A
leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 23,35-43,
que corresponde a Solenidade de Cristo Rei ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
O
relato da crucificação, proclamado na festa do Cristo Rei, recorda aos
seguidores de Jesus que seu reino não é um reino de glória e de poder, mas de
serviço, amor e entrega total para resgatar o ser humano do mal, do pecado e da
morte.
Acostumados
a proclamar a «vitória da Cruz», corremos o risco de esquecer que o Crucificado
nada tem a ver com um falso triunfalismo que esvazia de conteúdo o gesto mais
sublime de serviço humilde de Deus para com suas criaturas. A Cruz não é uma
espécie de troféu que mostramos a outros com orgulho, mas o símbolo do Amor
crucificado de Deus que nos convida a seguir seu exemplo.
Cantamos,
adoramos e beijamos a Cruz de Cristo porque no profundo do nosso ser sentimos a
necessidade de dar graças a Deus pelo seu amor insondável, mas sem esquecer que
o primeiro que nos pede Jesus de forma insistente não é beijar a Cruz mas sim
carregar com ela. E isso consiste simplesmente em seguir seus passos de forma
responsável e comprometida, sabendo que esse caminho nos levará mais tarde ou
mais cedo a partilhar seu destino doloroso.
Não nos
está permitido aproximar-nos do mistério da Cruz de forma passiva, sem intenção
alguma de carregar com ela. Por isso, temos que cuidar muito de algumas
celebrações que podem criar em torno da Cruz uma atmosfera atrativa mas
perigosa, se nos distraem do seguir fielmente o Crucificado fazendo-nos viver a
ilusão de um cristianismo sem Cruz. É precisamente ao beijar a Cruz quando
temos que escutar a chamada de Jesus: «Se alguém vem detrás de mim... que
carregue com a sua cruz e me siga».
Para os
seguidores de Jesus, reivindicar a Cruz é aproximar-nos serviçalmente aos
crucificados; introduzir justiça onde se abusa dos indefesos; reclamar
compaixão onde só há indiferença ante os que sofrem. Isto irá trazer-nos
conflitos, rejeição e sofrimento. Será a nossa forma humilde de carregar com a
Cruz de Cristo.
O
teólogo católico Johann Baptist Metz insistiu no perigo que a imagem do
Crucificado nos esteja a ocultar o rosto de quem vive hoje crucificado. No
cristianismo dos países do bem-estar está acontecendo, segundo ele, um fenômeno
muito grave: «A Cruz já não intranquiliza a ninguém, não tem nenhum aguilhão;
perdeu a tensão do seguimento a Jesus, não chama a nenhuma responsabilidade,
mas retira-nos dela».
Não
teremos todos de rever qual a nossa verdadeira atitude ante o Crucificado? Não
teremos de nos aproximarmos Dele de forma mais responsável e comprometida?
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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