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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

CARMELITAS: NOSSA MISSÃO HOJE

                                   
     Após anos de debates e discussão dentro da Ordem, chegamos enfim, nas nossas Constituições, a uma concordância sobre o Carisma Carmelitano. Leiam especialmente a primeira parte que descreve muito bem quem somos nós. Os Carmelitas transformaram-se em frades mendicantes, conservando contudo as peculiaridades do seu carisma inicial (10). Somos chamados a viver uma vida no obséquio de Jesus Cristo, comprometendo-nos com a busca do rosto do Deus Vivo (a dimensão contemplativa da vida), na fraternidade e no serviço (diaconia) no meio do povo (14). Como Carmelitas a nossa inserção no apostolado faz parte integrante do nosso carisma (91). Temos de realizar a nossa missão no meio do povo, antes de tudo com a riqueza da nossa vida contemplativa, enquanto a nossa ação profética pode adotar muitas modalidades (92). Fiéis ao patrimônio espiritual da Ordem, orientemos o nosso trabalho, por mais variado que seja, a favorecer a busca de Deus e a vida de oração (95). Na Igreja local tratamos de contribuir com nosso carisma no trabalho da evangelização, despertando a sensibilidade pela dimensão contemplativa da vida, pela fraternidade e pelos compromissos concretos em prol da justiça (97). Estamos dispostos a desenvolver as várias formas de apostolado desejadas pela Igreja, por exemplo, o apostolado paroquial, o serviço aos fiéis dentro das igrejas, a formação da juventude nas escolas e outras instituições, a pregação de exercícios espirituais, os estudos, a direção espiritual, o ensino sobre os problemas do espírito e outras iniciativas (98). A missão "ad Gentes" - isto é, a proclamação do Evangelho a quem ainda não o conhece - é uma das atividades fundamentais da Igreja, porque a Igreja por sua própria natureza é missionária (105). A Ordem tem que estar também comprometida, por conseguinte, neste grande trabalho, seguindo o nosso carisma.

     O que fazemos deve brotar daquilo que somos. Somos mais fiéis a Deus quando somos fiéis ao nosso carisma. Lembrem-se da distinção entre trabalhar para Deus e fazer o trabalho de Deus. Trabalhamos para Deus de muitas maneiras e os nossos trabalhos apostólicos podem ser muito dignos de louvor, porém... são todos os nossos trabalhos segundo a mente e o coração de Deus? Fazer o trabalho de Deus significa fazer o que Deus realmente nos está pedindo. Um carisma é um dom de Deus feito a nós e este dom deve ser usado para o bem dos outros. Por conseguinte fazemos o trabalho de Deus quando somos fiéis a nossa vocação de carmelitas. O nosso trabalho apostólico pode tomar vários aspectos. Não existe apenas um único tipo de trabalho Carmelita. Na Ordem temos muitas paróquias, escolas, santuários, centros de exercícios espirituais; trabalhamos com a juventude, com os pobres, de variadas maneiras. Pretendemos corresponder às necessidades da Igreja e do mundo, lendo os sinais dos tempos.

     Na base de todo este maravilhoso apostolado que os Carmelitas exercem pelo mundo está o sentido fundamental da nossa vida que, como ficou bem claro pelas Constituições acima citadas, está relacionado com o aspecto contemplativo do nosso carisma. Isto não quer  dizer  que todos nós devemos voltar a ser eremitas - esta é uma legítima expressão de vida Carmelitana - e sim que devemos ser contemplativos no meio de todas as diferentes atividades, em que estejamos comprometidos. Portanto devemos ser contemplativos em nossas paróquias e escolas e em toda parte, para onde nos dirija o nosso trabalho. A nossa atividade profética e apostólica emergirá espontaneamente da nossa vida contemplativa. Claro que não podemos tornar-nos contemplativos sem a oração, embora não se possa julgar a vida contemplativa pelo tamanho do tempo que dedicamos à oração. Ser contemplativo é penetrar num processo onde Deus nos purifica e transforma os nossos corações interiormente para fazer-nos como Deus. Este processo exige o nosso consentimento à ação de Deus em nossas vidas e um reconhecimento de que Deus trabalha amiúde de maneiras muito humanas. A nossa tradição espiritual fala deste processo no qual Deus transforma em puro amor o nosso egoísmo. As nossas emoções, o que sentimos dentro de nós, sobretudo diante das contradições e desilusões, mostrar-nos-ão quais são os nossos valores verdadeiros. Deus usará de todos os acontecimentos do dia-a-dia para revelar-nos o que na realidade está dentro de nós. Este é um processo muito doloroso, e será então muito mais fácil deixar de lado a oração e submergir-se em trabalhar para Deus, ao mesmo tempo olvidando-se, possivelmente, de fazer o trabalho de Deus.

     Não há nenhuma dicotomia entre o aspecto contemplativo e o aspecto profético ou ativo da nossa vida. Fluem um do outro e entre si. O que acontece conosco, o que vemos e ouvimos, quando estamos envolvidos em nosso trabalho apostólico, deve afetar a nossa oração. E a nossa oração afetará certamente a nossa maneira de trabalhar. Se a nossa oração for autêntica, - certamente o será - se for um encontro pessoal com quem sabemos que nos ama, transformar-nos-á de pessoas que trabalham para Deus em pessoas que fazem o trabalho de Deus. Começaremos a olhar para as pessoas e as situações, não meramente com os nossos olhares humanos, limitados, mas através dos olhos divinos. Assim já os nossos julgamentos não serão condicionados por considerações humanas, mas as nossas mentes e corações serão amoldados à vontade de Deus. Isto há de transformar a nossa maneira de estar no mundo e toda a nossa atividade apostólica. Compreenderemos que devemos plantar ou regar o jardim, mas é Deus quem dá o crescimento. Não teremos talvez muito êxito. Reflitam sobre o exemplo de Jesus, a quem nos empenhamos em seguir. Se o Senhor foi tratado assim, como podem os servos esperar algo diferente?

     Somos membros de uma fraternidade internacional, que sempre teve a sua parte no trabalho missionário da Igreja. Quero inflamar o zelo missionário dentro da Ordem. Os Carmelitas foram a outros países a fim de pregar o Evangelho, mas também propagar os nossos valores carmelitanos, que pensamos terem algo importante para dizer ao povo. Em vista disto fomos estabelecendo a Ordem em muitos países do mundo. Ao longo dos séculos teve o trabalho missionário que adaptar-se às transformações sucedidas na Igreja e no mundo e terá que fazê-lo novamente de acordo com as circunstâncias e os tempos. Devido à falta de vocações nas Províncias mais antigas, não é possível no momento enviar muitos elementos a uma nova região. Queremos estabelecer o Carmelo numa região com vocações locais e permitir-lhes ser independentes, quando for possível. Em geral os problemas que tem a Província-Mãe não são normalmente iguais aos que preocupam um território missionário ou Comissariado.

     Gostaria de falar agora um pouquinho sobre a situação da Ordem ao longo do mundo. Na Europa não há tantas vocações como no passado, há contudo, novamente, pequenos sinais de vida. A minha Província própria tem sido abençoada com um bom número de vocações durante os últimos anos. A Irlanda continua recebendo algumas vocações num clima bastante difícil para a Igreja. O pequeno grupo na França tem dois com votos simples e um noviço. A Espanha, como sabeis, tem quatro Províncias e, mesmo que não haja muitíssimas vocações, estamos recebendo ainda um ou dois candidatos. O Comissariado Geral de Portugal, embora pequeno, está florescendo. As duas Províncias da Alemanha têm no momento muito poucas vocações, porém na Holanda há sinais de renovado interesse pela vida religiosa. A Polônia continua recebendo cada ano algumas vocações e tem uma comunidade na Ucrânia. Espero que um dia possamos fazer uma fundação na Rússia. Na República Checa temos um pequeno e florescente grupo de frades que passaram por muitos anos de perseguição. A Itália tem duas Províncias e um pequeno Comissariado Geral e todos têm vocações. Na Província Italiana existe um plano de fazer uma fundação na Romênia e em vista disto há vários jovens professos e postulantes deste país preparando-se na Itália. A maioria das vocações na Província Italiana vêm da Romênia. Malta tem uma Província florescente e também está recebendo vocações.

     A Ordem está bem estabelecida há muitos anos nos Estados Unidos, em duas Províncias. A Província PCM (do Puríssimo Coração de Maria) tem uma missão no Peru, onde há algumas vocações. A Província tem ainda uma comunidade no México com esperança de vocações. A outra Província de Santo Elias de Nova York espera fazer logo uma fundação em Trinidad e Tobago. Temos também uma boa representação em Porto Rico e na República de São Domingos, com um Comissariado da Província Árago-Valentina e vários Mosteiros florescentes de Monjas Carmelitas. Na Venezuela há dois Comissariados Provinciais: os dois têm vocações. Na Argentina há um pequeno grupo e ali novamente surgem vocações. No mês de janeiro recebi na Bolívia os primeiros votos de dois jovens que terminaram o seu noviciado no Brasil, onde temos duas Províncias e um Comissariado da Província da Alemanha do Alto Reno. Na Colômbia existe um pequeno grupo de Carmelitas, que está apresentando agora alguns sinais de crescimento.

     Há frades jovens da África em algumas Províncias da Europa, nas várias fases de formação na Ordem. Um de Burquina Fasso já é sacerdote e há vários estudantes do mesmo país na Espanha. Três da Tanzânia estão estudando em Nápoles, e três do Quênia, em Barcelona. Da parte do Conselho Geral há grande esperança de que nos próximos anos se possa fazer fundações nestes países. Existem aproximadamente trinta Monjas Carmelitas do Quênia na Espanha: esperam fazer logo uma fundação na sua pátria. Além destas esperanças, temos também uma presença estabelecida no Zimbábue e na República Democrática do Congo. A Província Irlandesa, há cinqüenta anos, estabeleceu uma fundação no Zimbábue, mas após muitos anos sem vocações nativas há muitas no momento. Parece haver grande esperança para o Carmelo no Zimbábue. A Província Romana (hoje Italiana), há 25 anos, fez uma fundação no Zaire, como se chamava então, tem agora um Comissariado florescente e a maioria dos cargos de responsabilidade são agora sustentados pelas vocações nativas. Têm um bom número de vocações e atualmente estão pensando na possibilidade da abertura de uma missão em outras partes da África. Esperamos fazer uma fundação muito em breve em Moçambique. O primeiro Carmelita, faz vários meses, foi enviado da sua Província de Pernambuco no Brasil e está hospedado com os Carmelitas, no Zimbábue, enquanto se prepara para a fundação. O segundo religioso da mesma Província foi ordenado sacerdote em Moçambique no mês de abril.

     A Ásia é onde se dá o maior crescimento na Ordem. A Indonésia é uma Província grande com mais de 200 religiosos e mais de 50 noviços. Além disto há um total de aproximadamente 150 no período de formação inicial. Na Indonésia temos dois bispos e a Província enviou dois dos seus membros para ajudarem nas Filipinas. A Austrália é uma Província pequena e por vários anos não houve ali vocações, mas os confrades estão trabalhando e orando pelas vocações. As Filipinas devem tornar-se um Comissariado Geral até o ano de 2000. Atualmente fazem parte da Província da Holanda e ainda lá estão trabalhando mais ou menos 10 holandeses, mas a maioria dos cargos de responsabilidade estão nas mãos de filipinos. Há um bom número de novas vocações e há grandes esperanças para o futuro. Faz aproximadamente 25 anos partiram os primeiros estudantes da Índia para a Alemanha a fim de iniciarem o seu Postulado na Ordem. Existe agora um Comissariado Provincial florescente da Província da Alemanha do Alto Reno, que conta com mais de 50 membros professos (34 de votos solenes). Surgem cada ano novas vocações na Índia. No momento todos os membros do Comissariado são do Rito Siro-Malabar.

     Possivelmente tendes ouvido falar que esperamos fazer uma fundação no Vietnã. Por conta do governo comunista não é possível aos estrangeiros permanecerem no Vietnã além de 3 ou, no máximo, 6 meses. Não obstante, graças ao bom trabalho do "Donum Dei", existem aproximadamente 25 candidatos para a Ordem e aqueles que fizeram reunião com estes jovens acreditam que são excelentes candidatos. A Província de Santo Elias de Nova York, a pedido do Conselho Geral, aceitou a responsabilidade sobre este projeto com a ajuda das Províncias e Comissariados da região asiática. O plano é que os candidatos que se estão preparando vão aos Estados Unidos para começarem um Postulado formal de um ano, seguido do noviciado, e então, após a primeira profissão retornam ao Vietnã.
Neste entretempo está-se organizando uma equipe internacional de formadores. Os membros deste grupo serão os que irão para o Vietnã a fim de ficarem com os candidatos e professos por três ou seis meses cada um: formularão um programa integrado de formação, que assegurará aos que estão no período de formação inicial receber o melhor treinamento possível permitido pelas circunstâncias. Não é ideal e tem os seus riscos, mas provavelmente Província nenhuma ter-se-ia estabelecido, se os Carmelitas no passado não tivessem arriscado. Quem sabe alguns dentre vós estejam sentindo um pouco de receio pelo futuro, mas sede valentes, porque o Senhor está conosco. Se caminharmos com fé, Deus pode levar-nos por caminhos estranhos, mas não nos abandonará nunca.

     Temos 72 mosteiros de Monjas Carmelitas ao redor do mundo e 15 Congregações afiliadas, e também aproximadamente 30.000 pessoas do laicato que fizeram algum tipo de compromisso público de viver os valores da nossa espiritualidade. Há vários grupos, que no momento estão pedindo uma afiliação à Ordem.

     Contemplando a Família Carmelitana ao longo do mundo, existe claramente muita vida e esperança. Existem, sem dúvida, alguns problemas, mas as coisas boas pesam muito mais do que as outras. Quando visito as nossas comunidades, fico orgulhoso de ser Carmelita ao ver quantos bons trabalhos estamos fazendo. Dou ênfase à dimensão contemplativa do nosso carisma e à vida de comunidade, porque, na minha opinião, entre nós não são estas dimensões tão fortes como a dimensão pastoral.

     A nossa missão como Carmelitas hoje comprometer-nos-á em muitos e diferentes trabalhos. Como Ordem, temos feito uma opção pelos pobres que implica intentar "escutar e ler a realidade desde o ponto de vista do pobre" (113). O nosso trabalho pastoral não pode ser simplesmente assistência social, mas ao mesmo tempo, como nos recordam as nossas Constituições, "vivemos num mundo cheio de injustiças e ansiedades. É obrigação nossa ajudar a descobrir as causas, tornar-nos solidários com os sofrimentos dos marginalizados, participar da sua luta pela justiça e pela paz, trabalhar pela sua libertação integral, ajudando-os a realizar o seu desejo de uma vida digna" (111).

     Entender a realidade sob a perspectiva dos "anawin" não é fácil. Uma transformação deve ter lugar em nossas vidas. Esta transformação não é provocada pelo nosso próprio poder, mas somente por uma experiência do poderoso amor de Deus que, como as nossas Constituições nos proclamam, "esvazia-nos das nossas limitadas e imperfeitas maneiras humanas de pensar, de amar e de agir, e as substitui por outras divinas" (17). Por conseguinte, se levamos a cabo a missão que Deus nos dá hoje, devemos procurar ser sempre mais fiéis ao nosso carisma carmelita, para que não somente trabalhemos por Deus, mas façamos segundo a verdade o trabalho de Deus, que é fazer a sua vontade.

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