Por padre Piero Gheddo
ROMA, segunda-feira, 17 de setembro de 2012. Padre Enrico Uggé, sacerdote do PIME desde 1970 (veio do seminário diocesano de Lodi), está em Parintins desde Março de 1972 e tem trabalhado principalmente entre os índios Sateré-Mawé, estudando língua e cultura, evangelizando e fundando a escola técnica São Pedro na área reservada para essa tribo. É um promotor acérrimo dos modernos meios de comunicação para difundir o Evangelho e formar os cristãos. Eu o entrevistei no dia 10 de setembro de 2012 em Milão. Aqui está a entrevista.
Pe. Gheddo: Como é que nasceu este compromisso?
Padre Enrico Uggé: Quando em 1990 mons. Risatti me chamou das aldeias dos índios e me confiou a Rádio Alvorada, me apaixonei rapidamente por este desafio. Para os índios nas florestas e ao longo dos rios a rádio era quase o único meio para manter o contato com o resto do mundo. Levei a sério o compromisso e agradecendo a Deus houve um progresso rápido. Às ondas médias da Rádio adicionamos as curtas. Temos um raio de escuta de 400 km e com as ondas curtas também nos captam as rádio-amadores da Finlândia.
Na Amazônia há a rede católica "Rádio Notícia da Amazônia" que com 20 rádios cobre de Manaus ao Macapá, e dá notícias amazônicas, que para aquela imensa região são importantes; estamos também unidos com a Onda, a rede das 800 rádios católicas brasileiras, e podemos republicar programas e noticiários da R.C.R (Centro Rede Católica das Rádios). No Brasil a Igreja procura potenciar os seus instrumentos de comunicação e nós em Parintins estamos bem aparelhados e investimos na qualificação dos nossos jornalistas.
Em Belém um outro missionário do PIME Pe. Claudio Pighin tem uma importante e respeitada escola de comunicações.
Pe. Gheddo: A vossa rádio é generalista? E quantas horas trasmitem por dia?
Padre Enrico Uggé: A nossa vai das 5h da manhã ás 10h da tarde, o nosso lema é “informar- formar-divertir”. Eu sou o diretor da programação, a minha tarefa é seguir e orientar os programas, dando muita importância às notícias bem feitas, controladas, interessantes.
A Amazônia ainda é uma área isolada, as pessoas querem ouvir as novidades. Depois vem a formação porque somos uma rádio católica, mas não cheia de terços e orações. Cada domingo transmitirmos a Missa, depois as orações, as catequeses, as conferências religiosas. Nas manhãs de domingo tenho uma breve gravação que explica o Evangelho do dia, muito escutada principalmente pelos catequistas que devem ir às aldeias sem sacerdotes e reunir as pessoas, orar e explicar o Evangelho. Não é tanto uma explicação doutrinal, mas um discurso para animar as aldeias e os catequistas na Palavra de Deus, na beleza da fé. A nossa rádio é uma das mais importantes entre as católicas no Brasil porque está constituída por profissionais e bem orientada na fidelidade à Igreja e na leitura cristã dos acontecimentos.
Pe. Gheddo: Como foi que da rádio se passou para o jornal?
Padre Enrico Uggé: Em maio de 1994 eu comecei o semanário Novo Horizonte para ter pessoas que estudassem, escrevessem, preparassem por escrito os nossos programas e fizessem o jornal que no geral tem 12 páginas semanais. Nos primeiros tempos da Prelazia com Mons. Cerqua tinha um jornal, mas depois parou. Hoje existem escolas em todos os lugares, os brasileiros lêem mais do que no passado e sentiu-se a necessidade de uma ferramenta que preservasse as notícias e os textos importantes e que fosse lido. Rádio e jornal estão no mesmo nível e se ajudam mutuamente.
Depois nasceu a televisão católica em Parintins. Estamos conectados com os dois canais católicos de TV brasileiros, Canção Nova (dos carismáticos) e Rede Vida (da CNBB, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e também com Nossa Senhora de Nazaré, a televisão de Belém que nos abriu espaços para fazer nossos programas. Nos tornamos quase que uma sucursal da TV de Belém que nos dá mais espaço para se tornar a TV de Parintins que já tem 120 mil habitantes, e isso é importante porque a rainha da comunicação é a televisão. É uma TV muito vista principalmente das 11h à 1h que faz muito calor e na Amazônia as pessoas estão tranquilas em casa vendo TV.
A nossa importância é a nível regional. Nós fazemos o telejornal. A TV requer mais do jornal e da rádio, é necessário ter pessoas preparadas para falar na TV e não é fácil. Nos assistem muito porque há notícias locais. No final temos três minutos para o comentário sobre a notícia mais importante. Estou convencido da importância de uma TV como a nossa (como da rádio, das outras coisas). Na igreja aparecem 20%, mas e todos os outros? A maioria vê a televisão católica e esta é a verdadeira evangelização. Até hoje somos o único telejornal local de Parintins.
Pe. Gheddo: Vocês também envolvem quem vos segue na rádio, televisão e jornal?
Padre Enrico Uggé: Trabalhamos com paixão, não só eu, mas os redatores e colaboradores, tentamos transmitir a fé e a visão de fé da vida. Temos iniciativas para envolver as pessoas, por exemplo, fizemos o Natal das crianças, organizamos torneios de futebol e de futebol de salão também para tirar das ruas muitos jovens. Rádio, TV e telejornal são da Fundação Evangelii Nuntiandi, juridicamente separada da diocese, pois se fechasse não cairia tudo encima da diocese. Mas, existem também alguns programas religiosos durante a semana, para a família, os esposos, os noivos, os enfermos, preparados por colaboradores também religiosos fora da redação. Todos os dias temos meia hora para as crianças que estão nas aldeias, nos rios, isoladas, que não vêem mais nada para eles. É um programa emocionante que ensina algo para as crianças. Há uma professora que fala, narra uma história, ou também fala de Jesus e da Mamãe do Céu ou também explica os bons modos, depois as crianças escrevem, vêem ao nosso encontro, nos enviam as suas tarefas. Nós valorizamos os momentos importantes da comunidade, acompanhamos a vida das pessoas e isso é o segredo para nos fazer escutar.
Pe. Gheddo: Vocês também têm publicidade paga?
Padre Enrico Uggé: Fazemos que todos falem um pouco. Para sustentar-nos, alugamos alguma meia hora a algum ente ou grupo que tem interesse em falar, por exemplo, a prefeitura, os entes estatais que trabalham em Parintins e informam das coisas que fazem. Há um regulamente para quem fala, não ofender ou acusar ninguém, dizer a verdade, etc. Dizemos ao prefeito: olha, se você disser que asfaltou as estradas e não é verdadeiro, nós o diremos aos ouvintes. Não alugamos a partidos políticos, mas entes públicos e também privados, depois damos tempos gratuitos para as escolas, hospitais, associações de voluntariado, campanhas para a vacinação. Os políticos podem falar por algum tempo, mas primeiro gravam para ter um controle e se termina no tempo estabelecido. Por lei temos que manter por alguns meses grandes fitas de gravação de tudo o que transmitimos, depois podem ser reutilizadas. Isto porque alguém poderia reclamar de uma transmissão e seja necessário reouvi-la. Também a parte técnica de rádio e televisão é difícil. Estamos bem isolados, a cidade mais próxima é Manaus a 500 Km pelo rio. (Tradução do Italiano por Thácio Lincon Siqueira)
Fonte: www.zenit.org.
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