No último dia 30 de julho do corrente ano,
em razão da homilia por mim proferida no encerramento da Festa de Sant’Ana,
padroeira de nossa Diocese de Caicó, muitas contestações se levantaram a partir
da referência que fiz, sobre o tema da homoafetividade.
Como “cada ponto de vista é a vista de um
ponto”, gostaria de esclarecer a partir de que ponto eu estava falando.
Encontro-me no sertão no Seridó há três anos e a cada dia tenho aprendido a
amar este povo forte e sofrido. Uma das dores desta região que corta o meu
coração de pastor é o alto índice de suicídio (só na cidade de Caicó, nos dez
primeiros meses do ano passado, tivemos dezenove casos). Com frequência tenho
abordado este tema e, por isso, muitas
pessoas têm me procurado para partilhar experiências, o que me fez entender que
vários casos estavam associados a conflitos de ordem afetiva.
O Evangelho do domingo era Mt 13,44-52, e
nos apresentava o Reino de Deus como um comprador de pedras preciosas que ao
encontrar uma de grande valor, vai vende tudo o que tem e compra aquela
pérola. Também Jesus nos dizia que quem
se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu
tesouro coisas novas e velhas. Com esta imagem, convidei a assembleia a
refletir sobre a pérola que o Evangelho estava nos dando na festa Santana.
Dentro do contexto, abordei o tema dos
irmãos e irmãs com orientação homoafetiva, procurando enxergá-los de uma forma
evangélica, por isso me dirigi aos que sofrem por causa dessa condição. Em
geral, a orientação homossexual não é uma opção, pois em determinado momento da
vida a pessoa se descobre com esta ou aquela tendência. Opção é a forma como a
pessoa viverá essa orientação. a minha preocupação ao abordar tema tão
delicado, é de caráter eminentemente pastoral e busca acolher, no contexto de
nossa Igreja Particular, as orientações da Igreja sobre esta questão,
desenvolvidas e aprofundadas nos últimos decênios. O Catecismo da Igreja
Católica já nos ensina a respeito do cuidado necessário para com as pessoas
homoafetivas: "Um número considerável de homens e de mulheres apresenta
tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente
desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser
acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles,
qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar
na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz
do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição" (CIC,
2358).
Tenho total convicção que não agi de má fé
nem quis induzir ninguém ao erro. Mas, como o Papa Francisco já nos pediu
bastante vezes, as pessoas já sabem de cor a doutrina da Igreja sobre o aborto,
o divórcio e atos homossexuais. Ele pede de nós que não fiquemos obcecados em
sempre insistir no pecado aumentando a ferida cada vez mais dessas pessoas, mas
insistamos que a igreja está de portas abertas para acolher, instruir,
discernir, amar a fim de levar a salvação a todos sem exceção (L'Osservatore
Romano, edição semanal em português, Ano XLIV, n. 39, Domingo, 29 de setembro
de 2013).
Com minha reflexão, em clima de oração,
enquanto pastor que se comove diante das fragilidades do seu rebanho, sem
querer minimizar as dimensões doutrinal e moral que a matéria em questão
envolve, minha intenção é de salvar vidas, contribuindo para que possamos
superar os preconceitos que matam e entrar na dinâmica da misericórdia de Deus
que respeita, resgata e salva as pessoas. Humildemente confesso que este é um
sentimento de um pastor que procura assimilar, no exercício concreto do seu ministério,
a mesma compaixão do Bom Pastor que busca "ter o cheiro das ovelhas"
e que como Pai preocupa-se pela salvação e pela dignidade da vida dos seus
filhos.
Quero confirmar que sou filho da Igreja,
amo a minha Igreja, professo e aceito toda a doutrina e, em razão da minha
prometida fidelidade ao Sucessor de Pedro, o Papa Francisco, estou procurando
colocar em prática os ensinamentos do seu magistério e suas orientações
pastorais sobre o tema em questão. Simplesmente busquei ser fiel ao meu lema
episcopal: "Olharão para Aquele que transpassaram" (Jo 19,37), tendo
os olhos fixos no Transpassado quis contemplá-lo nos transpassados da história.
Finalizo com o desejo de que as sábias palavras de Santo Agostinho nos inspirem
e nos guie diante de nossas perplexidades: "Na essência a unidade, na
dúvida a liberdade, em tudo a caridade". Rezemos uns pelos outros.
De peito aberto...
Caicó, RN, 6 de
agosto de 2017
Festa da
Transfiguração do Senhor
Festa do Senhor
Bom Jesus
+ Antônio Carlos
Cruz Santos, msc
Bispo Diocesano de
Caicó/RN
Fonte:
www.diocesedecaico.com.br
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