"Pequenas
paróquias, padres em idade avançada, quase nenhuma ordenação de novos
sacerdotes. Decide-se pela fusão de paróquias com um único pároco e alguns
sacerdotes colaboradores. Mas não é possível apagar por decreto mais de mil
anos de história de tantas realidades e identidades paroquiais", foi o
desabafo de Don Achille Lumetti, pároco de Madonna di Sotto, perto de Módena,
alguns anos atrás. Estava indignado com as “integrações”, com as novas unidades
pastorais que os bispos em quase todo lugar estão criando para garantir uma
presença cristã nos pequenos vilarejos com mil (ou menos) habitantes, que
pontilham a Itália de norte a sul. Que esta não passe de uma
tentativa de estancar uma enchente com barragens de papel, só o tempo dirá. A
reportagem é de Matteo Matzuzzi, publicada por Il Foglio, 28-03-2017.
A tradução é de Luisa Rabolini.
Por
enquanto a vida segue, entre os projetos (muitos) e esperanças de que com o
passar dos anos alguma coisa mude, que talvez a secularização se reverta e, quem sabe, as arcas de
salvação da chamada Opção Bento, construídas no aguardo que a maré da
secularização passe (conforme o ensaio The Benedict Option, de Rod
Dreher que está sendo lançado nos Estados Unidos), possam retornar
aos portos e iniciar a ‘re-evangelização’ do ocidente. Também porque a
"secularização não é irreversível", explica para o Foglio o
Professor Massimo Borghesi, docente de Filosofia Moral na Universidade
de Perugia. "Todo o período que vai de 1989 a 2001 foi marcado pelo
triunfo da secularização que, aliás, já havia se afirmado nos anos 1970. O
Ocidente considerava como um dogma a irreversibilidade desse fenômeno e, ao
mesmo tempo, a restrição de cristianização a setores extremamente
específicos".
Então,
tudo mudou: "Com o 11 setembro de 2001, este regime entrou em
crise. A religião voltou à tona, tanto em sua versão positiva como no seu
aspecto mais aberrante, como o terrorismo religioso. Estamos
testemunhando desde então o retorno do momento religioso como um qualificante
da modernidade". Em suma, "a dimensão religiosa não estava morta:
estava simplesmente adormecida".
Nas vinte
e sete mil paróquias italianas, constatar esse renascimento é, muitas vezes,
uma tarefa árdua. Saindo do centro para as periferias (também geográficas),
sobre as quais tanto fala o Papa, notam-se os sinais de mudança, que é,
acima de tudo, cultural: à missa dos domingos, o número de pessoas presentes é cada vez menor, embora seja conveniente certa cautela antes de
generalizar algumas impressões. "Se realmente aconteceu, o grande
retrocesso foi nos anos 1970, não tem nada a ver com o Papa Francisco",
observa o sociólogo Massimo Introvigne, diretor do CESNUR (Centro
de Estudos sobre as Novas Religiões).
"Estritamente
falando, não sabemos se realmente diminuiu o número de pessoas, porque só temos
dados gerados pelo CATI (Computer Assisted Telephone Interviewing, ou
seja, entrevistas por telefone) que remontam a poucos anos atrás".
“Ao lado
de dados não confiáveis quanto à diminuição dos fiéis - pessoalmente acredito que os fiéis
foram realmente mais numerosos nas décadas de 1950 e 1960, mas precisamos ter
humildade metodológica para dizer que isso não passa de mera especulação,
enquanto também não acho que eles fossem definitivamente muito mais numerosos
dez anos atrás e, provavelmente, nem mesmo nas décadas de 1970 e 1980 – existe
uma informação absolutamente certa, ou seja, a diminuição das vocações"
continua Introvigne.
Levantamentos
estatísticos, portanto, que devem ser analisados com cautela. Também porque
"a questão de quantos realmente frequentam à igreja no domingo é, de
longe, a mais controversa no âmbito da pesquisa sociológica mundial. A
metodologia CATI - explica Introvigne - entrou em crise porque desapareceram as
listas telefônicas, poucos ainda têm telefone fixo e com os celulares tudo
ficou mais difícil. Mas, acima de tudo, entrou em crise porque alguns
estudiosos norte-americanos instilaram o germe de dúvida sobre o chamado over
reporting, ou seja, sobre o fato que muitos dos que dizem frequentar a missa
(ou ao culto protestante), na verdade, não o fazem. Percebeu-se assim que as CATI mensuram
aqueles que dizem que vão à missa e não aqueles que vão à missa: e estas são
coisas muito diferentes. O mesmo vale para os levantamentos do Istat (Instituto
Nacional de Estatística italiano), que chegam a detectar fantásticos trinta e
três por cento antes e trinta por cento hoje, dados que nenhum sociólogo
italiano considera reais”. Para investigar a crise da paróquia italiana é
preciso entender como ela se desenvolveu ao longo do tempo. "Assim como
hoje a conhecemos, é o produto de uma estratégia pastoral de concepção
sofisticada e de realização relativamente recente, como parte do processo de
modernização religiosa que tem seu principal protagonista em Pio XI",
já dizia há catorze anos o professor Luca Diotallevi,
também sociólogo e professor da Universidade Roma Tre, em um seminário
sobre o projeto cultural da CEI (Conferência Episcopal Italiana).
"A
paróquia proposta por esta estratégia é concebida como parte integrante de
outras iniciativas pastorais especializadas. Essa integração - continuava -
prevê um papel importante para as instituições pastorais por área e um papel
importante, mas não autônomo, para as outras iniciativas. Daí a imagem 'uma
primeira perna e muitas segundas pernas' (Cf. Diotallevi, primeira perna: a
estrutura institucional eclesiástica e segunda perna: os novos grupos e
movimentos em busca de novas religiosidades). A paróquia italiana do século XX
é tanto instituição do tipo "primeira perna", quanto articulação
institucional e organizada da integração existente entre a "primeira
perna' e as 'segundas pernas'".
Modelo
que entrou em crise, com a paróquia que "por um lado, já não tem mais a
capacidade de fomentar e administrar a religião dos grandes números, e pelo
outro lado, não é capaz de satisfazer a demanda de identidade de que precisam
as formas religiosas dos pequenos números". E isso "ficou claro desde
o início dos anos 1970" explicava Diotallevi, que nisso concorda com Introvigne.
A demanda, neste ponto, em virtude do contexto tão profundamente mudado é saber
se é preferível a situação de hoje, com poucos fiéis, mas bons, ou seja,
convictos do que é celebrado durante a missa - "o modelo ‘poucos, mas
bons’, no entanto, nunca foi opção da igreja, católica e por sua natureza
expansionista", conta Introvigne, que tem grandes ressalvas também
quanto à Opção Bento e a teoria das "minorias criativas"
oriunda de Ratzinger, a seu ver válida para algumas áreas da Europa
Ocidental, mas que não pode tornar-se um programa para toda a igreja - ou se
era preferível a situação anterior: igrejas lotadas, mas escassa sensibilidade
pelo Mistério.
“Potencialmente
era melhor então, no sentido de que antes da famosa revolução antropológica pasoliniana
existia um povo cristão", explica Borghesi. "Nos anos 1950,
ainda havia um ethos e uma sensibilidade permeados pela fé, mesmo
quando esta não era explicitamente professada. A sensibilidade moral era
definida e havia uma grande participação popular nos ritos da tradição
cristã". O "verdadeiro problema", acrescenta ele, "é que a
igreja não se mostrou à altura daquela participação. Frente a uma sociedade que
estava mudando no nível social e na mentalidade, com a introdução da televisão
e do modelo americano, a igreja limitou-se a uma mensagem de tipo moral e – eu
acrescentaria - a uma moral de tipo moralista. Omitindo-se de uma proposta
cristã que chegasse ao coração das pessoas e, acima de tudo, pudesse se
transformar na proposta de vida capaz de acompanhar os laicos no seu dia-a-dia,
não apenas nas manhãs de domingo".
Em suma,
este foi o limite: "Perdeu-se uma tradição popular e não se estive à
altura do momento histórico. Daí a mensagem do Papa Francisco, tão mal
compreendida, relativa às prioridades da anunciação sobre a doutrina moral". Existe ainda outro detalhe, falta
demonstrar que cinquenta anos atrás as Igrejas estavam mesmo lotadas. O famoso
sociólogo Rodney Stark, por exemplo, rejeita totalmente esta alegação. Da
mesma forma que manifesta grande perplexidade quanto à chamada Idade Média
cristã europeia, com catedrais apinhadas de fiéis e multidões em oração e
adoração. Stark dividiu a área do piso das igrejas medievais e o
suposto número de missas pela capacidade média dos recintos. O resultado é que
a afluência ficava entre um quarto e um terço. Praticamente igual aos números
atuais.
Precisa
ser feita uma distinção, argumenta Introvigne: "O copo está meio
vazio, se olharmos para a Polônia, onde a conferência episcopal local,
desde os tempos do comunismo, faz um inventário de todas as missas, os
hospitais, os movimentos e os santuários, enviando em todos os lugares
voluntários com máquinas calculadoras. E também realiza uma série de entrevistas
por telefone na mesma área. Os dados na Polônia documentam que
sessenta por cento das pessoas dizem que vão para a missa, mas, na realidade,
esse número não passa de quarenta por cento. São dados altíssimos". Mas o
copo também pode ser meio cheio. Basta se deslocar alguns milhares de
quilômetros para oeste: "Na França, as poucas contagens efetuadas nos
portões das igrejas apontam para cinco por cento de fiéis dominicais, e quinze
por cento na Espanha. A Itália, portanto, manteve-se melhor que os
outros grandes países do Mediterrâneo".
E assim,
os planos para a reestruturação do sistema paroquial italiano avançam um pouco
em toda parte. Em 2003, a CEI dedicou ao tema uma assembléia geral, e
depois novamente (em janeiro do ano seguinte) no Conselho Permanente. A crise
já estava evidente e esforços para repropor a centralidade desse modelo
encontraram obstáculos só superáveis a expensas de grande esforço e desgastes
de energia. Já na época Diotallevi dizia que "a escolha dos
bispos italianos de focar na paróquia, no padre diocesano e na Ação Católica
pode ter chegado tarde". Talvez "não demasiado tarde", mas,
certamente, o quadro já mostrava um evidente desgaste. "Deslegitimar a
paróquia é equivalente a deslegitimar a mais difundida - se não a única -
instituição religiosa na Itália, que está sob a forma 'de igreja'",
acrescentava.
Passada
pouco mais que uma década, o discurso está superado; não se trata mais de
reavivar a paróquia, mas de convencer os fiéis que, "da mesma forma que
não frequentam mais o armazém do bairro, preferindo o hipermercado a
quilômetros de distância, assim não podem mais ter um padre ao lado de suas
casas", diz o sociólogo Franco Garelli, autor do recente Educazione (Ed.
il Mulino), e do anterior Piccoli atei crescono. Davvero una generazione
senza Dio? (‘Pequenos ateus crescem. Realmente uma geração sem Deus?’, em
trad. livre, de 2016). Tomemos o caso da diocese de Turim, com dados
bastante recentes: para 355 paróquias espalhadas em 158 municípios, os
sacerdotes são 260. Mais ainda, 46 assumem atribuições duplas, 14 triplas e 3
quádruplas. Em 2014 - mas a situação não mudou muito desde então - faltavam 95
párocos para atender completamente a necessidade.
Natural,
portanto, que a situação seja enfrentada como em Údine, herdeira do Patriarcado
de Aquileia, vasta diocese (da fronteira com a Áustria até o mar Adriático),
onde há alguns meses o arcebispo publicou as diretrizes para a instituição das
Colaborações pastorais. "As paróquias - explica no longo documento - até
poucos anos atrás conseguiam realizar a missão de ‘tornar a igreja visível como
um sinal efetivo da anunciação do Evangelho para a vida do homem no seu cotidiano
e dos frutos da comunhão que germinam para a sociedade'. Conseguiam porque
tinham os recursos para oferecer às pessoas, dentro de sua área de atuação, as
‘ações' pastorais que o bispo tinha como dever assegurar a toda a diocese.
Graças a esses recursos, cada um podia encontrar em sua própria paróquia a
ajuda necessária para receber a fé e o batismo, para amadurecer na vida cristã,
para testemunhá-la no mundo e caminhar na santidade".
Agora
tudo mudou: "Muitas paróquias, nos últimos tempos, não têm mais pessoas e
recursos para implementar, efetivamente, todas essas ‘ações’ em favor de seus
próprios cristãos. Devemos constatar, portanto, que elas não estão mais em
condições de desempenhar de maneira suficientemente eficaz a sua missão. Isto é
devido a vários fatores; entre estes, podemos citar: a redução demográfica de
muitas comunidades devido a uma distribuição diferente da população na área, a
mobilidade das pessoas que altera seu relacionamento com o pertencimento
territorial e a diminuição do número de sacerdotes".
A
consequência é que serão aplicadas as disposições da Nota Pastoral da CEI.
O aspecto missionário das paróquias, ou seja, prosseguir com a integração de
várias entidades paroquiais: "As paróquias não podem agir sozinhas, é preciso uma pastoral
integrada, em que, na unidade da diocese, abandonando qualquer pretensão de
autossuficiência, as paróquias se interliguem umas às outras, com diferentes
formas, dependendo da situação". Na prática, consta no texto, a
Colaboração pastoral "é confiada a um pároco que tem a responsabilidade
pastoral de todas as comunidades que compõem a Colaboração pastoral e, para
isso, é nomeado pároco em cada uma delas". Isso significa que um único
sacerdote será pároco de até quatorze paróquias diferentes. Com consequências
inevitáveis, como, por exemplo, o rodízio das missas dominicais entre as várias
localidades.
"O
problema é a atual organização das paróquias, ou seja, o fato de que a igreja
não tem feito grandes intervenções do um ponto de vista organizacional",
observa Franco Garelli. Acrescenta ainda: "Existem muitas
pequenas paróquias em áreas que perderam cotas populacionais; são comunidades
acostumadas a ter um serviço perto de casa. Este é um problema relevante,
existe uma forte mudança na sociedade. É o que poderia ser chamado de "uma
secularização suave", não traumática. O verdadeiro problema não é tanto o
percentual daqueles que frequentam a missa aos domingos, que inclusive é ainda
alto quando comparado com os baixos números apresentados por outros fenômenos
de agregação, mas a distribuição desigual das paróquias. Por isso, torna-se
complexo atualizar o modelo de paróquia para estas condições drasticamente
alteradas em relação ao passado".
Acima de
tudo, é cada vez mais difícil garantir que a "esperança colocada por
escrito pela Conferência Episcopal Italiana em 2003, que é - nas palavras do
padre dehoniano Mauro Pizzighini - que as paróquias continuam "a
assegurar a dimensão popular da igreja, tecendo relações diretas com todos os
habitantes da região e manifestando uma profunda preocupação com os mais fracos
e pobres", possa continuar a ser realizada. O dado numericamente certo,
mesmo na Itália, aponta para uma redução no número de vocações. Números
que explicam, em parte, a necessidade de lidar com colaborações, integrações,
parcerias e incorporações.
"A
culpa não é do celibato, porque mesmo as grandes congregações protestantes
mostram dificuldade em recrutar pastores", fala Introvigne,
acrescentando que "assim como o declínio da prática religiosa na década de
1970 não foi decorrente do Vaticano II, porque ocorreram fenômenos
semelhantes entre os protestantes históricos e os judeus". Como corrigir
isso? São necessárias atitudes concretas: "Há muitas razões complexas para
explicar a diminuição das vocações, entre as quais o declínio demográfico",
observa o diretor do CESNUR, "mas é claro que o problema não será
resolvido em breve. Eu não sou fã das unidades paroquiais, mas quem não gosta
delas precisa propor outras soluções. A vida religiosa nas paróquias italianas
– opinião compartilhada pelo próprio Papa - às vezes é mais
desgastada do que nas igrejas dirigidas por religiosos ou movimentos. Por outro
lado, nos Estados Unidos fala-se em renascimento da paróquia. Em suma, depende
de quem é o pároco".
Um grande
problema, manifesta Garelli, a tal ponto que "agora é
necessário rever o papel do sacerdote dentro da nova situação. É preciso dar
amplo espaço para os laicos e existem as condições para uma mudança radical
positiva. Algumas tentativas já estão sendo postas em prática, mas há a
necessidade de orientações claras, inclusive no nível da formação do
clero". Borghesi reporta-se ao Papa: "Francisco nos
disse para ter cuidado, advertindo-nos que estávamos errados na educação dos
laicos, porque pretendíamos que os laicos comprometidos fossem apenas aqueles
pertencentes ao conselho pastoral E assim formamos uma elite secular que é
absolutamente clerical. Este é o resultado de se utilizar laicos segundo uma
lógica clerical. Ao contrário, devemos seguir por uma lógica que apoie os
laicos a viver sua fé na normalidade da vida cotidiana".
Quanto às
paróquias, é verdade que existe uma distribuição desigual, embora seja
primariamente qualitativa: "Algumas desempenham um papel relevante em
vários campos. Em outras, entretanto, respira-se uma atmosfera obsoleta,
caduca. Um clima, justamente, clerical". Claro, há o risco de que o
desgaste do tecido cultural italiano - feito principalmente de pequenos
vilarejos que durante décadas tiveram no pároco a principal figura de
referência – continue de forma irrefreável.
O caminho
batismo-catequese diária-vida paroquial em suas múltiplas formas que as
gerações nascidas até os anos 1960 vivenciaram, com o tempo marcado pelos
momentos religiosos da comunidade, pertence ao passado. "Estamos
caminhando para um empobrecimento das relações sociais, com uma presença menor
no território de pontos de referência que permitem o agrupamento
coletivo", diz Franco Garelli. "É um problema real. O clero tem
dificuldade em continuar a praticar um modelo que implica em pesadas
incumbências e carga de trabalho estafante. "A solução, no entanto, não
necessariamente passa pela chamada "importação de padres" do
hemisfério sul. "Eu sempre olhei com perplexidade este fenômeno. África e América
Latina não são Europa. Paradoxalmente, corre-se o risco de favorecer
o ocidente, cada vez mais secularizado, removendo energias e forças de
contextos onde a situação, ao contrário, é a oposta". Mas a situação não
está perdida ou, pelo menos, não inteiramente.
O
professor Borghesi está convencido de que a chave para reverter o
curso pode, de alguma forma, ser representada por Francisco. Não se trata
das dissertações sobre a contabilização de multidões arrebatadas em oração, mas
do "carisma deste Pontífice, que vem da experiência do cristianismo
popular latino-americano e que indica a possibilidade de um novo
encontro entre fé e realidade popular. Ele faz isso, concentrando-se nas
pessoas simples, com uma mensagem do Evangelho que vai direto ao coração tanto
dos que estão próximos, como dos distantes. Pessoas que, em muitos casos,
voltam a frequentar a missa".
Mérito de Bergoglio?
"Eu não digo que depende apenas do Papa, é claro. Mas algo foi posto em
movimento. Realmente, depende muito do pároco: as pessoas voltam para a missa
no domingo, quando encontram párocos que têm humanidade e coração". Muitas
vezes, as realidades paroquiais "mais vivas" são aquelas guiadas
pelos movimentos, mesmo que, comenta Borghesi, "não é justo pensar
que as paróquias coordenadas por movimentos sejam as únicas vivas ou destinadas
a sobreviver. É preciso, é claro, que o pároco também esteja aberto a essas
experiências, especialmente (e principalmente) por seu próprio interesse. Mais
uma vez, é preciso sair de dentro de si mesmo e questionar-se sobre as
necessidades do ambiente que vive à nossa volta".
Mais
severo foi o julgamento de Diotallevi, que há tempo denunciava uma
"competição" entre os movimentos que inevitavelmente reverberava
sobre a "estrutura territorial da igreja", tanto que a "sua
autonomia pastoral dos bispos e dos párocos – não "amigos"- é
bastante elevada". O sociólogo de Roma teria sugerido olhar com
atenção a realidade da Opus Dei. Não é por acaso que esta
dialética, às vezes positiva e frutífera, outras problemática, foi tratada em
profusão durante o Sínodo dos Bispos sobre a Europa, dezoito
anos atrás.
A questão
da relação entre a paróquia e os movimentos foi abordada, naquela ocasião, pelo
cardeal Carlo Maria Martini, em um dos seus três famosos
"sonhos" sobre o futuro da igreja: o então arcebispo de Milão pedia
um maior envolvimento dos movimentos seculares e das novas comunidades na
pastoral paroquial, a fim de circunscrever (para muitos, limitar) a sua ação.
Desde então, o debate continuou, de forma cada vez mais desanimada. Enquanto
isso, no aguardo que a nova evangelização siga seu curso, apenas resta assistir
ao fim de uma época marcada pelo repicar dos campanários. Entender, então, que
o "Angelus” do pintor Jean-François Millet, retrata um tempo que já
passou. Fonte: www.ihu.unisinos.br
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