A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 12,38-44 que corresponde ao 32º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Eis o texto
O contraste entre as duas cenas não pode ser mais intenso. Na primeira, Jesus coloca as pessoas em guarda face aos dirigentes religiosos: “Cuidado com os letrados!”, o seu comportamento pode fazer muito mal. Na segunda, chama os seus discípulos para que tomem nota do gesto de uma viúva pobre: as pessoas simples podem ensinar-lhes a viver o Evangelho.
É surpreendente a linguagem dura e certeira que Jesus emprega para desmascarar a falsa religiosidade dos escribas. Não pode suportar a sua vaidade e o seu afã de ostentação. Procuram se vestir de modo especial e ser saudados com reverência para se sobressair em relação aos outros, impor-se e dominar.
A religião serve-lhes para alimentar a fatuidade. Fazem “longas orações” para impressionar. Não criam comunidades, pois se colocam acima de todos. No fundo, só pensam em si mesmos. Vivem aproveitando-se das pessoas débeis a quem deveriam servir.
Marcos não recolhe as palavras de Jesus para condenar os escribas que havia no Templo de Jerusalém antes da sua destruição, mas colocar em guarda as comunidades cristãs para quem escreve. Os dirigentes religiosos devem ser servidores da comunidade. Nada mais. Se o esquecem, são um perigo para todos. Há que reagir para que não façam mal.
Na segunda cena, Jesus está sentado frente à arca das oferendas. Muitos ricos vão lançando quantias importantes: são os que sustentam o Templo. De repente aproxima-se uma mulher. Jesus observa que lança duas pequenas moedas de cobre. É uma viúva pobre, maltratada pela vida, só e sem recursos. Provavelmente vive mendigando junto ao Templo.
Comovido, Jesus chama rapidamente os Seus discípulos. Não devem esquecer o gesto desta mulher, pois, mesmo estando a passar necessidades, “depositou tudo o que tinha para viver”. Enquanto os letrados vivem aproveitando-se da religião, esta mulher desprende-se de tudo pelos outros, confiando totalmente em Deus.
O seu gesto mostra-nos o coração da verdadeira religião: confiança grande em Deus, gratidão surpreendente, generosidade e amor solidário, simplicidade e verdade. Não conhecemos o nome desta mulher nem o seu rosto. Só sabemos que Jesus viu nela um modelo para os futuros dirigentes da sua Igreja.
Também hoje, tantas mulheres e homens de fé simples e coração generoso são o melhor que temos na Igreja. Não escrevem livros nem pronunciam sermões, mas são os que mantêm vivo entre nós o Evangelho de Jesus. Deles, têm de aprender os presbíteros e os bispos.
Fonte: www.ihu.unisinos.br
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