho de hoje é um convite a renovar nossa fé no Deus da vida, que
fez de seu filho Jesus o primogênito dos que ressuscitam dos mortos, criando
para nós o caminho da vida eterna.
Crer
na ressurreição de Jesus nos leva a crer na nossa própria ressurreição, a
celebrar a vida nova de nossos mortos e a esperar ativamente nos encontrarmos
todos e todas no banquete eterno, onde todos, sem exceção, nos sentaremos na
mesma mesa dos filhos e filhas de Deus.
Fonte: http://www.cebi.org.br
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