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domingo, 12 de julho de 2015

A ESPIRITUALIDADE MARIANA DA ORDEM CARMELITA (1ª Parte)

Maria nossa Irmã - Mulher do coração indiviso ou Virgem puríssima
EMANUELE BOAGA, O.CARM. - AUGUSTA DE CASTRO COTTA, CDP

1) Observações
1. Este tema tem forte ligação com o tema eliano como a consonância na virgindade entre Elias (fundador da Ordem - successão hereditária) e Maria (também fundadora), entretanto não é necessário que o Mestre entre em detalhes sobre o assunto (que será aprofundado depois do noviciado).
2. Na verdade, o essencial do estudo será a descoberta da beleza de Maria, a Virgem de coração puro, modelo para o Carmelita que deve viver “com o co¬ração puro e a reta consciência”, na escuta e acolhida da Palavra, em total di¬sponibilidade a Deus.
3. Esta imagem surgiu nos séculos XIV-XV, quando se refletia em toda a Igreja sobre o tema da Imaculada Conceição.

2) Conteúdo
1. O surgimento desta imagem é fruto e expressão da reflexão profunda dos Carmelitas nos séculos XIV-XV sobre a Virgindade de Maria. Procuravam sin¬tonia entre esta e a vida carmelitana em suas exigências espirituais mais profundas.
2. Nesta caminhada teológica descobrem Maria como IRMÃ. São vários os auto¬res que estabelecem as consonâncias Elias-Maria-Carmelitas. Em suas reflexões nutrem esta consideração que tem também, além do valor espiritual, um valor antropoló¬gico (o sentido da relação homem-mulher).

3. Outros Carmelitas aprofundam o mesmo tema, como:
• Arnoldo Bostio - estabelece assim um vínculo de intimidade dos Carmelitas com Maria, a “excelente irmã”, acrescentando à relação ma¬ternal com Maria a relação fraternal;
• João Ouderwater Paleonidoro - segue a linha de Bostio e alimenta o sentimento de familia¬ridade com Maria, estimulando a imitação na disponibiliade e docilidade à Palavra de Deus.
4. A relação com MARIA-VIRGEM PURÍSSIMA e IRMÃ traz profundas con-seqüências espirituais:
• chega-se a considerar Maria como um membro da Ordem: a “Virgo Carmelitana”, afirmando não apenas que a Ordem lhe pertence, mas que a própria Maria pertence ao Carmelo.
• aparece o ícone de “Maria Carmelitana” (trajada a Senhora com o hábito dos Carmelitas).
• substituem-se nas rubricas litúrgicas da época a expressão “Santa Maria” por “Virgem Maria”.
• a virgindade de Maria é apresentada não tanto como integridade fí¬sica mas como atitude existencial: exclusão de todo o pecado e afastamento de Deus e de sua vontade para viver em total disponi¬bilidade a Deus.

5. Duas conclusões podem ser evidenciadas:
a) Em relação à Maria:
• atenção à sua concepção e santificação no seio de Sant’Ana (o Mistério da Imaculada Conceição). Vários fatos atestam isto. Entre outros são essenciais:

- introdução na Ordem da Festa litúrgica da Imaculada Conceição (já em 1318 era patronal em Avinhão).
- a decisão do Capítulo geral de 1609 que legisla sobre a continuidade de tal celebração após a instituição do dia 16 de julho como festa patronal,
- a inserção da palavra “Virgem” e depois “Sempre Virgem” (1478) no título da Ordem (lembrar pesquisa feita anteriormente).
• o tema da Imaculada é inspirativo nas representações artisticas e na iconografia do tempo. Exemplos: pinturas em Corleone, Catânia, Londres, Bérgamo, Frankfurt. A Imaculada vem tam¬bém associada à “Mulher do Apocalipse” (lembrar o tema já estudado na parte bíblica).
• no aprofundamento e discussão teológica realizada pela Igreja sobre a Imaculada Conceição, a posição dos teólogos car¬melitas foi, ge-ralmente, de defesa deste aspecto do mistério de Maria, ainda que tenha havido alguns com posição con¬trária. Importante argu¬mentação, por sua autoridade teoló¬gica, é a dos carmelitas João Baconthorp (†1348), e Miguel Aiguani (†1400).
• o culto à Imaculada Conceição e a defesa deste privilégio ma¬riano levou os Carmelitas, principalmente portugueses e espanhóis, a práticas especiais (renovação de votos colocada no dia da festa; voto de defender a Imaculada Conceição; estímulo aos leigos para o culto e a defesa do mesmo “privilégio”).
• as referências à Imaculada Conceição ou “santificatio” de Maria le¬vam a dar ênfase à Beleza de Maria que passa a ser consi¬derada a “Decor Carmeli”. A via da “pulchritudo” (beleza inte¬rior) de S. Bernardo encontra grande riqueza de conteúdos na vivência e explicitação do Carmelo.

b) Em relação à ordem em seus compromissos marianos:
• a ligação entre a pureza de Maria e o próprio nome Carmelita, to¬mado como aquele que vive a ciência da circuncisão.
• a atenção a Maria como modelo perfeito daquele que deseja aderir a Deus com máxima pureza (= beleza interior) une a “Virgo Virginum”, a irmã por excelência, à Mulher do Apocalipse, ser to¬talmente disponível para a união com Deus.
• a devoção a Maria Virgem puríssima é continuação da devoção à Anunciação: é a pureza (= beleza interior) que faz Deus se encar¬nar em Maria. O Carmelita não a pode imitar neste parti¬cular privi¬légio, mas pode tomá-la como modelo de união com Deus, de escuta da palavra e de oração.
• acentua-se a ligação entre a capa branca e o seu simbolismo: pureza e santidade (João Baconthorp, Felipe Ribot, João Grossi).
• a disponibilidade a Deus - ensinada por Maria Madalena de’ Pazzi - através de um caminho ascético-místico que parte do reconheci¬mento do próprio nada até chegar à contemplação e união com Deus. Maria torna-se o modelo desta caminhada.
6. Os valores de uma imagem são sempre retomados e enriquecidos no de¬cor¬rer dos tempos, ainda que, muitas vezes, por alguns períodos deixem lugar à emergência de outros.
Os conteúdos espirituais da imagem de Maria, a Virgem puríssima, a “Virgo Carmelitana”, a Imaculada, sempre continuaram vivos no ideal e na prática da Ordem, ainda que menos presentes às vezes nos seus escritos.

3) Bibliografia
V. Hoppenbrouwers, Virgo Purissima et vita spiritualis Carmeli, em Carmelus, 1 (1954), pp. 255-277.
Idem, Devotio mariana, pp. 225-277.
L. Saggi, Santa Maria del Monte Carmelo, pp. 28-39 (trad. port., pp. 28-34).
C. Catena, La dottrina immacolatista negli autori carmelitani, em Carmelus, 2 (1955), pp. 132-215.
E. Carroll, La “Virgo Purissima” y el Carmelo, em Congreso Mariano Internacional 1989, pp. 51-74.
E. Boaga, A Senhora do Lugar, pp. 59-75.

4) Aprofundamentos
1. Individuar os conteúdos que a consideração de Maria Virgem puríssima (= disponível à ação da graça que transforma e embeleza) inspira à vivência do Carmelita. Com a ajuda de um dicionário de espiritualidade conceituar cada conteúdo.
2. Pesquisar: Sentido do nome Carmelita em Filipe Ribot, Tomas Bradley e Arnoldo Bostio - todos da época em que emergia a imagem de Maria Virgem puríssima.
3. Fazer - como se fosse um Carmelita da época - a argumentção que apre¬senta esta imagem de Maria.
4. Tomar 1Reis 19,44. Pode estabelecer um nexo entre este texto e a imagem de Maria Virgem puríssima?

5) Interiorização e oração
1. Leitura espiritual: tomar no Missal próprio de Nossa Senhora um dos prefácios e interiorizá-lo.
2. Em Isabel da Trindade ler “A Virgem fiel” (ver texto em: Boaga, A Senhora do Lugar, p. 71-72) e extrair os pontos em que ba¬seia sua reflexão mariana.

3. Contemplar Maria a “Virgem puríssima” em sua beleza interior, procurando pe¬netrar no seu coração e verificar a fonte de sua pureza-beleza. Aprender com ela o caminho da união com Deus. Refletir as descobertas com o seu Mestre.

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