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sábado, 28 de fevereiro de 2015

RETIRO DO PAPA FRANCISCO. "Refaz os teus passos''. Frei Bruno Secondin, Carmelita.

Frei Petrônio de Miranda, Jornalista Carmelita, entrevista Frei Bruno Secondin, Pregador do Retiro do Papa. Veja aqui: http://youtu.be/ioEVQ3h_wXs

O que fazes aqui? O que buscas? Deixas-te surpreender por Deus? E ainda: queres entender para onde queres ir? Então, "refaz os teus passos". Foi aberto sob a insígnia de perguntas e convites dirigidos diretamente ao coração dos presentes o quarto dia dos exercícios espirituais quaresmais para o papa e a Cúria Romana, realizados na casa Divin Maestro, dos religiosos paulinos de Ariccia. A reportagem é do jornal L'Osservatore Romano, 25-02-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O carmelita Bruno Secondin disseminou essas perguntas na primeira meditação dessa quarta-feira, 25 de fevereiro, que, depois das reflexões dedicadas a recuperar a própria verdade interior e a liberdade de adesão à proposta de Deus, abriu o caminho para essa proposta.
A discutida história do profeta Elias, que luta com zelo e sacro furor, mas com um egocentrismo exagerado, para defender a aliança entre o Senhor e o seu povo, e que se encontra exausto, derrotado e assustado em uma caverna do monte Horeb, continuou a oferecer os impulsos para as reflexões do pregador.
Na meditação da tarde da terça-feira, 24, o religioso tinha completado a proposta de "sondagem da consciência", analisando justamente a trágica situação de Elias, que, como narrado no capítulo 19 do Primeiro Livro dos Reis, se encontra em um estado de "depressão mortal", assustado, em fuga, sozinho, exausto, decepcionado com o próprio fracasso.
Um estado de depressão que, disse o padre Secondin, "não é tão raro, mesmo na vida sacerdotal. Muitos desmoronam, mesmo entre os padres". Por isso, é preciso prestar atenção a certos sinais que poderiam desembocar em enormes dificuldades interiores.
Acima de tudo, o "medo". Ele surge quando temos medo do futuro, d assumir responsabilidades. E pode ser acompanhado pela "solidão", pelo sentir-se excluído e diferente, pelo sentimento de "vazio" dado por uma vida ressequida, decepcionada com os insucessos, pelo "colapso psicofísico" e pela "autoacusação" (o próprio Elias diz: "Não sou melhor do que os meus pais").
Tudo isto pode desembocar na "fuga" – que pode ser física ou no imaginário – ou na repetição obsessiva de certos gestos (como o consumo de álcool e de alimentos, ou na evasão no mundo virtual), ou até no "desejo de morte".
Para evitar tudo isso, é importante levar uma vida em que "a relação entre trabalho, repouso, oração e relações sociais" seja "bem equilibrada".
Reconhecer o mais rapidamente possível certas dinâmicas interiores, certos "sinais de estresse" é fundamental para poder encontrar aquela solução que é proposta no relato bíblico através da intervenção do anjo, que conforta Elias e o convida a se dirigir ao Horeb.
"Elias – explicou o carmelita –, precipitado aos infernos, conhece a transformação da fuga assustada que se torna peregrinação." E nós perguntou-se, na dificuldade, "sabemos reconhecer ao nosso redor a mão do anjo?". Assim como o pão serviu de apoio para Elias, "reconhecemos na Eucaristia o viático que nos acompanha?". Assim como a viagem levou Elias de volta para as raízes da aliança, sabemos também nós "voltar às raízes" da nossa fé?

Uma fez que se assumiu a verdade dentro de si mesmo e se predispôs à escuta, pode-se chegar ao confronto com Deus. E a "manifestação misteriosa" que Elias experimenta no Horeb, aquele "sussurro de uma brisa suave" sobre a qual tantos exegetas se angustiaram, pode sugerir muito à meditação pessoal.
O padre Secondin, na meditação da manhã da quarta-feira, repassou detalhadamente o diálogo entre Deus e Elias. O profeta é caracterizado por um "eu hipertrofiado", que o leva a se considerar "o umbigo do mundo".
Sob essa ótica, "a sua derrota poderia parecer a derrota de Deus". O Senhor "deixa-o discursar no seu solilóquio hipertrofiado", quer que Elias "se deixe decompor" e opere uma "catarse profunda". E o desloca com a pergunta: "O que fazes aqui?". Deus "se apresenta com uma pergunta" e obriga o homem "a se olhar dentro, a dar voz às inquietações que carrega".
Às vezes, avisou o pregador, Deus também se torna para nós uma espécie de "bibelô", e corremos o risco de "manipulá-lo" com a mesma fúria que parece permear o profeta. Mas "Deus é livre diante dos poderosos e também diante da fúria de Elias": o fracasso de Elias não perturba Deus, que já tem um desígnio próprio e tem um povo ao qual ele permaneceu fiel.
Elias é abalado interiormente. O vento impetuoso, o terremoto, o fogo em que o profeta não encontra Deus também poderiam ser – sugeriu o padre Secondin – "projeções de estados interiores" de uma pessoa a quem o mundo inteiro caiu sobre si.
A partir dessa lectio, explicou o pregador, devem brotar perguntas pessoais: "Nós também temos Jezebéis que arruínam a nossa vida? Somos obcecados por problemas com algumas pessoas, ou de trabalho, ou de carreira?". Como nos relacionamos com Deus? Sabemos "estar em adoração temente do Deus que passa?". Como o Senhor é intimidade, "temos o hábito de estar com ele em intimidade?". Ou há rumores ensurdecedores ("sucesso, vaidade, dinheiro, culpas dos outros") que nos distraem?
Por fim – lembrando os sete mil israelitas que permaneceram fiéis ao Senhor –, damo-nos conta de que estes podem representar "a fidelidade silenciosa do povo"? E quem medita também deve se perguntar: sou capaz de compreender e de interceptar essa fidelidade, sou capaz de escutar "os ultrassons dos pobres, dos simples, dos pequenos", que são "dons preciosos e não fragmentos perdidos"?
As respostas podem encontrar um apoio naquela que é a reação de Deus no relato bíblico. Elias queria acabar ali, morrer no Horeb, onde havia iniciado a aliança. Ao contrário, Deus "manda-o de novo a uma nova estação". Também nós somos chamados a "captar sinais de futuro" nas nossas raízes, a "reencontrar frescor", a nos pôr a caminho.
E se, como Elias, "estamos decepcionados, cansados, acreditamos ser os melhores de todos e pensamos que o mundo é habitado apenas por diabos enfurecidos", deixemo-nos "surpreender por Deus" e iniciemos um novo caminho.
Eis, então, o convite com o qual o pregador concluiu a meditação: "Refaz os teus passos!". Um convite que o padre Secondin enriqueceu com uma série de sugestões concretas, convidando a compartilhar os próprios bens materiais com os mais pobres, a "abrir os armários cheios de paramentos inúteis" e a jogá-los fora, a abrir os braços para "fazer a paz sincera com aqueles que não se consegue suportar", a abrir os horizontes "à verdade polifônica, à beleza das culturas e à riqueza das tradições", para admirar aquilo que Deus fez de belo.

O carmelita exortou por fim: "Move os teus passos nas periferias, vai celebrar nos barracos, vai almoçar com quem tem pouco para comer. Vais entender onde Deus te espera". http://www.ihu.unisinos.br

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