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quarta-feira, 12 de setembro de 2012

MISSÃO INCULTURADA NOS NOVOS AREÓPAGOS

Frei Tito Figueirôa de Medeiros, O.Carm.
           
         A cultura moderna e a contemporânea, juntamente com o acelerado processo de urbanização e mundialização; a globalização da economia, da informação e das comunicações em geral, o que vem gerando novas maneiras de viver, de ser, de sentir, de trabalhar, ensejando até pretensões de uma nova ética para a sociedade  globalizada, constituem um vasto campo disponível - embora nem sempre aberto, muito ao contrário - para a Evangelização. A exigência do diálogo permanente da  inculturação nestes ambientes não é menos importante, embora seja muito difícil, e até sofrido.
            Apesar da maioria dos nossos religiosos/religiosas virem do meio rural e suburbano pobre, há necessidade de inserção inculturada nos ambientes batizados pelo Papa João Paulo II de “Novos Areópagos” na Redemptoris Missio. Designam eles “os novos ambientes onde o Evangelho deve ser proclamado”[1]. Por seu ponto de referência bíblico (Atos, 17), a expressão deve ser entendida como uma clara dimensão missionária de caráter inculturado, pois Paulo  procura falar não a partir de sua tradição hebraica, mas da cultura grega, levando em consideração a experiência religiosa expressa nos monumentos religiosos de Atenas e citando um poeta grego (cf. Taborda, 1997: 63ss).    “A forma de abordar os areópagos é necessariamente dialogal.”[2]

3.1 - João Paulo II, Puebla e os Novos Areópagos.
Temos elencados na Redemptoris Missio  nove (9) areópagos:
O mundo das comunicações;
O empenho pela paz;
O desenvolvimento e a libertação dos povos, sobretudo das minorias;
A promoção da mulher e da criança;
A proteção da natureza;
O vasto mundo da cultura;
A pesquisa científica;
Os organismos e as convenções internacionais, que discutem temas cruciais para a vida humana: a economia, a política, a cultura, a pesquisa, a ecologia e meio ambiente, etc;
O ressurgimento religioso contemporâneo.
            Na exortação Vita Consecrata, o Papa fala de areópagos que têm tido relação com a missão de muitos Institutos e/ou atividades a eles ligadas, como sejam:
A educação
A cultura; 
A vida acadêmica: a universidade;
Os meios de comunicação social.
            O Documento de Puebla, sem utilizar a expressão de Atos 17, estimula os religiosos e religiosas a atingirem, com a sua ação evangelizadora, quatro ambientes socioculturais ligados à Modernidade:
            Os da cultura, da comunicação social, da promoção humana - já elencados acima - e o da arte.[3]. Naturalmente, não temos aqui ainda referências à inculturação, mas podemos dizer que ela já vai tendo seu anúncio preparado, pelo teor do texto.

3. 2 - Critérios válidos para todos os modernos Areópagos
            Conforme Pe. Taborda, “uma condição imprescindível para a Igreja ter acesso aos modernos areópagos são a liberdade e a autenticidade de sua fé cristã em permanente diálogo com as novas causas da humanidade e suas preocupações. Só aceitando a maioridade do mundo moderno [...] será possível o acesso aos novos areópagos para ajudar a desenvolver aí, desde dentro, uma visão crítica permanente, baseada nos  valores éticos e humanos que são do Evangelho, mas que estão presentes em outras religiões e sistemas de pensamento político, filosófico, ou social. O acesso aos areópagos implica a renúncia definitiva a cristianizá-los. A aceitação do pluralismo é básica para sua evangelização.” (Taborda, 1977: 64).
            Esses princípios valem para todos os tipos de areópagos da modernidade contemporânea. O diálogo da inculturação, como foi dito acima, dificilmente encaminhará esses interlocutores à Igreja Católica institucional, embora não descartemos as conversões. No entanto, a união nossa com eles em torno das causas e interesses mais importantes para a Humanidade, e das lutas comuns por políticas e programas internacionais mais de acordo com o Plano de Deus, a fim de que os valores do Reino possam começar a acontecer já neste mundo, vão permear de Evangelho essas tarefas e essa ação comunicativa conjuntas.

4.  A TERCEIRA IDADE
            É isso mesmo! A chamada terceira idade  está sendo considerada um fato novo no Brasil contemporâneo, embora constituída de gente “antiga” em anos vividos. Diversos fatores socioculturais estão fazendo crescer a importância dessa faixa etária, no país. São eles:
o aumento do número de idosos, conseqüência do crescimento da expectativa média de vida, entre nós, embora em níveis desiguais, de Região para Região;
o dado estatístico, que já dura de dez a doze anos, indicando a faixa etária de 14 a 39 anos como a de maior número de mortes, no Brasil, por vários fatores: trânsito,[4] drogas, chacinas, aids, e outros;
com tudo isso, a terceira idade vem despertando entre nós o interesse da mídia, das agências de viagens, do turismo, das pesquisas e das Ciências Sociais e Humanas, em geral;
multiplicam-se, no Brasil, os movimentos e grupos da Terceira Idade, organizados pelos próprios idosos, constituindo inclusive um novo campo de militância política e social para muitos deles, como as “associações de aposentados”.

Tais ocorrências têm respaldo internacional. Enumero algumas:
a importância mundial dada hoje às “histórias de velhos”, na literatura, nas artes[5] e Ciências Sociais, à memória, às lembranças e reminiscências, às biografias e autobiografias;
o desenvolvimento de um mercado consumidor próprio para esta idade.

Em quê precisamente, e como inculturar-se?
 Através dos idosos e idosas dos Institutos principalmente, que tenham condições físicas de participar dos movimentos de Terceira Idade existentes ou que tenham carisma para criar novos grupos.
Tais movimentos são às vezes muito superficiais e ficam quase só no aspecto festivo; daí a necessidade de introduzir temas e preocupações evangelizadoras.
Muitas pessoas estão nestes grupos buscando preencher sua solidão em relação à própria família e à sociedade em geral. Daí que existe uma disposição para receber “palavras de Vida Eterna”.
A convivência com pessoas realizadas, participantes destes grupos, fará muito bem aos religiosos idosos e idosas. Haverá uma troca de experiências de vida estimulante sobre aquilo que se reza no Salmo 131:  “dentro de mim tudo se acalmou. A paz  e  a  quietude  vieram  para  ficar”...
 
] Rmi, no 37.
[2] Taborda, Ibidem,  p. 64 (cf. Referências Bibliográficas).
[3] Cf. Documento de Puebla, no 770.
[4] Estes dados eram válidos até a entrada em vigor do novo Código Nacional de Trânsito, o que já tem demonstrado, felizmente,  uma diminuição sensível de acidentes. Vamos aguardar a próxima estatística anual.
[5] Só para citar um exemplo recentíssimo: a veterana atriz Gloria Stuart, de 87 anos, a velhinha que rememora os amores e o naufrágio, no filme Titanic,  premiada pela Associação Americana de Atores no mês de março e indicada para o Oscar de melhor Atriz-Coadjuvante. 

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