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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Padre Paulo: papados conservadores “destruíram Igreja inserida na vida dos pobres” no Brasil e AL

Padre Paulo Sérgio Bezerra não cede um milímetro sequer no seguimento dos ensinamentos da Igreja à luz do Evangelho e da renovação do Concílio Vaticano II, como um dos protagonistas da Teologia da Libertação na periferia de São Paulo. Padre desde 1980, há 34 anos está na Paróquia Nossa Senhora do Carmo, na Diocese de São Miguel Paulista, em Itaquera, bairro pobre da zona leste da cidade.
O sacerdote, de 63 anos, foi formado pela escola do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, falecido em dezembro de 2016 e dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo da região Leste II da cidade de São Paulo e hoje emérito da diocese de Blumenau (SC), aos 84 anos. Isso anos antes que João Paulo II dividisse a Arquidiocese em 1989, numa articulação para esvaziar a liderança de dom Paulo e nomear bispos conservadores para as novas dioceses, que trataram de demolir toda a construção da “Igreja rumo à periferia” na antevisão de dom Paulo, agora retomada pelo Papa Francisco, que tem convocado os católicos para novamente partirem “às periferias existenciais” de uma “Igreja em saída”. A entrevista é de Mauro Lopes, publicada no blog Caminho pra Casa, 21-01-2017.
A matriz e as capelas das sete comunidades da paróquia estão sempre cheias, quase duas mil pessoas frequentam as celebrações e participam da vida da Igreja local. Acorrem às missas presididas por padre Paulo gente de toda a cidade, em busca de uma liturgia que fuja ao rigorismo dos tradicionalistas ou ao estilo neopentecostal dos carismáticos. “Aqui não tem ‘milagres’ nem se fala em línguas”, diz ele, desolado com o ambiente da Igreja em boa parte da cidade: “A questão para os padres hoje, em larga escala, é indumentária. Tem padre que usa barrete, solidéu preto, é um fetiche indumentário que sequer é propriamente uma teologia tradicionalista, conservadora, apesar de serem conservadores, reacionários”. Ele não desanima, está empolgado com a primavera da Igreja promovida por Francisco: “Quando em 2013 aquele homem curvou-se para a multidão no dia do anúncio de seu nome, na praça São Pedro, nem precisei ir ao Google pra saber quem era; entendi que havia chegado um novo tempo”.
Um tempo novo que se abre depois da terra arrasada. Para ele, a ofensiva conservadora de 35 anos dos papados de João Paulo II e Bento XVI quase liquidou com a Igreja na América Latina e no Brasil, com a perseguição aos leigos, leigas, padres, freiras, teólogos, teólogas e até bispos vinculados à Igreja dos pobres, à Teologia da Libertação e, sobretudo, às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs): “Eles destruíram com a Igreja organizada em comunidades, pequenos círculos, inserida na vida das famílias pobres ao redor do país e da região”.
Entre outubro e novembro de 2016, padre Paulo sofreu uma campanha agressiva promovida por blogs católicos ultraconservadores. Motivo: ter recebido em celebrações na Igreja, durante a novena de Nossa Senhora do Carmo, pessoas como o deputado Chico Alencar (PSOL), Guilherme Boulos, líder nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), a filósofa Marilena Chauí e, sobretudo, a drag queen Albert Roggenbuck (Dindry Buck). No caso da de Buck, os rigoristas deixaram de informar que a jovem é catequista em outra paróquia da região. Os integristas moveram intensa campanha de ódio contra o padre nas redes sociais, incentivaram um abaixo assinado pela remoção dele e mantiveram uma reunião constrangedora e inquisitorial com o bispo, dom Manuel Parrado Carral. Não deu em nada. “No abaixo assinado deles tinha até gente do Acre, no norte do país, mas aqui na paróquia pouquíssimas pessoas deram bola para isso”, afirmou padre Paulo. Em reportagem da TVCarta sobre as ações da paróquia, padre Paulo questionou: “Porque o Alckmin, por exemplo, chega e fala na basílica nacional (de Aparecida) e ninguém questiona?”.
Ele concedeu entrevista ao blog Caminho pra Casa em duas rodadas de conversas, entre 12 e 16 de janeiro – todas as observações entre colchetes são intervenções do autor deste blog.
Eis a entrevista.

As celebrações na paróquia Nossa Senhora do Carmo estão sempre cheias e a mobilização da comunidade é sempre muito forte. O que acontece aqui?
Bem, talvez seja melhor dizer o que não acontece aqui. Aqui não tem ‘milagres’ nem se fala em línguas (risos). Há mais de 30 anos o que fazemos aqui é manter a linha do Vaticano II. Seis anos depois de minha ordenação decidi fazer pós-graduação em Liturgia e sempre procurei inspirar-me na renovação do Concílio que pretendeu uma caminhada litúrgica dinâmica, com o povo. Ao longo dos anos houve um enrijecimento litúrgico notável, que negou em boa medida o espírito do Vaticano II, ao lado do surgimento da onda de padres cantores e celebrações com acento neopentecostal, mas buscamos nos manter fiéis e eu tentei manter-me amparado no ensinamento de dom Paulo (Evaristo Arns) e dom Angélico (Sândalo Bernardino). Para eles, como filhos diretos do Vaticano II, a Liturgia deveria refletir e ser concretização de uma vida pastoral de compromisso com os pobres. Não se sacralizavam as normas litúrgicas, mas elas eram adaptadas à vida da Igreja como Povo de Deus. Com os anos a liturgia virou uma “vaca sagrada”; ninguém toca. E não tem mais vida, não pulsa.

É mesmo impressionante o que aconteceu. Onde estão os profetas da Igreja?
Há muitos profetas ainda, mas o fato é que em largas fatias do clero há três palavras que são imperativas: dinheiro, dinheiro, dinheiro. A questão para os padres hoje, em larga escala, é indumentária. Tem padre que usa barrete, solidéu preto, é um fetiche indumentário que sequer é propriamente uma teologia tradicionalista, conservadora, apesar de serem conservadores, reacionários.

Vocês viveram uma experiência muito forte em São Paulo e especialmente nas periferias e aqui na Zona Leste sob a liderança de dom Paulo Evaristo Arns, dom Angélico Sândalo Bernardino e todo o processo efervescente da Teologia da Libertação, mesmo debaixo da ditadura no Brasil. Como foi viver este tempo?
Com a Teologia da Libertação houve o início de um processo de unir o culto (liturgia) à vida cotidiana; antes disso, até os anos 70, a religiosidade popular era vivida apenas na base de devoções de origem medieval, medieval, portuguesa, europeia: reza do terço, coroações de Nossa Senhora – o que, por incrível que pareça, voltou com força nos últimos anos com terço dos homens, cerco de Jericó, bênçãos do Santíssimo, que derruba as pessoas em transe… é o devocionário novo-velho.
Mas o intervalo da Teologia da Libertação foi um tempo muito intenso, começando pelos círculos bíblicos: o povo se apropriou da Bíblia, que era proibida às pessoas comuns! Experimentamos o aprendizado com as equipes do Marins [o padre José Marins foi e é um dos maiores animadores das CEBs no Brasil e no mundo – leia aqui uma entrevista excepcional dele ao padre Luis Miguel Modino, publicada em 08 de janeiro no site Religion Digital e, a seguir, em português, no IHU, que você pode ler aqui].
Ao mesmo tempo, tivemos um período de formação pastoral muito relevante do clero a partir das linhas mestras do Vaticano II, à luz das Conferências Episcopais Latino Americanas de Medellín e Puebla. Um tempo de grande coesão entre a Igreja institucional e o povo. Éramos todos agentes pastorais, povo de Deus, sem essa coisa terrível e medíocre de clero e clientela, que voltou com a restauração conservadora.

Como foi o processo de restauração na região?
Isso aqui era uma maravilha, a Igreja viva dos primeiros tempos, com dom Paulo e dom Angélico exercendo uma liderança verdadeiramente profética, formando os padres, as freiras, os leigos e as leigas. A presença das freiras, as irmãs inseridas, tinha uma relevância enorme – as mulheres foram líderes no processo de ir às periferias no início dos anos 1980. Mas a maré conservadora do Vaticano chegou. Em 1989 houve a divisão da Arquidiocese para enfraquecer dom Paulo e o bispo que foi nomeado pelo Papa João Paulo II, como primeiro bispo diocesano da nova Diocese de São Miguel Paulista, clericalizou tudo e engessou a liturgia e terminou com a pastoral de conjunto. Com o tempo, foram liquidadas todas as pastorais: Pastoral da Juventude, Pastoral Operária, e total desinteresse pelos movimentos sociais…; foram desarticulados e esvaziados os conselhos paroquiais da então região episcopal, que eram uma experiência fantástica de colegialidade na Igreja entendida como Povo de Deus, como o Papa Francisco retoma agora. A estrutura eclesial na região, que se assentava sobre as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) tornou-se paroquial, clerical. O desrespeito com o povo e a autodoação das pessoas ao projeto do Reino pode ser exemplificado com a fofoca, por sinal um tema recorrente do Papa [veja aqui] que, entre outros, teve também as freiras como alvo: elas eram chamadas pelos restauradores de “irmãs enxeridas”, em vez de inseridas, de maneira insistente, desrespeitosa.
A esse processo local correspondeu um movimento retrógrado em âmbito nacional, não foi?
Sim, foi terrível. Foi um processo violento de cima pra baixo, o que aconteceu aqui foi reflexo do que aconteceu no mundo todo, especialmente na América Latina e no Brasil. João Paulo II pode ser um santo, mas ele enxergava o mundo como se fosse uma grande Polônia sob o horror comunista. Há nuances no pensamento dele, algumas concessões à doutrina social da Igreja, mas ele via comunismo em todos os lugares e governou a Igreja em aliança com Margareth Tatcher e sobretudo Ronald Reagan. Houve uma clara articulação entre o Vaticano e Washington na Europa do leste e em nossa região. Pagamos o altíssimo preço do projeto de Wojtyła de aliança contra o comunismo com os EUA. Começou um processo de nomeação de bispos pelo critério de adesão à disciplina da Cúria romana e não à profecia. O centro desta articulação aqui no Brasil foi a Arquidiocese do Rio, que começou a cooptar bispos do Brasil inteiro para seminários organizados pela Congregação da Doutrina da Fé [sucessora do Santo Ofício] para enquadrar todo mundo – até onde sei o então cardeal Raztinger, então prefeito da Congregação, e que nesta qualidade perseguiu muita gente, esteve no Rio mais de uma vez para esses cursos. Foi uma avalanche: cursos, nomeações, censuras, punições, perseguições…
Começou uma conversa de que a Igreja no Brasil era comunista, que não se rezava, não se ajoelhava nos bancos das catedrais e matrizes e voltamos a ser a Igreja das devoções, como antes do Vaticano II. O discurso era – como ainda escutamos hoje - de volta à tradição da Igreja, mas a verdadeira tradição da Igreja está no primeiro milênio, e não no segundo, como rezam os restauradores. A verdadeira tradição havia sido resgatada no Vaticano II, com a redescoberta dos Padres da Igreja por Ives Congar, Lubac e tantos outros, que foram igualmente perseguidos por décadas antes do concílio.
Recomeçou o tempo triste a que me referi antes, das devoções, do terço, das adorações e da clericalização. Os ministros e agentes de pastoral foram afastados ou se afastaram; resistir foi muito duro. Começou o processo de liquidação, esvaziamento ou domesticação dos conselhos diocesanos e paroquiais em todo o Brasil.
Um processo doloroso…
Sim. Eles destruíram com a Igreja organizada em comunidades, pequenos círculos, inserida na vida das famílias pobres ao redor do país e da região. Os seminários foram se transformando em verdadeiros “centros de formação profissional”, e o sonho dos jovens passou a ser o de fazerem carreira para bispos, e não de tornarem-se profetas, com exceção dos centros de algumas poucas dioceses e de algumas ordens e congregações.
As Bem Aventuranças deixaram de ser a Lei Magna da Igreja – este lugar passou a ser ocupado pelo Código de Direito Canônico. Alguém me disse que um bispo, hoje emérito, afirmou num retiro de seminaristas, aos jovens, que a Igreja é a hierarquia, que a Igreja é Pedro, sobre quem repousa a tradição: o papa, cardeais, padres e diáconos. “O povo é lama”, disse ele. Isso entra em confronto direto com o pensamento original do cristianismo e o Vaticano II, que definiu a Igreja como Povo de Deus.

E agora, com Francisco?
É até difícil de dizer. O Papa está séculos à frente dessa mentalidade. As pessoas ainda têm muito medo, tudo é dito pelos cantos, a conspiração contra ele é brutal, e agora está se tornando pública. É um ressurgimento ainda frágil, que demanda novos caminhos e novos protagonistas; nós, da Teologia da Libertação, estamos todos de cabelos brancos, muitos morreram. Precisamos confiar no sopro do Espírito e dar tempo para que este processo de abertura de portas e janelas dê frutos.
Muitos morreram, às vezes no ostracismo ou abandonados ou sob a indiferença da hierarquia, como dom Oscar Romero. Mas é uma enorme alegria poder ver Leonardo Boff, Gustavo Gutierrez Jon Sobrino e tanto outros sendo redimidos em vida, depois de tudo o que sofreram injustamente.

Estamos começando a sair de uma situação difícil, muito difícil. Como superar esses anos de fechamento e esclerose? Como enfrentar a Teologia da Prosperidade que se tornou como uma praga dentro da Igreja, seduzindo fiéis, padres, bispos, tanto teologicamente como pessoalmente?
Sim, a prosperidade financeira tornou-se “projeto de vida”. É uma virada enorme a ser feita. Comblin perguntava: quem na Igreja realizará a missão continental? Dom Angélico disse-me mais de uma vez, depois de tantos livros publicados sobre o Papa Francisco: “é preciso parar com essa coisa de escreve livros e passar à pratica pastoral que ele aponta para a Igreja.

Isto ficou claro desde o começo, não?
Sim. Quando em 2013 aquele homem curvou-se para a multidão no dia do anúncio de seu nome, na Praça São Pedro, nem precisei ir ao Google pra saber quem era; entendi que havia chegado um novo tempo.
Está tudo na Evangelii Gaudium! [a Exortação Apostólica de Francisco, A Alegria do Evangelho, sobre o anúncio do Evangelho – a íntegra aqui]
Ela foi lançada em novembro de 2013 e será que os cardeais rebelados não leram? Tenho certeza que sim, mas esperaram o momento para atacar, que é o que vemos hoje.
A Igreja do Vaticano II, a Igreja das primeiras comunidades, está tudo lá na Evangelii Gaudium. Com ela, Francisco liquidou todo o edifício hierárquico de fundo monárquico que foi construído nesses anos todos. Olha! [Pega um exemplar da carta apostólica e indica] O Papa fala nos novos caminhos logo no tópico 1, anuncia um novo desenho de Igreja, a partir dos processos e de uma amarração de elaboração coletiva… Leia aqui no número 16: “(…) não se deve esperar do magistério papal uma palavra definitiva ou completa sobre todas as questões que dizem respeito à Igreja e ao mundo”.[1]

Tudo o que a Igreja experimentou no Sínodo da Família e com a Amoris Laetitia estava indicado desde a Evangelii Gaudium. É a Igreja das autonomias, dos processos, não mais das decisões monárquicas; por isso os que estavam no poder estão reagindo desse jeito brutal. Eles querem manter o poder!
O cenário é muito tenso. Há muita gente na estrutura da Igreja rezando por uma morte rápida de Francisco. Mas precisamos ter coragem de mudar. Os planos pastorais, que hoje são verticais e inspirados nos planos das empresas, precisam ser refeitos todos, com a participação e decisão do povo. Houve um tempo, o da Teologia da Libertação, em que a liderança da vida da Igreja estava com o episcopado profético; depois foi esse desastre; o futuro está nas mãos dos leigos.
Há muito trabalho pela frente.
Com Francisco, a Igreja, que se tornou nos últimos 35 anos totalmente irrelevante, domesticada volta a cumprir sua missão: ser luz do mundo, incomodar, ser profética. Precisamos ser esta luz não apenas em Roma, mas em todos os cantos.

O que está acontecendo na paróquia em que o senhor atua?
Bem, tentamos manter uma pequena chama acesa esses anos todos. Há sinais aqui e ali, parece que a Igreja começa, lentamente, a acordar da anestesia, em meio aos conflitos internos brutais.
Buscamos ter um governo da Igreja partilhado com todos, dentro de nossas fragilidades.
Um aspecto importante de nossa dinâmica, além do cotidiano de viver e compartilhar com as pessoas é a celebração anual de Nossa Senhora do Carmo, nossa padroeira. Desde 2006 tornamos a novena preparatória da festa como espaço privilegiado de reflexão; em cada ano foi um tema: democracia, meio ambiente, mulheres, saúde… É um período de distribuição de documentos, cartas e da encíclica Laudato Sii sobre o planeta. Convidamos pessoas que refletem sobre essas questões para partilhar com nossa comunidade, aqui estiveram nesses anos todos gente como Vladimir Safatle, Marilena Chauí, Guilherme Boulos, o padre Luiz Lima, Chico Alencar, Marcelo Barros, Boff…
A partir de 2015 mudamos a novena para um ciclo em sete domingos, um septenário, que permite uma reflexão mais aprofundada e é mais adaptado à esse ritmo frenético da vida das pessoas.
O senhor é alvo de uma perseguição constante de grupos católicos ultraconservadores, que foram até pedir sua remoção ao bispo.
Sim. Essa história foi quando trouxemos a drag queen Dindry Buck [Alberto Roggenbuck] para dar testemunho, como católica e drag, sobre as provocações que a vida lhe traz e como vive a sua fé. Ela sequer estava caracterizada assim durante a celebração. Por sinal, o que os conservadores não dizem é que ela é catequista numa paróquia vizinha. Fizeram um escarcéu porque ela falou na missa, levantou o cálice durante a consagração e ajudou na distribuição da eucaristia. Quando veio a Marilena Chauí fizeram um escândalo porque ela teria comungado da “hóstia do padre”. Mas isso só revela ignorância litúrgica, pois a hóstia é da assembleia.
No abaixo assinado deles tinha até gente do Acre, no norte do país, mas aqui na paróquia pouquíssimas pessoas deram bola pra isso.
Eu fico tranquilo, porque sei que não sou o alvo. O alvo verdadeiro é a eclesiologia do Papa Francisco.

Quais as perspectivas em curto prazo?
A comunidade aqui da região fundou em 2010 o IPDM (Igreja Povo de Deus em Movimento), que pretende ser um núcleo de articulação, reflexão e oração em torno da proposta do Papa para a Igreja, numa perspectiva ecumênica. Com isso, começamos a “expandir” as fronteiras da paróquia para dialogarmos com pessoas e movimentos em outros cantos, estabelecer novas pontes. É uma prioridade para mim e muita coisa já está sendo feita.
Além disso, fomos “provocados” pelo Boulos [Guilherme Boulos, líder nacional do MTST]. Em dezembro ele nos convidou para assumirmos a evangelização nas ocupações de sem teto a partir de uma perspectiva também ecumênica. Estamos nos organizando para isso. É um desafio. E pensar que nos anos 80 em todas as ocupações aqui na zona leste (e não só aqui) estavam presentes padres e seminaristas aos montes, era a Igreja “em saída”, “nas periferias existências”, desafio para o qual o Papa Francisco nos re-convoca. É um começar de novo, mas entendendo que vivemos uma época totalmente nova; há ocupações de milhares de pessoas sem moradia em toda a cidade e a Igreja ou inexiste ou tem uma presença tímida, e mesmo essa presença tímida sofre em muitos casos a perseguição dos católicos reacionários. [em 17 de janeiro, dia seguinte à segunda rodada da entrevista, Guilherme Boulos foi preso numa desocupação violenta realizada pela PM no leste de São Paulo e o padre Paulo, ao lado dos padres Júlio Lancelotti, vigário da Pastoral do Povo da Rua, e Tarcísio Mesquita, da Paróquia Nossa Senhora do Bom Parto, também na Zona Leste, acorreram para a delegacia, em solidariedade – e foram todos os três sacerdotes alvos de postagens agressivas e ofensivas dos movimentos católicos integristas nas redes sociais]
Nota:
[1] “Com prazer, aceitei o convite dos Padres sinodais para redigir esta Exortação. Para o efeito, recolho a riqueza dos trabalhos do Sínodo; consultei também várias pessoas e pretendo, além disso, exprimir as preocupações que me movem neste momento concreto da obra evangelizadora da Igreja. Os temas relacionados com a evangelização no mundo atual, que se poderiam desenvolver aqui, são inumeráveis. Mas renunciei a tratar detalhadamente esta multiplicidade de questões que devem ser objeto de estudo e aprofundamento cuidadoso. Penso, aliás, que não se deve esperar do magistério papal uma palavra definitiva ou completa sobre todas as questões que dizem respeito à Igreja e ao mundo. Não convém que o Papa substitua os episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que sobressaem nos seus territórios. Neste sentido, sinto a necessidade de proceder a uma salutar ‘descentralização’” (16).

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

AMAR A VIDA: Frei Petrônio.

*Sebastião: testemunha de Cristo

Orani João, Cardeal Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

No próximo dia 20 de janeiro teremos a graça de celebrar o padroeiro de Nossa Arquidiocese, São Sebastião. O Santo é padroeiro da Cidade e do Estado do Rio de Janeiro. São Sebastião é um dos santos mais famosos entre o povo brasileiro. Por causa de sua poderosa intercessão e incontáveis milagres obtidos, ele se tornou padroeiro de muitas cidades, e outras tantas cidades e bairros por todo o Brasil receberam o nome de São Sebastião. Nossa Arquidiocese se prepara para esta grande festa, com a Trezena de São Sebastião, que neste ano o contempla como “padroeiro das famílias cariocas”, além de nos ensinar a ser solidários com os necessitados, com o incremento das arrecadações da caridade social em todas as paróquias.
A fortaleza para superar os diferentes tipos de dificuldades e situações foi um traço que marcou a vida de São Sebastião, e ele nos anima a ter o mesmo espírito de confiança total em Deus e audácia cristã para fazer da vida uma caminhada segura rumo à felicidade.
São Sebastião (256-288) nasceu na França e logo foi com os pais para Milão, na Itália. Nas terras italianas cresceu na fé cristã, e ficou famoso como valente soldado e depois capitão da guarda do imperador Romano. Os cristãos eram perseguidos na época e muitos foram presos e martirizados, porém, só aos poucos as pessoas souberam que São Sebastião era cristão e, enquanto isso, ele conseguiu ajudar muitas pessoas presas por seguirem o Cristianismo, diminuindo as penas, dando alimento e animando a perseverarem na fé em Cristo, mesmo que isso implicasse o martírio.
Na época em que o imperador empreendia a expulsão de todos os cristãos do seu exército, Sebastião foi denunciado por um soldado. Diocleciano sentiu-se traído, e ficou perplexo ao ouvir do próprio Sebastião seu testemunho de que era cristão. Tentou, em vão, fazer com que ele renunciasse ao cristianismo, mas Sebastião com firmeza se defendeu, apresentando os motivos que o animava a seguir a fé cristã, e a socorrer os aflitos e perseguidos.
O Imperador, enraivecido ante os sólidos argumentos daquele cristão autêntico e decidido, deu ordem aos seus soldados para que o matassem a flechadas. Tal ordem foi imediatamente cumprida: num descampado, os soldados despiram-no, amarraram-no a um tronco de árvore e atiraram nele uma chuva de flechas. Depois o abandonaram para que sangrasse até a morte.
Irene, mulher do mártir Castulo, foi com algumas amigas ao lugar da execução, para tirar o corpo de Sebastião e dar-lhe sepultura. Com assombro, comprovaram que o mesmo ainda estava vivo. Desamarraram-no, e Irene o escondeu em sua casa, cuidando de suas feridas. Passado um tempo, já restabelecido, São Sebastião quis continuar seu processo de evangelização e, em vez de se esconder, com valentia apresentou-se de novo ao imperador, censurando-o pelas injustiças cometidas contra os cristãos, acusados de inimigos do Estado.
Diocleciano ignorou os pedidos de Sebastião para que deixasse de perseguir os cristãos, e ordenou que ele fosse espancado até a morte, com pauladas e golpes de bolas de chumbo. E, para impedir que o corpo fosse venerado pelos cristãos, jogaram-no no esgoto público de Roma. Uma piedosa mulher, Santa Luciana, resgatou o corpo do santo e o sepultou nas catacumbas. Isso aconteceu no ano de 287. Mais tarde, no ano de 680, suas relíquias foram solenemente transportadas para uma basílica construída pelo Imperador Constantino, onde se encontram até hoje. 
São Sebastião é um exemplo de coragem ante os obstáculos da vida e fidelidade mesmo diante das contrariedades e perseguições. É interessante notar o seu empenho em fazer o bem ocultamente, aproveitando todas as circunstâncias para semear alegria, consolo e ânimo para as pessoas próximas, mesmo sabendo que quando fosse descoberto poderia ter complicações. São Sebastião também pode ser reconhecido por sua prontidão em fazer a Vontade de Deus e enorme espírito de serviço, pois após recobrar a saúde ele se volta para os outros e quer continuar fazendo o bem, sem achar que já fez muito na vida e que agora precisa repousar.
Ao olhar para São Sebastião, que sofreu e morreu, lembramos que ele seguiu o caminho de Cristo que sofreu, morreu e venceu a morte. No acontecimento Salvífico da Sexta-feira Santa no Calvário, traduz-se profundamente o amor de Deus pela humanidade. Ali se dá a realização do sonho de Deus por cada um dos Seus filhos. Dando-Se por amor, Ele traz o céu à terra e nos resgata de nossas misérias. É em torno de nossas misérias que o amor de Deus age e se realiza.
São Sebastião tornou-se defensor da Igreja como soldado, como capitão e ainda como apóstolo daqueles que eram presos. Também foi apóstolo dos mártires, os que confessavam Jesus em todas as situações, renunciando à própria vida. O coração de São Sebastião tinha esse desejo: ser cristão até o fim de seus dias. E quando denunciado como cristão, lá estava ele diante do imperador. Mas nosso santo deixou claro, com muita sabedoria, auxiliado pelo Espírito Santo, que mesmo sendo um bom soldado era um cristão convicto.
São Sebastião é exemplo de homem que foi coerente com a fé católica. Por consequência, tendo a coragem de dizer que a Vida é inalienável, desde a concepção até o seu termo natural, e que os símbolos de nossa fé não podem se curvar diante dos Imperadores de plantão. 
Socorrei-nos, glorioso Mártir São Sebastião, para que saibamos ser anunciadores da misericórdia e da verdade. Que saibamos viver o santo Evangelho de cada dia.

Solidariedade às famílias nas terras de São Sebastião

Dom Orani, Cardeal Tempesta
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ 

Na mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, o Papa Francisco anunciou o princípio da missão de um novo dicastério: “No dia 1º de janeiro de 2017, nasce o novo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que ajudará a Igreja a promover, de modo cada vez mais eficaz, «os bens incomensuráveis da justiça, da paz e da salvaguarda da criação» e da solicitude pelos migrantes, «os necessitados, os doentes e os excluídos, os marginalizados e as vítimas dos conflitos armados e das catástrofes naturais, os reclusos, os desempregados e as vítimas de toda e qualquer forma de escravidão e de tortura». Toda a ação nesta linha, ainda que modesta, contribui para construir um mundo livre da violência, o primeiro passo para a justiça e a paz”. A preocupação com a situação de exclusão e pobreza tem sido constante do Papa Francisco.
Temos que fomentar essas virtudes que, juntamente com a salvação, nos ajudam a servir bem a Deus e ao próximo. A grande virtude é o amor e a caridade. A caridade leva-nos a compreender, a desculpar, a conviver com todos, de maneira que aqueles que pensam ou atuam de um modo diferente do nosso em matéria social, política ou mesmo religiosa, devem ser objeto também do nosso respeito e do nosso apreço. Esta caridade e esta benignidade não se devem converter, de forma alguma, em indiferença no tocante à verdade e ao bem; mais ainda, a verdade que salva. Mas é necessário distinguir entre o erro, que sempre deve ser evitado, e o homem que erra, pois este conserva a dignidade da pessoa mesmo quando está dominado por ideias falsas, insuficientes em matéria religiosa.
A caridade incita-nos à oração, à exemplaridade, ao apostolado, à correção fraterna, confiando em que todo o homem é capaz de retificar os seus erros. Se vez por outra as ofensas, as injúrias, as calunias forem particularmente dolorosas, pediremos ajuda a Nossa Senhora, que contemplamos frequentemente ao pé da Cruz, sentindo muito de perto todas as infâmias contra o seu Filho; grande parte daquelas injúrias, não o esqueçamos, saíram dos nossos lábios e das nossas ações. Os agravos que nos fazem hão de doer-nos, sobretudo pela ofensa a Deus que representam e pelo mal que podem ocasionar a outras pessoas, e hão de mover-nos a desagravar a Deus e a oferecer-lhe toda a reparação que pudermos.
O coração do Cristão tem de ser grande. A sua caridade, evidentemente, deve ser ordenada e, portanto, deve começar pelos mais próximos, pelas pessoas que, por vontade divina, estão à sua volta. No entanto, o seu afeto nunca pode ser excludente ou limitar-se a âmbitos reduzidos. O Senhor não quer um apostolado de horizontes estreitos. A atitude do Cristão, a sua convivência com todos, deve ser como uma generosa torrente de carinho sobrenatural e de cordialidade humana, que banha tudo à sua passagem.
As cartas do Apostólo João insistem no mesmo aspecto catequético, e, com clareza apostólica, afirmam que aquele que diz amar a Deus e não amar a seus irmãos é um mentiroso. E continuam: que é muito fácil proclamar que amamos a Deus, a quem não vemos, mas se desprezamos os irmãos que estão a nosso lado, onde está a caridade, onde está o amor? (1Jo.4,20).
São Paulo, na sua Carta aos Coríntios (Coríntios 13), proclama e exalta a caridade. Quase sabemos de cor o texto maravilhoso. Somos levados a interpretar esse hino como o amor ao Pai Celeste. Mas, o apostólo fala da excelência do amor entre os irmãos. Ainda que eu falasse todas as línguas dos anjos, ou tivesse toda a ciência, sem a caridade seria um bronze que soa e cujo som se perde nas quebradas dos montes. Logo a seguir nos ensina em que consiste a caridade: na paciência, na humildade, no fazer o bem, na longanimidade, na partilha da dor e da alegria com os irmãos, no perdão tão difícil. E conclui pela perenidade do amor e da caridade. Tudo cessa quando vier a perfeição, exceto a caridade, pela qual seremos medidos.
Documentos não faltam para colocar em pauta que a consequência do amor a Deus e ao próximo é a caridade, que se concretiza em ações de quem ama o seu próximo. Na festa de São Sebastião sempre temos a ação social, com o recolhimento de alimentos para os necessitados. Em geral, o fazemos na procissão, porém, dependendo da ocasião, durante toda a Trezena.
A própria Trezena marca esse gesto com algumas visitas específicas a locais que estão ligados à caridade social: teremos, ao longo destes treze dias em que festejamos o nosso padroeiro, várias visitas em basílicas, paróquias e capelas, mas teremos as visitas que marcam a questão social e caritativa. São elas: casa Betânia - Asilo Orionita, hospital Federal de Bonsucesso, Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Hospital HFAG, Casa Gerontológica da Aeronáutica, Centro de sócioeducação Dom Bosco – DEGASE, Centro de sócioeducação Prof. Antônio Carlos Gomes da Costa – DEGASE, Escola João Luís Alves, Hospital da Gamboa, Santa Casa de Misericórdia, Hospital Naval Nossa Senhora da Glória, Associação Beneficente São Martinho, Inca (Instituto Nacional do Câncer), Hospital Central do Exército, Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), Casa de Idosos Socorrinho, Hospital Mario Kroeff, Casa Geriátrica, Hospital São Vicente, Hospital da PMERJ, Educandário Santo Expedito, DEGASE, Presídio Talavera Bruce (feminino), Complexo Penitenciário de Gericinó, Comunidade das Irmãs de Calcutá, Hospital Marcílio Dias, Secretaria de Segurança Pública e Missa na Casa do Padre.
Portanto, queremos que estes dias da Trezena sejam marcados pela celebração e sejam assim ressaltadas três atitudes: o amor, a misericórdia e a caridade. É claro que, ao exercitarmos estas três atitudes, aumenta em nós o dom da fé. Que São Sebastião nos ilumine nesta caminhada da Trezena e nos ajude a plantar o amor, a viver a misericórdia e a testemunhar vivamente a caridade. 
Ao iniciar a Trezena, lançaremos a Campanha de Solidariedade Especial, na qual pedimos o incremento das ofertas para a caridade social às paróquias para fazer frente às novas situações de necessidades que grassam em nossa cidade, como a questão do desemprego, a falta de pagamento dos salários, além das situações de miséria já existentes. “Somos solidários como São Sebastião”, que não hesitou de visitar os cárceres para ajudar os cristãos perseguidos. Agora é necessário esse socorro especial para minimizar a crise pela qual passam as pessoas. A Caritas da Arquidiocese coordenará esse trabalho. Cada Paróquia arrecada e distribui as cestas básicas para as pessoas que as necessitam em seu âmbito paroquial. O dinheiro depositado na conta da Caritas e a arrecadação da procissão de São Sebastião irão para algumas entidades que distribuem alimentos para os que o necessitam hoje.
Dessa forma, a nossa resposta capilarizada através das paróquias ajudará a tantas pessoas que passam por angústias diante da situação pessoal ou familiar. É uma tradição de a Igreja ir ao encontro das pessoas para socorrê-las. E isso sem distinção de religião ou situação familiar.
Dessa forma, a missão popular na festa de nosso padroeiro – “São Sebastião, padroeiro das famílias cariocas” – vai desabrochar e aumentar a dimensão com a solidariedade dos cristãos com as pessoas que sofrem, pois “somos solidários como São Sebastião”.

São Sebastião, rogai por nós! Fonte: http://www.cnbb.org.br

20 de janeiro: São Sebastião

Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

Depois de amanhã, dia 20, celebraremos a solenidade do glorioso mártir São Sebastião, padroeiro da Cidade maravilhosa e do nosso Estado do Rio de Janeiro. 
Segundo nos explica Dom Orani João Tempesta, Cardeal Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, ele nasceu em Narbona, uma cidade ao Sul da França, no século III. Era filho de uma família ilustre. Ficou órfão do pai ainda menino, e então, foi levado para Milão por sua mãe, onde passou os primeiros anos da infância e juventude.
A mãe educou-o com esmero e muito zelo. Ele ingressou no exército imperial, e, por sua cultura e grande capacidade atingiu os mais altos graus da hierarquia militar, chegando a ocupar o posto de Comandante do Primeiro Tribunal da Guarda Pretoriana durante o reinado de Diocleciano, um dos mais severos imperadores romanos, perseguidor dos cristãos.
Foi denunciado ao Imperador como sendo cristão. Mesmo sendo um bom soldado romano, suas atitudes demonstravam sua fé cristã, e, diante de todos, confessou bravamente sua convicção. Foi acusado, então, de traição. Na época, o imperador tinha abolido os direitos civis dos cristãos. Por não aceitar renunciar a Cristo, São Sebastião foi condenado à morte, sendo amarrado a um tronco de árvore e flechado. Porém, não morreu ali. Foi encontrado vivo por uma mulher cristã piedosa que tinha vindo buscar o seu corpo. Diante do ocorrido, recuperada a saúde, apresentou-se diante do Imperador e reafirmou sua convicção cristã. E nova sentença de morte veio sobre ele: foi condenado ao martírio no Circo. Sebastião foi executado, então, com pauladas e boladas de chumbo, sendo açoitado até a morte e jogado nos esgotos perto do Arco de Constantino. Era 20 de janeiro. 
Seu corpo foi resgatado e levado para as catacumbas romanas com grande honra e piedade. Sua fama se espalhou rapidamente. Suas relíquias repousam sobre a Basílica de São Sebastião, na via Apia, em Roma. O Papa Caio escolheu-o como defensor da Igreja e da fé. 
Nesses tempos de grande negação da fé e de valores espirituais e religiosos, humanos e sociais, São Sebastião torna-se um grande modelo de ajuda para nós hoje, principalmente aos jovens, envoltos em grande confusão moral e espiritual. Ele é um sinal de fidelidade a Cristo mesmo com as pressões contrárias. Dessa forma, ele continua anunciando Jesus Cristo, por quem viveu, até os dias de hoje. Ele nos ensina a não desanimarmos com as flechadas que recebemos e a continuarmos firmes na fé.

Um mártir não deve ser um estranho para nós. Ainda em pleno século XXI encontramos irmãos e irmãs nossas que são mortos em tantos países, outros têm ainda seus direitos civis cassados por serem cristãos, outros são condenados à prisão ou à morte por aderirem ao Cristianismo, e ainda são expulsos de suas cidades e suas igrejas queimadas. Além disso, muitos são martirizados em sua fama, em sua honra e tantas outras maneiras modernas de “matar” pessoas por causa da fé ou de suas convicções cristãs. Fonte: http://www.cnbb.org.br

domingo, 15 de janeiro de 2017

Íntegra da homilia do Papa Francisco feita na missa de Aparecida

Papa falou sobre os jovens e lembrou ida à cidade, em conferência de 2007.
Milhares acompanharam missa no Santuário Nacional, no interior de SP.

Leia a íntegra do discurso a seguir:
"Venerados irmãos no episcopado e sacerdócio, queridos irmãos e irmãs!
(Quarta-feira, 24 de julho de 2013)

Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério.
Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano.
Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo"
Papa Francisco
Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de Igreja.
E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.
Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um país e de um mundo mais justo, solidário e fraterno.
Para tal, gostaria de chamar atenção para três simples posturas: conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.
Conservar a esperança: A segunda leitura da missa apresenta uma cena dramática: uma mulher, figura de Maria e da Igreja, sendo perseguida por um dragão – o diabo – que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo.
Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados!
Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar a esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer.
Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade.
Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo.
Neste santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.
A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Paraíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus!
Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.
A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria.
O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura. Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados.
O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui, neste santuário: “o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”.
Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ele nos pede: “Fazei o que Ele vos disser”. Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja."



sábado, 14 de janeiro de 2017

CORDEIRO DE DEUS: Frei Petrônio

ZYGMUNT BAUMAN: Dos impasses da solidão em rede

"Para Bauman, a promessa de que a riqueza acumulada pelos que estão no topo chegaria aos que se encontram mais abaixo é uma grande mentira", escreve Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul, publicada por Sul21, 09-01-2017.


Eis o artigo.
Zygmunt Bauman concedeu recentemente entrevista ao El País (09/01), publicada sob a designação “As redes sociais são uma armadilha”. O título da matéria não faz justiça ao seu verdadeiro conteúdo, que refere ao 15-M da Espanha dos “indignados”, de maio de 2011. À época, estes movimentos, através de mecanismos de democracia direta, ainda exploravam exclusivamente esta forma de participação, não de forma combinada, mas “contra” as instâncias políticas tradicionais.
A chamada “classe política” espanhola, no período, estava dividida entre os remédios neoliberais do Partido Popular e a moderação liberal-centrista do Partido Socialista Espanhol, que, ao fim ao cabo -quando no poder- governava de maneira mais ou menos idêntica ao seu tradicional adversário de direita. A maioria dos protagonista do 15-M organizou-se, politicamente, num novo Partido, o “Podemos”, cuja fundação reordenou a democracia espanhola, dando a ela uma nova vitalidade. Foi uma conquista das redes: o “virtual” fez as pessoas se encontrarem no mundo “real” das ruas e construírem, pelas suas mãos e cérebros, um novo protagonismo político, fundado na transação de afetos e idéias, de forma direta entre as pessoas.
Entre diversas preciosidades e formulações doutrinárias deste grande intelectual do nosso tempo, duas me chamaram atenção pelo poderoso apelo à reflexão que incitam, neste mundo trágico e demente que vivemos: 1. “O 15-M, de certa forma, foi uma explosão de solidariedade, mas as explosões são potentes e breves”. 2. “O poder se globalizou, mas as políticas são tão locais quanto antes (…) a política tem as mãos cortadas(…) as instituições democráticas não foram estruturadas para conduzir situações de interdependência”. Bauman é o mesmo que, em várias oportunidades, sustentou que a “promessa de que a riqueza acumulada pelos que estão no topo chegaria aos que se encontram mais abaixo é uma grande mentira!”.
A perda do sentido da identidade, num mundo cada vez mais individualista, proporcionou que a vida coletiva em “rede” se tornasse uma forma de compensar a ausência da comunhão real entre pessoas. O que as redes sociais geram, todavia – adverte Bauman – é um “substituto” comunitário, não uma comunidade verdadeiramente humana. Esta, de forma autêntica, só é construída por sucessivos laços identitários de convívio, tanto no cotidiano como na história. É verdadeiro que nas “redes” – ainda segundo Bauman – os indivíduos se sentem um pouco melhor, “porque a solidão é a grande ameaça nestes tempos individualistas”, mas nelas (redes) é possível “deletar”, tanto o contato imediato que pede mais tolerância, como aquela interlocução que não agrada, porque vem do “diferente”: a tolerância, porém, é a qualidade humana mais elevada e a identidade humana verdadeira, só pode existir pelo contraste da diferença e das suas lições.
A contradição entre as necessidades locais e regionais e as questões políticas e econômicas globais, estão expostas todos os dias nas guerras pelo poder sobre as fontes de energia fóssil, na luta sem quartel pelos derradeiros territórios agricultáveis e pelo controle das reservas aquíferas do planeta. A crise é ascendente, porém, não por um adquirido sentido de maldade dos seres humanos, mas porque o capital precisa radicalizar as formas de controle destas riquezas naturais, visando a continuidade equilibrada do funcionamento da economia dos grandes países industrializados. Especialmente dos que devem ser reiteradamente financiados, para não sucumbir como nação.
É o caso dos EUA, cujo “buraco negro” do seu Tesouro explodiria se a China – quem diria – subitamente deixasse de comprar os seus papéis. “O insaciável apetite da América” pelo financiamento da sua dívida – disse um filósofo – é, ao mesmo tempo que um passivo permanente, um ativo gigantesco: a “não explosão” de quem faz a pauta militar do mundo é o que dá sentido “comunitário” a sua liderança (manipulatória), que proporciona a proteção contra o inimigo comum, o “diferente”, que por escassez de meios, ainda mantém as suas reservas estratégicas de petróleo, terra e água para serem exploradas pelos mais fortes.
As “explosões de solidariedade” são importantes e fixam novos parâmetros para fazer política. E “fazer política” significa criar mediações, dentro da ordem, se o regime é democrático, e contra ela – se ele deixa de ser democrático. O objetivo é dirigir o Estado de forma legítima para responder às maiorias, combater a pobreza, a miséria, o crime, a insegurança, a solidão e a insanidade, numa sociedade compartimentada e egoísta. Mas as explosões de solidariedade na luta contra a extorsão do futuro – encomendada pelas reformas “liberais” – são breves e impotentes, se não se transformam em organização, programa, tática e estratégia.
É fundamental levar em consideração que os confrontos de interesse entre classes e entre os projetos de nação, hoje, tem duas determinações históricas que exigem a recriação dos movimentos emancipatórios, num contexto universal muito mais complexo do que no século passado: primeiro, a nação só é passível de ser construída, hoje, com interdependência consciente, na qual não se abdica da soberania, mas esta assimila a interdependência; segundo, as “redes”, eternamente reproduzidas como aproximação virtual entre os sujeitos, só reforçarão a solidão e o isolamento -propício para o amortecimento da criatividade humana- caso as relações entre pessoas e grupos não transcendam para espaço democrático de rua e para as instâncias políticas do Estado.

Um dos limites mais graves e autoritários dos projetos socialistas revolucionários do passado, foi o não reconhecimento – na própria construção da nova sociedade – que ela deveria ser um abrigo de formas diversificadas, “belas e livres” de “convivência humana”, passado o período da agressão do nazi-fascismo. “E são belas e livres” – como diz Agnes Heller – “todas as formas as quais a comunidade não obstaculiza, mas antes favorece o desenvolvimento multilateral harmonioso das faculdades e dos carecimentos humanos.” Dentro da crise e do caos é que se reconstroem as mais belas utopias e as energias para revidar à brutalidade e à desumanidade. Chacinas e como a de Campinas ocorrem todos os dias, em todos os lugares do planeta. Mas a carta que a justifica e exalta é um sintoma de doença grave, tanto do indivíduo que foi o seu autor, como da sociedade que o gerou. Fonte: http://www.ihu.unisinos.br

DIA 14: QUEM PRECISA DE CONVERSÃO?

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Papa aos jovens: ouçam a voz de Deus, construam um mundo melhor

Cidade do Vaticano (RV) - O Papa Francisco enviou uma carta aos jovens, nesta sexta-feira (13/01), de apresentação do documento preparatório do Sínodo dos Bispos de 2018.
O Pontífice inicia a carta manifestando sua alegria de anunciar aos jovens que, em outubro de 2018, se realizará a 15ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sobre o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. 
O documento preparatório foi apresentado, esta manhã, na Sala de Imprensa da Santa Sé. Um dos objetivos do texto é encontrar as melhores maneiras para acompanhar os jovens a reconhecer e acolher o chamado à vida plena e anunciar o Evangelho de maneira eficaz.
A carta dá início a uma fase de estudo da parte do Povo de Deus. É endereçada às Conferências Episcopais, aos Conselhos dos Hierarcas das Igrejas Orientais Católicas, aos departamentos da Cúria Romana e à União dos Superiores Gerais. Espera-se também a participação dos jovens através de um site.
O Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Lorenzo Baldisseri, abriu a coletiva com os jornalistas apresentando a estrutura do documento que tem como objetivo recolher informações sobre a atual condição sociocultural dos jovens de 16 a 29 anos, nos vários contextos em que vivem, a fim de entendê-la, em vista dos passos preparatórios sucessivos para a assembleia dos bispos. 
O texto é dividido em três partes: ver a realidade, a importância do discernimento, e ação pastoral da comunidade eclesial. A Igreja deseja acompanhar os jovens na descoberta e realização de sua vocação.
“Deve ser esclarecido que o termo vocação deve ser entendido no sentido amplo e diz respeito a grande variedade de possibilidade de realização concreta da própria vida na alegria do amor e na plenitude decorrente do dom de si a Deus e aos outros. Trata-se de encontrar a forma concreta em que esta realização plena possa se realizar através de uma série de escolhas, que articulam estado de vida, matrimônio, ministério ordenado, vida consagrada, etc. profissão modalidade de compromisso social e político, estilo de vida, gestão do tempo e dinheiro, etc”, disse o Cardeal Baldisseri na coletiva.
Completa o documento preparatório um questionário que prevê a coleta de dados estatísticos sobre cada igreja local, a resposta a várias perguntas para entender melhor casa situação e a partilha de boas práticas pastorais em andamento para que possam ser de ajuda a toda a Igreja. 
Os jovens serão plenamente envolvidos nesta fase preparatória através de um site a fim de recolher suas expectativas e vida. 
“O próximo Sínodo não quer somente se interrogar sobre como acompanhar os jovens no discernimento de sua escolha de vida à luz do Evangelho, mas quer também colocar-se à escuta de seus desejos, projetos e sonhos que os jovens têm para sua vida, como também das dificuldades que encontram para realizar o seu projeto a serviço da sociedade à qual pedem para ser protagonistas ativos”, disse o Subsecretário do Sínodo dos Bispos, Mons. Fabio Fabene.
Para envolver os jovens serão criadas várias iniciativas, vigílias de oração, encontros internacionais e concertos. As respostas ao questionário do documento preparatório e as dos jovens serão a base para a redação do Documento de trabalho o Instrumentum laboris, que será o ponto de referência para o debate dos Padres sinodais.
A seguir, a carta do Papa aos jovens.
“Quis que vocês estivessem no centro das atenções, porque os tenho em meu coração. Exatamente hoje foi apresentado o Documento preparatório, que confio também a vocês como «bússola» ao longo deste caminho”. 

Sair
“Vêm-me à mente as palavras que Deus dirigiu a Abraão: «Sai de sua terra, do meio de seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei». Hoje, estas palavras são dirigidas também a vocês: são palavras de um Pai que os convida a «sair» a fim de serem lançados em direção a um futuro desconhecido, mas portador de realizações seguras, encontro ao qual Ele mesmo os  acompanha. Convido-os a ouvir a voz de Deus que ressoa em seus corações através do sopro do Espírito Santo”, ressalta o Papa no texto. 
“Quando Deus disse a Abraão «Sai», o que queria lhe dizer? Certamente, não para fugir de sua família, nem do mundo. O seu foi um convite forte, uma provocação, a fim de que deixasse tudo e partisse para uma nova terra. Qual é para nós hoje esta nova terra, a não ser uma sociedade mais justa e fraterna que vocês almejam profundamente e desejam construir até às periferias do mundo?” 
“Mas hoje, infelizmente, o «Sai» adquire também um significado diferente. O da prevaricação, da injustiça e da guerra. Muitos de vocês, jovens, estão submetidos à chantagem da violência e são forçados a fugir de sua terra natal. O seu clamor sobe até Deus, como o de Israel, escravo da opressão do Faraó”, destaca o Pontífice. 

Discernir
“Recordo-lhes também as palavras que certo dia Jesus proferiu aos discípulos, que lhe perguntavam: «Rabi, onde moras?». Ele respondeu: «Vinde e vede!». Jesus dirige o seu olhar também a vocês, convidando-os a caminhar com Ele.” 
“Queridos jovens, vocês encontraram este olhar? Ouviram esta voz? Sentiram este impulso a pôr-se a caminho? Estou convencido de que, não obstante a confusão e a perturbação deem a impressão de reinar no mundo, este apelo continua ressoando em seu espírito para o abrir à alegria completa. Isto será possível na medida em que, também através do acompanhamento de guias especializados, vocês souberem empreender um itinerário de discernimento para descobrir o projeto de Deus em sua vida. Mesmo quando o seu caminho estiver marcado pela precariedade e pela queda, Deus rico de misericórdia estende a sua mão para os erguer”, sublinha ainda o Papa.
Agir
Na abertura da última Jornada Mundial da Juventude, em Cracóvia, perguntei-lhes várias vezes: «Podemos mudar as coisas?». E vocês gritaram juntos um «Sim!» retumbante. Aquele grito nasce do seu coração jovem, que não suporta a injustiça e não pode submeter-se à cultura do descarte, nem ceder à globalização da indiferença. Escutem aquele clamor que vem do seu íntimo! Mesmo quando sentirem, como o profeta Jeremias, a inexperiência de sua jovem idade, Deus os encoraja a ir para onde Ele os envia: «Não tenha medo [...] pois eu estou com você para protegê-lo».
Constrói-se um mundo melhor também graças a vocês, ao seu desejo de mudança e generosidade. Não tenham medo de ouvir o Espírito que lhes sugere escolhas audaciosas, não hesitem quando a consciência lhes pedir para arriscar a fim de seguir o Mestre. Também a Igreja deseja colocar-se à escuta de sua voz, de sua sensibilidade, de sua fé; até de suas dúvidas e suas críticas. Façam ouvir o seu grito. Deixem ele ressoar nas comunidades e o façam chegar aos pastores. São Bento recomendava aos abades que, antes de cada decisão importante, consultassem também os jovens porque «muitas vezes é exatamente ao mais jovem que o Senhor revela a melhor solução».
“Assim, através do caminho deste Sínodo, eu e os meus irmãos Bispos queremos, ainda mais, «colaborar para a sua alegria». Confio-lhes a Maria de Nazaré, uma jovem como vocês, à qual Deus dirigiu o seu olhar amoroso, a fim de que os tome pela mão e os  guie para a alegria de um «Eis-me!» pleno e generoso”, conclui o Papa. 

NÃO SER CARANGUEJO: Frei Petrônio.

INVESTIR NA VIDA: Frei Petrônio.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

NÃO TER AMIGOS: Frei Petrônio.

Quando uma mãe perde um filho, aproxime-se com lágrimas, não com palavras, diz o Papa.

Nas profundezas do desespero, quando palavras e gestos já não ajudam, chorem com os que sofrem, porque as lágrimas são as sementes da esperança, disse o Papa Francisco.

Quando alguém está sofrendo, "é necessário compartilhar de seu desespero. A fim de enxugar as lágrimas do rosto de quem sofre, devemos nos unir ao seu choro. Esta é a única maneira de as nossas palavras poderem realmente oferecer um pouco de esperança", disse ele, no dia 4 de janeiro, durante sua última audiência pública semanal.
"E se não for possível oferecer estas palavras, de lágrimas, de tristeza, é melhor o silêncio, o carinho, um gesto, sem palavras", disse ele. A reportagem é de Carol Glatz, publicada por Catholic News Service, 04-01-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Em sua primeira audiência pública do ano, o Papa continuou sua série de catequeses sobre a esperança cristã, refletindo a respeito da tristeza inconsolável de Raquel e do luto por seus filhos, que "já não existem", como disse o profeta Jeremias.
O fato de Raquel se recusar a ser consolada "expressa a profundidade de sua dor e a amargura do seu choro", disse o Papa aos que estavam reunidos na Sala Paulo VI do Vaticano.
"Diante da tragédia da perda de seus filhos, uma mãe não suporta palavras ou gestos de consolo, que são sempre insuficientes, sempre incapazes de aliviar a dor de uma ferida que não pode e não quer ser curada", disse ele. A dor, disse o Papa, é proporcional ao amor em seu coração.
Raquel e seu choro, segundo ele, representam cada mãe e cada pessoa ao longo da história que chora uma "perda irreparável".
A recusa de Raquel também "nos ensina o quanto é necessário ter sensibilidade" e a delicadeza com a qual se deve abordar uma pessoa com dor, disse o Papa.
Jeremias mostra como Deus respondeu a Raquel de uma forma amorosa e gentil, com palavras "genuínas, não falsas".
O Papa declarou que Deus responde com uma promessa de que suas lágrimas não são em vão e que seus filhos devem retornar do exílio e então haverá nova vida e esperança.
"Lágrimas geraram esperança. Não é fácil de entender, mas é verdade", disse ele.
"Muitas vezes, em nossa vida, as lágrimas multiplicam a esperança, são sementes de esperança", afirmou Francisco, enfatizando que as lágrimas de Maria ao pé da cruz geraram nova vida e esperança para aqueles que, por meio de sua fé, tornaram-se seus filhos no corpo de Cristo: a Igreja.
Este "Cordeiro de Deus" inocente morreu por toda a humanidade, o que é sempre importante lembrar, especialmente ao se confrontar com a questão de por que os filhos sofrem neste mundo, disse ele.
O Papa declarou que quando as pessoas perguntam-lhe o porquê de tanto sofrimento, ele não tem resposta. "Eu só digo: 'Olhe para a cruz. Deus nos deu a seu filho, que aqui sofreu, e talvez lá você encontre uma resposta."
Nenhuma palavra ou resposta cabível vêm à mente, disse ele, só se pode olhar para o amor que Deus demonstrou ao oferecer seu filho, que ofereceu a sua vida. Isto pode levar a algum caminho de consolo.
A palavra de Deus é a palavra definitiva de consolação "porque nasce das lágrimas".

Papa Francisco: Jesus tem autoridade porque estava próximo das pessoas.

Jesus tinha autoridade porque servia as pessoas, estava próximo das pessoas e era coerente, ao contrário dos doutores da lei que se sentiam príncipes. Estas três características da autoridade de Jesus foram destacadas pelo Papa na reflexão matutina da terça-feira (10/01), na Casa Santa Marta.
O Pontífice sublinhou que os doutores da lei ensinavam com autoridade “clericalística”, afastados das pessoas, não viviam aquilo que pregavam.
A autoridade de Jesus e aquela dos fariseus são os dois eixos em torno dos quais orbita a homilia do Papa. Um é uma autoridade real, o outro formal. No Evangelho do dia se fala do estupor das pessoas porque Jesus ensinava “como alguém que tem autoridade” e não como os escribas: eram as autoridades do povo, destaca Francisco, mas aquilo que ensinavam não entrava no coração, enquanto em Jesus havia uma autoridade real: não era “um sedutor”, ensinava a Lei “até o último detalhe”, ensinava a Verdade com autoridade.
O Papa desce aos pormenores e reflecte sobre as três características que diferenciam a autoridade de Jesus daquela dos doutores da Lei. Enquanto Jesus “ensinava com humildade”, e diz aos seus discípulos que “o maior seja como aquele que serve: faça-se menor”, os fariseus se sentiam príncipes:
“Jesus servia as pessoas, explicava as coisas para que as pessoas entendessem bem: estava ao serviço das pessoas. Havia um comportamento de servidor, e isto Lhe dava autoridade. Ao invés, os doutores da lei que as pessoas ... sim, escutavam, respeitavam mas não reconheciam que tivessem autoridade sobre eles, estes tinham uma psicologia de príncipes: ‘Somos os mestres, os príncipes, e nós ensinamos vocês. Não serviço: nós mandamos, vocês obedecem”. E Jesus nunca se fez passar por um príncipe: era sempre servidor de todos e isto é o que Lhe dava autoridade”.
É o estar próximo das pessoas, na verdade, que confere autoridade. A proximidade é a segunda característica que diferencia a autoridade de Jesus daquela dos fariseus. “Jesus não era alérgico às pessoas: tocava os leprosos, os doentes, não lhe dava repugnância”, explica Francisco, enquanto os fariseus desprezavam “as pobres pessoas, ignorantes”, eles gostavam de passear pelas praças, bem vestidos:
“Eram distantes das pessoas, não eram próximos; Jesus era muito próximo das pessoas, e isso dava autoridade. Os distantes, aqueles doutores, tinham uma psicologia clericalística: ensinavam com uma autoridade clericalística, isto é, o clericalismo. Eu gosto tanto quando leio a proximidade às pessoas que tinha o Beato Paulo VI; no número 48 da “Evangelii Nuntiandi” se vê o coração do pastor próximo: ali está a autoridade daquele Papa, a proximidade”.
Mas há um terceiro ponto que diferencia a autoridade dos escribas daquela de Jesus, e é a coerência, Jesus “vivia o que pregava”: “havia como uma unidade, uma harmonia entre aquilo que pensava, sentia e fazia”.” Enquanto quem se sente príncipe tem “uma atitude clericalística”, isto é hipócrita, diz uma coisa e faz outra:
“Ao invés, essas pessoas não eram coerentes e sua personalidade era dividida a ponto que Jesus aconselhava seus discípulos: “Fazei o que eles dizem, mas não o que fazem”: diziam uma coisa e faziam outra. Incoerência. Eram incoerentes. E o adjectivo que Jesus usa muitas vezes é hipócrita. E dá para entender que quem se sente príncipe, que tem uma atitude clericalística, que é uma hipócrita, não tem autoridade! Dirá verdades, mas sem autoridade. Jesus, ao invés, que é humilde, que está ao serviço, que está próximo, que não despreza as pessoas e que é coerente, tem autoridade. E esta é a autoridade que o povo de Deus sente”.
Concluindo, para explicar plenamente isto, o Papa recorda a parábola do Bom Samaritano. Diante do homem abandonado meio morto na estrada pelos brigantes, passa o sacerdote e vai embora porque tem sangue e pensa que se o tivesse tocado se tornaria impuro; passa o levita, diz o Papa, e “creio pensasse” que se tivesse se envolvido, depois deveria testemunhar no tribunal” e tinha tantas coisas para fazer. E também ele vai embora. No final, vem o samaritano, um pecador que, ao invés, sente piedade. Mas tem outro personagem, o hospedeiro, nota o Papa, que fica impressionado não com o ataque dos brigantes, porque era uma coisa que acontecia naquela estrada, não pelo comportamento do sacerdote e do levita, porque os conhecia, mas pelo comportamento do samaritano. O estupor do hospedeiro diante do samaritano: “Mas ele é louco”, “não é hebreu, é um pecador”, podia pensar. Francisco então liga este episódio com o estupor das pessoas do Evangelho de hoje diante da autoridade de Jesus: “uma autoridade humilde, de serviço”, “uma autoridade próxima das pessoas” e “coerente”. Fonte: http://pt.radiovaticana.va