Total de visualizações de página

Seguidores

segunda-feira, 14 de março de 2016

“Não ao dinheiro sujo”. Assim o Papa reabilita o pároco censurado

A nova condenação de Bergoglio. As mesmas palavras há 37 anos custaram à punição a um sacerdote.

Dizer que “Deus não necessita do vosso dinheiro” é errado. E é ainda pior se é um padre a ser atingido pela “ignóbil acusação” de tê-lo pregado do púlpito de sua igreja, demonstrando ter esquecido que o dinheiro (a “mamona iniquitatis”) é sempre útil e necessário. A reportagem é de Orazio La Rocca, publicada por La Repubblica, 06-03-2016. A tradução é de Benno Dischinger
Com estas palavras um sacerdote romano foi há anos severamente chamado à ordem pelo Vicariato de Roma como réu por ter dito durante uma homilia dominical que não lhe agradavam ofertas pouco “limpas” dos seus paroquianos.
Uma homilia – além da advertência das autoridades diocesanas da diocese de Roma – profética no seu gênero por dizer as mesmas coisas do que aquele mal sucedido pároco romano (era incardinado na paróquia da Natividade) foi ninguém mais do que o Papa Francisco, na audiência geral de quarta-feira passada, quando recordou com voz firme e decidida que “Deus não necessita do dinheiro sujo de ofertas feitas com mãos sujas de sangue”.
Uma frase tipicamente bergogliana, jamais ouvida antes na solene Praça de São Pedro, onde os milhares de fiéis chegados de todo o mundo a escutaram com estrondosos aplausos libertadores, certamente cansados e desiludidos pelos demasiados escândalos que precisamente no interior da Igreja se verificaram por causa dos passados fluxos de dinheiro “sujo” pelo qual mais vezes foi inquirido, por exemplo, o banco vaticano, o IOR (Instituto para as Obras de Religião), ou outras instituições financeiras ligadas às hierarquias episcopais.
Mas, talvez o argentino Jorge Mario Bergoglio – que entre os seus prioritários empenhos não por nada tem precisamente a reforma do IOR – não sabe que precisamente na diocese romana por ele presidida desde 2013 – no dia 13 de março próximo festejará o terceiro aniversário da eleição papal – até há poucos anos nem todos os párocos se escandalizavam se entre as ofertas dos fiéis podiam ocorrer dinheiros “sujos”, talvez fruto de negociatas ou de dúbia proveniência. E, muito menos sabe que entre os párocos havia algum que do púlpito se permitia recordar aos fiéis que as ofertas destinadas às obras de beneficência deviam ser sempre “limpas”, o risco de ser retomado pelo Vicariatoestava na ordem do dia.
Como o demonstra uma carta de 1969 – quando reinava o Papa Paulo VI – expedida pelo monsenhor Alfredo Petricca, o então diretor do centro de vocações sacerdotais do Vicariato, a um padre da Natividade que havia sustentado numa homilia que as obras de beneficência não deviam ser apoiadas por dinheiro “sujo”.
Na carta, o monsenhor primeiro lamenta que “a oferta” coletada em paróquia para a jornada das vocações “era notavelmente inferior àquela dos anos passados”. Depois adverte diplomaticamente o sacerdote que alguém o havia acusado de ter dito “na pregação ‘Deus não precisa do vosso dinheiro’.” Na realidade, aquele padre havia dito que “Deus não necessita do vosso dinheiro se não acompanhado por uma autêntica conversão de vida”. Exatamente aquilo que disse o Papa Francisco 45 anos após.
Mas, quanta água foi preciso passar sob as pontes do Tibre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário