Frei Petrônio de Miranda, Jornalista Carmelita, entrevista Frei Bruno Secondin, Pregador do Retiro do Papa. Veja aqui: http://youtu.be/ioEVQ3h_wXs
O que fazes aqui? O que buscas? Deixas-te surpreender por Deus? E ainda: queres entender para onde queres ir? Então, "refaz os teus passos". Foi aberto sob a insígnia de perguntas e convites dirigidos diretamente ao coração dos presentes o quarto dia dos exercícios espirituais quaresmais para o papa e a Cúria Romana, realizados na casa Divin Maestro, dos religiosos paulinos de Ariccia. A reportagem é do jornal L'Osservatore Romano, 25-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O que fazes aqui? O que buscas? Deixas-te surpreender por Deus? E ainda: queres entender para onde queres ir? Então, "refaz os teus passos". Foi aberto sob a insígnia de perguntas e convites dirigidos diretamente ao coração dos presentes o quarto dia dos exercícios espirituais quaresmais para o papa e a Cúria Romana, realizados na casa Divin Maestro, dos religiosos paulinos de Ariccia. A reportagem é do jornal L'Osservatore Romano, 25-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O carmelita Bruno Secondin disseminou
essas perguntas na primeira meditação dessa quarta-feira, 25 de fevereiro, que,
depois das reflexões dedicadas a recuperar a própria verdade interior e a
liberdade de adesão à proposta de Deus, abriu o caminho para essa proposta.
A discutida história do profeta Elias,
que luta com zelo e sacro furor, mas com um egocentrismo exagerado, para defender
a aliança entre o Senhor e o seu povo, e que se encontra exausto, derrotado e
assustado em uma caverna do monte Horeb, continuou a oferecer os impulsos para
as reflexões do pregador.
Na meditação da tarde da terça-feira,
24, o religioso tinha completado a proposta de "sondagem da
consciência", analisando justamente a trágica situação de Elias, que, como
narrado no capítulo 19 do Primeiro Livro dos Reis, se encontra em um estado de
"depressão mortal", assustado, em fuga, sozinho, exausto,
decepcionado com o próprio fracasso.
Um estado de depressão que, disse o
padre Secondin, "não é tão raro, mesmo na vida sacerdotal. Muitos
desmoronam, mesmo entre os padres". Por isso, é preciso prestar atenção a
certos sinais que poderiam desembocar em enormes dificuldades interiores.
Acima de tudo, o "medo". Ele
surge quando temos medo do futuro, d assumir responsabilidades. E pode ser
acompanhado pela "solidão", pelo sentir-se excluído e diferente, pelo
sentimento de "vazio" dado por uma vida ressequida, decepcionada com
os insucessos, pelo "colapso psicofísico" e pela
"autoacusação" (o próprio Elias diz: "Não sou melhor do que os
meus pais").
Tudo isto pode desembocar na
"fuga" – que pode ser física ou no imaginário – ou na repetição
obsessiva de certos gestos (como o consumo de álcool e de alimentos, ou na
evasão no mundo virtual), ou até no "desejo de morte".
Para evitar tudo isso, é importante
levar uma vida em que "a relação entre trabalho, repouso, oração e
relações sociais" seja "bem equilibrada".
Reconhecer o mais rapidamente possível
certas dinâmicas interiores, certos "sinais de estresse" é
fundamental para poder encontrar aquela solução que é proposta no relato
bíblico através da intervenção do anjo, que conforta Elias e o convida a se
dirigir ao Horeb.
"Elias – explicou o carmelita –,
precipitado aos infernos, conhece a transformação da fuga assustada que se
torna peregrinação." E nós perguntou-se, na dificuldade, "sabemos
reconhecer ao nosso redor a mão do anjo?". Assim como o pão serviu de apoio
para Elias, "reconhecemos na Eucaristia o viático que nos
acompanha?". Assim como a viagem levou Elias de volta para as raízes da
aliança, sabemos também nós "voltar às raízes" da nossa fé?
Uma fez que se assumiu a verdade dentro
de si mesmo e se predispôs à escuta, pode-se chegar ao confronto com Deus. E a
"manifestação misteriosa" que Elias experimenta no Horeb, aquele
"sussurro de uma brisa suave" sobre a qual tantos exegetas se
angustiaram, pode sugerir muito à meditação pessoal.
O padre Secondin, na meditação da manhã
da quarta-feira, repassou detalhadamente o diálogo entre Deus e Elias. O
profeta é caracterizado por um "eu hipertrofiado", que o leva a se
considerar "o umbigo do mundo".
Sob essa ótica, "a sua derrota
poderia parecer a derrota de Deus". O Senhor "deixa-o discursar no
seu solilóquio hipertrofiado", quer que Elias "se deixe
decompor" e opere uma "catarse profunda". E o desloca com a
pergunta: "O que fazes aqui?". Deus "se apresenta com uma
pergunta" e obriga o homem "a se olhar dentro, a dar voz às
inquietações que carrega".
Às vezes, avisou o pregador, Deus também
se torna para nós uma espécie de "bibelô", e corremos o risco de
"manipulá-lo" com a mesma fúria que parece permear o profeta. Mas
"Deus é livre diante dos poderosos e também diante da fúria de
Elias": o fracasso de Elias não perturba Deus, que já tem um desígnio
próprio e tem um povo ao qual ele permaneceu fiel.
Elias é abalado interiormente. O vento
impetuoso, o terremoto, o fogo em que o profeta não encontra Deus também
poderiam ser – sugeriu o padre Secondin – "projeções de estados
interiores" de uma pessoa a quem o mundo inteiro caiu sobre si.
A partir dessa lectio, explicou o
pregador, devem brotar perguntas pessoais: "Nós também temos Jezebéis que
arruínam a nossa vida? Somos obcecados por problemas com algumas pessoas, ou de
trabalho, ou de carreira?". Como nos relacionamos com Deus? Sabemos
"estar em adoração temente do Deus que passa?". Como o Senhor é
intimidade, "temos o hábito de estar com ele em intimidade?". Ou há
rumores ensurdecedores ("sucesso, vaidade, dinheiro, culpas dos
outros") que nos distraem?
Por fim – lembrando os sete mil
israelitas que permaneceram fiéis ao Senhor –, damo-nos conta de que estes
podem representar "a fidelidade silenciosa do povo"? E quem medita
também deve se perguntar: sou capaz de compreender e de interceptar essa
fidelidade, sou capaz de escutar "os ultrassons dos pobres, dos simples,
dos pequenos", que são "dons preciosos e não fragmentos
perdidos"?
As respostas podem encontrar um apoio
naquela que é a reação de Deus no relato bíblico. Elias queria acabar ali,
morrer no Horeb, onde havia iniciado a aliança. Ao contrário, Deus
"manda-o de novo a uma nova estação". Também nós somos chamados a
"captar sinais de futuro" nas nossas raízes, a "reencontrar
frescor", a nos pôr a caminho.
E se, como Elias, "estamos
decepcionados, cansados, acreditamos ser os melhores de todos e pensamos que o
mundo é habitado apenas por diabos enfurecidos", deixemo-nos
"surpreender por Deus" e iniciemos um novo caminho.
Eis, então, o convite com o qual o
pregador concluiu a meditação: "Refaz os teus passos!". Um convite
que o padre Secondin enriqueceu com uma série de sugestões concretas,
convidando a compartilhar os próprios bens materiais com os mais pobres, a
"abrir os armários cheios de paramentos inúteis" e a jogá-los fora, a
abrir os braços para "fazer a paz sincera com aqueles que não se consegue
suportar", a abrir os horizontes "à verdade polifônica, à beleza das
culturas e à riqueza das tradições", para admirar aquilo que Deus fez de
belo.
O carmelita exortou por fim: "Move
os teus passos nas periferias, vai celebrar nos barracos, vai almoçar com quem
tem pouco para comer. Vais entender onde Deus te espera". http://www.ihu.unisinos.br
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