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sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

AMAR A VIDA: Frei Petrônio.

*Sebastião: testemunha de Cristo

Orani João, Cardeal Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

No próximo dia 20 de janeiro teremos a graça de celebrar o padroeiro de Nossa Arquidiocese, São Sebastião. O Santo é padroeiro da Cidade e do Estado do Rio de Janeiro. São Sebastião é um dos santos mais famosos entre o povo brasileiro. Por causa de sua poderosa intercessão e incontáveis milagres obtidos, ele se tornou padroeiro de muitas cidades, e outras tantas cidades e bairros por todo o Brasil receberam o nome de São Sebastião. Nossa Arquidiocese se prepara para esta grande festa, com a Trezena de São Sebastião, que neste ano o contempla como “padroeiro das famílias cariocas”, além de nos ensinar a ser solidários com os necessitados, com o incremento das arrecadações da caridade social em todas as paróquias.
A fortaleza para superar os diferentes tipos de dificuldades e situações foi um traço que marcou a vida de São Sebastião, e ele nos anima a ter o mesmo espírito de confiança total em Deus e audácia cristã para fazer da vida uma caminhada segura rumo à felicidade.
São Sebastião (256-288) nasceu na França e logo foi com os pais para Milão, na Itália. Nas terras italianas cresceu na fé cristã, e ficou famoso como valente soldado e depois capitão da guarda do imperador Romano. Os cristãos eram perseguidos na época e muitos foram presos e martirizados, porém, só aos poucos as pessoas souberam que São Sebastião era cristão e, enquanto isso, ele conseguiu ajudar muitas pessoas presas por seguirem o Cristianismo, diminuindo as penas, dando alimento e animando a perseverarem na fé em Cristo, mesmo que isso implicasse o martírio.
Na época em que o imperador empreendia a expulsão de todos os cristãos do seu exército, Sebastião foi denunciado por um soldado. Diocleciano sentiu-se traído, e ficou perplexo ao ouvir do próprio Sebastião seu testemunho de que era cristão. Tentou, em vão, fazer com que ele renunciasse ao cristianismo, mas Sebastião com firmeza se defendeu, apresentando os motivos que o animava a seguir a fé cristã, e a socorrer os aflitos e perseguidos.
O Imperador, enraivecido ante os sólidos argumentos daquele cristão autêntico e decidido, deu ordem aos seus soldados para que o matassem a flechadas. Tal ordem foi imediatamente cumprida: num descampado, os soldados despiram-no, amarraram-no a um tronco de árvore e atiraram nele uma chuva de flechas. Depois o abandonaram para que sangrasse até a morte.
Irene, mulher do mártir Castulo, foi com algumas amigas ao lugar da execução, para tirar o corpo de Sebastião e dar-lhe sepultura. Com assombro, comprovaram que o mesmo ainda estava vivo. Desamarraram-no, e Irene o escondeu em sua casa, cuidando de suas feridas. Passado um tempo, já restabelecido, São Sebastião quis continuar seu processo de evangelização e, em vez de se esconder, com valentia apresentou-se de novo ao imperador, censurando-o pelas injustiças cometidas contra os cristãos, acusados de inimigos do Estado.
Diocleciano ignorou os pedidos de Sebastião para que deixasse de perseguir os cristãos, e ordenou que ele fosse espancado até a morte, com pauladas e golpes de bolas de chumbo. E, para impedir que o corpo fosse venerado pelos cristãos, jogaram-no no esgoto público de Roma. Uma piedosa mulher, Santa Luciana, resgatou o corpo do santo e o sepultou nas catacumbas. Isso aconteceu no ano de 287. Mais tarde, no ano de 680, suas relíquias foram solenemente transportadas para uma basílica construída pelo Imperador Constantino, onde se encontram até hoje. 
São Sebastião é um exemplo de coragem ante os obstáculos da vida e fidelidade mesmo diante das contrariedades e perseguições. É interessante notar o seu empenho em fazer o bem ocultamente, aproveitando todas as circunstâncias para semear alegria, consolo e ânimo para as pessoas próximas, mesmo sabendo que quando fosse descoberto poderia ter complicações. São Sebastião também pode ser reconhecido por sua prontidão em fazer a Vontade de Deus e enorme espírito de serviço, pois após recobrar a saúde ele se volta para os outros e quer continuar fazendo o bem, sem achar que já fez muito na vida e que agora precisa repousar.
Ao olhar para São Sebastião, que sofreu e morreu, lembramos que ele seguiu o caminho de Cristo que sofreu, morreu e venceu a morte. No acontecimento Salvífico da Sexta-feira Santa no Calvário, traduz-se profundamente o amor de Deus pela humanidade. Ali se dá a realização do sonho de Deus por cada um dos Seus filhos. Dando-Se por amor, Ele traz o céu à terra e nos resgata de nossas misérias. É em torno de nossas misérias que o amor de Deus age e se realiza.
São Sebastião tornou-se defensor da Igreja como soldado, como capitão e ainda como apóstolo daqueles que eram presos. Também foi apóstolo dos mártires, os que confessavam Jesus em todas as situações, renunciando à própria vida. O coração de São Sebastião tinha esse desejo: ser cristão até o fim de seus dias. E quando denunciado como cristão, lá estava ele diante do imperador. Mas nosso santo deixou claro, com muita sabedoria, auxiliado pelo Espírito Santo, que mesmo sendo um bom soldado era um cristão convicto.
São Sebastião é exemplo de homem que foi coerente com a fé católica. Por consequência, tendo a coragem de dizer que a Vida é inalienável, desde a concepção até o seu termo natural, e que os símbolos de nossa fé não podem se curvar diante dos Imperadores de plantão. 
Socorrei-nos, glorioso Mártir São Sebastião, para que saibamos ser anunciadores da misericórdia e da verdade. Que saibamos viver o santo Evangelho de cada dia.

Solidariedade às famílias nas terras de São Sebastião

Dom Orani, Cardeal Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ 

Na mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, o Papa Francisco anunciou o princípio da missão de um novo dicastério: “No dia 1º de janeiro de 2017, nasce o novo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que ajudará a Igreja a promover, de modo cada vez mais eficaz, «os bens incomensuráveis da justiça, da paz e da salvaguarda da criação» e da solicitude pelos migrantes, «os necessitados, os doentes e os excluídos, os marginalizados e as vítimas dos conflitos armados e das catástrofes naturais, os reclusos, os desempregados e as vítimas de toda e qualquer forma de escravidão e de tortura». Toda a ação nesta linha, ainda que modesta, contribui para construir um mundo livre da violência, o primeiro passo para a justiça e a paz”. A preocupação com a situação de exclusão e pobreza tem sido constante do Papa Francisco.
Temos que fomentar essas virtudes que, juntamente com a salvação, nos ajudam a servir bem a Deus e ao próximo. A grande virtude é o amor e a caridade. A caridade leva-nos a compreender, a desculpar, a conviver com todos, de maneira que aqueles que pensam ou atuam de um modo diferente do nosso em matéria social, política ou mesmo religiosa, devem ser objeto também do nosso respeito e do nosso apreço. Esta caridade e esta benignidade não se devem converter, de forma alguma, em indiferença no tocante à verdade e ao bem; mais ainda, a verdade que salva. Mas é necessário distinguir entre o erro, que sempre deve ser evitado, e o homem que erra, pois este conserva a dignidade da pessoa mesmo quando está dominado por ideias falsas, insuficientes em matéria religiosa.
A caridade incita-nos à oração, à exemplaridade, ao apostolado, à correção fraterna, confiando em que todo o homem é capaz de retificar os seus erros. Se vez por outra as ofensas, as injúrias, as calunias forem particularmente dolorosas, pediremos ajuda a Nossa Senhora, que contemplamos frequentemente ao pé da Cruz, sentindo muito de perto todas as infâmias contra o seu Filho; grande parte daquelas injúrias, não o esqueçamos, saíram dos nossos lábios e das nossas ações. Os agravos que nos fazem hão de doer-nos, sobretudo pela ofensa a Deus que representam e pelo mal que podem ocasionar a outras pessoas, e hão de mover-nos a desagravar a Deus e a oferecer-lhe toda a reparação que pudermos.
O coração do Cristão tem de ser grande. A sua caridade, evidentemente, deve ser ordenada e, portanto, deve começar pelos mais próximos, pelas pessoas que, por vontade divina, estão à sua volta. No entanto, o seu afeto nunca pode ser excludente ou limitar-se a âmbitos reduzidos. O Senhor não quer um apostolado de horizontes estreitos. A atitude do Cristão, a sua convivência com todos, deve ser como uma generosa torrente de carinho sobrenatural e de cordialidade humana, que banha tudo à sua passagem.
As cartas do Apostólo João insistem no mesmo aspecto catequético, e, com clareza apostólica, afirmam que aquele que diz amar a Deus e não amar a seus irmãos é um mentiroso. E continuam: que é muito fácil proclamar que amamos a Deus, a quem não vemos, mas se desprezamos os irmãos que estão a nosso lado, onde está a caridade, onde está o amor? (1Jo.4,20).
São Paulo, na sua Carta aos Coríntios (Coríntios 13), proclama e exalta a caridade. Quase sabemos de cor o texto maravilhoso. Somos levados a interpretar esse hino como o amor ao Pai Celeste. Mas, o apostólo fala da excelência do amor entre os irmãos. Ainda que eu falasse todas as línguas dos anjos, ou tivesse toda a ciência, sem a caridade seria um bronze que soa e cujo som se perde nas quebradas dos montes. Logo a seguir nos ensina em que consiste a caridade: na paciência, na humildade, no fazer o bem, na longanimidade, na partilha da dor e da alegria com os irmãos, no perdão tão difícil. E conclui pela perenidade do amor e da caridade. Tudo cessa quando vier a perfeição, exceto a caridade, pela qual seremos medidos.
Documentos não faltam para colocar em pauta que a consequência do amor a Deus e ao próximo é a caridade, que se concretiza em ações de quem ama o seu próximo. Na festa de São Sebastião sempre temos a ação social, com o recolhimento de alimentos para os necessitados. Em geral, o fazemos na procissão, porém, dependendo da ocasião, durante toda a Trezena.
A própria Trezena marca esse gesto com algumas visitas específicas a locais que estão ligados à caridade social: teremos, ao longo destes treze dias em que festejamos o nosso padroeiro, várias visitas em basílicas, paróquias e capelas, mas teremos as visitas que marcam a questão social e caritativa. São elas: casa Betânia - Asilo Orionita, hospital Federal de Bonsucesso, Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Hospital HFAG, Casa Gerontológica da Aeronáutica, Centro de sócioeducação Dom Bosco – DEGASE, Centro de sócioeducação Prof. Antônio Carlos Gomes da Costa – DEGASE, Escola João Luís Alves, Hospital da Gamboa, Santa Casa de Misericórdia, Hospital Naval Nossa Senhora da Glória, Associação Beneficente São Martinho, Inca (Instituto Nacional do Câncer), Hospital Central do Exército, Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), Casa de Idosos Socorrinho, Hospital Mario Kroeff, Casa Geriátrica, Hospital São Vicente, Hospital da PMERJ, Educandário Santo Expedito, DEGASE, Presídio Talavera Bruce (feminino), Complexo Penitenciário de Gericinó, Comunidade das Irmãs de Calcutá, Hospital Marcílio Dias, Secretaria de Segurança Pública e Missa na Casa do Padre.
Portanto, queremos que estes dias da Trezena sejam marcados pela celebração e sejam assim ressaltadas três atitudes: o amor, a misericórdia e a caridade. É claro que, ao exercitarmos estas três atitudes, aumenta em nós o dom da fé. Que São Sebastião nos ilumine nesta caminhada da Trezena e nos ajude a plantar o amor, a viver a misericórdia e a testemunhar vivamente a caridade. 
Ao iniciar a Trezena, lançaremos a Campanha de Solidariedade Especial, na qual pedimos o incremento das ofertas para a caridade social às paróquias para fazer frente às novas situações de necessidades que grassam em nossa cidade, como a questão do desemprego, a falta de pagamento dos salários, além das situações de miséria já existentes. “Somos solidários como São Sebastião”, que não hesitou de visitar os cárceres para ajudar os cristãos perseguidos. Agora é necessário esse socorro especial para minimizar a crise pela qual passam as pessoas. A Caritas da Arquidiocese coordenará esse trabalho. Cada Paróquia arrecada e distribui as cestas básicas para as pessoas que as necessitam em seu âmbito paroquial. O dinheiro depositado na conta da Caritas e a arrecadação da procissão de São Sebastião irão para algumas entidades que distribuem alimentos para os que o necessitam hoje.
Dessa forma, a nossa resposta capilarizada através das paróquias ajudará a tantas pessoas que passam por angústias diante da situação pessoal ou familiar. É uma tradição de a Igreja ir ao encontro das pessoas para socorrê-las. E isso sem distinção de religião ou situação familiar.
Dessa forma, a missão popular na festa de nosso padroeiro – “São Sebastião, padroeiro das famílias cariocas” – vai desabrochar e aumentar a dimensão com a solidariedade dos cristãos com as pessoas que sofrem, pois “somos solidários como São Sebastião”.

São Sebastião, rogai por nós! Fonte: http://www.cnbb.org.br

20 de janeiro: São Sebastião

Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

Depois de amanhã, dia 20, celebraremos a solenidade do glorioso mártir São Sebastião, padroeiro da Cidade maravilhosa e do nosso Estado do Rio de Janeiro. 
Segundo nos explica Dom Orani João Tempesta, Cardeal Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, ele nasceu em Narbona, uma cidade ao Sul da França, no século III. Era filho de uma família ilustre. Ficou órfão do pai ainda menino, e então, foi levado para Milão por sua mãe, onde passou os primeiros anos da infância e juventude.
A mãe educou-o com esmero e muito zelo. Ele ingressou no exército imperial, e, por sua cultura e grande capacidade atingiu os mais altos graus da hierarquia militar, chegando a ocupar o posto de Comandante do Primeiro Tribunal da Guarda Pretoriana durante o reinado de Diocleciano, um dos mais severos imperadores romanos, perseguidor dos cristãos.
Foi denunciado ao Imperador como sendo cristão. Mesmo sendo um bom soldado romano, suas atitudes demonstravam sua fé cristã, e, diante de todos, confessou bravamente sua convicção. Foi acusado, então, de traição. Na época, o imperador tinha abolido os direitos civis dos cristãos. Por não aceitar renunciar a Cristo, São Sebastião foi condenado à morte, sendo amarrado a um tronco de árvore e flechado. Porém, não morreu ali. Foi encontrado vivo por uma mulher cristã piedosa que tinha vindo buscar o seu corpo. Diante do ocorrido, recuperada a saúde, apresentou-se diante do Imperador e reafirmou sua convicção cristã. E nova sentença de morte veio sobre ele: foi condenado ao martírio no Circo. Sebastião foi executado, então, com pauladas e boladas de chumbo, sendo açoitado até a morte e jogado nos esgotos perto do Arco de Constantino. Era 20 de janeiro. 
Seu corpo foi resgatado e levado para as catacumbas romanas com grande honra e piedade. Sua fama se espalhou rapidamente. Suas relíquias repousam sobre a Basílica de São Sebastião, na via Apia, em Roma. O Papa Caio escolheu-o como defensor da Igreja e da fé. 
Nesses tempos de grande negação da fé e de valores espirituais e religiosos, humanos e sociais, São Sebastião torna-se um grande modelo de ajuda para nós hoje, principalmente aos jovens, envoltos em grande confusão moral e espiritual. Ele é um sinal de fidelidade a Cristo mesmo com as pressões contrárias. Dessa forma, ele continua anunciando Jesus Cristo, por quem viveu, até os dias de hoje. Ele nos ensina a não desanimarmos com as flechadas que recebemos e a continuarmos firmes na fé.

Um mártir não deve ser um estranho para nós. Ainda em pleno século XXI encontramos irmãos e irmãs nossas que são mortos em tantos países, outros têm ainda seus direitos civis cassados por serem cristãos, outros são condenados à prisão ou à morte por aderirem ao Cristianismo, e ainda são expulsos de suas cidades e suas igrejas queimadas. Além disso, muitos são martirizados em sua fama, em sua honra e tantas outras maneiras modernas de “matar” pessoas por causa da fé ou de suas convicções cristãs. Fonte: http://www.cnbb.org.br

domingo, 15 de janeiro de 2017

Íntegra da homilia do Papa Francisco feita na missa de Aparecida

Papa falou sobre os jovens e lembrou ida à cidade, em conferência de 2007.
Milhares acompanharam missa no Santuário Nacional, no interior de SP.

Leia a íntegra do discurso a seguir:
"Venerados irmãos no episcopado e sacerdócio, queridos irmãos e irmãs!
(Quarta-feira, 24 de julho de 2013)

Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério.
Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano.
Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo"
Papa Francisco
Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de Igreja.
E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.
Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um país e de um mundo mais justo, solidário e fraterno.
Para tal, gostaria de chamar atenção para três simples posturas: conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.
Conservar a esperança: A segunda leitura da missa apresenta uma cena dramática: uma mulher, figura de Maria e da Igreja, sendo perseguida por um dragão – o diabo – que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo.
Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados!
Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar a esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer.
Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade.
Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo.
Neste santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.
A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Paraíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus!
Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.
A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria.
O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura. Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados.
O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui, neste santuário: “o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”.
Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ele nos pede: “Fazei o que Ele vos disser”. Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja."



sábado, 14 de janeiro de 2017

CORDEIRO DE DEUS: Frei Petrônio

ZYGMUNT BAUMAN: Dos impasses da solidão em rede

"Para Bauman, a promessa de que a riqueza acumulada pelos que estão no topo chegaria aos que se encontram mais abaixo é uma grande mentira", escreve Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul, publicada por Sul21, 09-01-2017.


Eis o artigo.
Zygmunt Bauman concedeu recentemente entrevista ao El País (09/01), publicada sob a designação “As redes sociais são uma armadilha”. O título da matéria não faz justiça ao seu verdadeiro conteúdo, que refere ao 15-M da Espanha dos “indignados”, de maio de 2011. À época, estes movimentos, através de mecanismos de democracia direta, ainda exploravam exclusivamente esta forma de participação, não de forma combinada, mas “contra” as instâncias políticas tradicionais.
A chamada “classe política” espanhola, no período, estava dividida entre os remédios neoliberais do Partido Popular e a moderação liberal-centrista do Partido Socialista Espanhol, que, ao fim ao cabo -quando no poder- governava de maneira mais ou menos idêntica ao seu tradicional adversário de direita. A maioria dos protagonista do 15-M organizou-se, politicamente, num novo Partido, o “Podemos”, cuja fundação reordenou a democracia espanhola, dando a ela uma nova vitalidade. Foi uma conquista das redes: o “virtual” fez as pessoas se encontrarem no mundo “real” das ruas e construírem, pelas suas mãos e cérebros, um novo protagonismo político, fundado na transação de afetos e idéias, de forma direta entre as pessoas.
Entre diversas preciosidades e formulações doutrinárias deste grande intelectual do nosso tempo, duas me chamaram atenção pelo poderoso apelo à reflexão que incitam, neste mundo trágico e demente que vivemos: 1. “O 15-M, de certa forma, foi uma explosão de solidariedade, mas as explosões são potentes e breves”. 2. “O poder se globalizou, mas as políticas são tão locais quanto antes (…) a política tem as mãos cortadas(…) as instituições democráticas não foram estruturadas para conduzir situações de interdependência”. Bauman é o mesmo que, em várias oportunidades, sustentou que a “promessa de que a riqueza acumulada pelos que estão no topo chegaria aos que se encontram mais abaixo é uma grande mentira!”.
A perda do sentido da identidade, num mundo cada vez mais individualista, proporcionou que a vida coletiva em “rede” se tornasse uma forma de compensar a ausência da comunhão real entre pessoas. O que as redes sociais geram, todavia – adverte Bauman – é um “substituto” comunitário, não uma comunidade verdadeiramente humana. Esta, de forma autêntica, só é construída por sucessivos laços identitários de convívio, tanto no cotidiano como na história. É verdadeiro que nas “redes” – ainda segundo Bauman – os indivíduos se sentem um pouco melhor, “porque a solidão é a grande ameaça nestes tempos individualistas”, mas nelas (redes) é possível “deletar”, tanto o contato imediato que pede mais tolerância, como aquela interlocução que não agrada, porque vem do “diferente”: a tolerância, porém, é a qualidade humana mais elevada e a identidade humana verdadeira, só pode existir pelo contraste da diferença e das suas lições.
A contradição entre as necessidades locais e regionais e as questões políticas e econômicas globais, estão expostas todos os dias nas guerras pelo poder sobre as fontes de energia fóssil, na luta sem quartel pelos derradeiros territórios agricultáveis e pelo controle das reservas aquíferas do planeta. A crise é ascendente, porém, não por um adquirido sentido de maldade dos seres humanos, mas porque o capital precisa radicalizar as formas de controle destas riquezas naturais, visando a continuidade equilibrada do funcionamento da economia dos grandes países industrializados. Especialmente dos que devem ser reiteradamente financiados, para não sucumbir como nação.
É o caso dos EUA, cujo “buraco negro” do seu Tesouro explodiria se a China – quem diria – subitamente deixasse de comprar os seus papéis. “O insaciável apetite da América” pelo financiamento da sua dívida – disse um filósofo – é, ao mesmo tempo que um passivo permanente, um ativo gigantesco: a “não explosão” de quem faz a pauta militar do mundo é o que dá sentido “comunitário” a sua liderança (manipulatória), que proporciona a proteção contra o inimigo comum, o “diferente”, que por escassez de meios, ainda mantém as suas reservas estratégicas de petróleo, terra e água para serem exploradas pelos mais fortes.
As “explosões de solidariedade” são importantes e fixam novos parâmetros para fazer política. E “fazer política” significa criar mediações, dentro da ordem, se o regime é democrático, e contra ela – se ele deixa de ser democrático. O objetivo é dirigir o Estado de forma legítima para responder às maiorias, combater a pobreza, a miséria, o crime, a insegurança, a solidão e a insanidade, numa sociedade compartimentada e egoísta. Mas as explosões de solidariedade na luta contra a extorsão do futuro – encomendada pelas reformas “liberais” – são breves e impotentes, se não se transformam em organização, programa, tática e estratégia.
É fundamental levar em consideração que os confrontos de interesse entre classes e entre os projetos de nação, hoje, tem duas determinações históricas que exigem a recriação dos movimentos emancipatórios, num contexto universal muito mais complexo do que no século passado: primeiro, a nação só é passível de ser construída, hoje, com interdependência consciente, na qual não se abdica da soberania, mas esta assimila a interdependência; segundo, as “redes”, eternamente reproduzidas como aproximação virtual entre os sujeitos, só reforçarão a solidão e o isolamento -propício para o amortecimento da criatividade humana- caso as relações entre pessoas e grupos não transcendam para espaço democrático de rua e para as instâncias políticas do Estado.

Um dos limites mais graves e autoritários dos projetos socialistas revolucionários do passado, foi o não reconhecimento – na própria construção da nova sociedade – que ela deveria ser um abrigo de formas diversificadas, “belas e livres” de “convivência humana”, passado o período da agressão do nazi-fascismo. “E são belas e livres” – como diz Agnes Heller – “todas as formas as quais a comunidade não obstaculiza, mas antes favorece o desenvolvimento multilateral harmonioso das faculdades e dos carecimentos humanos.” Dentro da crise e do caos é que se reconstroem as mais belas utopias e as energias para revidar à brutalidade e à desumanidade. Chacinas e como a de Campinas ocorrem todos os dias, em todos os lugares do planeta. Mas a carta que a justifica e exalta é um sintoma de doença grave, tanto do indivíduo que foi o seu autor, como da sociedade que o gerou. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

DIA 14: QUEM PRECISA DE CONVERSÃO?

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Papa aos jovens: ouçam a voz de Deus, construam um mundo melhor

Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco enviou uma carta aos jovens, nesta sexta-feira (13/01), de apresentação do documento preparatório do Sínodo dos Bispos de 2018.
O Pontífice inicia a carta manifestando sua alegria de anunciar aos jovens que, em outubro de 2018, se realizará a 15ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. 
O documento preparatório foi apresentado, esta manhã, na Sala de Imprensa da Santa Sé. Um dos objetivos do texto é encontrar as melhores maneiras para acompanhar os jovens a reconhecer e acolher o chamado à vida plena e anunciar o Evangelho de maneira eficaz.
A carta dá início a uma fase de estudo da parte do Povo de Deus. É endereçada às Conferências Episcopais, aos Conselhos dos Hierarcas das Igrejas Orientais Católicas, aos departamentos da Cúria Romana e à União dos Superiores Gerais. Espera-se também a participação dos jovens através de um site.
O Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Lorenzo Baldisseri, abriu a coletiva com os jornalistas apresentando a estrutura do documento que tem como objetivo recolher informações sobre a atual condição sociocultural dos jovens de 16 a 29 anos, nos vários contextos em que vivem, a fim de entendê-la, em vista dos passos preparatórios sucessivos para a assembleia dos bispos. 
O texto é dividido em três partes: ver a realidade, a importância do discernimento, e ação pastoral da comunidade eclesial. A Igreja deseja acompanhar os jovens na descoberta e realização de sua vocação.
“Deve ser esclarecido que o termo vocação deve ser entendido no sentido amplo e diz respeito a grande variedade de possibilidade de realização concreta da própria vida na alegria do amor e na plenitude decorrente do dom de si a Deus e aos outros. Trata-se de encontrar a forma concreta em que esta realização plena possa se realizar através de uma série de escolhas, que articulam estado de vida, matrimônio, ministério ordenado, vida consagrada, etc. profissão modalidade de compromisso social e político, estilo de vida, gestão do tempo e dinheiro, etc”, disse o Cardeal Baldisseri na coletiva.
Completa o documento preparatório um questionário que prevê a coleta de dados estatísticos sobre cada igreja local, a resposta a várias perguntas para entender melhor casa situação e a partilha de boas práticas pastorais em andamento para que possam ser de ajuda a toda a Igreja. 
Os jovens serão plenamente envolvidos nesta fase preparatória através de um site a fim de recolher suas expectativas e vida. 
“O próximo Sínodo não quer somente se interrogar sobre como acompanhar os jovens no discernimento de sua escolha de vida à luz do Evangelho, mas quer também colocar-se à escuta de seus desejos, projetos e sonhos que os jovens têm para sua vida, como também das dificuldades que encontram para realizar o seu projeto a serviço da sociedade à qual pedem para ser protagonistas ativos”, disse o Subsecretário do Sínodo dos Bispos, Mons. Fabio Fabene.
Para envolver os jovens serão criadas várias iniciativas, vigílias de oração, encontros internacionais e concertos. As respostas ao questionário do documento preparatório e as dos jovens serão a base para a redação do Documento de trabalho o Instrumentum laboris, que será o ponto de referência para o debate dos Padres sinodais.
A seguir, a carta do Papa aos jovens.
“Quis que vocês estivessem no centro das atenções, porque os tenho em meu coração. Exatamente hoje foi apresentado o Documento preparatório, que confio também a vocês como «bússola» ao longo deste caminho”. 

Sair
“Vêm-me à mente as palavras que Deus dirigiu a Abraão: «Sai de sua terra, do meio de seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei». Hoje, estas palavras são dirigidas também a vocês: são palavras de um Pai que os convida a «sair» a fim de serem lançados em direção a um futuro desconhecido, mas portador de realizações seguras, encontro ao qual Ele mesmo os  acompanha. Convido-os a ouvir a voz de Deus que ressoa em seus corações através do sopro do Espírito Santo”, ressalta o Papa no texto. 
“Quando Deus disse a Abraão «Sai», o que queria lhe dizer? Certamente, não para fugir de sua família, nem do mundo. O seu foi um convite forte, uma provocação, a fim de que deixasse tudo e partisse para uma nova terra. Qual é para nós hoje esta nova terra, a não ser uma sociedade mais justa e fraterna que vocês almejam profundamente e desejam construir até às periferias do mundo?” 
“Mas hoje, infelizmente, o «Sai» adquire também um significado diferente. O da prevaricação, da injustiça e da guerra. Muitos de vocês, jovens, estão submetidos à chantagem da violência e são forçados a fugir de sua terra natal. O seu clamor sobe até Deus, como o de Israel, escravo da opressão do Faraó”, destaca o Pontífice. 

Discernir
“Recordo-lhes também as palavras que certo dia Jesus proferiu aos discípulos, que lhe perguntavam: «Rabi, onde moras?». Ele respondeu: «Vinde e vede!». Jesus dirige o seu olhar também a vocês, convidando-os a caminhar com Ele.” 
“Queridos jovens, vocês encontraram este olhar? Ouviram esta voz? Sentiram este impulso a pôr-se a caminho? Estou convencido de que, não obstante a confusão e a perturbação deem a impressão de reinar no mundo, este apelo continua ressoando em seu espírito para o abrir à alegria completa. Isto será possível na medida em que, também através do acompanhamento de guias especializados, vocês souberem empreender um itinerário de discernimento para descobrir o projeto de Deus em sua vida. Mesmo quando o seu caminho estiver marcado pela precariedade e pela queda, Deus rico de misericórdia estende a sua mão para os erguer”, sublinha ainda o Papa.
Agir
Na abertura da última Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia, perguntei-lhes várias vezes: «Podemos mudar as coisas?». E vocês gritaram juntos um «Sim!» retumbante. Aquele grito nasce do seu coração jovem, que não suporta a injustiça e não pode submeter-se à cultura do descarte, nem ceder à globalização da indiferença. Escutem aquele clamor que vem do seu íntimo! Mesmo quando sentirem, como o profeta Jeremias, a inexperiência de sua jovem idade, Deus os encoraja a ir para onde Ele os envia: «Não tenha medo [...] pois eu estou com você para protegê-lo».
Constrói-se um mundo melhor também graças a vocês, ao seu desejo de mudança e generosidade. Não tenham medo de ouvir o Espírito que lhes sugere escolhas audaciosas, não hesitem quando a consciência lhes pedir para arriscar a fim de seguir o Mestre. Também a Igreja deseja colocar-se à escuta de sua voz, de sua sensibilidade, de sua fé; até de suas dúvidas e suas críticas. Façam ouvir o seu grito. Deixem ele ressoar nas comunidades e o façam chegar aos pastores. São Bento recomendava aos abades que, antes de cada decisão importante, consultassem também os jovens porque «muitas vezes é exatamente ao mais jovem que o Senhor revela a melhor solução».
“Assim, através do caminho deste Sínodo, eu e os meus irmãos Bispos queremos, ainda mais, «colaborar para a sua alegria». Confio-lhes a Maria de Nazaré, uma jovem como vocês, à qual Deus dirigiu o seu olhar amoroso, a fim de que os tome pela mão e os  guie para a alegria de um «Eis-me!» pleno e generoso”, conclui o Papa. 

NÃO SER CARANGUEJO: Frei Petrônio.

INVESTIR NA VIDA: Frei Petrônio.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

NÃO TER AMIGOS: Frei Petrônio.

Quando uma mãe perde um filho, aproxime-se com lágrimas, não com palavras, diz o Papa.

Nas profundezas do desespero, quando palavras e gestos já não ajudam, chorem com os que sofrem, porque as lágrimas são as sementes da esperança, disse o Papa Francisco.

Quando alguém está sofrendo, "é necessário compartilhar de seu desespero. A fim de enxugar as lágrimas do rosto de quem sofre, devemos nos unir ao seu choro. Esta é a única maneira de as nossas palavras poderem realmente oferecer um pouco de esperança", disse ele, no dia 4 de janeiro, durante sua última audiência pública semanal.
"E se não for possível oferecer estas palavras, de lágrimas, de tristeza, é melhor o silêncio, o carinho, um gesto, sem palavras", disse ele. A reportagem é de Carol Glatz, publicada por Catholic News Service, 04-01-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Em sua primeira audiência pública do ano, o Papa continuou sua série de catequeses sobre a esperança cristã, refletindo a respeito da tristeza inconsolável de Raquel e do luto por seus filhos, que "já não existem", como disse o profeta Jeremias.
O fato de Raquel se recusar a ser consolada "expressa a profundidade de sua dor e a amargura do seu choro", disse o Papa aos que estavam reunidos na Sala Paulo VI do Vaticano.
"Diante da tragédia da perda de seus filhos, uma mãe não suporta palavras ou gestos de consolo, que são sempre insuficientes, sempre incapazes de aliviar a dor de uma ferida que não pode e não quer ser curada", disse ele. A dor, disse o Papa, é proporcional ao amor em seu coração.
Raquel e seu choro, segundo ele, representam cada mãe e cada pessoa ao longo da história que chora uma "perda irreparável".
A recusa de Raquel também "nos ensina o quanto é necessário ter sensibilidade" e a delicadeza com a qual se deve abordar uma pessoa com dor, disse o Papa.
Jeremias mostra como Deus respondeu a Raquel de uma forma amorosa e gentil, com palavras "genuínas, não falsas".
O Papa declarou que Deus responde com uma promessa de que suas lágrimas não são em vão e que seus filhos devem retornar do exílio e então haverá nova vida e esperança.
"Lágrimas geraram esperança. Não é fácil de entender, mas é verdade", disse ele.
"Muitas vezes, em nossa vida, as lágrimas multiplicam a esperança, são sementes de esperança", afirmou Francisco, enfatizando que as lágrimas de Maria ao pé da cruz geraram nova vida e esperança para aqueles que, por meio de sua fé, tornaram-se seus filhos no corpo de Cristo: a Igreja.
Este "Cordeiro de Deus" inocente morreu por toda a humanidade, o que é sempre importante lembrar, especialmente ao se confrontar com a questão de por que os filhos sofrem neste mundo, disse ele.
O Papa declarou que quando as pessoas perguntam-lhe o porquê de tanto sofrimento, ele não tem resposta. "Eu só digo: 'Olhe para a cruz. Deus nos deu a seu filho, que aqui sofreu, e talvez lá você encontre uma resposta."
Nenhuma palavra ou resposta cabível vêm à mente, disse ele, só se pode olhar para o amor que Deus demonstrou ao oferecer seu filho, que ofereceu a sua vida. Isto pode levar a algum caminho de consolo.
A palavra de Deus é a palavra definitiva de consolação "porque nasce das lágrimas".

Papa Francisco: Jesus tem autoridade porque estava próximo das pessoas.

Jesus tinha autoridade porque servia as pessoas, estava próximo das pessoas e era coerente, ao contrário dos doutores da lei que se sentiam príncipes. Estas três características da autoridade de Jesus foram destacadas pelo Papa na reflexão matutina da terça-feira (10/01), na Casa Santa Marta.
O Pontífice sublinhou que os doutores da lei ensinavam com autoridade “clericalística”, afastados das pessoas, não viviam aquilo que pregavam.
A autoridade de Jesus e aquela dos fariseus são os dois eixos em torno dos quais orbita a homilia do Papa. Um é uma autoridade real, o outro formal. No Evangelho do dia se fala do estupor das pessoas porque Jesus ensinava “como alguém que tem autoridade” e não como os escribas: eram as autoridades do povo, destaca Francisco, mas aquilo que ensinavam não entrava no coração, enquanto em Jesus havia uma autoridade real: não era “um sedutor”, ensinava a Lei “até o último detalhe”, ensinava a Verdade com autoridade.
O Papa desce aos pormenores e reflecte sobre as três características que diferenciam a autoridade de Jesus daquela dos doutores da Lei. Enquanto Jesus “ensinava com humildade”, e diz aos seus discípulos que “o maior seja como aquele que serve: faça-se menor”, os fariseus se sentiam príncipes:
“Jesus servia as pessoas, explicava as coisas para que as pessoas entendessem bem: estava ao serviço das pessoas. Havia um comportamento de servidor, e isto Lhe dava autoridade. Ao invés, os doutores da lei que as pessoas ... sim, escutavam, respeitavam mas não reconheciam que tivessem autoridade sobre eles, estes tinham uma psicologia de príncipes: ‘Somos os mestres, os príncipes, e nós ensinamos vocês. Não serviço: nós mandamos, vocês obedecem”. E Jesus nunca se fez passar por um príncipe: era sempre servidor de todos e isto é o que Lhe dava autoridade”.
É o estar próximo das pessoas, na verdade, que confere autoridade. A proximidade é a segunda característica que diferencia a autoridade de Jesus daquela dos fariseus. “Jesus não era alérgico às pessoas: tocava os leprosos, os doentes, não lhe dava repugnância”, explica Francisco, enquanto os fariseus desprezavam “as pobres pessoas, ignorantes”, eles gostavam de passear pelas praças, bem vestidos:
“Eram distantes das pessoas, não eram próximos; Jesus era muito próximo das pessoas, e isso dava autoridade. Os distantes, aqueles doutores, tinham uma psicologia clericalística: ensinavam com uma autoridade clericalística, isto é, o clericalismo. Eu gosto tanto quando leio a proximidade às pessoas que tinha o Beato Paulo VI; no número 48 da “Evangelii Nuntiandi” se vê o coração do pastor próximo: ali está a autoridade daquele Papa, a proximidade”.
Mas há um terceiro ponto que diferencia a autoridade dos escribas daquela de Jesus, e é a coerência, Jesus “vivia o que pregava”: “havia como uma unidade, uma harmonia entre aquilo que pensava, sentia e fazia”.” Enquanto quem se sente príncipe tem “uma atitude clericalística”, isto é hipócrita, diz uma coisa e faz outra:
“Ao invés, essas pessoas não eram coerentes e sua personalidade era dividida a ponto que Jesus aconselhava seus discípulos: “Fazei o que eles dizem, mas não o que fazem”: diziam uma coisa e faziam outra. Incoerência. Eram incoerentes. E o adjectivo que Jesus usa muitas vezes é hipócrita. E dá para entender que quem se sente príncipe, que tem uma atitude clericalística, que é uma hipócrita, não tem autoridade! Dirá verdades, mas sem autoridade. Jesus, ao invés, que é humilde, que está ao serviço, que está próximo, que não despreza as pessoas e que é coerente, tem autoridade. E esta é a autoridade que o povo de Deus sente”.
Concluindo, para explicar plenamente isto, o Papa recorda a parábola do Bom Samaritano. Diante do homem abandonado meio morto na estrada pelos brigantes, passa o sacerdote e vai embora porque tem sangue e pensa que se o tivesse tocado se tornaria impuro; passa o levita, diz o Papa, e “creio pensasse” que se tivesse se envolvido, depois deveria testemunhar no tribunal” e tinha tantas coisas para fazer. E também ele vai embora. No final, vem o samaritano, um pecador que, ao invés, sente piedade. Mas tem outro personagem, o hospedeiro, nota o Papa, que fica impressionado não com o ataque dos brigantes, porque era uma coisa que acontecia naquela estrada, não pelo comportamento do sacerdote e do levita, porque os conhecia, mas pelo comportamento do samaritano. O estupor do hospedeiro diante do samaritano: “Mas ele é louco”, “não é hebreu, é um pecador”, podia pensar. Francisco então liga este episódio com o estupor das pessoas do Evangelho de hoje diante da autoridade de Jesus: “uma autoridade humilde, de serviço”, “uma autoridade próxima das pessoas” e “coerente”. Fonte: http://pt.radiovaticana.va

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

“O clericalismo instrumentaliza a lei e tiraniza o povo”.

O mal do clericalismo, presente nos tempos de Jesus e ainda hoje na Igreja, é uma “prepotência e tirania” para com o povo fiel de Deus por parte dos sumos sacerdotes que, esquecendo-se de Abraão e de Moisés, instrumentalizaram a lei criando uma lei “intelectualista, sofisticada e casuística”. Disse-o o Papa Francisco na homilia que fez no dia 13 de dezembro, durante a missa matutina na Capela da Residência Santa Marta. Francisco destacou também que “o pobre Judas traidor e arrependido não foi acolhido pelos pastores”. A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada por Vatican Insider, 13-12-2016. A tradução é de André Langer.
O povo humilde e pobre que tem fé no Senhor é a vítima dos “intelectuais da religião”, “os seduzidos pelo clericalismo”, que no Reino dos céus serão precedidos pelos pecadores arrependidos, disse o Pontífice argentino, segundo indicou a Rádio Vaticano.
Refletindo sobre o Evangelho do dia, no qual Jesus recordou qual era o papel destes últimos: “Eles tinham a autoridade jurídica, moral e religiosa”, “decidiam tudo”. Anás e Caifás, por exemplo, “julgaram Jesus”, eram os sacerdotes e os chefes que “decidiram matar Lázaro”, e Judas foi vê-los para “negociar” e assim “vendeu Jesus”. Um estado de “prepotência e tiraria para com o povo” ao qual chegaram, disse o Papa, instrumentalizando a lei: “Mas uma lei que eles refizeram inúmeras vezes: tantas vezes até chegar a 500 mandamentos. Tudo estava regulado, tudo! Uma lei cientificamente construída, porque essa gente era sábia, conhecia bem. Faziam todos estes matizes, não? Mas era uma lei sem memória: tinham se esquecido do primeiro mandamento, que Deus deu ao nosso pai Abraão: ‘Caminha na minha presença e seja irrepreensível’. Eles não caminhavam: sempre permaneceram nas próprias convicções. E não eram irrepreensíveis!” Eles, continuou o Papa, “tinham se esquecido dos Dez Mandamentos de Moisés”: “Com a lei feita por eles”, “intelectualista, sofisticada e casuística”, “anularam a lei feita pelo Senhor”; falta-lhes a memória “que conecta o hoje com a Revelação”.
Sua vítima, assim como foi Jesus, é o “povo humilde e pobre que confia no Senhor”, “aqueles que são descartados”, destacou o Papa, que conhece o arrependimento, embora não cumpra a lei, mas sofre estas injustiças. Sentem-se “condenados e abusados”, destacou Francisco, por quem é “vaidoso, orgulhoso, soberbo”.
E um “descarte dessas pessoas”, observou o Papa, também foi Judas: “Judas foi um traidor, pecou muito gravemente, eh? Pecou forte. Mas depois o Evangelho diz: “Arrependido, foi até eles para devolver as moedas”. E eles, o que fizeram? Mas você era o nosso sócio. Fica tranquilo… Nós temos o poder de perdoar tudo!’ Não! ‘Se vira. É um problema seu’. E o deixaram sozinho: descartado! O pobre Judas traidor e arrependido não foi acolhido pelos pastores. Porque eles haviam esquecido o que é ser um pastor. Eram os intelectuais da religião, aqueles que tinham o poder, que levavam adiante as catequeses do povo com uma moral feita pela sua inteligência e não a partir da revelação de Deus”.
“Um povo humilde, descartado e machucado por essas pessoas”. Também hoje, observou Francisco, na Igreja essas coisas acontecem. “Existe este espírito de clericalismo”, disse o Papa: “Os clérigos se sentem superiores, afastam-se das pessoas”, “não têm tempo para escutar os pobres, os sofredores, os encarcerados, os doentes”. “O mal do clericalismo é uma coisa muito triste! É uma nova edição desta gente. E a vítima é a mesma: o povo pobre e humilde, que tem esperança no Senhor. O Pai sempre procurou se aproximar de nós: enviou o seu Filho. Estamos esperando, uma espera alegre e exultante. Mas o Filho não entrou no jogo desta gente: o Filho foi com os doentes, os pobres, os descartados, os publicanos, os pecadores (e é escandaloso isso…), as prostitutas. Também hoje Jesus diz a todos nós e também a quem está seduzido pelo clericalismo: ‘Os pecadores e as prostitutas precederão vocês no Reino dos Céus’”.

Na missa dessa manhã na capela da Residência Santa Marta participaram os nove cardeais que auxiliam o Papa na reforma da cúria e no governo da Igreja universal, o chamado C9. Eles estão reunidos na 17ª reunião, que começou na segunda-feira e termina hoje, quarta-feira, com o Pontífice. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney 

“Transcorridos muitos séculos desde que Deus criou o mundo e fez o homem  à sua imagem; - séculos depois de haver cessado o dilúvio, quando o Altíssimo fez resplandecer o arco-íris, sinal de aliança e de paz; - vinte e um séculos depois do nascimento de Abraão, nosso pai; - treze séculos depois da saída de Israel do Egito, sob a guia de Moisés; - cerca de mil anos depois da unção de Davi, como rei de Israel; - na septuagésima quinta semana da profecia de Daniel; - na nonagésima quarta Olimpíada de Atenas; - no ano 752 da fundação de Roma; - no ano 538 do edito de Ciro, autorizando a volta do exílio e a reconstrução de Jerusalém; - no quadragésimo segundo ano do império de César Otaviano Augusto, enquanto reinava a paz sobre a terra, na sexta idade do mundo: JESUS CRISTO DEUS ETERNO E FILHO DO ETERNO PAI, querendo santificar o mundo com a sua vinda, foi concebido por obra do Espírito Santo e se fez homem; transcorridos nove meses, nasceu da Virgem Maria, em Belém de Judá. Eis o Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo a natureza humana. Venham, adoremos o Salvador! Ele é Emanuel, Deus Conosco”. Este é o solene anúncio oficial do Natal, feito pela Igreja na primeira Missa da noite de Natal!
O Natal é a primeira festa litúrgica, o recomeçar do ano religioso, como a nos ensinar que tudo recomeçou ali. O nascimento de Jesus foi o princípio da revelação do grande mistério da Redenção que começava a se realizar e já tinha começado na concepção virginal de Jesus, o novo Adão. Deus queria que o seu projeto para a humanidade fosse reformulado num novo Adão, já que o primeiro Adão havia falhado por não querer se submeter ao seu Senhor, desejando ser o senhor de si mesmo e juiz do bem e do mal. Assim, Deus enviou ao mundo o seu próprio Filho, o Verbo eterno, por quem e com quem havia criado todas as coisas. Esse Verbo se fez carne, incarnou-se no puríssimo seio da Virgem, por obra do Espírito Santo, e começou a ser um de nós, nosso irmão, Jesus. Veio ensinar ao homem como ser servo de Deus. Por isso, sendo Deus, fez-se em tudo semelhante a nós, para que tivéssemos um modelo bem próximo de nós e ao nosso alcance. Jesus é Deus entre nós, o “Emanuel – Deus conosco”, a face da misericórdia do Pai. 
São Francisco de Assis inventou o presépio, a representação iconográfica do nascimento de Jesus, para que refletíssemos nas grandes lições desse maior acontecimento da história da humanidade, seu marco divisor, fonte de inspiração para pintores e místicos.
Que tal se fizéssemos um Natal contínuo, pensando mais no divino Salvador, na sua doutrina, no seu amor, nas virtudes que nos ensinou, unindo-nos mais a ele pela oração e encontro pessoal com ele, imitando o seu exemplo, praticando as obras de misericórdia, convivendo melhor com nossa família...
Desse modo a mensagem do Natal vai continuar durante todo o Ano Novo, que assim será abençoado e feliz. FELIZ NATAL E ABENÇOADO ANO NOVO!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Papa Francisco enfrenta ‘guerra civil’ na igreja católica

A decisão do Papa Francisco de retomar a opção preferencial pelos pobres e dar uma guinada na conduta da Igreja Católica transformou os cardeais ultraconservadores da instituição em combatentes aguerridos do argentino.

Herdeiro dos papados de João Paulo II (1978-2005) e Bento XVI (2005-2013), o jesuíta Francisco enfrenta a fúria da Cúria conservadora, contrária às suas reformas.
A reportagem é de Mauro Lopes e Sérgio Kraselis, publicada por Calle2, 17-12-2016.
Nos corredores do Vaticano, altos funcionários chamam Francisco à boca pequena de “esse argentinozinho”. Se, num primeiro momento, o novo Papa enfrentou uma oposição silenciosa, hoje ela está escancarada. A batalha explodiu em setembro de 2016 com a carta divulgada por quatro cardeais, definida como verdadeira “guerra civil” pelo jornalista italiano Marco Politi, do jornal Il Fatto e um dos mais respeitados vaticanistas.
Francisco quer reformas e as reformas tendem a mexer nas estruturas. É óbvio que quem é favorecido pela estrutura não quer mudança', analisa Cesar Kuzma, um dos mais expressivos teólogos católicos brasileiros da nova geração.
Para guerrear contra Francisco, os conservadores escolheram as questões de fundo moral, aproveitando-se da onda reacionária que varre o planeta. A escalada começou em 2014, tomou impulso no segundo semestre de 2015 e agora está em seu momento-auge.
Dois momentos deste combate foram um livro lançado por cinco cardeais afirmando que o segundo casamento equivaleria a adultério, para a doutrina cristã, e um abaixo-assinado endereçado ao Papa com quase 800 mil assinaturas de católicos, entre eles 100 bispos, em defesa da família.
Para termos uma ideia do que Francisco enfrenta é preciso retroceder na história. Ao ser apresentado ao mundo, o novo Papa surgiu no balcão do Vaticano vestido de branco, sem ouro algum. Num gesto inédito, curvou-se diante da multidão que ocupava a Praça São Pedro e pediu que as pessoas rezassem por ele. Com isso, rompeu uma tradição secular que se construiu em torno da figura do Papa desde a Idade Média, abalada com João XXIII no Concílio Vaticano II, há 50 anos, e que foi reconstruída por seus dois antecessores. Um Papa humilde, sem ornamentos e vestes pomposas.
Com a chegada de Francisco, voltaram à tona ideais concebidos no Concílio Vaticano II, cujo ápice foi a Teologia da Libertação na América Latina, combatida ferozmente pelos conservadores da Cúria.
O confronto atual chega a ponto de cardeais e teólogos conservadores armarem oposição cerrada a todas as ideias de atualização dos conceitos da Igreja em relação à família propostas por Francisco, chamando-as de “heréticas”. Numa entrevista, o cardeal norte-americano Raymond L. Burke, que tem buscado se apresentar como líder da oposição, afirmou que seu grupo poderá decretar “um ato formal de correção de um erro grave” contra o Papa, se ele não ceder às exigências. Francisco respondeu dizendo que as críticas “não são honestas” e foram feitas “com espírito mau para fomentar a divisão”.
A pressão dos conservadores não tem paralisado Francisco. No encerramento do Jubileu da Misericórdia (um Ano Santo proclamado por ele entre outubro de 2015 e novembro último), o Papa operou uma significativa mudança na posição da Igreja quanto ao aborto, extinguindo a pena de excomunhão às mulheres que o realizam e permitindo que os padres concedam o perdão a este pecado.
O foco dos conservadores nas questões de fundo “moral” permanece, apesar da enorme fragilidade do discurso da Cúria e de dezenas de bispos e cardeais que nos últimos anos acobertaram os milhares de casos de abusos sexuais cometidos por religiosos contra crianças e jovens ao redor do planeta.
Um dos líderes do bloco conservador, o cardeal George Pell, prefeito da Secretaria de Economia do Vaticano, é alvo de um processo no qual é pesadamente acusado de encobrir casos de pedofilia na Austrália durante os anos 1970 e 1980 e, mais recentemente, de ele próprio estar envolvido em casos de abusos.
Há outros dois temas em disputa neste momento: a liturgia, especialmente o rito da missa, e a relação da Igreja com o planeta, a sociedade, os seres humanos e muito particularmente com os pobres.
Os conservadores defendem a restauração do rito tridentino da missa – onde havia um único celebrante que rezava de costas para as pessoas, em latim, pois a missa era “do padre”. Pode parecer incrível, mas os conservadores querem mesmo que este “modelo” de ritual seja restaurado. O Papa tem reduzido o espaço do arquiconservador cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino.
A questão da relação da Igreja com o mundo, a humanidade e especialmente os pobres é o terceiro polo da disputa. Os pobres são o centro da Igreja, tem anunciado Franciscodesde os primeiros dias de seu Papado. Ele promoveu três edições do Encontro Mundial dos Movimentos Populares (no Vaticano, em 2014 e em 2016, e na Bolívia, em 2015) e tem criticado de maneira cada vez intensa o capitalismo.
No encerramento da terceira edição de encontro, em 5 de novembro, ele disse que o mundo está dividido entre “um projeto-ponte dos povos contra o projeto-muro do dinheiro” e defendeu “a destinação universal dos bens”, além de denunciar a “internacional do dinheiro”.
Em 27 de novembro, Francisco avançou no tema dos pobres para dentro da Igreja ao questionar 800 gestores financeiros participantes do Simpósio sobre Economia da Congregação, em Roma: “A hipocrisia dos consagrados que vivem como ricos fere a consciência dos fiéis e prejudica a Igreja”. Francisco alertou que a gestão destas organizações (e de toda a Igreja) deve “escutar o sussurro de Deus e o grito dos pobres, dos pobres de sempre e dos novos pobres”. Os conservadores têm urticária quando escutam ou leem essas palavras do Papa e acusam-no (por enquanto nos bastidores) de “ressuscitar a Teologia da Libertação”.
O equilíbrio de forças no interior da Igreja, fortemente impactado pela onda conservadora dos últimos 35 anos, parece manter Francisco em relativo isolamento na cúpula católica. Num discurso sem precedentes diante da Cúria romana em um tradicional encontro de Natal, em 22 de dezembro de 2014, ele investiu frontalmente contra o espírito da hierarquia diante de cardeais e bispos entre constrangidos e indignados. Nele, apontou o que chamou de “as 15 enfermidades” da Cúria, entre elas a de “perder a capacidade de chorar com os que choram e se alegrar com os que se alegram. É a enfermidade dos que perdem os ‘sentimentos de Jesus’, porque o seu coração, com o passar do tempo, endurece-se e torna-se incapaz de amar incondicionalmente o Pai e o próximo”.
De lá para cá, alguma água passou por debaixo da ponte e, segundo seus aliados e alguns vaticanistas, Francisco está, aos poucos, modificando o perfil da Igreja. É o que diz dom Cláudio Hummes, o cardeal brasileiro que se tornou conhecido mundialmente pelo fato de, estando ao lado do Papa no exato momento de sua eleição, cumprimentá-lo sussurrando em seu ouvido uma frase que inspirou Bergoglio a escolher o nome de Francisco: “Não se esqueça dos pobres”.
Hummes assegura que a imensa maioria dos cardeais está ao lado do Papa: “Sem querer relativizar este fato, são quatro cardeais. E na Igreja somos mais de 200. Sem querer relativizar demasiadamente, são quatro de um grupo enorme que está dando todo o seu apoio ao Papa”.
Francisco tem atacado com contundência o clericalismo (a doutrina que estrutura e organiza em boa medida o pensamento conservador na Igreja) e seguidamente compara os clérigos católicos (padres, bispos e cardeais) e leigos poderosos nas estruturas eclesiais aos chefes religiosos que perseguiram Jesus até sua morte.
O combate ao clericalismo está na origem do atual papado: foi o centro do discurso do então cardeal Bergoglio no colégio de cardeais reunidos para a sucessão de Bento XVI, em 7 de março de 2013, seis dias antes de ser escolhido, e é considerado decisivo para sua eleição. A contundência de Francisco é resultante de um mandato que recebeu de seus eleitores, o que tornam arriscadas quaisquer previsões sobre o equilíbrio de poder na Igreja.
Os movimentos no tabuleiro da Igreja estão sendo pensados de olho no próximo Papa, pois Francisco, aos 80 anos, não terá tempo para concluir suas reformas. Ele sabe disso e está redesenhando o colégio eleitoral do próximo Papa com frieza e tirocínio típicos dos jesuítas. Para o teólogo brasileiro César Kuzma, Francisco “não joga no escuro e nem mesmo faz apostas para ver onde vai dar, ao contrário, ele sabe o que quer e sabe o que deve buscar. Ele também sabe que não terá um Pontificado longo e que não terá como resolver e mudar tudo.”
Por isso, ao nomear 13 cardeais com direito a voto (menos de 80 anos de idade) em 19 de novembro, ele é responsável por 1/3 do total de indicações do colégio de cardeais com direito a voto neste momento (44 de um total de 121). Em três rodadas de nomeações desde 2013, o Papa já conseguiu um feito memorável na história da Igreja: acabou com a maioria europeia. São agora 54 cardeais do Velho Continente contra 67 do resto do mundo. Espera-se mais uma ou duas rodadas de nomeações à frente. Com isso, o cálculo e a esperança dos conservadores para o próximo Papa pode estar em risco, o que explica a radicalização da luta no interior da Igreja nas últimas semanas, com este caráter de “guerra civil”.

A batalha no Brasil

A nomeação em massa de bispos conservadores por João Paulo II e Bento XVImodificou profundamente o perfil da Igreja no país. Se, mesmo nos anos 1970-80, quando a Igreja era protagonista das causas populares no país, a hierarquia apresentava-se dividida, na virada do século os conservadores passaram à ofensiva.
Hoje, dois dos expoentes do conservadorismo são os arcebispos de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer, exatamente o candidato que procurou contrapor-se a Bergoglio, e o do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta.
Ambos lideraram a visita de uma comitiva de bispos a Michel Temer em 10 de novembro a pretexto de uma audiência sobre a Rede Vida (emissora de TV católica) mas que se tornou um ato de apoio à PEC do teto dos gastos e de bênção ao governo, exatamente no dia da primeira votação da proposta que congelou os gastos sociais no país.
O Rio tornou-se uma espécie de quartel-general do segmento mais radicalizado da direita eclesial, que se expressou com virulência durante o segundo turno da eleição municipal na capital do Estado. Padres e membros da Cúria chegaram a ameaçar de “excomunhão” os católicos que faziam campanha por Marcelo Freixo, do PSOL.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se manteve calada desde 2013, evitando confrontos com os conservadores, começou a se mover na direção de Francisco nos últimos meses: divulgou notas duras contra a PEC que corta os gastos sociais e a reforma do ensino médio. Seu presidente, dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, foi nomeado cardeal pelo Papa em 19 de novembro.
Segundo o bispo belga dom André De Witte, vice-presidente da Comissão Pastoral da Terra, a hierarquia no Brasil está “silenciosa, mas não afastada” em relação ao Papa, que apoia as pastorais sociais e movimentos de base. O bispo belga, no Brasil há 40 anos, afirma que há de fato um novo modelo na administração da Igreja, uma mudança de paradigma que apenas a Teologia da Libertação tinha ousado antes de Francisco, porque implica que os líderes eclesiásticos (dos padres aos bispos, cardeais e até o Papa) abram mão de seus poderes e assumam uma relação direta com os católicos e católicas. Os cristãos católicos no Brasil e no mundo finalmente são convidados pela Igreja, no Papado de Francisco, a ingressarem na idade adulta.