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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A vocação do Carmelita

Frei Tito Brandsma, Carmelita Mártir da 2ª Guerra Mundial.
           
          A Ordem do Carmo (segundo a Institutio Primorum Monachorum) "tem uma dupla finalidade. A primeira se alcança pelo esforço e contínuos exercícios, com a ajuda da graça de Deus. Consiste em oferecer a Deus um coração santo e purificado de toda mancha do pecado. A segunda é concedida à pessoa como dom gratuito de Deus. Consiste em experimentar a ação da presença de Deus em toda a sua grandeza e beleza".
            Incluída na vocação à Ordem do Carmo está a vocação à vida mística como um dom de Deus. Esse dom Deus oferece às pessoas, se tiverem o coração aberto para Ele se forem receptivas diante da sua extraordinária ação gratuita. Trata-se de uma vocação e eleição muito acentuadas por João de São Sansão. O que deve, em primeiro lugar, preocupar a todos os que foram chamados para a Ordem é não pôr obstáculos a essa ação gratuita de Deus em nós. Para o Carmelita é necessário trabalhar, estudar, anunciar a Palavra de Deus e fazer pastoral, mas essas atividades todas não podem nunca pôr em risco a relação de intimidade com Deus. Esta é a sua primeira e mais alta vocação, que por nenhuma outra poderá ser desfeita. Primeiro deve-se colocar esta base e sobre ela construir. Daí decorre a exigência do Senhor de que, desde a sua entrada para a Ordem, os noviços se dediquem à vida espiritual íntima e profunda, abrindo-se inteiramente à ação de Deus, e não sejam admitidos a outras atividades sem terem antes lançado esta base, que lhes possibilite enfrentar as distrações, que surjam das atividades.

Fazer com grandeza as coisas pequenas de cada dia
            Não fomos chamados a fazer coisas grandiosas e elogiáveis: seria contra a simplicidade, que nos caracteriza. A nossa missão é fazer com grandeza as coisas de cada dia, isto é, com intenção pura e envolvimento de toda a nossa personalidade. Não temos o desejo de ficar nas primeiras fileiras e receber aplausos pelos nossos serviços. Só queremos distinguir-nos pela simplicidade nossa e pela sinceridade. Certa vez disse o Cardeal Gasquet, a respeito dos Carmelitas, que eles se distinguem pela sua maneira de apresentar-se natural e sincera, sem artificialismos. Vejo isto como a coisa mais bonita que se possa afirmar sobre o nosso modo espiritual de ser e sobre o nosso apostolado junto ao povo.

"Introduzi-vos eu na terra do Carmelo" (Jr 2,7).
            Como irmão de Nossa Senhora do Monte Carmelo, gostaria de introduzir na terra do Carmelo todo aquele que ama Nossa Senhora e A venera, para ser acompanhado por Ela, o Esplendor do Carmelo, e chegar a uma união íntima com Deus, que é o objetivo da vida contemplativa do Carmelo. "Introduzi-vos eu na terra do Carmelo, para comerdes dos seus frutos e das suas coisas melhores" (Jr 2,7).
            Há quase mil anos atrás os Cruzados partiram para a Terra Santa a fim de reconquistá-la para Jesus, restaurar o seu culto e recuperar para a Igreja os Santos Lugares. Nós também somos Cruzados. Nós também queremos recuperar a Terra Santa, que uma vez pertenceu a Jesus, não aquela terra distante, mas a terra santa da nossa alma, o jardim do nosso coração, que uma vez foi consagrado a Jesus e a Ele pertence, mas por descuido nosso é invadido pelos vários inimigos da Cruz de Cristo. Permita Deus que nos anime o mesmo entusiasmo que outrora fez os Cruzados abandonar as suas casas e as suas cortes, para se colocarem inteiramente a serviço do seu ideal. Deus chama! "Deus o quer!"
            Jacques de Vitry conta-nos na sua história dos Cruzados, de quem foi contemporâneo, que alguns deles se retiraram para o Carmelo e ali começaram a viver nas grutas e, como abelhas zelosas, fabricavam o mel da meditação sobre os mistérios da nossa salvação acontecidos na Terra Santa. Em torno do santuário de Maria uniam-se em contemplação silenciosa das sublimes verdades reveladas. Seguindo o exemplo deles, vamos nós também entrar na solidão do Carmelo para em nossa vida meditar sobre os mistérios da fé. Em redor do santuário de Maria ajoelhemo-nos e recolhamo-nos para fabricarmos, por nossa vez, o puro mel da meditação dos mistérios da fé.

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