Religiosos
oriundos de ordens e congregações cedem espaço para sacerdotes com estilo mais
'profissional'.
Dados
também indicam que igreja tem revertido tendência de encolhimento do número de
padres
A
Igreja Católica no Brasil mudou nos últimos 40 anos.
Deixou de ser formada em sua maioria
pelo tradicional religioso das ordens e congregações, que é obrigado a fazer o
voto de pobreza, para dar lugar ao chamado padre de paróquia, que tem pensão,
benefícios, costumes e estilo de vida menos restritivos.
Censo do Centro de Estatísticas
Religiosas e Investigações Sociais da Igreja Católica revela que o número dos
chamados "padres paroquiais" teve um aumento de 180% desde 1970,
enquanto o de "padres religiosos" não se alterou.
Com isso, a proporção se inverteu. Os
"religiosos", que representavam 61,50% da base da igreja, formam
agora 36% do clero. Os paroquiais, 64% de um total de 22 mil.
Os números mostram também que a igreja
tem revertido a tendência de encolhimento, ampliando a proporção de padre por
habitante.
VOTOS
A principal diferença entre os dois
tipos de padre está no voto de pobreza dos membros das congregações.
"O religioso tem que provar para o
seu superior que tem a necessidade de possuir um bem. Não pode adquirir por si
mesmo", explica Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de
Teologia da PUC-SP e padre paroquial.
Segundo ele, as restrições podem afastar
os candidatos, pois muitos já chegam com ensino superior concluído.
"Estamos em mundo muito mais liberal. É preciso ter estrutura para viver
desse modo", afirma.
Ele lembra, entretanto, que as ordens em
regra possuem considerável patrimônio.
A instituição que Valeriano dirige é
responsável por uma das etapas de formação dos sacerdotes.
De acordo com ele, a média de idade das
turmas é de 28 anos, mas existem alunos com mais de 40 anos.
O envelhecimento dos candidatos ao
sacerdócio é um dos fatores que, entre outros, são apontados para explicar a
mudança no perfil.
Valeriano cita, por exemplo, que não
existem mais os seminários exclusivos para adolescentes.
Nome mais conhecido da igreja no Brasil,
o "paroquial" Marcelo Rossi virou padre aos 27 anos.
Padre da Ordem do Carmo em São Paulo,
frei Petrônio Miranda, 44, reconhece que a vida no convento tem mais
exigências. "Temos uma formação mais longa." O convento onde vive já
abrigou 60 frades, mas hoje conta com três padres e quatro alunos.
O professor da USP Flávio Pierucci,
especialista em religião, diz que o crescimento dos padres de paróquia pode
fortalecer a cúpula da Igreja Católica, pois os "religiosos" não
estão vinculados ao poder dos bispos.
Para o padre José Carlos Pereira, doutor
em sociologia pela PUC-SP, é comum ainda que candidatos a padre busquem a
igreja como oportunidade de carreira e status social. "Padre nunca fica
'desempregado'", diz.
Ao ser responsável por uma paróquia, o
sacerdote tem direito a moradia, carro, alimentação, plano de saúde, empregada
doméstica e pensão (cerca de R$ 1.866, mas o valor pode variar).
"Os padres que abandonam o
sacerdócio alegam mais problemas afetivos que financeiros", diz Pereira.
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