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terça-feira, 3 de julho de 2012

Igreja Católica teme crescente escândalo do banco do Vaticano

Andreas Wassermann e Peter Wensierski
Remo Casilli/Reuters - 22.abr.2010

Ettore Gotti Tedeschi, ex-diretor do Banco do Vaticano
Um novo escândalo ameaça envolver a Igreja Católica, e desta vez o foco é o dinheiro. Altas autoridades do Vaticano estão discutindo sobre o futuro do banco do Vaticano. Apesar de alguns defenderem total transparência, transações duvidosas do passado e do presente podem prejudicar a imagem da Igreja.
O escândalo do Vaticano a respeito de contas bancárias escusas e milhões em transferências suspeitas começou pouco antes do amanhecer do dia 5 de junho na Via Giuseppe Verdi, uma rua pitoresca na parte antiga da Piacenza, cidade do Nordeste da Itália. Um senhor de idade, vestindo em um terno bem cortado acabava de sair de casa com uma pasta de couro na mão direita. Ele se dirigia ao seu carro.
Aquele seria um dia importante para Ettore Gotti Tedeschi, recentemente despedido do cargo de diretor do banco do Vaticano -mesmo que tenha saído diferente do que esperava. Tedeschi planejava ir ao Vaticano naquela manhã, mas nunca chegou ao seu destino. O banqueiro de 67 anos perdeu o trem de alta velocidade, e por isso não conseguiu, como tinha planejado, pegar um táxi na estação central da capital italiana para cobrir o curto trecho atravessando o rio Tiber até o Vaticano. Ali, ele esperava tirar os documentos da pasta e entregá-los a uma pessoa de confiança do papa.
Em vez disso, Gotti Tedeschi encontrou quatro homens esperando por ele na rua -não um esquadrão de matadores como temeu a princípio, e sim investigadores dos Carabinieri, a força de polícia militar nacional da Itália. Antes mesmo de chegar ao carro, os investigadores apresentaram um mandado de busca e escoltaram-no de volta para casa. Por sete horas, vasculharam todo seu escritório pouco mobiliado, simples como um claustro. Ao mesmo tempo, outros agentes vasculhavam o escritório de Gotti Tedeschi em Milão. Entre os objetos confiscados, havia dois computadores, dois arquivos cheios de fichários, uma agenda e a pasta de couro.
Os investigadores ficaram satisfeitos. Apesar de terem avançado pouco em sua investigação de corrupção envolvendo um cliente de uma empresa que Gotti Tedeschi dirigiu, uma subsidiária da gigante bancária espanhola Santander, eles tropeçaram em outra coisa que se provou espetacular.
Os documentos confiscados de Gotti Tedeschi, ex-confidente do papa, forneceram aos policiais italianos uma visão do funcionamento do banco do Vaticano. O dossiê secreto inclui referências a contas numeradas anônimas e transações questionáveis, assim como comunicações escritas e eletrônicas mostrando como os funcionários do banco da Igreja burlavam as regulações europeias para combater a lavagem de dinheiro.
Um possível motivo
O drama que vem se desdobrando no Vaticano agora está chegando seu clímax. Primeiro, foi "il corvo", cujas revelações sobre a vida na corte do papa Bento 16, que está isolado e exausto, causaram meses de desconforto. Depois, veio a prisão de Paolo Gabriele, o mordomo do papa, a quem o Vaticano apontou como a fonte da correspondência papal vazada para o público. E agora o escândalo em torno de Tedeschi está fornecendo um possível motivo para a novela católica: dinheiro.
Aparentemente, o papa tinha pedido ao executivo que tornasse o banco do Vaticano mais transparente. Gotti Tedeschi, contudo, talvez tenha encarado sua tarefa com excesso de zelo, e assim irritou forças poderosas dentro da Cúria Romana, o aparato jurídico e administrativo do Vaticano. Várias altas autoridades dentro da Cúria viam o banco, oficialmente conhecido como Instituto para as Obras da Religião (IOR) como algo similar a uma empresa para transações monetárias clandestinas, que não é apenas usada pela Igreja, mas também pela máfia, por políticos e empresas corruptas. Em um dos memorandos confiscados de Gotti Tedeschi, ele escreveu: "Vi coisas no Vaticano que me assustam".
É uma indicação clara que transforma o "Vatileaks" em um escândalo financeiro que pode danificar seriamente a reputação da Santa Sé. Uma correspondência interna datada do dia 22 de maio de um membro do conselho supervisor do banco para o Secretariado de Estado do Vaticano observa que o banco do Vaticano está presentemente "em uma posição extremamente frágil e precária" e que a situação atingiu "um ponto de perigo iminente".
O próximo ato no drama está marcado para a próxima quarta-feira (4). Especialistas em lavagem de dinheiro do Conselho da Europa apresentarão um relatório preliminar sobre o Vaticano em Estrasburgo. Atualmente, parece que vão levantar sérias dúvidas sobre se o IOR está tomando precauções suficientes contra a lavagem de dinheiro.
Suas preocupações são corroboradas pelo trabalho das autoridades italianas. Em sessões de interrogatório de várias horas, Gotti Tedeschi contou aos promotores públicos em quem confiava no Vaticano e em quem não confiava. O banqueiro teria apontado o secretário de Estado, Tarcisio Bertone, como o líder de seus "inimigos", acusando-o de fazer todo o possível para manter as contas da cúria escondidas das autoridades italianas. O Vaticano vem tentando tornar o banco próprio para ser incluído na "lista branca" da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, de instituições financeiras que não são suspeitas de estarem envolvidas em lavagem de dinheiro ou financiamento do terrorismo. Mas Gotti Tedeschi teria reclamado, dizendo: "Se continuarmos na linha de Bertone, nunca sairemos da lista negra".
Líderes do Vaticano alarmados
Fabio Palazzo, advogado de Gotti Tedeschi em Milão, recusou-se a discutir detalhes dos interrogatórios ou o conteúdo dos documentos apreendidos de seu cliente. Ainda assim, ressaltou que os documentos contêm "fatos úteis" que indicariam que não havia base legal para a demissão de Gotti Tedeschi como diretor do banco.
A liderança do Vaticano está alarmada. Os arcebispos e cardeais estão longe de animados com o fato das autoridades italianas agora estarem se inteirando de seus assuntos sigilosos. O porta-voz papal, Federico Lombardi, ameaçou abertamente o aparato policial da Itália e exortou-o a respeitar gentilmente "os direitos soberanos da Santa Sé". Em outras palavras, ele acredita que todos os documentos que incluem detalhes confidenciais sobre o banco do Vaticano apreendidos durante a busca da casa de Gotti Tedeschi não deveriam estar nas mãos de investigadores italianos.
Os temores do papa e da cúria são bem fundados. No passado, toda vez que os promotores italianos se envolveram e documentos confidenciais foram divulgados, as operações secretas do banco do Vaticano sempre acabaram por danificar o prestígio da Igreja. Por mais de 40 anos, o IOR, fundado em 1942, tem estado envolvido em escândalos, incluindo propinas para partidos políticos, lavagem de dinheiro da máfia e contas anônimas.
Muitos que se envolveram nos casos de transações ilegais do banco do Vaticano foram forçados a pagar com suas vidas, enquanto outros passaram anos atrás das grades. Apesar de todas suas promessas sagradas e solenes, o Vaticano conseguiu manter o banco do papa um porto seguro para a lavagem de dinheiro. E, diferentemente de uma ilha no Caribe, ele fica bem no meio da Europa, no coração de Roma.
Seu modelo de negócios depende da sua capacidade de manter as coisas o mais distantes possível das autoridades financeiras. Os ganhos de capital não são taxados, os extratos financeiros não são revelados e o anonimato é garantido. O status exótico do banco, que pertence a uma monarquia religiosa em um Estado soberano do tamanho de um parque de cidade, protegeu-o de investigações e do monitoramento externo desagradável.
A sede do banco fica em uma torre defensiva medieval chamada de Niccolò V, aninhada ao lado do Palácio Apostólico, residência oficial do papa, e abriga uma vasta quantia de dinheiro e papéis comerciais. Aqui, cerca de 100 funcionários cuidam de 33.000 contas com depósitos totais de $6 bilhões de euros (em torno de R$15 bilhões). O beneficiário direto é o papa e sua Igreja. Em 2010, o banco lucrou $55 milhões de euros. Tal receita ajuda a compensar um declínio nas doações dos membros de sua congregação internacional.
O passado escuso do banco do Vaticano
Enquanto o papa Bento 16 e seus predecessores pregavam a humildade e a ética financeira da janela que dá para a praça São Pedro, seus confidentes, que trabalham diretamente abaixo das janelas papais, continuavam efetuando transações financeiras questionáveis.
O Vaticano nunca divulgou as práticas empresariais que seu banco usa há décadas. "Há um temor que, com a transparência necessária hoje, pode-se encontrar algo no passado que não se queira", diz Marco Politi, especialista em Vaticano em Roma.
Essas coisas podem incluir um sistema complexo de contas fantasmas e empresas laranjas, como o banco tinha quando o arcebispo Paul Casimir Marcinkus foi seu diretor, nos anos 80. Na época, o banco fez negócios envolvendo moeda estrangeira e armas com o banqueiro milanês Robert Calvi e o financista da máfia Michele Siddona -e ajudou a lavar o dinheiro ilegal que a máfia ganhou com o tráfico de drogas assim como propinas pagas para políticos italianos conservadores cristãos.
No final, Calvi foi encontrado pendurado na ponte de Blackfriars em Londres, e sua secretária privada caiu para a morte da janela do Banco Ambrosiano. Quatro anos depois, em 1986, Sidona morreu na prisão, depois de beber um café expresso temperado com cianeto.
Sob o monsenhor Angelo Caloia, sucessor de Marcinkus como diretor do banco, o Vaticano expandiu consistentemente suas atividades de lavagem de dinheiro. Enquanto esteve no comando, houve contas secretas como as de Giulio Andreotti, o controverso ex-primeiro-ministro italiano. Quase semanalmente, Caloia trazia malas para o Vaticano cheias de doações de empresas italianas na forma de dinheiro e títulos. Ali, a origem do dinheiro era obscurecida, usando contas como a de número 001-3-14772-C, da não existente "Fundação Cardeal Spellman". Da mesma forma, organizações de assistência humanitária foram fundadas com nomes mascarando sua verdadeira identidade de seus verdadeiros beneficiados.
Apenas três anos atrás, quando as evidências dessas transações vieram à luz, que o papa Bento 16 demitiu Caloia. O que provocou a mudança foram os mais de 4.000 documentos que o especialista financeiro Renato Dardozzi reuniu e escondeu antes de sua morte em 2003. Em seu testamento, Dardozzi escreveu: "Esses documentos devem ser publicados para que todos saibam o que aconteceu aqui".
mais velho desde 1903 Mais L'Osservatore Romano/AP
Eliminação das pistas
Assim, tornou-se a missão de Gotti Tedeschi limpar as coisas. Como leigo casado que não pertencia à corte de cardeais da cúria, ele era bem qualificado para a tarefa.
Católico, porém, ainda estava preso a um sentido de lealdade ao papa, e considerou o novo trabalho desafiador. Devido aos negócios questionáveis do passado, o IOR tinha fama no mundo financeiro de ser tão transparente quanto os paraísos fiscais no Caribe. Gotti Tedeschi queria mudar isso e tornar o Vaticano apto para ser incluído na "lista branca"da Ocde, de organizações mundiais não suspeitas de lavagem de dinheiro. Membros do comitê do Conselho da Europa responsável por combater a lavagem de dinheiro deveriam ajudar nesses esforços e, para isso, teriam permissão de entrar no santuário interno do banco do Vaticano.
Aparentemente, contudo, os banqueiros veteranos da Igreja e membros da cúria não tinham a menor intenção de se abster dos negócios lucrativos com fundos problemáticos. O plano, acreditam os investigadores financeiros italianos, era dali por diante eliminar discretamente todas as pistas das operações financeiras clandestinas.
Um banco no país natal de Bento, a Alemanha, teve um papel no esforço. Em 2009, no mesmo ano em que Gotti Tedeschi assumiu como presidente do IOR, foi aberta uma conta na filial de Milão do banco americano JPMorgan Chase. Dali em diante, milhões começaram a fluir quase diariamente da filial do JPMorgan em Milão para a de Frankfurt, onde o IOR também tinha outra conta no JPMorgan.
As autoridades do Vaticano optaram por uma conta especial em Milão tipo 1365, que era zerada automaticamente no final de cada dia. O banco do Vaticano confirmou a existência dessa conta no final da semana passada, apesar de dizer que era usada primariamente para lidar com transações de títulos.
No ano passado, esse arranjo financeiro teria sido usado para processar mais de 1 bilhão de euros do banco do Vaticano. Investigadores italianos suspeitam que também o processo era usado para lavar fundos de fontes duvidosas.
As transferências via JPMorgan provavelmente teriam permanecido invisíveis se o IOR não tivesse envolvido outro banco italiano, dois anos antes, em dois casos. Transações curiosas chamaram a atenção dos fiscais financeiros italianos, feita pelo banco do Vaticano via Credito Artigiano. Em 2010, 23 milhões de euros foram transferidos de várias contas naquele banco, mas sem listar os nomes do correntistas ou os propósitos das transferências. Assim, 20 milhões de euros teriam chegado à conta do JPMorgan do Vaticano em Frankfurt, enquanto outros 3 milhões de euros foram destinados para outro banco em Roma.
Tempestade financeira
Antes das transações serem completadas, os promotores federais em Roma congelaram os fundos. Então, iniciaram investigações contra Gotti Tedeschi e Paolo Cipriani, diretor geral do IOR, sob suspeita de violarem regulações contra a lavagem de dinheiro. Alarmados com as investigações italianas, os funcionários do JPMorgan começaram a perguntar ao Vaticano de onde vinha o dinheiro que passava regularmente pela conta em Milão. Contudo, não tiveram respostas satisfatórias. Como resultado, o banco então deu ao IOR uma classificação interna de cliente de alto risco e começou a monitorar suas transações em busca de pistas que demonstrassem casos de lavagem de dinheiro.
As investigações dos promotores em Roma e a desconfiança dos banqueiros em Frankfurt forçaram o Vaticano a agir -mais por pânico do que por remorso, aparentemente. No final de 2010, Bento emitiu um decreto obrigando o banco do Vaticano a cumprir as normas de combate à lavagem de dinheiro da UE. Ele também estabeleceu uma agência supervisora para o Vaticano, a Autoridade de Informação Financeira, e nomeou como diretor o cardeal Attilio Nicora, que serviu como gerente dos bens papais por muitos anos.
Com essas medidas de emergência, o Vaticano conseguiu que as autoridades italianas liberassem os 23 milhões congelados do IOR. Mas a calma que esperavam criar em meio à tempestade financeira não se materializou.
De fato, novos fatos agravantes podem vir à tona em breve. Por um lado, o Vaticano teve que permitir que especialistas em lavagem de dinheiro do Conselho da Europa em Estrasburgo avaliassem seu banco. A votação desta semana por esses especialistas vai influenciar a decisão se o Vaticano um dia poderá configurar na "lista branca" da UE. Os especialistas do Comitê de Especialistas em Avaliação de Medidas de Combate à Lavagem de Dinheiro do Conselho (Moneyval) já montaram acampamento no Vaticano por vários dias em 2011. Ali, questionaram cardeais, bispos e executivos do IOR sobre 16 pontos. Eles só darão uma carta de saúde do banco do papa se todos esses pontos forem respondidos de forma positiva.
Além disso, promotores federais em Roma estão avançando em suas investigações. Em outubro, eles pediram ajuda aos colegas alemães para obterem documentos relativos à conta do IOR na filial do JPMorgan de Frankfurt. A medida fracassou em novembro, contudo, quando um juiz em Frankfurt recusou-se a emitir uma ordem de apreensão devido à "falta de evidências".
"Continua um paraíso fiscal"
Os banqueiros do papa enfrentaram outro contragolpe no início do ano, quando o JPMorgan fechou sua conta de transferência em Milão. Para explicar a decisão, o banco americano escreveu para Roma em meados de fevereiro que regulações de combate à lavagem de dinheiro estritas não permitiam mais "depósitos ou retiradas via contas 1365".
Enquanto isso, a situação na sede do IOR estava cada vez menos cristã. Enquanto Gotti Tedeschi perdeu apoio de cima, o cardeal secretário de Estado, Bertone, esforçou-se para que o decreto de Bento fosse flexibilizado. Na nova versão, o monitoramento do banco do vaticano só é possível com o consentimento do próprio Bertone. O cardeal Nicora, homem originalmente nomeado para se tornar o fiscal financeiro novo do Vaticano, não ficou contente. Em uma carta a Bertone escrita pouco após a mudança, Nicora reclamou que, como ela, "estamos dando um passo atrás e permanecendo um paraíso fiscal".
Um memorando confidencial vazado para o jornal romano "IL Fatto Quotidiano" deixa claro quão dramáticas e divididas as coisas se tornaram no alto escalão do Vaticano. Apesar do documento não ter data e não ter indicações de quem o escreveu, o jornal alega que o memorando vem do "topo", talvez entre pessoas próximas a Georg Gänswein, secretário privado do papa e extremamente próximo. No documento, o autor anônimo descreve as atuais práticas empresariais do banco do Vaticano como "inconsistentes com as exigências de transparência". Depois diz que há um "risco concreto de redução da classificação e de significativa perda de prestígio da Santa Sé".
O novo conselho responsável por supervisionar o banco do Vaticano começou suas operações em maio. Em cartas apaixonadas ao cardeal secretário de Estado Bertone, dois de seus membros -o ex-banqueiro Ronaldo Schmitz, alemão, e seu colega americano Carl Anderson- expressaram sua falta de fé em Gotti Tedeschi. Em sua carta, Anderson fez menção específica ao fechamento da conta do JPMorgan. Diante dos "tempos difíceis", escreveu Anderson, Gotti Tedeschi fracassou em "defender vigorosamente a instituição". Schmitz, por outro lado, lamentou a "falta de lealdade" de Gotti Tedeschi.
Dois dias depois, Gotti Tedeschi foi forçado a abandonar sua missão inconfortável.
De forma a estabelecer ao menos um pouco de transparência, o porta-voz papal, Lombardi, fez algo inusitado na história do IOR: convidou jornalistas para uma reunião dentro da fortaleza que abriga o banco, para rebater a alegação que havia contas numeradas anônimas.
No salão ornado do banco, rapidamente ficou claro como os banqueiros de Deus estão levando as coisas a sério. Perguntas? Sim, preferivelmente por escrito. Câmeras? Não. Gravadores? Proibidos. Uma olhada no cofre? Claro que não. Ainda assim, as coisas não foram totalmente sérias: o diretor do banco, Cipriani, mostrou de brincadeira uma camiseta com as palavras: "Especialista em Combate à Lavagem de Dinheiro".
Tradutor: Deborah Weinberg. Fonte: www.uol.com.br


domingo, 17 de junho de 2012

Profetas de fraternidade: num mundo dividido e injusto.

Frei Bruno Secondin O.Carm.

            1. Vamos partir de uma página da Bíblia: 1Rs 17,17-24. Trata-se de um momento difícil para Elias, quando morre o menino da viúva de Sarepta. Nesta cena podemos ver realizar-se uma profunda conversão de Elias: através da provocação desta morte e das exprobrações da viúva, Elias deve aprender a enfrentar o insucesso, a solidarizar-se com os pobres, a mostrar um novo rosto de Deus: será o rosto da compaixão e da solidariedade, e é isto que convencerá a mulher de que Elias é profeta de Deus.
            Nestes anos tem acontecido forte recuperação da dimensão profética da Vida Consagrada: passando de uma concepção de "profecia" num sentido muito espiritual - o profeta como homem de Deus, orante, solitário, sofredor - para uma concepção de profecia mais comprometida com os sofrimentos da História, como testemunho de esperança e de uma outra história, a história da justiça, da libertação, da esperança.

            2. A Exortação do Papa deu grande relevo à categoria da profecia e à missão profética da Vida Consagrada. Vinte e oito vezes se encontra este vocábulo, mas sobretudo dois parágrafos inteiros são explicitamente dedicados a ilustrar a natureza profética da Vida Consagrada e à importância desta caraterística para o mundo atual (VC 84-85). Já por este fato material se vê que realmente havia a intenção de dar importância a este aspecto. Importância ainda maior ressalta, adiante, da união da profecia com o martírio (VC 86), da profecia com a libertação (VC 57b), da profecia com o tema dos desafios históricos (VC 88-92), da profecia com "um mundo dividido e injusto" (VC 51).
            Não nos podemos deter a analisar todos os textos sobre o profetismo - cf. o capítulo específico no meu O Perfume de Betânia (Loyola 1997) - porém é do meu agrado salientar e fazer observar que o Profeta Elias é evocado como exemplo clássico do profetismo da Vida Consagrada. E a descrição do Profeta não se faz somente de acordo com os temas da tradição antiga, mas também segundo as novas leituras sobre o empenho de Elias em favor da justiça e dos direitos dos pobres. Esta alusão do Papa nos dá coragem para caminharmos mais além, isto é, a termos presentes todas as grandes figuras "proféticas" da História e também da nossa história. E ainda nos encoraja a unirmos - como, de resto, se faz na América Latina - profecia e martírio, profecia e movimento feminino (cf. VC 57b), profecia e cultura (VC 80a), profecia e fraternidade (VC 85a), profecia e contestação intra-eclesial (VC 84b e 85b), etc.
            Para mim é muito inspirador ligar o tema da profecia com o conteúdo do parágrafo VC 51: "A fraternidade num mundo dividido e injusto". Nesta página não se encontra o vocábulo "profecia", mas o sentido geral é mesmo o de profecia. Já o título é em si mesmo muito bonito e inspirativo, mas em seguida se fala também de "diálogo" sempre de novo reaberto, de função de caridade e diálogo em contextos de ódio étnico e loucuras homicidas; fala-se de lógica de vida e de alegria, de esperança e bem-aventuranças, como um dinamismo que impele ao amor de oblação. Fala-se de ídolos do nacionalismo e de globalização dos problemas, aos quais devemos responder com a fraternidade, a abertura, a criatividade, sem perder a própria identidade.

            3. Seguindo a Exortação e as suas linhas, queremos revelar uma orientação mais geral sobre a tipologia desta dimensão profética.
            Trata-se de uma qualidade teológica e não de um estilo puramente funcional. É uma participação em Cristo e na sua vida e testemunho: o seu foi um testemunho messiânico, profético, libertador. Tal participação é comum a todos os cristãos (VC 46), mas logo se diversifica conforme os carismas e os ministérios eclesiais, e deve tender a fazer da Igreja inteira uma comunidade autêntica e significativa. A substância deste "ministério profético é relembrar e servir ao plano de Deus a respeito dos homens" à luz das Escrituras; mas acrescenta o texto: "como emerge também da leitura atenta dos sinais da ação providente de Deus na História" (VC 73a).
            A escola da profecia consiste na escuta intensa da Palavra de Deus. Somente uma experiência profunda de Deus, um generoso seguimento de Cristo, uma abertura à voz do Espírito Santo, conjugados com a leitura e o discernimento dos sinais dos tempos, dos apelos de Deus através das situações históricas, podem conduzir a "agir de acordo com os seus planos com uma inserção ativa e fecunda nas vicissitudes do nosso tempo" (VC 73a). O profeta não é alguém que só vê as coisas de Deus, tornando-se estranho à História, mas, por Ele seduzido e condicionado como Jeremias, vê Deus ativo e presente no meio da História, como juiz e guia (VC 19b), e se põe ao serviço da sua verdade com franqueza e liberdade (VC 85a). O próprio radicalismo no seguimento de Cristo é fundamental para uma autêntica profecia (VC 84a).
            O texto traz duas imagens significativas, que podemos recuperar, a fim de compreendermos as duas faces da dimensão profética: "um subir ao alto da montanha" e "um descer da montanha" (VC 14c; cf.40b e 75c). Trata-se de entrar em profunda intimidade com Deus no alto do monte da sua glória por meio do seu Filho, e de descer para o vale a fim de "viver com Jesus as fadigas dos desígnios de Deus" (VC Ibid) e lutar contra todo indício de escravidão ao maligno (cf. Mt 17,20), "para libertar a História de tudo quanto a deturpa" (VC 75c) e recuperar a imagem de Deus deformada nos rostos desfigurados de tantos oprimidos (VC 75d).

            4. O estilo do profeta e da profecia passa pela proclamação verbal e pelos gestos de vida, pelo testemunho dos bens futuros (VC 23 e 59) e pela difusão da "mensagem de libertação (...), promovendo mentalidades e condutas conformes com as intenções do Senhor" (VC 57d). Silêncio e solidão, fraternidade e diaconia, antecipação e interpelação, denúncia e intercessão: muitas são as mediações para pôr em ação os deveres proféticos. Eles se desenvolvem tanto dentro da Igreja, intimando-a a uma generosa e criativa fidelidade, quanto na sociedade e dentro de uma cultura, tornando-se aguilhão e "fermento evangélico, capaz de purificá-la e fazê-la desenvolver-se" (VC 80a).
            Por isso o texto insiste em dar grande importância ao discernimento dos sinais dos tempos, conforme o carisma específico: trata-se de intuir os apelos de Deus e os desafios dos tempos, para elaborar "novas respostas aos novos problemas" (VC 73b). "Desta maneira a Vida Consagrada não se limitará a ler os sinais dos tempos, mas contribuirá também para elaborar e executar novos projetos de evangelização em vista das situações hodiernas" (VC 73d).
            Estreita é na verdade a ligação, que o Papa estabelece entre função profética e presença na História: ao lado da "profunda experiência de Deus", o profeta deve "tomar consciência dos desafios do seu tempo, recolhendo o seu sentido teológico profundo, mediante discernimento operado com a ajuda do Espírito Santo" (VC 73a). Aparece como coisa própria do profeta o encargo de discernir, a capacidade de saber "ler por dentro e através" das vicissitudes, das tragédias e dos anseios do povo, em vista de um plano de Deus, que germina dentro da História. Por isto o profeta deve ter um senso histórico realista, para que possa acolher os sinais de Deus, que vêm de baixo, ter intuição dos caminhos novos de esperança e liberdade, prevenir sucessos nefastos, fruto de decisões enganosas. É o profetismo da companhia, da solidariedade, da busca de sentido e de esperança.

            5. Nesta linha o texto aplica a perspectiva profética aos grandes valores fundamentais da Vida Consagrada: castidade, pobreza, obediência, fraternidade. E fala de grandes desafios e provocações, entrelaçados com as próprias provocações culturais da cultura hedonista, de um materialismo ávido de possuir e da exasperação da liberdade (cf. VC 87-91). Este modo de falar é em parte inovador, porque subtrai do enclausuramento no privado e no intimístico os grandes valores dos votos religiosos, para encorajar uma correlação deles "com os desafios de sempre, que pela sociedade dos nossos tempos se colocam de formas novas e, talvez, mais radicais" (VC 87a).
            Esta des-privatização da consagração segundo os conselhos parece-me uma das propostas mais originais e proféticas do texto todo e orienta rumo a um duplo efeito. Antes de tudo adverte que não se trata somente de rememorar valores evangélicos ou espirituais, mas também de reagir contra "os contravalores" ou desafios que brotam da cultura contemporânea, e põem em crise uma concepção auto-exaltatória e centralizada na vivência intimística dos três conselhos evangélicos. E, ainda, porque exige que os próprios modos de viver estes valores evangélicos se meçam, se estruturem e se confrontem com os desafios e sensibilidades culturais das pessoas do nosso tempo por meio de uma interpelação realmente eficaz.

            6. Parece-me que a missão profética, para a qual o Papa convocou os consagrados, não pode ser construída por baixo do vácuo, em conceitos abstratos e celestiais, mas "como um sinal e profecia para a comunidade dos irmãos e para o mundo" (VC 15c). É, além do mais, uma resposta generosa, feita de "discernimento e audácia, de diálogo e provocação evangélica" (VC 80b). Com outras palavras, "a fidelidade dinâmica e criativa" (cf. VC 37) torna-se profecia, testemunho, missão e, até mesmo, martírio heróico (VC 86) nestes nossos anos de 90. Parece-me que a situação real, que estamos vivendo, nos esteja pedindo novo método na profecia, para se oferecer aos homens o testemunho da "benignidade e humanidade do nosso Salvador, Jesus Cristo" (Tt 3,4). Uma profecia que saiba enfrentar...

11º Domingo do Tempo Comum.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O jornalista Frei Tito Brandsma, Carmelita.

Por Frei Manoel Wermers, 0.Carm.
(Publicado no Mensageiro do Carmelo em 1948).


O papel grandiosamente nobre da imprensa católica foi por Frei Tito definido em poucas palavras, simples mas decisivas: “uma potência contra as forças inimigas, porque responde não apenas aos ataques feitos, como ainda prega positivamente a verdade, dia a dia”.
A boa imprensa é uma das armas mais poderosas do apostolado, pois penetra todas as camadas sociais, ensinando, exortando, retificando,  cristianizando.   Pela imprensa católica a palavra de Cristo é levada aos doentes entrevados nas camas e aos presos nos cárceres. Pela imprensa católica a palavra de Cristo acompanha os viajantes dos aviões e dos submarinos dos trens e dos navios, dos bondes e dos ônibus. Pela imprensa católica a palavra de Cristo entra nos bolsos e nos escritórios, nas fábricas e nas lojas. E nos poucos momentos de lazer que deixam as ocupações materiais, a palavra de Cristo aí está para formar as consciências. A política é encarada sob um aspecto católico, a vida social examinada segundo os princípios cristãos e a cultura avaliada segundo os valores da verdade e da estética do divino.
Compreende-se o desejo dos Sumos Pontífices que os Católicos, por toda a parte, tenham a sua imprensa própria que, em íntima união com as autoridades eclesiásticas, propague as verdades de Cristo. As Universidades têm o seu boletim para propagar a ciência, as Ordens Religiosas a sua revista para espalhar a sua espiritualidade, a igreja de Cristo precisa ter a sua imprensa que continue o seu ensino nas praças e nas casas de família, e a defenda contra os ataques diários dos seus inimigos sempre solertes e sempre traiçoeiros como Judas o traidor de Jesus.
A alma apostólica de Frei Tito não podia ignorar a importância transcendental da imprensa católica, e desde cedo dedica-lhe uma grande parte dos seus talentos. Já o vimos.
Em 1935 recebe uma carta do Arcebispo, nomeando-o Assistente Eclesiástico dos jornalistas católicos holandeses. Bem depressa revela qualidades técnicas de primeira ordem. O seu trabalho é feito com dedicação e amor, não se limitando a alguns conselhos e avisos sobre moral e bons costumes. Orienta a formação dos jornalistas e se interessa em melhorar a sua situação jurídica. Não somente a corporação mas também cada jornalista em particular merece-lhe a atenção. Conhece a todos, e todos se tornam seus amigos. O nome Tito foi dado muitas vezes os filhos em homenagem e gratidão a este pai dos jornalistas.
Bem ia ele precisar dessa dedicação afim de poder guiá-los através de sacrifícios e abnegações inerentes à tarefa de defender a verdade e a cultura contra, os ataques mais violentos. A atmosfera estava sendo envenenada pejas estúpidas mentiras do nazismo material, desprovido de qualquer elevação cultural e apenas animado do brutal desejo de destruição.
Assistindo em 1937, três anos antes da invasão, à tomada de posse do novo diretor de um diário, Frei Tito faz-lhe a pergunta se se realizava bem a tarefa, “pois ela não será fácil quando Hitler invadir a Holanda”.
Visão real da situação, inspirado pelo bom senso! Imediatamente depois da ocupação foi criado o “Conselho Informativo da Imprensa”. Deu-se a garantia: “A liberdade de consciência será respeitada, pois seria sumamente desprezível violentar as consciências” (!) ...  Pouco a pouco, porém, começam essas violações desprezíveis, na surdina ainda. Quantas vezes foram chamados os diretores, por não terem publicado as notícias fornecidas pelo Conselho Informativo! Em novembro de 1940, meio ano depois da invasão, foi suprimida a associação dos jornalistas católicos de que Frei Tito era Assistente Eclesiástico. Em 1941 foram proibidas quase todas as publicações de caráter religioso. Falta de papel. Havia-o em abundância para as publicações partidárias e pornográficas, quase sempre idênticas. Os protestos dos Bispos de nada adiantaram. A resistência passiva era a única arma que podiam manejar. Em todas as igrejas foi lida uma carta episcopal proibindo prestar auxílios importantes ao nazismo alemão ou holandês.
O Conselho Informativo continuava a mandar publicações de propaganda nazista, que os Católicos não publicavam ou transformavam, seguindo os conselhos de Frei Tito que estava em contínuo contato com o Arcebispo. Em dezembro de 1941 veio a provocação em forma de uma nota particular, dirigida a todas as direções dos jornais, cujo teor é:
Nota nº 1.008 — Para as direções. Não para publicação.
Haia, 18 de dezembro.
O Departamento de Informações e Cultura comunica não ser permitido à imprensa da Holanda recusar a propaganda fornecida pelo N.S.B. (movimento nazista holandês) ou pelas suas associações por motivo de princípios...
Não para publicação.
E a tão apregoada liberdade de consciência? Frei Tito, como Assistente Eclesiástico os jornalistas católicos, está frente à mais completa degeneração pagã e totalitária. Urge dar normas claras e decisivas aos jornalistas e aceitar a responsabilidade da luta. No último dia de 1941 traça as diretrizes a seguir num documento precioso e venerando, selo com a sua própria vida:
Nimegue, 31 de dezembro de 1941.
Ilmo Sr.
Como Assistente Eclesiástico da Associação dos Jornalistas Católicos, nomeado por sua Excia Revma. o Sr. Arcebispo, considero meu dever propor o seguinte à sua atenção:
... Segundo os seus próprios princípios e os princípios do direito internacional, a Igreja Católica na Holanda respeita os direitos das forças de ocupação. Ao mesmo tempo, porém, e em virtude dos mesmos princípios ela viu-se obrigada a agir contra um movimento que repudia esses princípios para propagar outros contrários à Igreja Católica.
A imprensa é forçada a publicar muitas informações. Não havendo conflito com os princípios católicos, satisfez-se a essas exigências na medida do possível...
... Há poucos dias foi baixada uma ordem para a imprensa, cuja execução poria as Direções e as Redações dos diários católicos em conflito com os princípios católicos... Os jornais católicos aqui não podem ceder sem entrar em conflito com a ordem do episcopado a qual proíbe prestar auxílios importantes ao Movimento Nacional Socialista. A ordem emanada do Departamento de Informações e Cultura ainda não se tornou oficial... Caso, porém, se chegar a esse ponto, ou caso houver insistência em que seja publicada a propaganda do Movimento Nacional Socialista, mesmo sob a ameaça de pesadas multas, de suspender ou até de suprimir o jornal, então devem as Direções, e as Redações de acordo com essas, tratando-se de artigos de tendências idênticas, negá-los terminantemente caso queiram conservar o caráter católico de seu jornal. Não pode ser de outra forma. Atingiu-se o limite... Isso, certamente, será duro para muitos, que até hoje têm encontrado no jornalismo um emprego honesto e remunerado; a responsabilidade, porém, fica para aqueles que querem, contra todas as promessas, violentar a consciência da Direção e da Redação.
Por enquanto não posso crer que as instâncias responsáveis chegarão a esse ponto. Se, porém, acontecer isso, Deus terá a última palavra e recompensará o servo fiel.
Com os melhores votos para o Ano Bom.
Frei Tito Brandsma, O. Carm.
Durante a primeira semana de janeiro vê-se Frei Tito a viajar pela Holanda toda, conferenciando com os Bispos e os jornalistas mais destacados e organizando a defesa da verdade. Aos 10 de janeiro comunica ao Arcebispo os resultados das suas conferências.
A resistência parece ter impressionado os chefes nazistas. Eles mostram-se mais acessíveis e até dispostos a fazer concessões embora falem com amargura sobre a ação do Professor Brandsma, qualificando-o de sabotagem. A atmosfera está menos carregada, alguns pensam mesmo que o perigo já tenha passado.
De repente vem o desenlace. Na tarde de 15 de janeiro o Arcebispo telefona para Frei Tito comunicando-lhe que o Movimento Nacional Socialista novamente ofereceu grandes notícias de propaganda aos jornais com a ordem de publicá-las depois de dois dias. O Arcebispo é de opinião que se deve enviar agora a Carta Circular do Episcopado que fora retida em conseqüência das concessões recebidas. A Carta sai com a data de 16 de janeiro.
O testo é de Frei Tito. Nesse documento o Arcebispo, em nome do Episcopado da Holanda, dá as normas definitivas aos jornais católicos sobre as publicações de tendências nazistas.
“Temos a plena consciência da situação extremamente difícil em que se encontra a imprensa católica e dos grandes interesses econômicos que estão em jogo. Lamentaríamos profundamente se a imprensa católica, construída a custo de tantas dificuldades e sacrifícios e que tanto bem tem realizado fosse obrigada a desaparecer. Mas há limites. Não podemos considerar católicos os jornais que propaguem princípios contrários aos católicos. Tais jornais seriam mais perigosos, para os Católicos do que os jornais neutros ou mesmo nazistas, pois os fiéis, de sobreaviso para com esses julgariam aceitável o Movimento Nacional Socialista, se 'esse fosse propagado por jornais católicos. Haveria ainda o escândalo, se fosse permitido aos jornalistas católicos propagar esse movimento, já que é proibido aos outros.
“Por esses motivos o Venerável Episcopado declara expressamente que os vossos jornais perdem o seu caráter católico, publicando propaganda do N.S.B., ou ainda artigos à favor do N. S. B. (a não ser que tenham sido modificados eficazmente),e que o mesmo será levado ao conhecimento dos fiéis. Quanto às notícias e às reportagens nazistas de publicação obrigatória, é preciso indicar as fontes das mesmas.
“O Venerável Episcopado declara outrossim que a não observância dessas normas será considerada como um auxílio importante, prestado ao Movimento Nacional Socialista, com todas as suas sanções para as pessoas repensáveis.
“Afim de conseguir uma atitude uniforme, o Venerável Episcopado deseja, receber, por intermédio, do Assistente, Professor Dr. Tito Brandsma, uma declaração escrita de que vós, como Diretor ou Redator-Chefe seguireis essas diretrizes”.
Durante três dias Frei Tito percorre mais uma vez a Holanda. No terceiro dia, 19 de janeiro, pouco depois de ter chegado em casa, duas pessoas apresentam-se desejando falar com ele. Eram da Polícia de Segurança e vinham para prender Frei Tito. Durante duas horas fazem urna busca no seu quarto, examinando os seus papeis, com que enchem algumas malas. Em seguida Tito abraça pela última vez os confrades e deixa o seu querido Carmo para sempre...
Como bom jornalista Frei 'Tito defendeu a verdade, testemunhando por Cristo contra o paganismo moderno. Conseguiram abafar a sua voz, mas o seu sangue ia clamar mais alto e dar novo esplendor à Verdade Eterna.
(Mensageiro do Carmelo, Ano 36. Abril de 1948, pág. 63 e seg.).

CORAÇÃO DE JESUS: Espiritualidade Bíblica.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Jesus está presente na Eucaristia. Mas como? Perguntaram as crianças ao Papa.

No dia 15 de outubro de 2005, o Santo Padre Bento XVI encontrou-se com diversas crianças que estavam se preparando para receber pela primeira vez a Eucaristia. Nesse bate-papo com os pequenos, o Pontífice deixou ensinamentos precisos sobre este tão grande mistério.
O jovem André perguntou ao Papa: A minha catequista, ao preparar-me para o dia da minha Primeira Comunhão, disse-me que Jesus está presente na Eucaristia. Mas como? Eu não o vejo!
Bento XVI respondeu: Sim, não o vemos, mas existem tantas coisas que não vemos e que existem e são essenciais. Por exemplo, não vemos a nossa razão, contudo temos a razão. Não vemos a nossa inteligência e temo-la. Não vemos, numa palavra, a nossa alma e todavia ela existe e vemos os seus efeitos, pois podemos falar, pensar, decidir, etc... Assim também não vemos, por exemplo, a corrente eléctrica, mas sabemos que ela existe, vemos este microfone como funciona; vemos as luzes. Numa palavra, precisamente, as coisas mais profundas, que sustentam realmente a vida e o mundo, não as vemos, mas podemos ver, sentir os efeitos. A eletricidade, a corrente não as vemos, mas a luz sim. E assim por diante. Desse modo, também o Senhor ressuscitado não o vemos com os nossos olhos, mas vemos que onde está Jesus, os homens mudam, tornam-se melhores. Cria-se uma maior capacidade de paz, de reconciliação, etc... Portanto, não vemos o próprio Senhor, mas vemos os efeitos: assim podemos entender que Jesus está presente. Como disse, precisamente as coisas invisíveis são as mais profundas e importantes. Vamos, então, ao encontro deste Senhor invisível, mas forte, que nos ajuda a viver bem.
O Papa bento XVI, em breves palavras, afirmou que a presença de Jesus é real na Eucaristia, independentemente se esta não seja “perceptível” aos olhos humanos, porém, este fato não afasta a realidade de que Cristo está presente na Eucaristia.
A pequena Anna perguntou: Caro Papa, poderias explicar-nos o que Jesus queria dizer quando disse ao povo que o seguia: "Eu sou o pão da vida"?
O Pontífice respondeu que: Deveríamos, esclarecer o que é o pão, pois hoje nós temos uma cozinha requintada e rica de diversíssimos pratos, mas nas situações mais simples o pão é o fundamento da nutrição e se Jesus se chama o pão da vida, o pão é, digamos, a sigla, uma abreviação para todo o nutrimento. E como temos necessidade de nos nutrir corporalmente para viver, assim como o espírito, a alma em nós, a vontade, tem necessidade de se nutrir. Nós, como pessoas humanas, não temos somente um corpo, mas também uma alma; somos seres pensantes com uma vontade, uma inteligência, e devemos nutrir também o espírito, a alma, para que possa amadurecer, para que possa alcançar realmente a sua plenitude. E, por conseguinte, se Jesus diz 'eu sou o pão da vida', quer dizer que Jesus próprio é este nutrimento da nossa alma, do homem interior do qual temos necessidade, porque também a alma deve nutrir-se. E não bastam as coisas técnicas, embora sejam muito importantes. Temos necessidade precisamente desta amizade de Deus, que nos ajuda a tomar decisões justas. Temos necessidade de amadurecer humanamente. Por outras palavras, Jesus nutre-nos a fim de que nos tornemos realmente pessoas maduras e a nossa vida se torne boa.

Por fim, o jovem Adriano perguntou ao Sumo Pontífice: Santo Padre, disseram-nos que hoje faremos a Adoração Eucarística. O que é? Como se faz? Poderias explicar-nos isso?
Bento XVI afirmou: A adoração é reconhecer que Jesus é meu Senhor, que Jesus me mostra o caminho a tomar, me faz entender que vivo bem somente se conheço a estrada indicada por Ele, somente se sigo a via que Ele me mostra. Portanto, adorar é dizer: "Jesus, eu sou teu e sigo-te na minha vida, nunca gostaria de perder esta amizade, esta comunhão contigo". Poderia também dizer que a adoração, na sua essência, é um abraço com Jesus, no qual eu digo: "Eu sou teu e peço-te que estejas também tu sempre comigo".
Com essas palavras do Papa Bento XVI dirigidas às pequenas crianças na Alemanha, aprendemos que Jesus está presente na Eucaristia, mesmo que não O vejamos, pois Sua presença está além dos nossos sentidos. Aprendemos que Ele, o Pão da Vida, deseja nos alimentar, para que, em meio ao mundo - faminto de Deus –, possamos caminhar fortemente rumo à vontade d'Ele. Para isso, basta-nos apenas reconhecer Sua presença majestosa e nos prostrarmos em adoração, oferecendo a Ele, a partir da nosso testemunho de vida, uma resposta de amor, a Ele que quer ficar conosco até o fim dos tempos.

Fonte: Zenit

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO-90 (Vocação e Marketing).

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Pensamento do dia: Corpus Christi.

Facebook começa a dar sinais de esgotamento entre seus seguidores
Javier Martín
Em Barcelona (Espanha)
34% dos americanos passam menos tempo no Facebook do que há seis meses, segundo pesquisa.
Um bilhão de moscas, perdão, de pessoas não podem estar enganadas. Ou sim? Em agosto, o Facebook alcançará esse número de clientes. E a empresa valia há apenas algumas semanas mais de US$ 100 bilhões. Mas isso foi há algumas semanas. Desde que entrou na Bolsa parece que tudo gira contra ela.
As más notícias coincidem com a queda em sua cotação, que em 12 dias passou de US$ 45 para US$ 26,80. Coincidindo com a decepção dos investidores, vão aparecendo mais dados que turvam a marcha da rede social.
Uma pesquisa da Reuters / Ipsos aumentou suas penúrias financeiras: 34% dos usuários do Facebook nos EUA passam menos tempo na rede do que seis meses atrás. Os motivos são que a consideram "aborrecida", "irrelevante" e "inútil". A preocupação com a privacidade é apenas o terceiro motivo de desistência.
Primeiro chegaram as grandes crises de fechamento de lojas, depois a retirada de campanhas publicitárias e finalmente - o que mais doeu para os investidores - a desvalorização da ação. Mas parece que a influência dos que apostaram na Bolsa teve consequências na fidelidade do pessoal do Facebook.
Seu início vacilante na Nasdaq (no primeiro dia acabou quase como começou), entretanto, provocou que 44% dos pesquisados, entre quinta-feira (31) e segunda-feira (1º) passadas, se mostraram menos partidários da rede e 46% menos inclinados a investir na Bolsa.
Velhos problemas - reconhecidos oficialmente pelo Facebook - como a dificuldade de transformar sua popularidade (901 milhões de clientes) em dólares se agigantam agora na mídia.
Quatro em cada cinco usuários nunca compram um produto ou serviço a partir de um comentário escrito por um amigo na rede. Um dado que lembra o estampido da General Motors, que retirou suas campanhas publicitárias poucos dias antes que ele entrasse na Bolsa.
Já em fevereiro um estudo da eMarketer indicava que as sugestões de pagamento da rede social tinham menos eficácia que o marketing direto ao e-mail do consumidor.
De pouco vale salientar que dois em cada cinco usuários se conectam diariamente a sua conta e que a metade passa o mesmo tempo que seis meses atrás. De repente, o Facebook parece "micado".
Para o analista Ray Valdes, da Gartner, trata-se de um fenômeno de cansaço da novidade. "O Facebook tem o constante desafio da fadiga das pessoas, da perda do fator novidade, por isso tem que introduzir novidades constantes", declarou à Reuters.
Também se disse que seu ritmo de crescimento desacelerou, embora isso só seja verdade em países com alta penetração, como os EUA, o que compensa com sua força na China, Índia ou Brasil, determinantes para alcançar o número mágico do bilhão.
Se o número de assinantes aumenta, a queda na Bolsa também é o menor de seus problemas. O mais decisivo em uma rede social é que não receba qualificativos como "aborrecida" ou "inútil". Tão grande e teoricamente tão importante para nossas vidas era ter uma conta no MySpace seis anos atrás. Hoje é irrelevante. Por isso, também nesta semana - que casualidade -, o fundador da firma Ironfire Capital, Eric Jackson, previu o desaparecimento do Facebook antes de 2020.
A aparente brincadeira era bem justificada (além de que há precedentes). Segundo ele, estamos na terceira geração da Internet, algo assim como a terceira era glacial. A maioria dos da primeira morreu, e os da segunda, à qual pertenceria o Facebook, tentaria sobreviver às condições da terceira geração, caracterizada pelo mundo móvel, onde a rede social, paradoxalmente, com seus escassos dez anos de vida, por enquanto não está conseguindo se adaptar.
A Google, também da primeira geração, o conseguiu graças ao Android, seu sistema operacional para celulares gratuito, mas que lhe serve para continuar captando a publicidade que já havia conseguido no mundo do computador.
O desafio do Facebook, portanto, é buscar sua gente nos smartphones e não se dispersar. A Linkedin, a única que entrou na Bolsa com êxito, é um exemplo de objetivo claro e clientela definida, a profissional. A Linkedin não tem, como o Facebook, planos de abrir suas portas para bebês e alunos da pré-escola.
A má reputação é hoje na rede
Antigamente, chegar em casa depois das 10 da noite poderia provocar má reputação no bairro ou na escada, especialmente se fossem garotas solteiras. Hoje a má reputação se adquire na Internet. "A sensação de privacidade dos menores é uma realidade diferente da dos maiores", explica Francisco Prieto, diretor da CTIC Fundación de la Sociedad de la Información. "A privacidade não está incorporada a seus valores. Não são críticos com a reputação digital", observa.
O CTIC organizou em Gijón (Espanha) o Terceiro Encontro Internacional de Menores nas TIC, sob o lema "Privacidade versus participação". "É claro que as redes sociais devem se incorporar à docência, mas é preciso saber como. Os jovens sabem mais de tecnologia", acrescenta Prieto, "e os adultos de valores, por isso têm algo a contribuir. É preciso integrar valores e tecnologia", afirma o especialista.
Os conflitos não ocorrem no pátio, mas em uma viagem de estudos, quando alguém faz uma foto de um companheiro e a põe no Facebook. "Encontramos pais perdidos e com filhos que não conhecem o medo. Há necessidade de uma reeducação, talvez como matéria, para que os jovens aprendam o uso responsável das redes."
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO-86 (Corpus Christi despedaçado)

domingo, 3 de junho de 2012

Corpus Christi despedaçado
Frei Petrônio de Miranda, Carmelita da Ordem do Carmo.

Ó Jesus no ventre materno
Em Maria a gerar
Olha para as mães grávidas
Sem família e sem um lar
Junta todos os pedaços
De sangue, suor e dor
Ó meu Jesus Eucarístico,
Vem mostrar o teu amor!

Sacramento do amor
Pão da vida salutar
Os sem teto chorando
Seu suor a derramar
Ó meu Jesus Eucarístico,
Este povo a clamar
Junta todos os pedaços
Vem logo os ajudar!

Com os Mártires da terra
Nós queremos te adorar
Ó meu Jesus Eucarístico,
Este sangue a derramar
Estas vidas em pedaços
Este povo a caminhar
Com os jovens sofredores
Nós iremos te louvar!

Partilhar a Boa Nova
A todos saber amar
Estas vidas em pedaços
Este povo a caminhar
Ó meu Jesus Eucarístico,
Vem logo nos ajudar
Abraça a mãe solteira
E a viúva a chorar!

Estas crianças sofridas
Estes jovens a lutar
Destrói do nosso país
A droga a maltratar
Ó meu Jesus Eucarístico,
Vem logo nos confortar
Estas vidas em pedaços
Sem terra e sem um lar!

Os presos do nosso país
Muitas vezes a chorar
Suas vidas em pedaços
Com as famílias a gritar
Ó meu Jesus Eucarístico,
Este povo a suplicar
Quebra toda corrente
Que possa aprisionar!

A violência da mídia
Entrando em nosso lar
Até a nossa irmã Morte
Sempre a nos visitar
Ó meu Jesus Eucarístico,
Venha sempre nos acalmar
Estas vidas em pedaços
Precisam se libertar!

Este país que vale ouro
A mentira a corroer
A Aids levando vidas
A corrupção a vencer
Ó meu Jesus Eucarístico,
Vem logo nos socorrer
Estas vidas em pedaços
Contigo vamos vencer!

Se depender de oração
Este povo vai se salvar
Com as novenas e rezas
Todo o povo a suplicar
Mas as vidas em pedaços
Quem poderá ajuntar?
Ó meu Jesus Eucarístico,
Venha nos conscientizar!

Neste ano decisivo
Onde o voto tem valor
Às vidas despedaçadas
Sem socorro e sem amor
Ó meu Jesus Eucarístico,
Vem logo nos levantar
Livra-nos da corrupção
E dos políticos a enganar!

Em cada cidade clamamos
Meu Jesus libertador
Olha por estas famílias
Com carinho e com amor
Ó meu Jesus Eucarístico,
Do álcool vem libertar
A estas vidas em pedaços
A tua paz vem nos dar!

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO-83 (Conversa com Dom Vital, Eremita Carmelita).

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO-62. (Quando eu morrer...)

27 de julho-2002- 27  de julho-2012. Frei Petrônio de Miranda, 0. Carm. 10 Anos de Padre! Pensamento para este dia 11 de maio-2012: “Amar o próximo não é ter os mesmos sentimentos ou compartilhar as mesmas ideias e sonhos, mas ter a coragem de doar a vida pela pessoa amada, mesmo sabendo que ela está errada”.  (Jo 15, 12-17). Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita, Convento do Carmo, São Paulo.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Padre Marcelo Rossi revela intimidade para Roberto Cabrini.

PENSAMENTO DESTE DIA 27 DE ABRIL-2012...

27 de julho-2002- 27  de julho-2012. Frei Petrônio de Miranda, 0. Carm. 10 Anos de Padre! Pensamento para este dia 27 de abril-2012: “A vocação do Frade Carmelita não é ter, ser ou fazer, mas *zelo zelatus sum pro Domino Deo exercituum. ( (1º Reis, 19, 10) Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita, Convento do Carmo, São Paulo.
*Eu me consumo de ardente zelo pelo Senhor Deus dos exércitos.

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO-48. (Oração X Ação)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO-40. (A Presença de Deus na cidade).

Pensamento para este dia 18 de abril-2012...

27 de julho-2002- 27  de julho-2012. Frei Petrônio de Miranda, 0. Carm. 10 Anos de Padre!.  “Na Espiritualidade do Carmelo o segredo para encontrar a santidade é viver bem”. Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita, Convento do Carmo, São Paulo.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO-34. (Voto e Cidadania).

Pensamento para este dia 13 de abril-2012...

27 de julho-2002- 27  de julho-2012. Frei Petrônio de Miranda, 0. Carm. 10 Anos de Padre!. “Sou padre, sou pastor, sou freira, sou líder comunitário, sou cristão e voto nos caciques da política e seus afilhados corruptos nas próximas eleições”. Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita, Convento do Carmo, São Paulo.

terça-feira, 10 de abril de 2012

A PALAVRA DO FREI PETRÔNIO-31.

Pensamento para este dia 10 de abril-2012...

27 de julho-2002- 27  de julho-2012. Frei Petrônio de Miranda, 0. Carm. 10 Anos de Padre!.  “Quem viu Jesus encontrou não uma doutrina, um sacramento, um mandamento, um convento, uma igreja ou um suco de maracujá, mas uma vida nova”. JO 20, 11-18)
(Frei Petrônio de Miranda, Padre Carmelita, Convento do Carmo, São Paulo.