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domingo, 30 de agosto de 2015

OLHAR CARMELITANO: O chamado de Eliseu (1Reis 19,19-21)

Frei Emanuele Boaga, O.Carm. - Augusta de Castro Cotta, CDP

A história no seu contexto
A história do chamado de Eliseu se liga bem com a precedente a ela. Nesta vemos Elias seguir uma das ordens de Deus (19,16b) e assim agir para desenvolver o processo que levaria a vitória sobre o baalismo como Deus prometera (19,17). Será Eliseu que realizará as outras duas ordens: instigou a Hazael para que usurpasse o trono de Damasco (2 Reis 8,7-15) e a Jeu, o trono de Israel (2 Reis 9,1-13). Foi durante uma guerra de Hazael contra Jorão, rei de Israel, que Jeu mata Jorão e se proclama rei no seu lugar (2 Reis 9,14-26). Jeu mata também Jesabel (2 Reis 9,30-37) e os outros membros da família de Acab (2 Reis 10,1-11). Enfim, reúne os fiéis de Baal no seu templo, mata-os, destrói o templo (2 Reis 18-27). Assim Jeu exterminou Baal de Israel (2 Reis 10,28) e realiza-se a promessa que Deus fizera a Elias (1 Reis 19,17).

Interpretação
A ordem de Deus era a de ungir Eliseu como profeta. Mas os profetas não eram ungidos. O uso deste termo impróprio no v.19,16 pode-se explicar com o paralelismo, uma vez que ao nome de Eliseu segue-se o de Hazael e de Jeu, que como reis recebiam a unção.
Na nossa história o elemento principal para a eleição de Eliseu não é a unção, mas o manto de Elias. Talvez que um certo tipo de manto fosse a veste distintiva de um pro­feta (2 Reis 2,13-14). Neste caso o manto simboliza sempre a missão da pessoa e contém os poderes daquele que o usa (2 Reis 2,13-14). Também, jogar o manto sobre alguém indicava ainda o direito do proprietário do manto sobre a pessoa que o recebia (ver Ruth 3,9). Então, Elias com aquele seu gesto adquire um direito sobre Eliseu que começa a servir a Elias (v.21) e ao mesmo tempo o reveste da sua missão e dos seus po­deres como Profeta. Neste sentido pode-se considerar esta história como paralela a 2 Reis 2,1-18.
Eliseu aceita o chamado, pede apenas para ir despedir-se dos seus familiares antes de partir. A resposta de Elias tem provocado muitas discussões porque é assaz ambígua. Literalmente o texto hebraico diz: "Vai, mas volta porque sabes que coisa te fiz. (ou: ?)". Isto pode significar que Elias deixa Eliseu livre para escolher de segui-lo ou não. Mas, provavelmente significa: "Vai e volta porque tu sabes bem o que te fiz: eu te investi dos meus poderes".
 Eliseu oferece um sacrifício para o qual convida as pessoas de sua terra. Mas aqui o que é mais significativo é o fato de que para oferecer o sacrifício ele destrói o arado e mata seus bois, o que indica uma definitiva ruptura com o passado. É o mesmo que faz ao deixar as próprias vestes para vestir o manto de Elias (2 Reis 2,13). Agora possui uma nova identidade: é o servidor de Elias. Realmente o texto não nos diz que se tornou sucessor de Elias mas seu servidor. É necessário também ler este detalhe, como tantos outros da história de Elias, fazendo-se referência a história de Moisés. Josué, filho de Num, era servidor de Moisés na sua juventude, tornando-se depois seu sucessor. Assim também Eliseu inicia a sua carreira como servidor de Elias para tornar-se depois o seu sucessor.

*Institutum Carmelitanum- Comissão Internacional- Carisma e Espiritualidade.

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