O povo permanecia aí, olhando. Os
chefes, porém, zombavam de Jesus, dizendo: «A outros ele salvou. Que salve a si
mesmo, se é de fato o Messias de Deus, o Escolhido!»
Os
soldados também caçoavam dele. Aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre, e diziam:
«Se tu és o rei dos judeus, salva a ti mesmo!» Acima dele havia um letreiro:
«Este é o Rei dos judeus».
Um dos
criminosos crucificados o insultava, dizendo: «Não és tu o Messias? Salva a ti
mesmo e a nós também!». Mas o outro o repreendeu, dizendo: «Nem você teme a
Deus, sofrendo a mesma condenação? Para nós é justo, porque estamos recebendo o
que merecemos; mas ele não fez nada de mal». E acrescentou: «Jesus, lembra-te
de mim, quando vieres em teu Reino». Jesus respondeu: «Eu lhe garanto: hoje
mesmo você estará comigo no Paraíso».
Evangelho de Lucas, 23, 35-43.
(Correspondente à Festa de Cristo Rei, ciclo C, do Ano Litúrgico).
O Ano Santo da Misericórdia que iniciou com a abertura da Porta
Santa na Basílica de S. Pedro no dia 8 de dezembro de 2015, Solenidade da
Imaculada Conceição, encerra neste domingo, Solenidade de Jesus Cristo, Rei do
Universo.
Um ano
centrado na Misericórdia de Deus como disse o Papa Francisco: “Deus abre o
coração e a esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do
pecado”. (Cfr Misericordiae Vultus)
O texto
evangélico oferece um testemunho da misericórdia, como diz Andrea Grillo ao comentar o conceito que orienta o
Ano Santo Extraordinário: “A misericórdia é o
horizonte do perdão”, porque a “‘dependência do outro’ é a
condição para se desejar, em primeiro lugar, a comunhão com o outro”. “Passa,
inevitavelmente, por uma profunda redescoberta do ‘outro’”, no sentido de “ser
capaz de ‘tirar os sapatos diante da terra sagrada do outro”. (Leia a entrevista completa aqui)
O Evangelho de Lucas apresenta-nos Jesus
Crucificado e diferentes pessoas ao seu redor. Acima da cruz
havia um letreiro onde estava escrito: Rei dos Judeus.
No primeiro parágrafo que lemos temos
uma clara descrição da cena. Jesus na cruz e diferentes grupos de pessoas. Imaginemos essa situação.
Está o povo que fica olhando.
Imaginamos que alguns olhavam Jesus crucificado, sem entender o que tinha
acontecido e lembrando muitas coisas “dessa pessoa” que agora estava na sua
frente sofrendo os tormentos de uma cruz. Uma sucessão dos fatos muito fugazes
levaram seu profeta e mestre a estar agora condenado como um pecador! Tudo se
desenvolveu depressa, quase sem perceber.
Outros dirigiam sua mirada a Maria. Sua serenidade e paz no meio da sua dor gerava
neles confiança em Deus e uma paz incompreensível para estar ali. Como era
possível que essa mulher tivesse tanta
calma nessa situação? Ela
trazia-lhes a lembrança de Jesus orando ao Pai, narrando parábolas e em tantos
outros momentos dos três anos vividos juntos.
Outras pessoas dirigiram seus olhares ao seu redor por medo. Será que todos/as iam acabar como ele? Tudo era mentira? Porém a memória das curas, da vida recebida estando com ele continuava presente.
Outras pessoas dirigiram seus olhares ao seu redor por medo. Será que todos/as iam acabar como ele? Tudo era mentira? Porém a memória das curas, da vida recebida estando com ele continuava presente.
No texto aparecem também os chefes que zombavam dele e o ridicularizavam com
suas críticas. São os que acreditam saber e eles consideram-se
com autoridade para falar. Repetem ironicamente as palavras que mais os incomodavam:
ele acreditava ser o Messias: “A
outros ele salvou”. “Que salve a si mesmo se é de fato o Messias de Deus, o
Escolhido!”.
Sua condenação para eles é justa
porque Jesus engana os pobres, os que não têm cultura e, ainda pior,
continuamente falava deles, os chefes, como se fossem corruptos e falsos. Além
de tudo, "esse falso profeta" tentava convencer o povo de que era
enganado com as exigências do culto e das celebrações. Para eles, Jesus lançava
dardos de fogo contra uma religião estabelecida há muito tempo com suas leis e
costumes.
Aparecem também os soldados que são os que estão a serviço do
Império Romano. Estes não o conhecem muito, mas são os que
neste momento estão realizando sua tarefa. Também caçoavam dele. “Aproximavam-se, ofereciam-lhe
vinagre, e diziam:“Se tu és o rei dos judeus, salva a ti mesmo”!” Se unem aos
chefes na burla e no escarnecimento. Oferecem-lhe
vinagre para sua sede.
E ao final desta primeira cena disse
que “Acima dele havia um
letreiro: Este é o Rei dos judeus”.
Podemos
perguntar-nos: para onde dirigimos nosso olhar
diante de Jesus Crucificado? Se olharmos para ele, que
significa na nossa vida considerá-lo Rei? Como é seu reinado que estamos
chamados a imitar?
Há dois criminosos crucificados junto com Jesus, que
dialoga com eles. Um deles está preocupado por ser liberado dos
tormentos da cruz e nas suas palavras percebemos ironia: “Não és tu o Messias? Salva a ti
mesmo e a nós também!”. Ele
se soma às críticas dos judeus sobre o Messias e o poder que um Messias devia
ter para eles.
Mas o outro criminoso repreende-o: “Nem
você teme a Deus, sofrendo a mesma condenação?”. ” Para nós é justo, porque
estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal.”
Ele sabe os fatos que o levaram a
estar aí nesse momento, mas também sabe que Jesus não fez nada e por isso é uma
injustiça que estejam na mesma situação: os três condenados.
E ainda
acrescenta um pedido: «Jesus,
lembra-te de mim, quando vieres em teu Reino». Jesus respondeu: «Eu lhe
garanto: hoje mesmo você estará comigo no Paraíso». Além de reconhecer sua
culpa, ele
proclama na pessoa de Jesus o Messias, e por isso pede-lhe para estar no seu Reino.
No meio de sua
dor e do reconhecimento dos seus pecados, este ladrão tem uma mirada cheia de fé, e confia em Jesus. Sua pobreza e marginalização o levam a
acreditar em Jesus como Rei dos Judeus.
Sua atitude de humildade e
pobreza ante Jesus é um claro testemunho de que «Deus não é Deus de mortos, mas de
vivos; pois, para Ele, todos estão vivos» (Lc 20, 38). Revela-nos assim que
“esse é o verdadeiro rosto do Pai, cujo único desejo é a vida de todos os seus
filhos”. Como diz o Papa Francisco na missa celebrada para os presos na
Basílica de São Pedro: “Assim, para ser fiéis ao ensinamento de Jesus, tudo o que somos chamados a assumir e fazer nosso é
a esperança de renascer para uma vida nova”. (Leia a
Homilia completa do penúltimo Jubileu, os dos encarcerados: “A esperança não pode ser sufocada por
nada e por ninguém”)
Jesus é aceito
e proclamado Rei pelos mais pobres,
aqueles que estão crucificados junto com ele. Somos convidados a perguntar-nos
se aceitamos seguir o caminho da Cruz que nos apresenta Jesus nesta data.
Somente assim podemos reconhecer sua Realeza porque ele não é um rei glorioso, que triunfa
diante dos poderes do mundo.
Pelo
contrário, seu esplendor é percebido somente por aqueles e aquelas que, desde o
sofrimento que experimentam na sua vida, olham para o Crucificado e recebem
dele o consolo que acrescenta sua esperança.
Nele vemos
realizadas suas próprias palavras: "quem se eleva será
humilhado, e quem se humilha será elevado."(Lc 14,11). O Reinado de
Jesus foi o serviço especialmente aos pobres e aos rejeitados da sociedade.
Podemos nos
perguntar como olhamos para os/as outros/as, os que sofrem ao nosso lado?
Os que padecem a marginalização, a pobreza, o desprezo? Temos um olhar misericordioso e compassivo ou consideramos que temos autoridade
para julgar o que é justo e aquilo que é injusto? Nosso olhar é determinado
seguindo as normas estabelecidas pela lei?
Peçamos a
Paulo que possamos fazer nosso o seu mesmo sentir quando escreve aos
Filipenses:
Tenham uma só aspiração, um só
amor, uma só alma e um só pensamento. Não façam nada por competição e por desejo de receber
elogios, mas por humildade, cada um considerando os outros superiores a si
mesmo. Que cada um procure não o próprio interesse, mas o interesse dos outros.
Tenham em vocês os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo:
Ele tinha
a condição divina,
mas não se apegou a sua igualdade com Deus.
Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a condição de servo
e tornando-se semelhante aos homens.
Assim, apresentando-se como simples homem,
humilhou-se a si mesmo,
tornando-se obediente até a morte,
e morte de cruz!
Por isso, Deus o exaltou grandemente,
e lhe deu o Nome
que está acima de qualquer outro nome;
para que, ao nome de Jesus,
se dobre todo joelho
no céu, na terra e sob a terra;
e toda língua confesse
que Jesus Cristo é o Senhor,
para a glória de Deus Pai. (Fl 2, 2-11)
mas não se apegou a sua igualdade com Deus.
Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo,
assumindo a condição de servo
e tornando-se semelhante aos homens.
Assim, apresentando-se como simples homem,
humilhou-se a si mesmo,
tornando-se obediente até a morte,
e morte de cruz!
Por isso, Deus o exaltou grandemente,
e lhe deu o Nome
que está acima de qualquer outro nome;
para que, ao nome de Jesus,
se dobre todo joelho
no céu, na terra e sob a terra;
e toda língua confesse
que Jesus Cristo é o Senhor,
para a glória de Deus Pai. (Fl 2, 2-11)
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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