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sexta-feira, 8 de maio de 2015

O catolicismo deprecia as mulheres

The New York Times
Frank Bruni

Como um vendedor de batatas Pringles soando alarme a respeito da obesidade, o papa Francisco assumiu o manto de feminista na semana passada.
Foi uma má combinação épica de mensageiro e mensagem, e digo isso como alguém que é grato por este papa, o admira enormemente e acredita que uma mudança de tom, mesmo sem uma mudança dos ensinamentos, tem significado e é digna de celebração.
Mas uma mudança de tom em desafio ao fato deve ser apontada (e criticada). Nem Francisco nem qualquer autoridade do baluarte do direito masculino conhecido como Vaticano pode afirmar de modo crível uma preocupação com a paridade dos sexos. A cozinha deles é suja demais para que possam criticar as manchas de ketchup na dos outros.
Na verdade, Francisco foi além da preocupação. Ele expressou ultraje, chamando de "puro escândalo" o fato de as mulheres não receberem remuneração igual por trabalho igual.
Ele deixou de fora a parte sobre as mulheres na Igreja Católica Romana nem mesmo terem uma chance de trabalho igual. Remuneração não é a questão principal quando você é impedido de exercer certas funções e é profundamente sub-representado em outras.
Remuneração não é a questão principal quando o simbolismo, rituais e o vocabulário de uma instituição exaltam os homens acima das mulheres e quando contestações a esse desequilíbrio são recebidas com a insistência de era assim e sempre será –-que o hábito está acima do esclarecimento e do bom senso.
Vamos ser claros. Apesar do serviço notável que a Igreja Católica realiza, ela é um dos patriarcados mais inabaláveis e dominantes do mundo, com princípios que não favorecem a igualdade.
Para as mulheres terem um tratamento justo na força de trabalho, elas precisam ao menos de algum grau de liberdade reprodutiva. Mas os bispos católicos nos Estados Unidos fazem enorme lobby contra a exigência da nova lei de saúde de que empregadores como escolas e hospitais religiosos incluam contracepção no plano de saúde de seus funcionários.
Não importa que apenas uma pequena minoria de católicos americanos siga a proibição formal da igreja ao controle da natalidade artificial. Alguns líderes católicos não apenas se agarram a essa restrição caduca; eles a promovem, apesar de seu efeito desproporcional sobre a autonomia das mulheres.
E como sua vilificação da Conferência da Liderança das Mulheres Religiosas, uma organização que representa 80% das freiras americanas, combina com igualdade das mulheres? Em 2012, o grupo foi condenado pelo Vaticano e colocado sob o controle de três bispos encarregados de limpá-lo de suas inclinações "feministas radicais", incluindo mais atenção aos pobres do que a costumes sexuais.
Para seu crédito, Francisco declarou uma trégua com as freiras no mês passado. Também para seu crédito, ele sinalizou solidariedade para com as mulheres que tentam limitar o tamanho de suas famílias e pediu aos líderes da igreja para não se envolverem demais em assuntos como aborto e casamento de mesmo sexo.

E a tendência no Vaticano e na Cidade do Vaticano aparentemente é de ter um maior número de funcionários do sexo feminino, apesar de em 2014, segundo a agência de notícias "The Associated Press", elas ocuparem menos de 20% das vagas de trabalho. Não precisava ser assim, mesmo considerando a exclusão das mulheres do sacerdócio.
Mas a recusa da igreja em seguir algumas das outras denominações cristãs e ordenar mulheres mina qualquer progresso na direção da igualdade que ela anuncia ou tenta. O sexismo está incorporado em sua estrutura, em seu fluxograma.
Homens, mas não mulheres, rezam a missa. Homens, mas nunca as mulheres, chegam a cardeais ou a papa. O clero masculino geralmente é tratado como "padre", que conota autoridade, enquanto as mulheres nas ordens religiosas costumam ser tratadas como "irmãs", que não.
E as coisas poderiam ser diferentes. Tradições mudam. História e mitologia cedem a novas interpretações.
Sim, a Bíblia diz que todos os 12 apóstolos de Jesus Cristo eram homens. Mas além dos 12 há Maria Madalena, a quem Jesus supostamente apareceu primeiro após a Ressurreição. O papel dela não é fundamental para o nascimento da igreja?
Não é mais importante que haja sacerdotes suficientes para ministrar a Eucaristia aos católicos do que todos os padres serem homens?
Será que a igreja pode se dar ao luxo de alienar uma geração inteira de mulheres jovens, perplexas diante de sua intransigência?
"Elas cresceram em um mundo onde todas as portas foram abertas para elas", disse Kathleen Sprows Cummings, diretora do Centro Cushwa para o Estudo do Catolicismo Americano, na Universidade de Notre Dame. "E há uma desconexão quando veem a igreja sem nenhuma liderança feminina –-no mínimo, não são elas que estão no altar."
Francisco não sancionou nenhuma discussão sobre colocá-las lá. Quando pressionado sobre isso por uma repórter italiana no ano passado, ele a lembrou que "as mulheres vieram da costela".
Era uma provocação? Ele riu e disse que sim. Mas a metáfora permanece e coloca as mulheres como ramificações, até mesmo como uma reflexão tardia.

Tradução: George El Khouri Andolfato. Fonte: http://noticias.uol.com.br

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