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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A mística nupcial. Teresa de Ávila e Thomas Merton, dois centenários


Em 2015, comemoram-se os 500 anos do nascimento de Teresa de Ávila (1515-1582) e o centenário de Thomas Merton (1915-1968) duas grandes referências da mística cristã.
Reconhecidos pela busca da interioridade e pelo amor a Deus e ao próximo, evidenciar o legado teológico de ambos os místicos, sua trajetória, sentido e atualidade de suas vivências é o que pretende esta edição da revista IHU On-Line.
Para o teólogo Faustino Teixeira, professor e pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF, há uma relação “evidente” entre as trajetórias de Teresa de Ávila e Thomas Merton, já que ambos se inserem numa tradição de mística nupcial — aquela cujo tema central é o do amor, que se insere no coração mesmo da divindade.
Marco Vannini, reconhecido como um dos maiores especialistas sobre mística especulativa no mundo, afirma que a experiência comum entre esses dois místicos é “aquela da interioridade mais profunda, aquele ‘local místico’ que é a essência do ser humano em geral, sem conhecer o que se perdeu na ‘região da desigualdade’ da memória agostiniana”.
O teólogo espanhol Secundino Castro Sánchez, da Universidad Pontificia Comillas, de Madri, reflete sobre a cristologia de Teresa de Ávila, relacionando Jesus — em sua corporeidade — como lugar definitivo de revelação de Deus.
Frei Betto, escritor, acredita que a grande novidade que Teresa de Ávila realizou, à sua época, foi ter percorrido o caminho inverso ao de Copérnico, o qual havia deslocado o eixo da Terra para o Sol. Segundo ele, “talvez seja a santa mais estudada por psicanalistas e filósofos. Sobre ela há uma infinidade de obras de arte: filmes, peças de teatro, romances, etc. Ela chega a ser um fenômeno midiático”.
No ponto de vista de Giselle Gómez, da Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, Teresa “foi capaz de ouvir a si mesma, de aprender a confrontar-se com aquilo que supõe a mudança e de ir construindo outra maneira de ser mulher”.
Para Lúcia Pedrosa-Pádua, professora e pesquisadora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio, Teresa rompeu com o estereótipo submisso e piedoso esperado das mulheres.
Analisando suas visões e êxtases, o psiquiatra espanhol Jesús Sanchez-Caro frisa que as experiências místicas de Teresa de Ávila de modo algum têm a ver com psicopatologias, e que a vida dessa mística é um exemplo paradigmático daquilo que na psicologia moderna se denomina de “resiliência”.
Luciana Barbosa, doutoranda em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, observa que o corpo, para Teresa, se torna uma extensão de sua experiência mística. E que é nele que a demonstração do que é vivenciado com Deus pode se apresentar.
Já para o editor espanhol das obras teresianas, Maximiliano Herraiz, “a ponte entre verdade e amor, inteligência e afetividade, adquire em Teresa uma harmonia perfeita”.
Cristiana Dobner, irmã carmelita descalça, escritora, estudiosa e pesquisadora de teologia, que vive no mosteiro de Santa Maria do Monte Carmelo, Itália, analisa a aproximação da espiritualidade de Teresa com Inácio de Loyola, já que o magis de Inácio “ressoa em todas as suas obras”.
Norma Nasser, doutoranda em Ciência da Religião pelo Programa de Pós-graduação da UFJF, reflete acerca da aproximação entre a mística de Merton e o zen-budismo como caminho para alcançar o cristianismo.
Por fim, para Sibelius Cefas Pereira, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUCMG, a obra de Merton transcende em muito o universo religioso, e defende a contemplação como uma resposta à vida contemporânea.
Complementam essa edição as entrevistas com José Eduardo Franco (Universidade de Lisboa), sobre as obras completas e a vida do padre Antônio Vieira, Tshepo Madlingozi (Universidade de Pretória, África do Sul) que aborda a derrocada dos movimentos sociais na África pós-Apartheid e com o filósofo norte-americano Timothy Lenoir (Universidade de Duke), que acentua que a visão e a postura antropocêntrica que constituem a modernidade estão transformando a natureza em algo que controlamos e que podemos usar para nossos próprios fins.

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