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segunda-feira, 27 de julho de 2015

*A ORAÇÃO NA VIDA CARMELITANA: TITO BRANDSMA

*A ORAÇÃO NA VIDA CARMELITANA: Reflexões e textos de autores carmelitanos sobre a Comunhão com Deus e a Oração no Carmelo(3ª Parte).
Frei Emanuele Boaga, O.Carm. In Memoriam.

TITO BRANDSMA
+ 1942
Tito Brandsma, carmelita holandês, jornalista e mártir da fé, escreveu e viveu o espírito carmelitano na procura de uma nova imagem e de um vital dialogo com Deus para o homem moderno e na defesa do homem e de seus direitos.
As páginas que seguem favorecem a compreensão da noção e da experiência de Deus, que no seu coração contemplativo e em sua própria vida o transformam em
“THEOTOCOS” como Maria, encarnando a contemplação mesma na vivência da paixão e da Ressurreição.

EXPERIÊNCIA DE DEUS E NOVA CULTURA
Do discurso de Frei Tito Brandsma sobre o conceito de Deus, em Nijmegen no ano 1932

(1)Entre as numerosas perguntas que me coloco, nenhuma me preocupa mais do que a questão porque o homem com o seu progresso e a orgulhosa altivez de seu progresso, afasta-se assim em tão grande numero de Deus? ( ... ) Como pois a imagem de Deus se tornou assim tão pálida, tanto assim que muitos não a conseguem atingir? E falta tão somente da parte do homem? Ou se exige alguma coisa também de nos para que esta imagem fulgure de novo sobre o mundo com uma luz mais clara? Poderíamos nutrir a esperança que um estudo do conceito de Deus viria de encontro a esta necessidade? ( ... ) Creio que seja nosso dever olhar em torno de nos ao fenômeno da negação de Deus. Não porque, antes de tudo, devemos assumir diante desse fenômeno uma atitude de defesa; mas por causa deste fenômeno, encontrar motivo de fazer conhecer a imagem de Deus através de tornas novas e adaptar o seu conceito à cultura moderna, de tal modo que da riqueza deste conceito se coloque em evidência aquele aspecto da grandeza de nosso Deus que mais nos fascina hoje. ( ... ) Há uma tão grande riqueza de aspectos debaixo dos quais se pode considerar a imagem de Deus, que devemos estar atentos a não nos apoiar demais no velho e nem reter como suficientes as imagens tradicionais. Tempos novos exigem formas novas, Não basta insistir sobre a exigência de colocar em prática a fé em Deus e empenhar-nos nesta direção: há mais ainda devemos compreender o nosso tempo, e não o estranhemos.
(2)( ... ) Deus guia estrelas e planetas em suas órbitas; dá vida às plantas e animais. Ele sustenta o mundo em suas mãos e lhe garante uma existência tranqüila. Deus habita em nos e abre os olhos da nossa mente sobre aquilo que interessa; sussurra em nos a sua palavra e nos impele a cumpri-la» ( ... ) Devemos acima de tudo ver Deus como o fundo mais intimo do nosso ser, escondido no elemento mais íntimo de nossa natureza. Mas não obstante e possível vê-lo e contemplá-lo claramente tornando-o reconhecível depois de um primeiro raciocínio, ou quando nos orientamos habitualmente como uma intuição sem raciocínio repeti do a cada instante. Assim nós nos vemos em contemplação contínua de Deus e o adoramos não somente no nosso ser, mas também em tudo quanto existe, antes de tudo no próximo, e também na natureza, no cosmo. Ele esta presente em toda a parte e tudo penetra com as obras de suas mãos.
Deus que habita a nossa existência. Deus que obra no cosmo não deve ser somente objeto de nossa intuição, mas deve também manifestar-se na nossa vida, deve exprimir-se nas nossas palavras e ações, deve irradiar-se de todo o nosso ser e de todo o nosso agir.
(3) ( ... ) Nós não devemos considerar a pessoa amante de Deus, o místico, como quem está fora da vida, da história. Mas, deve ser considerado aquele que vive a história e que carrega com responsabilidade o seu peso, deve sentir como sua tarefa primaria e suprema» chegar ao conhecimento de si mesmo: a mais bela de todas as empresas humanas. E através de seu intelecto deve chegar a encontrar Deus na profundeza de sua própria vida. Ali ele deve chegar, mesmo que as águas cristalinas da existência estejam entorpecidas pelas borrascas da vida! Voltará a bonança, o olhar tranqüilo penetrará até à profundidade; ali serenos capazes de ver Deus. ( ... ) Contemplar Deus então significa deixar-se influenciar por Ele em todo nosso comportamento. Deus então manifestar-se-á também nas nossas obras. ( ... ) Não basta insistir em viver na prática a nossa fé e estimular-nos a isso: e preciso fazer mais. Devemos compreender o nosso tempo e não distanciar-nos da história. Também nós somos filhos do nosso tempo; sejamo-lo de consciência lúcida.
(4)       ( ... ) Os homens devem encontrar Deus e viver na sua luz: isto chama-se mística divina! O espírito místico não vive em conflito com a natureza, pelo contrário: e vocação da natureza humana ver Deus naquilo que há de mais profundo na ciência.
(5)       ( ... ) É necessário que nos tornemos sempre mais conscientes de que servir os irmãos e uma exigência própria da nossa união com Deus. E esta consciência deve levar-nos a praticar bons atos. Nem mesmo a fé e suficiente por si só: ela deve manifestar-se através das ações; nas ações e que se evidencia todo o seu valor. Tal imagem de Deus torna-se um ideal que arrasta; essa imagem dentro em breve tempo encontrará acesso não só ao lado de outras imagens vagas e abstraias de Deus que sobrevivem ainda em tantos espíritos, mas também, uma vez tendo conquistado os corações, lhe aparecerão através de uma grande luta e uma longa resistência. ( ... ) O agir, sozinho, não e suficiente. Deve nascer de modo consciente de um coração habitado por Deus; as nossas ações devem nascer do nosso sacrário íntimo onde Deus aconselha e determina o que fazer. Assim o nosso agir será não somente forte e irresistível externamente, mas também forte no nosso interior e tornar-se-á manifestação de uma vida mais bela e mais nobre. ( ... ).

CONTEMPLAÇÃO
Dos Apontamentos de frei Tito Brandsma diante das cataratas de Niágara, em 1935.
(6)       ( ... ) Estou contemplando as estupendas cascatas do Niágara, vejo-me a precipitar sem parada do alto de seu leito primitivo. ( ... ) Digo então: o que há aqui de surpreendente e a maravilhosa e complexa natureza da água. Se ela não fosse fluída, se ela não possuísse o poder de absorver a luz até em suas gotas mais isoladas, teríamos talvez diante de nossos olhos esta avalanche de cristal e em nossos pés este arco-íris? Milhares de homens vem até aqui para pasmar-se diante do fragor das massas de água, para admirar estas espumas colossais que se dissolvem luminosas na profundeza do céu. Esta música selvagem, apodera-se de todo o seu ser; o jogo das cores ali ofusca quando os raios do sol se confundem com a água ou quando o reflexo argênteo se torna e se transforma em esmeralda. ( ... )
(8)   Alguns conseguem uma contemplação cais racional, outros mais sensível; se os dois sentimentos se unem, o objeto e o sujeito sentem-se mais unidos, e então o gozo e mais elevado. E depois as possibilidades da contemplação unificam-se, e a alegria e mais intensa e mais pura. ( ... ) a vista e o ouvido podem ser aqui arrebatados, mas também a razão que pensa e tudo aquilo que Deus colocou nestes elementos destinados a perecer e conquistado,
(9)       ( ... ) E vejo Deus, na obra de suas mãos e a imagem de seu amor em todas as coisas visíveis. ( ... ) E torno a pensar» olho e sinto, e acontece de ser às vezes tomado de uma suprema alegria, superior a qualquer outra alegria humana. ( ... )

ESTAR EM GESTAÇÃO COMO MARIA
Da colocação de Frei Tito Brandsma no congresso mariano de Tongerloo em 1936

(10)     ( ... ) Embora a nossa união com Deus não seja tão excelsa como aquela que se verificou na divina maternidade de Maria, mesmo assim nos podemos com pleno direito chamar-nos “Theotokos”, “portadores de Deus”, e também para nos o Senhor envia o seu anjo para nos pedir que se abra o nosso coração à luz do mundo para levá-lo por toda a parte como um luzeiro. ( ... ) Também nos devemos receber Deus no nosso coração, levá-lo debaixo do coração, alimentá-lo e deixá-lo crescer em nas, para que ele nasça de nós, e viva conosco como Deus conosco, isto é Emanuel.
(11)     ( ... ) Para Deus, o coração de Maria permaneceu sempre aberto. Dela devemos apreender a expulsar do nosso coração tudo o que não pertença ao Senhor e que para Ele o nosso coração esteja sempre aberto para se encher da graça divina; e então Jesus descerá no nosso peito e crescerá em nós, renascerá de nós e manifestar-se-á com as nossas ações e viverá de nossa vida. Com Maria, cheios também nós de graça, devemos viver uma vida divina, não buscando outra glória e outra salvação, que não a união com Deus. ( ... )

O QUE É ORAÇÃO
cf.: Apontamentos de Frei Tito Brandsma para um retiro espiritual

(12)     ( ... ) Nossa vida é como uma marcha pelo deserto até o monte Horeb, para dar uma dimensão total nova à nossa existência na contemplação de Deus. Preliba-se o céu buscando de ver Deus entre nós, o Deus vivo e atuante na nossa realidade. Nunca mais deve haver nos nossos corações divisão entre Deus e a realidade.
A oração é vida, não um oásis no deserto da vida. ( ... )

SOLIDÃO PROFUNDA
Na cela da prisão
Embora não saiba como isto irá terminar (as conseqüências do encarceramento) sei muito bem que estou nas mãos de Deus. O que me separara da caridade de Deus? Ele é o meu único refugio e sinto-me protegido e feliz. Permanecerei aqui, se Ele assim o dispuser. Raramente estive assim tão feliz e contente ( ... )
Fiz para mim um pequeno altar: é um modo de dizer. Na cela havia uma estante de papelão com suporte e também um pedaço de papel de embrulho. Cobri com isto a estante. Com um preguinho - canivete e tesoura foram-me tirados, daí a necessidade de me arrumar - fiz pequenos entalhes fixando assim três imagens de meu breviário; no meio um Cristo pregado na Cruz de Fra Angélico, incompleto, mas, só até à altura da chaga de seu Sagrado Coração; de um lado uma estampa de Santa Teresa de Jesus - “Sofrer ou morrer” - e, de outro, São João da Cruz com seu lema “Sofrer e ser desprezado”. Encontrei dois alfinetes; servi-me de um para fixar abaixo das outras imagens uma tira comprida de papel sobre a qual escrevi as palavras de Santa Teresa: “Nada te perturbe” e também as palavras de um provérbio alemão: “Deus tão próximo e tão distante, mas, sempre aqui” e, finalmente, aquele que me é tão familiar: aceitar os dias como eles chegam; os alegres com o coração reconhecido; os adversos com esperança para com os futuros que ainda virão, porque o mal e a tristeza são passageiros ( ... )
Ainda não me aborreci. Estou sozinho, é verdade. Mas, nunca Deus esteve tão perto de mim. Uma alegria intensa reina em meu coração porque Ele se deixou encontrar inteiramente sem que eu me possa desviar para os homens ou estes me atingirem.
Ele e a minha única consolação. Sinto-me seguro e feliz. Gostaria de continuar sempre aqui se Ele desejar assim.

DIANTE DA IMAGEM DE JESUS
Da: oração de frei Tito Brandsma escrita nos primeiros dias de prisão no cárcere de Scheveningen, a noite entre 12-13 de fevereiro de 1942.
Deste texto emergem duas profundas convicções;
1ª. solidão encarada como presença de Deus, plenitude e restauração de tudo em Deus, seja como aquilo que em Deus é vontade de amor, seja como dom de Deus.
2ª. aceitação alegre do sofrimento como meio de associação absoluta e radical do sacrifício e morte de Jesus na Cruz.

Quando te vejo, ó Jesus,
compreendo que tu me amas;
como o mais querido dos amigos,
e sinto que te amo
como o meu bem supremo.
O teu amor, eu o sei,
exige sofrimento e coragem;
mas o sofrimento é o único caminho para a tua glória.
Se novos sofrimentos se adjuntam ao meu coração,
eu os considero como um doce dom;
porque me fazem mais semelhante a Ti,
porque me unem a Ti.
Deixa-me sozinho neste frio;
não preciso mais de ninguém.
A solidão não me mete medo,
porque Tu estas perto de mim.
Fica Jesus, não me deixes!
A tua divina presença.
torna fáceis e belas
todas as coisas!
*Encontros de Espiritualidade Carmelitana das Irmãs Carmelitas da Divina Providência. JULHO - 1986 - Rio Janeiro.

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